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Volume 5 - Nº 1 - 1º sem. 2005 Liráucio Girardi Jr. Doutor em Sociologia pela FFLCH-USP Docente da Faculdade Cásper Líbero [email protected] Poder simbólico, mídia e cidadania Symbolic power, media and citizenship Resumo O trabalho procura identificar as marcas da luta simbólica a respeito do significado das práticas e do funcionamento das insti- tuições democráticas capazes de garantir o exercício da cidadania. Avalia o papel dos meios de comunicação como mediadores nessa luta – não por estarem eqüidistantes das forças em conflito, mas pelo poder de agendamento e amplificação que detêm, garantindo-lhes (in)visibilidade, dando-lhes nomes, classificando-os e representando-os, enfim, dando-lhes sentido. Palavras-chave: democracia, cidadania, poder simbólico, crise, novos movimentos sociais, esfera pública. Abstract This text seeks to identify the tokens of the symbolic struggle over the meaning of the practices and the functioning of democratic institutions capable of guaranteeing the exercise of citizenship. We assess the role of communication media as mediators in this fight - not for being equidistant from the forces in conflict, but for the power of agency and expansion they hold, which warrants them (in)visibility, naming them, classifying and representing them, ultimately, providing them with meaning. Key words: democracy, citizenship, symbolic power, crisis, new social movements, public sphere. Resumem El trabajo busca identificar las marcas de la lucha simbólica respecto al significado de las prácticas y del funcionamiento de las instituciones democráticas capaces de garantizar el ejercicio de la ciudadanía. Evalúa el papel de los medios de comunicación como mediadores en esa lucha – no por que están equidistantes de las fuerzas de conflicto, sino por el poder de agenda y amplificación que detienen – , garantizándoles (in)visibilidad, nombrándoles, clasificándolos y representándolos, en fin, dándoles sentido. Palabras clave: democracia, ciudadanía, poder simbólico, crisis, nuevos movimientos sociales, esfera pública. Comunicação, política e sociedade

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Volume 5 - Nº 1 - 1º sem. 2005

Liráucio Girardi Jr. Doutor em Sociologia pela FFLCH-USP

Docente da Faculdade Cásper Lí[email protected]

Poder simbólico,

mídia e cidadania Symbolic power, media and citizenship

Resumo

O trabalho procura identificar as marcas da luta simbólica a respeito do significado das práticas e do funcionamento das insti-tuições democráticas capazes de garantir o exercício da cidadania. Avalia o papel dos meios de comunicação como mediadores nessa luta – não por estarem eqüidistantes das forças em conflito, mas pelo poder de agendamento e amplificação que detêm, garantindo-lhes (in)visibilidade, dando-lhes nomes, classificando-os e representando-os, enfim, dando-lhes sentido.

Palavras-chave: democracia, cidadania, poder simbólico, crise, novos movimentos sociais, esfera pública.

Abstract

This text seeks to identify the tokens of the symbolic struggle over the meaning of the practices and the functioning of democratic institutions capable of guaranteeing the exercise of citizenship. We assess the role of communication media as mediators in this fight - not for being equidistant from the forces in conflict, but for the power of agency and expansion they hold, which warrants them (in)visibility, naming them, classifying and representing them, ultimately, providing them with meaning.

Key words: democracy, citizenship, symbolic power, crisis, new social movements, public sphere.

Resumem

El trabajo busca identificar las marcas de la lucha simbólica respecto al significado de las prácticas y del funcionamiento de las instituciones democráticas capaces de garantizar el ejercicio de la ciudadanía. Evalúa el papel de los medios de comunicación como mediadores en esa lucha – no por que están equidistantes de las fuerzas de conflicto, sino por el poder de agenda y amplificación que detienen – , garantizándoles (in)visibilidad, nombrándoles, clasificándolos y representándolos, en fin, dándoles sentido.

Palabras clave: democracia, ciudadanía, poder simbólico, crisis, nuevos movimientos sociales, esfera pública.

Comunicação, política e sociedade

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Poder simbólico, mídia e cidadania

1 Sérgio Costa. “Contextos da Construção do Espaço Públi-co no Brasil”. Novos Estudos Cebrap, p. 179-192.2 Na qual o autor destaca um artigo de Maria C. Paoli. “Ci-tizenship, inequalities, democracy and rights: The making of public space in Brazil”. In: Social & Legal Studies.

3 O autor cita artigos de Ruth Cardoso, Vera Silva Telles e Evelina Dagnino. Deste, destacamos o artigo de Evelina Dagnino. “Os movimentos sociais e a emergência de uma nova noção de cidadania”. In: Evelina Dagnino (org.). Anos 90: Política e Sociedade no Brasil.

tudo o que se nos apresenta, no mundo social-histórico, está indissociavelmente entrelaçado com o simbólico. Não que se esgote nele. Os atos reais, individuais ou coletivos – o trabalho, o consumo, a guer-ra, o amor, a natalidade – os inumeráveis produtos materiais sem os quais nenhuma sociedade poderia viver um só momento, não são(nem sempre, não diretamente) símbolos. Mas uns e outros são impossí-veis fora de uma rede simbólica.

Cornelius Castoriadis

A reflexividade da vida social moderna consiste no fato de que as práticas sociais são constantemente examinadas e refor-madas à luz de informação renovada sobre estas próprias práticas, alterando assim constitutivamente seu caráter [...]. Estamos

em grande parte num mundo que é inteiramente constitu-ído através do conhecimento reflexivamente aplicado, mas onde, ao mesmo tempo, não podemos nunca estar seguros de que qualquer elemento dado deste conhecimento não será revisado.

Anthony Giddens

O que conta, na realidade, é a construção do objeto, e a efi-cácia de um método de pen-sar nunca se manifesta tão bem como na sua capacidade de construir objetos social-

mente insignificantes em objetos científicos ou, o que é o mesmo, na sua capacidade de reconstruir cientificamente os grandes objetos socialmente importantes, apreen-dendo-os de um ângulo imprevisto...

Pierre Bourdieu

ualquer reflexão sobre o significado da cidadania e da democracia no mundo atual, mediado pelas novas tecnologias de comunicação, deverá

enfrentar as seguintes questões: Em que consiste o exercício da cidadania e qual sua relação com as instituições e as prá-ticas democráticas? Como se dá o estabe-lecimento das agendas do debate público e como é exercido o poder simbólico que qualifica/desqualifica temas, estratégias

e os próprios agentes envolvidos nos conflitos sociais? Como as novas tecnolo-gias e os demais processos de mediação contribuem para a definição dessas lutas simbólicas pela fixação de significados no interior dessas agendas?

A partir dessas questões procuramos resgatar, pontualmente, as noções de demo-cracia nos antigos e nos modernos, a noção de crise política e social do nosso tempo e o papel da mídia e das mediações nesse proces-so. Essa análise passa necessariamente pela experiência dos novos movimentos sociais.

A democracia como prática instituinte

O que pretendemos construir neste tra-jeto é a reconfiguração, iniciada nos anos 90, dos projetos e maneiras de conceber o exercício da democracia, que se vinham desenvolvendo desde o final dos anos 70. Tal reconfiguração reflete-se nas formas institucionais de relacionamento entre a sociedade civil e o Estado.

No interior do debate sobre o papel dos novos movimentos sociais e suas contribui-ções para a instituição de novas práticas democráticas, Costa1 identifica duas orien-tações político-ideológicas diferenciadas: a que dá ênfase à consolidação de deter-minadas garantias institucionais e legais à manifestação, expressão e organização políticas2 e a que enfatiza a originalidade dos novos atores sociais na redefinição do espaço público, representados como gera-dores de novas práticas sociais capazes de expandir as fronteiras da política3.Q

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4 Cornelius Castoriadis. As Encruzilhadas do Labi-rinto – II, p. 271. 5 Cornelius Castoriadis. Op. cit. 6 Sobre a reflexividade e a sociedade moderna, ver Anthony Giddens. As Conseqüências da Moderni-dade, p. 43-51.7 Cornelius Castoriadis. Op. cit., p. 269. Para comple-mentar essa questão ver: Marilena Chauí. “Público, Privado, Despotismo”. In: Adauto Novaes (org.). Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 345-391. A possibilidade da escolha e do julgamento nos remete justamente à reflexão sobre a melhor escolha e o melhor julgamento sobre nossos atos e instituições, remetendo à questão ética. A busca de fundamentações para o agir “virtuoso”. Qual é o limite da ação política? O que é a justiça? O que é uma boa instituição?

8 Hanna Arendt. A Condição Humana.

Entendemos que a concepção do processo democrático como expansão das fronteiras da política nos leva a uma reflexão importante; não devemos pensar a cidadania em termos absolutos, como se comportasse uma certa definição ima-nente. Ela é uma construção histórica, um processo instituinte, criação:

A auto-instituição da sociedade é a cria-ção de um mundo humano: de ‘coisas’, de ‘realidade’, de linguagem, de normas, valores, modos de viver e de morrer, objetivos pelos quais vivemos e outros pelos quais morremos – e, obviamente, em primeiro lugar e acima de tudo, ela é a criação do indivíduo humano no qual a instituição da sociedade está solidamente incorporada4.

A construção de uma sociedade demo-crática é também a luta pela construção simbólica de seu significado. Sobre a pos-sibilidade de apropriação da experiência democrática grega para o mundo moderno, Castoriadis5 destaca a dificuldade que os homens encontram para pensar, conhecer ou traduzir as experiências de outras sociedades. De um lado, estamos sujeitos a uma total incompreensão diante de so-ciedades diferentes das nossas (o que ele chama de clausura cognitiva da instituição), de outro, somos capazes de reconhecer alguma universalidade produzida pelas instituições humanas através dos tempos e das culturas. Isto garante que o que foi produzido por esses indivíduos e culturas possa ser reimaginado, possa ser lido por nós como tendo uma certa significação, o que nos permite colocá-lo constantemente em discussão (processo de elucidação).

O pensamento grego foi capaz de romper sua clausura, foi capaz de uni-versalizar suas instituições ao abordá-las reflexivamente6. Quando questiona suas instituições, imaginando-as como criação, esse pensamento grego destaca o papel da escolha e do julgamento como questões fundamentais de seu mundo. Qualitativa-mente, o pensamento grego se destaca por

isso: “O verdadeiro interesse pelos outros nasceu com os gregos, e não passa de um dos aspectos da atitude crítica e interro-gadora que eles mantinham frente a suas próprias instituições. Em outras palavras, ele se inscreve no movimento democrático e filosófico criado pelos gregos”7.

O erro mais comum, quando nos vol-tamos para a experiência grega e para o papel que a democracia representaria nele, consiste justamente em pensá-las como um modelo, de maneira estática, e não como um processo instituinte. O grande fundamento que institui a experiência democrática entre os gregos é a noção de autonomia: nós estabelecemos nossas próprias leis. Para Arendt8, a instituição da esfera política consiste justamente nisso. A esfera privada, do oikos, é marcada pelo despotismo, pela necessidade, enquanto que a esfera pública corresponde justamen-te ao uso da liberdade em sua constituição, livre das contingências materiais que a vida privada pudesse impor. A autonomia e a liberdade que permitiam a constituição da esfera pública era justamente o que diferenciava o homem do animal. Nesse processo, os cidadãos viviam entre o idion, aquilo que lhes era próprio e privado, vinculado ao contingente e ao necessário, e o koinon, o que lhes era comum, e que exigia, como condição de sua instituição, a

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9 Um debate importante se estabelece entre Dagnino (Idem. Op. cit.) e Pierucci (Idem. “Linguagens Autoritá-rias, Voto Popular”. In: Evelina Dagnino (org.). Op. cit.): quais são os problemas trazidos pela noção de igualdade de direitos no reconhecimento daqueles que, de uma for-ma ou de outra (pela sua condição étnica, social, gênero, racial etc.), encontram-se marcados por necessidades, contingências e interesses particulares? (Ou seja, por aque-les que não encontram formas institucionais conhecidas para serem representados, que não podem se tornar suas demandas “visíveis” por não serem tratadas justamente como legítimas). Como a universalidade dos direitos pode ser estabelecida, se ela se sustentar sobre particularidades, exigidas pelo reconhecimento da diversidade?

liberdade (a vitória sobre as contingências e o necessário).

A esfera verdadeiramente política e pública era aquela em que os cidadãos se manifestavam através da ação (práxis) e do discurso (logos), sendo que a ênfase centrava-se cada vez mais no discurso, na persuasão. A violência, o despotismo que marcavam a esfera privada, remetiam a um momento “pré-polis”, pré-político. O logos passa a ser o ponto de circulação do pensamento entre os cidadãos, quando todos passam a exercer o direito e o com-promisso de falar com franqueza sobre os assuntos públicos. A polis, pensada como um processo histórico instituinte e não como um modelo estático e formal, é

vivida da seguinte forma: a) o fato de reconhecerem que os limites de sua ação e o bem comum eram ma-nifestados através das leis não levava os cidadãos, necessariamente, a uma passividade, mas a um estí-mulo para a participação nos negócios públicos. b) para que fosse garantida a autonomia dos cidadãos, fazia-se necessária a par-ticipação direta nos negó-cios públicos. A educação

(Paidéia) advém da própria experiência dessa participação na vida política. c) os assuntos públicos não poderiam ficar nas mãos de especialistas, não deveriam estar subordinados aos conhecimentos técnicos, uma vez que somente a comuni-dade política era a portadora da sabedoria política (situação que permitiu aos escra-vos o exercício de atividades técnicas e burocráticas). d) entre os gregos não en-contramos algo parecido com a separação entre a sociedade e o Estado. Na noção de Politéia encontra-se a impossibilidade da constituição e instituição da vida pú-blica sem a presença constante daqueles que dela se ocupam. Os atenienses são

cidadãos porque não deixam de se fazer cidadãos continuamente. e) para que essas exigências possam ser exercidas, faz-se necessário o surgimento de um espaço social, a Ágora, onde se pode participar livremente do debate público, e o tempo social, que fundamentará o surgimento da História. A polis avalia seu próprio passado, reflete sobre suas ações e sobre as possibilidades diante de um futuro ainda indeterminado, mas que pode ser o resultado do questionamento de sua própria experiência e de suas instituições.

O modo pelo qual Dagnino interpre-ta o significado da cidadania depende claramente dos fundamentos indica-dos por Castoriadis. Inspirada nesses fundamentos, a sociedade é pensada como uma construção (autocriação) e os novos movimentos sociais passam a ser vistos como elaboradores de práticas sociais ativamente ligadas à luta pela reconfiguração de políticas públicas. Sendo assim, torna-se importante ava-liar como os processos instituintes da democracia podem ser sempre reima-ginados, na maior parte das vezes, de forma agonística.

A particularidade dos novos movimen-tos sociais reside no momento reflexivo que instituem, na sua ênfase ao direito a ter direitos, expandindo-os na forma de garantias sobre o corpo, o ambiente, o local de moradia, o transporte, etc. Só que

Avaliar os processos instituintes da democracia

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10 Evelina Dagnino. Op. cit., p. 114. 11 Jacques Rancière. “O dissenso”. In: Adauto Novaes (org.). A Crise da Razão.

12 Carlos Rodrigues Brandão. Op. cit.; Manuela Carneiro da Cunha. Op. cit.

os direitos, agora, não estão relacionados apenas à garantia da igualdade, mas ao re-conhecimento da diferença, da percepção de carências e das demandas particulares de um outro. Os novos movimentos sociais desenvolveram novas práticas comunitá-rias nas quais seus agentes viam-se como sujeitos sociais ativos, voltados para a participação efetiva na orientação das políticas públicas. Ao lutarem por seu reconhecimento, geravam uma espécie de cultura de direitos, exercida através de práticas sociais cotidianas, em espaços marcados pelo autoritarismo, demarcador de rígidos lugares sociais9.

A idéia do direito a ter direitos parte justamente da constatação de que a cida-dania não tem uma essência delimitada, ela é um produto de práticas sociais e estratégias discursivas capazes de trans-formar determinados ruídos em demandas legítimas – legítimas porque reconhecidas publicamente. Ser reconhecida publica-mente significa tornar-se visível, adqui-rir um nome. Trata-se de um processo agonístico:

Com relação ao risco de embaçar o foco, de obscurecimento das fronteiras, eu diria que todo o campo político relevante é sempre um campo minado, um campo de disputa pela fixação de significados. Os mecanismos de apropriação e desapropria-ção de significados são parte constitutiva da luta política10.

A partir destas posições, voltamos a explorar uma idéia fundamental: a que coloca como característica intrínseca da disputa política a luta pela fixação dos significados, que chamaremos a partir de agora de luta ou de exercício do poder simbólico.

A democracia e a luta simbólica

Iniciamos o debate com Rancière11, quando resgata a idéia de que é o logos, o discurso, a base de constituição do homem

político. Tradicionalmente, a política é identificada como um conjunto de formas de gestão e de comando capazes de pro-dução do consenso, valendo-se para isso de algumas estratégias de legitimação. A produção desse consenso estabelece o poder de configuração física (o espaço social) e simbólica dos conflitos, delimi-tando-lhes as condições de seu exercício e de seu reconhecimento.

O poder simbólico tem no logos a sua fonte. A percepção do mundo social não é natural, mas uma construção simbólica capaz de ser produzida por meio de enun-ciados, na constituição das classificações oficiais (baseadas ou não em estatísticas), na produção de um significado para as demandas sociais. Frente ao exercício da violência simbólica, que define os limites do que pode ou não ser enunciado e, con-seqüentemente, visto e ouvido, a política só pode ser, para Rancière, a busca do dissenso.

Isso nos remete às discussões a respeito da construção da identidade feitas na An-tropologia: sabe-se que a identidade não é uma essência, algo estático e definido, algo que o indivíduo carrega dentro de si e que lhe foi dado por determinada cultura. Ela é relacional, múltipla, constrói-se geralmen-te quando estamos colocados em situação de conflito com um outro e manifesta-se na forma de classificações, nomeações, tratamentos, etc.12:

Os sujeitos políticos não existem como entidades estáveis. Existem como sujeitos em ato; como capacidades pontuais e lo-cais de construir, em sua universalidade virtual, aqueles mundos polêmicos que desfazem a ordem policial. Portanto, são sempre precários, sempre suscetíveis de se confundir de novo com simples parce-

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13 Jacques Rancière. Op. cit., p. 378. 14 Jacques Généreaux. O Horror Político. 15 Jacques Généreaux. Op. cit., p. 102. 16 Claude Lefort. Reproduzido no “Caderno de Sábado”. Jornal da Tarde. São Paulo, 20/12/1997. 17 Hanna Arendt. Op. cit.

18 Claus Offe. Problemas Estruturais do Estado Capita-lista, p. 236-260.

19 Claus Offe. Op. cit.

las do corpo social que pedem apenas a otimização de sua parte13.

Essa ordem policial a que o autor se refere é a ordem do consenso. É nela que se definem os agentes reconhecidos e os limites razoáveis em que uma demanda pode ser reconhecida. Uma forma de gestão consensual que ignore a política, entendida como a capacidade de relação com o dissenso, verá as contradições explodirem sobre outras formas. Quando se pensava como encaminhada a solução da questão social operária, ela reaparece na figura do imigrante. A classe operária e suas demandas não são um dado natu-ral assimilável pelo simples olhar, mas construções simbólicas que dependem

de porta-vozes capazes de enunciá-las, não só para os outros, mas para si mesma, sob pena de se apresenta-rem apenas como ruídos na esfera pública.

Généraux14 destaca como o terceiro grau do horror político em que vivemos, a falta de interesse pelo debate político (seja pela ausência de divisões ide-ológicas e programáticas claras, seja pela comple-

xidade cada vez maior das questões apre-sentadas ao eleitor, seja pela retórica que apresenta determinadas questões como inevitáveis, questões sobre as quais se deve silenciar). O interesse pelo debate político não deveria consistir no simples fato de participar de eleições, mas em participar de tal debate. Trata-se de recuperar a ação e o discurso, em fazer da participação po-lítica uma forma de aprendizado. Assim, o autor complementa:

Uma única dificuldade nos mantém afas-tados do bem comum, a de não mais saber ou não mais poder falar sobre o assunto. Apenas um obstáculo entre nossa vontade comum e sua implementação: o obstáculo da palavra, da palavra política, que não se

manifesta mais, em que não se acredita mais, que não se ouve mais, que não se deseja mais. De fato, não basta estar de acordo para agir em conjunto. É preciso também que se saiba estar e, para isso, começar a dizê-lo15.

Aqui entra a necessidade de definição dessa crise política, de expô-la publica-mente, de apresentá-la discursivamente. Nesse sentido, poderíamos utilizar como exemplo as diversas formas de interpre-tação da crise do nosso tempo. Lefort, em artigo produzido originalmente para a revista Commentaire16, utiliza algumas teorias da crise presentes em Arendt17. Uma delas, em particular, é a de que a crise dos tempos atuais (anos 50 e 60, para Arendt) devia-se justamente ao fato de que o passado não nos serviria mais como referência para explicar o presente. No entanto, Lefort observa que a idéia de uma crise sem precedentes aparece recor-rentemente na história e cita sua presença em autores como Leo Strauss, Husserl, Valéry, Stendhal, Tocqueville. Não seria a ausência de precedentes justamente, a falta de capacidade para nomear, a falta de referência, que conduz ao silêncio e à incerteza.

Uma discussão importante sobre o imaginário da crise pode ser encontra-da em Offe18, quando aborda as teorias levantadas no final dos anos 70 sobre a ingovernabilidade ou a crise do Estado de Bem-Estar Social.

No período, Offe19 destaca a ausência de uma teoria consistente sobre a crise, tanto por parte da esquerda quanto da

Fazer da participação política uma forma de aprendizado

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20 Claus Offe. Op. cit., p. 239.21 É importante lembrar que a crítica não se dirige diretamente às demandas das “massas”, mas às elites políticas e sindicais que na sociedade democrática entram em competição pelo poder político inflando aquelas demandas: “Assim, por exemplo, a sra. Tatcher defendeu recentemente a opinião de que, em verdade, não eram os sindicatos que estavam lutando contra o Estado e os empresários e sim os líderes sindicais que lutavam uns contra os outros. Mencionam-se igualmen-te como fatores da crise, responsáveis pela elevação no nível das exigências, os interesses dos funcionários encarregados da prestação dos serviços sociais, que só aparentemente servem ao bem-estar dos cidadãos, mas em verdade estão empenhados em impor suas aspirações de dominação e tutelagem”. Claus Offe. Op. cit., p. 248.

direita. O fato mais importante para o qual chama a atenção, no entanto, é a assimila-ção, por parte das teorias conservadoras, de boa parte da fundamentação teórica usada pela esquerda na sua crítica ao Esta-do de Bem-Estar Social, particularmente, a da crise fiscal. Essa assimilação é curiosa, pois retira da noção da crise o seu compo-nente de classe e coloca em seu lugar, por meio de uma análise conservadora, o que poderia ser chamado de efeitos perversos da democracia de massa. E é justamente essa versão que se transformará em peça de ataque principal ao Estado de Bem-Estar Social.

O diagnóstico, feito pelas teorias neo-conservadoras da crise, identifica dois problemas fundamentais: a) a crise é sustentada pelo excesso de expectativas, geradas pela hipertrofia dos direitos asse-gurados pelo Estado de Bem-Estar Social – o que leva a uma “politização inadequa-da de temas e conflitos no qual ‘se expres-sa’ o desejo desenfreado e irrefletido dos cidadãos”20 e b) diante dessas demandas excessivas, o Estado detém mecanismos limitados de atuação, frustrando na maio-ria das vezes as expectativas criadas – o que leva a uma polarização ideológica cada vez maior dentro do sistema partidário ou ao surgimento de outros movimentos políticos paralelos à luta parlamentar. As duas alternativas aumentariam a pressão sobre as expectativas, aumentando ainda mais a crise21.

A terapia apontada é a da redução das exigências, aliviando o Estado e restituin-do o equilíbrio por meio das instituições capazes de reforçar valores de auto-con-trole, disciplina e sentimento de comuni-dade, que descentralizam as demandas em seus locais de origem como a casa, a escola, o trabalho.

A tentativa de apelo a um conhecimen-to técnico ou a intituições naturais para enfrentar a questão da crise política seria o grande erro do neoconservadorismo, pois

ignora que o excesso de exigência sobre o sistema se deve à falta de uma solução política, que implicaria na ampliação da base de consenso necessária para a imple-mentação de reformas verdadeiramente democráticas.

Entre a social-democracia, duas alterna-tivas parecem ter prevalecido: aquela que se preocupa com os aspectos gerenciais ou de aperfeiçoamento dos mecanismos de gestão do Estado e a que busca ampliar a sua capacidade de atuação por meio do apelo a organizações não governamentais. (Lembremos que Offe está escrevendo no final dos anos 70).

Na primeira versão, administrativa, busca-se o aperfeiçoamento dos mecanis-mos técnicos de análise e gerenciamento das demandas (reformulação dos indicado-res sociais, da composição do orçamento, da análise dos custos e benefícios das decisões políticas, etc.), levando em conta a capacidade do Estado de antecipação das demandas. A dificuldade aqui é a de que este modelo também ignora o fator político fundamental do processamento das exigências: a necessidade de uma ampliação da base de consenso sobre os temas tratados.

Na segunda versão, política, estimula-se a aproximação dos Governos, Sindicatos e demais corporações (ONG’s, por exem-plo), buscando justamente a ampliação

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22 “A sociedade constitui seu simbolismo, mas não dentro de uma liberdade total. O simbolismo crava-se no natural e no histórico (ao que já estava lá); participa, enfim, do racional. Tudo isto faz com que surjam enca-deamentos de significantes, relações entre significantes e significados, conexões e conseqüências, que não eram nem visadas nem previstas”. Cornelius Castoriadis. A Instituição Imaginária da Sociedade, p.152

23 Marilena Chauí. Op. cit.24 Marilena Chauí. Op. cit., p. 381-382.

da base interna de formação do consenso. Neste caso, a dificuldade encontra-se na indefinição quanto ao estatuto e ao grau de institucionalização que regulará a par-ticipação desses novos atores, já que são considerados forças políticas extra-parla-mentares. Tanto a indefinição quanto sua regulamentação institucional, quanto sua total subordinação (cooptação) ao aparelho de Estado podem significar um risco.

Offe procura mostrar como a esquerda dá como certa a idéia de uma crise, sem se dar conta de que o capitalismo, na verdade, sempre viveu em crise e que o período correspondente à consolidação do Estado de Bem-Estar Social foi um período excepcional nesse aspecto. Boa

parte desses pontos fracos apontados pela esquerda foram reelaborados pelas teorias neoconservadoras. Tendo se naturalizado a idéia de hipertrofia dos direitos por parte dos neo-conservadores, passa a ser da esquerda o ônus da prova que a contradiga. A luta pela fixação dos sig-nificados e a luta em torno do imaginário da crise passam obrigatoriamente pelo simbólico22.

Chauí23 indica um outro nome através do qual se apresenta esta crise da demo-cracia no mundo pós-moderno. O uso do prefixo remete-nos à idéia de uma situação sem precedentes, apontada por Arendt e Lefort, quando o passado deixa de ser ca-paz de servir de referência para se pensar o futuro e quando o presente não pode mais se colocar como o momento possível de ruptura com as tradições já conhecidas.

Não compartilhando da idéia de rup-tura entre o moderno e o pós-moderno, Chauí procura traçar um paralelo entre a noção de crise, que se cola à representação do mundo atual e às condições que criam para o exercício do despotismo. Fazendo

uso de várias imagens, usadas para a re-presentação do tirano e do déspota – e dos tipos de instituições políticas pen-sadas para controlá-los – a autora mostra como elas têm variado sensivelmente na história. No entanto, o que parece haver em comum em todas é que:

[...] o déspota só é capaz de um tipo de relação social e política, a do senhor e o servo. Ele não é tanto a vontade arbitrária e sem lei, mas a presença de um regime – o despotismo – que, mesmo com leis, concretiza uma única forma de relação social e política, cuja marca é a realização da liberdade (de um só) pela servidão (de todos os outros) e é por isso (e pelas insti-tuições que o déspota mobiliza, sobretudo as forças militares e o imaginário religio-sos), que sua vontade surge como ilimitada [...] o despotismo dispensa instituições mediadoras nas relações políticas24.

Ao pensarmos a relação entre o espaço público e a figura do déspota, veríamos que tanto o liberalismo quanto o marxis-mo desenvolveram-se em um contexto de ampliação da esfera pública, que não conseguiu, entretanto, ser totalmente bem sucedida devido a suas contradições internas.

O neoliberalismo é uma ruptura com os modelos acima, devido ao abandono de qualquer preocupação com a ampliação da esfera pública, gerando a sua privatização radical. Essa privatização elimina ou des-qualifica as instituições políticas como mediadoras no processo de decisão polí-tica, gerando uma desinstitucionalização do espaço público. As bases materiais do neoliberalismo, representadas pela frag-

Essa privatização elimina ou desqualifica as instituições políticas

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25 Pierre Bourdieu. O Poder Simbólico, p. 142.26 Pierre Bourdieu. Op. cit., p. 142. Ver Pierre Bourdieu. ContraFogos; Economia das Trocas Lingüísticas.

27 Jürgen Habermas. Mudança Estrutural da Esfera Pública.

mentação da esfera privada do mercado, pela compressão espaço-temporal devido ao uso de novas tecnologias de comunica-ção, levam à desintegração de uma esfera pública assentada no Estado-Nação, que passa a precisar cada vez mais de um centro unificador, representado pela per-sonalização, cada vez maior, do poder.

No lugar dos partidos, das ideolo-gias, dos programas entram a pessoa do candidato, sua imagem e credibilidade, sua confiabilidade, em que as estratégias enfatizam a cada momento uma imagem individual a ser explorada e, se possível, construída. É por aqui que se reintroduz a figura do déspota.

Este é um pequeno mapeamento a partir do qual poderíamos pensar a no-ção de crise da democracia e do Estado de Bem-Estar Social. Podemos dizer, também, que uma das grandes questões à qual sempre retornamos é a da nomeação, a de configuração simbólica da crise. Vol-tamos ao significado da luta pela fixação de significados, o poder simbólico, que sempre aparece como componente da luta pelo poder de enunciação. Trata-se de um trabalho de representação fundamental para garantir a presença de determinadas questões como problemas legítimos a se-rem tratados no espaço público. É nesse trabalho que está a luta simbólica ou ainda a violência simbólica. Trata-se de uma luta porque a representação do mundo pode ser percebida e enunciada de diferentes maneiras e está sujeita a uma margem considerável de indeterminação. Como destaca Bourdieu25:

O conhecimento do mundo social e, mais precisamente, as categorias que o tornam possível, são o que está, por excelência, em jogo na luta política, luta ao mesmo tempo teórica e prática pelo poder de conservar ou de transformar o mundo social conser-vando ou transformando as categorias de percepção desse mundo.

Se a base da política é o dissenso, como afirma Rancière, a possibilidade de

escapar do poder policial sobre os corpos e as palavras, ressemantizando-os, depen-de de uma luta simbólica fundamental no processo de publicização necessário à esfera pública. Neste sentido, para Bourdieu:

[...] este trabalho de categorização, quer di-zer, de explicitação e de classificação, faz-se sem interrupção, a cada momento da existência corrente, a propósito das lutas que opõem os agentes acerca do sentido do mundo social e de sua posição nesse mundo, de sua identidade social, por meio de todas as formas de bem dizer e do mal dizer, da bendição ou da maldição e da maledicência, elogios, congratulações, louvores, cumprimentos ou insultos, cen-suras, críticas, acusações, calúnias etc. Não é por acaso que ka tègorein de que vêm as nossas categorias e os nossos categoremas, significa ‘acusar publicamente’26.

A existência dos conflitos e o seu en-quadramento tende a transformá-los em dados “naturais” com os quais se defronta a luta política. Essa luta pela representa-ção, pela categorização, pela publicização, pela nomeação, é um componente funda-mental do jogo político. Quase todos os autores vistos até agora apontam para a lexis como a condição de acesso à esfera política propriamente dita. Cabe, no mo-mento, uma reflexão sobre o seu exercício mediado pelas estruturas e práticas de comunicação.

Espaço público, democracia e os media

A esfera pública burguesa, para Ha-bermas27, era a esfera da vida social que não poderia ser considerada nem estatal, nem privada. Nela, os indivíduos reunidos buscavam o esclarecimento, através da

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28 Wilson Gomes. “Esfera pública política e media: com Habermas, contra Habermas”. In: Antonio Rubim et al. (orgs.). Produção e Recepção dos Sentidos Midiáticos, p. 157-158. 29 Wilson Gomes. Op. cit., p. 155-186.

30 Jürgen Habermas. Op. cit.31 Jürgen Habermas. Op. cit., p. 190.

32 Gabriel Tarde. A Opinião e as Massas, p. 29-38.

ainda restrito e em estreita ligação com um espaço privado burguês, eles foram o principal suporte dessa esfera pública burguesa. De um modo um pouco dis-tinto, essa percepção de que a presença dos meios de comunicação de massa seria capaz de gerar uma nova forma de discussão pública (século XIX) pode ser vista também em Tarde32:

Diz-se: o público de um teatro, o público de uma assembléia qualquer; aqui o público significa multidão. Mas esse significado não é o único nem o principal, enquanto sua importância decresce ou permanece estacionária, a idade moderna, desde a in-venção da imprensa, fez surgir uma espécie de público bem diferente, que não cessa de crescer e cuja expansão indefinida é um dos traços marcantes da nossa época.

E faz uma importante observação ao falar das ‘correntes de opinião’ formadas pelos leitores de jornal:

Coisa estranha, os homens que assim se empolgam, que se sugestionam mutuamente, ou melhor, que transmitem uns aos outros a sugestão vinda de cima, esses homens não se tocam, não se vêem nem se ouvem: estão sen-tados, cada um em sua casa, lendo o mesmo jornal e dispersos em um vasto território.

Tarde observa o isolamento dos indi-víduos em suas casas e a sugestão vinda de cima através do jornal, o que, em Habermas, já anuncia a decadência da esfera pública. É importante ressaltar como a transformação do jornal em mercadoria, dentro da nova forma de produção de bens culturais, a indústria cultural, foi associada a um enfraqueci-mento dos espaços públicos de discus-são, de uma fragmentação, isolamento

argumentação. Os interesses, pretensões e visões de mundo deveriam ser expressos em discursos e proposições, valendo-se do uso público da razão na busca do consen-so. Nessa esfera, deveria ser garantida a todos a chance de expor seus argumentos. Como observa Gomes28, a esfera pública era uma maneira de se exercer uma função pedagógica, através de um exercício na busca do esclarecimento e do entendi-mento, e uma função agonística, como o espaço privilegiado em que se trava uma luta entre argumentos.

Todo o capítulo I da obra de Habermas30 consiste no desenvolvimento dos sentidos do termo público, desde o pensamento grego até o século XIX, ou seja, até o sur-

gimento de um termo mo-derno, diretamente ligado aos meios de comunicação: a do público-leitor. So-bre o significado da esfera pública, são levadas em consideração categorias fundamentais presentes na formação da pólis gre-ga: a presença da lexis, do discurso como categoria verdadeiramente política, e da autonomia frente às necessidades impostas pela vida privada. Essa

discussão é fundamental para o entendi-mento da esfera pública tal como Haber-mas a concebe:

A cultura burguesa não era mera ideo-logia. Porque o raciocínio das pessoas privadas nos salões, clubes e associações de leitura não estava subordinado de modo imediato ao ciclo da produção e do consumo, ao ditame da necessidade existencial; porque, no sentido grego de uma emancipação das necessidades existenciais básicas, possuía muito mais caráter ‘político’ também em sua forma meramente literária [...]31.

Enquanto os jornais desenvolveram-se em um mercado de bens simbólicos

Essa discussão é fundamental para o entendimento da esfera pública

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33 Sobre a sociedade de massa e a política a partir das análises de Tocqueville, ver artigo: Claude Léfort. “Reversibilidade: liberdade política e liberdade do indivíduo”. In: Pensando o Político. Ver, ainda, Rousely C. M. Maia. “A mídia e o novo espaço pú-blico: a reabilitação da sociabilidade e a formação discursiva da opinião”. In: Comunicação & Política, p. 131-156. 34 Ver Rousely C. M. Maia. Op. cit. passim. Ver, ainda, John B. Thompson. A mídia e a Modernidade: uma teoria social da mídia, particularmente o capítulo 3, onde o autor discute as transformações nas formas de publicidade e de interação trazidas pelos meios de comunicação de massa. 35 Ver Umberto Eco. Apocalípticos e Integrados.

36 Rousely C. M. Maia. Op. cit., p.131-156.37 Sobre essa discussão, ver também a posição de Wilson Gomes, quando busca uma integração entre a noção de esfera pública de Habermas (Idem. Op. cit.) e a noção de cena política que julga encontrar em Lipovetsky (Idem. O Império do Efêmero). Wilson Gomes. “Esfera pública política e media”. In: Antônio A. C. Rubim et al. (orgs.). Produção e Recepção dos Sentidos Midiáticos, p.179.

e atomização dos indivíduos, condição necessária para a formação de uma so-ciedade de massa33.

No entanto, o fim das condições neces-sárias para a construção da esfera pública burguesa, seria o fim da possibilidade de uma esfera pública? Como pensar uma esfera pública ampliada a partir dos meios de comunicação? Como a política pode ser exercida através da mediação simbólica dos meios de comunicação?

Ao pensarmos, genericamente, a esfera pública como um “espaço social gerado pela comunicação direta”, vemos que ele está geralmente associado a metáforas re-ferentes a espaços arquitetônicos (fóruns, arenas, palcos, salões). A comunicação mediada pelas sempre novas tecnologias da comunicação desloca esse espaço social de seus referentes tradicionais, já que não dependem mais da presença física dos indivíduos34.

Partindo de uma crítica às formula-ções consideradas apocalípticas sobre o papel da mídia35, presentes em Mudanças Estruturais da Esfera Pública, Maia36 dire-ciona sua leitura de Habermas para suas proposições apresentadas em Teoria da Ação Comunicativa e Between Norms and Facts37. Maia concentra-se na mudança, realizada pelo autor, em direção à co-municação e à pragmática formal. Nessa posição, os processos midiáticos tornam-se criadores de situações capazes de rom-per com os limites espaço-temporais da experiência cotidiana (universalizando as demandas sociais). Eles permitem, também, a presença e visibilidade de discursos que se formam em diferentes campos da vida cotidiana.

Pensando a sociedade não mais a par-tir de uma totalidade, mas descentrada, a dificuldade consiste em entender a sua integração sistêmica através da ação comunicativa. Aparecem, em Habermas, várias arenas que se sobrepõem e que podem ser divididas segundo especi-

ficações funcionais, focos temáticos, campos de políticas, distribuídas em diferentes níveis de complexidade que envolvem a densidade da comunicação, a complexidade da organização que produz a comunicação e o objeto a que se propõe.

Os meios de comunicação assumem, nas duas obras citadas, um papel impor-tante ao libertarem os processos comuni-cativos dos locais em que tenderiam a ficar restritos – espacial e temporalmente. Deste modo, permitem uma circulação generali-zada das formas simbólicas, alargando o espaço discursivo. Outro aspecto decisivo é que esses processos publicizam discur-sos sustentados sobre uma diversidade de valores, formas e ambientes de comunica-ção, gerando uma maior reflexividade na vida social.

O discurso midiático, ao se apresen-tar através de uma linguagem não espe-cializada e multifuncional, permite a composição de novos significados por parte de seus consumidores, gerando pontes hermenêuticas entre as estruturas de integração da qual a mídia é parte e o

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38 Como observa Thompson: “As mensagens da mídia são comumente discutidas por indivíduos durante a recepção e depois; elas são, portanto, elaboradas discur-sivamente e compartilhadas com um círculo mais amplo de indivíduos que podem ter participado (ou não) do processo inicial da recepção [...] Através desse processo de elaboração discursiva, a compreensão que um indiví-duo tem das mensagens transmitidas pelos produtos da mídia podem sofrer transformações, pois elas são vistas por um ângulo diferente, são submetidas a comentários e críticas dos outros, e gradualmente impressas no tecido simbólico da vida cotidiana. John B. Thompson. A Mídia e a Modernidade, p. 41-46.39 Jesús Martín-Barbero. Dos Meios às Mediações. 40 Rousely C. M. Maia. Op. cit., p. 141. 41 Rousely C. M. Maia. Op. cit., p. 142. 42 Ver Alain Touraine. Palavra e Sangue. 43 Ver Evelina Dagnino, Op.cit.

44 Paulino Motter; Venício A. Lima. “Novas Tecnologias de Comunicações, Neoliberalismo e Democracia”. Comu-nicação & Política, p.12-19. 45 Uma reflexão muito parecida com esta (talvez menos enfática) pode ser vista em Renato Ortiz. Mundialização e Cultura, p.147-169.

temas de debate público (as questões referen-tes ao gênero, ao corpo, à etnia etc.)43.

Por outro lado, faz-se também necessário levar em consideração que a produção de sentido pelos receptores não é totalmente livre, da mesma maneira que o próprio aces-so às estruturas de comunicação é assimé-trico. Como observam Lima & Motter44, os oligopólios transformam-se em corporações transnacionais, que buscam nas fusões uma forma de sinergia, com melhores formas de gerenciamento, por meio da integração horizontal e vertical de suas atividades. As novas tecnologias e a segmentação de merca-do tornam-se sinônimos de democratização da comunicação. O que se poderia perceber aqui, segundo os autores, é:

[...] uma redução da esfera pública ao mer-cado, da opinião pública ao comportamento de compra e do cidadão ao consumidor. É o processo contemporâneo que Celso Furtado, com propriedade, atribui ao ‘fundamentalis-mo mercantil’, vale dizer, ‘a idéia de que a lei do mercado e a sua lógica é a medida de todas as coisas, convertendo-se em ética. É uma forma de religião moderna’45.

Isso ocorre não só pelos interesses comerciais, ideológicos e políticos que

mundo da vida38. Através deles, pode-se “tematizar e articular novas e imprevistas questões relevantes para a sociedade em sua totalidade”, estimulando a tentativa de coordenação sistêmica da ação. Trata-se de novos espaços públicos.

Na direção de vários estudos sobre recepção midiática – particularmente o dos culturalistas e sua noção de mediações (Barbero39) –, é possível pensar uma nova forma de articulação entre a integração sis-têmica e os mecanismos comunicacionais do mundo da vida. Os receptores passam a ser, também, produtores de sentido. O mundo da vida seria constituído “pelos pressupostos dados pela tradição ou pelas certezas básicas da vida, dos quais os in-divíduos se abastecem para interpretar e compreender o mundo em geral”40.

Esses pressupostos são mais ou menos difusos, não totalmente objetificados, o que abre a possibilidade de interpretações capa-zes de garantir o entendimento básico entre os interlocutores no cotidiano. Sendo assim, a partir de um modelo hermenêutico:

[...] nas práticas diárias de reprodução cultu-ral, de integração social ou de socialização, somos todos produtores de sentido e de cultura de alguma forma e de algum tipo. Nos interstícios do dia-a-dia, nas redes de sociabilidade, sempre há espaço para a cria-ção de novos sentidos – os quais escapam da regulamentação legal, do alcance adminis-trativo ou direcionamento político [...]41.

Entretanto não se deve confundir essa produção de sentido com uma total auto-nomia do mundo da vida, já que Habermas alerta justamente para a sua falta de obje-tificação, o seu caráter difuso, impossível de ser avaliado de antemão, constituindo “esferas públicas periféricas, auto-regula-tivas e não institucionalizadas”42.

Mesmo as restritas arenas públicas oferecidas pela mídia, tornam-se o local em que acontece a negociação de sentidos entre diversos públicos. O seu caráter não restrito, pode ser capaz de assimilar certos temas, anteriormente considerados privados, como

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46 Antonio Hohlfeldt. “Os estudos sobre a hipótese de agendamento”. Famecos; Clóvis Barros Filho. Ética na Comunicação; Mauro Wolf. Teorias da Comunicação.

47 Antônio A. C. Rubim. “Dos Poderes dos Media”. In:Antonio Fauto Neto et al. Brasil: Comunicação, Cultura e Política, p. 68. 48 Rousely C. M. Maia. Op. cit.

49 Ver Christa Berger. Em torno do discurso jornalístico; An-tonio F. Neto. O indivíduo e as mídias ou Christa Berger. “A Reestruturação da Política em Tempos Midiáticos”. In: Texto. (http://www.ilea.ufrgs.br/intexto/v1n1/a-v1n1a4.html).

50 Rousely C. M. Maia. Op. cit., p. 150.

orientam as redes de comunicação priva-das (definidas, por muitos, como empresas privadas que prestam um serviço público), mas também pelos próprios critérios de noticiabilidade que orientam o dia-a-dia das redações (significação social, atuali-dade, quebra da normalidade, a imagem espetacular, etc.). Apesar disso, esse espaço seria capaz de comportar várias arenas, compostas de públicos periféricos e contra-públicos.

A questão volta-se para a importância da mídia no estabelecimento de agendas temáticas. Este seria um poder considerá-vel. Segundo a hipótese conhecida como Agenda-setting, desenvolvida nos anos 70 por Maxwell McCombs e Donald Shaw46, um dos maiores poderes dos meios de comunicação não consiste em nos dizer propriamente o que pensar, mas em que pensar. Seu poder está na sua capacidade de estabelecer uma agenda a partir de determinados interesses (políticos, ideo-lógicos, econômicos), em situação de con-corrência, e a partir de sua própria lógica produtiva (necessidade de trabalhar com o novo e com o extraordinário de maneira a atrair o leitor ou o telespectador):

Na sua sempre anunciada pretensão de transparência do social e de todos os seus campos, emergidos na modernidade clássica ou tardia, os media expõem seu próprio cer-ne, em seu aspecto mais essencial: o ato de publicizar. Dom de tornar as coisas comuns, compartilhadas, públicas. [...] Publicizar ou não, eis então um dos momentos onde se ins-taura uma relação de poder: um dos poderes dos media para além das mensagens47.

O agendamento depende de negocia-ção e disputa complexa entre as institui-ções e os agentes envolvidos por interesses diversos em sua manutenção. O interesse político pode se contrapor ao interesse e ritmo da produção industrial de notícias ou pode ser estimulado por ele. Isso já está incorporado à luta política, que esti-mula ou se orienta por temas agendados ou pelo próprio deslocamento da agenda

– o sair de baixo dos holofotes da mídia, oferecendo para a imprensa outros temas ou assuntos concorrentes (mais novos, recentes, espetaculares, rentáveis, etc. com os quais se preocupar).

Retomando a questão dos novos mo-vimentos sociais, da esfera pública e da mídia, – a partir da leitura feita por Maia48 –, esses movimentos são considerados “fluxos comunicativos gerados nos micro-domínios da prática cotidiana” capazes de detectar, devido à sua vinculação direta com o mundo da vida, o que se poderia chamar de situações-problema. Como as condições de apresentação dessas situa-ções-problema no espaço público (as es-truturas de comunicação) são assimétricas, os agentes sociais não podem deixar de pensar em estratégias de atuação capazes de se converterem em fatos noticiáveis, identificados geralmente com ações espeta-culares (fechamento de rodovias, marchas, etc.)49. Como os recursos disponíveis para interferir nas decisões governamentais são escassos, a mídia passa a ser o alvo mais visado não apenas por dar mais visibili-dade ao movimento, mas por permitir que, através do tratamento controverso dado às suas questões, sejam construídos fluxos de opinião pública que poderiam vir a se tornar feixes de opinião pública tematicamente específicos.

A esfera pública mediada pelas estrutu-ras e práticas de comunicação, surge agora como um “ponto de encontro entre as formas de integração sistêmica e as de integração comunicativa”50. Nela, os novos movimen-

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tos sociais, ou, no sentido mais genérico, os agentes do mundo da vida, funcionam como sensores não especializados capazes de detectar e apresentar problemas, tema-tizá-los, apresentar soluções ou dramatizá-los, com o objetivo de transformá-los em objeto legítimo da discussão parlamentar. Embora não possam ser totalmente institu-cionalizados, sob pena de degradação, esses mecanismos de ação comunicativa devem ser reconhecidos e legitimados através de processos de entendimento dinâmicos, já que esses movimentos do mundo da vida, por sua sensibilidade, são capazes de rein-ventar o real.

Conclusão

Todo o esforço realizado neste traba-lho voltou-se para a análise do papel dos novos movimentos sociais na sociedade democrática, a partir de uma reflexão sobre a própria noção de democracia e sobre a importância da luta simbólica necessária ao seu exercício. Referimo-nos, particular-mente, a Rancière (o papel do dissenso), Habermas (integração sistêmica, mundo da vida e ação comunicativa), Castoriadis (a sociedade como criação/processo insti-tuinte) e Bourdieu (luta/poder simbólico), mas podemos perceber a sociedade demo-

crática como uma questão de fundo em todos os outros autores abordados aqui.

Procuramos destacar como a noção de crise, que envolve as sociedades de-mocráticas, está dialeticamente ligada à construção de categorias, práticas sociais e formas de sociabilidade que podem ser reimaginadas para dar fundamento a essa experiência. Essas práticas sociais não existem naturalmente. Elas estão direta-mente relacionadas com as representações que constroem sobre si mesmas e sobre o mundo no qual se inserem e encontram significado. Por ser marcado pela criação, no sentido que lhe confere Castoriadis, o processo político se apresenta como uma luta pelo poder de representação do mun-do e pela definição dos próprios termos nos quais se desenvolverá a luta política, luta pela fixação de significados.

Através do poder de nomeação e clas-sificação, de visão e divisão do mundo, vemos como a esfera política se transforma em um campo de lutas simbólicas. Exem-plo disso é que a disputa por significados e diagnósticos da crise social e política – que se trava em vários níveis da esfera pública – tem se manifestado atualmente pela introdução da nomenclatura econômica como forma legítima de representação da vida social e política.

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