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JAPG Nº 70070809710 (Nº CNJ: 0291165-81.2016.8.21.7000) 2016/CÍVEL 1 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO. INEXISTÊNCIA DE NEXO CAUSAL COM A MORTE DO PACIENTE. ATENDIMENTO DEFICIENTE NO QUE TANGE AOS SERVIÇOS DE ENFERMAGEM E HOTELARIA. DANOS MORAIS OCORRENTES. INDENIZAÇÃO DEVIDA. I. A responsabilidade civil é a obrigação de reparar o dano causado a alguém. A responsabilidade dos entes da administração pública, em regra, é objetiva, ou seja, independe de culpa, bastando a comprovação do prejuízo e do nexo de causalidade entre a ação (conduta comissiva ou omissiva) e o dano. Inteligência do art. 37, § 6°, da Constituição Federal. Por sua vez, quanto aos hospitais, na qualidade de fornecedores de serviços, respondem objetivamente pelos danos causados aos seus pacientes, ou seja, independente de culpa, bastando a comprovação do prejuízo e do nexo de causalidade. Inteligência do art. 14, caput, do CDC. II. No caso concreto, a perícia médica realizada concluiu que não há nexo de causalidade entre a conduta do hospital e a morte. Portanto, não há falar na ocorrência de erro médico que tenha contribuído para a piora e, posteriormente, para a morte do de cujus.

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JAPG

Nº 70070809710 (Nº CNJ: 0291165-81.2016.8.21.7000)

2016/CÍVEL

1

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.

RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO.

INEXISTÊNCIA DE NEXO CAUSAL COM A MORTE

DO PACIENTE. ATENDIMENTO DEFICIENTE NO

QUE TANGE AOS SERVIÇOS DE ENFERMAGEM E

HOTELARIA. DANOS MORAIS OCORRENTES.

INDENIZAÇÃO DEVIDA.

I. A responsabilidade civil é a obrigação de reparar

o dano causado a alguém. A responsabilidade dos

entes da administração pública, em regra, é

objetiva, ou seja, independe de culpa, bastando a

comprovação do prejuízo e do nexo de

causalidade entre a ação (conduta comissiva ou

omissiva) e o dano. Inteligência do art. 37, § 6°, da

Constituição Federal. Por sua vez, quanto aos

hospitais, na qualidade de fornecedores de

serviços, respondem objetivamente pelos danos

causados aos seus pacientes, ou seja,

independente de culpa, bastando a comprovação

do prejuízo e do nexo de causalidade. Inteligência

do art. 14, caput, do CDC.

II. No caso concreto, a perícia médica realizada

concluiu que não há nexo de causalidade entre a

conduta do hospital e a morte. Portanto, não há

falar na ocorrência de erro médico que tenha

contribuído para a piora e, posteriormente, para a

morte do de cujus.

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III. Contudo, a prova testemunhal não deixa

dúvidas de que foi deficiente e desumano o

atendimento hospitalar prestado, no que tange

aos serviços de enfermagem e hotelaria. Durante a

internação do paciente, não houve a higienização

adequada, as trocas de fraldas e da roupa de

cama não ocorriam com regularidade e as visitas

médicas e de enfermagem não eram freqüentes

IV. Assim, é devida a reparação por danos morais

postulada, tendo em vista o deficiente serviço

prestado pelo nosocômio-réu durante a

internação do de cujus. A indenização é devida

tanto para o Espólio, em razão da dor e

sofrimento suportados pelo de cujus durante o

período de internação, como à esposa do de

cujus, diante da situação vivenciada por ela na

internação.

V. Indenização arbitrada de acordo com a

condição social dos autores, o potencial

econômico da ré, a gravidade do fato, o caráter

punitivo-pedagógico da reparação e os

parâmetros adotados por esta Câmara em casos

semelhantes. A correção monetária pelo IGP-M

incide a partir do presente arbitramento, na forma

da Súmula 362, do STJ. Os juros moratórios de 1%

ao mês contam-se a partir do evento danoso, nos

termos da Súmula 54 do STJ.

APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA.

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APELAÇÃO CÍVEL

QUINTA CÂMARA CÍVEL

Nº 70070809710 (Nº CNJ: 0291165-

81.2016.8.21.7000)

COMARCA DE SAPUCAIA DO SUL

ESPÓLIO DE BRISIOLAR BORGES LEITE

APELANTE

NILVA MORAES LEITE

APELANTE

FUNDAÇÃO HOSPITALAR MUNICIPAL

GETULIO VARGAS

APELADO

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Quinta Câmara Cível

do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar parcial provimento à

apelação.

Custas na forma da lei.

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Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes

Senhores DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO (PRESIDENTE) E DES. LÉO ROMI

PILAU JÚNIOR.

Porto Alegre, 30 de novembro de 2016.

DES. JORGE ANDRÉ PEREIRA GAILHARD,

Relator.

R E L A T Ó R I O

DES. JORGE ANDRÉ PEREIRA GAILHARD (RELATOR)

Trata-se de recurso de apelação interposto por Espólio de

Brisiolar Borges Leite e Nilva Moraes Leite contra a sentença que, nos autos da

Ação Indenizatória por Danos Morais ajuizada contra Fundação Hospitalar

Municipal Getúlio Vargas, julgou a demanda nos seguintes termos:

DIANTE DO EXPOSTO, JULGO IMPROCEDENTE a ação

indenizatória ajuizada por ESPÓLIO DE BRISIOLAR BORGES

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LEITE, representado por NILVA MORAES LEITE em face do

HOSPITAL MUNICIPAL GETÚLIO VARGAS.

Condeno a parte autora ao pagamento das custas e despesas

processuais e de honorários advocatícios em favor do

patrono do demandado, que fixo em 10% sobre o valor da

causa. Todavia, suspendo a exigibilidade dos ônus

sucumbenciais, na medida em que goza do benefício da

gratuidade de justiça, nos termos da Lei nº 1.060/50.

Em face da nova sistemática do Código de Processo Civil e,

diante da inexistência de juízo de admissibilidade, (art. 1010,

§ 3º do NCPC), em caso de interposição de recurso de

apelação, proceda-se na intimação da parte apelada para que

apresente contrarrazões, querendo, no prazo de 15 dias.

Decorrido o prazo, subam os autos ao E. Tribunal de Justiça

do Estado do RS.

Sustenta a petição recursal que, embora o laudo médico indireto

produzido, a prova testemunhal foi clara e unânime a demonstrar que a piora se

deu por causa da negligência do hospital no atendimento. Diz que a perícia

médica não pode ser levada em consideração, uma vez que a própria apelada

afirmou em contestação que não possui os prontuários dos dias 01.05.2008 a

11.05.2008. Alega que a prova testemunhal demonstrou que a conduta do

hospital foi absolutamente inadequada e incompatível com uma instituição

especializada no atendimento humano. Argumenta que o paciente e sua esposa

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foram expostos a abalo emocional e frustração que podem ser presumidos,

decorrentes da falta de atendimento, má prestação de serviço de enfermagem e

pouca atenção aos cuidados essenciais, que certamente acarretou na piora do

paciente. Lembra que a responsabilidade do hospital é contratual. Entende que o

fundamento para a condenação é encontrado na negligência de atendimento do

hospital público, eis que o paciente foi levado em três oportunidades para que

fosse verificada a origem das dores e malefícios, sem que, em nenhuma delas,

tenha sido internado para averiguação. Discorre sobre o quantum indenizatório.

Requer o provimento do apelo (fls. 621/627).

Intimada, a apelada apresentou as contrarrazões (fls. 630/633).

Subiram os autos a este Tribunal.

Distribuídos, o Ministério Público opinou pelo parcial provimento

do apelo (fls. 636/641).

Adiante, vieram os autos conclusos.

Cumpriram-se as formalidades previstas nos arts. 929 a 935, do

CPC.

É o relatório.

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V O T O S

DES. JORGE ANDRÉ PEREIRA GAILHARD (RELATOR)

O apelo é tempestivo. Dispensado o preparo em razão do

benefício da justiça gratuita.

Cuida-se de ação de indenização por danos morais em decorrência

de suposta falha no atendimento médico prestado pelo hospital ora requerido a

Brisiolar Borges Leite, o qual, lamentavelmente, veio a falecer em 12.05.2008.

Neste ponto, importante esclarecer que, como bem observado

pelo ilustrado Procurador de Justiça, Dr. Gilmar Possa Maroneze, no parecer de

fls. 636/641, a causa de pedir da presente demanda não está consubstanciada

apenas na ocorrência de erro médico que tenha contribuído para a piora de

Brisiolar e, posteriormente, para a sua morte.

Pela leitura da petição inicial, depreende que a ação também está

fundamentada na deficiência e indignidade do serviço prestado pelo nosocômio,

como um todo, especialmente quanto ao serviços de enfermagem e de hotelaria,

independentemente de terem contribuído para o agravamento do estado de

saúde do de cujus.

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Pois bem. Segundo Maria Helena Diniz: “A responsabilidade civil é

a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou

patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por

pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de

simples imposição legal” (in Curso de Direito Civil Brasileiro – Responsabilidade

Civil, Volume 7, 29ª edição, Editora Saraiva, São Paulo, 2015, p. 51).

Nessa linha, importante referir que são pressupostos da

responsabilidade civil: a ação (conduta comissiva ou omissiva), a culpa do

agente, a existência do dano e o nexo de causalidade entre a ação e o dano.

Contudo, em se tratando de responsabilidade civil dos entes da

administração pública (da União, dos Estados e dos Municípios), a regra é a

responsabilidade objetiva, assim considerada a que não necessita de

comprovação da culpa.

Aliás, a Constituição de 1988 seguiu a orientação das Constituições

anteriores, desde a Carta de 1946, com a adoção da responsabilidade civil

objetiva, na modalidade do risco administrativo, conforme determina o art. 37, §

6º, com a seguinte redação:

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Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer

dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,

também, ao seguinte:

(...)

§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito

privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos

danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a

terceiros, assegurado o direito de regresso contra o

responsável nos casos de dolo ou culpa.

(...)

O Código Civil de 2002 seguiu a mesma linha, conforme se

percebe na redação do art. 43:

Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são

civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa

qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito

regressivo contra os causadores do dano, se houver, por

parte destes, culpa ou dolo.

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De outro lado, para excluir ou atenuar a indenização do dano,

caberá ao ente público a prova da culpa exclusiva ou concorrente da vítima, de

terceiro ou por motivo de caso fortuito ou de força maior.

Por sua vez, quanto aos hospitais, na qualidade de fornecedores

de serviços, respondem objetivamente pelos danos causados aos seus pacientes,

ou seja, independente de culpa, na forma do art. 14, caput, do CDC, bastando a

comprovação do prejuízo e do nexo de causalidade. Assim dispõe o referido

dispositivo legal:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde,

independentemente da existência de culpa, pela reparação

dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos

à prestação dos serviços, bem como por informações

insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

É o que ensina Sergio Cavalieri Filho (in Programa de

Responsabilidade Civil, 11ª ed., Editora Atlas, São Paulo, 20014, p. 449):

(...) Os estabelecimentos hospitalares são fornecedores de

serviços, e, como tais, respondem objetivamente pelos danos

causados aos seus pacientes, quer se tratem de serviços

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decorrentes da exploração de sua atividade empresarial, tais

como defeito de equipamento (v, g. em Porto Seguro a mesa

de cirurgia quebrou durante o parto e o bebê caiu ao chão,

não resistindo ao traumatismo craniano), equívocos e

omissões da enfermagem na aplicação de medicamentos,

falta de vigilância e acompanhamento do paciente durante a

internação (v. g. queda do paciente do leito hospitalar com

fratura do crânio), infecção hospitalar etc.; quer se tratem de

serviços técnico-profissionais prestados por médicos que

neles atuam ou a eles sejam conveniados.

É o que o CDC chama de fato do serviço, entendendo-se

como tal o acontecimento externo ocorrido no mundo físico

que causa danos materiais ou morais ao consumidor, mas

decorrente de um defeito do serviço.

Essa responsabilidade, como se constata no próprio texto

legal, tem por fundamento ou fato gerador o defeito do

serviço, que, fornecido ao mercado, vem a dar causa a um

acidente de consumo. “O serviço é defeituoso, diz o §1° do

art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, quando não

fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar,

levando-se em consideração as circunstâncias relevantes,

entre as quais o modo do seu fornecimento, o resultado e os

riscos que razoavelmente dele se esperam e a época em que

foi fornecido.” Trata-se, como se vê, de uma garantia deque o

serviço será fornecido ao consumidor sem defeito, de sorte

que, ocorrido o acidente de consumo, não se discute culpa; o

fornecedor responde por ele simplesmente porque lançou no

mercado um serviço com defeito. E mais, será absolutamente

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irrelevante saber se o fornecedor tinha ou não conhecimento

do feito, bem como se esse defeito era previsível ou evitável.

Em face do fato do serviço, o defeito é presumido porque o

Código diz – art. 14, §3°, I – que o fornecedor só excluirá a

sua responsabilidade se provar – ônus seu – que o defeito

inexiste, vale dizer, que o acidente não teve por causa um

defeito do serviço.

Igualmente, de acordo os art. 186 e 927, do Código Civil, aquele

que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar

direito e causar dano a outrem ainda que exclusivamente moral, comete ato

ilícito, ficando obrigado a repará-lo, nos seguintes termos:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,

negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a

outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

(...)

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar

dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

No caso concreto, a perícia médica realizada concluiu que não há

nexo de causalidade entre a conduta do hospital e a morte de Brisiolar, uma vez

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que os procedimentos adotados foram corretos e estão de acordo com a boa

prática médica (fls. 510/513-verso).

Portanto, não há falar em erro médico, na hipótese dos autos.

Contudo, a prova testemunhal não deixa dúvidas de que foi

deficiente e desumano o atendimento hospitalar prestado, no que tange aos

serviços de enfermagem e hotelaria.

Ora, pelo que se constada pela prova oral, durante a internação do

paciente não houve a higienização adequada, as trocas de fraldas e da roupa de

cama não ocorriam com regularidade e as visitas médicas e de enfermagem não

eram freqüentes (fls. 592/594). Inclusive, nos memoriais apresentados perante o

juízo a quo, o próprio nosocômio reconhece que as trocas de fraldas e lençóis

de cama não foram realizadas na proporção esperada pelos familiares do de

cujus (fls. 605/613).

Aliás, uma das testemunhas informou que a enfermeira se recusou

a realizar a higiene do paciente quando este se urinou porque resultaria em

“retrabalho”.

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Enfim, neste ponto, peço vênia para transcrever o seguinte trecho

da própria sentença recorrida, a qual sintetizou o relato das testemunhas ouvidas

em juízo:

(...)

A testemunha Vera Lucia Junqueira disse em Juízo que era

responsável pelos cuidados do Sr. Carlos, com quem o de

cujus dividia o leito quando da internação no hospital réu.

Asseverou que não havia médicos “no feriadão de 1º de

maio”, nem roupas de cama; que os familiares eram

responsáveis pela higienização do de cujus e que traziam

fraldas de casa. Mencionou, ainda, que as enfermeiras eram

resistentes em prestar auxílio, inclusive, algumas vezes,

negando-o e que testemunhou o momento em que o de

cujus entrou em coma, ocasião em que um socorro pontual

poderia ter mudado o desfecho dos fatos. Afirmou, ainda,

que trazia todos os aparatos necessários para os cuidados do

Sr. Carlos também, inclusive, a pedido do hospital.

Nilza Beatriz Pires, que à época cuidava do de cujus,

profissionalmente, já que desempregada, confirmou o

alegado pela parte autora e corroborou com o depoimento

da testemunha Vera. Afirmou que a enfermeira se recusou a

realizar a higiene do de cujus, já que resultaria em retrabalho

e confirmou que não havia médicos “no feriadão”.

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No mesmo sentido foi o depoimento da testemunha Maria

Inês Sonda Lopes ao declarar que cuidava de seu marido, à

época, internado no mesmo quarto do de cujus e que

presenciou todos os acontecimentos narrados. Escassez (ou

ausência) de médicos e enfermeiros, indisponibilidade de

recursos e prestação mínima de auxílio.

O preposto do demandado, Eduardo Mello Rodrigues não

recordou, especificamente, do caso sub judice. Contudo,

esclareceu pendências técnicas ao juízo e às partes,

especialmente no que diz respeito às condições neurológicas

do de cujus quando da internação.

Ademais, vale lembrar que o Magistrado não está adstrito ao

laudo pericial, podendo formar sua convicção com outros elementos ou fatos

provados nos autos, na forma do art. 479, do CPC/2015 (art. 436 do CPC/1973).

Nestas circunstâncias, tenho que é devida a reparação por danos

morais postulada, tendo em vista o deficiente tratamento prestado pelo

nosocômio-réu durante a internação de Brisiolar. No caso, a indenização é

devida tanto para o Espólio, em razão da dor e sofrimento suportados pelo de

cujus durante o período de internação, como à autora Nilva, diante da situação

vivenciada por ela na internação do seu esposo.

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Aqui, diga-se que a hipótese dos autos reflete o dano moral in re

ipsa ou dano moral puro, uma vez que o aborrecimento, o transtorno e o

incômodo causados pela parte requerida são evidentes, conferindo o direito à

reparação sem a necessidade de produção de outras provas sobre a sua

ocorrência.

Aliás, Yussef Said Cahali (in Dano Moral, 4ª ed., Editora RT, São

Paulo, 2011, p. 635) menciona que:

(...)

Portanto, em determinados casos, os danos morais são ínsitos

à própria ofensa (in re ipsa), presumidos, a dispensar a

respectiva demonstração probatória concreta para a sua

caracterização.

Na mesma linha, Carlos Roberto Gonçalves (in Responsabilidade

Civil, 8ª ed., Editora Saraiva, São Paulo, 2003, p. 552), explica que:

(...)

O dano moral, salvo casos especiais, como o de

inadimplemento contratual, por exemplo, em que se faz

mister a prova da perturbação da esfera anímica do lesado,

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dispensa prova em concreto, pois se passa no interior da

personalidade e existe in re ipsa. Trata-se de presunção

absoluta. Desse modo, não precisa a mãe comprovar que

sentiu a morte do filho; ou o agravado em sua honra

demonstrar em juízo que sentiu a lesão; ou o autor provar

que ficou vexado com a não-inserção de seu nome no uso

público da obra, e assim por diante.

Sobre a questão, os seguintes precedentes deste Tribunal:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS

MORAIS. MORTE DE PACIENTE INTERNADO EM PORÃO

DE HOSPITAL. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO

CONFIGURADA. RESPONSABILIDADE MÉDICA AFASTADA.

QUANTUM REDUZIDO. 1. IMPRUDÊNCIA, NEGLIGÊNCIA E

IMPERÍCIA MÉDICA NÃO EVIDENCIADA. Ausente o nexo

causal entre o evento - morte do ente querido dos autores

por infarto no miocárdio - e o agir dos médicos demandados,

não se há de falar em dever de indenizar. Hipótese em que,

além de estar totalmente descartada a possibilidade de o

remédio ministrado ao paciente ter sido uma das causas da

insuficiência respiratória, não há descrição de qualquer outra

conduta apta a qualificar como negligente, imprudente ou

imperita a conduta dos profissionais médicos que prestaram

atendimento ao autor no dia anterior ao fato.

Responsabilidade civil afastada. 2. FALHA NO SERVIÇO

HOSPITALAR. DESCASO E ABANDONO DO

PACIENTE. DANO MORAL. A responsabilidade objetiva dos

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hospitais, pelo serviço defeituoso prestado ao consumidor,

somente é afastada quando comprovada a inexistência de

defeito ou a culpa exclusiva do paciente, ou de terceiro, ex vi

do art. 14, § 3º do CDC. Caso em que restou demonstrada

nos autos a negligência por parte da administração e do

quadro de enfermagem do hospital, bem como

o tratamento desumano dispensado ao ente querido dos

autores que, devido às alterações em seu estado anímico, foi

trancafiado em uma peça, no porão do nosocômio, a qual

contava com apenas uma janela e uma porta de ferro, cuja

tranca ficava para o lado de fora. Prova de que lhe foi

disponibilizado apenas um colchão e de que na referida sala

não havia cama e sequer campainha. Relatório do setor de

enfermagem denotando que o paciente ficou abandonado

durante toda a noite, sendo encontrado sem vida no dia

seguinte, vítima de um infarto no miocárdio. Precariedade das

instalações que, por si só, torna latente a negligência e

descaso no agir do réu. Dever de indenizar reconhecido.

Condenação mantida. 3. "QUANTUM" INDENIZATÓRIO.

REDUÇÃO. Na fixação da reparação por danoextrapatrimonial,

incumbe ao julgador, atentando, sobretudo, para as

condições do ofensor, do ofendido e do bem jurídico lesado,

e aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, arbitrar

quantum que se preste à suficiente recomposição dos

prejuízos, sem importar, contudo, enriquecimento sem causa

da vítima. A análise de tais critérios, aliada às demais

particularidades do caso concreto, conduz à redução do

montante indenizatório fixado para R$ 50.000,00 (cinqüenta

mil reais), corrigidos monetariamente, pelo IGP-M, desde a

data desta sessão até o efetivo pagamento, e acrescidos de

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juros de mora, à razão de 12% ao ano, a contar da citação.

Sentença reformada, no ponto. APELAÇÃO DOS AUTORES

DESPROVIDA. APELO DO RÉU PARCIALMENTE PROVIDO.

(Apelação Cível Nº 70015735343, Décima Câmara Cível,

Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Roberto Lessa Franz,

Julgado em 23/11/2006);

RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL DESCASO NO

ATENDIMENTO DE PACIENTE. Nulidade da sentença.

Inocorrência. Não intimação sobre as ponderações do laudo

complementar. Prejuízo indemonstrado. Caracterizada a

omissão do hospital demandado que não prestou o

atendimento médico que a situação da mãe dos autores

exigia. Dano moral caracterizado Montante indenizatório

fixado por arbitramento pelo julgador, considerando

inexistirem critérios legais ou doutrinários de tarifamento

do dano. Observação da intensidade da ofensa, necessária

compensação à vítima e reprimenda ao ofensor. Quantum

mantido. AJG. Hospital filantrópico. Possibilidade de

concessão. Preliminar desacolhida. Apelações desprovidas.

Unânime. (Apelação Cível Nº 70034675066, Décima Câmara

Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Alberto

Schreiner Pestana, Julgado em 26/05/2011).

No pertinente ao quantum indenizatório, é sabido que este deve

possuir dupla função, qual seja, reparatória e pedagógica, devendo objetivar a

satisfação do prejuízo efetivamente sofrido pela vítima, bem como servir de

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exemplo para inibição de futuras condutas nocivas. Imbuído dessa ideia, a

reparação deve ser fixada com parcimônia pelo Julgador, estando este sempre

atento aos critérios de razoabilidade que o caso concreto exige.

Com efeito, o patrimônio moral das pessoas físicas e jurídicas não

pode ser transformado em fonte de lucro ou polo de obtenção de riqueza. Não

se admite a indenização como instrumento de enriquecimento ilimitado do

ofendido, transformando-se o direito ao ressarcimento em loteria premiada, ou

sorte grande, de forma a tornar um bom negócio o sofrimento produzido por

ofensas.

É certo que a indenização por dano moral tem caráter pedagógico.

Todavia, devem ser observados os princípios da proporcionalidade e da

razoabilidade na fixação dos valores, atendidas as condições do ofensor, do

ofendido e do bem jurídico lesado.

Impende, pois, ao Julgador dosar a indenização de maneira que,

suportada pelo patrimônio do devedor, consiga no propósito educativo da pena,

inibi-lo de novos atos lesivos, por sentir a gravidade e o peso da condenação, ao

passo que a vítima, pelo grau de participação no círculo social e pela extensão

do dano suportado, sinta-se razoável e proporcionalmente ressarcida.

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Desta forma, tendo em vista a condição social dos autores, o

potencial econômico da parte ré, a gravidade do fato, o caráter punitivo-

pedagógico da reparação e os parâmetros adotados por esta Câmara em casos

semelhantes, tenho que a indenização deva ser arbitrada em R$ 10.000,00, para

cada autor, acrescidos de correção monetária pelo IGP-M, a contar do presente

arbitramento, na forma da Súmula 362, do STJ, e dos juros moratórios de 1% ao

mês, a partir do evento danoso (26.04.2008 – fl. 15), de acordo com a Súmula

54, do STJ.

Consequentemente, merece prosperar em parte o recurso.

Ante o exposto, dou parcial provimento à apelação para julgar

procedente em parte a ação e condenar o réu ao pagamento de indenização por

danos morais, no valor de R$ 10.000,00, para cada autor, acrescidos de correção

monetária pelo IGP-M, a contar do presente arbitramento, e dos juros

moratórios de 1% ao mês, a partir do evento danoso.

Condeno a parte ré ao pagamento das custas processuais e dos

honorários advocatícios ao procurador dos autores, fixados 15% sobre o valor

atualizado da condenação, observado o art. 85, § 2°, do CPC/2015.

É o voto.

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DES. LÉO ROMI PILAU JÚNIOR - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO (PRESIDENTE) - De acordo com o(a)

Relator(a).

DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO - Presidente - Apelação Cível nº

70070809710, Comarca de Sapucaia do Sul: "À UNANIMIDADE, DERAM PARCIAL

PROVIMENTO À APELAÇÃO."

Julgador(a) de 1º Grau: LUCIANE DI DOMENICO HAAS