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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
Comarca de Guarapuava – 1ª Vara Criminal
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Autos n° 2008.2089-0, de Processo Crime
Autor: Ministério Público
Réu: Vinicius Gabriel Ianesko, brasileiro, convivente, estagiário, portador da
Cédula de Identidade nº 8.406.504-8 SSP/PR, com 22 (vinte e dois) anos de idade à
época do fato, nascido no dia 12/11/1985, natural de Guarapuava/PR, filho de Paulo
Ricardo Ianesko e Magali Rosimeire Brandão Ianesko.
S E N T E N Ç A
O Ministério Público do Estado do Paraná, lastreado em Inquérito
Policial, ofereceu denúncia em face ao réu supra qualificado pelas condutas assim
narradas na inicial:
“I - Histórico
“No dia 28 de março de 2008, uma das equipes de investigação do
GAECO Regional de Guarapuava receberam informação de que naquela
noite seriam repassadas para o interior da cadeia pública da 14ª
Subdivisão Policial de Guarapuava bebidas alcoólicas, armas e
“maconha”. Diante desta informação resolveram diligenciar a respeito
da sua veracidade. Para tanto, lograram êxito em prender em flagrante
delito a pessoa de EDILCEU GONÇALVES PEREIRA, quando este,
juntamente com CLEVERSON DE JESUS CARDOSO acabavam de deixar,
no interior de uma construção abandonada, localizada na lateral da 14ª
Subdivisão Policial, uma caixa de papelão contendo 08(oito) garrafas
pet de dois litros cheias de substância alcoólica, um pacote plástico
contendo 05(cinco) facas de mesa, e 02(dois) tabletes de maconha,
com aproximadamente 445(quatrocentos e quarenta e cinco) gramas.
Ao procederem à revista e relação dos objetos apreendidos em poder
de CLEVERSON DE JESUS CARDOSO foi encontrado no interior da sua
carteira um comprovante de depósito, no valor de R$ 90,00(noventa
reais), feito no Banco do Brasil, Agência nº 0299-2, conta corrente nº
47.655-2, em nome do denunciado VINICIUS GABRIEL IANESKO. No
dia da prisão em flagrante de EDILCEU GONÇALVES PEREIRA o auxiliar
de carceragem, ora denunciado VINICIUS GABRIEL IANESKO
encontrava-se de plantão na carceragem da 14ª Subdivisão Policial de
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Guarapuava.
No dia 23 de abril de 2008, quando policiais do GAECO Regional de
Guarapuava realizavam o cumprimento de um mandado de busca e
apreensão na residência do traficante de substância entorpecente
CARLO JOSÉ STADIKOSKI DOS SANTOS, vulgo “Carlitcho” foi
encontrado em um dos cômodos da casa 01(um) comprovante de
depósito feito na conta corrente do auxiliar de carceragem, ora
denunciado VINICIUS GABRIEL IANESKO, Agência do Banco do Brasil
nº 0299-2, conta corrente nº 47.655-2, no valor de R$ 210,00(duzentos
e dez reais).
Diante disto, foi requerido ao Juízo Criminal à quebra do sigilo bancário
do denunciado VINICIUS GABRIEL IANESKO, tendo sido constatado
que houve em sua conta corrente vários depósitos realizados através
de envelopes de depósitos, de Agências Bancárias de outras Cidades,
extrato juntado a fls. 100 à 122.
Diante disto, foi instaurado procedimento investigatório preliminar,
visando investigar os indícios de crimes existentes.
Fato 01 – CORRUPÇÃO PASSIVA – ART. 317, DO CÓDIGO PENAL
“No dia 11 de março de 2008, na Agência do Banco do Brasil nº. 299-2,
nesta Cidade e Comarca, o denunciado VINICIUS GABRIEL IANESKO,
recebeu, para si, em razão da sua função de auxiliar de carceragem da
14ª Subdivisão Policial de Guarapuava, vantagem indevida, consistente
em R$ 90,00(noventa reais), conforme comprovantes de depósito de
fls. 37 e 109, e extrato de conta corrente de fl.122. Referido valor foi
depositado na conta corrente do denunciado VINICIUS GABRIEL
IANESKO, nº. 47.655-2, pelo Senhor EDILCEU GONÇALVES PEREIRA, o
qual foi preso, no dia 28 de março de 2008, quando juntamente com
CLEVERSON DE JESUS CARDOSO acabavam de deixar, no interior de
uma construção abandonada, localizada na lateral da 14ª Subdivisão
Policial, uma caixa de papelão contendo 08(oito) garrafas pet de dois
litros cheias de substância alcoólica, um pacote plástico contendo
05(cinco) facas de mesa, e 02(dois) tabletes de maconha, com
aproximadamente 445(quatrocentos e quarenta e cinco) gramas,
objetos estes que seriam colocada para dentro da carceragem da 14ª
Subdivisão Policial de Guarapuava, a pedidos de presos. O denunciado
VINICIUS GABRIEL IANESKO recebeu referida quantia em dinheiro em
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razão da sua função de auxiliar de carceragem, para facilitar a entrada
dos referidos objetos ilícitos para dentro da carceragem da 14ª
Subdivisão Policial de Guarapuava, aproveitando-se para isto dos seus
plantões junto a carceragem provisória. Com tal conduta o denunciado
VINICIUS GABRIEL IANESKO praticou o crime de corrupção passiva,
previsto no artigo 317, do Código Penal Brasileiro.”
Fato 02 – CORRUPÇÃO PASSIVA – ART. 317, DO CÓDIGO PENAL
“No dia 10 de março de 2008, na Agência do Banco do Brasil nº. 299-2,
nesta Cidade e Comarca, o denunciado VINICIUS GABRIEL IANESKO,
recebeu, para si, em razão da sua função de auxiliar de carceragem da
14ª Subdivisão Policial de Guarapuava, vantagem indevida, consistente
em R$ 210,00(duzentos e dez reais), conforme comprovantes de
depósito de fls. 98 e 104, e extrato de conta corrente de fl.122.
Referido valor foi depositado na conta corrente do denunciado
VINICIUS GABRIEL IANESKO, nº. 47.655-2, pelo traficante CARLO JOSÉ
STADIKOSKI DOS SANTOS, vulgo “Carlitcho”. O denunciado VINICIUS
GABRIEL IANESKO recebeu referida quantia em dinheiro em razão da
sua função de auxiliar de carceragem, para facilitar a entrada de
objetos não permitidos para dentro da carceragem da 14ª Subdivisão
Policial de Guarapuava, quando dos seus plantões junto a carceragem
provisória. Com tal conduta o denunciado VINICIUS GABRIEL IANESKO
praticou o crime de corrupção passiva, previsto no artigo 317, do
Código Penal Brasileiro.”
Fato 03 – CORRUPÇÃO PASSIVA – ART. 317, DO CÓDIGO PENAL
“No dia 11 de março de 2008, na Agência do Banco do Brasil nº. 299-2,
nesta Cidade e Comarca, o denunciado VINICIUS GABRIEL IANESKO,
recebeu, para si, em razão da sua função de auxiliar de carceragem da
14ª Subdivisão Policial de Guarapuava, vantagem indevida, consistente
em R$ 60,00(sessenta reais), conforme comprovantes de depósito de
fls. 105 e extrato de conta corrente de fl. 122. Referido valor foi
depositado na conta corrente do denunciado VINICIUS GABRIEL
IANESKO, nº. 47.655-2, pela companheira do preso Françuelo Hugen,
Senhora Paloma Silva Vieira. O denunciado VINICIUS GABRIEL
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IANESKO recebeu referida quantia em dinheiro em razão da sua função
de auxiliar de carceragem, para facilitar a entrada de objetos não
permitidos para dentro da carceragem da 14ª Subdivisão Policial de
Guarapuava, quando dos seus plantões junto a carceragem provisória.
Com tal conduta o denunciado VINICIUS GABRIEL IANESKO praticou o
crime de corrupção passiva, previsto no artigo 317, do Código Penal
Brasileiro.”
Diante de tal conduta, o Ministério Público pleiteou a condenação
do denunciado VINICIUS GABRIEL IANESKO pelo delito previsto no artigo 317,
“caput” (3 vezes), combinado com o artigo 69, ambos do Código Penal Brasileiro.
A denúncia foi recebida em 19/09/2008 (fl. 162).
O réu, citado à fl. 181, verso, apresentou resposta à acusação à fl.
174, por meio de defensor constituído, com rol de testemunhas.
Ao longo da instrução foram inquiridas seis testemunhas arroladas
com a denúncia (fls. 209/211, 238, 267 e 288) e uma testemunha arrolada com a
resposta (fl. 212), tendo o Ministério Público desistido da oitiva das testemunhas
faltantes (fls. 240 e 248) e sido declarada preclusa a oportunidade para a inquirição
da outra testemunha arrolada com a resposta (fl. 249). A instrução findou-se com a
realização do interrogatório do réu à fl. 292.
Em suas alegações finais orais (fls. 294/299, verso), o Ministério
Público requereu a condenação do acusado, por entender estarem devidamente
comprovadas a materialidade e a autoria delitivas.
A defesa por sua vez, requereu a absolvição do réu, ou,
alternativamente, em caso de condenação, pela fixação da pena mínima (fls. 299,
verso/300).
É O RELATÓRIO. FUNDAMENTO. DECIDO.
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Trata-se de processo em que se apura a prática, em tese, de
crimes de corrupção passiva, que teriam ocorrido nos dias 10 e 11 de março de
2008.
1) Do primeiro fato descrito na denúncia
A materialidade delitiva encontra-se devidamente comprovada,
no tocante ao primeiro fato, pelo comprovante de depósito de fl. 26, em que se
constata que no dia 11/03/2008, o réu recebeu, mediante depósito bancário, o valor
de 90,00 (noventa reais).
A autoria, de igual modo, restou comprovada.
O artigo 317, do Código Penal assim tipifica o crime de corrupção
passiva:
“Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa”.
Relativamente ao primeiro fato descrito na denúncia não há dúvida
da prática do crime de corrupção passiva narrado na denúncia, porque se
comprovou, de modo seguro e induvidoso, que o réu, no exercício da função de
carcereiro, recebeu determinada quantia em dinheiro (R$ 90,00), para facilitar a
entrada de objetos ilícitos e lícitos (não permitidos) na carceragem da 14ª SDP de
Guarapuava.
Os elementos constantes na descrição mencionada restaram
sobejamente comprovados tanto pela prova documental quanto pela prova
testemunhal produzida nos autos.
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Necessário rememorar o início das investigações, que levaram, de
fato, à comprovação da suspeita que recaía sobre a pessoa do réu. Os elementos de
prova levam à convicção de que a autoridade policial tomou conhecimento através
de notícia anônima de que o réu estaria facilitando a entrada de material proibido na
carceragem e que, na noite da prisão de Edilceu Gonçalves Pereira, seriam
repassados para o interior da cadeia pública local, bebida alcoólica, arma e
“maconha”, cuja encomenda seria levada de um determinado local (“de em bar no
Núcleo Tancredo Neves”) até a Delegacia por dois indivíduos em uma motocicleta
preta, circunstância que motivou o início da ação policial, fato devidamente relatado
pelos policiais do GAECO e pelo Superintendente da 14ª SDP, conforme se verá.
Da análise dos autos, verifica-se que, de fato, em 28 de março de
2008, foi preso em flagrante EDILCEU GONÇAVES PEREIRA porque este levou até as
proximidades da 14ª Subdivisão Policial de Guarapuava uma caixa contendo bebidas
alcoólicas, droga e facas, cujo destino seria o interior do setor de carceragem da
delegacia.
Consta da investigação que tais produtos entrariam no setor de
carceragem com o auxílio do réu, VINICIUS GABRIEL IANESKO, auxiliar de
carceragem na época dos fatos e que estava de plantão naquela noite.
Da investigação, comprovou-se que, de fato, o réu, que exercia a
função de carcereiro, se encontrava de plantão naquela noite, o que, aliás, não foi
negado por ele.
Por sua vez, na referida noite, foi efetuada a prisão de EDILCEU,
nas proximidades da Delegacia de Polícia local, ocasião em que com ele foram
encontrados objetos/bens/substâncias que seriam levadas para a Delegacia, bem
como um comprovante de depósito bancário no valor de R$ 90,00 (noventa reais),
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datado de 11/03/2008, tendo como favorecido o acusado VINICIUS GABRIEL
IANESKO (fl. 26).
A prova testemunhal produzida confirma as informações retro
expostas. Veja-se.
A primeira testemunha ouvida, ARILSON ALBORGHETTI,
Superintendente da 14ª SDP (fl. 209) relatou que receberam ‘denúncias’ de que o
réu estaria facilitando a entrada de bebidas alcoólicas no interior do setor de
carceragem daquela subdivisão policial, razão pela qual, juntamente com o chefe da
carceragem PITASINSKI, deu início à investigação volvida à apuração da verdade.
Relatou que, na noite da prisão de EDILCEU, acompanhou o
momento em que o Policial KULKA encontrou a caixa na qual estavam as bebidas, a
droga e as facas. Disse, ainda, que foi localizado com EDILCEU um recibo de
depósito tendo como favorecido o réu, que estava de plantão naquela noite, tendo o
detido afirmado que se tratava do pagamento de um empréstimo (fl. 209).
No mesmo sentido, o Policial Militar MARCOS KULKA (termo de fl.
210), com atuação no GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado), por seu turno, noticiou que receberam uma denúncia anônima dando
conta de que duas pessoas numa motocicleta se deslocariam até o Núcleo Tancredo
Neves, nesta cidade, onde adquiririam bebidas e drogas, que seriam entregues na
14ª SDP de Guarapuava, por intermédio de uma pessoa que estaria prestando
serviços naquele local. Informou que, em patrulhamento, localizaram um veículo que
carregava uma caixa de papelão, porém, o perderam de vista durante o percurso,
mas seguiram em direção à Delegacia de Polícia Civil. Afirmou a referida testemunha
que, chegando lá, estacionaram a viatura, seguindo a pé, indo ao provável local da
entrega, qual seja, a rua lateral que dá acesso à cozinha, onde existe uma
construção abandonada, que é o antigo IML, e logo avistaram a pessoa de Edilceu
deixando a caixa, de modo que o abordaram e verificaram que, no interior da caixa,
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havia garrafas pet com bebidas alcoólicas, facas e droga. Mencionou, ainda, que na
carteira de EDILCEU, preso naquela oportunidade, foi encontrado um comprovante
de depósito bancário no valor de R$ 90,00 (noventa reais), em favor do réu, que, de
acordo com a testemunha, estava de serviço naquele dia, acrescentando que, numa
outra oportunidade, também foi apreendido um comprovante de depósito bancário
tendo como favorecido o acusado. Por fim, disse que, consoante o superintendente
ARILSON, já existia uma investigação prévia para apurar a entrada de bebidas
alcoólicas no interior da Delegacia, o que ocorria normalmente nos plantões do réu.
O policial militar MIGUEL DONIZETE FERREIRA DE FRANÇA, tanto
com atuação do GAECO, corroborou as declarações prestadas acima pelo colega de
trabalho (fl. 211), dizendo que ele foi quem abordou Edilceu, o qual havia deixado
uma caixa de papelão dentro de uma construção abandonada, imobilizando-o.
Relatou que na referida caixa havia garrafas pet com odor etílico, dois tabletes de
maconha e cinco facas de serra de cozinha. Disse, ainda, que o investigador Valdir
encontrou dentro da carteira de Edilson um comprovante de R$ 90, 00 (noventa
reais), em que era favorecido o acusado.
Os policiais militares mencionados, Miguel Donizete Ferreira de
França e Marcos Kulka efetivamente foram os condutores do flagrado EDILCEU
GONÇALVES PEREIRA, pela prática do crime de tráfico, conforme se vê do auto,
juntado aos autos às fl. 17/43, objeto da denúncia oferecida pelo Ministério Público
(fl. 314/320).
O referido flagrado confirmou em Juízo que deixou a caixa no lugar
mencionado, o que fez, a pedido de terceira pessoa. Quanto ao comprovante de
depósito encontrado com sua pessoa, disse que se tratava de devolução de dinheiro
que havia emprestado da pessoa do réu durante um jogo de futebol e que, todavia,
não era amigo do réu e não sabia onde ele morava (fl. 238).
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O réu, ouvido sobre o fato, conforme termo de fl. 292, afirmou que
o dinheiro depositado em sua conta se referia a empréstimo feito por ele bem antes
do fato e que não esperava mais recebê-lo, negando os fatos que lhe foram
atribuídos na denúncia. Confirmou que estava de plantão quando da prisão de
Edilceu e que o conhecia porque jogava futebol com ele, mas não mantinha amizade
próxima.
A alegação do réu, confirmada por Edilceu não merece
credibilidade, haja vista que não é crível que alguém sem qualquer intimidade e
amizade empreste certa quantia em dinheiro para outrem. Além disso, também não
é crível que o dinheiro seja devolvido, mediante depósito, justamente próximo do dia
em que Edilceu se preparava para inserir produtos e bens na Delegacia de Polícia
local, cuja carceragem, na ocasião, estava sob a responsabilidade do acusado.
Os fatos ora apresentados não se revestem de “coincidências”, mas
de prova cabal e inconteste de que o réu recebeu dinheiro da pessoa de Edilceu
Gonçalves Pereira, através do depósito de fl. 26, que, inclusive, é nominal ao réu
Vinicius Gabriel Ianesko. O objetivo para o recebimento da importância mencionada
tem relação direta com a prisão da pessoa mencionada, que foi encontrada com
objetos que seriam inseridos na carceragem da 14ª SDP durante o plantão do
acusado, os quais, efetivamente, foram localizados e aprendidos (auto de fl. 25).
Não obstante a negativa do réu, o nexo causal entre a conduta do
acusado de receber o dinheiro e a promessa para realização de ato de ofício (permitir
a entrada de objetos lícitos e ilícitos na carceragem), está comprovado de forma
clara, induvidosa e indiscutível.
Destarte, a conduta do denunciado encontra-se perfeitamente em
consonância com aquela descrita no caput do artigo 317, revestindo-se, portanto, de
caráter criminoso, de modo que a sua condenação é medida que se impõe.
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No que concerne ao crime de corrupção passiva, Guilherme de
Souza Nucci, em sua obra Código Penal Comentado1, ensina:
“se um funcionário público receber, para si, vantagem indevida, em
razão de seu cargo, configura-se, com perfeição, o tipo penal do art.
317, caput”.
“Conceito de vantagem indevida: pode ser qualquer lucro, ganho,
privilégio ou benefício ilícito, ou seja, contrário ao direito, ainda que
ofensivo apenas aos bons costumes”.
Os julgados, de igual modo, em situações semelhantes, já
decidiram:
“APELAÇÃO. ART. 317, CAPUT, E § 1º, DO CP. CORRUPÇÃO PASSIVA.
AGENTE PENITENCIÁRIO. AUTORIA COMPROVADA. Comprovada a
existência de depósito na conta bancária do réu, agente penitenciário,
feito por companheira de detento que fugiu dias após, com o auxílio do
réu, deve ser mantida a condenação. Recurso da defesa improvido.
(Apelação Crime Nº 70037824760, Quarta Câmara Criminal, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Gaspar Marques Batista, Julgado em
21/10/2010)”.
“ART. 317 CÓDIGO PENAL - CORRUPÇÃO PASSIVA - RECEBIMENTO DE
DINHEIRO POR AGENTE PENITENCIÁRIO - CONDENAÇÃO MANTIDA.
Resta devidamente configurado o tipo penal descrito pelo art. 317 do
Código Penal, se o réu, na função de agente penitenciário, obtém
numerário do detento, em troca da utilização do seu aparelho de
telefonia celular. REPRIMENDA - PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA
SUBSTITUTIVA - VALOR - CRITÉRIOS. A determinação do valor da
prestação pecuniária substitutiva, resguardado o seu caráter
reparatório, não se desvincula do princípio geral da culpabilidade e
deve ser fixada segundo a situação econômico-financeira do réu.
Recurso a que se nega provimento. (Apelação Criminal
1.0223.04.132245-2/001, Rel. Des.(a) Judimar Biber, 1ª CÂMARA
111ª edição, revista, atualizada e ampliada, 2012, págs.1.161/1.162.
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CRIMINAL, julgamento em 29/07/2008, publicação da súmula em
08/08/2008) “.
“APELAÇÃO CRIMINAL - CORRUPÇÃO PASSIVA - INÉPCIA DA
DENÚNCIA - REJEIÇÃO - AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS -
ABSOLVIÇÃO - DESCABIMENTO - SENTENÇA CONDENATÓRIA MANTIDA
- RECURSOS CONHECIDOS E NÃO PROVIDOS.
(...)
-Restando absolutamente comprovada a solicitação de vantagem
indevida pelos réus, em razão da função pública que exerciam na
Delegacia de Polícia local, descabida se revela a pretensão absolutória
deduzida em respectivos recursos.
-Recursos conhecidos e não providos. (Apelação Criminal
1.0687.08.065056-1/001, Rel. Des.(a) Matheus Chaves Jardim, 2ª
CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 19/07/2012, publicação da súmula
em 27/07/2012)”.
Da prova produzida, tem-se, como visto, comprovação efetiva e
materialização da conduta de corrupção passiva. A alegação do réu não restou
comprovada e, de igual modo, não se reveste de lógica, principalmente porque o réu
alega situação econômica desfavorável, circunstância que não se coaduna com
alguém que empresta, sem maiores reflexões, determinada quantia em dinheiro para
outrem.
É de se salientar, ainda, que a notícia “anônima” se referia a
bebidas alcoólicas e envolviam o réu, que estaria facilitando sua entrada, o que se
confirmou, tanto que o preso EDILCEU guardava consigo um comprovante de
depósito em nome do denunciado, tendo sido preso em flagrante, por ter deixado
uma caixa contendo, inclusive, bebidas alcoólicas (e “droga”) num edifício
abandonado próximo à Delegacia de Polícia local, justamente na noite em que o
acusado estava de plantão, conforme se vê do auto de prisão em flagrante (fl. 15/20
e denúncia oferecida pelo Ministério Público, juntada às fl. 314/320).
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Ressalte-se, ainda, que a proximidade entre a data do depósito, 11
de março de 2008, e a data da prisão em flagrante de EDILCEU, 28 de março do
mesmo ano, revelam o vínculo entre as condutas noticiadas.
Assim, os elementos de prova produzidos, todos coerentes e
harmônicos, levam à convicção de que efetivamente o réu praticou o primeiro fato
descrito na denúncia.
2) Do segundo fato narrado na denúncia
Narra a denúncia que o réu teria recebido no dia 10 de março de
2008, em razão de sua função vantagem indevida, consistente em R$ 210,00
(duzentos e dez reais), do traficante CARLO JOSÉ STADIKOSKI DOS SANTOS, vulgo
“Carlitcho”, para facilitar a entrada de objetos não permitidos para a carceragem da
14ª Subdivisão Policial de Guarapuava, quando de seus plantões.
Embora não se exija comprovação material do crime noticiado
porque a simples solicitação de vantagem indevida já caracteriza o tipo penal em
análise, há comprovação nos autos de que em 23 de abril de 2008, durante o
cumprimento de mandado de busca e apreensão na residência da referida pessoa,
foi encontrado um comprovante de depósito bancário no valor de R$ 210,00
(duzentos e dez reais), datado de 10/03/2008, em favor do denunciado VINICIUS
GABRIEL IANESKO (fl. 93), que efetivamente foi creditado em sua conta corrente (fl.
130).
O réu não nega o recebimento do dinheiro, o que de fato se
comprovou, conforme prova documental mencionada.
Conforme se comprovou nos autos, a pessoa de Carlo José
Stadikoski dos Santos foi presa em 22 de abril de 2008, conforme auto de prisão em
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flagrante juntado às fl. 87/88, mas também se comprovou, pelas próprias
declarações da referida pessoa, que ela saiu de lá em dezembro de 2007,
comprovando-se que em momento anterior já esteve presa, restando evidenciado o
contato entre a mencionada pessoa e o acusado.
A pessoa de CARLO JOSÉ STADIKOSKI DOS SANTOS, confirmou o
depósito, dizendo tê-lo feito a pedido de um conhecido, não tendo ele vislumbrado
nada de errado na ocasião (fl. 288). A explicação, entretanto, dada por referida
pessoa não é convincente e a situação fática relatada é esdrúxula. Veja-se. Disse que
morava perto da rodoviária e estava numa lanchonete que é bem na frente e passou um
rapaz que estava preso na 14ª quando o depoente também estava lá; Esse rapaz estava
com uma mochila, foi conversar com o depoente, disse que estava de passagem por
Guarapuava; Acha que ele residia em Foz do Iguaçu; O rapaz disse que estava indo para
Curitiba e estava atrasado para pegar o ônibus; Ele pediu para o depoente fazer um
depósito para ele, que ele lhe passava o número da conta, senão iria perder o ônibus; O
depoente não viu mal nenhum, pegou o número da conta, os R$ 210,00 e depositou; O
depoente deu o número do seu celular para aquele rapaz, para confirmar o depósito; O
depoente guardou em casa o comprovante de depósito; Depois foi preso e a polícia achou o
comprovante.
Sobre o depósito efetuado por Carlo, o réu não o justificou de
forma individualizada. Disse que todos os valores que entravam na sua conta eram
para ajudar os detentos que eram presos aqui na Comarca, mas não residiam aqui;
Tinha outro colega seu que fazia esse tipo de ajuda, mas não sabe por que ele saiu da
delegacia; As pessoas passaram a ver um alento na pessoa do interrogado; Nunca
agrediu ou fez qualquer ameaça ou agressão; Em dado momento da sua função eles
solicitaram se o interrogado poderia ajudar e essa foi a única forma que encontrou para
ajudá-los; As visitas ocorriam no domingo (depois mudou para sexta-feira) e as pessoas
não tinham condições de se deslocar das outras cidades para vir a Guarapuava para
fazer a visita e trazer uma comida diferenciada daquela da semana, era uma situação
muito precária dentro da delegacia com relação à alimentação; Tinha uma panificadora
situada a uma quadra da delegacia, o senhor desossava, fazia todo o trabalho para não
entrar qualquer tipo de objeto que serrasse uma cela, fizesse um buraco na parede ou
ameaçar a vida de alguém; O depoente pegava o dinheiro, entregava para esse senhor
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e entregava para a pessoa que solicitava a alimentação; A pessoa dizia que foi
depositada certa quantia em dinheiro pelos familiares e o interrogado somente
entregava a alimentação; Nem se deslocava até a panificadora, só informava e o Sr.
Luís trazia, e o interrogado repassava o dinheiro, só isso; Perguntado se era uma praxe
na delegacia, disse que foi esse seu companheiro que ajudava, o Dalmo.
Nas declarações do réu, este tenta justificar o recebimento de
dinheiro em sua conta bancária pessoal, relatando conduta, que, na sua percepção,
é lícita e se constituía em ação corriqueira, ou seja, famílias de presos depositavam
valores em sua conta corrente e o réu, com tal quantia, adquiria alimentos,
entregando àqueles, o que ocorria, segundo seu relato, nos finais de semana.
Os policiais ouvidos, notadamente, Arilson Alborghetti, escrivão da
Polícia Civil, que exercia o cargo de superintendente da 14ª Subdivisão Policial, disse
que receberam denúncias de que o réu estaria facilitando a entrada de bebidas alcoólicas
no interior do setor de carceragem e que o depoente e o investigador Pitasinski, que era o
chefe da carceragem na época, fizeram campana durante os plantões do réu para verificar
a veracidade da denúncia; Com autorização da Dra. Maritza, remodelaram o sistema de
vigilância interna, pois as câmeras que tinham no setor de carceragem eram somente para
visualização, havia alguns problemas e elas não gravavam; Fizeram instalação num
computador para poderem gravar as imagens e verem se algum objeto estava entrando
mesmo no setor de carceragem; As gravações acabaram não ocorrendo porque, na noite do
fato, o depoente estava passando na frente da 14ª SDP, o investigador que estava de
plantão juntamente com o réu (pois a Viviane estava de licença) tinha conhecimento dos
fatos e disse que avisaria o depoente se o réu entrasse no setor de carceragem e
monitoraria o que aconteceria; O depoente estava passando em frente à delegacia e viu o
vulto de uma pessoa próximo ao setor de identificação; Como já estavam aguardando, pois
poderia haver alguma entrega naquela noite, o depoente contornou o quarteirão e, ao
chegar na esquina, reconheceu o investigador do GAECO, o Valdir; Voltou pegar a viatura,
encontrou o Cabo Miguel e ouviram um disparo, situações que culminaram com a prisão
de Edilceu.
Disse, ainda, a referida testemunha que as suspeitas envolvendo o
réu eram a respeito da bebida, a denúncia era clara quanto a ela, tanto que foi uma
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surpresa quando constaram a maconha e as facas, o que estaria acontecendo há algum
tempo, pois havia trinta dias que tinham recebido a denúncia e estavam
investigando.
Ao ser perguntado se era comum a entrega pela carceragem de
compras trazidas pelos familiares como comida e produtos de limpeza, disse que é
comum no horário autorizado e pertinente, entregas de sacolas ocorrem de segunda a
quarta, na sexta-feira entram comidas com os visitantes, nesse horário e com revista, não
após o fechamento do setor de carceragem; Depois do fechamento, ninguém tem
autorização para entregar qualquer objeto no setor.
De modo que, diante das declarações do policial mencionado, que
era superintendente da 14ª SDP, não se pode acatar as declarações do réu quanto à
normalidade do procedimento que adotava para receber dinheiro dos familiares de
pessoas detidas naquele estabelecimento, para aquisição ainda que fosse de
alimentos, pois até mesmo para isso havia horários e procedimentos pertinentes, o
que, conforme observado, não era seguido pelo réu.
A investigadora VIVIANE XAVIER ALVES que num primeiro
momento confirma a prática noticiada pelo réu, informou que houvera um período
em que familiares de presos, que residiam fora, pediam aos auxiliares que fizessem
compras porque não podiam vir à cidade toda semana, bem como que havia uma
mercearia em frente à Delegacia na qual os familiares já deixavam as compras
pagas, num segundo momento classificou como absurdo o recebimento de valores
nas contas bancárias para comprar alimentos para os presos (fl. 212).
Por outro lado, embora o réu tenha afirmado a existência de
bilhetes indicando o nome do preso, o número da cela em que se encontrava
recolhido e o valor depositado, bem como de sacolas identificadas com os nomes dos
detentos, não houve juntada de nenhum elemento de prova que comprovasse a
noticiada prática.
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É de se verificar, ainda, que a afirmação de que o chefe da
carceragem possivelmente sabia dos depósitos não é pertinente, já que a própria
testemunha ARILSON disse, judicialmente, que fez campana juntamente com o
PITASINSKI para investigar a veracidade das denúncias afetas à conduta do réu
relativamente à entrada de objetos não permitidos na carceragem, em especial, de
bebida alcoólica.
Veja-se que, ainda, que o réu pretendesse auxiliar os detentos,
alegando ingenuidade em sua forma de atuação, nada foi documentado, até mesmo
porque se trata de procedimento não previsto em lei. Caso fosse legalmente admitida
a prática dos depósitos, certamente haveria uma conta bancária institucional para tal
finalidade, desvinculada das contas pessoais dos funcionários, tudo minimamente
documentado, objetivando, com isso, afastar qualquer responsabilidade dos
servidores.
Não se pode permitir que pessoas que exercem função pública
ignorem os procedimentos legais relativos ao exercício de sua função, notadamente
à movimentação de valores, mediante a confusão de interesses privados e de
interesses públicos, o que deve ser coibido, a fim de que a moralidade pública se
restabeleça.
De modo que, a comprovação de recebimento de valores pelo réu
em sua conta corrente do valor mencionado na denúncia (R$ 210,00), oriundo de
pessoa que já esteve presa e, ainda, havendo ‘notícias’ de que o réu estava
permitindo a entrada de objetos não permitidos, notadamente, de bebida alcoólica, o
que, inclusive, foi investigado pela Polícia Civil, o que culminou com a prisão da
pessoa de Edilceu Gonçalves Pereira, são elementos bastantes e convincentes que
comprovam, de maneira segura, o “modo de agir do réu”.
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De tudo o que se disse, portanto, a segunda conduta narrada na
denúncia também se comprovou de modo claro, harmônico e induvidoso, o que leva
à condenação do réu.
3) Do terceiro fato descrito na denúncia
Descreve a denúncia, como nos demais fatos atribuídos ao réu, que
este recebera, para si, em razão de sua função de auxiliar de carceragem da 14ª
SDP, vantagem indevida, consistente em R$ 60,00 (sessenta reais), da esposa do
preso Françuelo Hugen, Paloma Silva Vieira, para facilitar a entrada de objetos não
permitidos no setor de carceragem daquele estabelecimento.
O depósito foi confirmado documentalmente (fl. 112/113), bem
como pela prova testemunhal.
A testemunha/informante FRANÇUELO HUGEN confirmou a
ocorrência do depósito, justificando que o réu se propusera a ajudá-lo na compra de
alimentos, itens de higiene e cigarros, como de fato o fizera (fl. 267).
O referido informante disse que:
a) estava preso em Guarapuava e não tinha parente, ninguém lá;
b) Ligou para sua esposa fazer um depósito e o réu se prontificou a
ajudá-lo, comprar cigarros, trazer a alimentação no domingo;
c) Foi uma transferência de depósito, algo assim;
d) Sua esposa morava em Curitiba;
e) Ela transferiu dinheiro para o depoente na conta do réu;
f) Não sabe em qual banco o réu tinha conta;
g) Com esse dinheiro o réu compraria alimentos, itens de higiene,
cigarros, frango assado;
h) O réu fez esse favor umas duas vezes para o depoente;
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i) Não se recorda dos valores que sua mulher transferiu;
j) O réu chegou a comprar esses produtos para o depoente.
De fato, há comprovação de que o réu recebeu determinado valor
em dinheiro de pessoa da família de pessoa custodiada.
Não obstante a confirmação do informante de que recebera
alimentos em razão do depósito efetuado, a comprovação material do depósito
efetuado na conta particular do réu, aliado aos argumentos já expostos
relativamente aos dois primeiros fatos, revela que a conduta narrada na denúncia,
uma vez mais, restou devidamente comprovada.
O quadro fático-probatório se completou com a prova material dos
depósitos feitos na conta bancária do réu, confirmando as denúncias já existentes de
que o réu, na sua função de carcereiro, facilitava a entrada de objetos não
permitidos.
Assim, diante da comprovação da ‘notícia anônima’ relativa ao
primeiro fato, não é crível que o réu aceitasse depósitos em sua conta particular e
assumisse todos os riscos decorrentes de tal comportamento, sem que recebesse
qualquer vantagem.
Em crimes como o noticiado, em que os propósitos são
dissimulados e que as pessoas envolvidas, neste caso, os detentos, são pessoas
vinculadas à criminalidade, não se espera que a verdade decorra, de maneira
simplista, da prova testemunhal, principalmente porque a revelação da conduta em
sua integralidade levaria à confissão do crime de corrupção ativa.
De tudo o que se comprovou e se analisou, não há qualquer
justificativa para a conduta do réu, tipificada na legislação penal como crime de
corrupção passiva.
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Necessário, ainda, diante das alegações do réu relativamente ao
segundo e terceiro fatos descritos na denúncia, observar o seguinte:
a) O réu não comprovou a realização de qualquer compra em prol
qualquer detento;
b) A conduta realizada não era do conhecimento de seu superior
hierárquico e, portanto, não era permitida;
c) A entrega de bens e alimentos seguia regras e horários
previamente estabelecidos, não obedecidos pelo réu;
d) Há proibição legal de recebimento de quaisquer valores ou
vantagens pelo funcionário público, em razão de sua função;
e) Não há qualquer justificativa para a realização de tarefas que
não eram afetas ao cargo ocupado pelo réu;
f) Não se justificava o fornecimento pelo réu de sua conta bancária
pessoal, para pessoas vinculadas aos detentos e aos seus
familiares.
Os procedimentos irregularmente praticados pelo réu, que exercia
função pública, somados à confirmação da ‘notícia anônima’ relativa ao primeiro fato
e, ainda, à comprovação dos valores recebidos pelo réu, levam à conclusão
inequívoca de que assim agia porque obtinha vantagem ilícita.
Por fim, não se pode deixar de considerar que as condutas
praticadas pelo réu se caracterizaram pela continuidade delitiva, posto que
praticadas em circunstâncias semelhantes e até idênticas: nas mesmas condições de
tempo (março de 2008), lugar (Guarapuava) e maneira de execução (praticadas em
razão da função que exercia), o que leva à convicção de que os comportamentos
subsequentes são continuação do primeiro.
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Por todo o exposto, julgo procedente a denúncia, para o fim de
condenar o réu VINICIUS GABRIEL IANESKO pelo delito previsto no artigo 317,
caput, do Código Penal, por três vezes, c/c com o artigo 71, do Código Penal.
Passo à individualização da pena
1) Do primeiro fato narrado na denúncia
Analisando-se as circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal,
tem-se que a culpabilidade, entendida como o grau de reprovação social dos fatos
e do seu autor, é normal ao tipo em questão. O réu não registra antecedentes,
conforme relatório do Sistema Oráculo em anexo. No que se refere à conduta
social e à personalidade, não há indicativo de que o acusado possua
comportamento desregrado. O motivo do delito foi a obtenção da vantagem
indevida. Não há circunstâncias do crime a serem consideradas para majorar a
pena-base. No tocante às consequências do crime, não foram graves, uma vez que
as bebidas alcoólicas, as facas e a droga foram apreendidas antes de chegarem ao
seu destino final, embora o titular do bem juridicamente tutelado seja o Estado, que
fica desprestigiado no exercício de suas funções regulares, o que, entretanto, já faz
parte integrante do tipo penal. Por fim, quanto ao comportamento da vítima, não
existe vítima individualizada, posto tratar-se de crime contra a administração pública.
Sopesando-se as circunstâncias acima analisadas, fixo a pena-base
em 02 (dois) anos de reclusão, mínimo legal.
Ante a inexistência de outras circunstâncias que modifiquem a pena
base, torno-a definitivamente fixada em 02 (dois) anos de reclusão, que deverá
ser cumprida em regime inicial aberto, substituída por penas restritivas de direito.
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Da pena pecuniária
Atentando-se para as circunstâncias já analisadas, ou seja, a
inexistência de circunstâncias judiciais desfavoráveis, bem como a inexistência de
agravantes/atenuantes e a, ainda, de causas de aumento/diminuição de pena, fixo a
pena pecuniária em 10 (dez) dias multa, no valor unitário de 1/20 (um vigésimo)
do salário mínimo vigente na época dos fatos, pois o réu ostenta capacidade
econômica razoável, situação retratada pela condição de Bacharel em Direito, bem
como pela constituição de advogado.
2) Do segundo fato narrado na denúncia
Analisando-se as circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal,
tem-se que a culpabilidade, entendida como o grau de reprovação social dos fatos
e do seu autor, é normal ao tipo em questão. O réu não registra antecedentes,
conforme relatório do Sistema Oráculo em anexo. No que se refere à conduta
social e à personalidade, não há indicativo de que o acusado possua
comportamento desregrado. O motivo do delito foi a obtenção da vantagem
indevida. Não há circunstâncias do crime a serem consideradas para majorar a
pena-base. No tocante às consequências do crime, é de se verificar que houve
descumprimento de regras para inserção de objetos na carceragem, o que
certamente representou tratamento privilegiado dentro da unidade. Por fim, quanto
ao comportamento da vítima, não existe vítima individualizada, posto tratar-se de
crime contra a administração pública.
Sopesando-se as circunstâncias acima analisadas, fixo a pena-base
no mínimo legal, ou seja, em 02 (dois) anos de reclusão.
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Ante a inexistência de outras circunstâncias que modifiquem a pena
base, torno-a definitivamente fixada em 02 (dois) anos de reclusão, a ser
cumprida em regime inicial aberto, substituída por restritivas de direitos.
Da pena pecuniária
Atentando-se para as circunstâncias já analisadas, ou seja, a
inexistência de circunstâncias judiciais desfavoráveis, bem como a inexistência de
agravantes/atenuantes e a, ainda, de causas de aumento/diminuição de pena, fixo a
pena pecuniária em 10 (dez) dias multa, no valor unitário de 1/20 (um vigésimo)
do salário mínimo vigente na época dos fatos, pois o réu ostenta capacidade
econômica razoável, situação retratada pela condição de Bacharel em Direito, bem
como pela constituição de advogado.
3) Do terceiro fato narrado na denúncia
Analisando-se as circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal,
tem-se que a culpabilidade, entendida como o grau de reprovação social dos fatos
e do seu autor, é normal ao tipo em questão. O réu não registra antecedentes,
conforme relatório do Sistema Oráculo em anexo. No que se refere à conduta
social e à personalidade, não há indicativo de que o acusado possua
comportamento desregrado. O motivo do delito foi a obtenção da vantagem
indevida. Não há circunstâncias do crime a serem consideradas para majorar a
pena-base. No tocante às consequências do crime, é de se verificar que a atuação
do réu representou tratamento diferenciado entre os detentos. Por fim, quanto ao
comportamento da vítima, não existe vítima individualizada, posto tratar-se de
crime contra a administração pública.
Sopesando-se as circunstâncias acima analisadas, fixo a pena-base
em 02 (dois) anos de reclusão.
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Ante a inexistência de outras circunstâncias que modifiquem a pena
base, torno-a definitivamente fixada em 02 (dois) anos de reclusão, a ser
cumprida em regime inicial aberto, com substituição por restritivas de direitos.
Da pena pecuniária
Atentando-se para as circunstâncias já analisadas, ou seja, a
inexistência de circunstâncias judiciais desfavoráveis, bem como a inexistência de
agravantes/atenuantes e a, ainda, de causas de aumento/diminuição de pena, fixo a
pena pecuniária em 10 (dez) dias multa, no valor unitário de 1/20 (um vigésimo)
do salário mínimo vigente na época dos fatos, pois o réu ostenta capacidade
econômica razoável, situação retratada pela condição de Bacharel em Direito, bem
como pela constituição de advogado.
DA CONTINUIDADE DELITIVA
Os crimes praticados pelo réu, de corrupção passiva, foram
praticados mediante mais de uma ação, cujas condutas foram praticadas nesta
cidade de Guarapuava, durante o ano de 2008 em datas muito próximas (10 e 11 de
março de 2008) e, ainda, com maneira de execução idêntica, o que leva à conclusão
de que foram praticados, em continuidade delitiva, de acordo com o que dispõe o
artigo 71, do Código Penal.
Assim, aplico a pena de um dos crimes, posto que idênticas, que
corresponde a 02 (dois) anos de reclusão, acrescentando a pena em 1/3 (um terço)
percentual intermediário em razão da existência de três condutas, o que resulta na
pena definitiva de 02 (dois) anos e 08 (oito) meses de reclusão, a ser cumprida
em regime inicial aberto, de acordo com o disposto no artigo 33, parágrafo 2º, alínea
“c”, do Código Penal.
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Com fundamento no artigo 72, do Código Penal, as penas
pecuniárias aplicadas somam-se, o que resulta no total de 30 (trinta) dias-multa, no
valor unitário de 1/20 (um vigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos,
considerando-se, que o réu, como dito, tem situação econômica razoável, posto que,
além de contratar advogado, é Bacharel em Direito, o que lhe confere razoável
condição econômica.
Da substituição da pena privativa de liberdade por penas
restritivas de direitos
Estando preenchidos os requisitos legais, substituo a pena
privativa de liberdade por duas restritivas de direitos (art. 44, do Código Penal),
consistentes em:
1. Proibição de se ausentar da comarca sem a autorização Juízo;
2. Prestação de serviços à comunidade (artigo 43, inciso IV, do
Código Penal), que consiste na prestação de serviços em entidades assistenciais,
hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas
comunitários ou estatais, durante 07 (sete) horas semanais, pelo período da pena
(dois anos e oito meses), em local a ser indicado pelo Juízo da Execução.
Aplico, por fim, ao réu, sanção correspondente ao pagamento das
custas processuais, com fundamento no artigo 804, do Código de Processo Penal.
Resumidamente, conclui-se que:
Ao réu VINICIUS GABRIEL IANESKO, o qual é PRIMÁRIO, foi
aplicada pena privativa de liberdade de 02 (dois) anos e 08 (oito) meses de
reclusão, em regime aberto, substituída por restritivas de direitos, conforme
acima exposto, bem como pena pecuniária correspondente a 30 (trinta) dias-
multa, no valor unitário de 1/20 (um vigésimo) do salário mínimo
nacionalmente unificado à época dos fatos, atualizado monetariamente à
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época do efetivo pagamento. O réu foi condenado, ainda, ao pagamento das custas
processuais, a serem oportunamente calculadas em razão da prática do delito
definido no art. 317, caput, (por três vezes) c/c com o artigo 71, todos do Código
Penal.
O réu poderá apelar em liberdade desta decisão, eis que deste
modo respondeu ao processo, salientando-se que eventual segregação cautelar seria
incompatível com o regime fixado para o início do cumprimento da pena.
Certificado o trânsito em julgado:
a) Lance-se o nome do réu no rol dos culpados;
b) Expeça-se guia de recolhimento, remetendo-a à Vara de
Execuções Penais desta Comarca, com observância do disposto no
item 7.4.1.1 do Código de Normas da Corregedoria-Geral de
Justiça;
c) Comunique-se a condenação do réu ao Cartório Distribuidor, ao
Instituto de Identificação e à Delegacia de Polícia de origem, em
atenção ao disposto no item 6.15.1 do Código de Normas;
d) Expeça-se ofício à Justiça Eleitoral, para fins do disposto no art.
15, inciso III, da Constituição do Brasil;
e) Encaminhem-se os autos à contadoria judicial para o cálculo das
custas processuais e da multa aplicada, intimando-se, após, o
sentenciado para pagamento ou pedido de parcelamento no prazo
de dez dias, sob pena de execução;
f) Intimado o sentenciado e não satisfeitas as custas no prazo
consignado, encaminhe-se cópia da denúncia, desta sentença, das
certidões de trânsito em julgado, dos cálculos, da certidão de
intimação do réu e da certidão de não pagamento ao Conselho
Diretor do FUNJUS, para as providências cabíveis em relação à
execução das custas;
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g) Caso não efetuado o pagamento da multa, cumpram-se os itens
7.8.2.1 e 7.8.3 do Código de Normas da Corregedoria-Geral da
Justiça, encaminhando-se à Procuradoria-Geral da Fazenda
Estadual;
h) Cumpridas as diligências mencionadas, bem como procedidas às
comunicações e anotações necessárias, arquivem-se os autos, na
forma do item 6.28.1, do CN.
Cumpram-se, no que couber, as demais normas da Douta
Corregedoria-Geral da Justiça.
Publique-se.
Registre-se.
Intimem-se.
Guarapuava, 18 de setembro de 2012
Carmen Silvania Zolandeck Mondin
Juíza de Direito