poder judiciÁrio justiÇa do trabalho · após análise dos riscos ambientais possivelmente...

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO 3ª VARA DO TRABALHO DE ANÁPOLIS Rua Quatorze de Julho, 971, Setor Central, ANAPOLIS - GO - CEP: 75024-050 RTOrd - 0010286-56.2017.5.18.0053 AUTOR: ERNANE INACIO LOUREDO RÉU: JBS S/A SENTENÇA I - RELATÓRIO ERNANE INACIO LOUREDO, devidamente qualificado, ajuizou, em 14.03.2017, ação trabalhista em face de JBS S/A, também qualificada, alegando que foi admitido em 03.10.2013, para exercer a função de serrador, sendo dispensado sem justa causa em 17.03.2015. Após exposição fática e jurídica, requereu a gratuidade de justiça, a retificação da sua CTPS, a aplicação do artigo 523 do CPC e o pagamento dos seguintes títulos: verbas rescisórias, projeção do aviso prévio, multa do artigo 467 da CLT, multa do artigo 477 da CLT, reajustes salariais, prêmio-assiduidade, multa convencional, indenização substutiva do período de estabilidade, indenização por danos materiais, indenização por danos morais, intervalo para recuperação térmica, troca de uniforme, adicional de insalubridade e honorários advocatícios. Atribuiu à causa o valor de R$ 40.000,00. Juntou documentos. Aditamento à petição inicial às fls. 79/80. Rejeitada a conciliação, a reclamada apresentou contestação (fls. 124/140), na qual, com as cautelas de praxe, pugnou pela improcedência das pretensões. Juntou documentos. Expedida carta precatória, foi ouvida uma testemunha no juízo deprecado, a pedido da reclamada (fls. 307/308). Produzida prova pericial médica e técnica, com a juntada do laudo às fls. 314/355. https://pje.trt18.jus.br/primeirograu/VisualizaDocumento/Autenticado/d... 1 de 21 01/11/2017 11:19

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PODER JUDICIÁRIOJUSTIÇA DO TRABALHOTRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO3ª VARA DO TRABALHO DE ANÁPOLISRua Quatorze de Julho, 971, Setor Central, ANAPOLIS - GO - CEP:75024-050

RTOrd - 0010286-56.2017.5.18.0053AUTOR: ERNANE INACIO LOUREDORÉU: JBS S/A

SENTENÇA

I - RELATÓRIO

ERNANE INACIO LOUREDO, devidamente qualificado, ajuizou, em

14.03.2017, ação trabalhista em face de JBS S/A, também qualificada, alegando que foi

admitido em 03.10.2013, para exercer a função de serrador, sendo dispensado sem justa

causa em 17.03.2015. Após exposição fática e jurídica, requereu a gratuidade de justiça, a

retificação da sua CTPS, a aplicação do artigo 523 do CPC e o pagamento dos seguintes

títulos: verbas rescisórias, projeção do aviso prévio, multa do artigo 467 da CLT, multa do artigo

477 da CLT, reajustes salariais, prêmio-assiduidade, multa convencional, indenização

substutiva do período de estabilidade, indenização por danos materiais, indenização por danos

morais, intervalo para recuperação térmica, troca de uniforme, adicional de insalubridade e

honorários advocatícios. Atribuiu à causa o valor de R$ 40.000,00. Juntou documentos.

Aditamento à petição inicial às fls. 79/80.

Rejeitada a conciliação, a reclamada apresentou contestação (fls.

124/140), na qual, com as cautelas de praxe, pugnou pela improcedência das pretensões.

Juntou documentos.

Expedida carta precatória, foi ouvida uma testemunha no juízo

deprecado, a pedido da reclamada (fls. 307/308).

Produzida prova pericial médica e técnica, com a juntada do laudo

às fls. 314/355.

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Na audiência de instrução, foi colhido o depoimento do reclamante

e de uma testemunha convidada pelo autor.

Sem outras provas, encerrou-se a instrução processual.

Razões finais remissivas pelas partes.

Recusada a última proposta de conciliação.

É o relatório.

Decido.

II - FUNDAMENTAÇÃO

1. Verbas rescisórias. Projeção do aviso prévio. Retificação da

CTPS. Multa do artigo 467 da CLT. Multa do artigo 477 da CLT

Sustenta o autor que, dispensado sem justa causa em 17.03.2015,

conquanto acometido de doença do trabalho, conforme será analisado a neste decisum, a

reclamada não lhe pagou das seguintes verbas rescisórias: "saldo de salário; aviso prévio de

33 dias; décimo terceiro salário proporcional e indenizado; férias proporcionais e vencidas,

acrescidas de 1/3 CF, pela projeção do aviso prévio; multa de 40% sobre os recolhimentos

fundiários" (fl. 5).

Aduz, outrossim, que a empresa não projetou corretamente o aviso

prévio, o qual foi computado em 33 dias, uma vez que foi admitido em 03.10.2013,

pretendendo a correção do seu cômputo, bem como a retificação de sua CTPS (fl. 5).

Pois bem.

Volvendo os autos, observo que a demandada jungiu ao caderno

processual o TRCT homologado pelo sindicato da categoria (fls. 142/143), no qual consta

ressalva apenas quanto ao 13º salário de 2015, em razão da projeção do aviso prévio.

Entendo, desta forma, que a reclamada comprovou o acerto rescisório, motivo pelo qual julgo

improcedenteo pedido de pagamento das verbas rescisórias.

Prosseguindo, quanto ao aviso prévio indenizado, observo na

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CTPS que o obreiro foi contratado em 13.10.2013 (fl. 41). Como o contrato foi rompido em

17.03.2015, não há falar em incorreção no cômputo do aviso prévio, uma vez que a este são

acrescidos três dias por ano de trabalho, a partir do 1º ano. Logo, como o obreiro não

completou o segundo ano de serviço (o que ocorreria em 13.10.2015), o cálculo do aviso prévio

é realmente de 33 dias.

Sendo assim, não há falar em recálculo do aviso prévio, nem

retificação da CTPS, motivo pelo qual julgo improcedentes os pedidos.

Finalmente, ante à inexistência de verbas rescisórias

incontroversas, as quais, inclusive, foram recebidas pelo autor, conforme acima exposto, julgo

improcedente o pedido de pagamento da multa prevista no artigo 467, da CLT.

Quanto à multa do art. 477, da CLT, esta não deve incidir pelo fato

de a homologação do TRCT ocorrer após o prazo previsto no dispositivo (Súmula 20, TRT 18ª

Região), como no caso concreto. Sendo assim, comprovado pela reclamada o pagamento

tempestivo das verbas rescisórias, pela juntada do TRCT homologado pelo sindicato da

categoria, julgo improcedente.

Indefiro o requerimento de expedição de ofício ao MTE e ao MPT

(fl. 25), uma vez que a reclamada comprovou o pagamento dos haveres resilitórios.

2. Adicional de insalubridade. Intervalo para recuperação

térmica

Sustenta o autor que durante toda a contratualidade trabalhou

exposto ao agente insalubre frio, além de ruído e vibração excessivos, pretendendo o

pagamento do adicional de insalubridade, em grau máximo, com reflexos no pagamento de

demais verbas trabalhistas (fls. 16/17).

Pleiteou, também, o pagamento do intervalo para recuperação

térmica previsto no art. 253, da CLT, em razão do suposto labor em ambiente com

temperaturas abaixo dos limites de tolerância, com adicional de 50% e reflexos no pagamento

de demais verbas trabalhistas (fls. 13/14).

Examino.

Determinada a realização de perícia técnica especialmente para a

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casuística posta em debate, a perita nomeada dirigiu-se à fábrica da reclamada que possui as

mesmas condições de trabalho à época do contrato de emprego do reclamante, uma vez que o

estabelecimento em que ele laborou encontra-se inativo.

Após análise dos riscos ambientais possivelmente oferecidos,

constatou que o trabalhador não se expôs aos agentes insalubres discriminados na peça de

ingresso, senão veja:

"3.3. Levantamento das condições de trabalho

O local periciado foi o frigorífico JBS, unidade de Goiânia, uma vezque o local onde o Autor exercia suas atividades se encontradesativado.

Trata-se da sala de abate, galpão em alvenaria de cerca de 300metros², paredes de azulejo, piso em cimento polido, ventilação eiluminação mista. No seu interior está disposto uma esteirasuperior, onde os bovinos passam pendurados. O Autor se ativavaem uma plataforma elétrica que possui comando de subir e descer.Utiliza para seu trabalho, uma serra com comando elétricosuspensa por um balancim pneumático.

O Ruído medido variou de 67,9 a 85 dBA.

A temperatura em IBUTG foi estabilizada em 19,1ºC.

Não foi constatado contato com produtos químicos.

Não há contato com agentes biológicos, uma vez que osanimais já foram previamente selecionados para o abate porinspeção sanitária federal, SIF.

(...).

6.1.3. Considerações periciais quanto a Insalubridade

º O local periciado, conforme solicitação em ata de audiência foi noFrigorífico da JBS de Goiânia, sala de abate, onde foi realizada asavaliações qualitativas e quantitativas;

º Conforme as medições realizadas, não foi constatadomedidas que ferem a Legislação vigente;

º Quanto a presença de contaminação, não se verificou a presençade agentes químicos ou biológicos que se enquadram nas Normasvigentes;

º Portanto, o Autor não trabalhava em condições que confereminsalubridade, exceto por agente biológico, se pactuado emconvenção coletiva." (Fls. 317/326, negritei.)

Ao concluir, a perita reafirmou que "o autor não trabalhou em

condições de Insalubridade segundo a NR 15" (fl. 355). Embora o julgador não esteja adstrito

às conclusões periciais, sendo-lhe permitido formar sua convicção com demais elementos

contidos no caderno processual, não há dúvidas de que o afastamento do trabalho técnico

depende de incisiva motivação, o que não é o caso dos autos, uma vez que o autor não logrou

êxito em apresentar evidências capazes de infirmar a conclusão retro transcrita.

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Em face do exposto, acolho as conclusões do laudo pericial e,

consectariamente, julgo improcedente o pedido de adicional de insalubridade e reflexos.

Avançando, conforme o art. 253, da CLT, os empregados que

laboram no interior de câmaras frigoríficas ou que movimentam mercadorias do ambiente

quente ou normal para o frio (e vice-versa), devem repousar por 20 minutos, a cada 1h40 de

serviço.

Esse, inclusive, é o conteúdo da Súmula 438, do Col. TST, a

saber:

"SÚMULA 438. INTERVALO PARA RECUPERAÇÃO TÉRMICA DOEMPREGADO. AMBIENTE ARTIFICIALMENTE FRIO. HORASEXTRAS. ART. 253 DA CLT. APLICAÇÃO ANALÓGICA. Oempregado submetido a trabalho contínuo em ambienteartificialmente frio, nos termos do parágrafo único do art. 253 daCLT, ainda que não labore em câmara frigorífica, tem direito aointervalo intrajornada previsto no caput do art. 253 da CLT (Res.185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012)."

O parágrafo único do mesmo dispositivo, por sua vez, preconiza

que se considera artificialmente frio, o que for inferior, na primeira, segunda e terceira zonas

climáticas do mapa oficial do Ministério do Trabalho e Emprego, a 15º; na quarta zona, a 12º; e

na quinta, sexta e sétima zonas, a 10º C. Consoante o mapa oficial do IBGE, a região onde se

encontra a empregadora está situada na quarta zona climática, de modo que se considera

artificialmente frio o ambiente com temperatura inferior a 12º C.

Como visto no trecho acima transcrito do laudo pericial, a

temperatura média constatada foi 19,1º C (fl. 317), ficando evidenciado que o autor não

trabalhou exposto ao agente frio abaixo dos limites de tolerância (12º C), razão pela qual não

há falar em concessão do intervalo para recuperação térmica.

Julgo improcedente.

3. Tempo à disposição. Troca de uniforme

O autor alega que permanecia 30 minutos diariamente à

disposição da reclamada, sendo 15 minutos antes do início da jornada e 15 minutos após o

encerramento, em razão da troca de uniforme. Requer o pagamento do período a título de

horas extras, com reflexos no pagamento de demais verbas trabalhistas (fls. 15/16).

A empresa, por sua vez, defende-se no sentido de que o tempo

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destinado à referida atividade era de no máximo 5 minutos, pugnando pela improcedência do

pedido (fls. 127/128).

Pois bem.

O tempo despendido pelo empregado com atividades como a troca

de uniforme dentro das dependências da empresa configura tempo à disposição do

empregador, a teor do art. 4º da CLT, tendo em vista que tais atividades são imprescindíveis à

dinâmica empresarial, mormente no caso da reclamada, que deve observar normas sanitárias.

No caso dos autos, a prova oral produzida neste juízo e no juízo

deprecado divergem quanto à possibilidade de registrar o ponto antes ou após a troca de

uniforme. Veja:

"Que conhece o reclamante da Unidade de Anápolis; que trabalhoucom o reclamante entre 2013 e 2014, pelo que se lembra; que odepoente era técnico em segurança do trabalho e ele serrador; quetrabalhava praticamente no mesmo horário que o autor; (...); que naempresa o relógio de ponto ficava na porta do vestiário, sendo queera aleatório, ou seja, o empregado podia bater o ponto e trocarde roupa ou vice-versa; que na saída a troca de uniforme podeser feita antes ou do registro do ponto; que os uniformesencontravam-se nos vestiários, separados, quando o empregadochegava; (...)." (Depoimento do Sr. Cleurysson Bernardes, ouvidono juízo deprecado a pedido da reclamada, às fls. 307/308,destaquei.)

"que trabalhou na Reclamada de 2008 a 2012, sendo que depois de6 meses voltou a trabalhar na empresa, permanecendo até ocomeço de 2015, por volta de maio; que exercia a função defaqueiro; (...); que o depoente chegava na empresa às 5:30horas; que batia o ponto às 6 horas; que após chegar o depoentetomava café, depois trocava o uniforme e depois batia o ponto;que gastava aproximadamente 10 minutos para tomar café e 10minutos para trocar o uniforme; que não era permitido bater oponto antes da troca de uniforme; (...)." (Depoimento do Sr.Carlos Rodrigues de Moura, única testemunha ouvida a rogo doautor, à fl. 378, enfatizei.)

Inobstante as divergências verificadas entre os depoimentos, não

me pareceu crível a versão da testemunha Cleurysson, no sentido de que a ré confere a

faculdade de os empregados registrarem o ponto antes ou depois da troca de uniforme. Ora, é

evidente que nenhum empregado iria optar por trocar o uniforme antes de registrar o ponto, se

houvesse opção diversa.

Portanto, reputo fidedignas, no particular, as declarações da

testemunha Carlos e concluo que o cotidiano vivenciado pelos empregados era o de que

despendiam 10 minutos para trocar uniforme e outros 10 minutos para o café da manhã, antes

do início da jornada de trabalho; e mais 10 minutos para troca de roupa após o termino da

jornada de trabalho registrada nos cartões de ponto, motivo pelo qual reputo razoável o tempo

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de 30 minutos diários despendidos pelo empregado para se alimentar e dirigir-se ao vestiário

para a troca do uniforme.

O art. 58, § 1º, da CLT é expresso no sentido de permitir variações

de horário de no máximo 10 minutos diários. Ultrapassado esse limite, todo o tempo deve ser

remunerado como extraordinário, independentemente das atividades desenvolvidas pelos

trabalhadores, conforme a Súmula 366, do Col. TST, in verbis:

"CARTÃO DE PONTO. REGISTRO. HORAS EXTRAS. MINUTOSQUE ANTECEDEM E SUCEDEM A JORNADA DE TRABALHO(nova redação) - Res. 197/2015 - DEJT divulgado em 14, 15 e18.05.2015. Não serão descontadas nem computadas como jornadaextraordinária as variações de horário do registro de ponto nãoexcedentes de cinco minutos, observado o limite máximo de dezminutos diários. Se ultrapassado esse limite, será consideradacomo extra a totalidade do tempo que exceder a jornada normal,pois configurado tempo à disposição do empregador, nãoimportando as atividades desenvolvidas pelo empregado aolongo do tempo residual (troca de uniforme, lanche, higienepessoal, etc)."

Sendo assim, julgo procedente o pedido e condeno a reclamada

ao pagamento de 30 minutos extraordinários por dia de trabalho, a título de tempo à

disposição, com adicional de 50%, divisor 220, devendo ser observada a evolução salarial do

autor, os dias efetivamente trabalhados e base de cálculo na forma da Súmula 264 do TST.

Ante a habitualidade, defiro os reflexos em RSR, férias acrescidas

do terço constitucional, salários trezenos, aviso prévio e depósitos relativos ao FGTS,

acrescidos da indenização de 40%.

4. Acidente do trabalho. Doença ocupacional. Reintegração ao

emprego. Indenização substutiva. Limbo jurídico. Indenização por danos materiais.

Indenização por danos morais

Na peça de ingresso, o reclamante narrou que, no dia 02.04.2014,

sofreu infortúnio trabalhista que desencadeou o desenvolvimento de hérnia de disco, doença

incapacitante para o exercício de suas atividades, motivo pelo qual pleiteou a sua reintegração

ao emprego ou o pagamento da indenização substutiva do período de estabilidade provisória,

além de indenização por danos materiais e indenização por danos morais, sob o fundamento

principal de que a responsabilidade no caso é objetiva, alegando, subsidiariamente, culpa da

empresa.

Veja trecho pertinente do petitório exordial:

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"VI) DO ACIDENTE DE TRABALHO

O Reclamante laborava num abatedor de bovinos na função deserrador. Para isso, utilizava-se de uma máquina para serrar boique funcionava a base de ar comprimido e pesava em torno de 200(duzentos) quilos. Ainda, laborava em cima de uma plataformamóvel numa altura de 2 (dois) a 2,5 (dois vírgula cinco) metros dealtura.

No dia 02 de abril de 2014, o Reclamante sofreu um acidente detrabalho quando a máquina de serrar, que apresentava problemasfrequentemente, parou de funcionar (o ar comprimido que asustentava escapou). Dessa maneira, tendo em vista a ausência doar, a máquina apresentou a liquidez de seu peso sobre oReclamante que não tendo outra saída firmou a máquina com asduas mãos e a pressionou contra a beirada da plataforma para queesta não lhe causasse mal, ainda maior.

No dia do ocorrido, o Reclamante foi ao SUS do Município deAnápolis, onde recebeu atendimento pelo Dr. Rocine Tavares,CRM/GO 16685, que lhe deu um encaminhamento para umOrtopedista em razão da ocorrência de hérnia na lombar (L4 e L5)entre outros, como aduz a ficha de encaminhamento ora anexa.

Com isso, resta muito claro que o Reclamante sofreu acidente detrabalho típico no exercício de suas funções para a Reclamada, e,desta forma, é portador de estabilidade provisória com fulcro nosartigos 19 e 20 c/c artigo 118 da Lei 8.213/1991.

Todavia, tendo em vista o prazo de estabilidade provisória poracidente de trabalho ser de 12 (doze) meses após o retorno doempregado, essa estabilidade se findou em Janeiro de 2016, tendosido o Reclamante dispensado durante a estabilidade em Março de2015. Requer, pois, a reintegração ou indenização do períodoestabilitário.

(...).

Do contexto de toda a narrativa, emerge claro e insofismável que oReclamante se encontra impedido de conseguir nova colocação nomercado de trabalho, pois não tem mais condições de saúde paraexercer as atividades anteriormente realizadas e prover o própriosustento.

Dessa forma, requer a aplicação da responsabilidade objetiva doempregador, com fulcro no parágrafo único do artigo 927 do atualCódigo Civil e art. 2º caput da CLT, eis que o risco da atividadepertence exclusivamente à empregadora. E, pelo fato de o acidentede trabalho sofrido pelo Reclamante ter ocorrido no desempenho desuas atividades em favor da Reclamada deverá essa serresponsabilizada na modalidade objetiva.

Não obstante, caso Vossa Excelência não entenda assim, temosque a culpa da Reclamada resta configurada no presente caso, umavez que a Reclamada não forneceu o EPI correto para o labor doobreiro, expondo-o a condições inadequadas de trabalho,circunstância capital para a ocorrência do acidente de trabalho jánarrado no tópico próprio. Requer assim, subsidiariamente, aresponsabilização da Reclamada a suportar as indenizações que seperseguem também na modalidade subjetiva" (Fls. 7/10.)

Ao aditar a petição inicial (fls. 79/80), o obreiro pleiteou ainda o

pagamento dos salários desde o dia do afastamento até a rescisão contratual, alegando que

não percebeu nesse período benefício previdenciário, encontrando-se em "limbo jurídico".

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A empregadora, por sua vez, negou o infortúnio, dizendo que "não

teve nenhum acidente ocorrido com ele em 02.04.2014, mesmo porque, quando compareceu

ao médico, foi por problema de hérnia discal, que não relaciona com o trabalho e nem

tampouco com eventual acidente na empresa" (fl. 131).

Acrescentou que o autor "não fez juntada de nenhum documento

médico ou mesmo relatório, que conclua que o mesmo tenha sido acidentado nas

dependências da unidade inativa de Anápolis/GO" (fl. 131).

Em suma: o teor da defesa é no sentido de que a empresa "não

reconhece o acidente típico ocorrido com o reclamante em 02.04.2014, por inexistente" (fl.

131).

Passo à análise.

Inicialmente, entendo necessário averiguar se, de fato, o obreiro

sofreu o infortúnio trabalhista narrado na exordial, diante da negativa da empresa.

Ingressando na análise da prova oral, não me restam dúvidas de

que, inobstante a negativa empresarial, o autor se acidentou nas dependências da reclamada,

uma vez que a testemunha ouvida em juízo foi enfática no sentido de que o encarregado da

empresa lhe informou acerca do infortúnio trabalhista ocorrido com o reclamante. Veja:

"que trabalhou na Reclamada de 2008 a 2012, sendo que depois de6 meses voltou a trabalhar na empresa, permanecendo até ocomeço de 2015, por volta de maio; que exercia a função defaqueiro; que, quando o Reclamante foi admitido, o depoenterealizava a serragem de carcaças de boi, sendo que a referidafunção foi assumida pelo Reclamante e o depoente passou aexercer à função de faqueiro; que exercia a função de faqueiro emoutro local; que o Reclamante se acidentou no começo demarço de 2014; que o encarregado JÚNIOR falou para o depoenteque o Reclamante não estava aguentando mais serrar e que erapara assumir o lugar do Reclamante; que o depoente assumiu areferida função até o dia 14/7/2014, quando sofreu um acidente demoto; que depois do referido dia do acidente o Reclamante nãomais retornou à empresa; que, melhor esclarecendo, o depoentetrabalhava na mesma sala que o Reclamante, em torno de 40metros de distância, mas, como trabalhavam em círculos, não erapossível visualizar o posto de trabalho do Reclamante; que apenastomou ciência do acidente após ser informado peloencarregado JÚNIOR; (...)." (Depoimento do Sr. Carlos Rodriguesde Moura, única testemunha ouvida a rogo do autor, à fl. 378,negritei.)

Pois bem.

Consoante se extrai dos arts. 19 a 21 da Lei nº 8.213/91, a doença

profissional e o acidente-tipo são espécies do gênero acidente do trabalho. Este diz respeito ao

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infortúnio repentino e inesperado sofrido pelo trabalhador em razão do cumprimento das

obrigações derivadas do contrato de trabalho. A rigor, os efeitos danosos são percebidos de

imediato e o evento acidentário pode ser individualizado no espaço e no tempo.

Já a doença profissional é aquela desencadeada pelo exercício de

trabalho peculiar a determinada atividade e constante de relação elaborada pelo MTE (Lei nº

8.213/91, art. 20, I). Logo, tal espécie de patologia, também conhecida como tecnopatia ou

ergopatia, é causada, unicamente, pela natureza da própria atividade profissional

desempenhada pelo obreiro.

Ambas espécies provocam lesão corporal ou perturbação funcional

que acarretam a morte, a perda ou a redução, permanente ou temporária, da capacidade para

o trabalho.

Na espécie, destacam-se dois episódios: a descompressão da

mangueira que servia de suporte para a serra de cortar os bois, tendo o reclamante que

suportar o peso da ferramenta de trabalho, cerca de 200 kg (conforme laudo pericial, fl. 328), e

o diagnóstico de hérnia de disco.

O primeiro evento insere-se perfeitamente no conceito de acidente

de trabalho, mormente pelo fato de a função desempenhada pelo reclamante consistir no corte

das carcaças dos bois.

Quanto ao segundo evento, salientou a expert nomeada que a

patologia desenvolvida teve como fator contributivo o infortúnio ocorrido com o obreiro, senão

veja:

"6.2.2. Considerações periciais sobre o alegado acidente detrabalho

º Há uma divergência entre o relato da inicial e o do Autor emrelação as circunstâncias em que o acidente ocorreu. A inicialrelata que houve uma falha mecânica, já o Autor relatou que amangueira de ar comprimido enganchou na costela do boi, que eramuito grande e se soltou tendo que suporta o peso da serra;

º Indagado aos presentes nas diligências, é possível amangueira soltar e nesses casos o peso da serra é enorme,uma vez que ela pesa em torno de 200kg;

º O Autor é portador de Doença Degenerativa da Coluna Lombar,doença crônica de início lento e evolução insidiosa;

º Tem um histórico laboral de trabalhos pesados, inclusive emoutros frigoríficos;

º Por outro lado, uma sobrecarga do tipo que o Autor relatoupode agravar ou mesmo precipitar o aparecimento de umaHérnia;

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º Portanto, se houve o evento, ele é compatível com o quadroque o Autor apresentou, o que pode ser traduzido como umfator contributivo no agravamento da doença que já vinhaevoluindo naturalmente." (Fl. 328.)

Portanto, não há dúvidas quanto ao nexo de causalidade entre a

atividade laboral e a doença que acomete o obreiro, sendo mister reconhecer que o autor foi

acometido de doença do trabalho, em razão do infortúnio ocorrido.

4.1. Estabilidade provisória

O art. 118 da Lei n. 8.213/91 assegura ao segurado que sofreu

acidente de trabalho estabilidade provisória no emprego pelo período de doze meses após a

cessação do auxílio-doença acidentário.

Interpretando ao aludido preceito, o Col. TST, por meio da Súmula

378, item II, estabelece que são pressupostos para a concessão da estabilidade o afastamento

superior a quinze dias, com a percepção de auxílio-doença acidentário, salvo se constatada,

após a despedida, doença profissional que apresente nexo de causalidade com a execução do

contrato de trabalho.

O caso do reclamante se enquadra justamente na última hipótese

mencionada pela Corte Superior Trabalhista. Após a dispensa, constata-se doença com nexo

de causalidade com a execução do contrato de trabalho.

Contudo, não é possível a reintegração, seja porque já se esvaiu o

período de garantia de emprego, seja porque é de todo desaconselhável que o autor volte a

realizar a mesma atividade que ocasionou o agravamento da patologia.

Sendo assim, julgo procedente o pedido e condeno a empresa

ao pagamento da indenização equivalente ao período de estabilidade provisória no emprego,

incluindo os salários referentes aos 12 meses seguintes à rescisão contratual (17.03.2015 a

17.03.2016), incluindo férias acrescidas do terço constitucional, décimo terceiro salário,

depósitos relativos ao FGTS com a multa de 40%.

Como base de cálculo, deverá ser utilizado o último salário

recebido pelo autor (R$1.431,19, conforme TRCT à fl. 142).

4.2. Limbo jurídico

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No aditamento à petição inicial, o reclamante alegou que, por não

ter a reclamada emitido a CAT, não recebeu o benefício previdenciário, e, por estar afastado do

serviço, não recebeu também os salários, motivo pelo qual os pleiteou o pagamento destes,

até o dia da dispensa sem justa causa (fls. 79/80).

Analiso.

Primeiramente, ressalto que o acesso ao benefício previdenciário

foi negado porque o reclamante não possuía tempo de contribuição suficiente, conforme

entrevista pericial (fl. 318).

No entanto, é certo que se a empresa houvesse emitido CAT o

autor teria acesso ao benefício, pois o benefício acidentário dispensa carência (art. 26, II, da Lei

nº 8.213/91).

Assim, o afastamento do serviço, com o consequente

desprovimento de recursos financeiros, foi ocasionado em razão do labor prestado à

reclamada.

Nesse contexto, o empregador, detentor do poder diretivo da

atividade, bem como dos riscos do negócio, além de corresponsável pela garantia do mínimo

existencial para vida digna do ser humano, conforme a Constituição Federal de 1988 (art. 1º, III

e IV; art. 170), deve proporcionar a parcela salarial imprescindível à sobrevivência do

trabalhador.

Logo, indiscutível a obrigação empresarial de pagar o salário do

reclamante durante o período de afastamento por ordem médica (28.04.2014, conforme os

cartões de ponto à fl. 148 e seguintes, até a dispensa sem justa causa).

Sendo assim, julgo parcialmente procedente o pedido e

condeno a reclamada ao pagamento dos salários do autor no período de afastamento por

recomendação médica, até a rescisão contratual.

À míngua de outros parâmetros, deverá ser utilizado o salário de

R$1.431,19, conforme o TRCT à fl. 142.

Indevidos os demais benefícios postulados, porquanto não

especificados (fl. 81).

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4.3. Danos morais e materiais

Consoante acima expendido, foi demonstrado o nexo de

causalidade entre o agravamento da doença que acomete o trabalhador e o infortúnio ocorrido

em razão do labor em benefício da reclamada.

No tocante ao dano, a perita médica afirmou que o demandante

possui, atualmente, restrições laborais em razão da doença agravada, de forma parcial e

permanente, senão veja:

"7.1.2. Quesitos do Juízo sobre o alegado acidente

(...).

7º) Quais os membros do corpo do reclamante foram atingidos peloacidente do trabalho? O acidente deixou sequelas? Favorespecificá-las.

R - Coluna lombar. Sim, moderada na dinâmica do segmentolombar.

8º) Existe nexo causal entre o acidente e o trabalho prestado peloreclamante à reclamada?

R - Pela maneira que foi narrado pelo Autor, sim.

9º) Qual o grau de perda da capacidade de trabalho do reclamanteem decorrência do acidente do trabalho, se PARCIAL ETEMPORÁRIA, PARCIAL E PERMANENTE ou PERDA TOTAL? Sefor PARCIAL, se possível, favor especificar o percentual da perdade acordo com a tabela da SUSEP.

R - Parcial e permanente. 12,5%. 50% (repercussão moderada)do segmento lombar que é igual a 25%.

10) Pela resposta do quesito anterior, o reclamante podedesempenhar as mesmas funções da época do acidente ou quaisas funções ele pode desempenhar? Especifique as restriçõeslaborais.

R - Sim. Uma vez que a serra operando em condições normais nãoapresenta peso acima das suas possibilidades.

11) Há possibilidade de cura das lesões advindas do acidente dotrabalho e de recuperação da capacidade normal de trabalho doreclamante? Indique os meios?

R - Não, uma vez que resultou em sequela permanente pelafixação cirúrgica da vértebras." (Fls. 330/331, enfatizei.)

Como é cediço, a responsabilidade civil do empregador perante o

infortúnio sofrido pelo empregado é subjetiva (CRFB/1988, art. 7º, XXVIII). Assim, além do

dano e do nexo de causalidade (ou concausalidade), também é necessária a prova do dolo ou

da culpa patronal, sendo esse o caso dos autos, uma vez que a atividade desenvolvida, por si

só, não impunha riscos anormais à saúde obreira.

Ademais, o art. 157, II, da CLT, confere às empresas o dever de

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instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no

sentido de evitar acidentes de trabalho e doenças ocupacionais.

Outrossim, segundo o que consta dos autos, que a empresa não

agiu com a diligência necessária para impedir o infortúnio ocorrido com o autor, o qual agravou

sua patologia. Conforme o laudo pericial, "indagado aos presentes nas diligências, é possível

a mangueira soltar e nesses casos o peso da serra é enorme, uma vez que ela pesa em torno

de 200kg" (fl. 328, negritei), o que implica dizer que o equipamento utilizado não era o mais

adequado.

A única testemunha ouvida neste juízo, a qual exercia a mesma

função que o reclamante antes dele ser contratado, declarou que "já foi para o hospital em

uma ocasião que estava utilizando a serra e o balancinho do ar deu defeito" (fl. 378).

Disse, outrossim, que "o defeito mais comum era no balancinho do

ar (o qual balanceia o peso da serra)" (fl. 378), demonstrando que a empresa tinha plena

ciência dos riscos oferecidos aos empregados exercentes da função.

Ora, a empregadora, ao não providenciar equipamentos

adequados para o seguro desenvolvimento das atribuições obreiras, violou os dispositivos

citados acima, referentes à segurança e saúde no trabalho.

Sendo assim, delimitados o dano, o nexo de causalidade e

constatada a culpa patronal, a empresa deve ser responsabilizada pelos danos causados (arts.

186 e 927 do CC).

Quanto ao dano moral, não há necessidade de comprovação,

porquanto é presumido (in re ipsa). É evidente que o infortúnio sofrido pelo autor ultrapassa o

mero dissabor cotidiano.

Portanto, julgo parcialmente procedente o pedido de condeno a

reclamada ao pagamento de indenização no valor de R$10.000,00, quantia proporcional ao

dano (CC, art. 944), a par de não ensejar enriquecimento sem causa do autor, observar o grau

de culpa da reclamada e o caráter pedagógico da medida (CC, art. 953, parágrafo único).

Já os danos materiais são aqueles que atingem a esfera

patrimonial do ofendido, passível de quantificação financeira. Abrangem duas espécies: o dano

emergente, ligado ao que a vítima efetivamente já perdeu, e o lucro cessante, referente ao que

razoavelmente se deixa de lucrar (CC, art. 402).

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No tocante à pretensão de danos emergentes (fl. 11),

correspondente às despesas médicas necessárias ao tratamento, o reclamante não

apresentou aos autos nenhum comprovante de dispêndio dos valores discriminados na peça

de ingresso (R$300,00 mensais para medicamentos e R$1.500,00 mensais para consultas

médicas). Ademais, não há falar em responsabilidade da reclamada pelo custeio de tais

valores até o fim da convalescença. Julgo improcedente.

A pretensão subsidiária do autor de restabelecimento do plano de

saúde corporativo não possui previsão legal. Consectariamente, julgo improcedente o pedido

de reativação do aludido benefício.

Quanto à pretensão de consubstanciada no pedido de lucros

cessantes e pensionamento, o art. 950 do CC condiciona a percepção do referido título à

impossibilidade de o ofendido continuar exercendo o seu ofício ou profissão ou ter a sua

capacidade para o trabalho diminuída.

No particular, o laudo médico reconheceu a perda parcial e

permanente da capacidade laboral do autor, estimando a incapacidade total do autor em 25%,

conforme o trecho acima transcrito (fl. 330).

Tendo em vista que o infortúnio decorrente do trabalho em prol da

reclamada atuou como agravamento da doença, atribuo à empresa metade da

responsabilidade sobre tal grau de incapacitação.

Em face do exposto, julgo parcialmente procedente o pedido e

condeno a reclamada ao pagamento de pensão mensal correspondente a 12,5% do último

salário recebido pelo reclamante (R$1.431,19, fl. 4, conforme TRCT, fl. 142), com data de início

em 18.03.2016, isto é, a partir do dia seguinte ao término da estabilidade provisória, a título de

lucros cessantes, sem considerar os décimos terceiros salários, nos limites do pedido (fls. 10 e

28).

Para tanto, tendo em vista a idade do autor na data do término da

estabilidade convertida em indenização, 49 anos (nascido em 09.06.1966, fl. 36), e a

expectativa de vida média do homem brasileiro, 75 anos, considero razoável limitar a pensão

deferida acima ao período de 26 anos, a partir da data do término da estabilidade convertida

em indenização, 18.03.2016.

Ademais, determino que as parcelas sejam pagas de uma única

vez, consoante prevê o art. 950, parágrafo único, do Código Civil. No entanto, deverá ser

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adotado critério de cálculo prevalente neste Eg. Regional, qual seja, a utilização do "redutor"

de 0,75% por ano de expectativa de sobrevida do trabalhador (TRT18, RO -

0011357-85.2014.5.18.0122, Rel. Mario Sergio Bottazzo, 3ª Turma, 12.07.2016).

No caso, conforme mencionado acima, a expectativa de sobrevida

do reclamante ao tempo do acidente era de 26 anos, de modo que o "redutor" a ser aplicado é

de 19,5%.

Logo, multiplicando o percentual de redução de capacidade

laboral do autor (12,5%) pelo valor do seu último salário (R$1.431,19) e multiplicando o

resultado pelo tempo de expectativa de sobrevida (26 anos, que equivalem a 312 meses, sem

a inclusão dos décimos terceiros salários) e aplicando o "redutor" mencionado, conclui-se que

a reclamada deve pagar ao autor o valor de R$ 44,932,21 (quarenta e quatro mil, novecentos e

trinta e dois reais e vinte e um centavos), em uma só parcela.

Reforça o entendimento acima, referente a necessidade de ser

aplicado o redutor em caso de deferimento de pensão em parcela única, a atual jurisprudência

do col. TST. É o que se observa no Informativo de Jurisprudência do TST n. 134 (período de 26

de abril a 2 de maio de 2016). Transcrevo abaixo:

"Doença ocupacional. Indenização. Pensão mensal vitalícia.Pagamento em parcela única. Art.950 do CC. A pensão mensalvitalícia correspondente à indenização por danos materiais, relativaà doença ocupacional que resultou na perda da capacidade para otrabalho, poderá ser convertida em parcela única. A importânciadevida, no entanto, não deve equivaler à somatória dos valores daspensões mensais a que teria direito o trabalhador, de modo a nãoocasionar o seu enriquecimento sem causa. Também não pode serarbitrada em valor que onere indevidamente o devedor, que terá dedispor de quantia pecuniária vultosa de uma só vez. Oquantumdevido ao empregado, portanto, deverá corresponderàquele que, uma vez aplicado financeiramente, lhe renda por mêsvalores aproximados ao da pensão mensal devida, de acordo com odisposto no art. 950 do CC. Sob esses fundamentos, a SBDI-I, porunanimidade, conheceu dos embargos, por divergênciajurisprudencial e, no mérito, deu-lhes provimento para fixar em R$83.000,00, o valor da indenização por dano material, em parcelaúnica." (TST-E-ED-RR-2230-18.2011.5.02.0432, SBDI-I, Rel. Min.Aloysio Corrêa da Veiga, 28.4.2016.)

5. Reajustes salariais. Prêmio-assiduidade. Fornecimento de

EPI. Emissão de CAT. Multa convencional

Na peça de ingresso, o reclamante apresentou pretensões

baseadas na CCT da categoria, requerendo que a empresa comprovasse: a) o pagamento dos

reajustes salariais de 2014 e 2015, previstos na Cláusula 3ª da CCT; b) o pagamento do

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prêmio-assiduidade, previsto na Cláusula 7ª da CCT; c) o fornecimento de EPI, conforme

Cláusula 20ª da CCT; d) a emissão da CAT, conforme Cláusula 22ª da CCT, sob pena de

incorrer na penalidade inserta na Cláusula 28ª da CCT (fls. 6/7).

Ao exame.

De início, ressalto o esforço interpretativo dos aludidos pleitos

referentes aos reajustes salariais e prêmio assiduidade, uma vez que não apresentam

nenhuma causa de pedir, ainda que observado o conjunto das pretensões apresentadas na

peça de ingresso, conforme o teor do art. 322, §2º, do CPC. Todavia, em homenagem ao

princípio da primazia do julgamento do mérito, preferível não declarar a inépcia da inicial.

Pois bem.

Notificada, a reclamada apresentou ao caderno processual as

fichas financeiras do reclamante (fls. 156/163), não demonstrando o autor, na impugnação à

defesa (fl. 253 e seguintes), mesmo por amostragem, a incorreção nos valores pagos a título

de reajustes salariais e prêmio assiduidade.

Quanto aos EPIs, o laudo pericial produzido foi claro no sentido de

que a reclamada fornecia os equipamentos securitários necessários, conforme documentação

carreadas aos autos, senão veja:

"7. Quesitos

7.1. Quesitos do Juízo

7.1.1. Quesitos do Juízo de Insalubridade

(...).

4º) A reclamada fornecia EPIs ao reclamante e quais são essesEPIs? A reclamada substituía regularmente os EPIs desgastados?Como foi feita a comprovação da entrega e da substituição dosEPIs?

R - Sim.

º Uniforme

º Bota PVC

º Cinto de segurança

º Luvas Anti-corte (par)

º Luvas Látex

º Luvas algodão

º Protetor auricular

º Cinta lombar (20 dias antes do acidente relatado)

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º Capacete.

Sim. Consta na Ficha de Entrega de EPI's alguns desses e osoutros

foram relato do próprio Autor.

5º) Os EPIs fornecidos pela reclamada eram suficientes paraeliminar ou neutralizar a insalubridade?

R - Sim." (Fls. 328/329.)

No que pertine à emissão da CAT, a própria controvérsia instalada,

quanto à ocorrência do infortúnio trabalhista, elide a obrigatoriedade da empresa em cumprir o

encargo.

Pelo exposto, como a reclamada não descumpriu nenhuma das

cláusulas da CCT da categoria, julgo improcedente o pedido de pagamento da multa

convencional.

6. Dedução

Autorizo a dedução dos valores pagos a idêntico título e

fundamento, de modo a evitar o enriquecimento sem causa, desde que comprovados durante

a fase de conhecimento.

7. Justiça Gratuita

Firmada declaração de pobreza (fl. 34), consoante o art. 790, §3º,

da CLT, defiro a gratuidade da justiça ao reclamante.

8. Honorários advocatícios

Na seara trabalhista, o direito aos honorários advocatícios não

deriva da simples sucumbência, consoante disciplina o art. 14 da Lei nº 5.584/1970 e orientam

as Súmulas 219 e 329 do Col. TST. Ademais, não há, no processo juslaboral, omissão que

autorize a aplicação subsidiária da lei civil (CLT, arts. 8º e 769).

Indefiro.

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9. Honorários periciais

Considerando a complexidade da prova, o grau de zelo da

profissional e o tempo despendido, arbitro honorários periciais em R$ 500,00 para a perícia

técnica e R$ 2.000,00 para a perícia médica, a cargo do reclamante e da reclamada,

respectivamente, sucumbentes nas correspondentes pretensões objeto das perícias (CLT, art.

790-B).

Fica autorizada a dedução de R$ 1.000,00, antecipados pela ré (fl.

249).

Tendo em vista que ao reclamante foram concedidos os benefícios

da justiça gratuita, expeça-se, após o trânsito em julgador, Requisição de Pagamento de

Honorários Periciais (RPHP), a serem suportados pela União.

10. Aplicação do artigo 523, CPC

Sem delongas, incabível a aplicação da multa de 10% prevista no

artigo 523, do CPC, uma vez que a execução trabalhista segue rito próprio, conforme art. 880 e

seguintes, da CLT.

Nesse sentido a tese firmada em Incidente de Recursos de

Revistas Repetitivos, de caráter vinculante, no recém inaugurado sistema de procedentes

judiciais, in verbis:

"Tema nº 0004 - Multa do art. 523, § 1º, do CPC de 2015 (art. 475-Jdo CPC de 1973). Compatibilidade com o processo do trabalho. OTribunal Pleno, por maioria, definiu a seguinte tese jurídica para oTema Repetitivo nº 0004 - MULTA DO ART. 523, § 1º, DO CPC DE2015 (ART. 475-J DO CPC DE 1973). COMPATIBILIDADE COM OPROCESSO DO TRABALHO: a multa coercitiva do art. 523, § 1º,do CPC de 2015 (art. 475-J do CPC de 1973) não é compatívelcom as normas vigentes da CLT por que se rege o processo detrabalho, ao qual não se aplica. (...). TST-IRR-1786-24.2015.5.04.0000, Tribunal Pleno, rel. Min. Mauricio GodinhoDelgado, red. p/ acórdão Min. João Oreste Dalazen, 21.8.2017."

Indefiro.

II - DISPOSITIVO

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Ante o exposto, na ação trabalhista proposta por ERNANE INACIO

LOUREDO em face de JBS S/A, decido: deferir a gratuidade da justiça ao autor e julgar

PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos para condenar a reclamada ao pagamento dos

seguintes títulos: tempo à disposição; indenização equivalente ao período de estabilidade

provisória no emprego; salários do período de afastamento por recomendação médica, até a

rescisão contratual; indenização por danos morais; e indenização por danos materiais (lucros

cessantes); tudo a ser apurado em regular liquidação de sentença, por cálculos, observados

os parâmetros da fundamentação.

Correção monetária a partir do vencimento da obrigação (art. 459,

§ 1º, da CLT e Súmula 381 do TST). Juros de mora de 1% ao mês, desde o ajuizamento, não

capitalizados, pro rata die (arts. 883 da CLT e 39, § 1º, da Lei n. 8.177/98 e Súmula 200 do

TST). Quanto à indenização por danos morais, observe-se o disposto na Súmula 439 do Col.

TST.

Natureza jurídica das parcelas conforme o art. 28, § 9º, da Lei n.

8.212/91.

Deverá ser deduzido o INSS, onde cabível, e a reclamada deverá

recolher as contribuições previdenciárias, no prazo legal, e comprovar nos autos através de

GPS (código 2909) e GFIP (código 650), com o protocolo de envio da chave de conectividade,

sob pena de execução ex officio, exceto as contribuições para terceiros (SENAI e SESI,

SENAC e SESC, SENAT e SEST, SEBRAE, SENAR e SESCOOP), nos termos dos arts. 114,

VIII, da CF/88, 876, parágrafo único, da CLT e das Súmulas 368 do TST e 64 da AGU, e

expedição de ofício à Receita Federal para fins cobrança das multas previstas nos arts. 32-A

da Lei n. 8.212/1991 e 284, I, do Decreto n. 3.048/1999 e para inclusão da empresa no

cadastro positivo, obstando a emissão de CND, nos termos do art. 177 do PGC da TRT da 18ª

Região. Frise-se que o recolhimento das contribuições previdenciárias tem importância social

para custeio dos benefícios previdenciários concedidos pelo Governo Federal e a reclamada

poderá requerer o seu parcelamento junto à Receita Federal.

Autoriza-se a retenção na fonte do imposto de renda devido pelo

reclamante, a ser calculado mês a mês (regime de competência), nos moldes do art. 12-A da

Lei n. 7.713/1988 e da IN n. 1.127/2011. Não haverá tributação de imposto de renda sobre

juros de mora (OJ 400 da SBDI-1/TST).

Após o trânsito em julgado, a reclamada deverá ser intimada na

pessoa de seu advogado, via Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho (DEJT), ou, na falta de

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causídico, diretamente por mandado, para, no prazo de 5 dias, pagar ou garantir a execução,

sob pena de prosseguimento dos atos executórios.

Custas pelo reclamada, no importe de R$ 1.400,00, calculadas

sobre R$ 70.000,00, valor provisoriamente arbitrado à condenação (CLT, art. 789).

Honorários periciais médicos, no importe de R$ 2.000,00, a cargo

da reclamada, sucumbente no objeto da perícia, ficando autorizada a dedução da antecipação

realizada.

Honorários da perícia técnica, no importe de R$ 500,00, a cargo do

reclamante, sucumbente no objeto da perícia, das quais fica isento, na forma da lei. Após o

trânsito em julgado, requisite-se o pagamento dos honorários periciais, a serem suportados

pela União.

Intimem-se.

ANAPOLIS, 29 de Outubro de 2017

VIVIANE PEREIRA DE FREITASJuiz do Trabalho Substituto

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a:[VIVIANE PEREIRA DE FREITAS]

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17102912234315200000022382985

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