poder judiciÁrio justiÇa do trabalho · após análise dos riscos ambientais possivelmente...
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PODER JUDICIÁRIOJUSTIÇA DO TRABALHOTRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO3ª VARA DO TRABALHO DE ANÁPOLISRua Quatorze de Julho, 971, Setor Central, ANAPOLIS - GO - CEP:75024-050
RTOrd - 0010286-56.2017.5.18.0053AUTOR: ERNANE INACIO LOUREDORÉU: JBS S/A
SENTENÇA
I - RELATÓRIO
ERNANE INACIO LOUREDO, devidamente qualificado, ajuizou, em
14.03.2017, ação trabalhista em face de JBS S/A, também qualificada, alegando que foi
admitido em 03.10.2013, para exercer a função de serrador, sendo dispensado sem justa
causa em 17.03.2015. Após exposição fática e jurídica, requereu a gratuidade de justiça, a
retificação da sua CTPS, a aplicação do artigo 523 do CPC e o pagamento dos seguintes
títulos: verbas rescisórias, projeção do aviso prévio, multa do artigo 467 da CLT, multa do artigo
477 da CLT, reajustes salariais, prêmio-assiduidade, multa convencional, indenização
substutiva do período de estabilidade, indenização por danos materiais, indenização por danos
morais, intervalo para recuperação térmica, troca de uniforme, adicional de insalubridade e
honorários advocatícios. Atribuiu à causa o valor de R$ 40.000,00. Juntou documentos.
Aditamento à petição inicial às fls. 79/80.
Rejeitada a conciliação, a reclamada apresentou contestação (fls.
124/140), na qual, com as cautelas de praxe, pugnou pela improcedência das pretensões.
Juntou documentos.
Expedida carta precatória, foi ouvida uma testemunha no juízo
deprecado, a pedido da reclamada (fls. 307/308).
Produzida prova pericial médica e técnica, com a juntada do laudo
às fls. 314/355.
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Na audiência de instrução, foi colhido o depoimento do reclamante
e de uma testemunha convidada pelo autor.
Sem outras provas, encerrou-se a instrução processual.
Razões finais remissivas pelas partes.
Recusada a última proposta de conciliação.
É o relatório.
Decido.
II - FUNDAMENTAÇÃO
1. Verbas rescisórias. Projeção do aviso prévio. Retificação da
CTPS. Multa do artigo 467 da CLT. Multa do artigo 477 da CLT
Sustenta o autor que, dispensado sem justa causa em 17.03.2015,
conquanto acometido de doença do trabalho, conforme será analisado a neste decisum, a
reclamada não lhe pagou das seguintes verbas rescisórias: "saldo de salário; aviso prévio de
33 dias; décimo terceiro salário proporcional e indenizado; férias proporcionais e vencidas,
acrescidas de 1/3 CF, pela projeção do aviso prévio; multa de 40% sobre os recolhimentos
fundiários" (fl. 5).
Aduz, outrossim, que a empresa não projetou corretamente o aviso
prévio, o qual foi computado em 33 dias, uma vez que foi admitido em 03.10.2013,
pretendendo a correção do seu cômputo, bem como a retificação de sua CTPS (fl. 5).
Pois bem.
Volvendo os autos, observo que a demandada jungiu ao caderno
processual o TRCT homologado pelo sindicato da categoria (fls. 142/143), no qual consta
ressalva apenas quanto ao 13º salário de 2015, em razão da projeção do aviso prévio.
Entendo, desta forma, que a reclamada comprovou o acerto rescisório, motivo pelo qual julgo
improcedenteo pedido de pagamento das verbas rescisórias.
Prosseguindo, quanto ao aviso prévio indenizado, observo na
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CTPS que o obreiro foi contratado em 13.10.2013 (fl. 41). Como o contrato foi rompido em
17.03.2015, não há falar em incorreção no cômputo do aviso prévio, uma vez que a este são
acrescidos três dias por ano de trabalho, a partir do 1º ano. Logo, como o obreiro não
completou o segundo ano de serviço (o que ocorreria em 13.10.2015), o cálculo do aviso prévio
é realmente de 33 dias.
Sendo assim, não há falar em recálculo do aviso prévio, nem
retificação da CTPS, motivo pelo qual julgo improcedentes os pedidos.
Finalmente, ante à inexistência de verbas rescisórias
incontroversas, as quais, inclusive, foram recebidas pelo autor, conforme acima exposto, julgo
improcedente o pedido de pagamento da multa prevista no artigo 467, da CLT.
Quanto à multa do art. 477, da CLT, esta não deve incidir pelo fato
de a homologação do TRCT ocorrer após o prazo previsto no dispositivo (Súmula 20, TRT 18ª
Região), como no caso concreto. Sendo assim, comprovado pela reclamada o pagamento
tempestivo das verbas rescisórias, pela juntada do TRCT homologado pelo sindicato da
categoria, julgo improcedente.
Indefiro o requerimento de expedição de ofício ao MTE e ao MPT
(fl. 25), uma vez que a reclamada comprovou o pagamento dos haveres resilitórios.
2. Adicional de insalubridade. Intervalo para recuperação
térmica
Sustenta o autor que durante toda a contratualidade trabalhou
exposto ao agente insalubre frio, além de ruído e vibração excessivos, pretendendo o
pagamento do adicional de insalubridade, em grau máximo, com reflexos no pagamento de
demais verbas trabalhistas (fls. 16/17).
Pleiteou, também, o pagamento do intervalo para recuperação
térmica previsto no art. 253, da CLT, em razão do suposto labor em ambiente com
temperaturas abaixo dos limites de tolerância, com adicional de 50% e reflexos no pagamento
de demais verbas trabalhistas (fls. 13/14).
Examino.
Determinada a realização de perícia técnica especialmente para a
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casuística posta em debate, a perita nomeada dirigiu-se à fábrica da reclamada que possui as
mesmas condições de trabalho à época do contrato de emprego do reclamante, uma vez que o
estabelecimento em que ele laborou encontra-se inativo.
Após análise dos riscos ambientais possivelmente oferecidos,
constatou que o trabalhador não se expôs aos agentes insalubres discriminados na peça de
ingresso, senão veja:
"3.3. Levantamento das condições de trabalho
O local periciado foi o frigorífico JBS, unidade de Goiânia, uma vezque o local onde o Autor exercia suas atividades se encontradesativado.
Trata-se da sala de abate, galpão em alvenaria de cerca de 300metros², paredes de azulejo, piso em cimento polido, ventilação eiluminação mista. No seu interior está disposto uma esteirasuperior, onde os bovinos passam pendurados. O Autor se ativavaem uma plataforma elétrica que possui comando de subir e descer.Utiliza para seu trabalho, uma serra com comando elétricosuspensa por um balancim pneumático.
O Ruído medido variou de 67,9 a 85 dBA.
A temperatura em IBUTG foi estabilizada em 19,1ºC.
Não foi constatado contato com produtos químicos.
Não há contato com agentes biológicos, uma vez que osanimais já foram previamente selecionados para o abate porinspeção sanitária federal, SIF.
(...).
6.1.3. Considerações periciais quanto a Insalubridade
º O local periciado, conforme solicitação em ata de audiência foi noFrigorífico da JBS de Goiânia, sala de abate, onde foi realizada asavaliações qualitativas e quantitativas;
º Conforme as medições realizadas, não foi constatadomedidas que ferem a Legislação vigente;
º Quanto a presença de contaminação, não se verificou a presençade agentes químicos ou biológicos que se enquadram nas Normasvigentes;
º Portanto, o Autor não trabalhava em condições que confereminsalubridade, exceto por agente biológico, se pactuado emconvenção coletiva." (Fls. 317/326, negritei.)
Ao concluir, a perita reafirmou que "o autor não trabalhou em
condições de Insalubridade segundo a NR 15" (fl. 355). Embora o julgador não esteja adstrito
às conclusões periciais, sendo-lhe permitido formar sua convicção com demais elementos
contidos no caderno processual, não há dúvidas de que o afastamento do trabalho técnico
depende de incisiva motivação, o que não é o caso dos autos, uma vez que o autor não logrou
êxito em apresentar evidências capazes de infirmar a conclusão retro transcrita.
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Em face do exposto, acolho as conclusões do laudo pericial e,
consectariamente, julgo improcedente o pedido de adicional de insalubridade e reflexos.
Avançando, conforme o art. 253, da CLT, os empregados que
laboram no interior de câmaras frigoríficas ou que movimentam mercadorias do ambiente
quente ou normal para o frio (e vice-versa), devem repousar por 20 minutos, a cada 1h40 de
serviço.
Esse, inclusive, é o conteúdo da Súmula 438, do Col. TST, a
saber:
"SÚMULA 438. INTERVALO PARA RECUPERAÇÃO TÉRMICA DOEMPREGADO. AMBIENTE ARTIFICIALMENTE FRIO. HORASEXTRAS. ART. 253 DA CLT. APLICAÇÃO ANALÓGICA. Oempregado submetido a trabalho contínuo em ambienteartificialmente frio, nos termos do parágrafo único do art. 253 daCLT, ainda que não labore em câmara frigorífica, tem direito aointervalo intrajornada previsto no caput do art. 253 da CLT (Res.185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012)."
O parágrafo único do mesmo dispositivo, por sua vez, preconiza
que se considera artificialmente frio, o que for inferior, na primeira, segunda e terceira zonas
climáticas do mapa oficial do Ministério do Trabalho e Emprego, a 15º; na quarta zona, a 12º; e
na quinta, sexta e sétima zonas, a 10º C. Consoante o mapa oficial do IBGE, a região onde se
encontra a empregadora está situada na quarta zona climática, de modo que se considera
artificialmente frio o ambiente com temperatura inferior a 12º C.
Como visto no trecho acima transcrito do laudo pericial, a
temperatura média constatada foi 19,1º C (fl. 317), ficando evidenciado que o autor não
trabalhou exposto ao agente frio abaixo dos limites de tolerância (12º C), razão pela qual não
há falar em concessão do intervalo para recuperação térmica.
Julgo improcedente.
3. Tempo à disposição. Troca de uniforme
O autor alega que permanecia 30 minutos diariamente à
disposição da reclamada, sendo 15 minutos antes do início da jornada e 15 minutos após o
encerramento, em razão da troca de uniforme. Requer o pagamento do período a título de
horas extras, com reflexos no pagamento de demais verbas trabalhistas (fls. 15/16).
A empresa, por sua vez, defende-se no sentido de que o tempo
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destinado à referida atividade era de no máximo 5 minutos, pugnando pela improcedência do
pedido (fls. 127/128).
Pois bem.
O tempo despendido pelo empregado com atividades como a troca
de uniforme dentro das dependências da empresa configura tempo à disposição do
empregador, a teor do art. 4º da CLT, tendo em vista que tais atividades são imprescindíveis à
dinâmica empresarial, mormente no caso da reclamada, que deve observar normas sanitárias.
No caso dos autos, a prova oral produzida neste juízo e no juízo
deprecado divergem quanto à possibilidade de registrar o ponto antes ou após a troca de
uniforme. Veja:
"Que conhece o reclamante da Unidade de Anápolis; que trabalhoucom o reclamante entre 2013 e 2014, pelo que se lembra; que odepoente era técnico em segurança do trabalho e ele serrador; quetrabalhava praticamente no mesmo horário que o autor; (...); que naempresa o relógio de ponto ficava na porta do vestiário, sendo queera aleatório, ou seja, o empregado podia bater o ponto e trocarde roupa ou vice-versa; que na saída a troca de uniforme podeser feita antes ou do registro do ponto; que os uniformesencontravam-se nos vestiários, separados, quando o empregadochegava; (...)." (Depoimento do Sr. Cleurysson Bernardes, ouvidono juízo deprecado a pedido da reclamada, às fls. 307/308,destaquei.)
"que trabalhou na Reclamada de 2008 a 2012, sendo que depois de6 meses voltou a trabalhar na empresa, permanecendo até ocomeço de 2015, por volta de maio; que exercia a função defaqueiro; (...); que o depoente chegava na empresa às 5:30horas; que batia o ponto às 6 horas; que após chegar o depoentetomava café, depois trocava o uniforme e depois batia o ponto;que gastava aproximadamente 10 minutos para tomar café e 10minutos para trocar o uniforme; que não era permitido bater oponto antes da troca de uniforme; (...)." (Depoimento do Sr.Carlos Rodrigues de Moura, única testemunha ouvida a rogo doautor, à fl. 378, enfatizei.)
Inobstante as divergências verificadas entre os depoimentos, não
me pareceu crível a versão da testemunha Cleurysson, no sentido de que a ré confere a
faculdade de os empregados registrarem o ponto antes ou depois da troca de uniforme. Ora, é
evidente que nenhum empregado iria optar por trocar o uniforme antes de registrar o ponto, se
houvesse opção diversa.
Portanto, reputo fidedignas, no particular, as declarações da
testemunha Carlos e concluo que o cotidiano vivenciado pelos empregados era o de que
despendiam 10 minutos para trocar uniforme e outros 10 minutos para o café da manhã, antes
do início da jornada de trabalho; e mais 10 minutos para troca de roupa após o termino da
jornada de trabalho registrada nos cartões de ponto, motivo pelo qual reputo razoável o tempo
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de 30 minutos diários despendidos pelo empregado para se alimentar e dirigir-se ao vestiário
para a troca do uniforme.
O art. 58, § 1º, da CLT é expresso no sentido de permitir variações
de horário de no máximo 10 minutos diários. Ultrapassado esse limite, todo o tempo deve ser
remunerado como extraordinário, independentemente das atividades desenvolvidas pelos
trabalhadores, conforme a Súmula 366, do Col. TST, in verbis:
"CARTÃO DE PONTO. REGISTRO. HORAS EXTRAS. MINUTOSQUE ANTECEDEM E SUCEDEM A JORNADA DE TRABALHO(nova redação) - Res. 197/2015 - DEJT divulgado em 14, 15 e18.05.2015. Não serão descontadas nem computadas como jornadaextraordinária as variações de horário do registro de ponto nãoexcedentes de cinco minutos, observado o limite máximo de dezminutos diários. Se ultrapassado esse limite, será consideradacomo extra a totalidade do tempo que exceder a jornada normal,pois configurado tempo à disposição do empregador, nãoimportando as atividades desenvolvidas pelo empregado aolongo do tempo residual (troca de uniforme, lanche, higienepessoal, etc)."
Sendo assim, julgo procedente o pedido e condeno a reclamada
ao pagamento de 30 minutos extraordinários por dia de trabalho, a título de tempo à
disposição, com adicional de 50%, divisor 220, devendo ser observada a evolução salarial do
autor, os dias efetivamente trabalhados e base de cálculo na forma da Súmula 264 do TST.
Ante a habitualidade, defiro os reflexos em RSR, férias acrescidas
do terço constitucional, salários trezenos, aviso prévio e depósitos relativos ao FGTS,
acrescidos da indenização de 40%.
4. Acidente do trabalho. Doença ocupacional. Reintegração ao
emprego. Indenização substutiva. Limbo jurídico. Indenização por danos materiais.
Indenização por danos morais
Na peça de ingresso, o reclamante narrou que, no dia 02.04.2014,
sofreu infortúnio trabalhista que desencadeou o desenvolvimento de hérnia de disco, doença
incapacitante para o exercício de suas atividades, motivo pelo qual pleiteou a sua reintegração
ao emprego ou o pagamento da indenização substutiva do período de estabilidade provisória,
além de indenização por danos materiais e indenização por danos morais, sob o fundamento
principal de que a responsabilidade no caso é objetiva, alegando, subsidiariamente, culpa da
empresa.
Veja trecho pertinente do petitório exordial:
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"VI) DO ACIDENTE DE TRABALHO
O Reclamante laborava num abatedor de bovinos na função deserrador. Para isso, utilizava-se de uma máquina para serrar boique funcionava a base de ar comprimido e pesava em torno de 200(duzentos) quilos. Ainda, laborava em cima de uma plataformamóvel numa altura de 2 (dois) a 2,5 (dois vírgula cinco) metros dealtura.
No dia 02 de abril de 2014, o Reclamante sofreu um acidente detrabalho quando a máquina de serrar, que apresentava problemasfrequentemente, parou de funcionar (o ar comprimido que asustentava escapou). Dessa maneira, tendo em vista a ausência doar, a máquina apresentou a liquidez de seu peso sobre oReclamante que não tendo outra saída firmou a máquina com asduas mãos e a pressionou contra a beirada da plataforma para queesta não lhe causasse mal, ainda maior.
No dia do ocorrido, o Reclamante foi ao SUS do Município deAnápolis, onde recebeu atendimento pelo Dr. Rocine Tavares,CRM/GO 16685, que lhe deu um encaminhamento para umOrtopedista em razão da ocorrência de hérnia na lombar (L4 e L5)entre outros, como aduz a ficha de encaminhamento ora anexa.
Com isso, resta muito claro que o Reclamante sofreu acidente detrabalho típico no exercício de suas funções para a Reclamada, e,desta forma, é portador de estabilidade provisória com fulcro nosartigos 19 e 20 c/c artigo 118 da Lei 8.213/1991.
Todavia, tendo em vista o prazo de estabilidade provisória poracidente de trabalho ser de 12 (doze) meses após o retorno doempregado, essa estabilidade se findou em Janeiro de 2016, tendosido o Reclamante dispensado durante a estabilidade em Março de2015. Requer, pois, a reintegração ou indenização do períodoestabilitário.
(...).
Do contexto de toda a narrativa, emerge claro e insofismável que oReclamante se encontra impedido de conseguir nova colocação nomercado de trabalho, pois não tem mais condições de saúde paraexercer as atividades anteriormente realizadas e prover o própriosustento.
Dessa forma, requer a aplicação da responsabilidade objetiva doempregador, com fulcro no parágrafo único do artigo 927 do atualCódigo Civil e art. 2º caput da CLT, eis que o risco da atividadepertence exclusivamente à empregadora. E, pelo fato de o acidentede trabalho sofrido pelo Reclamante ter ocorrido no desempenho desuas atividades em favor da Reclamada deverá essa serresponsabilizada na modalidade objetiva.
Não obstante, caso Vossa Excelência não entenda assim, temosque a culpa da Reclamada resta configurada no presente caso, umavez que a Reclamada não forneceu o EPI correto para o labor doobreiro, expondo-o a condições inadequadas de trabalho,circunstância capital para a ocorrência do acidente de trabalho jánarrado no tópico próprio. Requer assim, subsidiariamente, aresponsabilização da Reclamada a suportar as indenizações que seperseguem também na modalidade subjetiva" (Fls. 7/10.)
Ao aditar a petição inicial (fls. 79/80), o obreiro pleiteou ainda o
pagamento dos salários desde o dia do afastamento até a rescisão contratual, alegando que
não percebeu nesse período benefício previdenciário, encontrando-se em "limbo jurídico".
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A empregadora, por sua vez, negou o infortúnio, dizendo que "não
teve nenhum acidente ocorrido com ele em 02.04.2014, mesmo porque, quando compareceu
ao médico, foi por problema de hérnia discal, que não relaciona com o trabalho e nem
tampouco com eventual acidente na empresa" (fl. 131).
Acrescentou que o autor "não fez juntada de nenhum documento
médico ou mesmo relatório, que conclua que o mesmo tenha sido acidentado nas
dependências da unidade inativa de Anápolis/GO" (fl. 131).
Em suma: o teor da defesa é no sentido de que a empresa "não
reconhece o acidente típico ocorrido com o reclamante em 02.04.2014, por inexistente" (fl.
131).
Passo à análise.
Inicialmente, entendo necessário averiguar se, de fato, o obreiro
sofreu o infortúnio trabalhista narrado na exordial, diante da negativa da empresa.
Ingressando na análise da prova oral, não me restam dúvidas de
que, inobstante a negativa empresarial, o autor se acidentou nas dependências da reclamada,
uma vez que a testemunha ouvida em juízo foi enfática no sentido de que o encarregado da
empresa lhe informou acerca do infortúnio trabalhista ocorrido com o reclamante. Veja:
"que trabalhou na Reclamada de 2008 a 2012, sendo que depois de6 meses voltou a trabalhar na empresa, permanecendo até ocomeço de 2015, por volta de maio; que exercia a função defaqueiro; que, quando o Reclamante foi admitido, o depoenterealizava a serragem de carcaças de boi, sendo que a referidafunção foi assumida pelo Reclamante e o depoente passou aexercer à função de faqueiro; que exercia a função de faqueiro emoutro local; que o Reclamante se acidentou no começo demarço de 2014; que o encarregado JÚNIOR falou para o depoenteque o Reclamante não estava aguentando mais serrar e que erapara assumir o lugar do Reclamante; que o depoente assumiu areferida função até o dia 14/7/2014, quando sofreu um acidente demoto; que depois do referido dia do acidente o Reclamante nãomais retornou à empresa; que, melhor esclarecendo, o depoentetrabalhava na mesma sala que o Reclamante, em torno de 40metros de distância, mas, como trabalhavam em círculos, não erapossível visualizar o posto de trabalho do Reclamante; que apenastomou ciência do acidente após ser informado peloencarregado JÚNIOR; (...)." (Depoimento do Sr. Carlos Rodriguesde Moura, única testemunha ouvida a rogo do autor, à fl. 378,negritei.)
Pois bem.
Consoante se extrai dos arts. 19 a 21 da Lei nº 8.213/91, a doença
profissional e o acidente-tipo são espécies do gênero acidente do trabalho. Este diz respeito ao
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infortúnio repentino e inesperado sofrido pelo trabalhador em razão do cumprimento das
obrigações derivadas do contrato de trabalho. A rigor, os efeitos danosos são percebidos de
imediato e o evento acidentário pode ser individualizado no espaço e no tempo.
Já a doença profissional é aquela desencadeada pelo exercício de
trabalho peculiar a determinada atividade e constante de relação elaborada pelo MTE (Lei nº
8.213/91, art. 20, I). Logo, tal espécie de patologia, também conhecida como tecnopatia ou
ergopatia, é causada, unicamente, pela natureza da própria atividade profissional
desempenhada pelo obreiro.
Ambas espécies provocam lesão corporal ou perturbação funcional
que acarretam a morte, a perda ou a redução, permanente ou temporária, da capacidade para
o trabalho.
Na espécie, destacam-se dois episódios: a descompressão da
mangueira que servia de suporte para a serra de cortar os bois, tendo o reclamante que
suportar o peso da ferramenta de trabalho, cerca de 200 kg (conforme laudo pericial, fl. 328), e
o diagnóstico de hérnia de disco.
O primeiro evento insere-se perfeitamente no conceito de acidente
de trabalho, mormente pelo fato de a função desempenhada pelo reclamante consistir no corte
das carcaças dos bois.
Quanto ao segundo evento, salientou a expert nomeada que a
patologia desenvolvida teve como fator contributivo o infortúnio ocorrido com o obreiro, senão
veja:
"6.2.2. Considerações periciais sobre o alegado acidente detrabalho
º Há uma divergência entre o relato da inicial e o do Autor emrelação as circunstâncias em que o acidente ocorreu. A inicialrelata que houve uma falha mecânica, já o Autor relatou que amangueira de ar comprimido enganchou na costela do boi, que eramuito grande e se soltou tendo que suporta o peso da serra;
º Indagado aos presentes nas diligências, é possível amangueira soltar e nesses casos o peso da serra é enorme,uma vez que ela pesa em torno de 200kg;
º O Autor é portador de Doença Degenerativa da Coluna Lombar,doença crônica de início lento e evolução insidiosa;
º Tem um histórico laboral de trabalhos pesados, inclusive emoutros frigoríficos;
º Por outro lado, uma sobrecarga do tipo que o Autor relatoupode agravar ou mesmo precipitar o aparecimento de umaHérnia;
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º Portanto, se houve o evento, ele é compatível com o quadroque o Autor apresentou, o que pode ser traduzido como umfator contributivo no agravamento da doença que já vinhaevoluindo naturalmente." (Fl. 328.)
Portanto, não há dúvidas quanto ao nexo de causalidade entre a
atividade laboral e a doença que acomete o obreiro, sendo mister reconhecer que o autor foi
acometido de doença do trabalho, em razão do infortúnio ocorrido.
4.1. Estabilidade provisória
O art. 118 da Lei n. 8.213/91 assegura ao segurado que sofreu
acidente de trabalho estabilidade provisória no emprego pelo período de doze meses após a
cessação do auxílio-doença acidentário.
Interpretando ao aludido preceito, o Col. TST, por meio da Súmula
378, item II, estabelece que são pressupostos para a concessão da estabilidade o afastamento
superior a quinze dias, com a percepção de auxílio-doença acidentário, salvo se constatada,
após a despedida, doença profissional que apresente nexo de causalidade com a execução do
contrato de trabalho.
O caso do reclamante se enquadra justamente na última hipótese
mencionada pela Corte Superior Trabalhista. Após a dispensa, constata-se doença com nexo
de causalidade com a execução do contrato de trabalho.
Contudo, não é possível a reintegração, seja porque já se esvaiu o
período de garantia de emprego, seja porque é de todo desaconselhável que o autor volte a
realizar a mesma atividade que ocasionou o agravamento da patologia.
Sendo assim, julgo procedente o pedido e condeno a empresa
ao pagamento da indenização equivalente ao período de estabilidade provisória no emprego,
incluindo os salários referentes aos 12 meses seguintes à rescisão contratual (17.03.2015 a
17.03.2016), incluindo férias acrescidas do terço constitucional, décimo terceiro salário,
depósitos relativos ao FGTS com a multa de 40%.
Como base de cálculo, deverá ser utilizado o último salário
recebido pelo autor (R$1.431,19, conforme TRCT à fl. 142).
4.2. Limbo jurídico
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No aditamento à petição inicial, o reclamante alegou que, por não
ter a reclamada emitido a CAT, não recebeu o benefício previdenciário, e, por estar afastado do
serviço, não recebeu também os salários, motivo pelo qual os pleiteou o pagamento destes,
até o dia da dispensa sem justa causa (fls. 79/80).
Analiso.
Primeiramente, ressalto que o acesso ao benefício previdenciário
foi negado porque o reclamante não possuía tempo de contribuição suficiente, conforme
entrevista pericial (fl. 318).
No entanto, é certo que se a empresa houvesse emitido CAT o
autor teria acesso ao benefício, pois o benefício acidentário dispensa carência (art. 26, II, da Lei
nº 8.213/91).
Assim, o afastamento do serviço, com o consequente
desprovimento de recursos financeiros, foi ocasionado em razão do labor prestado à
reclamada.
Nesse contexto, o empregador, detentor do poder diretivo da
atividade, bem como dos riscos do negócio, além de corresponsável pela garantia do mínimo
existencial para vida digna do ser humano, conforme a Constituição Federal de 1988 (art. 1º, III
e IV; art. 170), deve proporcionar a parcela salarial imprescindível à sobrevivência do
trabalhador.
Logo, indiscutível a obrigação empresarial de pagar o salário do
reclamante durante o período de afastamento por ordem médica (28.04.2014, conforme os
cartões de ponto à fl. 148 e seguintes, até a dispensa sem justa causa).
Sendo assim, julgo parcialmente procedente o pedido e
condeno a reclamada ao pagamento dos salários do autor no período de afastamento por
recomendação médica, até a rescisão contratual.
À míngua de outros parâmetros, deverá ser utilizado o salário de
R$1.431,19, conforme o TRCT à fl. 142.
Indevidos os demais benefícios postulados, porquanto não
especificados (fl. 81).
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4.3. Danos morais e materiais
Consoante acima expendido, foi demonstrado o nexo de
causalidade entre o agravamento da doença que acomete o trabalhador e o infortúnio ocorrido
em razão do labor em benefício da reclamada.
No tocante ao dano, a perita médica afirmou que o demandante
possui, atualmente, restrições laborais em razão da doença agravada, de forma parcial e
permanente, senão veja:
"7.1.2. Quesitos do Juízo sobre o alegado acidente
(...).
7º) Quais os membros do corpo do reclamante foram atingidos peloacidente do trabalho? O acidente deixou sequelas? Favorespecificá-las.
R - Coluna lombar. Sim, moderada na dinâmica do segmentolombar.
8º) Existe nexo causal entre o acidente e o trabalho prestado peloreclamante à reclamada?
R - Pela maneira que foi narrado pelo Autor, sim.
9º) Qual o grau de perda da capacidade de trabalho do reclamanteem decorrência do acidente do trabalho, se PARCIAL ETEMPORÁRIA, PARCIAL E PERMANENTE ou PERDA TOTAL? Sefor PARCIAL, se possível, favor especificar o percentual da perdade acordo com a tabela da SUSEP.
R - Parcial e permanente. 12,5%. 50% (repercussão moderada)do segmento lombar que é igual a 25%.
10) Pela resposta do quesito anterior, o reclamante podedesempenhar as mesmas funções da época do acidente ou quaisas funções ele pode desempenhar? Especifique as restriçõeslaborais.
R - Sim. Uma vez que a serra operando em condições normais nãoapresenta peso acima das suas possibilidades.
11) Há possibilidade de cura das lesões advindas do acidente dotrabalho e de recuperação da capacidade normal de trabalho doreclamante? Indique os meios?
R - Não, uma vez que resultou em sequela permanente pelafixação cirúrgica da vértebras." (Fls. 330/331, enfatizei.)
Como é cediço, a responsabilidade civil do empregador perante o
infortúnio sofrido pelo empregado é subjetiva (CRFB/1988, art. 7º, XXVIII). Assim, além do
dano e do nexo de causalidade (ou concausalidade), também é necessária a prova do dolo ou
da culpa patronal, sendo esse o caso dos autos, uma vez que a atividade desenvolvida, por si
só, não impunha riscos anormais à saúde obreira.
Ademais, o art. 157, II, da CLT, confere às empresas o dever de
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instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no
sentido de evitar acidentes de trabalho e doenças ocupacionais.
Outrossim, segundo o que consta dos autos, que a empresa não
agiu com a diligência necessária para impedir o infortúnio ocorrido com o autor, o qual agravou
sua patologia. Conforme o laudo pericial, "indagado aos presentes nas diligências, é possível
a mangueira soltar e nesses casos o peso da serra é enorme, uma vez que ela pesa em torno
de 200kg" (fl. 328, negritei), o que implica dizer que o equipamento utilizado não era o mais
adequado.
A única testemunha ouvida neste juízo, a qual exercia a mesma
função que o reclamante antes dele ser contratado, declarou que "já foi para o hospital em
uma ocasião que estava utilizando a serra e o balancinho do ar deu defeito" (fl. 378).
Disse, outrossim, que "o defeito mais comum era no balancinho do
ar (o qual balanceia o peso da serra)" (fl. 378), demonstrando que a empresa tinha plena
ciência dos riscos oferecidos aos empregados exercentes da função.
Ora, a empregadora, ao não providenciar equipamentos
adequados para o seguro desenvolvimento das atribuições obreiras, violou os dispositivos
citados acima, referentes à segurança e saúde no trabalho.
Sendo assim, delimitados o dano, o nexo de causalidade e
constatada a culpa patronal, a empresa deve ser responsabilizada pelos danos causados (arts.
186 e 927 do CC).
Quanto ao dano moral, não há necessidade de comprovação,
porquanto é presumido (in re ipsa). É evidente que o infortúnio sofrido pelo autor ultrapassa o
mero dissabor cotidiano.
Portanto, julgo parcialmente procedente o pedido de condeno a
reclamada ao pagamento de indenização no valor de R$10.000,00, quantia proporcional ao
dano (CC, art. 944), a par de não ensejar enriquecimento sem causa do autor, observar o grau
de culpa da reclamada e o caráter pedagógico da medida (CC, art. 953, parágrafo único).
Já os danos materiais são aqueles que atingem a esfera
patrimonial do ofendido, passível de quantificação financeira. Abrangem duas espécies: o dano
emergente, ligado ao que a vítima efetivamente já perdeu, e o lucro cessante, referente ao que
razoavelmente se deixa de lucrar (CC, art. 402).
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No tocante à pretensão de danos emergentes (fl. 11),
correspondente às despesas médicas necessárias ao tratamento, o reclamante não
apresentou aos autos nenhum comprovante de dispêndio dos valores discriminados na peça
de ingresso (R$300,00 mensais para medicamentos e R$1.500,00 mensais para consultas
médicas). Ademais, não há falar em responsabilidade da reclamada pelo custeio de tais
valores até o fim da convalescença. Julgo improcedente.
A pretensão subsidiária do autor de restabelecimento do plano de
saúde corporativo não possui previsão legal. Consectariamente, julgo improcedente o pedido
de reativação do aludido benefício.
Quanto à pretensão de consubstanciada no pedido de lucros
cessantes e pensionamento, o art. 950 do CC condiciona a percepção do referido título à
impossibilidade de o ofendido continuar exercendo o seu ofício ou profissão ou ter a sua
capacidade para o trabalho diminuída.
No particular, o laudo médico reconheceu a perda parcial e
permanente da capacidade laboral do autor, estimando a incapacidade total do autor em 25%,
conforme o trecho acima transcrito (fl. 330).
Tendo em vista que o infortúnio decorrente do trabalho em prol da
reclamada atuou como agravamento da doença, atribuo à empresa metade da
responsabilidade sobre tal grau de incapacitação.
Em face do exposto, julgo parcialmente procedente o pedido e
condeno a reclamada ao pagamento de pensão mensal correspondente a 12,5% do último
salário recebido pelo reclamante (R$1.431,19, fl. 4, conforme TRCT, fl. 142), com data de início
em 18.03.2016, isto é, a partir do dia seguinte ao término da estabilidade provisória, a título de
lucros cessantes, sem considerar os décimos terceiros salários, nos limites do pedido (fls. 10 e
28).
Para tanto, tendo em vista a idade do autor na data do término da
estabilidade convertida em indenização, 49 anos (nascido em 09.06.1966, fl. 36), e a
expectativa de vida média do homem brasileiro, 75 anos, considero razoável limitar a pensão
deferida acima ao período de 26 anos, a partir da data do término da estabilidade convertida
em indenização, 18.03.2016.
Ademais, determino que as parcelas sejam pagas de uma única
vez, consoante prevê o art. 950, parágrafo único, do Código Civil. No entanto, deverá ser
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adotado critério de cálculo prevalente neste Eg. Regional, qual seja, a utilização do "redutor"
de 0,75% por ano de expectativa de sobrevida do trabalhador (TRT18, RO -
0011357-85.2014.5.18.0122, Rel. Mario Sergio Bottazzo, 3ª Turma, 12.07.2016).
No caso, conforme mencionado acima, a expectativa de sobrevida
do reclamante ao tempo do acidente era de 26 anos, de modo que o "redutor" a ser aplicado é
de 19,5%.
Logo, multiplicando o percentual de redução de capacidade
laboral do autor (12,5%) pelo valor do seu último salário (R$1.431,19) e multiplicando o
resultado pelo tempo de expectativa de sobrevida (26 anos, que equivalem a 312 meses, sem
a inclusão dos décimos terceiros salários) e aplicando o "redutor" mencionado, conclui-se que
a reclamada deve pagar ao autor o valor de R$ 44,932,21 (quarenta e quatro mil, novecentos e
trinta e dois reais e vinte e um centavos), em uma só parcela.
Reforça o entendimento acima, referente a necessidade de ser
aplicado o redutor em caso de deferimento de pensão em parcela única, a atual jurisprudência
do col. TST. É o que se observa no Informativo de Jurisprudência do TST n. 134 (período de 26
de abril a 2 de maio de 2016). Transcrevo abaixo:
"Doença ocupacional. Indenização. Pensão mensal vitalícia.Pagamento em parcela única. Art.950 do CC. A pensão mensalvitalícia correspondente à indenização por danos materiais, relativaà doença ocupacional que resultou na perda da capacidade para otrabalho, poderá ser convertida em parcela única. A importânciadevida, no entanto, não deve equivaler à somatória dos valores daspensões mensais a que teria direito o trabalhador, de modo a nãoocasionar o seu enriquecimento sem causa. Também não pode serarbitrada em valor que onere indevidamente o devedor, que terá dedispor de quantia pecuniária vultosa de uma só vez. Oquantumdevido ao empregado, portanto, deverá corresponderàquele que, uma vez aplicado financeiramente, lhe renda por mêsvalores aproximados ao da pensão mensal devida, de acordo com odisposto no art. 950 do CC. Sob esses fundamentos, a SBDI-I, porunanimidade, conheceu dos embargos, por divergênciajurisprudencial e, no mérito, deu-lhes provimento para fixar em R$83.000,00, o valor da indenização por dano material, em parcelaúnica." (TST-E-ED-RR-2230-18.2011.5.02.0432, SBDI-I, Rel. Min.Aloysio Corrêa da Veiga, 28.4.2016.)
5. Reajustes salariais. Prêmio-assiduidade. Fornecimento de
EPI. Emissão de CAT. Multa convencional
Na peça de ingresso, o reclamante apresentou pretensões
baseadas na CCT da categoria, requerendo que a empresa comprovasse: a) o pagamento dos
reajustes salariais de 2014 e 2015, previstos na Cláusula 3ª da CCT; b) o pagamento do
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prêmio-assiduidade, previsto na Cláusula 7ª da CCT; c) o fornecimento de EPI, conforme
Cláusula 20ª da CCT; d) a emissão da CAT, conforme Cláusula 22ª da CCT, sob pena de
incorrer na penalidade inserta na Cláusula 28ª da CCT (fls. 6/7).
Ao exame.
De início, ressalto o esforço interpretativo dos aludidos pleitos
referentes aos reajustes salariais e prêmio assiduidade, uma vez que não apresentam
nenhuma causa de pedir, ainda que observado o conjunto das pretensões apresentadas na
peça de ingresso, conforme o teor do art. 322, §2º, do CPC. Todavia, em homenagem ao
princípio da primazia do julgamento do mérito, preferível não declarar a inépcia da inicial.
Pois bem.
Notificada, a reclamada apresentou ao caderno processual as
fichas financeiras do reclamante (fls. 156/163), não demonstrando o autor, na impugnação à
defesa (fl. 253 e seguintes), mesmo por amostragem, a incorreção nos valores pagos a título
de reajustes salariais e prêmio assiduidade.
Quanto aos EPIs, o laudo pericial produzido foi claro no sentido de
que a reclamada fornecia os equipamentos securitários necessários, conforme documentação
carreadas aos autos, senão veja:
"7. Quesitos
7.1. Quesitos do Juízo
7.1.1. Quesitos do Juízo de Insalubridade
(...).
4º) A reclamada fornecia EPIs ao reclamante e quais são essesEPIs? A reclamada substituía regularmente os EPIs desgastados?Como foi feita a comprovação da entrega e da substituição dosEPIs?
R - Sim.
º Uniforme
º Bota PVC
º Cinto de segurança
º Luvas Anti-corte (par)
º Luvas Látex
º Luvas algodão
º Protetor auricular
º Cinta lombar (20 dias antes do acidente relatado)
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º Capacete.
Sim. Consta na Ficha de Entrega de EPI's alguns desses e osoutros
foram relato do próprio Autor.
5º) Os EPIs fornecidos pela reclamada eram suficientes paraeliminar ou neutralizar a insalubridade?
R - Sim." (Fls. 328/329.)
No que pertine à emissão da CAT, a própria controvérsia instalada,
quanto à ocorrência do infortúnio trabalhista, elide a obrigatoriedade da empresa em cumprir o
encargo.
Pelo exposto, como a reclamada não descumpriu nenhuma das
cláusulas da CCT da categoria, julgo improcedente o pedido de pagamento da multa
convencional.
6. Dedução
Autorizo a dedução dos valores pagos a idêntico título e
fundamento, de modo a evitar o enriquecimento sem causa, desde que comprovados durante
a fase de conhecimento.
7. Justiça Gratuita
Firmada declaração de pobreza (fl. 34), consoante o art. 790, §3º,
da CLT, defiro a gratuidade da justiça ao reclamante.
8. Honorários advocatícios
Na seara trabalhista, o direito aos honorários advocatícios não
deriva da simples sucumbência, consoante disciplina o art. 14 da Lei nº 5.584/1970 e orientam
as Súmulas 219 e 329 do Col. TST. Ademais, não há, no processo juslaboral, omissão que
autorize a aplicação subsidiária da lei civil (CLT, arts. 8º e 769).
Indefiro.
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9. Honorários periciais
Considerando a complexidade da prova, o grau de zelo da
profissional e o tempo despendido, arbitro honorários periciais em R$ 500,00 para a perícia
técnica e R$ 2.000,00 para a perícia médica, a cargo do reclamante e da reclamada,
respectivamente, sucumbentes nas correspondentes pretensões objeto das perícias (CLT, art.
790-B).
Fica autorizada a dedução de R$ 1.000,00, antecipados pela ré (fl.
249).
Tendo em vista que ao reclamante foram concedidos os benefícios
da justiça gratuita, expeça-se, após o trânsito em julgador, Requisição de Pagamento de
Honorários Periciais (RPHP), a serem suportados pela União.
10. Aplicação do artigo 523, CPC
Sem delongas, incabível a aplicação da multa de 10% prevista no
artigo 523, do CPC, uma vez que a execução trabalhista segue rito próprio, conforme art. 880 e
seguintes, da CLT.
Nesse sentido a tese firmada em Incidente de Recursos de
Revistas Repetitivos, de caráter vinculante, no recém inaugurado sistema de procedentes
judiciais, in verbis:
"Tema nº 0004 - Multa do art. 523, § 1º, do CPC de 2015 (art. 475-Jdo CPC de 1973). Compatibilidade com o processo do trabalho. OTribunal Pleno, por maioria, definiu a seguinte tese jurídica para oTema Repetitivo nº 0004 - MULTA DO ART. 523, § 1º, DO CPC DE2015 (ART. 475-J DO CPC DE 1973). COMPATIBILIDADE COM OPROCESSO DO TRABALHO: a multa coercitiva do art. 523, § 1º,do CPC de 2015 (art. 475-J do CPC de 1973) não é compatívelcom as normas vigentes da CLT por que se rege o processo detrabalho, ao qual não se aplica. (...). TST-IRR-1786-24.2015.5.04.0000, Tribunal Pleno, rel. Min. Mauricio GodinhoDelgado, red. p/ acórdão Min. João Oreste Dalazen, 21.8.2017."
Indefiro.
II - DISPOSITIVO
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Ante o exposto, na ação trabalhista proposta por ERNANE INACIO
LOUREDO em face de JBS S/A, decido: deferir a gratuidade da justiça ao autor e julgar
PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos para condenar a reclamada ao pagamento dos
seguintes títulos: tempo à disposição; indenização equivalente ao período de estabilidade
provisória no emprego; salários do período de afastamento por recomendação médica, até a
rescisão contratual; indenização por danos morais; e indenização por danos materiais (lucros
cessantes); tudo a ser apurado em regular liquidação de sentença, por cálculos, observados
os parâmetros da fundamentação.
Correção monetária a partir do vencimento da obrigação (art. 459,
§ 1º, da CLT e Súmula 381 do TST). Juros de mora de 1% ao mês, desde o ajuizamento, não
capitalizados, pro rata die (arts. 883 da CLT e 39, § 1º, da Lei n. 8.177/98 e Súmula 200 do
TST). Quanto à indenização por danos morais, observe-se o disposto na Súmula 439 do Col.
TST.
Natureza jurídica das parcelas conforme o art. 28, § 9º, da Lei n.
8.212/91.
Deverá ser deduzido o INSS, onde cabível, e a reclamada deverá
recolher as contribuições previdenciárias, no prazo legal, e comprovar nos autos através de
GPS (código 2909) e GFIP (código 650), com o protocolo de envio da chave de conectividade,
sob pena de execução ex officio, exceto as contribuições para terceiros (SENAI e SESI,
SENAC e SESC, SENAT e SEST, SEBRAE, SENAR e SESCOOP), nos termos dos arts. 114,
VIII, da CF/88, 876, parágrafo único, da CLT e das Súmulas 368 do TST e 64 da AGU, e
expedição de ofício à Receita Federal para fins cobrança das multas previstas nos arts. 32-A
da Lei n. 8.212/1991 e 284, I, do Decreto n. 3.048/1999 e para inclusão da empresa no
cadastro positivo, obstando a emissão de CND, nos termos do art. 177 do PGC da TRT da 18ª
Região. Frise-se que o recolhimento das contribuições previdenciárias tem importância social
para custeio dos benefícios previdenciários concedidos pelo Governo Federal e a reclamada
poderá requerer o seu parcelamento junto à Receita Federal.
Autoriza-se a retenção na fonte do imposto de renda devido pelo
reclamante, a ser calculado mês a mês (regime de competência), nos moldes do art. 12-A da
Lei n. 7.713/1988 e da IN n. 1.127/2011. Não haverá tributação de imposto de renda sobre
juros de mora (OJ 400 da SBDI-1/TST).
Após o trânsito em julgado, a reclamada deverá ser intimada na
pessoa de seu advogado, via Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho (DEJT), ou, na falta de
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causídico, diretamente por mandado, para, no prazo de 5 dias, pagar ou garantir a execução,
sob pena de prosseguimento dos atos executórios.
Custas pelo reclamada, no importe de R$ 1.400,00, calculadas
sobre R$ 70.000,00, valor provisoriamente arbitrado à condenação (CLT, art. 789).
Honorários periciais médicos, no importe de R$ 2.000,00, a cargo
da reclamada, sucumbente no objeto da perícia, ficando autorizada a dedução da antecipação
realizada.
Honorários da perícia técnica, no importe de R$ 500,00, a cargo do
reclamante, sucumbente no objeto da perícia, das quais fica isento, na forma da lei. Após o
trânsito em julgado, requisite-se o pagamento dos honorários periciais, a serem suportados
pela União.
Intimem-se.
ANAPOLIS, 29 de Outubro de 2017
VIVIANE PEREIRA DE FREITASJuiz do Trabalho Substituto
Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a:[VIVIANE PEREIRA DE FREITAS]
https://pje.trt18.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
17102912234315200000022382985
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