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34 Emelda Apagador Comprei com meu dinheiro do almoço, em vez de comprar comida na escola. é professora e presidente da – Quando crescer, quero ser uma pessoa que ousa se expor ao perigo na luta em prol de crianças carentes. Assim como os nomeados ao Prêmio das Crianças do Mundo, diz a órfã Emelda Zamambo, 12 anos, de Maputo, Mo- çambique. Porém, Emelda não se contenta em esperar até tornar-se adulta para lutar pelos direitos da criança. Toda manhã, bem cedo, ela tem sua própria escola em casa, para crianças que, de outra forma, não teriam chance de es- tudar. Ela lhes ensina a ler, escrever e contar. 1 , 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10!!! As crianças contam juntas, em voz alta, enquanto Emelda aponta para os núme- ros no quadro negro. – Ótimo! Mais uma vez! – diz ela, e recomeça. São oito e meia da manhã e, como acontece todo dia de semana, doze crianças estão sentadas no chão em frente à casa de Emelda. Elas olham atentamente para sua jovem professora, enquanto ela escreve novos números sobre o simples pedaço de madeira compensada que serve como quadro-negro da escola. Emelda começou sua escola matutina há quase um ano, e a maioria das crianças a fre- quenta desde então. – Sempre ajudei meus irmãos mais jovens com o dever de casa. Costumávamos sentar na frente da casa para fazê-los. Aparentemente, houve um rumor de que sen- távamos ali pela manhã, por- que, de repente, começaram a aparecer outras crianças que queriam ajuda. No início eram apenas dois ou três, mas agora ensino para doze crianças todos os dias. Gratuitamente, é claro! – conta Emelda, com uma risada. Alguns alunos de Emelda

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World's Children's Prize promotes a more humane world. The program is open for all schools and 57,450 schools with 26.8 million pupils in 102 countries supports it. Every year millions of children learn about the rights of the child, democracy and global friendship through the program. They gain faith in the future and a chance to demand respect for their rights. In the Global Vote, the children decide who receives their prestigious award for their work for the rights of the child. The candidates for the Prize are chosen by a child jury who are experts in the rights of the child through their own experiences. The Prize Laureates become role models for millions of children. The prize money is used to help some of the world's most vulnerable children to a better life. The patrons of the World's Children's Prize include Nelson Mandela, Queen Silvia of Sweden, Aung San Suu Kyi and Graça Machel.

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Emelda

Apagador Comprei com meu dinheiro do almoço, em vez de comprar comida na escola.

é professora e presidente da Votação Mundial!– Quando crescer, quero ser uma pessoa que ousa se expor ao perigo na luta em prol de crianças carentes. Assim como os nomeados ao Prêmio das Crianças do Mundo, diz a órfã Emelda Zamambo, 12 anos, de Maputo, Mo-çambique.

Porém, Emelda não se contenta em esperar até tornar-se adulta para lutar pelos direitos da criança. Toda manhã, bem cedo, ela tem sua própria escola em casa, para crianças que, de outra forma, não teriam chance de es-tudar. Ela lhes ensina a ler, escrever e contar.

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10!!! As crianças contam juntas,

em voz alta, enquanto Emelda aponta para os núme-ros no quadro negro.

– Ótimo! Mais uma vez! – diz ela, e recomeça.

São oito e meia da manhã e, como acontece todo dia de semana, doze crianças estão sentadas no chão em frente à casa de Emelda. Elas olham atentamente para sua jovem professora, enquanto ela escreve novos números sobre o simples pedaço de madeira compensada que serve como

quadro-negro da escola. Emelda começou sua escola matutina há quase um ano, e a maioria das crianças a fre-quenta desde então.

– Sempre ajudei meus irmãos mais jovens com o dever de casa. Costumávamos sentar na frente da casa para fazê-los. Aparentemente, houve um rumor de que sen-távamos ali pela manhã, por-que, de repente, começaram a aparecer outras crianças que queriam ajuda. No início eram apenas dois ou três, mas agora ensino para doze crianças todos os dias. Gratuitamente, é claro! – conta Emelda, com uma risada.

Alguns alunos de Emelda

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Indicador Ganhei de meu tio, que é carpinteiro.

Giz Minha avó os comprou de presente para mim, porque ela acha muito bom que eu ajude outras crianças.

Quadro negro Uma velha placa de madeira compensada que encontrei no bairro.

é professora e presidente da Votação Mundial! O Globo na escola matutina– Ir à escola é uma das coisas mais importantes que existem. Assim, tem-se uma chance maior de conse-guir um emprego mais tarde e, desta forma, poder cui-dar de sua família. Quando alguém não recebe educa-ção, há um grande risco de que essa pessoa perma-neça sempre pobre e tenha uma vida muito difícil. E entre as coisas mais importantes que se pode apren-der na escola estão os direitos da criança. Com eles, aprendemos a nos defender e não ser explorados com tanta facilidade. É exatamente por isso que uso O Globo em minha escola matutina, declara Emelda.

são filhos de seus vizinhos, que precisam de ajuda extra para conseguir acompanhar a escola regular. Outros são tão pobres que não têm condições de ir à escola.

O pai foi baleado– Eu realmente detesto ver que crianças pobres não podem frequentar a escola e nunca têm nenhuma chance na vida. Muitas vezes, elas perderam os pais e acabaram na rua, porque não há nin-guém para cuidar delas. Ali, as crianças são obrigadas a procurar comida no lixo e beber água suja para sobrevi-ver. Muitas são forçadas a tra-balhar. Isso é muito injusto e

cruel! – afirma Emelda. Injustiças realmente a enfu-

recem, e ela sabe muito bem que poderia ter sido uma des-tas crianças vulneráveis. Quando Emelda tinha seis anos, seu pai morreu baleado por ladrões e, apenas alguns meses mais tarde, sua mãe morreu de malária.

– Tudo foi destruído. Eu não acreditava que algo pudesse voltar a ficar bem. Tive muito medo de ficar sozinha e acabar na rua. Todavia, apesar de todas as coisas horríveis que aconte-ceram, eu tive uma sorte incrível.

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A avó materna de Emelda e a família de seu tio a recebe-ram de braços abertos. Ela ganhou um lugar para morar, alimento, roupas e a oportu-nidade de frequentar a escola.

– Acima de tudo, ganhei uma família que me ama. Eles me abraçaram e disseram que eu pertencia à sua família, que cuidariam de mim e que tudo daria certo. E realmente foi assim. Agora sou filha de meus tios maternos, e meus primos são meus irmãos e irmãs. Tive a chance de viver uma vida digna e, de alguma forma, quero compartilhar com outras pessoas que neces-

sitam. É por isso que tenho a minha escola, diz Emelda.

O Globo na escolaÀs onze da manhã, Emelda agradece a presença dos alu-nos e se despede deles. Ela entra e veste o uniforme esco-lar. Após o almoço, Emelda não é mais professora, agora é aluna. Ela adora ir à escola e, ultimamente, as atividades têm sido mais divertidas que o habitual. Eles se prepara-ram para a Votação Mundial, lendo a revista O Globo.

– Logo percebi que as histó-rias contadas na revista O Globo realmente falam sobre

Castigo físico é proibido em 30 países

Castigo físico é proibido na escola de Emelda!

– A parte de O Globo que descreve todos os direitos de uma criança pode nos ensinar muito! Antes, eu não sabia, por exemplo, que as crianças que vivem na rua têm, de acordo com a Convenção dos Direitos da Criança da ONU, direito a ter um lar, frequentar a escola e viver uma vida digna, diz Emelda.

Nos termos do artigo 19 da Convenção dos Direitos da Criança da ONU, você tem direito à proteção contra todas as formas de violên-cia, negligência, maus tra-tos e abuso. Portanto, pode-se afirmar que o cas-tigo físico é uma violação aos direitos da criança. Não obstante, todo ano 40 milhões de crianças são vítimas de espancamentos tão graves que precisam de cuidados médicos. Somente 30 países proibiram todas as formas de castigo físico contra crianças; conse-quentemente, apenas 4 em cada 100 crianças do mun-do estão protegidas por lei contra a violência. O último país a proibir o castigo físi-

co foi o Sudão do Sul, o mais novo país do mundo.

Muitos países permitem castigos corporais nas escolas. Em Moçambique, o castigo físico à criança é legal tanto em casa como na escola. Qual é a situa-ção na sua escola e em seu país? Você ousa salientar para professores, pais, políticos e outros adultos que o castigo físico é uma violação aos direitos da criança? Conte-nos que tipo de coisa você e seus colegas precisam enfren-tar. Compartilhe suas expe-riências e opiniões sobre o castigo físico pelo myrights @worldschildrensprize.org ou em www.worldschil-drensprize.org.

– Eu uso a régua indicadora apenas para apontar as coisas, nunca para bater! Em quase todas as outras escolas de Moçambique, é comum que os professores usem a régua indicadora para bater nas palmas das mãos ou nas náde-gas dos alunos. Considero isso incrivelmente ruim! Os pro-fessores deveriam explicar e demonstrar, quando não entendemos algo, ou se não nos comportamos como deve-ríamos. Acredito que as crianças têm mais facilidade para

aprender quando não são espancadas, quando não sen-tem medo. Ninguém aprende direito quando está com medo. Depois de ler o Globo, também aprendi que bater nas crianças é contra nossos direitos!

Convenção dos Direitos da Criança em O Globo

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Emelda Zamambo, 12

o que acontece aqui em Moçambique! As histórias de crianças pobres, que passam fome, são exploradas, perdem seus pais para a AIDS e, por isso, acabam nas ruas e são forçadas a trabalhar, pode-riam muito bem ser daqui. Antes, eu sentia que tudo isso é injusto e errado. Agora que li O Globo, sei que esse tipo de coisa também viola nossos direitos.

Emelda estava entre os estudantes que mais se envol-veram com a revista O Globo e os preparativos para a Votação Mundial da escola.

– Muita coisa aconteceu dentro de mim quando traba-lhamos com isso. Eram tantos pensamentos e sentimentos que tive insônia.

pudessem comprar uniformes escolares e almoço aqui. Assim, elas estariam bem ali-mentadas para conseguir aprender em paz.

A diretora levou Emelda a sério, e ouviu suas ideias aten-tamente. Ela não podia pro-meter nada de imediato quan-to às crianças de rua, mas quis dar uma missão importante a Emelda.

– A diretora disse ter perce-bido que eu estava inflamada pelos direitos da criança e que isso a deixara incrivelmente feliz. Portanto, ela perguntou se eu gostaria de ser Presidente da Votação Mundial e responsável por toda a votação em nossa esco-la. Inicialmente, fiquei muito nervosa, mas depois me senti

Presidente da Votação MundialAlgumas noites antes da Votação Mundial, Emelda leu em O Globo sobre os direitos das crianças de rua. Ela sen-tia que a escola realmente deveria fazer algo pelas crian-ças que não têm chance de obter uma educação. Na manhã seguinte, ela foi mais cedo para a escola, a fim de conversar com a diretora sobre suas ideias.

– Expliquei que havia lido em O Globo que todas as crianças, inclusive crianças de rua, têm direito de frequentar a escola. Sugeri que aqueles em situação um pouco melhor poderiam ajudar com algum dinheiro para que as crianças que vivem na rua

feliz. Por acreditar que as his-tórias em O Globo são extre-mamente importantes, tive a coragem de fazer um pequeno discurso de abertura, embora houvesse mais de 300 alunos reunidos na escola neste dia solene!

Nomeados inspiramE quem inspira Emelda a ser corajosa em relação aos direi-tos da criança são os nomea-dos ao Prêmio das Crianças do Mundo.

– Quero ser médica e, assim como os candidatos, desejo ser uma pessoa que ousa se expor ao perigo na luta em prol de crianças carentes.

Todavia, ainda falta algum tempo até que Emelda possa começar a estudar medicina, e há pelo menos doze pessoas felizes com isso: seus alunos. Amanhã, às oito e meia da manhã, eles aguardarão o iní-cio da aula na escola de Emelda. Como sempre fazem.

Emelda como… professora… aluna… e com suas roupas preferidas!

AMA: Estar com outras pessoas e ajudar os outros. DETESTA: Brigas, violência e ver crianças pobres que vivem na rua.O MELHOR QUE JÁ LHE ACONTECEU: Ter uma família que me ama.O PIOR QUE JÁ LHE ACONTECEU: Quando perdi minha mãe e meu pai.QUER SER: Médica e ajudar as pessoas.SONHO: Que todas as crianças sejam felizes.

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“Quando mamãe e papai morreram, minha avó e meu tio deram-me uma família que me ama”, diz Emelda.

Emelda ajudando sua avó, que lava a louça.

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Compartilha– Tenho vários colegas de escola que são órfãos e têm dificuldade de susten-tar-se. Que são pobres e passam fome. Isso é injusto e me deixa irritada e triste. Às vezes, pego o dinheiro do almoço e compro um refrigerante, suco, biscoitos ou pão para alguém que precisa mais que eu. Eu tive a chance de ter uma vida digna e desejo erguer minha voz em defesa de quem não teve essa oportuni- dade e não tem energia para exigir os próprios direitos. Se fosse o contrário, gostaria que alguém lutasse por mim! – afirma Emelda.

Votação Mundial corre bem– É aqui que todos formarão fila para depositar seus votos na urna eleitoral, ali na frente. E é nossa tarefa explicar e ajudar a todos, para que tudo corra bem, diz Emelda, apontando para os demais alunos que trabalham na Votação Mundial da Escola Primária Unidade 19, Maputo.

A cabine de votaçãoOs meninos dão o toque final na cadeira que foi transformada em cabine de votação.

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Quer ser como os nomeados!“Acho fundamental participarmos do trabalho com o Prêmio das Crianças do Mundo em Moçambique. Desta forma, temos a chance de aprender sobre nossos direitos e como, de fato, deverí-amos ser tratados. Quando sabemos essas coisas, fica mais fácil proteger-mo-nos das injustiças, algo que real-mente precisamos ser capazes de fazer. Aqui, muitas crianças são tão pobres que precisam trabalhar em vez de frequentar a escola. Muitas crianças são sozinhas, pois seus pais morreram de AIDS ou devido à miséria. Eu mes-ma perdi meus pais para a AIDS quan-do tinha cinco anos de idade. Porém, tive sorte mesmo assim. Vivo com pais

adotivos que me amam e me tratam exatamente como seus outros filhos. Eu posso frequentar a escola, tenho

o que comer e sou amada. Muitas crianças não têm a mesma sorte que eu. Acabam na rua, onde ninguém se importa com elas. Dói-me quando vejo isso acontecer. Acho que o governo e todos os adultos têm a responsabilida-de de cuidar dessas crianças. De garantir que elas recebam educação, roupas, um lar, cuidado e amor. Esse é o direito de todas as crianças! Quando eu leio, na revista O Globo, sobre como os nomeados lutam para que todas as crianças vivam em boas condições, fico imensamente feliz. Sinto que também quero ser assim. Quando eu crescer, lutarei pelas crianças que passam difi-culdades”.Crescência Eulalia Macave, 15 anos, Escola Primária Unidade 19, MaputoCálice de coco

com tinta antifraude eleitoral– Hoje, minha tarefa foi garantir que ninguém votasse mais de uma vez. Após votar, todos vieram até mim e mergulharam o dedo na tinta. Ninguém com tinta no dedo pode votar novamente. É importante que não haja fraude, quando se trata de algo tão importante como os direitos das crianças! – diz Crescência.

Verificação finalÉ uma escolha difícil, mas chegou a hora de decidir em qual candidato votar.

A urna eleitoralEmelda verifica se a urna está em ordem, antes de colocá-la no lugar.

Votação Mundial em Maputo

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Yúminadecorou a Votação Mundial“Antes da Votação Mundial, eu e meus amigos fizemos um tapete represen-tando a bandeira de Moçambique. Fizemos a bandeira anexando tiras de tecido de uma maneira especial. Aprendemos como fazê-lo na aula de artesanato. Usamos roupas e tecidos velhos e gastos para fazer coisas novas e bonitas. Fizemos a bandeira para enfeitar a Votação Mundial e tor-ná-la solene. Eu amo Moçambique e acho nossa bandeira linda, com cores bonitas e desenho agradável. Nosso país também é lindo, mas, infelizmente, muitas crianças têm problemas aqui. Há muitas crianças abandonadas, que são forçadas a viver na rua, por exem-plo. Elas não têm pais e não têm casa. Crianças de rua são carentes de tudo. Ao ler O Globo e participar da Votação Mundial, aprendemos que as crianças de rua também têm direito a uma vida digna. Além disso, aprendemos a aju-dar uns aos outros, cuidar uns dos outros. Acho que todos que podem, devem ajudar a quem precisa.

Tecer é divertido, quero ser artista quando crescer. Embora eu também adore jogar basquete. Posso perfeita-mente me imaginar como jogadora profissional de basquete, e sonho jogar pelo menos tão bem quanto Michael Jordan!”Yúmina Rui Balate, 12 anos, Escola Primária Unidade 19, Maputo

Árvores amigas de Náid na Votação Mundial Uma vez por semana, todas as crian-

ças plantam uma muda de árvore aqui na escola. Nestas ocasiões, geral-mente trago de casa diferentes tipos de sementes para plantar. Durante todos os intervalos, eu rego as plantas aqui no jardim da escola. Ou seja, uma vez pela manhã, uma na hora do almoço e nova-mente à tarde, antes de ir para casa. Eu adoro trabalhar com plantas e provavel-mente sou quem mais fica no jardim da escola. Vejo as árvores e plantas como nossas amigas, porque elas realmente nos dão oxigênio. Para mim, é quase tão divertido estar com minhas amigas árvores quanto estar com meus outros amigos, jogando futebol e coisas assim!

Hoje, para a Votação Mundial, deco-ramos o caminho até as urnas eleitorais com pequenos limoeiros do jardim da escola. Como é uma celebração dos direitos das crianças, tudo precisa estar lindo! Além disso, é bom que haja mui-tas árvores ao nosso redor quando votamos, para que tenhamos bastante oxigênio e possamos tomar a decisão certa nas urnas!

Quando crescer, eu quero ser diplo-mata e morar na capital da França, Paris. Diplomata é uma profissão importante, pois eles trabalham pela paz”.Náid Fi-Yen Bangal Nequice, 11 anos, Escola Primária Unidade 19, Maputo

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Todos esperam em fila pela sua vez de votar.

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Uma criança – Uma árvore!Desde 2006, todas as escolas públicas de Moçambique participam do projeto “Uma criança – Uma árvore”, para impedir o desmatamento, a erosão e a desertificação no país. O projeto tam-bém permite que a população tenha alimentos saudáveis e ajuda a embelezar Moçambique. No jardim da escola de Náid, são cultivadas laranjei-ras, limoeiros, mamoeiros, abacateiros e manguei-ras, além de cana-de-açúcar. As plantas geral-mente são vendidas e o dinheiro vai para ativida-des escolares.

Árvores amigas de Náid na Votação Mundial

Melhores amigas órfãs votam

Votei para que todas as crianças vivam bem.

Aqueles em quem votamos lutam pelas crianças de dife-rentes maneiras, e senti-me ótima por poder ajudar. Aqui em Moçambique há um gran-de número de crianças que passam por dificuldades e pre-cisam de ajuda. Muitas são órfãs, como eu. Minha mãe morreu quando eu tinha dois anos e meu pai morreu no ano passado. Agora moro com minha avó materna. Eu a amo, mas temos dificuldade para nos manter. Muitas vezes, falta dinheiro para o uniforme escolar e não temos alimento suficiente. Sinto falta de minha mãe e de meu pai o tempo todo. É muito difícil, diz Alice.

Muitas vezes, ela se sente triste e diferente, mas, feliz-mente, ela tem Celina.

– Quando estamos tristes, nos confortamos mutuamen-te. E depois também rimos juntas! – conta Alice.

Celina Langa, 11 anos, sen-tada ao seu lado, concorda.

– Confio plenamente em Alice e posso contar-lhe tudo. Perdi minha mãe e meu pai quando tinha um ano de ida-de. Agora moro com minha avó passamos dificuldades, pois ela é idosa e pobre. Frequentemente sinto-me triste e preocupada aqui na escola, mas ontem foi um pouco diferente. Eu ajudei a decorar nossas urnas eleito-rais para a Votação Mundial. Senti-me igual a todo mundo, como se minha vida fosse nor-mal e boa. Espero que, no futuro, a vida realmente seja assim. Neste caso, gostaria de ser professora! – afirma Celina.

– Meu sonho é trabalhar no aeroporto de Maputo. Também sonho em visitar outros países e conhecer outras pessoas. Imagine poder ir ao Brasil! Acredito que deva ser lindo lá, afirma Alice, abraçando Celina.

– Celina é minha melhor amiga e eu a amo. Ela também perdeu seus pais, portanto nos en-tendemos completamente, conta Alice Zacarias, 13 anos.

Hoje, Alice e Celina votaram pelos Direitos da Criança na Votação Mundial da Escola Primária Unidade 19, Maputo.

Alice Zacarias e Celina Langa fizeram as urnas eleitorais para a Votação Mundial.

Emelda (à esquerda) e seus amigos cuidam das urnas.

As mudas de limoeiros foram colocadas junto aos marcos da fila para votação

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Direitos da criança são

violados– Antes de ler O Globo, eu não sabia que é uma

violação dos direitos de uma criança a mesma não ser registrada ao nascer. Isso acontece o tempo todo aqui. E é grave, pois, se alguém não está

registrado e não tem nome, fica difícil conseguir frequentar a escola e obter cuidados médicos. Eu sei que Moçambique ratificou a Convenção dos Direitos da Criança, então agora temos que resolver essa questão, pois é uma violação dos

direitos da criança! – diz Cecilia.

Defendemos os direitos da criançaTodas as crianças deveriam participar!O sol brilha e o mar reflete seu brilho quando as crian-ças da Escola Primária da Catembe, em Moçambique, realizam sua Votação Mundial na praia. Aquelas que já votaram brincam de pique, chutam uma bola ou na-dam no Oceano Índico. Hoje o dia pertence às crian-ças, e Cecilia Carlos Magaia, 13 anos, está feliz:

A caminho da Votação Mundial.

A fila é longa até as urnas de votação, que foram feitas de cadeiras.

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Votação Mundial na praia de Ladislau

Defendemos os direitos da criançaTodas as crianças deveriam participar!

Preciso pescar para poder frequentar a escola. Eu

não tenho pais e moro com meu avô. Nunca poderíamos pagar a escola, de outra for-ma, conta Ladislau.

Os pais de Laidslau mora-vam na África do Sul enquan-to esperavam por ele, pois sua mãe era de lá. Quando Ladislau nasceu, eles ficaram

radiantes, mas não tiveram tempo de viver juntos como uma família, pois o pai de Ladislau morreu em um acidente de carro a caminho da maternidade.

– Minha mãe era muito pobre e sabia que não conse-guiria me sustentar e cuidar de mim sozinha, por isso ela queria entregar-me a um

orfanato. Porém, meu avô paterno não concordou e trouxe-me para sua casa, em Moçambique.

Isso aconteceu há muito tempo, mas Ladislau ainda fica deprimido ao pensar no assunto.

– Sinto falta de meus pais, ao mesmo tempo em que sou imensamente grato ao meu avô. Agora quero ajudá-lo, pois ele me ajudou na época e continua cuidando de mim. É por isso que eu pesco.

Primeiro, a escolaLadislau acorda todos os dias às cinco da manhã para ir à escola. Ele lava o rosto e esco-va os dentes, mas geralmente não faz o desjejum, pois não há o que comer. Depois, ele

rias da revista O Globo, na escola e em casa. O Globo tra-ta de nossos direitos e dos problemas que as crianças do mundo enfrentam. Antes de ler a revista, eu pensava que erámos apenas nós, crianças da África, que passávamos por dificuldades. Agora sei que é assim em todos os luga-res, e isso me deixa muito tris-te. Sinto vontade de fazer algo em relação a isso. Meu sonho é construir uma grande casa onde eu possa proporcionar a crianças que perderam os pais um novo lar, cheio de amor, alimentação, roupas e uma

“Que dia fantástico! Em Moçambique, não é sempre que os adultos escutam as crianças. Mas hoje é diferen-te. Ao votar, nós participamos e influenciamos coisas real-mente importantes. E, atra-vés do voto, eu também defendo os direitos da crian-ça! Portanto, todas as crian-ças, não só em Moçambique, mas em todo o mundo, deve-riam votar!

Antes de votar, lemos com muita atenção todas as histó-

chance de ir à escola. Foi ao ler sobre os nomeados na revista O Globo que senti que também desejo fazer algo de bom pelos outros. Os nomea-dos lutam pelo direito que toda criança tem de ser ama-da e cuidada, e este é o traba-

lho mais importante do mun-do! Porque, se não cuidarmos das crianças, quem é que vai cuidar do mundo no futuro?

Antes de eu ler a revista O Globo, meu ídolo era a estrela de R&B Nicki Minaj, dos EUA. Sua música é incrível e continuo adorando ouvi-la, mas, agora, os nomeados ao Prêmio das Crianças do Mundo definitivamente são meus maiores ídolos. Eles são meus heróis!”Cecilia Carlos Magaia, 13 anos, Escola Primária da Catembe

Ladislau, 15 anos, está na praia da Catembe olhando para o mar. Ontem, ele votou na Vota-ção Mundial e celebrou os direitos da criança com seus amigos aqui na praia. Porém, hoje é um dia comum, então a praia e o mar são seu local de trabalho. Ladislau Militon Nhca é pescador.

Hora de votar na Votação Mundial da Escola Primária da Catembe, realizada na praia.

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caminha para a escola, onde fica até o meio-dia.

– Ao chegar à casa, bebo uma xícara de chá e como um pedaço de pão antes de ir para a praia. Lá, costumo jogar futebol com meus amigos até que os pescadores voltem com a pesca do dia. Meu pai era um ótimo jogador de futebol e eu também adoro jogar futebol. Quando jogo, sinto--me completamente livre. Na verdade, eu jogo por três equipes diferentes e já ganhei prêmios e troféus com todas elas. Da última vez, marquei quatro dos gols que nos deram a vitória.

Entretanto, quando os bar-cos de pesca chegam à praia, não há mais tempo para fute-bol e brincadeiras. A partir daí, é preciso trabalhar duro.

Trabalho pesado– Ajudo os pescadores a lim-par as redes e carregar o pes-cado até a praia. Nos fins de semana e férias escolares, eu pesco o dia todo no barco de meu avô. Nós vamos para o mar às quatro da manhã e voltamos à praia ao meio-dia, mas eu nunca recebo salário. É meu avô quem recebe. O dinheiro vai para minhas taxas escolares; porém, mes-mo com isso, não temos con-dições de pagar os livros ou uma calculadora. Tenho que pedir emprestado aos amigos da escola, e detesto isso. É

embaraçoso. Ninguém caçoa de mim diretamente, mas ainda assim é difícil não ter condições de ter meu próprio material.

No futuro, Ladislau deseja tornar-se jogador de futebol profissional e ter uma vida digna e simples. Por isso, entre a escola e o trabalho, ele continuará a jogar futebol na praia com os amigos a fim de alcançar seu objetivo. E Ladislau adora estar em sua praia, apesar de este ser o

lugar onde ele também preci-sa trabalhar tão duro. E ontem a praia foi algo mais que o habitual.

– Ontem nós votamos na Votação Mundial, aqui na praia. Eu queria muito votar. Senti-me importante por par-ticipar e votar em pessoas que ajudam as crianças, pois foi como se eu também estivesse ajudando um pouco. Como se eu apoiasse outras crianças no mundo que passam por difi-culdades.

Trabalho infantil é comum Pelo menos duas de cada 10 crianças em Moçambique precisa trabalhar, assim como Ladislau.

Presa valiosaA pesca tem grande importân-cia para Moçambique e o camarão se tornou um dos principais produtos de expor-tação do país.

Paga as taxas escolares– Eu não poderia ir à escola, caso não trabalhasse na pesca. Nunca teríamos condi-ções, conta Ladislau.

Ama o futebolLadislau ama o futebol, e o nome de seu ídolo é Elias “Dominguez” Pelembe. “Dominguez” é um dos maiores astros do futebol moçam-bicano. Ele joga na equipe nacional de Moçambique, os “Mambas”, e no grande clube sul-africano Mamelodi Sundowns.