pmrr svicente segundo relatório parte 1

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PLANO MUNICIPAL DE PLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE RISCOS DE SÃO REDUÇÃO DE RISCOS DE SÃO VICENTE/SP VICENTE/SP Diagnóstico de Riscos e Diagnóstico de Riscos e Proposição de Intervenções Proposição de Intervenções BOCAINA

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Page 1: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

PLANO MUNICIPAL DEPLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE RISCOS DEREDUÇÃO DE RISCOS DE

SÃO VICENTE/SPSÃO VICENTE/SP

Diagnóstico de Riscos eDiagnóstico de Riscos e Proposição de IntervençõesProposição de Intervenções

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

Page 2: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO VICENTE/SP

Diagnóstico de Riscos eDiagnóstico de Riscos e Proposição de IntervençõesProposição de Intervenções

Etapa II: Elaboração do Plano Municipal de Redução de Riscos

São Vicente

Março de 2009

Equipe executiva

Bocaina – Cursos & Estudos Ambientais Urbanos

Fernando Rocha Nogueira, geólogo, CREA–SP nº 0601915568 (coordenador)

Cassandra Maroni Nunes, geóloga, CREA-SP n° 0601524894

Waldemar Siqueira Filho, engenheiro, CREA-SP n° 0600678873

José Marques Carriço, arquiteto, CREA-SP n° 0601353380

Fernando Fabrini Machado de Almeida, geólogo, CREA-SP n° 5060090130

Mayra Macchi Gomes de Moraes, estagiária de Geologia

Equipe executiva

Prefeitura Municipal de São Vicente

Diego Costa Rozo Guimarães - Chefe do Departamento de Desenvolvimento de Projetos Habitacionais – SEHAB

Juliana Pereira Nascimento - Chefe do Departamento de Urbanização de Assentamentos Subnormais – SEHAB

Augusto Pedroso Filho - Chefe do Departamento de Acompanhamento e Fiscalização de Obras – SEHAB

Marcos Paulo Santiago Martins - Agente Operacional da Defesa Civil

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente

Page 3: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

Índice de Quadros

Quadro 1. Relação e localização das áreas selecionadas .....................................5

Quadro 2. Características dos movimentos de massa mais freqüentes nas encostas brasileiras ..............................................................................................11

Índice de Figuras

Figura 1. Encosta marginal linear sustentada pelo granito Santos, a montante da Rua da Constituição..............................................................................................13

Fotos

Fernando Fabrini Machado de Almeida - planejamento e execução do vôo e fotos oblíquas de baixa altitude.

Waldemar Siqueira Filho - fotos de campo.

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente

Page 4: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

Sumário

1. Introdução............................................................................................................4

2. Referencial Teórico-Conceitual...........................................................................6

2.1. Riscos geológico-geotécnicos e sua gestão..................................................6

2.2. Geologia e geomorfologia das áreas estudadas.........................................12

3. Metodologia e Procedimentos Empregados......................................................14

4. Resultados do diagnóstico de riscos.................................................................23

Anexos...................................................................................................................24

Anexo 1. Mapa de localização das áreas estudadas............................................25

Anexo 2. Quadro síntese do diagnóstico de riscos...............................................26

Anexo 3. Mapeamento de riscos...........................................................................31

Referências Bibliográficas...................................................................................135

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente

Page 5: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

1. Introdução

Este relatório apresenta o

diagnóstico de riscos geológico-geotécnicos associados a escorregamentos em

encostas do município de São Vicente, estado de São Paulo, e a proposição das

intervenções necessárias para sua redução ou erradicação. Trata-se do segundo

produto na elaboração do Plano Municipal de Redução de Riscos de São

Vicente – PMRR, objeto do Contrato N˚ 145/08, Processo Administrativo nº

21537/08. Este estudo se insere no convênio firmado entre a Prefeitura Municipal

de São Vicente (PMSV) e a Caixa Econômica Federal/ Ministério das Cidades,

por meio do Programa de Urbanização, Regularização e Integração de

Assentamentos Precários/Ação de Apoio à Prevenção e Erradicação de Riscos

em Assentamentos Precários.

O Plano Municipal de Redução de Risco (PMRR) tem por objetivo a

construção de referenciais técnicos e gerenciais que possibilitem à Prefeitura

Municipal implementar intervenções estruturais e ações não estruturais

necessárias à erradicação das situações de riscos associados a escorregamentos

em encostas.

Entende-se aqui por risco (R) a probabilidade (P) de ocorrer um acidente

associado a um determinado perigo ou ameaça (A), que possa resultar em

conseqüências (C) danosas às pessoas ou bens, em função da vulnerabilidade

(V) do meio exposto ao perigo e que pode ter seus efeitos reduzidos pelo grau de

gerenciamento (g) administrado por agentes públicos ou pela comunidade. Ou

seja:

R = P (ƒ A) * C (ƒ V) * g –1

Nas áreas de assentamento urbano precário e/ou irregular, em função de

sua alta vulnerabilidade, geralmente determinada, entre outros fatores, pela forma

ou localização inadequada da ocupação, pela ausência de infra-estrutura urbana

(drenagem, pavimentação, saneamento) e de serviços básicos (coleta de lixo,

redes elétrica e hidráulica etc.) e pela degradação do ambiente associada, é

freqüente o registro de riscos ambientais, especialmente aqueles de natureza

geológico-geotécnicos.

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 4

Page 6: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

Este trabalho enfoca prioritariamente as situações de risco associadas a

processos atuantes de instabilização de taludes em encostas que possam afetar a

segurança de moradias implantadas nos assentamentos precários e irregulares

do município, mas também engloba algumas áreas da cidade formal e regular e

perigos que podem afetar a infra-estrutura urbana.

As seguintes áreas com potencialidade de apresentarem situações de

riscos associados a escorregamentos em encostas no município de São Vicente

foram indicadas pela Prefeitura, vistoriadas e analisadas neste estudo (ver mapa

do Anexo 1 (p. 4):

Quadro 1. Relação e localização das áreas selecionadas

N˚ Nome da área Localização

1 Morro da Asa DeltaMorro Itararé - divisa com Santos

23˚57'58.12'' S 46˚21'25.76'' O

2 Rua da ConstituiçãoRua da Constituição/ Rua Coaracy Paranhos

23˚58’09.38’’ S 46˚21'51.87'' O

3Clube Itararé/ Concretex

Complexo Viário Roberto Mário Santini/ Rua Marechal Deodoro

23˚58'07.34'' S 46˚22'09.32'' O

4 Carrefour Rua San Martin - Viela San Martin

23˚57'52.88'' S 46˚22'07.54'' O

5 Bananal Av. Juiz de Fora - Horto Florestal

23˚57'40.90'' S 46˚21'55.89'' O

6Morro Voturuá/ Linha Vermelha

Rua Monteiro Lobato com Rua Cinco

23˚57'27.78'' S 46˚22'10.62'' O

7 Ilha Porchat - 23˚58'29.22'' S 46˚22'15.62'' O

8 Morro dos BarbosasAv. Getulio Vargas/Rua Newton Prado/ Rua do Colégio

23˚58'14.99'' S 46˚23'10.85'' O

9 Parque PrainhaAv. Saturnino de Brito / Rua Benedito Calixto

23˚58'40.05'' S23˚58'40.19'' S

46˚23'14.67'' O46˚23'14.86'' O

10 CurtumeAv. Tupiniquins ~600, pouco à frente do Porto das Naus

23˚58'29.21'' S 46˚23'29.21'' O

11 JapuiRua Joaquim Barbosa dos Santos

23˚59'14.72'' S 46˚23'30.06'' O

12 AcarauEstrada do Acarau - Área Continental

23˚56'18.91'' S 46˚23'29.21'' O

Fonte: Elaboração própria, 2009.

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 5

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2. Referencial Teórico-Conceitual

2.1. Riscos geológico-geotécnicos e sua gestão.

Risco é a potencialidade de que ocorra um acidente, um desastre, um

evento físico que resulte em perdas e danos sociais ou econômicos. A geógrafa

francesa Yvette Veyret (2007) define risco, objeto social, como a percepção do

perigo ou da catástrofe possível. Considera que ele existe apenas em relação a

uma sociedade que o apreende por meio de representações mentais e com ele

convive por meio de práticas específicas. Não há riscos, portanto, sem uma

população que o perceba e que poderia sofrer seus efeitos. Para esta autora, a

gestão de riscos traduz as escolhas políticas e as decisões finais de organização

dos territórios, a prevenção constituindo o coração da análise.

Acidente geológico ou geotécnico é definido como a ocorrência de um

evento adverso (evento perigoso) de natureza geológica (processo envolvendo o

solo, a rocha e/ou a água) ou de natureza geotécnica (comportamento do solo ou

da rocha ante uma intervenção antrópica), que tenha provocado conseqüências

danosas a uma população (pessoas, estruturas físicas, sistemas produtivos) ou a

um segmento da mesma.

A partir deste conceito, entende-se que risco geológico ou geotécnico

corresponde a uma condição potencial de ocorrência de um acidente, ou seja,

uma situação na qual a possibilidade de ocorrência de um processo geológico ou

de um comportamento geotécnico indica a possibilidade de registro de

conseqüência social e/ou econômica caso o evento perigoso ocorra. Desse modo,

conceitualmente, só há risco quando há alguma possibilidade de perda ou dano.

A equação mais simples e didática utilizada para representar risco é:

R = P x C

sendo: R = risco;

P = probabilidade (ou possibilidade) de ocorrência de um determinado

evento adverso (evento perigoso);

C = conseqüências sociais e/ou econômicas potencias.

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 6

Page 8: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

A grande maioria das equações de risco propostas por diferentes autores é

representada pelo produto entre dois ou mais termos. Tal fato se deve ao conceito

matemático denominado “convolução”, que indica concomitância e mútuo

condicionamento desses termos (CARDONA, 2001). Assim, sendo nulo um dos

termos da equação (probabilidade ou conseqüências), o risco também é nulo.

Um evento adverso potencial identificado (perigo) sempre deve estar

associado a um processo geológico ou geotécnico atuante no assentamento

precário estudado.

Esses processos no ambiente urbano podem ser resultados de causas

naturais ou antrópicas, mas a geração dos riscos associados a eles é sempre um

processo social ou ambiental urbano (NOGUEIRA, 2002).

Os escorregamentos e solapamentos urbanos podem movimentar, além de

rochas, solo e vegetação, depósitos artificiais (lixo, aterros, entulhos) ou materiais

mistos, caracterizando processos geológicos, geomórficos ou geotécnicos.

Marques de Castro et al (2005) consideram que risco pode ser tomado

como uma categoria de análise associada, a priori, às noções de incerteza,

exposição ao perigo, perda e prejuízos materiais, econômicos e humanos em

função de processos de ordem "natural", tais como os processos exógenos e

endógenos da Terra, e/ou daqueles associados ao trabalho e às relações

humanas. O risco (lato sensu) refere-se, portanto, à probabilidade de ocorrência

de processos no tempo e no espaço, não constantes e não-determinados, e à

maneira como estes processos afetam (direta ou indiretamente) a vida humana.

No que se refere aos riscos de natureza geológica, é comum que as

atividades que resultam na identificação e análise ou avaliação dos riscos sejam

realizadas por meio de investigações geológico-geotécnicas de campo. Tais

investigações requerem que sejam consideradas tanto a probabilidade, ou

possibilidade, de ocorrência do evento adverso quanto às conseqüências sociais

e/ou econômicas associadas, que no caso do presente estudo, são os processos

de instabilização associados a escorregamentos em encostas.

No que concerne às consequências, Carvalho (2000, p. 52) afirma que

sua avaliação “[...] envolve sempre um julgamento a respeito dos elementos em

risco e de sua vulnerabilidade. É comum que nas análises de risco em favelas

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 7

Page 9: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

apenas as moradias sejam consideradas como elementos em risco” (grifo

nosso).

Certamente essa simplificação na consideração das conseqüências se

deve à dificuldade encontrada pelos profissionais que abordam os aspectos

físicos dos riscos geológicos, em melhor caracterizar os elementos e fatores

inerentes a essa componente da análise de riscos.

Nogueira (2002) descreve que a consequência

decorrente de um acidente é função da vulnerabilidade; esta dependente da

suscetibilidade das pessoas e/ou bens serem afetados, assim como da

“resiliência” dos elementos expostos. O termo “resiliência” empregado se apóia

em um conceito da Física que, aplicado à área de risco, se traduz na capacidade

de resposta de uma determinada população a um eventual acidente.

Já em termos da probabilidade (ou possibilidade) de ocorrência do

processo perigoso, verifica-se o desenvolvimento de pesquisas visando uma

determinação quantitativa em muitos centros europeus, norte-americanos e

brasileiros de atuação na prevenção de acidentes geológicos.

Entretanto, é importante lembrar que Nardocci afirma que

mesmo que o cálculo da probabilidade de ocorrência de um evento seja preciso, exato, será apenas uma probabilidade. Medir com precisão a probabilidade de ocorrência de um evento não trará a certeza de ocorrência ou não desse evento, tampouco permitirá conhecer-se o momento em que ocorrerá. (NARDOCCI, 1999, p. 49)

O Working Group - Committee on Risk Assessment - IUGS (1997)

reconhece dois grandes tipos de abordagens para a realização da análise de risco

de escorregamentos: a) análise qualitativa e b) análise quantitativa. Considera

ainda que os riscos resultantes das análises qualitativas possam ser expressos

por diferentes níveis ou graus, escalonados. Nas análises de risco qualitativas

mais sofisticadas, pode existir o incremento de um componente quantitativo dos

parâmetros técnicos analisados (indicadores), mesmo que estes números

resultem da experiência e do julgamento de especialistas.

Morgenstern (1997) afirma que análises qualitativas, conduzidas por

métodos de hierarquização de riscos relativos variam em detalhamento e

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 8

Page 10: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

complexidade e, muitas vezes, satisfazem as necessidades práticas de gestores,

fornecendo elementos para a mitigação dos riscos identificados.

Carvalho, considerando a prática atual, descreve que

[...] a maneira mais simples de se tratar a probabilidade em análises de risco consiste em se atribuir, à possibilidade de ocorrência do processo de instabilização, níveis definidos de forma literal (possibilidade de ocorrência baixa, média ou alta, por exemplo). Esta é a base para as análises de risco de caráter qualitativo, em que um profissional experiente avalia o quadro de condicionantes e indícios da ocorrência do processo de instabilização, compara as situações encontradas com modelos de comportamento e, baseado em sua experiência, hierarquiza as situações de risco em função da possibilidade de ocorrência do processo num determinado período de tempo [geralmente um ano]. (CARVALHO, 2000, p. 54),

Cerri (1993) discorre sobre as características dos mapeamentos de risco

de escorregamentos em encostas ocupadas. Resumidamente, o autor citado

descreve que os trabalhos de mapeamento de risco de escorregamentos em

encostas ocupadas podem ser realizados em dois níveis de detalhe distintos: o

zoneamento de risco e o cadastramento de risco.

No zoneamento de risco são delimitadas áreas – ou setores – nos quais se

encontram instaladas várias moradias. Para cada área ou setor identificado é

atribuído um mesmo grau de risco, muito alto, por exemplo. Esse grau de risco é

atribuído para todo o setor, embora possa haver algumas moradias em meio a

essa área que não apresentem risco tão elevado e, eventualmente, ocorrem

moradias até mesmo sem risco.

Já no cadastramento de risco de escorregamentos em encostas

ocupadas, os trabalhos de mapeamento são executados em grau de detalhe bem

maior que nos casos de zoneamentos, sendo que os riscos são identificados e

analisados moradia por moradia. No presente estudo, na maioria das áreas, foi

possível detalhar as informações do zoneamento de risco de tal maneira que, em

quase todas as situações, aproxima-se de um cadastramento.

Em Geologia de Engenharia, a avaliação da probabilidade (ou

possibilidade) de um determinado fenômeno físico ocorrer em um local e período

de tempo definidos, leva em conta as características específicas do processo

perigoso em questão, especialmente a sua tipologia, mecanismo, material

envolvido, magnitude, velocidade, tempo de duração, trajetória, severidade etc.

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 9

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BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

Essa caracterização se faz, inicialmente, por meio de investigações

geológico-geotécnicas de campo, que ainda contemplam a identificação dos

condicionantes naturais e induzidos dos processos perigosos, o reconhecimento

de indícios de desenvolvimento dos processos perigosos, bem como de feições e

evidências de instabilidades.

Escorregamentos, na definição de Infanti e Fornasari Filho (1998),

consistem no movimento rápido de massas de solo ou rocha, geralmente bem

definidos quanto ao seu volume, cujo centro de gravidade se desloca para baixo e

para fora de um talude (natural, de corte ou de aterro).

Guidicini e Nieble (1984) definem escorregamentos como movimentos

rápidos, apresentado superfície de ruptura bem definida, de duração

relativamente curta, de massas de terreno geralmente bem definidas quanto ao

seu volume, cujo centro de gravidade se desloca para baixo e para fora do talude.

Para Carvalho (1996), escorregamentos podem ser definidos como

movimentos coletivos de solo ou rocha em que a massa instabilizada desliza

sobre uma superfície claramente delimitada no maciço estável, envolvendo um

volume bem definido de material.

No sentido mais amplo, no entanto, o termo escorregamento congrega

vários processos que apresentam características distintas, embora todos eles

sejam resultantes da ação da gravidade. Dentre esses processos tem-se os

escorregamentos (slides) propriamente ditos, os rastejos (creep), as quedas de

bloco (falls), os rolamentos de matacões, os tombamentos e as corridas (flows).

Por este motivo, é comum observar a utilização do termo “escorregamentos e

processos correlatos” para se referir ao conjunto de processos citados, conforme

Cerri, (1993, p. 57).

Apresenta-se no Quadro 2, baseado em Augusto Filho (1992), uma

classificação simples de escorregamentos e processos correlatos, de fácil

utilização na caracterização dos processos.

Mesmo reconhecendo-se as eventuais limitações, imprecisões e incertezas

inerentes à análise qualitativa de riscos, os resultados dessa atividade podem ser

decisivos para a eficácia de uma política de intervenções voltada à consolidação

da ocupação. Para tanto, é imprescindível a adoção de métodos, critérios e

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 10

Page 12: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

procedimentos adequados, assim como a construção de detalhados modelos de

comportamento dos processos perigosos.

O mapeamento dos riscos é a primeiro e indispensável atividade para que

um município possa organizar suas políticas públicas para a gestão dos riscos a

que está sujeito. Para Augusto Filho (2001), este é um dos fundamentos do

gerenciamento de riscos: a existência de técnicas que permitem identificá-los e

avaliá-los.

Quadro 2. Características dos movimentos de massa mais freqüentes nas encostas brasileiras.

PROCESSOS CARACTERÍSTICAS DO MOVIMENTO/MATERIAL/GEOMETRIA

RASTEJOS (CREEP)

Vários planos de deslocamento (internos Velocidades muito baixas (cm/ano) a baixas e decrescentes com a

profundidade Movimentos constantes, sazonais ou intermitentes. Solo,depósitos, rocha alterada e/ou fraturada. Geometria indefinida

ESCORREGA-MENTOS(SLIDES)

Poucos planos de deslocamento (externos Velocidades médias (m/h) a altas (m/s) Pequenos a grandes volumes de material Geometria e materiais variáveis:

planares ou translacionais : solos pouco espessos, solos e rochas com um plano de fraqueza;

circulares ou rotacionais : aterros, solos espessos homogêneos e rochas muito fraturadas;

em cunha : solos e rochas com dois planos de fraqueza.

QUEDAS (FALLS)

Sem planos de deslocamento Queda livre ou rolamento através de plano inclinado Velocidades muito altas (vários m/s) Material rochoso Pequenos e médios volumes Geometria variável: lascas, placas, placas, blocos, etc.

ROLAMENTO DE MATACÃO TOMBAMENTO DESPLACAMENTO

CORRIDAS(FLOWS)

Muitas superfícies de deslocamento (internas e externas à massa em movimentação)

Movimento semelhante ao de um líquido viscoso Desenvolvimento ao longo das drenagens Velocidades médias a altas Mobilização de solo, rochas, detritos e água. Grandes volumes de material Extenso raio de alcance, mesmo em áreas planas.

Fonte: Modificado de Augusto Filho (1992, p. 723).

A gestão de riscos é um processo que se inicia quando a sociedade, ou

parcela desta, adquire a percepção de que as manifestações aparentes ou

efetivas de um processo adverso existente podem provocar consequências

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 11

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BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

danosas superiores ao admissível por esta comunidade. Esta envolve o

planejamento e a aplicação de políticas, estratégias, instrumentos e medidas

orientadas a impedir, reduzir, prever e controlar os efeitos adversos de fenômenos

perigosos sobre a população, os bens e serviços e o meio ambiente.

De acordo com a agência das Nações Unidas voltada para a redução de

desastres (United Nations Disasters Relief Office – UNDRO, 1991), o

gerenciamento de riscos ambientais deve estar apoiado em quatro estratégias de

ação:

1. Identificação e análise dos riscos (mapeamento dos riscos);

2. planejamento e implementação de intervenções (obras e serviços) para a

erradicação ou redução dos riscos;

3. monitoramento permanente das áreas de risco e implantação de planos

preventivos de defesa civil;

4. informação pública e capacitação para ações preventivas e autodefesa.

Como indicado no Plano de Trabalho, estas quatro estratégias deverão

nortear os estudos a serem desenvolvidos e as proposições finais deste plano

estratégico para redução dos riscos geológico-geotécnicos município de São

Vicente.

2.2. Geologia e geomorfologia das áreas estudadas.

Todas as áreas estudadas, com exceção da área 12, localizam-se em

encostas ou no sopé de morros do maciço de Santos e São Vicente. Este maciço

pertence ao mesmo conjunto definido pela serra do Mar. E, como ela, tem nos

escorregamentos seu principal mecanismo natural atual de evolução do relevo

(IPT, 1979).

Predominam nessas encostas a seguinte litologia:

Granito Santos - constitui a rocha predominante nas encostas onde ou a

jusante de qual se situam as áreas 1 a 6. Trata-se de um granito intrusivo,

não orientado, de coloração bege a rósea e granulação fina a média. É a

litologia mais resistente à erosão, apresentando geralmente solos rasos.

Os processos mais frequentes de escorregamentos em encostas deste

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 12

Page 14: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

material estão associados a desplacamentos ou quedas de blocos e lascas

rochosas.

Granitóide embrechítico ou granito com megacristais orientados – estão

presentes nas encostas a montante da Rua Coaracy Paranhos (área 2), e

nas áreas 8 a 11. São rochas com grandes cristais alongados de feldspato

branco a róseo, em matriz de gnaisse, cinzenta, orientada, com granulação

média a grossa. A alteração destas rochas resulta em solos pouco

espessos, matacões esparsos e lajes expostas na crista dos maciços.

Pode-se observar, por exemplo, no Morro dos Barbosas, um solo de

alteração com muitos blocos rochosos centimétricos imerso nesta matriz.

Migmatitos estromatíticos, que compõe o maciço da Ilha Porchat (área 7), que

também é cortado por dique de diabásio. Os migmatitos são rochas

bandadas, com os minerais orientados, de coloração cinza e granulação

média a fina. Ao se decompor, formam solos espessos, com até pouco

mais de 10 metros, formando raramente matacões. Quando estas rochas

aparecem à meia encosta, possibilitam a formação de reentrâncias e

patamares que, quando acumulam material detrítico, geram depósitos de

encosta instáveis.

Nos morros de Santos e São Vicente é possível se classificar as encostas

em dois grupos: aquelas voltadas para as planícies alveolares, como a da Nova

Cintra, em Santos; e as encostas marginais, voltadas para as planícies costeiras.

Nestas encostas marginais se reconhecem duas formas básicas: os anfiteatros de

erosão e as encostas lineares (IPT, 1979).

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 13

Page 15: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

Figura 1. Encosta marginal linear sustentada pelo granito Santos, a montante da Rua da Constituição.Autor: Fernando Fabrini Machado de Almeida (2008).

3. Metodologia e Procedimentos Empregados

O Programa de Controle e Erradicação de Riscos do Ministério das

Cidades propõe:

[...] a adoção de um método de análise de risco de caráter qualitativo, em que a experiência dos técnicos encarregados da análise é utilizada para estimativa da probabilidade de ocorrência dos eventos destrutivos e das suas conseqüências potenciais. Nas análises qualitativas de risco, a probabilidade de ocorrência dos eventos destrutivos é avaliada de forma subjetiva e expressa em termos literais (por exemplo: muito alta, alta, média ou baixa). Uma vez que a probabilidade de ocorrência do processo destrutivo depende do período de tempo considerado, considera-se nas análises o período de um ano, que engloba ao menos uma estação chuvosa. Assim, ao estimar a probabilidade de ocorrência dos eventos destrutivos, os técnicos encarregados da análise avaliam a probabilidade de ocorrência do evento destrutivo por ocasião de um episódio de chuvas intensas e prolongadas. (BRASIL, 2004, p. 2)

O procedimento proposto compreende: (a) a avaliação qualitativa da

probabilidade de ocorrência do processo destrutivo no decorrer de um episódio de

chuvas intensas e prolongadas, realizada a partir dos indicadores de instabilidade,

de evidências de ocorrências pretéritas de eventos destrutivos e de entrevistas

com moradores; e, (b) a definição do grau de probabilidade do setor, expressão

qualitativa da probabilidade de ocorrência do processo destrutivo.

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 14

Page 16: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

Para a definição do grau de probabilidade de ocorrência de acidentes nas

situações de riscos associados a escorregamentos e solapamentos, o documento

propõe os critérios do Quadro 3 apresentado a seguir.

Quadro 3. Critérios para definição do grau de probabilidade de ocorrência de processos de instabilização do tipo escorregamentos em encostas ocupadas.

Grau de probabilidade

Descrição

Baixo a inexistente

(R1)

Os condicionantes geológico-geotécnicos predisponentes (declividade, tipo de terreno etc.) e o nível de intervenção no setor são de baixa potencialidade para o desenvolvimento de processos de escorregamentos. Não há indícios de desenvolvimento de processos de instabilização de encostas. É a condição menos crítica.

Mantidas as condições existentes, não se espera a ocorrência de eventos destrutivos no período de um ciclo chuvoso.

Médio (R2)

Os condicionantes geológico-geotécnicos predisponentes (declividade, tipo de terreno etc.) e o nível de intervenção no setor são de baixa potencialidade para o desenvolvimento de processos de escorregamentos. Observa-se a presença de alguma(s) evidência(s) de instabilidade, porém incipiente(s).

Mantidas as condições existentes, é reduzida a possibilidade de ocorrência de eventos destrutivos durante episódios de chuvas intensas e prolongadas, no período de um ciclo chuvoso.

Alto (R3)

Os condicionantes geológico-geotécnicos predisponentes (declividade, tipo de terreno, etc.) e o nível de intervenção no setor são de alta potencialidade para o desenvolvimento de processos de escorregamentos. Observa-se a presença de significativa(s) evidência(s) de instabilidade (trincas no solo, degraus de abatimento em taludes etc.).

Mantidas as condições existentes, é perfeitamente possível a ocorrência de eventos destrutivos durante episódios de chuvas intensas e prolongadas, no período de um ciclo chuvoso.

Muito Alto (R4)

Os condicionantes geológico-geotécnicos predisponentes (declividade, tipo de terreno, etc.) e o nível de intervenção no setor são de alta potencialidade para o desenvolvimento de processos de escorregamentos. As evidências de instabilidade (trincas no solo, blocos e lascas rochosas individualizados, fraturamento do maciço rochoso, degraus de abatimento em taludes, trincas em moradias ou em muros de contenção, árvores ou postes inclinados, cicatrizes de escorregamento, feições erosivas, etc.) são expressivas e estão presentes em grande número e/ou magnitude.

É a condição mais crítica. Mantidas as condições existentes, é muito provável a ocorrência de eventos destrutivos durante episódios de chuvas intensas e prolongadas, no período de um ciclo chuvoso.

Os trabalhos de campo constituem-se basicamente em

investigações geológico-geotécnicas de superfície, buscando identificar

condicionantes dos processos de instabilização, evidências de instabilidade e

indícios do desenvolvimento de processos destrutivos. Os procedimentos

seguintes são recomendados por Cerri et al (2007):

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 15

Page 17: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

Obter a localização das áreas de risco, por meio de utilização de GPS (Global

Positioning System), com no mínimo um ponto de leitura por área

mapeada;

delimitar setores de risco, com base em julgamento dos profissionais

responsáveis, atribuindo, para cada setor, um grau de probabilidade de

ocorrência de processo de instabilização (escorregamento de encostas ou

solapamento de margens de córregos), considerando o período de um ano,

com base nos critérios descritos no Quadro 1;

um setor de risco indica um espaço definido dentro do assentamento sujeito a

um determinado processo destrutivo potencial, cujas evidências ou

indicadores predisponentes foram identificados em campo;

representar cada setor de risco identificado em cópias de fotografias aéreas

oblíquas de baixa altitude, imagens de satélite ou fotografias de solo, cuja

escala permita a identificação das moradias existentes no setor;

estimar as conseqüências potenciais do processo de instabilização, por meio

da avaliação das possíveis formas de desenvolvimento do processo

destrutivo atuante (por exemplo, volumes mobilizados, trajetórias dos

detritos, áreas de alcance etc.), definir e registrar o número de moradias

ameaçadas (total ou parcialmente), em cada setor de risco;

os resultados das investigações geológico-geotécnicas e das interpretações

devem ser registrados em fichas de campo apresentadas abaixo (Quadro 4

e Quadro 5). O Quadro 6 e o Quadro 7 servem como referência para a

análise de campo.

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 16

Page 18: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

Quadro 4. Ficha geral de campo para uma área

FICHA GERAL DE CAMPOLocal: ______________________________________ Área: ___

Equipe: _____________________________________ Data: __/__/__

Localização da Área: ___________________________ GPS: _________________

Identificação da Foto Oblíqua: ____________

Caracterização da Ocupação (padrão, tipologia das edificações, infra-estrutura):

Caracterização Geológica:

Caracterização Geomorfológica:

Setor nº

Grau de probabilidade

Nº de moradias ameaçadas Alternativa de intervenção

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 17

Page 19: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

Quadro 5. Ficha de campo para um setor de risco

FICHA DE CAMPO Encosta

Margem de Córrego

Local: __________________________________ Área nº:_______ Setor: ____________

Referência _________________________________________________________________

Equipe: ___________________________________________________ Data: __ / __ / ____

Diagnóstico do setor (condicionantes e indicadores do processo de instabilização):

Descrição do Processo de Instabilização: (escorregamento de solo / rocha / aterro; naturais / induzidos; materiais mobilizados; solapamento; ação direta da água etc):

Observações (incluindo descrição de fotos obtidas no local):

Grau de Probabilidade:

Indicação de intervenção:

Quantitativos para a intervenção sugerida:

Estimativa de n° de edificações no setor:

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 18

Page 20: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

Quadro 6. Check list para o diagnóstico do setor e descrição do processo de instabilização

CARACTERIZAÇÃO DO LOCALTalude natural/ corteAltura do talude Aterro compactado/lançadoDistância da moradiaDeclividadeEstruturas em solo/rocha desfavoráveis Presença de blocos de rocha/matacões/ paredões rochososPresença de lixo/entulhoAterro em anfiteatroOcupação de cabeceira de drenagem

EVIDÊNCIAS DE MOVIMENTAÇÃOTrincas moradia/aterroInclinação de árvores/postes/murosDegraus de abatimentoCicatrizes de escorregamentosFeições erosivasMuros/paredes “embarrigados”

ÁGUAConcentração de água de chuva em superfícieLançamento de água servida em superfíciePresença de fossas/rede de esgoto/rede de águaSurgências d’águaVazamentos

VEGETAÇÃO NO TALUDE OU PROXIMIDADES

Presença de árvores Vegetação rasteiraÁrea desmatadaÁrea de cultivo

MARGENS DE CÓRREGOTipo de canal (natural/sinuoso/retificado)Distância da margemAltura do talude marginalAltura de cheiasTrincas na superfície do terreno

Quadro 7. Referências para a caracterização da ocupação

CATEGORIA DE OCUPAÇÃO CARACTERÍSTICAS

Área consolidadaÁreas densamente ocupadas, com infra-estrutura básica.

Área parcialmente consolidada

Áreas em processo de ocupação, adjacentes a áreas de ocupação consolidada. Densidade da ocupação variando de 30% a 90%. Razoável infra-estrutura básica.

Área parceladaÁreas de expansão, periféricas e distantes de núcleo urbanizado. Baixa densidade de ocupação (até 30%). Desprovidas de infra-estrutura básica

Área mistaNesses casos, caracterizar a área quanto a densidade de ocupação e quanto a implantação de infra-estrutura básica.

Ainda em campo, também deverão ser indicada(s) a(s) alternativa(s)

de intervenção(ões) adequada(s) para cada setor de risco. Nos casos de ser

possível a adoção de mais de uma alternativa de intervenção, essa possibilidade

deve ser explicitada nas fichas de campo.

Também devem estar registrados na ficha de campo os

quantitativos (como extensões, áreas e/ou volumes) para posterior estimativa de

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 19

Page 21: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

custos da intervenção sugerida. A tipologia das intervenções a ser adotada é

apresentada no Quadro 8.

Quadro 8. Tipologia de intervenções voltadas à redução de riscos associados a escorregamentos em encostas ocupadas e a solapamentos de margens de córregos

TIPO DE INTERVENÇÃO

DESCRIÇÃO

SERVIÇOS DE LIMPEZA E RECUPERAÇÃO

Serviços de limpeza de entulho, lixo etc. Remoção de bananeiras. Recuperação e/ou limpeza de sistemas de drenagem, esgotos e acessos. Também incluem obras de limpeza de canais de drenagem. Correspondem a serviços manuais e/ou utilizando maquinário de pequeno porte.

OBRAS DE DRENAGEM E PROTEÇÃO SUPERFICIAL

Implantação de sistema de drenagem superficial (canaletas, rápidos, caixas de transição, escadas d´água etc.). Implantação de proteção superficial vegetal (gramíneas) ou biomanta em taludes com solo exposto. Implantação de proteção superficial por meio de “argamassa chapada”. Eventual execução de acessos para pedestres, como por ex. calçadas, escadarias, lajes de concreto, integrados ao sistema de drenagem. Proteção vegetal de margens de canais de drenagem. Predomínio de serviços manuais e/ou com maquinário de pequeno porte.

RETALUDAMENTO

Alteração da geometria do terreno por meio da execução de cortes e/ou aterros localizados, visando à obtenção de taludes com ângulos de inclinação menores. Predomínio de serviços manuais e/ou com maquinário de pequeno porte.

DESMONTE DE BLOCOS E MATACÕES

Desmonte de blocos rochosos e matacões, por meio de serviços manuais, eventualmente com o uso de explosivo.

OBRAS DE DRENAGEM DE SUBSUPERFÍCIE

Execução de sistema de drenagem de subsuperfície (trincheiras drenantes, DHP, poços de rebaixamento etc.). Correspondem a serviços parcial ou totalmente mecanizados.

OBRAS DE TERRAPLE-NAGEM DE MÉDIO A GRANDE PORTE

Execução de serviços de terraplenagem. Execução combinada de obras de drenagem superficial e proteção vegetal (obras complementares aos serviços de terraplenagem). Obras de desvio e canalização de córregos. Predomínio de serviços mecanizados.

ESTRUTURAS DE CON-TENÇÃO DE PEQUENO PORTE (hmax ≤ 3 m)

Implantação de estruturas de contenção (localizadas ou não), como muros a flexão (em concreto ou alvenaria estrutural), muros de gravidade, como gabiões, “bolsacreto”, muro de solo cimento ensacado (“rip-rap”), muros sobre estacas escavadas. Correspondem a serviços manuais ou parcialmente mecanizados.

ESTRUTURAS DE CON-TENÇÃO DE MÉDIO A GRANDE PORTES(hmax > 3 m)

Implantação de estruturas de contenção (localizadas ou não), envolvendo muros em concreto a flexão, muros de gravidade (gabiões), chumbadores, solo grampeado, microestacas e cortinas atirantadas. Poderão envolver serviços complementares de terraplenagem. Predomínio de serviços mecanizados.

OBRAS LINEARES DE PROTEÇÃO DE MARGENS DE CANAIS

Obras lineares de proteção de margens de canais, por meio de obras de gravidade (gabiões, muros de concreto, massa etc.) ou pré-moldados em concreto armado. Correspondem a serviços parcial ou totalmente mecanizados.

REMOÇÃO DE MORADIAS

As remoções podem ser definitivas ou preventivas e temporárias, por exemplo, para implantação de uma obra.

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 20

Page 22: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

A seleção da tipologia de intervenção adequada deve necessariamente

buscar uma perfeita sintonia com as características do processo geológico-

geotécnico identificado no local. Isto implica na necessidade de se buscar a

aderência entre o tipo de processo geológico-geotécnico e a intervenção

escolhida, bem como a combinação das intervenções gerais propostas para o

assentamento com as sugestões de obras localizadas.

Deve-se, também, buscar a indicação das obras mais simples, de menor

custo e mais compatíveis com a capacidade gerencial-financeira do município,

visando à redução de risco.

Utilizando as referências acima apresentadas, o diagnóstico de

riscos foi executado conforme se relata a seguir:

No dia 12 de novembro de 2008, junto ao arquiteto Diego Costa Rozo

Guimarães, Chefe do Departamento de Desenvolvimento de Projetos

Habitacionais e Tânia Mangolini, Diretora de Participação Comunitária da

Secretaria Municipal de Habitação, foram vistoriadas e delimitadas todas

as áreas a serem estudadas. Em pontos extremos de cada área foram

realizadas leituras de coordenadas com GPS (Global Positioning System).

As áreas foram numeradas e sua denominação foi pactuada com os

técnicos municipais que acompanharam os trabalhos (ver Quadro 1).

No dia 1° de dezembro p. p. foi realizado um sobrevôo em avião sobre as

áreas indicadas acima, para execução de fotografias aéreas de baixa

altitude (a alturas em média entre 100 a 150 metros do solo).

Cópias das fotos obtidas neste vôo foram impressas para os trabalhos de

campo.

Os trabalhos de campo foram realizados entre os dias 9 e 18 de dezembro de

2008. Todas as atividades de campo foram acompanhadas por técnicos da

PMSV, cujos nomes constam das fichas de campo anexas, e que tiveram o

importante papel de relatar características da ocupação, indicar pontos de

ocorrência pretérita de acidentes e outros problemas ambientais e facilitar

contatos com os moradores.

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 21

Page 23: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

Em cada uma das áreas, foram vistoriadas todas as porções do assentamento

que ocupam taludes de encosta ou o seu sopé, com maior detalhamento

de investigação e análise nos trechos com histórico de ocorrência de

instabilidades nos taludes ou de acidentes.

Em cada uma das situações onde se identificava potencialidade para a

ocorrência de um acidente que pudesse afetar uma ou mais moradias, foi

realizada detalhada investigação no terreno circundante e nas porções

internas e externas das edificações, além de coleta de informações junto

aos técnicos da Prefeitura que acompanhavam o trabalho de campo e aos

moradores do local, procurando responder as seguintes questões: (1) que

processos naturais ou da ação humana são responsáveis por este perigo?

(2) em que condições a sua evolução poderá produzir um acidente? (3)

qual a probabilidade deste fenômeno físico acontecer? (NOGUEIRA, 2006)

(4) quais as moradias que podem ser afetadas se isso ocorrer?

Imediatamente após responder estas questões, buscavam-se alternativas

de ações preventivas e intervenções estruturais que pudessem interromper

o processo destrutivo detectado ou minimizar suas consequências.

Tendo formulado uma proposta de intervenção, ainda em campo colhiam-se

algumas indicações quantitativas que permitissem a posterior estimativa de

custos para a sua execução (medidas em comprimento, altura, área,

volume etc.)

Essas informações foram lançadas (a) nas fotografias aéreas de baixa altitude

foram lançadas: delimitação do setor de risco (moradias que podem ser

afetadas pelo processo destrutivo identificado) e indicação de eventual

aspecto significativo do processo (como, por exemplo, cicatrizes de

escorregamento, blocos rochosos, linhas de drenagem etc.), além da

denominação das vias de referência para a localização do setor; em alguns

setores, foram também indicadas nas fotografias aéreas de baixa altitude

as intervenções estruturais propostas; (b) nas fichas gerais e de campo

(ver Quadro 4 e Quadro 5).

Condicionantes ou evidências de risco foram registrados por fotografias de

detalhe (FC).

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 22

Page 24: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

4. Resultados do diagnóstico de riscos

Nas 12 áreas selecionadas para o mapeamento, foram delimitados 19 setores

de risco (ver Anexo 2, p. 26), afetando 113 edificações (uni e

multifamiliares) e 3 pontos do sistema viário;

Em três áreas (Carrefour, Bananal e Acarau) considerou-se o risco às

moradias baixo a inexistente;

Foram identificados três setores de risco muito alto, a que estão sujeitas 5

edificações e dois pontos do sistema viário;

Foram identificados três setores de risco alto, a que estão sujeitas 28

edificações e um ponto do sistema viário;

Oitenta edificações estão em situações de risco médio.

Em termos dos processos perigosos identificados, cerca de 44% estão

associados a queda ou rolamento de blocos ou lascas rochosas, 33% a

escorregamentos de solo e blocos rochosos, 11% a escorregamentos de

solo em taludes de corte. Não foram observados depósitos artificiais de

encostas instáveis (lixo, aterro e entulho) nas áreas vistoriadas.

Foi sugerida a remoção de um total de 16 moradias em função do grau de

risco e da existência de um projeto viário em andamento que não justifica a

implantação de intervenções de segurança de alto custo necessárias para

a consolidação da ocupação.

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 23

Page 25: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

BOCAINA CURSOS & ESTUDOS AMBIENTAIS-URBANOS

Anexos

Elaboração do Plano Municipal de Riscos de São Vicente 24

Page 26: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

Anexo 1. Mapa de localização das áreas estudadas

Fonte: Elaboração própria (2009).

Page 27: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

Anexo 2. Quadro síntese do diagnóstico de riscos

Nº.

Nome da área

Se

tor

Gra

u d

e

Pro

bab

ilidad

e

Nº. d

e mo

radias

ameaç

adas

Processo atuanteTipologia das intervenções

sugeridasQuantitativo de obras

1Morro da Asa Delta(Morro Itararé)

S1Médio (R2)

2

Escorregamento raso de solo; queda ou rolamento de blocos rochosos.

Construção de um muro de espera.

Muro de espera: 10 m x 1 m de alvenaria armada.

S2Médio (R2)

9Escorregamento localizado de solo em talude de corte.

Monitoramento. -

S3Médio (R2) 5

Escorregamento de solo no topo do talude de corte do patamar superior; rompimento do talude e queda de lascas e blocos rochosos e de bambu.

Drenagem de águas pluviais.

30m de canaleta estilo sarjetão com 50 cm de largura;

16m de escadas de dissipação;

3 caixas de passagem de 55x55cm.

S4Alto (R3)

1

Rompimento do talude e queda de lascas e blocos rochosos e de bambu.

Drenagem de águas pluviais, remoção da touceira de bambu e desmonte de blocos e lascas rochosos instáveis.

8m de escada de dissipação com 30 cm de largura;

2 caixas de passagem de 55x55cm.

S5Médio (R2)

1Erosão do solo na base do pilar e ruptura da laje.

Condução das águas pluviais.

8m de mureta com 20cm de altura;

5m de tubo de PVC branco de 100 mm;

1 caixa de passagem de 40x40cm;

Page 28: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

2Rua da Constituição (Morro Itararé)

S1Muito alto (R4)

4Queda de lascas e blocos rochosos.

Interdição das moradias até a execução da intervenção. Desmonte manual de lascas instáveis. Demolição de cômodos aos fundos das moradias. Construção de estruturas de espera ou proteção. Desmonte de blocos instáveis e/ou individualizados na porção superior da encosta.

Demolição de 110 m² de edificações;

Execução de 20m de muro de espera de 1,40m de altura de alvenaria armada.

S2Médio (R2)

10Queda de lascas e blocos rochosos.

Monitoramento; Desmonte de blocos instáveis e/ou individualizados na porção superior da encosta.

-

S3Alto (R3)

13Queda de lascas e blocos rochosos.

Conclusão da obra de contenção interrompida.

-

3Clube Itararé (Concretex)

S1Alto (R3)

10

Queda ou rolamento de blocos rochosos, escorregamento raso de solo.

Monitoramento/ “faxina” sistemática de lascas e blocos rochosos com instabilidade potencial/remoção integral das moradias.

Remoção e reassentamento de 16 moradias.

4 Carrefour -

Inexis-tente a baixo (R1)

- -Fiscalização e controle da ocupação

-

5 Bananal S1Médio (R2)

2

Escorregamento de solo em talude de corte; queda ou rolamento de blocos rochosos

Retaludamento; muro de espera.

Retaludamento: 10,0m x 5,0m. Muro de espera em alvenaria armada com 10,0 x 1,2m.

Page 29: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

6Linha Vermelha/ Voturuá

-

Inexis-tente a baixo (R1)

- -Monitoramento. Faxina de blocos rochosos individualizados.

-

7 Ilha Porchat

S1Alto (R3)

ViárioEscorregamento de solo.

Condução das águas pluviais da moradia a montante do terreno.Limpeza do depósito de encosta (lixo + solo escorregado).

Duas linhas de 30 metros de tubo de PVC de 100 mm;

Duas caixas de passagem de 50x50cm;

Retirada de 60 m3 de material.

S2Muito alto (R4)

Viário/ estaciona-mento do

Juá

Escorregamento de solo; ruptura de muro de gabião..

Recomposição do muro de gabião; limpeza do depósito de encosta; recomposição da cobertura vegetal do talude em grama; condução de águas pluviais.

Recomposição de 5 metros de muro de gabião de 2,0 m de altura;

Execução de 30 metros de muro de gabião com 2 m de altura;

Retirada de 30m³ de material na encosta;

Retirar mato e plantar grama em 600 m2 de encosta;

Reassentamento de 100 m² de pavimento intertravado;

Execução de 20m de sarjeta.

8Morro dos Barbosas

S1 Muito alto (R4)

Sistema viário/

estaciona-mento de

veículos a jusante +

um edifício plurihabita-

cional

Queda ou rolamento de blocos rochosos; escorregamento de solo e rocha.

Monitoramento/faxina sistemática de blocos rochosos individualizados e instáveis;Direcionamento das águas pluviais; Muro de espera.

8m de sarjetão com 1m de largura; 10m de guia e sarjeta;

Escada de dissipação de 60,00m x 0,50m;

Duas caixas de passagem de 1,0m x 1,0m;

Muro de espera em alvenaria armada com 160,00m de extensão x 2,00m de altura.

Page 30: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

S2Médio (R2)

8

Queda ou rolamento de blocos rochosos; escorregamento de solo em talude de corte.

Monitoramento/ faxina sistemática de blocos rochosos individualizados e instáveis na encosta.

-

S3Médio (R2)

2Queda ou rolamento de blocos rochosos.

Monitoramento/faxina sistemática de blocos rochosos individualizados e instáveis na encosta.

-

9 Parque Prainha S1Médio (R2)

Cerca de 35

Queda ou rolamento de blocos e lascas rochosos; escorregamento de solo superficial.

Monitoramento/faxina sistemática de blocos rochosos individualizados e instáveis. Intervenções localizadas de contenção e drenagem. Muro de espera e drenagem no cercamento do Parque Estadual.

600m de cerca com canaleta; 3 caixas de passagem de

1,0m x 1,0m.

10 Curtume S1Médio (R2)

3 (uma delas desocupada)

Escorregamento de solo e blocos rochosos imersos; rolamento de blocos rochosos

Monitoramento. -

11Japui S1 Alto

(R3)4

(3 moradias+

1 edificaçãoem

construção)

Escorregamento de solo e blocos rochosos imersos no corpo de tálus; rolamento de blocos rochosos por ação da água; escorregamento de solo da encosta.

Desmonte de blocos rochosos; demolição parcial de moradias; embargo e/ou demolição de obra.

Demolição de 36m² de edificações.

Page 31: PMRR SVicente segundo relatório parte 1

S2Médio (R2)

3

Escorregamento de solo e blocos rochosos; rolamento de blocos rochosos por ação de águas pluviais.

Monitoramento. -

12 Acarau -

Inexis-tente a baixo (R1)

- -Controle e planejamento da ocupação.

-

Fonte: Elaboração própria (2009).

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