pluralismo jurídico - parte escrita-1

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18 de agosto

Pluralism o Jurdico

201 0Sociologia Jurdica Prof Dora Porto

Bruna Martins, Fabiana Bonini, Patrcia Varella, Rafael Tridico, Ricardo Cavalcanti e Suellen Gomes. Turma MC2 Sala 329.

Pontifcea Universidade Catlica de So Paulo.

Pluralismo Jurdico

So Paulo, 18 de Agosto de 2010. ndice

Introduo ____________________________________________ _____ pg. 3

Histrico do Pluralismo Jurdico _________________________________ pg. 5 O Pluralismo Jurdico no Brasil __________________________________ pg. 7 Teorias a respeito do Pluralismo jurdico __________________________ pg. 9 O Pluralismo Jurdico e as Mudanas Econmicas ___________________ pg. 11 Concluso __________________________________________________ pg. 12 Bibliografia _________________________________________________ pg. 13

Introduo:Jurdico

A

existncia

do

Pluralismo

O estudo do pluralismo jurdico uma preocupao recente da sociologia do direito, embora seja um fato antigo na sociedade, que sempre existiu. A idia de pluralismo jurdico decorrente da existncia de dois ou mais sistemas jurdicos dotados de eficcia ao mesmo tempo em um mesmo ambiente. Esta teoria se ope ao monismo, teoria que aceita que o ordenamento do Estado o nico valido e existente em uma sociedade. Para que se possa configurar o pluralismo jurdico, necessria a existncia de duas ou mais normas aplicveis mesma situao, mas proveniente de centros produtores diversos. J a eficcia no precisa ser alcanada por ambas as normas, sendo necessria somente uma delas para resolver o problema. Um exemplo o homem religioso, que tende a seguir a norma religiosa, desprezando a do Estado, por se sentir mais prximo do primeiro ordenamento. Estudos sobre o pluralismo afirmam que atualmente ainda existem direitos locais, como em zonas rurais, igrejas, empresas, organizaes profissionais e at em entidades esportivas. Trata-se de um direito infra-estatal e informal, que no pode ser extinto. O pluralismo jurdico pode ser dividido, segundo a jurista e sociloga Ana Lucia Sabadell, em:

interlegalidade: que so ordenamentos que

interagem, criando formas de solues de conflitos internos. No pode ser entendido como um caso verdadeiro de pluralismo jurdico, pois um ordenamento apenas complemento do outro e no h conflito entre eles.

multiculturalismo: que acredita que o criador e o

aplicador do direito precisam entender as mudanas sociais, principalmente criadas pelo contato com culturas estrangeiras, propiciado pela imigrao. Nesse caso, o multiculturalismo faz o direito se modificar, uma vez que esse um reflexo da sociedade.

internacionalizao: cada vez mais o direito

internacional influencia nas decises internas dos pases, criando um verdadeiro ordenamento paralelo. o caso da ONU, por exemplo.

direito do povo: que de todas as classificaes a

mais importante e relevante por ser os ordenamentos criados dentro da sociedade, com os quais a populao tende a se identificar mais por ir mais diretamente de acordo com os seus interesses.

Histrico do Pluralismo Jurdico

O fenmeno do pluralismo jurdico pode ser verificado no decorrer de toda a histria humana. A formao de comunidades durante a pr-histria foi feita com base em diversas formas de direito no escrito, fortemente influenciados por diferentes crenas mtico-religiosas, originando ordenaes jurdicas extremamente plurais. Esses ordenamentos so caracterizados basicamente por: no serem escritos, serem numerosos, relativamente diversificados e impregnados de religio. At o segundo milnio antes de Cristo, no havia uniformidade entre esses ordenamentos. O que existia era um conjunto de sistemas jurdicos, divididos em regies e perodos diferentes. Os primeiros cdigos de direito conhecidos surgiram nessa poca, como o de Ur-Nammu (2040 a.C), o cdigo de Esnunna (1930 a.C), o cdigo de Hamurbi (1694 a.C), as tbuas de Mari (1650 a.C) e os cdigos assrios (1950 a.C.) Tempos mais tarde, desenvolveu-se sistema jurdico Romanstico, que disseminava suas normas atravs da fora, e o direito escrito era levado pelos centuries para todo o imprio. Mas os romanos seguiam dois conjuntos de normas distintos: um para relaes apenas entre romanos (ius civile) e outro para relaes que envolvessem ao menos um no-romano (ius gentium). A Common Law surgiu quando Guilherme, o Conquistador, dominou as ilhas britnicas, mas optou por no unificar todo o

direito dessa regio. Ao invs de impor um nico direito, a unificao se deu atravs da interpretao das vrias leis. Paralelamente isso, podemos tambm citar o direito hindu, extremamente pluralista por ser reflexo de uma sociedade dividida em castas. O sistema hindu engloba diversos outros sistemas menores, j que h direitos diferentes para as diferentes castas (Brmanes, Ksatriyas, Varsyas e Sudras). E existe ainda um sistema paralelo, que regula as relaes entre os chamados chandalas (ou parias), pois estes no pertencem a nenhuma casta. Outro exemplo de pluralismo jurdico seria o direito muulmano, que possui vrias fontes, sendo elas o coro, a sunna, o idjm e o qiys. outro caso que prova que normas provenientes de fontes diversas podem coexistir, criando um complexo sistemtico admirvel. J o direito na Idade Mdia foi predominantemente baseado nos costumes, e determinava que o indivduo fosse julgado em qualquer tribo segundo as normas de sua tribo de origem (Lei Slica). A relao entre Estado e Igreja tambm fez surgir na Europa o pluralismo jurdico, pois as normas vinham de fontes diferentes. O direito predominante durante o perodo do feudalismo um exemplo de direito descentralizado. A Europa se dividiu numa extensa multiplicidade de pequenos ordenamentos jurdicos, o que impediu que o direito medieval evolusse de maneira homognea. Somente com o surgimento de ordenamentos jurdicos comuns toda a nao, mais completos e evoludos (os chamados direitos romanistas), que as ordlias e o direito consuetudinrio foram gradativamente sendo deixados de lado. Finalmente, com a construo do Cdigo Napolenico de 1824, o pluralismo jurdico se tornou quase totalmente informal, pois passou a se desenvolver o direito com a inteno de ser nico, dentro de um nico Estado. Apesar disso, o pluralismo jurdico continuou existindo formalmente e na prtica, no ordenamento jurdico

internacional, onde a descentralizao uma caracterstica fundamental. A existncia dessa pluralidade de direitos no campo do direito internacional privado acaba desenvolvendo uma cincia metajurdica, cujo objetivo indicar a norma que est mais adequada aos casos concretos.

O Pluralsimo Juridico no BrasilComo classificar o tipo de pluralismo que ocorre no Brasil?

Como sabemos o Brasil, desde sua colonizao at os dias de hoje, um pas feito de milhares de culturas e povos diferentes. Diversos tipos de religio, modos de vida e, inclusive, de senso de justia, trouxeram para o Brasil uma dificuldade de se criar um ordenamento jurdico capaz de responder a tantas diferenas, tanto culturais como econmicas em suas enormes disparidades em seu extenso territrio. Com tais dificuldades de se proteger e se fazer impor a vontade de todos, o Brasil no escapou da criao de um pluralismo jurdico dentro do seu prprio territrio. Podemos classificar esse pluralismo jurdico nacional dentro de duas das concepes atuais que Ana Lcia Sabadell nos fornece, elas seriam a do multiculturalismo e a do chamado direito do povo. O primeiro, no nosso caso, sim classificado como um caso de pluralismo jurdico, uma vez que o ordenamento brasileiro no consegue englobar tamanhas diferenas de acepes judicirias culturais, tornando essa diferena cultural em um direito paralelo, o ento chamado,

direito do povo, no qual aquele que mais condiz com a moral do cidado a ele a mais til e aplicvel.

Exemplos de pluralismo jurdico no Brasil Podemos trazer aqui dois exemplos bem claros de como o pluralismo jurdico ocorrem na medida de dois extremos, tanto como em organizaes criminosas (PCC, Comando Vermelho, etc), como em instituies preservadoras de uma cultura antiga e tradicional (As reservas florestais para tribos indgenas com a criao da FUNAI).

As organizaes criminosas:

A formao de um Estado paralelo na criao de organizaes criminosas como o PCC em So Paulo e o Comando Vermelho no Rio de Janeiro, trouxeram ao pas um caso de pluralismo jurdico dentro de comunidades presentes nas periferias e junto as favelas das grandes cidades. Tendo como nica forma de sobrevivncia e, de certa forma, de justia e segurana, moradores dessas comunidades aderem a essas organizaes rapidamente, aceitando seguir, em primeira instncia, as normas estipuladas por eles como se fossem mais fortes do que as do Estado. Dentro de um certo ponto de vista, esse tipo de pluralismo jurdico deve ser visto como uma tentativa de alterao do direito estatal, uma vez que, na maioria dos casos, essas aderncias ocorrem por o indivduo no ter apoio do Estado para melhorar sua condio e sendo ignorado por ele, evidenciando um certo fracasso no objetivo Estatal de aplicar uma lei igual a todos.

As comunidades indgenas:

Antes se quer de o Estado ter sido criado no Brasil, as comunidades indgenas j existiam, e possuam um ordenamento prprio. Por uma questo de preservao dessa cultura to antiga e tradicional, foi criado a Fundao Nacional do ndio (Funai) que procura manter uma rea cultivada e prpria dos ndios, assim como sua cultura tradicional, sem a necessidade de se submeterem as regras impostas pelo Estado, deixando a livre arbtrio as decises

tomadas em suas tribos sobre as questes de cunho jurdico. A criao dessas reservas garantiu esse pluralismo jurdico dentro do territrio nacional, mesmo que, nos ltimos anos, tenha causado conflitos, como os casos de invaso das reservas e morte dos invasores pelos membros da tribo, levantando a questo de que at que ponto os direitos criados pela tribo devem ser respeitados se forem contra um seguidor das leis do Estado.

Teorias respeito do Pluralismo Jurdico

O pluralismo jurdico, como j vimos, um assunto que h muito tempo motivo de discusso entre os juristas e os socilogos; cada um possui um ponto de vista diferente sobre ele. Os socilogos encaram o pluralismo jurdico, mas como um fator social que deve ser estudado e analisado, quem sabe para achar uma soluo; pelo outro lado os juristas dividem-se em duas correntes: os que estudam e admitem a existncia deles, e os que no o vem como um assunto relevante e existente. Para o socilogo Boaventura Souza Santos, o pluralismo jurdico tornou-se uma preocupao recente do Socialismo Jurdico. De acordo com ele, o pluralismo jurdico chamou a ateno para a existncia de direitos locais na zona rural, nos bairros urbanos marginais, nas igrejas, nas empresas, no desporto, nas organizaes profissionais; as principais caractersticas dele so um direito infra-estatal, informal, no oficial e mais ou menos costumeiro. Ele nos faz pensar os motivos que levam a discutir o pluralismo jurdico, pensando na eficcia e validade do Estado. De forma bem simplificada o pluralismo jurdico pode ser definido quando existem vrias normas vlidas, provenientes de centros de poder diferentes, para serem aplicadas a um mesmo caso concreto; a escolha por uma norma ou outra pode ser feita, at se quiser pelo indivduo que vais sofrer a aplicao ou pelo aplicador do direito. Geralmente, o aplicador do direito que determina, sendo que este representa o direito estatal. Plauto Faraco de Azevedo, concorda com Boaventura, pois afirma que ocorre a existncia de uma grande pluralidade de sistemas jurdicos marginais no Brasil; como por exemplo:as relaes sociais dentro de uma grande favela brasileira (Rio de Janeiro ou So Paulo), e afirmando que existe pluralismo quando h convivncia no mesmo espao territorial, da vigncia de dois ou mais ordenamentos jurdicos, oficias ou no. Por fim, podemos falar de Ana Lcia Sabadell, que trata o pluralismo jurdico sob uma ptica de concepes atuais, sendo elas: interlegalidade, na qual os ordenamentos interagem

para criar solues de conflitos internos; multiculturalismo, onde o criador e pregador do direito preciso entender as mudanas sociais decorrentes do contato profundo existente com culturas estrangeiras(imigrao); internacionalizao, com o direito internacional influenciando cada vez mais nas decises internas, criando um ordenamento paralelo; e o direito do povo, que seriam os ordenamentos criados dentro da sociedade, por costume ou tradio, com as quais a populao se identifica. Para os juristas, a discusso muito mais profunda, uma vez que o pluralismo jurdico interfere diretamente no campo em que eles atuam. Entender o que dito do pluralismo, adotar uma postura e opinio sobre a vigncia ou no dela na sociedade. Pode-se comear a discutir o assunto, vendo a opinio do jurista italiano, Norberto Bobbio, que foi um jurista de renome no Direito, sendo respeitado por todos. Para , Bobbio, o pluralismo jurdico a concepo que prope como modelo a sociedade composta por vrios grupos ou centros de poder, mesmo que em conflito entre si, aos quais atribuda a funo de limitar, controlar e contrastar, at o ponto de o eliminar, o centro de poder dominante, historicamente identificado como Estado. A discusso atual, no gire tanto em torno dele existir ou no, e sim no fato em que nas sociedades em que o Estado no se faz presente, ou seja; seu ordenamento no possuem eficcia ou vigncia. O Estado que no cumpre com seu papel com os cidados, acabam os perdendo para outros tipos de poder que correspondem e sanam seus problemas. A questo da existncia do Estado paralelo est intimamente ligada com o pluralismo, uma vez que um Estado paralelo leva a um ordenamento novo e paralelo ao que determinado pelo Estado dominante. o que acontece com o Estado brasileiro que no supre as necessidades das sociedades das favelas, que acabam ficando a merc do crime organizado que impem seu poder e ordenamento ou pelo terror, ou suprindo as carncias da populao.

O Pluralismo Jurdico e as Mudanas EconmicasJos Eduardo Faria levanta em seus estudos uma discusso de como as mudanas econmicas do mundo globalizado de hoje mudam os papis dos ordenamentos jurdicos para se adequarem a um novo tipo de racionalidade, abandonando muitas vezes a lgica jurdica para a lgica do capital. As fontes que Eduardo Faria fala so as novas foras transnacionais que movimentam a economia em escala global. Hoje, muitas empresas mundiais possuem lucros maiores que alguns pases de pequeno porte, de forma que sua capacidade poltica no pode mais ser ignorada pelos Estados Emergentes. Estados esses que muitas vezes cedem a presso das empresas e mudam leis nacionais para se enquadrarem essas empresas. Por se tratarem de gigantes e poderosos grupos, eles tendem a se auto gerirem legalmente, tendo capacidade de conseguir benefcios e facilidades em troca de uma indstria em determinado pas, uma licena em outro, passando muitas vezes por tratados internacionais, reas de preservao ambientais, trafico de flora nativa, enfim atos ilegais que os Estados so obrigados a engolir pelo poder dessas empresas. Esse tipo de pluralismo danoso para a soberania do Estado, pois muitas vezes trocam o bem estar social, que deveriam proteger e garantir, por lucros e benefcios particulares. O prprio direito positivo passa a ser moldado no

pelos interesses sociais mas sim por interesses econmicos, perdendo o foco e no servindo ao propsito que deveria cumprir. Podemos at ver isso como uma quebra, uma corrupo sistmica da racionalidade transversal descrita por Nicklas Luhmann, j que a racionalidade do capital se sobrepe de forma no salutar sobre a racionalidade jurdica.

ConclusoO pluralismo jurdico sempre esteve presente na humanidade, e hoje tal fenmeno evidente nos diferentes Estados Modernos. O pluralismo pode ser caracterizado quando h a convivncia, no mesmo espao territorial, de dois ou mais ordenamentos jurdicos oficiais ou no. Assim, existem diversas normas vlidas que emanam de diferentes centros de poder, e possuem estas, legalidade para serem aplicadas a um mesmo caso concreto. Ao longo dos anos o Direito adquiriu diversas formas de acordo com o perodo histrico e as necessidades da sociedade da poca. Aos poucos com as codificaes, principalmente o Cdigo napolenico, o pluralismo jurdico adquiriu um carter mais informal, j que estava se criando um direito nico, o estatal. Existem diversas concepes acerca do pluralismo jurdico. A idia de direito do povo, que composto por ordenamentos que nascem da sociedade, aceita como sendo uma real forma de pluralismo. Os diferentes ordenamentos podem surgir pela ausncia do Estado nas comunidades, o que contribui para o

nascimento de um regramento local. Assim, as pessoas formulam o seu prprio direito independentemente da existncia de um ordenamento jurdico institucionalizado. Em geral o pluralismo jurdico algo saudvel na sociedade, j que relevante haver uma coexistncia pacfica entre o ordenamento estatal e outros ordenamentos, garantindo assim a liberdade. Porm em alguns casos como os ordenamentos do crime organizado, o pluralismo pode ser considerado nocivo sociedade. A situao que se estabelece nesse caso a da pluralidade de redes sociais frouxamente estruturadas, associadas falta de presena estatal. Porm esta presena muitas vezes violenta e repressiva, caracterizando uma patologia jurdico-social que surge pela dificuldade na relao entre estado e indivduos. Assim, o pluralismo jurdico benfico para a sociedade desde que os ordenamentos tenham como referncia o direito estatal, j que este legtimo e soberano.

Bibliografia

Sociologia Geral e do Direito Captulo 8: Arnaldo Lemos Filho,

Glauco Barsalini, Lus Renato Vedovato e Oscar Mellim Filho. Campinas, SP: Editora Alnea, 2009. 4 Edio.

Texto complementar: Mudanas Econmicas X Mudana Legal:

as novas fontes do Pluralismo Jurdico Captulo 2: Jos Eduardo Faria