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Plantando Orquídeas Vasos e Substratos Vasos de Barro Os vasos de barro e os cestos de madeira são, sem sombra de dúvida, os mais tradicionais e testados recipientes para orquídeas em geral e são tão antigos em sua utilização quanto o xaxim e o prazer de se cultivar orquídeas. O orquidófilo amador se beneficia mais da utilização de vasos de barro, em oposição aos vasos de plástico, por diversas razões. Ao contrário de produtores comerciais que produzem grandes lotes de plantas padronizadas em idade e tamanho, e que portanto serão cultivadas em vasos de tamanho exatamente igual, que utilizarão quantidades idênticas do mesmo substrato e que terão exatamente a mesma necessidade em termos de volume de água de irrigação, os orquidófilos amadores geralmente tem plantas de diversas idades, tamanhos, espécies, hábitos vegetativos, substratos. Portanto, os amadores tem que controlar individualmente a umidade de cada vaso. O excesso de umidade é geralmente mais prejudicial às orquídeas que a falta de umidade. Vasos de barro propiciam uma secagem mais rápida do substrato do que os vasos de plástico. Por isso, ao utilizar vasos de barro, o orquidófilo tem mais proteção contra a rega excessiva. Embora um orquidário amador são seja padronizado como um produtor comercial, alguma sistematização e padronização auxilia muito na obtenção de bons resultados. Os dois pontos de padronização que mais importam do ponto de vista do plantio são os vasos e o substrato. É recomendável que o orquidófilo eleja uma única marca ou fabricante de vasos. Isso pode ser feito consultando outros orquidófilos da sua região e obtendo as suas impressões sobre a qualidade dos vasos e a adaptação das orquídeas aos mesmos. Por incrível que pareça, vasos de barro não são todos iguais. Evite vasos de porcelana e vasos vitrificados, porque a sua capacidade de secagem é muito reduzida em comparação aos mais porosos, embora tenham uma aparência estética muito melhor e sejam mais finos e leves. Outra caraterística, que infelizmente não pode ser obtida junto ao fabricante, é o pH e conteúdo salino do vaso. No Brasil, a maioria dos produtores de vasos são pessoas simples, que exercem esta atividade artesanalmente e, portanto, tem resultados muito diferentes entre si. Alguns vasos de barro se mostram extremamente "agradáveis" para as raízes das orquídeas, que se aderem muito bem aos mesmos. Outros vasos nos parecem "irritantes" às raízes, que evitam ao máximo se aderir a esses vasos, crescendo soltas por dentro e por fora do recipiente. Qualquer orquidófilo experiente sabe disso e procura adquirir somente os vasos "agradáveis". Outro ponto para padronização é a grade de tamanhos. Todo fabricante tem uma grade de tamanhos disponíveis e esses tamanhos permanecem mais ou menos inalterados ao longo do tempo. A maioria dos orquidófilos não precisará de todos os tamanhos disponíveis. É necessário, então, que se faça uma seleção dos tamanhos mais apropriados às suas espécies e que esses tamanhos sejam anotados, para que numa compra subseqüente, sejam comprados os mesmos tamanhos. Os tamanhos dos vasos variam em diâmetro e altura. Como regra, quanto mais baixo um vaso, mais este demora para secar. Da mesma forma, quanto maior o diâmetro de um vaso, mais este demora para secar. Portanto, cuidado com vasos de grande diâmetro e baixos! De um modo geral, um vaso de barro deve oferecer espaço para 2 anos de crescimento da planta a ser plantada. Isso varia de acordo

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Plantando Orquídeas – Vasos e Substratos

Vasos de Barro Os vasos de barro e os cestos de madeira são, sem sombra de dúvida, os mais tradicionais e testados recipientes para orquídeas em geral e são tão antigos em sua utilização quanto o xaxim e o prazer de se cultivar orquídeas. O orquidófilo amador se beneficia mais da utilização de vasos de barro, em oposição aos vasos de plástico, por diversas razões. Ao contrário de produtores comerciais que produzem grandes lotes de plantas padronizadas em idade e tamanho, e que portanto serão cultivadas em vasos de tamanho exatamente igual, que utilizarão quantidades idênticas do mesmo substrato e que terão exatamente a mesma necessidade em termos de volume de água de irrigação, os orquidófilos amadores geralmente tem plantas de diversas idades, tamanhos, espécies, hábitos vegetativos, substratos. Portanto, os amadores tem que controlar individualmente a umidade de cada vaso. O excesso de umidade é geralmente mais prejudicial às orquídeas que a falta de umidade. Vasos de barro propiciam uma secagem mais rápida do substrato do que os vasos de plástico. Por isso, ao utilizar vasos de barro, o orquidófilo tem mais proteção contra a rega excessiva. Embora um orquidário amador são seja padronizado como um produtor comercial, alguma sistematização e padronização auxilia muito na obtenção de bons resultados. Os dois pontos de padronização que mais importam do ponto de vista do plantio são os vasos e o substrato. É recomendável que o orquidófilo eleja uma única marca ou fabricante de vasos. Isso pode ser feito consultando outros orquidófilos da sua região e obtendo as suas impressões sobre a qualidade dos vasos e a adaptação das orquídeas aos mesmos. Por incrível que pareça, vasos de barro não são todos iguais. Evite vasos de porcelana e vasos vitrificados, porque a sua capacidade de secagem é muito reduzida em comparação aos mais porosos, embora tenham uma aparência estética muito melhor e sejam mais finos e leves. Outra caraterística, que infelizmente não pode ser obtida junto ao fabricante, é o pH e conteúdo salino do vaso. No Brasil, a maioria dos produtores de vasos são pessoas simples, que exercem esta atividade artesanalmente e, portanto, tem resultados muito diferentes entre si. Alguns vasos de barro se mostram extremamente "agradáveis" para as raízes das orquídeas, que se aderem muito bem aos mesmos. Outros vasos nos parecem "irritantes" às raízes, que evitam ao máximo se aderir a esses vasos, crescendo soltas por dentro e por fora do recipiente. Qualquer orquidófilo experiente sabe disso e procura adquirir somente os vasos "agradáveis". Outro ponto para padronização é a grade de tamanhos. Todo fabricante tem uma grade de tamanhos disponíveis e esses tamanhos permanecem mais ou menos inalterados ao longo do tempo. A maioria dos orquidófilos não precisará de todos os tamanhos disponíveis. É necessário, então, que se faça uma seleção dos tamanhos mais apropriados às suas espécies e que esses tamanhos sejam anotados, para que numa compra subseqüente, sejam comprados os mesmos tamanhos. Os tamanhos dos vasos variam em diâmetro e altura. Como regra, quanto mais baixo um vaso, mais este demora para secar. Da mesma forma, quanto maior o diâmetro de um vaso, mais este demora para secar. Portanto, cuidado com vasos de grande diâmetro e baixos! De um modo geral, um vaso de barro deve oferecer espaço para 2 anos de crescimento da planta a ser plantada. Isso varia de acordo

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com a espécie (há espécies que vegetam melhor em vasos mais justos) e com o tipo de substrato utilizado (quanto mais rápida a secagem do substrato, maior pode ser o vaso). Se estiver em dúvida, escolha o vaso menor. Os bons vasos de orquídeas são um pouco mais baixos que vasos de igual diâmetro para outras plantas. Além disso, eles apresentam diversos furos laterais de grande calibre para aumentar a aeração e drenagem do substrato. O número de furos aumenta à medida que o diâmetro e altura do vaso aumentam. O fundo do vaso deve ter um furo de drenagem único ao centro e deve ser cônico (ou há queda para o centro do vaso ou o furo central é mais elevado e faz queda para os furos laterais). Apesar de tantos furos para drenagem, é indispensável a colocação de material de drenagem no fundo do vaso. A minha preferência é pelo uso de cacos de telha ou vaso, previamente desinfetados, na proporção de 1/5 da altura do vaso (somente para evitar o contato do substrato com a lâmina de água que se forma no fundo do vaso após cada rega). Uma outra opção é a utilização de um pequeno vaso plástico do tipo "fenestrado" emborcado sobre o furo central de drenagem do fundo do vaso de barro. Essa alternativa fornece um cone central de drenagem e reduz o peso final do vaso. Junto ao furo de drenagem central, geralmente há um pequeno furo para permitir a amarração da orquídea pelo seu rizoma contra o substrato, medida importante na utilização de substratos "frouxos", tais como a casca de pinheiro, coquinhos, argila expandida, cortiça em cubos, piaçava, coxim em cubos, etc., que não oferecem boa fixação da planta no vaso. Há também, junto à boda do vaso (a cerca de 1,5 cm) três furos igualmente esparsos, para a colocação de penduradores de arame. Junto de um desses furos geralmente há um outro de calibre menor para permitir a amarração da parte mais posterior da planta pelo rizoma, com a finalidade de se certificar de que a planta está o mais recuada possível dentro do vaso, o que garante o máximo espaço para crescimento futuro. Outro aspecto importante e que diz respeito ultimamente aos vasos é que os orquidófilos amadores tem uma tendência de organizarem as suas plantas por espécie e variedade cromática. O mais recomendável seria organizá-las por tamanho de vaso e tipo de substrato. Isso é, agrupar plantas de mesmo tamanho de vaso e substratos. Dessa forma é possível controlar a umidade por grupos de vasos e evitar de regar excessivamente os vasos maiores e de substrato de secagem mais lenta. Isso significa que, em uma rega manual, é possível escolher quais vasos regar e quais não regar e verificar isso por grupos de vasos de diâmetro semelhante, e não um a um. Sempre (exceto com uso de coxim de coco) deixar que um vaso seque por completo antes de regar novamente. Isso estimula a emissão de um número maior de raízes pela planta e preserva as raízes que a planta já possui, o que aumenta em muito a sua capacidade de absorver água e nutrientes, além de aumentar a área disponível para fazer fotossíntese. Vasos de barro também são mais pesados e permitem a fixação das raízes das plantas. Isso faz com que sejam mais estáveis e menos sujeitos a tombamentos e desenvasamentos acidentais de plantas (fato muito comum com vasos de plástico). Embora possam se quebrar após uma queda, vasos de barro são imunes aos raios UV e tem durabilidade muito longa, desde que bem cuidados. Outra consideração é a economia de água. Vasos de barro são antieconômicos quando se trata de água. Essa é, a meu ver, a principal razão pela qual produtores comerciais preferem vasos plásticos: economia de água e de

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dinheiro. Mas creio que, para o orquidófilo amador, essa consideração é menos importante, pois o número de plantas é muito menor e o ambiente e regas não tão bem controlados. Como Esterilizar os seus Vasos Para esterilizar os seu vasos já usados para poder reciclá-los, lançar mão de solução de cloro. Recomendamos o seguinte: diluir 300 ml de solução concentrada de hipoclorito de sódio (cloro líquido de piscina), em 700 ml de água pura (se o volume necessário for maior, fazer volume maior mantendo a mesma diluição). Manter essa solução tampada sempre que não estiver sendo usada (pois o cloro evapora). Limpar o vaso por escovação e raspagem de raízes e detritos, em seguida enxaguar em água corrente, antes de mergulhar no cloro (para remover resíduos vegetais). Deixar o(s) vaso(s) no cloro por 15 minutos, e enxaguar novamente com água limpa corrente (não a mesma da etapa anterior...) para retirar o excesso de cloro. Aí é só deixar o vaso secar à sombra. Não utilizar o vaso no mesmo dia, para que todo o resto de cloro se evapore do(s) vaso(s) antes do plantio. O vasos de barro Japoneses Uma variante dos vasos de barro para orquídeas, os vasos de barro japoneses contemplam dois "designes" que são significativamente diferentes dos vasos a que estamos acostumados. Por isso, vale a pena um aparte. O primeiro "design" se assemelha muito aos vasos tradicionais para orquídeas, com mesma altura e diâmetro, contudo, não apresentam furos de drenagem laterais, só os de fixação dos penduradores. Esses vasos também não tem fundo, ou seja, são uma secção de um cone de barro. Essa modalidade de vaso é amplamente utilizada no Japão para o cultivo de C. walkeriana e utiliza como substrato o Sphagnum. De ótima aeração, é um pouco mais capcioso de se utilizar e requer um pouco de prática. Deve ser colocada uma camada de sphagnum de primeira (fibras longas) afofado e úmido no fundo do vaso e essa camada deve ser levemente compactada para cima, de modo a deixar um ressalto de 2cm de vaso vazio ao fundo, em seguida, a planta é posicionada e o restante do vaso é completado com Sphagnum afofado e úmido até a borda do vaso. Em seguida, o Sphagnum é apenas levemente compactado de modo a ficar um pequeno ressalto de 1cm da borda superior do vaso. Por fim, é só acrescentar o pendurador e identificar a planta. O segundo "design" não se assemelha a nenhum vaso que utilizamos no Brasil. Tem o formato de uma garrafa ou moringa de água (daquelas que se via no interior para manter a água fresca). Consiste, na prática, de uma garrafa de barro com ranhuras transversais. Há uma abertura muito pequena no topo superior da garrafa para permitir o seu enchimento (periódico) com água. Essa água mantém a garrafa externamente levemente úmida, mas não molhada. O vaso pode ser ainda revestido externamente com uma fina camada de Sphagnum. As plantas, geralmente Sophronitis sp e microorquídeas, são amarradas sobre a parede externa da garrafa, onde são cultivadas. Em questão de alguns meses estão enraizadas e comportam-se na garrafa como se esta fosse um toco.

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Vasos de Plástico Produzidos industrialmente, vasos de plástico vieram para ficar. Esses vasos tem sido utilizados há pelo menos 50 anos e são adotados pela grande maioria dos produtores comerciais. O raciocínio por traz da sua utilização é simples: são vasos que são baratos, que são leves, que ocupam pouco espaço de estoque, que demoram para secar (e que por isso permitem uma economia de água) e que são vendidos juntamente com as plantas (de modo que a sua durabilidade não é um fator relevante). Além disso, um produtor comercial utiliza todos os vasos de tamanho padronizado, com substrato padronizado e plantas padronizadas, de modo que rega todas as plantas com a mesma freqüência e com a mesma quantidade de água. Se esse é o seu perfil, recomendo que utilize vasos de plástico. Agora, se você tem plantas de diversas espécies, tamanhos, idades em diferentes tipos de substrato, lado a lado, cuidado. Se essa última for a sua situação e a utilização de vasos de plástico é o seu desejo, você terá que ser bem mais atento à sua rega e recomendo faze-la manualmente. O modo de plantio em vaso de plástico é muito semelhante ao do vaso de barro. Contudo, prefiro a utilização de Brita de Gneiss como material de drenagem, de modo a aumentar um pouco o peso no fundo do vaso e dificultar o seu tombamento. Sou, também, um pouco mais generoso na quantidade de material de drenagem. Ao invés de 1/5 de material de drenagem, prefiro 1/3 no caso de vasos de plástico. Vasos de plástico geralmente não são pendurados, mas utilizados em bancadas (o raciocínio também é o da economia, neste caso, economia de penduradores). Alguns vasos (para Cymbidium sp especificamente) são fabricados para serem dependurados. Só que, ao invés do uso de penduradores, temos a construção de "varais" de arame de aço grosso muito esticado e apoiado em cavaletes metálicos a intervalos regulares. Os vasos fabricados com esse tipo de cultivo em mente tem uma aba externa que se apóia sobre arames de um lado e de outro, de modo que o fundo do vaso fica "flutuando". Uma característica um pouco irritante dos vasos plásticos é que, se apesar desses cuidados, houver o tombamento do vaso, freqüentemente a planta é desenvasada acidentalmente. Isso porque as raízes não se aderem às paredes internas do vaso. O desenvasamento acidental também ocorre freqüentemente durante a floração, quando o peso da haste floral e flores é maior que a aderência das raízes da planta ao vaso. Como ponto positivo, temos a facilidade de remover a planta com raízes íntegras durante um replante. Vasos de plástico tem um grande inimigo, os raios UV do sol. Dependendo da qualidade do plástico, modo de fabricação e inclusão de protetores de UV, os vasos plásticos sofrem uma lenta degradação. Em poucos anos, se tornam quebradiços ou simplesmente esfarinham-se. Se for utilizar vasos de plástico para o cultivo de longa duração (matrizes, plantas de exposição, etc.), procure adquirir vasos com proteção UV, que são mais caros mas tem durabilidade bem aumentada. Cestos de Madeira (ou plástico) São recipientes amplamente testados e aprovados no cultivo de orquídeas. Além de serem bons recipientes na prática, cestos tem um charme quase nostálgico. A escolha de cestos como "containers" é uma opção para a maioria das

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espécies, para outras, é uma obrigação. Plantas que tem o hábito de florirem "para baixo", tais como Stanhopeas e Draculas, necessitam de cestos para haja o crescimento da inflorescência e, consequentemente, a floração. Os cestos apresentam grandes fissuras laterais e ao fundo e que, por isso, tem grande capacidade de aeração do substrato. Mas ao contrário do que se pode pensar, tem secagem mais lenta que um vaso de barro de mesmo diâmetro e altura. A madeira não absorve tanto a água do substrato quanto o barro, por isso o substrato deve ser bem arejado. Há diversos tipos de designs e construções, O formato que favoreço é o hexagonal. Isso porque tem número de vértices múltiplo de 3, o que permite a utilização de penduradores de três hastes, que são mais estáveis e fáceis de se nivelar, além de permitirem economia de arame . Um cesto hexagonal tem também um diâmetro interno maior que um de mesmo raio e quadrado. Dou preferência a cestos mais profundos, que por capilaridade secam mais rápido que cestos mais rasos e largos (o mesmo princípio dos vasos de barro). Outro ponto é que prefiro construir o vaso de um número maior de ripas finas (bitola 1cm x 1cm) que ripas mais grossas e menos numerosas. Apesar de ser uma construção mais trabalhosa, a aeração é melhor, as fenestrações são menos esparsas (o que facilita para as hastes florais de Stanhopeas e Draculas encontrarem um passagem para fora do cesto), a madeira para a sua construção é mais disponível e o cesto acabado tem aparência mais delicada e bonita. Vários tipos de madeira podem ser utilizados na sua confecção. Prefiro 3 tipos: Peroba do Campo (Paratecoma peroba), Aroeira (Schinus terebinthifolius) e Ipê Amarelo (Tabebuia chrysotricha). Todas as três tem altíssima durabilidade mesmo em ambiente úmido ou até submersas em água. Evite cestos de madeiras inferiores, mesmo que tratadas, pois a durabilidade será curta. É ainda relativamente fácil encontrar essas três madeiras em demolições, ou carpintarias que utilizam madeiras de demolição. Como a bitola é fina, tábuas velhas de assoalho e restos (shorts) de marcenaria funcionam muito bem para a construção de cestos para orquídeas. Se você não é do tipo que gosta de fazer os seus próprios cestos, tenho certeza que a própria carpintaria ficará feliz em aproveitar essa madeira que invariavelmente viraria fogueira e ainda lucrar com isso. O passo mais importante na construção de cestos (além da escolha da madeira) é a produção de "gabaritos". Apenas dois são necessários. Um permite serrar as ripas já previamente bitoladas exatamente do mesmo tamanho (um mesmo gabarito permite serrar diversos tamanhos de ripas de acordo com a regulagem, mas de modo consistente). O segundo gabarito permite fazer os furos das extremidades exatamente na mesma posição em todas as peças e nos dois lados de uma mesma peça (para que coincidam na hora de se passar a haste ou arame que prende os vértices do cesto). O fundo do cesto pode ser feito da mesma ripa ou de tela de aço inoxidável. Pode até ser deixado sem fundo, em pequenos cestos. Prefiro o fundo de tela, que é cortada na forma de um hexágono com 3 abas de 1 cm sobrando em 3 faces intercaladas do hexágono. Essas abas servem de apoio para o fundo durante a montagem do cesto. Com todas as peças prontas (24 ripas cortadas, furadas e lixadas e o fundo de tela de aço inoxidável já cortada como especificado), montamos o cesto, com o cuidado de colocar o fundo de tela com as abas sobre as três ripas mais de baixo, passamos o arame de aço inoxidável pelos vértices e formamos uma alça acima e abaixo do cesto e pronto.

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Para plantar em cestos com a construção acima, não é necessário o revestimento interno do cesto com outros materiais que não o substrato final. Se for um substrato frouxo (como a Casca de Pinus, Brita ou Argila Expandida, a planta pode ser amarrada a uma das ripas ou tela do fundo pelo rizoma entre o bulbo dianteiro e o segundo e a uma das faces do hexágono pelo rizoma entre o bulbo traseiro e o penúltimo. No caso da utilização de penduradores, algo muito recomendável com o uso de cestos, a planta ainda pode ser amarrada aos mesmos, de forma temporária, até o completo enraizamento.

Substratos

Xaxim (Dicksonia sellowiana) O xaxim é uma samambaia que, à medida que cresce, emite raízes que se enroscam sobre o caule e sobre si mesmas, o que ao longo do tempo dá origem a um "tronco" (chamado de cáudice) que pode ser trabalhado de diversas maneiras para produzir vasos, placas, cubos e o xaxim desfibrado. No Brasil o xaxim tem sido largamente utilizado no cultivo de orquídeas, bromélias, samambaias e outras plantas há mais de dois séculos. E não é a toa: é um substrato versátil, que contempla utilização para o cultivo de espécies que preferem substrato com maior retenção de água, mas dependendo do modo como é utilizado também serve para o plantio de espécies que preferem secagem mais rápida de suas raízes. É sem sombra de dúvidas o melhor substrato para orquídeas de que se tem notícia, é o substrato adequado ao maior número de espécies, além de permanecer com suas características inalteradas por cerca de 3 anos (às vezes mais) e ser amplamente disponível, pelo menos até há pouco tempo. Entretanto, a planta tem crescimento extremamente lento, segundo Jefferson Prado, pesquisador do instituto de botânica de São Paulo, em entrevista publicada na Revista Natureza (junho/2002) o xaxim cresce em média de 5 a 8 cm por ano. A produção de vasos com 40 a 50 cm de diâmetro só é possível com plantas que tem acima de 50 anos de idade. A sua ampla utilização e extração desenfreada sem manejo florestal sustentado atualmente ameaça a espécie de extinção. A planta originariamente se distribuía do sul do México ao Uruguai, com uma concentração no Brasil (especialmente estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). A sua extração está proibida por lei em todo o Brasil. A obtenção de boas (e confiáveis) informações sobre o xaxim não é fácil. O xaxim que todo orquidófilo antigo conhece muito bem é macio e fácil de se trabalhar manualmente. Uma vez molhado, pode ser desfibrado com facilidade e moldado dentro do vaso de modo a fixar a orquídea pelas suas raízes, dando estabilidade à planta para que a mesma não sofra danos ao sistema radicular no seu período de enraizamento pós replante. Entretanto, a maioria das imagens que se vê publicadas na internet são de xaxim ferro ou samambaiuçu, uma planta claramente diferente. O xaxim ferro tem o tronco extremamente duro e compacto, que não permite a penetração das raízes de orquídeas e tem secagem muito mais rápida que o xaxim utilizado na confecção de vasos. O xaxim ferro é uma planta de crescimento muito mais rápido, e atinge grande porte (já observei espécimes com cerca de 10 metros), mas com diâmetro de cerca de 20-25 cm no máximo (inviáveis para fabricação de vasos). Outro detalhe interessante é que o samambaiuçu ou xaxim ferro pode ser visto em

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qualquer caminhada pelas matas úmidas de Minas Gerais, onde claramente não está em extinção. O broto de samambaia (brotos novos do xaxim ferro) são muito apreciados como "verduras" cozidas e não é raro ver pessoas transitando ao longo de rodovias com molhos dos mesmos sob os braços. Outro fato digno de nota é que em 20 anos de orquidofilia e caminhadas a diversos ecosistemas nunca vi qualquer orquídea que seja crescendo sobre uma planta de xaxim ferro. Outras samambaias e musgos sim, orquídeas jamais. Portanto, não considero o xaxim ferro um bom substrato para orquídeas, e certamente outros compartilham da minha percepção, o que possivelmente é o motivo pelo qual ainda é tão abundante. Embora a sua exploração e comercialização estejam proibidas (e com muita propriedade), há ainda grandes estoques de xaxim em orquidários comerciais e amadores pelo Brasil. Isso porque esses indivíduos anteviram a proibição iminente do xaxim e fizeram estoques com o receio de não encontrarem um substrato substituto a altura. Em caráter mais histórico, mas também visando a preservação dessas informações para as futuras gerações, descrevo abaixo o modo de utilização do xaxim desfibrado. O correto processo de utilização do xaxim como substrato começa pela preparação do mesmo. O xaxim desfibrado disponível para os orquidófilos sempre foi um subproduto da produção de vasos, placas e palitos de xaxim (que são para uso de jardinagem em geral, inclusive para orquídeas). Os cortes longitudinais realizados no tronco do xaxim para produzir um cilindro de diâmetro padronizado ou placas e palitos de dimensões padronizadas deixam sobras laterais que são então desfibradas e ensacadas grosseiramente como sobras. Esse xaxim ensacado é rico em pó de xaxim que é inadequado ao cultivo de orquídeas. O processo de preparação do xaxim ao plantio começa pela abertura do saco, desfibramento completo do xaxim (diversos pedaços grandes ainda estão presentes no saco) e secagem do mesmo. Em seguida, com o xaxim bem seco, o mesmo é peneirado em peneira fina (peneira para reboco) para a retirada do pó, lã e pedaços de caule. O uso de mascara de carvão ativado é muito recomendável para essa tarefa. Em seguida, o xaxim é lavado e posto novamente para secar completamente. Após uma peneirada, obtém-se aproximadamente 80% de xaxim desfibrado e 20% de pó de xaxim. Conheço orquidófilos que repetem esse processo até 3 vezes, porém a quantidade de pó retirada subseqüentemente é muito menor. A finalidade é a obtenção de um substrato que contenha somente as fibras do xaxim. O material processado é geralmente guardado em baldes de plástico já prontos para o uso. O xaxim seco pode ser estocado quase que indefinidamente, pois não se decompõe. Para utilizá-lo, basta molhar uma pequena quantidade suficiente ao uso proposto e mãos à obra ! Tanto em vasos de barro quanto plástico deve-se utilizar 1/5 a 1/4 de drenagem ao fundo (cacos de vasos desinfetados, argila expandida, etc.), pois ao fundo do vaso sempre permanece uma lâmina de água após cada rega. Deve-se completar o vaso com xaxim desfibrado, com cuidado para não danificar as raízes da planta (as raízes devem ser molhadas antes do plantio), compactando levemente até 1 cm da borda. Observar o cuidado de se deixar o rizoma acima do nível do xaxim. Para uma melhor aparência estética, aparar as fibras "rebeldes" de xaxim com tesoura de poda desinfetada. Não se deve completar o substrato até a borda do vaso para que, ao aplicar adubo orgânico, lesmicidas granulados, etc. sobre o xaxim, se possa regar a planta e mesmo assim ter a retenção do material aplicado. Dessa forma, a água penetra melhor no xaxim durante as regas.

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No caso de seedlings, a utilização de uma mistura de 2/3 de xaxim desfibrado e 1/3 de Sphagnum é recomendável para se obter uma umidade mais constante, devido ao pequeno diâmetro dos vasos (especialmente se forem de barro). Por último, acrescenta-se a haste de dependurar ou estaca de imobilização e afixa-se partes da planta às mesmas (para estabilidade durante o enraizamento pós replante) e a identificação da planta (etiqueta). Sphagnum e Outros Musgos O Sphagnum já é um clássico entre os substratos. Consagrado, disponível, renovável (e cultivável), o Sphagnum tem propriedades fungicidas e bactericidas, embora tenha uma durabilidade relativamente curta. O uso mais freqüente desse substrato é no cultivo de seedlings, tanto sozinho quando misturado a outros substratos com a finalidade de aumentar a sua retenção hídrica. É também muito utilizado sobre cascas como uma "cama" que permite uma melhor fixação da planta a ser plantada, além de elevar a umidade na fase de enraizamento. Vem tendo grande aceitação no cultivo de C. walkeriana, tanto no Brasil quanto no Japão, em conjunção com vasos de barro. Os maiores impecílios ao uso do Sphagnum, na minha opinião, são 3: curta durabilidade, impossibilidade de uso de adubação orgânica e requer regime de rega diferente de outros substratos mais porosos e com menos retenção hídrica. A durabilidade do Sphagnum em cultivo é de cerca de um ano. Após esse período ele deve ser trocado, o que muitas vezes aumenta, e muito, a mão de obra no orquidário. Essa troca deve ser feita com muito cuidado e sempre após regar o substrato completamente, pois deve evitar ao máximo danos às raízes da planta. Caso essa recomendação não seja seguida, a planta precisará, a cada ano, desenvolver um novo sistema radicular, o que terá impacto no seu crescimento vegetativo e floração. A impossibilidade de adubação orgânica é também outro problema. O Sphagnum é pobre em nutrientes e estes precisam invariavelmente ser adicionados em intervalos regulares. A adubação orgânica a base de torta de mamona, farinha de osso e cama de frango (o famoso Viagra ou Bokashi) acelera tremendamente a degradação do Sphagnum devido ao elevado grau de retenção de água desse musgo, o que acelera a proliferação bacteriana no substrato e seu conseqüente apodrecimento. Isso se aplica a qualquer substrato que permaneça úmido por um prolongado período de tempo (quer por retenção hídrica inerente ao substrato, que por rega excessiva). Nos resta a aplicação de adubação foliar com periodicidade semanal ou na água de irrigação. Quanto ao regime de rega, é natural que um substrato com maior retenção hídrica requeira uma rega mais esparsa. Desde que haja a possibilidade de se segregar plantas cultivadas em Sphagnum de plantas em outro substrato e que a rega seja feita manualmente, isso não é um problema. O Esfagno de qualidade prêmium tem fibras longas, é completamente livre de pó e outros materiais contaminantes. Por ser importado (geralmente do Chile) é mais caro que muitos outros substratos. Ele vem em duas gradações: fino (ou tamanho seedling) e longo. Se você encontrar Sphagnum barato por aí, desconfie. Mateiros lançaram a moda de entrar mata a dentro arrancando diversos tipos de musgo, secando os mesmos e vendendo como Sphagnum. Além do dano ambiental, esses musgos não são "a mesma coisa" (além de vir com grande número de impurezas, folhas secas, pó, etc.).

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Ao plantar com Sphagnum, alguns cuidados devem ser seguidos. Em primeiro lugar, o Sphagnum só deve ser trabalhado molhado (nem somente úmido, nem encharcado, molhado o suficiente para que a memória das fibra não faça com que o Sphagnum se desenrole para fora do vaso). Quando colocado e levemente apertado no vaso, o sphagnum fica naquela posição. Se não ficar, é porque está seco demais. Se estiver encharcado, espremê-lo para retirar o excesso de umidade.Também deve ser colocado sempre afofado, nunca compactado dentro do vaso e ao redor das raízes da planta. Isso permite a aeração das raízes e a maior durabilidade do Sphagnum. E finalmente, deve ser utilizada apenas uma fina camada do substrato, com bastante drenagem. A proporção para Sphagnum puro geralmente é de 3/4 de drenagem para 1/4 de Sphagnum. O plantio deve ser assim: coloque as raízes dentro do vaso. Se o vaso for de plástico, o tamanho deve ser apenas o suficiente para acomodar as raízes. Se você utilizar um vaso de barro, utilize um que seja apenas um tamanho maior que o de plástico, permitindo em torno de 2 cm de espaço em volta das raízes, ou um pouco mais, se você utilizar um vaso de barro para orquídeas. Centralize a planta e segure-a de modo que o rizoma (onde as raízes se juntam à planta) esteja nivelado com a borda do vaso. Encha o vaso até 3 cm da borda com casca de amendoim (ou outro material de drenagem). Afofe o sphagnum e complete o vaso até a borda do vaso de plástico apertando levemente, sem compactar. Agora, segurando a planta pelos bulbos, aperte um pouco o musgo até o interior da borda do vaso de plástico (se utilizar um vaso de barro, compacte até ficar um ressalto de 2 cm da borda do vaso). Quando pronto, o rizoma da planta deve estar apenas um pouco mais alto que o musgo, de modo que apenas um pouco das raízes estão expostas e as folhas não tocam o substrato. Se você removesse a planta do vaso nessa fase, você veria apenas 1 a 2 cm de musgo em um vaso de 10 a 12 cm de diâmetro. Estaqueie ou fixe a planta aos penduradores para maior estabilidade. Há outros tipos de musgo no mercado. Um dos principais é o Peat Moss. Nós não temos nenhuma experiência na utilização desse musgo da família do Sphagnum, nem como ingrediente principal e nem como aditivo de misturas de substrato. O que lemos a respeito desse substrato é que ele tem uma alta capacidade de retenção de água e que permanece quase inalterado por alguns anos. Pode ser utilizado como substrato único e alguns produtores comerciais incluem o Peat Moss como parte de suas misturas de substratos (geralmente junto a Casca de Pinheiro, Perlita e Carvão, mas às vezes também Diatomita). Nos EUA, o cultivo em misturas contendo Peat Moss é "carinhosamente" chamado de cultivo de orquídeas "em barro". Fique atento para esse musgo.

Plantas em placas de casca ou tocos Corticeira Brasileira ou Pau Santo (Kielmeyera variabilis Mart., mas também K. coriacea, K. rubriflora, etc.), Xaxim (Dicksonia sellowiana), Xaxim Ferro (Dicksonia sp), Canela de Ema (Vellozia squamata Pohl), Jacarandá (Dalbergia nigra), Ipê Amarelo (Tabebuia chrysotricha), Jequitibá (Lecythidaceae), Barba-Timão (Stryphnodendron adstringens), café (Coffea arabica) Muitos orquidófilos preferem o cultivo de orquídeas em placas de casca ou tocos. No Brasil, as duas principais cascas atualmente utilizadas no cultivo de

orquídeas são a casca da Peroba do Campo (Paratecoma peroba) e a da

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Corticeira Brasileira ou Pau Santo (Kielmeyera variabilis Mart., mas também K. coriacea, K. rubriflora, etc.). As razões principais da consagração dessas duas árvores são a grande durabilidade da casca no ambiente úmido do orquidário e a grande aceitação das cascas dessas árvores pelas orquídeas. Embora seu uso e extração sejam proibidos por lei, o Xaxim (Dicksonia sellowiana), o Xaxim Ferro (Dicksonia sp), a Canela de Ema (Vellozia squamata Pohl = Vellozia flavicans Mart. ex Schult.), o Jacarandá (Dalbergia

nigra e outras espécies do gênero), o Ipê Amarelo (Tabebuia chrysotricha) e o

Jequitibá (Lecythidaceae) na forma de placas também foram (e infelizmente ainda o são), no passado, muito utilizadas com este fim. Todas tem as mesmas características de durabilidade no orquidário e grande aceitação pelas plantas, além de poderem ser trabalhadas da mesma forma. Não compro essas cascas de comerciantes de orquídeas, pois não quero incentivar o abate de árvores com o propósito único de se retirar a casca. Há pessoas inescrupulosas que fazem dessa atividade um ganha pão: são os famosos Mateiros (os mesmos que dizimam as orquídeas da natureza ou invés de reproduzi-las em cultivo). Plantas como a Peroba do Campo, a Corticeira, a Canela de Ema, e os Xaxins são plantas de crescimento muito lento, e embora sejam recursos, em teoria, renováveis, não há programas de manejo sustentado no Brasil que permitam a utilização dessas espécies em larga escala sem a degradação do meio ambiente. Uma pena e um sinal patente da incompetência das nossas autoridades. As cascas de Peroba do Campo obtenho de serrarias com licença do IBAMA para a extração legal da árvore. Essas cascas são geralmente desprezadas e queimadas. O mesmo se aplica às demais árvores de madeira de lei, que são adquiridas mais pela oportunidade que de forma sistemática. Quanto à Corticeira ou Pau Santo, durante as caminhadas é comum encontrar uma ou outra árvore morta. Essas árvores perdem seus galhos, a madeira apodrece com muita rapidez e o que sobra é o cerne e a casca quase sempre solta ao seu redor. Tanto o cerne quando a casca são de grande durabilidade e não são apreciados por cupins. A casca pode ser cortada com uma faca no sentido longitudinal e simplesmente "desvestida" do cerne. Para a Corticeira, as partes de fino diâmetro mantenho como tocos, pois são mais úteis dessa maneira. Para os tocos, que contém madeira no seu interior, pode ser interessante o tratamento das suas extremidades para aumentar a durabilidade do toco como um todo. Esse procedimento é muito recomendável no caso da utilização de madeiras e

cascas menos duráveis, tais como o café (Coffea arabica), a Corticeira ou Pau Santo (Kielmeyera variabilis, cuja madeira é pouco durável), o Ipê Amarelo (Tabebuia chrysotricha, cuja casca é pouco durável). Amplamente disponível no Brasil, o tronco do Café vem sendo utilizado com cada vez maior freqüência na confecção de tocos para plantio de orquídeas. Devido ao replante periódico das plantas de café e o seu descarte e posterior queima, obter esse substrato é fácil e barato e uma vez tratado, tem durabilidade de cerca de 5 anos. Veja mais a frente como imunizar um toco. Independente do tipo de casca a ser utilizado, prefiro dar um tratamento na casca com serra de fita, de modo a produzir tamanhos padronizados em placas. Isso torna a disposição posterior das plantas dentro do orquidário mais econômica. Em seguida, levo as peças já serradas à lixadeira de fita e arredondo os cantos, tanto por razões estéticas, quanto para permitir que as raízes "façam a curva" e

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continuem o seu crescimento para as costas da casca ao invés de se tornarem aéreas (muitas vezes funciona, outras não, mas fica sempre bonito!). No pólo superior da placa (procuro colocar o lado mais rugoso para baixo) faço dois furos para a passagem do pendurador de arame, com broca de mesmo calibre que o arame e outro furo idêntico para a colocação da identificação da planta. Prefiro a utilização de arame de aço inoxidável para a confecção de todos os meus penduradores e prendedores de etiqueta. Se for utilizar esse tipo de arame, dê preferência ao do tipo recozido, pois é mais maleável e tem menos efeito de mola. Nesse ponto a casca já está acabada para ser utilizada, falta a remoção do tanino. Algumas cascas, em especial o Barba-Timão (Stryphnodendron adstringens) que na língua dos índios se chama "yba timó" ou "árvore que aperta" por ter sabor adstringente, são particularmente ricas em tanino. Tais casca necessitam ficar de molho em água por cinco dias para que este se difunda, com troca diária da água (há quem ferva a casca para acelerar o processo). Isso também ocorre com a rega, mas leva muito mais tempo. Outra forma é preparar a casca e deixá-la dentro do orquidário recebendo rega por alguns meses antes de ser utilizada para o plantio. Não recomendo o uso da casca de Barba-Timão por achar que tem pouca durabilidade, mesmo na natureza. Para a fixação das plantas na casca, coloco a planta sobre a mesma e estudo qual é a melhor posição com vistas ao crescimento futuro, enraizamento, aparência estética, etc. Em seguida, marco 4 furos cercando a posição em que desejo fixar o bulbo dianteiro e o traseiro (ou 4 furos por ponto fixado). Com um pouco de Sphagnum úmido, faço uma "cama" bem fina para apoiar melhor a planta e mantê-la mais úmida durante a fase de enraizamento. Pode-se cobrir alguns dos sulcos da casca acima e abaixo da planta com a mesma finalidade. Uma vez que a planta estiver enraizada, esse Sphagnum pode ser retirado com uma pinça ou manualmente, caso seja necessário (após 2 anos é recomendável a retirada). Com a "cama" de Sphagnum pronta, utilizo fio de telefone ou cabo de rede de computador (os fininhos de dentro deles) para amarrar a planta. Passo os mesmos formando um ponto em cruz, fixando a planta pelo rizoma entre o bulbo dianteiro e o segundo e entre o último e o penúltimo e amarro com firmeza por detrás da placa com um nó cego. O arame também pode ser retirado após o completo enraizamento da planta. Agora, com a planta devidamente afixada à casca, é só pendurar e identificar. Fazer tabela mostrando todo o procedimento, passo a passo. Como imunizar um toco Os toquinhos de Pau-Santo, Pau-Branco do cerrado, Lixeira, Corticeira, Pára-Tudo e outras árvores cascudas de cerne leve e poroso, favorecem o enraizamento de orquídeas porém a madeira interior está sujeita ao ataque de cupins e outros comedores de madeira, apodrecendo com facilidade.

Para solucionar o problema é possível preparar um tratamento, semelhante ao feito com o eucalipto para fabricar mourões de cerca, com alta resistência a decomposição. O tratamento caseiro consiste no seguinte:

1. Cortar os toquinhos de madeira no tamanho desejado; Sugere-se pelo menos 4 cm de diâmetro. A parte de cima deve ficar levemente chanfrada. Furar a 2cm da borda da parte superior com broca de 1/8 para passar o arame para pendurar. 2. Preparar uma solução composta de 100 g de acido bórico, 100 g de sulfato de cobre e 4 litros de água. 3. Misturar bem e colocar em uma vasilha de plástico com fundo chato (pode ser

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uma bacia) procurando manter nível da solução em aproximadamente 2,5 cm. 4. Colocar o toquinho em pé para que somente a ponta fique mergulhada na solução. Deixar de um dia para o outro. 5. Retirar os toquinhos e deixar escorrer tomando o cuidado para que a solução não escorra pela casca. 6. Repetir a operação com o outro lado do toquinho. Pronto. Os tocos estarão imunes por muitos anos e não mais apodrecerão com facilidade. 7. Retirar e deixar escorrer para não pingar no corpo do toquinho. Atenção: nas partes do toquinho onde o produto teve contato a planta dificilmente enraizará. Plantas em placas de Xaxim (ou outro material macio) O plantio em placas de Xaxim é mais simplificado que o feito em placas de casca. Por ser mais macio, o Xaxim dispensa furos com brocas e dispensa a confecção de uma "cama" de Sphagnum entre a planta e o Xaxim. Uma forma simples e comumente utilizada de se fixar plantas a uma placa de xaxim é preparar grampos de arame (minha preferência é por aço inoxidável recozido) em forma de "U", com as pernas em torno de 1,5cm mais longas que a espessura da placa. Em seguida, coloque a planta na posição desejada e espete um grampo fixando o rizoma entre o bulbo dianteiro e o segundo e um outro grampo entre o traseiro e o penúltimo. Agora, vire a placa e torça a ponta do grampo para fora do U por detrás da placa, apertando e fixando a planta. Se for necessário, distribua mais grampos. O uso de palitos de Xaxim é muito similar. Devido à maior espessura, a utilização de grampos não requer trespasse da peça, mas que seja comprido o suficiente para fixar a planta. Cortiça Européia e Rolhas de Garrafa (Quercus suber) A cortiça é um produto natural que é extraído da casca do Carvalho de Cortiça (quercus suber), que cresce naturalmente em países mediterrâneos, predominantemente Portugal e Espanha. A casca de de um Carvalho de Cortiça ou Corticeira é cuidadosamente removida a cada 9 ou 10 anos por agricultores profissionais experientes e a árvore, depois disso, começa a crescer um novo e espesso casaco de cortiça, quase da mesma forma que ovelhas crescem lã. As colheitas de cortiça são feitas em rodízio das árvores, com um lote sendo explorado a cada ano e reiniciando o ciclo de 10 em 10 anos. Dessa forma, há um suprimento confiável dessa casca única. A cortiça é, portanto, um recurso renovável, e a Corticeira chega a viver 200 anos. Tipicamente, a cortiça é disponível em cubos (cortiça picada nos tamanhos muito pequeno, pequeno e grande), placas de diversos tamanhos e espessuras e em tubos virgens (casca in natura preservando a aparência de galho de árvore). É um substrato muito leve e solto, de modo que fixações e amarrações adicionais das plantas contra furações no fundo e parede do vaso ou cesto são muito recomendáveis. A cortiça não segura praticamente água nenhuma, dura muito muito tempo, e se mistura muito bem com outros substratos de forma a produzir ótimas combinações. Combinações feitas com cortiça são tipicamente bastante aeradas, o que é ideal para a maioria das orquídeas. Devido à sua drenagem livre, também permite a utilização de vasos um pouco maiores que os permitidos para substratos que seguram mais umidade ou que se decompõem com mais rapidez. Uma

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característica importante é que, como se decompõe lentamente, tem pouco valor nutricional e requer portanto uma adubação adequada da planta. Orquídeas adoram viver dentro, sobre e em torno de cortiça, porque as suas raízes penetram cada reentrância da casca rugosa, encontrando caminhos que, muitas vezes, penetram a mesma. A beleza estética de uma montagem com cortiça preservando a rugosidade natural é muitas vezes sem igual. O modo de fixação e plantio em placas e tubos é idêntico ao utilizado para Corticeira Brasileira ou Pau Santo, Peroba do Campo e outras cascas, como descrito acima. Casca de Pinheiro Redwood (sequoia sempervirens), Douglas fir (Pseudotsuga menziesii) ou Pinheiro de Monterey (Pinus Radiata) Casca de pinheiro é um ótimo substrato e é amplamente utilizado mundo a fora. No brasil, vem concorrendo com o coxim de coco pela preferência dos orquidários comerciais. No Brasil é, infelizmente, difícil de se obter boas informações sobre esse substrato, de modo que as informações abaixo são compiladas de diversas fontes aqui e no exterior. A casca de pinheiro e fácil de usar, não retém excesso de umidade e, em condições normais de uso, não tem que ser trocado por 2 anos. A casca de pinheiro (que geralmente é a casca de Redwood (sequoia sempervirens), Douglas fir (Pseudotsuga menziesii) ou pinheiro de Monterey (Pinus Radiata)), vem em 3 tamanhos (tamanhos são também chamados de gradações): pequeno (também chamado de tamanho seedling), médio e grande. Os tamanhos mais comumente utilizados são o seedling e o médio. A casca da sequoia sempervirens contém tanino, que protege a madeira contra fogo, insetos, fungos e doenças que podem danificar a árvore. Ela é incrivelmente resistente a fogo e apodrecimento (por não ter resina e conter seiva à base de água), mas é friável (quebradiça). É utilizada quando se deseja reduzir o pH do substrato em uma mistura. É um substrato fibroso, aerado, fofo e mais resistente ao apodrecimento que a casca de Pseudotsuga menziesii. É muito popular na produção de misturas de substrato para Cymbidium. Há anos a casca de Pseudotsuga menziesii tem sido a base dos substratos para orquídeas nos EUA. A casca na gramatura média é mais adequada a plantas epífitas com raízes médias a grandes. Esse tipo de casca se decompõe mais rapidamente em ambientes quentes e úmidos e, à medida que isso acontece, ela consome nitrogênio. Fertilizantes com alto teor de nitrogênio são portanto um componente muito importante na sua utilização bem sucedida. Uma alternativa excepcional à casca da Douglas Fir ou Pseudotsuga menziesii é a casca envelhecida de pinheiro de Monterey (da Nova Zelândia). Esse ótimo substrato é escuro e rico. É extraído do Pinus Radiata, que não se decompõe tão rapidamente quanto o Douglas Fir. Ela retém uma estrutura rígida e alta porosidade, tem um pH mais estável. É capaz de reter mais umidade e nutrientes e de manter um pH mais elevado o que, pesquisas demonstram, resulta em melhor cultivo de orquídeas. As cascas de "pinheiro" são raramente utilizadas sozinhas. A maioria dos orquidófilos adiciona um ou mais dos seguintes: - Perlita - Pedra esponja (que é perlita expandida) - Carvão (do tipo horticultural) - Sphagnum

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- Xaxim A Perlita e a pedra esponja são utilizadas para criar mais espaço de ar na mistura. O Carvão é utilizado para absorver substâncias tóxicas que podem estar presentes na água. O Sphagnum e o Xaxim são utilizados para aumentar a capacidade de segurar água da mistura. No brasil, a casca de pinheiro é freqüentemente misturada à brita e à pinha desfibrada, porém desconheço produtores que selecionem esta ou aquela espécie de pinheiro. A maioria utiliza aquela que tem no "quintal" e pronto. Por isso, os resultados de cultivo e as opiniões quanto a esse substrato são tão variáveis e as discussões acaloradas. Por ser um substrato solto e leve, pode ser necessária uma melhor fixação da planta por amarrações adicionais (contra furações no fundo e parede do vaso ou cesto). A brita ajuda nesse aspecto, bem como a aumentar a drenagem da casca de pinheiro. Como citado acima, esse substrato deve ser trocado a cada 2 anos. Coxim de Coco (Cocos nucifera) O coxim de coco é utilizado em uma ampla gama de aplicações, variando de estofamentos para a indústria automobilística a substrato para orquídeas. Como substrato para orquídeas tem sido utilizado em larga escala na ásia e no Brasil onde é muito disponível e renovável. Nos últimos anos, tem sido progressivamente adotado nos EUA, apesar de ser mais caro que a casca de pinheiro naquele país. Isso porque a durabilidade de até 5 anos (contra 2 anos da casca de pinheiro) e a facilidade de uso tem grande apelo. Uma desvantagem do coxim de coco é que, baseado na literatura que lemos, ele pode ser rico em sódio quando primeiro utilizado (alguns dizem que depende da "fonte"). A medida que envelhece, o coxim aparentemente perde o contúdo de sódio. Veja abaixo como é preparado a partir na casca do coco. O coxim de coco para orquídeas vem tanto em cubos (pequenos e médios) como em fibras longas. Ambas são muito leves, mas tem o inconveniente de terem baixíssimo valor nutricional, e obrigatoriamente demandam adubação periódica. Isso decorre tanto da natureza do material, quanto do seu método de beneficiamento (ver abaixo), além do lento ritmo de decomposição. As duas apresentações também tem propriedades bem diferentes. O coxim em cubos tem uma retenção hídrica menor, melhor aeração e grande durabilidade (em torno de 5 anos). É utilizado de modo semelhante ao xaxim ou à casca de pinheiro e, portanto, é mais fácil de ser trabalhado que a apresentação em fibras longas. Uma característica importante da apresentação em cubos é que não se deve deixa-la secar por completo, pois conseguir molha-lo depois de seca é bem mais difícil e requer adição de muita água, o que lava o substrato (retira os sais minerais adicionados com a adubação). Outro ponto é que, por ser leve e solto, pode ser necessária uma melhor fixação da planta por amarrações adicionais (contra furações no fundo e parede do vaso ou cesto). A apresentação em fibras longas tem uma retenção hídrica maior e por isso deve ser trabalhada afofada (sem compactar ou apertar em demasia no vaso). É mais "dura" que o Sphagnum para moldar no recipiente e, para facilitar a tarefa, pode requerer um prolongado período de molho em água (durante a noite). Também pode precisar de ser cortada para se ter a quantidade necessária ao plantio. Por outro lado, fixa melhor a planta no recipiente que a apresentação em cubos e é molhada com mais facilidade.

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O modo de preparo do coxim em cubos a partir da casca do coco in natura é

relativamente simples. Limpar bem a casca do coco e deixar de molho durante 30 dias. Nos primeiros 7 dias, trocar a água 1 vez ao dia. Após a primeira semana, trocar a água a cada 2 dias. Este processo ajuda a eliminar o tanino e o sal (além de qualquer valor nutritivo que o substrato possa ter). Após retirar do molho, as cascas devem ficar expostas ao sol durante uma semana. Armazenar em local seco e quebrar (ou serrar) no tamanho necessário, de acordo com o tipo de planta a ser cultivada. Nossa experiência com coxim é limitada, mas com essa limitada experiência percebemos que segura água por muito mais tempo que a casca de pinheiro e portanto sugerimos cuidado ao utilizá-lo. Piaçava (Attalea funifera Martius) A fibra de piaçava é produzida pela palmeira (Attalea funifera Martius). O nome vulgar piaçava é de origem tupi, traduzido como “planta fibrosa”. Essa palmeira é muito abundante no Recôncavo Baiano, onde a espécie é nativa e endêmica. É encontrada predominantemente na mata de restinga e na mata higrófila, sobre os tabuleiros próximos ao litoral, sendo que ambas vegetações são associadas ao ecossistema de Mata Atlântica. Ocorre em solos arenosos e sílico-arenosos, em geral de baixa fertilidade e ácidos com baixo teor de fósforo, cálcio e magnésio. Essa palmeira foi citada na carta de Pero Vaz de Caminha quando do descobrimento do Brasil sem que tenha sido, entretanto, tratado do seu uso. Durante o período colonial, as fibras eram procuradas por navegadores de várias nacionalidades para fabricação de cordas utilizadas como amarra de navios, por oferecerem mais segurança às embarcações. Produtora de fibra longa, resistente, rígida, lisa, de textura impermeável e de alta flexibilidade, essa palmeira se desenvolve bem em solos de baixa fertilidade e com características físicas inadequadas para a exploração econômica de muitos cultivos. A necessidade de poucos recursos financeiros para o plantio, a manutenção e exploração, tornam a piaçaveira uma opção agrícola atraente, pelos reduzidos riscos e altos rendimentos que proporciona ao investidor. As árvores devem ser colhidas apenas uma vez por ano, a fim de possibilitar a formação de fibras mais longas e de melhor valor comercial. Quando se faz o corte com intervalo menor que um ano, se obtém uma fibra de qualidade inferior. Isso também compromete a longevidade de planta. A fase considerada como mais apropriada para a colheita é de março a setembro, uma vez que nos meses mais quentes, a fibra colhida fica menos flexível. Entretanto, nas áreas produtoras, observa-se colheita em todas as épocas do ano. Numa área com boa concentração de plantas, o tirador sobe em uma piaçaveira e segue cortando as folhas, passando de um pé para o outro, sem descer ao chão. A importância econômica da piaçaveira está na extração das suas fibras industriais, destacando-se a fabricação de vassouras, enchimento nos assentos de carros, cordoaria e escovões. O resíduo obtido de sua limpeza, o qual é conhecido como bagaço, fita ou borra, serve para cobertura de casas nos meios rural e urbano. Atualmente este produto é muito utilizado na cobertura de quiosques em áreas de lazer como sítios, clubes e praças. Outro emprego do mesmo é como isolante térmico. O bulbo da piaçaveira nova é um palmito de agradável sabor. A amêndoa do fruto (coco) é usada para fazer mingau, farinha, canjica até mesmo leite que

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pode substituir o leite de vaca ou de soja. O maior emprego do coco atualmente é como semente para a formação de mudas, mas também constituí uma fonte alternativa de energia, quando empregado como carvão ou mesmo na queima direta em forno industrial, tendo efeito similar ao carvão de pedra. Além disso, o coco presta-se para o fabrico de botões, boquilhas de cachimbo, piteiras, punhos de bengala, e objetos de adorno feitos com osso, madrepérola e marfim que ele imita bem. Como substrato para orquídeas, a piaçava tem sido utilizada por produtores comerciais, tanto pura quanto misturada a outros materiais. As suas propriedades são adequadas ao cultivo em estufas, onde a umidade relativa do ar é mantida artificialmente e suplementa a retenção hídrica deficiente da fibra. Por ser impermeável e não reter a umidade necessária ao cultivo de orquídeas fora de estufa, situação da maioria dos orquidários amadores do país, principalmente os urbanos, não tem grande aceitação fora dos meios comerciais. Além disso, embora a fibra seja flexível, ela é dura e difícil de se manipular (pode requerer corte com tesoura para chapa metálica ou guilhotina, se for em grande quantidade). Deixar a fibra de molho em água não muda muito essas propriedades. A decomposição da piaçava é muito lenta, e o rítmo de replante será dado aos demais componentes da mistura (caso presentes) ou pelo crescimento da planta. O valor nutricional da piaçava é praticamente nulo, o que demanda adubação regular. Por outro lado, quase não sofre alteração do pH com o passar do tempo, exceto em situações com água de irrigação apresentando elevada alcalinidade não corrigida. Por ser um substrato extremamente solto e aerado, pode ser necessária uma melhor fixação da planta por amarrações adicionais (contra furações no fundo e parede do vaso ou cesto). A adição de coxim de coco e brita aumenta o peso no vaso, melhora a fixação das plantas e a retenção hídrica. Um aviso de utilidade pública: há relatos de infecções fúngicas de pele e das vias aéreas relacionados à manipulação de piaçava seca estocada. Fazer uso de mascara de carvão ativado, óculos e luvas para a sua manipulação e, de preferência, molhar o material (ou lavar com lavador de pressão) antes do manuseio. Coquinhos de Licuri (Syagrus coronata ( Mart.) Becc.), Jerivá (ou Gerivá) (Syagrus romanzoffiana), Guariroba (Syagrus oleracea) e Butiá (Butia eriospatha (Mart. Ex Drude) Becc., Syagrus eriopatha (Mart. Ex Drude) Glassm.) Há alguns anos, venho experimentando com esse substrato. Atualmente o considero, sozinho ou em combinação com outros substratos, um dos melhores substitutos para o xaxim para um grande número de espécies. Não tenho certeza se sou "pioneiro" na sua utilização, mas comecei a empregar os coquinhos no plantio de orquídeas de forma expontânea e desconheço outros que o fazem. Desse modo, pode ser uma novidade para você, e mais uma opção. As quatro espécies de palmeiras são abundantes pelo país, especialmente a Jerivá (Syagrus romanzoffiana), que se distribui por todo o cerrado brasileiro, da região norte ao Rio Grande do Sul. Todas as quatro tem uma característica comum entre si: a noz ou coco é envolto por uma casca muito dura e extremamente durável que, até onde investiguei, é descartada em todos os projetos de utilização humana dessas palmeiras (há possibilidade, por exemplo, de aproveitamento das cascas que já são produzidas no vale do Jequitinhonha e Bahia no beneficiamento do Licuri (Syagrus coronata ( Mart.) Becc.)). As cascas dos coquinhos, dependendo da

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espécie, variam de 2 cm a 5 cm de comprimento por 1 cm a 3 cm de largura. É possível cultivar espécies com um determinado diâmetro de coquinho em mente, dessa forma é viável o desenvolvimento de substratos de bitola diferente para tamanhos de plantas e de vasos diferentes. Um dado relevante é que elas não frutificam todas ao mesmo tempo, de modo que é possível um manejo que produza substrato o ano todo. Outro aspecto interessante é que servem de alimento a esquilos e araras. Comecei a utilizar o coquinho de Jerivá quando percebi que os esquilos Caxinguelê (Sciurus aestuans, Sciurus ingrami) os apreciavam muitíssimo e solucionavam um problema na utilização do mesmo: a brota dos coquinhos no vaso. Isso porque, se o coquinho for utilizado como substrato contendo uma noz viável no seu interior, essa muito provavelmente germinará no agradável ambiente do orquidário. Ao se alimentarem da noz, esquilos e araras cospem as casquinhas já descascadas (sem polpa) e roídas (sem as nozes). Então tive uma boa dimensão da expressão "catar coquinhos"... Após ajuntar um balde desses coquinhos já processados pelos esquilos (uma tarefa de algumas horas), lavei e desinfetei os mesmos com solução de cloro. Esse tratamento me pareceu necessário, pois os coquinhos de anos passados estavam pelo chão afora, muitos ainda sem sinal de apodrecimento, mas colonizados por fungos e bactérias. Já angariei bastante experiência no seu uso com Laelias rupícolas. Para estas, utilizo vasos largos e baixos (para reduzir o tempo de secagem) e misturo uma parte de coquinho para uma parte de minério de ferro ou brita de gneiss (outras pedras ricas em ferro ou cristalinas também devem funcionar bem). Não há necessidade de drenagem adicional e o peso no minério de ferro é suficiente para a fixação das plantas pelas raízes. Procuro regar somente à noite e as plantas ficam submetidas a luminosidade 50%. O enraizamento é geralmente rápido. Os coquinhos são de grande durabilidade, o que evita replantes nas Laelias rupícolas (que são plantas que não toleram replantes freqüentes). Devido à secagem rápida do substrato, pode-se utilizar vasos de diâmetro maior que o usual sem maiores problemas, o que reduz ainda mais a necessidade de replantes. Nesse cultivo, o mais interessante é a incrível preservação das raízes e como estas tendem a permanecer dentro do vaso, enrolando-se por lá. Isso faz com que, embora o substrato seja extremamente aerado e seco, as plantas vegetem bem nele e não se desidratem com facilidade. Abaixo fala-se um pouco das palmeiras citadas:

Jerivá (ou Gerivá ou Licurí de Jardim) (Syagrus romanzoffiana)Ocorrência – sul da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul até o Rio

Grande do Sul Outros nomes - gerivá, coqueiro jerivá, jeribá, coqueiro, coco de catarro, coco catarro, coco babão, baba de boi, coco de cachorro, cheribão, coco de Santa Catarina, coqueiro de juvena, pindó, imburí de cachorro, patí

Características – espécie com 7 a 15 m de altura, estipe liso, anelado, com 30 a 50 cm de diâmetro. Folhas pinadas, em número de 8 a 15, arqueadas, pinas dispostas em diferentes planos sobre a raque, pendentes, com 2 a 3 m de comprimento. Planta monóica. Inflorescências interfoliares em cacho de até 1,5 m de comprimento, bráctea peduncular lenhosa, profundamente frisada na parte externa de coloração creme. Frutos globosos ou ovóides, amarelos ou alaranjados,

com 2 a 3 cm de comprimento, mesocarpo fibro-carnoso e adocicado. Hábitat –

quase todas as formações florestais Propagação – coco-semente Utilidade – os frutos proporcionam alimento farto para muitos pássaros, principalmente para os

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psitacídeos e para esquilos. De igual modo os frutos são comestíveis para o homem. As flores são muito visitadas por abelhas. As folhas têm 16% de proteína bruta, em algumas regiões constituem um ótimo alimento para cavalos, tendo sido outrora utilizada para cavalos de corrida, devido ao seu alto valor energético.

Indicada para recomposição vegetal e paisagismo. Florescimento – setembro a

março Frutificação – fevereiro a agosto

Guariroba (Syagrus oleracea)Ocorrência – nordeste e sudeste até o Paraná

Outros nomes – gueroba, gueiroba, palmito amargoso, catolé, coco babão, paty

amargoso, coco amargoso, coco guariroba, gariroba, coco catolé Características – espécie com estipe simples, ereto, acinzentado, podendo atingir até 20 m de altura e 20 a 30 cm de diâmetro. Copa crispada e deflexa. Folhas grandes em número de 15 a 20, de até 3 m de comprimento, dispostas em espiral e levemente arqueadas. Folíolos em número de 100 a 150, em grupos de 2 a 5, dispostos em diferentes planos. Espécie monóica. Flores surgem em cachos. Frutos elipsóides, lisos, com 4 a 5 cm de comprimento, mesocarpo espesso, carnoso, adocicado e fibroso, verde-amarelados, com uma amêndoa branca, oleaginosa e comestível.

Hábitat – floresta semidecídua em altitudes entre 400 e 1.200 m, tanto na

caatinga como no cerrado. Propagação – sementes Utilidade – s eus coquinhos, quando amadurecem e caem, são importante complemento na alimentação do gado. Deles, também, a população nativa retira as amêndoas, aproveitadas na produção de doces caseiros. Além disso, dessa amêndoa, que contém mais de 60% de matérias graxas, extrai-se um abundante e excelente óleo comestível e de notada utilidade na indústria de sabões. Porém, entre todos os produtos extraídos da guariroba, destaca-se o seu palmito ou broto terminal. Considerado por muitos como verdura de sabor amargo - o que de fato é quando comparado aos palmitos doces das espécies da Mata Atlântica -, o palmito da guariroba é uma iguaria de largo aproveitamento culinário. Especialmente em algumas regiões de Minas Gerais e de Goiás. A madeira é empregada para estacas, mourões, ripas e calhas d'água. As folhas são usadas para confecção de vassouras. Palmeira ornamental e indicada para regeneração de áreas degradadas.

Florescimento – setembro a maio Frutificação - outubro a fevereiro

Ameaças - nos últimos 30 anos, com a transformação das matas em terras para cultivo e pastagens, essas palmeiras foram se tornando mais escassas, mesmo com a fiscalização do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que proíbe a extração do palmito nativo. Licurí (Syagrus coronata ( Mart.) Becc.) Ocorrência - O licuri é uma das principais palmeiras da região semi-árida do nordeste do Brasil, onde é nativo. Outros nomes - Ouricuri, aricuri Características - Palmeira que mede até 12 m de altura com estipe que conserva a base das bainhas das folhas velhas presas em sua superfície, espiraladamente. Folhas grandes de até 2 m de comprimento e estão dispostas em espiral. Flores pequenas, amarelas, em cachos que surgem predominantemente de maio a agosto. O fruto é ovóide, de coloração alaranjada, que amadurece de outubro a dezembro. Polpa amarela e sementes creme. Hábitat - Segundo Afrânio Fernandes, os indígenas chamavam a vegetação rústica daquela região pelo nome de caatinga caa significando mata e tinga, aberta, clara -

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para diferenciá- la das matas escuras e fechadas do ambiente tropical. Ali, zona de difíceis condições climáticas, onde os grandes períodos secos se alternam com as estações chuvosas muitas vezes violentas, porém, de menor extensão, vive a palmeira licuri. Propagação - Sementes, requer solo rico em matéria orgânica. Utilidade - Por conseguir suportar bem as secas prolongadas e por florescer e frutificar por um longo período do ano, o licuri é fundamental provedor de recursos para a subsistência do homem daquela zona, sendo utilizado também para alimentar o gado e a criação. Em um ambiente tão agreste, a palmeira licuri é uma das principais fontes de alimentos para inúmeros animais silvestres. A ararinha-azul-de-lear, por exemplo, é uma das espécies mais conhecidas e preciosas que faz uso desse coquinho. Vivendo no sertão baiano, na região do Raso da Catarina, esse pássaro está ameaçado de extinção - restam apenas cerca de 70 exemplares selvagens - e a sua sobrevivência como espécie está intimamente ligada à existência do licuri. O licuri, apesar de conseguir nascer e crescer sobre o cascalho e de precisar de pouca umidade para sobreviver, ao contrário do que poderia parecer por sua aparência agreste, ocorre naturalmente em solos de boa fertilidade. De acordo com Harri Lorenzi, as terras dos sertões são terras boas, que produzem uma grande quantidade de sementes viáveis, disseminadas facilmente por animais silvestres. Em terras que apresentam tais características, o licuri é encontrado, principal-mente, desde o Estado de Pernambuco até o sul da Bahia, passando pelo sertão, determinando-se como limite para a sua ocorrência espontânea o Vale do Jequitinhonha. Segundo Gregório Bondar, poder-se-ia mesmo precisar que a palmeira licuri é baiana. De porte elegante, de altura mediana e bastante ornamental, o licuri pode ser reconhecido facilmente pelos de senhos em forma de espiral, à maneira da carnaúba, deixados em seu estipe pelos tocos I das folhas antigas. Aliás, também como a carnaúba mas em menor escala, raspando-se as folhas do licuri - muitas vezes, trabalho para as crianças - obtém-se um pó que pode ser transformado em cera. As folhas secas da palmeira são também matéria-prima para a produção de objetos utilitários e de artesanato, tais como vassouras, chapéus, espanadores, etc. Além de servir como elemento importante na alimentação de homens e animais e de fornecer um bom óleo comestível, o fruto do licuri é muito consumido, no dia-a-dia, como petisco. Comercializados em cordões que formam um tipo de "rosário", seus pequenos coquinhos vão sendo retirados um a um, sendo degustados a qualquer hora, na parada de ônibus, no caminho da escola, em meio às tarefas cotidianas. Florescimento - maio a agosto Frutificação - outubro a dezembro Butiá (Butia eriospatha (Mart. Ex Drude) Becc., Syagrus eriopatha (Mart. Ex Drude)

Glassm.) Ocorrência - Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. Outros nomes - Macumá Características - O nome de butiá-felpudo é devido à espessa lanugem acastanhada na parte externa da espata. Sua altura varia de 4 a 6 m e seu diâmetro (DAP) de 20 a 40 cm, caracterizando-se pelo estipe revestido de bainhas e pecíolos velhos na região abaixo da coroa de folhas. Suas folhas pinadas, com coloração azul-esverdeada, podem chegar a 2 m de comprimento, com um pecíolo geralmente recoberto, na base, por delicados espinhos. É uma planta monóica. A inflorescência

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interfoliar, de 1 m de comprimento, é densamente ramificada, possuindo uma espata de até 12 m de comprimento, acanoada e ereta. A floração amarela ocorre de setembro a janeiro. Os frutos, pequenos, globosos e amarelos, amadurecem no verão e são consumidos ao natural ou sua polpa é usada na produção de licor e vinho. Hábitat - Palmeira nativa da América do Sul, que ocorre nas matas e campos das regiões altas do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Utilidade - Da semente, pode ser extraído um tipo de azeite comestível. Seu estipe, de boa durabilidade, é usado em construções rústicas e as fibras das folhas, para a fabricação de chapéus, cestos, cordas e enchimentos de colchões e estofados. Florescimento - setembro a janeiro Frutificação - novembro a abril Carvão Vegetal (horticultural) O carvão é um substrato sem qualquer valor nutricional. Nos EUA e no Brasil, o carvão é muito pouco utilizado como o principal ou único substrato. O carvão é muito durável (não se decompõe rapidamente), de modo que mantém a sua capacidade de aeração do substrato no longo prazo. Tem baixíssimo custo, se comparado à gama de outros substratos existentes no mercado. É um substrato adequado a plantas que não suportam acúmulo de água nas raízes, tais como Phalaenopsis, Cattleyas e Laelias. É adicionado a diversos substratos na preparação de misturas. A intenção da adição é manter o substrato "doce" (manutenção do pH) e retirar impurezas da água de irrigação (propriedade de absorver toxinas presentes na água de irrigação). Se você for utilizar carvão, certifique-se de somente utilizar carvão horticultural e de fazer adubções periódicas. Como não tem valor nutricional para as plantas, a adubação é uma necessidade absoluta. Sabugo de milho Esse é um substrato com uma legião de fâs fervorosos. É muito barato e disponível em algumas partes do Brasil. Mas, por não ser industrializado, é um pouco trabalhoso de ser utilizado. Antes de servir como substrato, o sabugo de milho tem que ser lavado, os restos de milho retirados (para que não brotem no vaso) e devem ser picados em cubos (ou moedas, no caso). É um substrato que retém muita umidade. Deve ser cultivado mais seco, porque em condições de elevada umidade pode se decompor com rapidez, além de ser sujeito a colonização por fungos e bactérias. Dar preferência a adubação foliar periódica ao invés da utilização de adubação orgânica. Isso porque a adubação orgânica acelera a decomposição do sabugo. Nó de Pinho (Araucaria brasiliensis) O Nó de Pinho é popular em São Paulo e no sul do Brasil no cultivo de micro orquídeas. mais pela beleza estática e disponibilidade do material. Não possuo nenhuma experiência prática na sua utilização.

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Brita As pedras britadas (principalmente Gneiss, Granito e Minério de ferro) tem ampla utilização como substratos na orquidofilia, tanto sozinhas quanto como componentes de misturas de substratos. São amplamente disponíveis (principalmente a brita de Gneiss) e baratas. A britas de Gneiss e Granito são totalmente inertes (rochas cristalinas), não se decompõem, não mudam o pH com facilidade, absorvem pouca água e tem um período de secagem bastante estável. Devido ao seu peso (esse é possivelmente o mais pesado dos substratos utilizado para orquídeas) são mais comumente utilizadas em bancadas. Isso porque a estrutura para pendurar vasos cheios de brita acaba contrabalançando o seu baixo custo: penduradores mais resistentes, armação de telhado mais resistente, etc. Por outro lado, embora sejam um substrato bastante solto e aerado, só o peso já permite uma boa fixação das plantas pelas raízes. Porém, o seu uso como único substrato requer atenção com as regas, adubação e iluminação. A brita de Minério de Ferro utilizo em associação ao Coquinho de Jerivá no cultivo de Laelias rupícolas com grande sucesso. Ambos são substratos de grande durabilidade, o que é um ponto positivo para essas espécies que não são afeitas a replantes freqüentes. O coquinho oferece um substrato orgânico de mesma gramatura que a brita (e portanto fácil de se misturar e plantar). O coquinho retém alguma umidade a mais que a brita, mas também seca relativamente rápido. A brita de Minério de Ferro oferece volume para a mistura, peso para a melhor fixação das plantas, condições mais semelhantes às do habitat natural, ótima drenagem e é praticamente inerte. Regas noturnas a cada dois dias nos meses de calor, adubações periódicas e alta luminosidade são as necessidades do uso desse substrato para as Laelias rupícolas. Lã de Pedra (Rockwool) A lã de pedra é feita a partir de basalto e giz. A pedra é aquecida até o ponto de fusão e é então soprada em fibras semelhantes a algodão doce a medida que a pedra é afofada a 37 vezes o seu volume original. O substrato é disponível em cubos de tamanhos diferentes (pequeno, médio e grande), é fácil de ser trabalhado, é aerado, leve e não tão solto quanto outros substratos (devido à porosidade). A lã de pedra é comumente empregada em cultivo hidropônico porque é completamente inerte e não se decompõe. O replante com esse substrato pode ser feito mantendo-se a bola de raiz intocada (com o substrato original e tudo), colocando-se a planta em um vaso de tamanho superior e adicionando mais lã de pedra até completar o volume. É frequentemente utilizada como a camada de drenagem em espécies terrestres. Pedra Esponja Também conhecida como Perlita, é um componente muito comum de misturas industriais para orquídeas e por boas razões. A Pedra Esponja reduz a compactação de misturas, aumenta a aeração e retém umidade. A Pedra Esponja é um vidro vulcânico que se expande quando aquecido e se torna muito poroso. É disponível nos tamanhos pequeno, médio e grande. O tamanho pequeno é adequado a misturas para seedlings e combinação com o Peat Moss para

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orquídeas terrestres. Argila Expandida (Aliflor) A argila expandida ou agregado leve de argila expandida (a sigla em inglês LECA) é um ingrediente chave em diversas misturas comerciais para orquídeas terrestres (Paphiopedilum, Phragmipedium, etc.). O produto é irregular em formato e tamanho, o que ajuda na fixação da planta. A argila expandida tem um pH neutro e é extremamente durável. É particularmente apreciada em ambientes úmidos porque não se decompõe e ajuda a evitar a compactação do substrato e o apodrecimento do mesmo. É também utilizada em cultivo hidropônico e semi-hidropônico. É disponível nos tamanhos pequeno e médio. É amplamente utilizada como drenagem para outros substratos devido à disponibilidade comercial, peso e apresentação que é extremamente fácil de se usar. Diatomita A Diatomita é uma pedra porosa produzida pelos restos fossilizados dos Diátomos. É muito rica em sílica, muito porosa e leve. A Diatomita tem alta capacidade de absorção e tem forma e tamanho irregulares, o que reduz a compactação do substrato e ajuda na fixação das plantas. Como relatado no exemplar de Setembro de 2006 da revista Orchids da AOS (America Orchid Society), a Diatomita absorve sais e sais podem ser nocivos às raízes das orquídeas. Se a Diatomita for utilizada, fique atento porque ela retém os sais minerais fertilizantes e estudos demonstram que essa retenção não responde bem à lavagem periódica convencional com água corrente. Se a Diatomita for reutilizada no plantio de orquídeas, nós fortemente recomendamos que ela seja posta de molho por 3 dias em água pura e que essa água seja trocada diariamente para a retirada completa dos sais. A Diatomita é famosa pela sua propriedade de repelir Lesmas e Caracóis e é adequada para o uso em bancadas de orquídeas, chão do orquidário e bandejas de umidade. É disponível nos tamanhos pequeno, médio e grande. Isopor O Isopor não é um substrato, ponto final. O isopor é um material inerte e inócuo, sem capacidade de absorção hídrica, sem valor nutricional, que não apodrece (mas se decompõe sob a ação dos raios Ultra Violeta do sol). É disponível como material para empacotamento de encomendas em tamanhos que são práticos para orquidófilo utilizar (amendoins de isopor). É única e exclusivamente um material de drenagem. Alguns orquidófilos o amam, outros odeiam com igual veemência.

Por Theo Gontijo