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Revisores & Empresas > Abril /Junho 2006 58 Fiscalidade O presente artigo tem como objectivo apresentar, tanto na óptica do trabalhador como na óptica da empresa, um enquadra- mento sobre a fiscalidade associada à implementação de planos de opções, de subscrição e de aquisição de valores mobi- liários ou direitos equivalentes. Neste âmbito, o artigo está repartido em duas partes. A primeira, introdutória ao tema, sucintamente: a definição de Planos de Opções, ou mais correntemen- te denominado a nível internacional de Stock Options; as principais formas de implementação, a montante da atribuição dos planos; os principais objectivos que contribuem para a atribuição destes incentivos bem como as desvantagens potenciais que estes planos podem origi- nar, nomeadamente ao nível dos gestores de topo (Top Management) e finalmente com a apresentação de recomendações, tanto de entidades internacionais, como das entidades nacionais sobre boas práti- cas de governo das sociedades (Corpo- rate Governance). A segunda parte do trabalho, versará, exclusivamente sobre o regime fiscal apli- cável aos Planos de Opções (Stock Options Plans). Numa primeira fase, rela- tivamente aos beneficiários, quer sejam órgãos gestores ou trabalhadores, analisa- se os tipos de rendimentos que estes pla- nos podem gerar, a sua tributação em sede de IRS – momento e montantes a serem tributados –, a obrigatoriedade de englo- bamento e ainda as responsabilidades declarativas que os beneficiários têm. Numa segunda fase, considerando para efeitos do trabalho um exemplo hipotético de uma empresa cotada em bolsa, far-se-à uma análise, na óptica da entidade que atribui os direitos aos seus colaboradores, das obrigações fiscais que essa atribuição implica, nomeadamente ao nível das retenções na fonte, das contribuições para a segurança social e a obrigatoriedade de reporte sobre as condições e beneficiários dos planos de opções por si concedidos. Por fim, apresenta-se uma breve conclusão sobre o trabalho exposto, na qual se aborda em traços gerais as princi- pais especificidades dos vários rendi- mentos originados pela implementação de um plano de opções, subscrição e de aquisição de valores mobiliários. Incentivos através de Opções de Acções Definição e Tipos Actualmente, a atribuição por parte das sociedades de acções, ou direitos para a aquisição/subscrição, a preços vantajosos e definidos antecipadamente, aos seus órgãos gestores e/ou seus empregados, apresentam-se como os principais substi- tutos às tradicionais formas de incentivos atribuídos, que se denominam de incenti- ve benefits. A esta forma de incentivos, mais recente e tornado nos últimos anos uma prática cada vez mais frequente, é - lhe atribuída a denominação de Incentive Stock Options (ISO). Vários são os tipos de ISO, que se encontram definidos internacionalmente, dos quais se destacam, pela frequência de ocorrência, os seguintes: n Planos de stock options: Consistem na opção de compra das acções de uma empresa cotada em bolsa. Os titulares recebem um determinado nº de direitos de opção de compra de acções a um preço fixo pré-determinado, decorrido um determi- nado período de maturidade. Findo este prazo, poderão exercer, ou não, o direito de compra. Normalmente exercerão o direito de compra, no caso de a cotação das acções ser superior ao preço de compra acordado. A diferença entre ambos os valores é a mais valia a que terão direito (Spread); n Planos de phantom shares: Idênticos aos Stock Options Plans, são utilizados por em- presas não cotadas em bolsa e que só podem ser mobilizadas após um deter- minado período de tempo a preço definido à priori, de acordo com um determinado critério de valorização escolhido. n Atribuição gratuita de acções da empresa: Ao oferecer acções aos traba- lhadores, uma empresa transforma-os em accionistas, que passam a ter direito à distribuição dos resultados gerados sob a forma de dividendos e ao prémio de va- lorização das acções cotadas em bolsa. n Planos de stock grants: Consiste na possibilidade de aquisição de acções da empresa a um preço reduzido, benefician- do o titular de um prémio de capitalização dependente da valorização da cotação das acções no mercado bolsista. Planos de Opções de Acções Definição e formas de implementação Os planos de opções, de subscrição e de aquisição de valores mobiliários ou direitos equivalentes ou mais frequente- mente denominadas de Stock Options Plans implicam a efectiva constituição de um direito à aquisição/subscrição, de acordo com o tipo de operação subjacen- te, num dado momento futuro, de títulos representativos do capital social das Planos de Opções de Acções por Rui Montes Pinto Membro estagiário

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Revisores & Empresas > Abril /Junho 2006 58

Fiscalidade

O presente artigo tem como objectivoapresentar, tanto na óptica do trabalhadorcomo na óptica da empresa, um enquadra-mento sobre a fiscalidade associada àimplementação de planos de opções, desubscrição e de aquisição de valores mobi-liários ou direitos equivalentes.

Neste âmbito, o artigo está repartidoem duas partes. A primeira, introdutóriaao tema, sucintamente: a definição dePlanos de Opções, ou mais correntemen-te denominado a nível internacional deStock Options; as principais formas deimplementação, a montante da atribuiçãodos planos; os principais objectivos quecontribuem para a atribuição destesincentivos bem como as desvantagenspotenciais que estes planos podem origi-nar, nomeadamente ao nível dos gestoresde topo (Top Management) e finalmentecom a apresentação de recomendações,tanto de entidades internacionais, comodas entidades nacionais sobre boas práti-cas de governo das sociedades (Corpo-rate Governance).

A segunda parte do trabalho, versará,exclusivamente sobre o regime fiscal apli-cável aos Planos de Opções (StockOptions Plans). Numa primeira fase, rela-tivamente aos beneficiários, quer sejamórgãos gestores ou trabalhadores, analisa-se os tipos de rendimentos que estes pla-nos podem gerar, a sua tributação em sedede IRS – momento e montantes a seremtributados –, a obrigatoriedade de englo-bamento e ainda as responsabilidadesdeclarativas que os beneficiários têm.Numa segunda fase, considerando paraefeitos do trabalho um exemplo hipotéticode uma empresa cotada em bolsa, far-se-àuma análise, na óptica da entidade queatribui os direitos aos seus colaboradores,das obrigações fiscais que essa atribuiçãoimplica, nomeadamente ao nível dasretenções na fonte, das contribuições paraa segurança social e a obrigatoriedade dereporte sobre as condições e beneficiáriosdos planos de opções por si concedidos.

Por fim, apresenta-se uma breveconclusão sobre o trabalho exposto, naqual se aborda em traços gerais as princi-pais especificidades dos vários rendi-mentos originados pela implementaçãode um plano de opções, subscrição e deaquisição de valores mobiliários.

Incentivos através de Opções de Acções

Definição e Tipos

Actualmente, a atribuição por parte dassociedades de acções, ou direitos para aaquisição/subscrição, a preços vantajosose definidos antecipadamente, aos seusórgãos gestores e/ou seus empregados,apresentam-se como os principais substi-tutos às tradicionais formas de incentivosatribuídos, que se denominam de incenti-ve benefits. A esta forma de incentivos,mais recente e tornado nos últimos anosuma prática cada vez mais frequente, é -lhe atribuída a denominação de IncentiveStock Options (ISO).

Vários são os tipos de ISO, que seencontram definidos internacionalmente,dos quais se destacam, pela frequência deocorrência, os seguintes:n Planos de stock options: Consistem naopção de compra das acções de umaempresa cotada em bolsa. Os titularesrecebem um determinado nº de direitos deopção de compra de acções a um preço fixopré-determinado, decorrido um determi-nado período de maturidade. Findo esteprazo, poderão exercer, ou não, o direito decompra. Normalmente exercerão o direitode compra, no caso de a cotação das acçõesser superior ao preço de compra acordado.A diferença entre ambos os valores é amais valia a que terão direito (Spread);

n Planos de phantom shares: Idênticos aosStock Options Plans, são utilizados por em-presas não cotadas em bolsa e que sópodem ser mobilizadas após um deter-minado período de tempo a preço definidoà priori, de acordo com um determinadocritério de valorização escolhido.n Atribuição gratuita de acções daempresa: Ao oferecer acções aos traba-lhadores, uma empresa transforma-os emaccionistas, que passam a ter direito àdistribuição dos resultados gerados sob aforma de dividendos e ao prémio de va-lorização das acções cotadas em bolsa.n Planos de stock grants: Consiste napossibilidade de aquisição de acções daempresa a um preço reduzido, benefician-do o titular de um prémio de capitalizaçãodependente da valorização da cotação dasacções no mercado bolsista.

Planos de Opções de Acções

Definição e formas de implementação

Os planos de opções, de subscrição ede aquisição de valores mobiliários oudireitos equivalentes ou mais frequente-mente denominadas de Stock OptionsPlans implicam a efectiva constituição deum direito à aquisição/subscrição, deacordo com o tipo de operação subjacen-te, num dado momento futuro, de títulosrepresentativos do capital social das

Planos de Opções de Acçõespor Rui Montes Pinto Membro estagiário

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empresas cotadas em bolsa aos seus tra-balhadores/colaboradores a um preço prédeterminado.

A implementação de um Stock OptionPlan é efectivada através de uma de duasformas:

n Aumento de capital da sociedade(Subscrição) – que é efectivado atravésda emissão de novas acções e consequen-temente a alteração estatutária. A delibe-ração da emissão de novas acções, nostermos da legislação em vigor, é dacompetência da Assembleia Geral deAccionistas, salvo quando os estatutosatribuam poderes para tal ao Conselho deAdministração (Art.º456 C.S.C).n Aquisição em mercado secundário deacções próprias pela entidade emitente(Aquisição) – a empresa não poderá emqualquer momento deter acções represen-tativas de mais de 10% do capital social,de acordo com a legislação em vigor(Art.º317 C.S.C). Não obstante, os esta-tutos poderão expressamente proibir aaquisição de acções próprias ou reduzir olimite legal (Art.º318 C.S.C).

Os Stock Option Plans inserem-se napolítica remuneratória de toda uma estru-tura empresarial e organizacional na qualse incluem gestores de topo e/ou adminis-tradores e empregados. A prática destetipo de remuneração complementar tempor base critérios específicos e objectivosconcretos.

Objectivos dos Stock Option Plans

A atribuição de planos remuneratórioscomplementares, como a atribuição deopções sobre acções, é visto como uminstrumento privilegiado para alinhar osinteresses dos administradores e de quemtrabalhe na empresa com os interessesdos accionistas.

Para além do objectivo mencionado, aatribuição de opções sobre acções temoutros objectivos igualmente importantescomo: i) a retenção a médio e longo prazode bons trabalhadores, ii) reforço da autoestima e cativação dos colaboradores ofe-recendo-lhes uma compensação semaumentar a carga salarial e iii) associar aremuneração ao desempenho individual eà evolução dos resultados do negócio.Porém, a atribuição deste tipo de remu-neração apresenta algumas desvantagenscomo, i) diluir e dispersar o capital daempresa e ii) levar os gestores a focar asua atenção na evolução do negócio acurto prazo (visando a subida da cotação

das acções em bolsa) perdendo assim asua capacidade de visão do negócio nodesenvolvimento da actividade da empre-sa a longo prazo.

De acordo com a última parte do pará-grafo anterior, a atribuição de opçõessobre acções poderá ser caracterizadacomo uma fonte potenciadora para certosdesvios, ao nível da gestão e, como tal,não deixaram indiferentes entidadesresponsáveis no desenho da regulamenta-ção e na supervisão dos mercados finan-ceiros. Estas entidades têm vindo a inter-vir com o intuito de incentivar as empre-sas na divulgação pública, da informaçãorelativa a Stock Option Plans e de promo-ver a aprovação desses planos, pelo corpoaccionista. Este tema é abordado commais profundidade nos pontos seguintes.

A Supervisão e regulamentação

Apresentando-se os stock options planscomo sendo um instrumento, cada vezmais comum, de incentivos complemen-tares da remuneração, está rodeadoactualmente por grandes indecisões epolémicas quanto à sua real capacidadepara alinhar os objectivos dos accionis-tas, dos administradores e colaboradores,levando naturalmente as entidades desupervisão e de regulamentação (interna-cionais e nacionais) a aprovar orientaçõeslegislativas sobre esta matéria e matériasdirectamente relacionadas como sendo, atítulo de exemplo, a remuneração dosaccionistas.

A nível internacionalA nível internacional, um estudo(1)

encomendado pela Comissão Europeia aum grupo de trabalho sobre as políticas deremuneração nas empresas, reconheceuque: “i) As remunerações são uma dasáreas críticas onde os administradores têmum conflito de interesses com a sociedadeque representam, e ii) que a atribuição deacções é um dos mecanismos remunerató-rios usados para alinhar interesses deadministradores e accionistas”. Por outrolado, conclui que a atribuição destes bene-fícios aos administradores podem criarincentivos ou pressões para que se produ-zam resultados no curto prazo de forma aprovocar aumentos do preço das acções ea beneficiá-los com os ganhos inerentes aessa valorização, em detrimento de boaspráticas de gestão e da sustentabilidade daempresa a longo prazo.

Por fim, analisada a problemática, oestudo apresenta as seguintes recomenda-ções, entre outras:

n A aprovação pelos accionistas, da atri-buição destes benefícios aos administra-dores;n Deverá ser apresentado aos accionistasuma estimativa dos custos dos planos;n A contabilização dos custos dos pla-nos, nas contas das empresas, como umaferramenta importante para a prevençãode abusos, inibindo a adopção de planosde dimensão exagerada – com este intuitoo IASB publicou a norma internacionalde relato financeiro Pagamento com baseem acções - IFRS2;n Se apresente nas contas anuais, aremuneração dos administradores (geral enão só a gerada pelas stock options), parapermitir aos accionistas fazer um juízo devalor sobre a política de remunerações.

A nível nacionalA nível nacional, com o objectivo de

promover a transparência a respeito desociedades emitentes de acções admitidas ànegociação em mercado regulamentado aCMVM emitiu o Regulamento n.º 7/2001– Governos das Sociedades Cotadas, repu-blicado e alterado pelo regulamento n.º11/2003 que em traços gerais define osseguintes aspectos:n Artigo 2º - “envio à CMVM deinformação relativa a planos de atri-buição de acções a trabalhadores e ou amembros do órgão de administração”;n Inserção no relatório anual de gestãode capítulo dedicado à estrutura e práticade governo societário que contenha, entreoutras informações:

1)Descrição das principais característi-cas dos planos de atribuição de opções e de acções, com indicação “da apreciação em assembleia geral das características dos planos adopta-dos ou vigentes no exercício em causa” ( Artigo 1º, nº1 e anexo, capí-tulo 1º, nº6);

2)Relativamente ao órgão de adminis-tração, uma “descrição da política de remuneração, incluindo, designada-mente, os meios de alinhamento dos interesses dos administradores com o interesse da sociedade” e a indica-ção da “ remuneração, individual ou colectiva, entendida em sentido am-plo (...)” (Artigo 1º, n.º 1 e anexo, capítulo IV, n.ºs 4 e 5).

Após esta primeira abordagem sobre osobjectivos, problemáticas e recomendaçõesdos planos de opções de subscrição e/ou deaquisição de acções, vamos de seguida en-carar em termos fiscais o tratamento a dar aestes incentivos ou remunerações por partetanto dos trabalhadores como das empresas.

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A Fiscalidade dos Planos de Opções

Os planos de opções, de aquisição oude subscrição de valores mobiliários oude direitos equivalentes, de ora em diantedesignados por Planos, têm como princi-pal referencial fiscal o Código do IRS.

Neste artigo, os Planos são abordadostanto na perspectiva do empregado comoda entidade empregadora uma vez queambos têm obrigações fiscais: i) quantoaos trabalhadores (beneficiários) dosPlanos é importante categorizar os tiposde rendimentos que são originados porestas operações, bem como o momentosobre o qual se torna exigível a tributa-ção, à luz da legislação portuguesa apli-cável; ii) quanto às empresas, abranger-se-à temas relacionados com as obriga-ções legais como a retenção na fonte,segurança social e obrigatoriedade dereporte sobre as condições e beneficiáriosdos planos.

Empregados

Os Planos, tal como já foi referido emcapítulos anteriores, resultam do direitodo empregado adquirir ou subscreveracções a um preço previamente fixadodurante um período definido inicialmentepara o exercício desse direito. É impor-tante referenciar que o ciclo de vida deum plano de opções abrange vários perío-dos, que vão desde a data de concessão daopção (início) até ao momento de vendadas acções (fim). Nestes períodos, váriossão os rendimentos que podem ocorrerconsoante a sua forma e tipologia, osquais podem ser divididos, da seguinteforma:n Rendimentos do Trabalho Dependente;n Rendimentos de Capitais;n Incrementos Patrimoniais, nomeada-mente mais valias.

Rendimento do TrabalhoDependente

Por definição, os Rendimentos doTrabalho Dependente – Categoria A –integram os rendimentos derivados,directa ou indirectamente, da prestaçãode trabalho dependente ou por conta deoutrém, bem como aqueles que a lei qua-lifique como tais. A relação jurídica detrabalho subordinado é a fonte predomi-nante, mas não exclusiva, dos rendimen-tos de trabalho. Igualmente essencial enão exclusivo, da qualificação dos rendi-mentos de trabalho é a retribuição, ouseja, a contraprestação, em numerário ou

em espécie, certa, variável ou mista, pagaou colocada à disposição do trabalhador,de forma regular e periódica, de acordocom o n.º 1 e 2 do Art.º 2 do CIRS.

Porém, e de acordo com o n.º 3 domesmo artigo, ainda que outras presta-ções principais não integrem o conceitode retribuição, preenchem o conceitomais abrangente de remuneração e comotal, serão considerados rendimentossujeitos a tributação como rendimento detrabalho dependente, desde que sejamauferidos devido à prestação do trabalhoe constituam para o beneficiário umavantagem económica. Nesta situaçãoencontram-se as denominadas prestaçõesacessórias que incluem cada vez mais e,sobretudo, remunerações em espécie ougeralmente designadas de fringe benefitsou vantagens acessórias.

Uma vez que os Planos, para emprega-dos, são concedidos ao abrigo de umcontrato de trabalho (Relação Laboral)podendo essa concessão ser ligada a cer-tas condições relacionadas com o empre-go (ex: bom desempenho – Resultado doTrabalho) e por proporcionarem umavantagem económica para o trabalhador,cabem na definição de rendimentos dotrabalho dependente, de acordo com omencionado nos dois parágrafos anterio-res. Obtendo suporte na legislação portu-guesa que confirme a afirmação anterior,o sub parágrafo 7 da al. b) do n.º 3 doArt.º 2º do CIRS, considera serem remu-nerações acessórias – “Os ganhos deriva-dos de planos de opções, de subscrição ououtros de efeito equivalente, sobre valo-res mobiliários ou direitos equiparados,...” – e consequentemente rendimento detrabalho dependente.

De acordo com o exposto e uma vezdefinido o tipo de remuneração originadopelos planos de opções, é importantecompreender quais os rendimentos sujei-tos a tributação bem como o momento apartir do qual é exigido a tributação destetipo de benefícios.

Momento da tributação em IRSOs rendimentos do trabalho dependen-

te, especialmente os rendimentos em di-nheiro e vários benefícios marginais, sãotributados no momento em que o empre-gado recebe, cobra ou realiza o rendi-mento. Não obstante, e no caso específi-co de um plano de opções vários são osmomentos do seu ciclo de vida, que pode-rão levar a uma tributação. Nomeiam-se atítulo de exemplo, entre outros: omomento da concessão, de aquisição dedireitos ou exercício da opção. Desta

forma, e uma vez que os planos de opçõesencontram-se englobados no leque derendimentos em espécie, haveria que sesocorrer do Art.º 24 do CIRS –Rendimentos em Espécie - para encon-trar, à luz da legislação nacional, qual omomento em que estes rendimentosdeverão ser tributados e qual o montantesujeito a tributação.

Assim, ao abrigo das al.s a) e b) do n.º4 do Art.º 24, os planos de opções, desubscrição e de aquisição são tributadosno momento do exercício da opção ou nomomento da subscrição ou de exercíciode direito equivalente, ou seja, quando opreço de exercício ou de subscrição épago e se obtêm as acções.

“Os ganhos referidos (...) consideram-se obtidos, respectivamente:

No momento do exercício da opção (al.a)) - No momento de subscrição ou doexercício de direito de efeito equivalente(al. b)) – ou de direito de efeito ...”.

O montante tributado é igual à diferen-ça entre o valor de mercado, mais alto,das acções obtidas e o custo da sua obten-ção, ou seja, o valor é dado pelo Spreadexistente entre o valor de mercado dasacções, na data de exercício, e o valorpago pelos empregados (incluindo qual-quer montante que o empregado possa terpago para obter as acções).

“... correspondendo à diferença positi-va entre o valor do bem (preço de subs-crição...) ou direito nessa data e o preçode exercício da opção, ou do direito,acrescido este do que eventualmente hajasido pago pelo trabalhador ou membrodo órgão social para aquisição da opçãoou direito”.

O Spread será tributado a taxas nor-mais, ou seja, de acordo com o sistemaprogressivo de taxas, o qual, dependendodo montante global dos rendimentos doempregado num ano, poderá ir de 10,5até 40%.

Para o empregado, a principal vanta-gem de uma tributação no momento doexercício é o facto de o plano de opçõesde acções para empregados continuar aser um investimento sem risco, na medi-da em que os impostos só são devidos severificar que as opções dão lucro, ou seja,preço de exercício é inferior ao valor demercado das acções.

Rendimento de capitaisComo conceito geral, definem-se ren-

dimentos de capitais – Art.º 5º, nº1 doCIRS – os frutos (Rendimento de fruiçãoMobiliários (Cat. E) e Imobiliários (Cat.F)) e demais vantagens económicas,

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qualquer que seja a sua natureza ou deno-minação, sejam pecuniários ou em espé-cie, procedentes, directa ou indirectamen-te, de elementos patrimoniais, bens, direi-tos, ou situações jurídicas, de naturezamobiliária, bem como da respectivamodificação, transmissão ou cessação,com excepção dos ganhos e outros rendi-mentos tributados noutras categorias.

De acordo com o anterior, integram acategoria E os rendimentos de capitais,que podem qualificar-se numa de trêscategorias: juros, dividendos ou royalties.O CIRS faz uma enumeração indicativa,no n.º 2 e seguintes do Art.º 5º, dos rendi-mentos que integram as categorias men-cionadas anteriormente.

Após um breve resumo sobre a defini-ção e composição dos rendimentos decapitais, importa agora compreender,como é que um plano de opções imple-mentado por uma empresa a favor dosseus empregados, pode originar osseguintes rendimentos: Categoria E eCategoria A.

Através da al. h) do n.º 2 do Art.º 5º doCIRS, são considerados rendimentos decategoria E, os dividendos obtidos após oexercício da opção, enquanto o emprega-do detiver as acções e por esse motivotiver direito a dividendos como rendimen-tos obtidos por distribuição de lucros.

Contudo, se os dividendos forem recebi-dos durante o período compreendido entrea concessão e o momento do exercício daopção, serão considerados rendimentos detrabalho dependente – Categoria A, umavez que os empregados beneficiários doplano ainda não revestiram a forma deaccionistas da empresa por não deterem asacções, sendo, somente, beneficiários deum direito de aquisição ou de subscriçãode acções.

Quanto ao processo tributário, os divi-dendos, ficam sujeitos a tributação a par-tir do momento em que são colocados àdisposição do detentor das acções, nestecaso particular, dos trabalhadores queexerceram o seu direito de opção de aqui-sição ou de subscrição das acções,conforme referido no sub parágrafo 2) daal. a) do n.º 3 do Art.º 7º.

Incrementos patrimoniaisOs rendimentos relacionados com

incrementos patrimoniais ocorrem quan-do o trabalhador vende as acções que temem sua posse, após o exercício do direitoatribuído pelo plano de opções de acções,resultando daí um ganho para o trabalha-dor. O ganho obtido com a venda dasacções ou, mais correntemente designado

“Os Planos resultam do direito do empregado

adquirir ou subscrever acções a um preço

previamente fixado durante um período definido

inicialmente para o exercício desse direito.”

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como mais valias, são um dos tipos pre-vistos de rendimentos que fazem parte dacategoria G – Incrementos Patrimoniais,al. a) n.º1 do Art.º 9º e al. b) n.º1 do Art.º10º do CIRS. Os ganhos com as maisvalias consideram-se obtidos no momen-to da alienação onerosa das partes sociais,tal como nos é apresentado pela al. b) n.º1 e n.º 3 do Art.º 10.

O montante sujeito a tributação é dadopela diferença positiva entre as maisvalias e as menos valias realizadas nomesmo ano – n.º 1 Art.º 43 – excluindo asperdas apuradas, quando a contraparteestiver sujeita a um regime fiscal maisfavorável (ou mais correntemente deno-minados de paraísos fiscais), de acordocom o n.º3 do Art.º 43. O montante refe-rido anteriormente é um saldo global, re-sultante da soma algébrica das mais va-lias e menos valias apuradas acto a actonum determinado ano, ou seja, são deter-minadas individualmente para cada acçãoou grupo de acções (desde que adquiridase vendidas na mesma data e com os mes-mos preços de aquisição e venda).

São elementos determinantes para oapuramento das mais e menos valias obti-das o valor de aquisição (VA), valor derealização (VR) e despesas de alienaçãodos bens (D). O cálculo das mais e menosvalias, sinteticamente, é apresentado daseguinte forma:

Sendo que:VR – Valor da contraprestação ( al. f)

n.º 1 Art.º 44);VA – Uma vez que são decorrentes de

direitos adquiridos no âmbito de planos deopções, de subscrição ou de atribuição insti-tuídos pela entidade patronal, é consideradovalor de aquisição: i) o quantitativo que tiversido considerado como valor do bem ou dodireito no momento do exercício da opção;ii) o preço de subscrição do exercício dodireito para a generalidade dos subscritoresou dos titulares do direito ou o valor de mer-cado, no caso de planos de subscrição; iii) ovalor de mercado na data referida, no casode planos de atribuição. De acordo com oestipulado nas al.s c), d), e e) do Art.º 48.

D – Despesas ocorridas com a aliena-ção dos bens (al. b) Art.º 58).

Frisa-se o facto de, para no caso dasacções serem detidas por um períodoinferior a um ano, as mais valias serão tri-butadas a uma taxa especial de 10% (n.º 4

Revisores & Empresas > Abril /Junho 2006 62

Art.º 72), caso contrário ficam excluídasde tributação – à luz da al. a) n.º 2 Art.º10º - mas com a obrigatoriedade de seremdeclaradas. Por último, é importantereferir que à luz do n.º 6 do Art.º 55, osaldo negativo apurado, para as mais emenos valias, num ano, pode sertransportado nos dois anos seguintes,desde que se tenha optado pelo engloba-mento destes rendimentos.

Contudo, será de enfatizar que, ao abri-go do sub - parágrafo 7) da alínea b) don.º 3 do Artigo 2º e alínea d) do n.º 4 doArtigo 24º, do CIRS, caso as acçõesadquiridas sejam alienadas a uma entida-de do grupo da sociedade que atribuiu os

EnglobamentoDo Art.º 22 do CIRS, ressalta a obriga-

toriedade de englobamento dos rendi-mentos das várias categorias de forma aapurar-se o rendimento colectável, nãosendo obrigatórios, de acordo com o n.º 3do presente artigo, o englobamento dosrendimentos referidos nos Art.ºs 71 e 72.De acordo com o âmbito desteb texto ecom o exposto anteriormente, pode-seconstatar que a atribuição dos planospodem originar quanto aos vários rendi-mentos, o seguinte:n Rendimentos em Espécie – Os rendimen-tos em espécie são rendimentos de englo-bamento obrigatório, ao abrigo do Art.º 22;

Fiscalidade

planos de opções (recompra de acções),qualquer ganho resultante desta operaçãoserá, total ou parcialmente, tributadocomo rendimento de trabalho dependen-te, podendo distinguir-se as seguintessituações:

O valor de venda é superior ao valor demercado das acções na data da venda – oexcesso é considerado como rendimentodo trabalho dependente e não como maisvalias;

O valor da venda é acordado previa-mente, não havendo a assunção de risco(normalmente associados às mais valias)pelo colaborador – a totalidade do ganhoé considerado como rendimento do tra-balho dependente e não como mais valia.

n Rendimentos de Capitais – Estesrendimentos, de acordo com o Art.º 40-A(Dupla tributação Económica), estão su-jeitos a uma isenção de 50 % para efeitosde tributação, deste modo, os rendimentosde capitais e consequentemente os divi-dendos recebidos, são englobados pormetade do valor.n Incrementos Patrimoniais – As maisvalias geradas pela venda das acções estãosujeitas a uma taxa especial de tributaçãofixa de 10% (n.º 4 Art.º 72). Por este motivo,ficam abrangidos pelo n.º 3 do Art.º 22, oqual dispensa os rendimentos referidos noArt.º 72 do englobamento, para efeitos detributação – “Não são englobados, para efei-tos da sua tributação,...” – não obstante, pos-

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sibilita o seu englobamento através da refe-rência, na parte final, à opção do sujeito pas-sivo poder englobá-los – “... sem prejuízo daopção de englobamento neles previstos.”

De referir que estes rendimentos têmdireito de deduzir à colecta as importân-cias retidas na fonte, n.º 2 do Art.º 78..

Obrigações declarativasDe acordo com o mencionado no Art.º

57, os sujeitos passivos devem apresen-tar, anualmente, uma declaração demodelo oficial, relativa aos rendimentosdo ano anterior. Fazem parte integranteda declaração, os anexos e outros docu-mentos que sejam mencionados no referi-

n Rendimentos em espécie – Anexo A dadeclaração de rendimentos – Modelo n.3do IRS;n Dividendos e mais valias – anexo E e Gou G1 (G – menos de 12 meses e G1 –mais de 12 meses de detenção) respec-tivamente, da declaração de rendimentos –Modelo n.3 de IRS;n Rendimentos obtidos do estrangeiro –Anexo J declaração de rendimentos –Modelo n.3 do IRS.

Não obstante, os trabalhadores, deverãoapresentar a declaração de modelo oficial– Modelo 3 entre 1 de Fevereiro e 15 deMarço, do ano seguinte, ao de obtençãodos rendimentos, no caso de terem apenas

rios exercerão em Portugal a sua profis-são e não há motivos para haver qualquertipo de retenção fora de Portugal. Quantoàs mais valias, em regra, no caso de haverum acordo para evitar a dupla tributaçãoentre Portugal e o país da empresa com aresponsabilidade de efectuar a retenção,não há motivos para haver retenção forade Portugal, ao abrigo do acordo. Porconseguinte, as mais valias são tributadasno estado de residência do investidor. Porúltimo e quanto aos dividendos, no casoda empresa efectuar retenções na fonte, oempregado, residente em Portugal, deve-rá reclamar um crédito de imposto pordupla tributação, ao abrigo do Art.º 81, oqual não poderá exceder 15% dos divi-dendos. Com este fim, o empregadodeverá obter das Autoridades fiscaisestrangeiras um certificado comprovativodo imposto retido no país estrangeiro econsiderar os rendimentos pelas respecti-vas quantias ilíquidas, para efeitos deenglobamento (n.º 6 Art.º 22).

Empresas

Apresentado nos capítulos anteriores,os deveres e obrigações dos trabalhadoresbeneficiários de um plano de opções deacções, teremos agora de abordar, igual-mente, as obrigações fiscais que a atribui-ção destes planos têm na óptica dasempresas. Deste modo, irão ser aborda-dos neste capítulo temas como a retençãona fonte, a segurança social e as obriga-ções declarativas e de manutenção debases de dados actualizadas. Todos estespontos serão abordados de acordo com osrendimentos que a atribuição de um planode opções poderá originar, os quais foramabordados e detalhados, à luz da legisla-ção portuguesa, no capítulo anterior.

Retenção na fonte em IRSEm regra geral, a entidade devedora

dos rendimentos sujeitos a retenção nafonte, as entidades registadoras ou depo-sitárias, consoante o caso, são obrigadas,no acto do pagamento, do vencimento ou da sua colocação à disposição, a dedu-zir-lhe os valores correspondente à apli-cação das taxas constantes previstas pa-ra cada tipo de rendimentos. As quan-tias retidas devem ser entregues ao estadoaté ao dia 20 do mês seguinte àquele emque foram deduzidas (n.º 3 Art.º 98).Desta forma e quanto aos rendimentos detrabalho dependente, o Art.º 99, obrigatodas as entidade devedoras a reter oimposto no momento do seu pagamento(1ª parte do n.º1), contudo, a 2ª parte,

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do modelo. Deste modo, torna-se obriga-tório, para os rendimentos referidos noscapítulos anteriores (Rendimentos deTrabalho Dependente – rendimentos emespécie, de Capitais – dividendos eIncrementos Patrimoniais – mais valias,que foram ou poderão vir a ser originadospela atribuição de um plano de op-çõesde acções aos colaboradores de uma em-presa), declarar os rendimentos obtidos,provenientes do exercício do plano deopções, não gozando nenhum deles, dealgum tipo de isenção ou dispensa deapresentação de declaração, à luz do Art.º58 do mesmo código. Assim, para os trêstipos de rendimentos os trabalhadoresdevem apresentar:

recebido rendimentos de trabalho depen-dente (Cat. A) ou de Rendimentos dePensões (Cat. H), ou, de 16 de Março até30 de Abril, no caso de ter obtido qualquerum dos outros rendimentos.

Dupla tributação internacionalA dupla tributação internacional vem

prevista no Código do IRS no Art.º 81, epara efeitos de englobamento, no n.º 6 doArt.º 22.

Dos rendimentos referidos anterior-mente, o único que poderá originar umatributação internacional, será o recebi-mento de dividendos por parte de entida-de estrangeira, pois quanto ao rendimen-to de trabalho, os empregados beneficiá-

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isenta os ganhos derivados de planos deopções, de subscrição e atribuição de va-lores mobiliários, de retenção da fonte.Desta forma, a obrigação fiscal é transfe-rida para o empregado que tem a obriga-toriedade de declarar estes rendimentosbem como proceder ao pagamento doimposto.

Quanto aos rendimento de capitais, deacordo com a al. a) do Art.º 101, sofremretenção na fonte à taxa de 15%. Destaforma, os dividendos recebidos pelosempregados, após o exercício do seudireito de opção, são líquidos da retençãoà taxa mencionada anteriormente. Asentidades responsáveis pela sua dedução,pressupondo que os rendimentos de valo-res mobiliários estão sujeitos a registo oudepósito, serão as entidades registadorasou depositárias (n. 3 Art.º 101). Estassociedades, são substitutas da entidadedevedora (empresa que concedeu os pla-nos), com a responsabilidade de efectuaras deduções e os pagamentos ao Estado.

Por último, não há retenção na fontepara as mais valias resultantes da vendadas acções, uma vez que o Art.º 101 sóconsidera as als. b) e c) dos incrementospatrimoniais – “As indemnizações quevisem a reparação de danos não patrimo-niais...” e “... assunção de obrigações denão concorrência...”. Estes rendimentostêm uma tributação a uma taxa fixa de10% de acordo com o Art.º 72 do CIRS.

Desta forma, conclui-se, que nenhumdos rendimentos anteriores estão sujeitosa retenção na fonte, por parte da entidadeque atribuiu os planos de acções, passan-do a responsabilidade, de declaração epagamento, para o empregado, principal-mente quanto ao Spread, ou para as enti-dades registadoras ou depositárias, nocaso dos rendimentos de Capitais.

Segurança SocialNo que respeita às obrigações perante a

segurança social, as contribuições deve-rão recair sobre os rendimentos de traba-lho dependente, incidindo, no presentetrabalho, sobre o Spread, resultante doexercício do direito correspondente à atri-buição do plano de opções. Contudo, nãoexiste legislação específica, em Portugal,que permita clarificar a obrigação de seefectuar contribuições para a segurançasocial, sobre este tipo de rendimento. Denotar, que nem todos os prémios atribuí-dos pelo empregador, estão sujeitoscontribuições para a Segurança Social.Só devem ser considerados para este efei-to, aqueles que o empregado tenha odireito de receber pelo reconhecimento

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do serviço prestado e que tenham umpagamento numa base regular, de acordocom o estipulado na alínea b) Art.º 2º doDec. Regulamentar 53/83 de 22 de Junho,que vem modificar o anterior Dec. Re-gulamentar 12/83 de 12 de Fevereiro.

Apesar de não existir na legislação dasegurança social uma definição clara doque se pode entender por um prémio

recebido numa base regular, pode-seresumir, com base nalgumas interpreta-ções emitidas pela segurança social, queo prémio apresenta um carácter regularquando, i) o empregado tiver a expectati-va de o receber, por se encontrar estipula-do no contrato ou em clausulas contra-tuais, ii) ou porque o recebimento seestende por um período longo e por

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conseguinte, o empregado já consideraeste benefício como parte integrante dasua remuneração. De forma negativa,pode-se considerar como não tendo umabase regular, se os prémios forem atribuí-dos pela empresa numa base ocasional ouutilizando critérios subjectivos.

Assim e de acordo com os argumentosanteriores, podemos afirmar que o Spread

apurado pelo exercício da opção não deveser considerado como um rendimento decarácter regular e, por esse motivo, não seencontra sujeito a qualquer obrigação dese efectuar contribuições para a Seguran-ça Social. Verifica-se ainda, não existirlegislação específica que i) regulamente asua aplicação, ii) que obrigue a se efec-tuar contribuições e iii) apresente alguma

forma de quantificar o benefício paraefeitos de contribuição.

Deste modo, por falta de legislação einterpretações específicas emitidas pelasautoridades competentes para tal, consi-dera-se, e é possível argumentar, que nãoexiste a obrigatoriedade de se efectuarcontribuições para a segurança social. Noentanto, é importante referir, que caso, aatribuição destes benefícios se torne decarácter regular poderá resultar na sujei-ção a contribuições para a SegurançaSocial.

Obrigações declarativasSempre que se verifique a criação ou

aplicação, de planos de opções, de sub-scrição, de atribuição ou outros de efeitoequivalente, pela entidade patronal, –“que pague ou coloque à disposiçãoremunerações que, nos termos deste arti-go, constituam rendimentos de trabalhodependente, sendo a ela equiparada qual-quer outra entidade que com ela esteja emrelação de domínio ou de grupo, indepen-dentemente da respectiva localizaçãogeográfica”, n.º 10 Art.º 2º – esta é obri-gada a reportar a existência do plano até30 Junho do ano seguinte , à DirecçãoGeral dos Impostos (DGI), através doModelo 19 (n.8 Art.º 119). A informaçãoa apresentar no modelo referido inclui oNúmero Fiscal do empregado, data deconcessão das opções ou do direito desubscrição, data de exercício das opçõesou do direito de subscrição e o Spreadapurado na data de exercício das opçõesou de subscrição. Apenas se verifica aobrigação de entregar o Modelo 19 quan-do, no ano civil a que se reporta, tenhaocorrido algum dos factos relevantes parao efeito. As instruções de preenchimentodo modelo referem a obrigação de decla-ração por um lado, na data da concessãodo direito (campo 07 – criação do plano)e, por outro lado, na data em que o cola-borador exerce a opção a que tem direito(campo 08 – consolidação).

De acordo com o n.º 9 e com o n.º 1 doArt.º 119, no caso das entidades quesuportem os encargos com o plano deopções, principalmente o Spread ou ou-tros desde que se integrem na categoriados rendimentos de trabalho dependente,são obrigadas a:n Possuir um registo actualizado daspessoas que auferem os correspondentesrendimentos, do qual constem, o nome, onúmero fiscal e respectivo código deempregado, bem como a data de exercícioou de subscrição e o valor do rendimentooriginado (rendimento em espécie);

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n Entregar aos colaboradores, até dia 20de Janeiro do ano seguinte, uma cópia doregisto;n Incluir a informação relativa ao rendi-mento tributável e identificação do cola-borador, na declaração Modelo 10, a serentregue até ao final do mês de Fevereirodo ano seguinte.

Por fim, quanto às mais valias origina-das e à distribuição de dividendos, a enti-dade empregadora, não terá qualquerobrigação declarativa. Esta responsabili-dade é dos empregados ou das entidadesregistadoras ou depositárias, de acordocom o n.º11 do Art.º 119, previstas noArt.º 125.

Conclusão

Do texto deste artigo conclui-se que

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são vários os tipos de rendimentos queum plano de opções de acções pode origi-nar durante o seu ciclo de vida, enquadrá-veis fiscalmente nas categorias de rendi-mentos de trabalho dependente (Spread),Capitais (Distribuição de Lucros) eIncrementos Patrimoniais (mais valias):n Spread – diferença entre o valor demercado e o valor pago pelos tra-balhadores – tributado no momento deexercício da opção, contudo está isentode retenção na fonte, ficando oempregado com a responsabilidade deenglobar e declarar os rendimentosobtidos no anexo A do modelo 3 do IRS. n Distribuição de lucros – tributados nomomento em que são colocados à dis-posição, por retenção na fonte à taxa de15%. Porém, devido à problemática dadupla tributação, estes rendimentos ficam

isentos em 50% para efeitos de tri-butação, devendo ser reportados noanexo E. n Mais valias – isentas de retenção,ficando a responsabilidade de declaração(anexo G) e tributação a cargo dotrabalhador, a uma taxa especial fixa de10%, desde que o período de detençãoseja inferior a 12 meses. Para períodos dedetenção superiores a 12 meses nãoexiste lugar a tributação.

Bibliografia e Referências

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(1) “Report of the High Level Group ofCompany Law Experts on a ModernRegulatory Framework for company Lawin Europe” e que pode ser consultado nosite da Comissão Europeia especialmentenas páginas 64 a 67 do referido relatório.

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