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COLEGIADO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL CODETER/MISSÕES SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL – SDT MINISTÉRIO DE DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO – MDA PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PTDRS - TERRITÓRIO DAS MISSÕES Santo Ângelo, Agosto de 2006

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COLEGIADO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL CODETER/MISSÕESSECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL – SDT

MINISTÉRIO DE DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO – MDA

PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVELPTDRS - TERRITÓRIO DAS MISSÕES

Santo Ângelo, Agosto de 2006

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“De tudo só ficaram três coisas:A certeza de que estamossempre começandoA certeza de que é preciso continuarA certeza de que seremosinterrompidos antes de terminar.

Portanto devemos:Fazer da interrupção umnovo caminhoDa queda, um passo de de dançaDo medo, uma escada.Do sonho, uma ponte.Da procura, um encontro”

(Fernando Pessoa)

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SUMÁRIO

Da queda, um passo de ............................................................................................. 2 1.APRESENTAÇÃO ................................................................................................................ 5 2.SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL – SDT ............................. 6 3.DIAGNÓSTICO DO TERRITÓRIO DAS MISSÕES ....................................................... 7

3.1Aspectos Históricos e Culturais ......................................................................................... 7 3.2Dinâmica Demográfica do Território das Missões ............................................................ 9 3.3A Situação Social das Missões ........................................................................................ 12 Estrutura Fundiária ................................................................................................................ 17 Características Edafo-Climáticas do Território das Missões ................................................ 20 Matriz Produtiva ................................................................................................................... 22 Aspectos da Infra-Estrutura Regional de Transporte ............................................................ 22 Características Gerais do Território ...................................................................................... 23

4. CONCEPÇÃO DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL E AÇÕES EM ANDAMENTO NO TERRITÓRIO ...................................................................................... 16 5. INDICAÇÃO DE EIXOS ESTRUTURANTES DO DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL ..................................................................................................................... 19

a) O Incremento da Renda da Agricultura Familiar, dos Assentados da Reforma Agrária, dos Pescadores Artesanais e das Populações Indígenas ....................................................... 19 b) Implementação de Amplo Programa de Economia Popular e Solidária .......................... 19 c) Um Projeto Educacional Emancipatório .......................................................................... 20 d) Gestão, Autogestão e Novo Arranjo Institucional ............................................................ 21

6. INDICAÇÃO DE PROGRAMAS E AÇÕES GERAIS – 2006 ...................................... 22 6.1. Programas e Ações Transversais ................................................................................... 22

a) Construção de Novo Arranjo Institucional em Nível Regional e Municipal ................ 22 b) Os Governos Locais e suas Responsabilidades com o Desenvolvimento Sustentável . 22 c) Projetos e Ações de Sustentabilidade Ambiental .......................................................... 24 d) Plano Safra de Agricultura Familiar/Missões ............................................................... 26 e) O Turismo Rural como Fator de Trabalho e Renda .................................................... 27

6.2 Ações Setoriais, Projetos e Indicadores de Avaliação .................................................... 28 a) Agricultura Familiar e Agregação de Valor: Agroindústrias Familiares e Rede de Comercialização Solidária ................................................................................................ 28 b) Programa de Economia Popular e Solidária como estratégia de Inclusão Social ......... 29 c) A Educação do Campo e Desenvolvimento Sustentável .............................................. 30 d) Programa de Segurança Alimentar e Nutricional e Saúde Preventiva ......................... 31

A Utilização de Recursos do SUS ................................................................................. 31 Desenvolvimento Local na Saúde Básica ..................................................................... 32

6.3. Projetos Inovadores e Estruturantes ............................................................................... 33 a) A Energia Renovável Sustentável é uma Opção que Promove a Universalização do Acesso à Energia, a Gestão Participativa e Descentralizada dos Recursos Energéticos Locais ................................................................................................................................ 33 b)Micro-destilarias para Produção de Álcool na Agricultura Familiar ............................. 35 c) Micro Usinas para Produção de Biodiesel na Agricultura Familiar ............................. 36

6.4. Outras ações propostas ................................................................................................... 37 6.4.1. Suinocultura e Grãos ............................................................................................... 37 6.4.2. Cadeia do Leite ....................................................................................................... 38 6.4.3. Cana-de-Açúcar ...................................................................................................... 39 6.4.4. Comercialização Solidária e Orientação ao Crédito ............................................... 40

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6.4.5. Cadeia do Mel ......................................................................................................... 41 6.4.6. Convivência com a seca e reflorestamento ............................................................. 42

Sobre florestamento e reflorestamento ..................................................................... 42 6.4.7. Saúde Preventiva ..................................................................................................... 43 6.4.8. Artesanato Regional ................................................................................................ 44

........................................................................... 46 FICHA RESUMO DE PROJETO TERRITORIAL ......................... 46

FICHA RESUMO DE PROJETO TERRITORIAL : ANO:2004 ................................................................................................................................ 46

CONTRA .............................................................................................................................. 46 PARTIDA ............................................................................................................................. 46 CONTRA-PARTIDA ........................................................................................................... 47

FICHA RESUMO DE PROJETO TERRITORIAL : ANO:2005 ................................................................................................................................ 48

CONTRA .............................................................................................................................. 48 PARTIDA ............................................................................................................................. 48

FICHA RESUMO DE PROJETO TERRITORIAL MISSÕES – RS - ANO: 2006. .............................................................................................................................. 49

CONTRA .............................................................................................................................. 51 PARTIDA ............................................................................................................................. 51 III- Contribuição do MST Regional: Relatório Regional de outubro de 2005 ..................... 52 IV- A COTRISA ................................................................................................................... 52 V- Plano de Ação Territorial do Movimento de Mulheres Camponesas .............................. 52

ANEXOS ESPECÍIFICOS .................................................................................................... 58 ANEXO I – Elementos para o Desenvolvimento Sustentável para a Região das Missões .. 58 ANEXO II – Contribuição da Cotrisa sobre o Desenvolvimento Rural Sustentável ........... 59 ANEXO III – Reflexão Crítica sobre o Processo de Consumo ............................................ 62 ANEXO IV – Carta de São Paulo das Missões .................................................................... 63 ANEXO V – Agroecologia – Base científicas para um a agricultura sustentável (Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA) ................................................................................. 65 ANEXO VI – Conhecendo as árvores nativas da mata ciliar dos nossos rios (COOPERLUZ – Santa Rosa) ........................................................................................................................ 66

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1.APRESENTAÇÃO

O Colegiado de Desenvolvimento Territorial, o CODETER/Missões, instância vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário – SDT/MDA, constituído democraticamente, desde 2003, vem promovendo ações de mobilização do conjunto de atores da sociedade civil e órgãos governamentais. Seu objetivo é construir um Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável – PTDRS, de modo que este seja um instrumento de referência e diretriz para o desenvolvimento rural sustentável do território das Missões, região Noroeste do Rio Grande do Sul.

O desenvolvimento rural sustentável deverá combinar o combate à pobreza, a preservação ambiental e aumento/melhoria do dinamismo da economia e renda da agricultura familiar, dos assentados da Reforma Agrária, dos pescadores artesanais, das mulheres e jovens rurais e populações indígenas, bem como melhoria das condições de vida da população em geral.

Neste sentido, o presente plano apresenta um amplo diagnóstico sócio-econômico-ambiental do território das Missões, a concepção de desenvolvimento rural sustentável e a prática agroecológica, os eixos estruturantes e indicações de programas e projetos para o incremento do desenvolvimento sustentável no território das Missões. As considerações e proposições a seguir frutos de um amplo debate e mobilização regional inclusive, vários atores fizeram suas contribuições formais, que constam no presente texto, bem como nos anexos.

Por uma questão de coerência com o processo político-econômico-histórico regional, as políticas e programas dialogam com o processo de desenvolvimento regional projetados, no último período, como o Projeto Rede de Cidades das Missões para o Desenvolvimento e Combate à Pobreza, vinculado ao Programa de Gerenciamento Urbano da Organização das Nações Unidas (PGU/ONU), em convênio com o Governo Estadual e Associação dos Municípios das Missões (AMM) e com o Consórcio de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local (CONSAD/Missões), vinculado ao Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Tem-se mantido um processo direto e intenso de trabalho articulado e unificado através do Colegiado de Desenvolvimento Territorial (CODETER/Missões). O Conselho Regional de Desenvolvimento das Missões (COREDE/Missões), também tem se constituído como uma referência importante do processo. As instâncias governamentais, como a AMM e a Fundação dos Municípios das Missões (FUNMISSÕES), têm mantido uma parceria fundamental com o projeto de desenvolvimento rural sustentável em curso. Obviamente, que os atores vinculados à sociedade civil, como cooperativas, sindicatos, associações, movimentos sociais e Organizações Governamentais(ONGs) têm tido um papel protagonista.

Não restam dúvidas que um documento, com tamanha complexidade de questões abordadas, possui muitas limitações e caráter de provisoriedade. Por isso, deverá ser avaliado e aperfeiçoado regularmente, no mínimo, ao final de cada ano.

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2.SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL – SDT

DIRETRIZES GERAIS:

1-Adotar a abordagem territorial como referência conceitual para a promoção do Desenvolvimento Rural Sustentável;

2- Compreender o território como um espaço socialmente construído, lugar de manifestação de diversidades culturais e ambientais que expressam limites e potenciais para a promoção do desenvolvimento rural sustentável;

3- Entender o desenvolvimento sustentável dos territórios rurais como um processo que articula, de maneira integrada, as diversas dimensões – sócio-culturais, político-institucionais, econômicas e ambientais – que conformam os territórios;

4-Valorizar ações que estimulem a participação da diversidade de atores sociais nos processos de elaboração, planejamento, implementação e gestão do desenvolvimento sustentável dos territórios rurais;

5- Considerar as dimensões e diversidades de gênero, etnia, geração e raça nas discussões e elaboração de planos e projetos territoriais;

6- Adotar metodologias participativas e mecanismos de planejamento ascendente como estratégias de fortalecimento dos processos de descentralização de políticas públicas, estimulando a autogestão dos territórios;

7-Estimular a construção de alianças buscando fortalecer o protagonismo dos agricultores familiares nos processos de gestão social nas políticas públicas;

8-Atuar em sintonia e sinergia nos diversos níveis de governo, com entidades da sociedade civil e organizações dos movimentos sociais representativos dos diversos segmentos, principalmente da agricultura familiar, comprometidos com o desenvolvimento rural sustentável;

9-Estimular a articulação entre as demandas sociais e as ofertas das políticas públicas, promovendo instâncias plurais e participativas que viabilizem espaços para discussão, negociação, concentração e compartilhamento do poder decisório, no processo de gestão social;

10-Priorizar a redução das desigualdades econômicas e sociais, atuando preferencialmente em espaços de elevada concentração da demanda social do MDA;

11-Incentivar processos de fortalecimento da participação dos diversos atores nas instâncias colegiadas consultivas e deliberativas dos territórios, qualificando os mecanismos de representação e participação direta para a gestão social das políticas públicas;

12-Incentivar o desenvolvimento sustentável considerando a importância da dinamização econômica nos territórios rurais, com ênfase na agricultura familiar e na reforma agrária.

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3.DIAGNÓSTICO DO TERRITÓRIO DAS MISSÕES

A orientação estratégica do Governo Federal busca resgatar grandes dívidas históricas com a maioria do povo brasileiro do campo e da cidade. Estas dívidas foram negligenciadas e negadas pelas elites e classes dominantes, que historicamente governaram o país em benefício de seus interesses e privilégios, em detrimento dos direitos de cidadania da maioria dos trabalhadores e da população em geral. Na verdade as elites apropriaram-se do aparato de Estado confundindo os interesses públicos com os seus interesses privados. Este tema é profundamente analisado pelo jurista Raimundo Faoro, com a tese do patrimonialismo das elites, em sua obra clássica “Os Donos do Poder”. Como exemplo pode-se citar os trabalhadores rurais, que conseguem colocar na ordem do dia os direitos trabalhistas e previdenciários, somente no final da década de 40 e, principalmente de 50 e 60, muito influenciadas pelos direitos dos trabalhadores urbanos, que já em 1943, conquistam a Consolidação das Leis do Trabalho(CLT).

Entre tantos programas e propostas de combate à pobreza e exclusão social, pode-se destacar o Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais, o PRONAT. Este trabalha uma visão de território, principalmente, como expressão de uma identidade de uma população, priorizando suas características sócio-culturais, ambientais, político-institucionais e econômicas, ou seja, o elemento chave é o sentimento de pertença e unidade efetiva, ultrapassando os limites meramente geográficos. No Plano Plurianual (PPA) 2004-2007, constam diretrizes de combate a pobreza e exclusão social. O PRONAT é um destes instrumentos importantes, pois busca integrar as políticas públicas na escala territorial, organizando as demandas sócio-econômicas em torno da gestão e construção democrática de um Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável, fortalecendo e empoderando os atores sociais.

3.1 Aspectos Históricos e Culturais

O Território das Missões situa-se na região noroeste do Rio Grande do Sul, e de acordo com o consultor da SDT/RS, Ruben Wiest1 essa região:

Constitui-se num espaço histórico no contexto latino-americano, em vista da experiência jesuítico-guarani, onde se implantou os Sete Povos das Missões, hoje restando apenas os resquícios das ruínas, a mais conhecida é São Miguel das Missões. Além das ruínas obviamente, ficou a utopia de uma sociedade baseada na cooperação e trabalho solidário, onde tudo era produzido e repartido comunitariamente.

A região missioneira foi a primeira a ser ocupada por brancos no estado gaúcho. É uma região de povoamento antigo, de aproximadamente 400 anos. Em 1682 nasciam os Sete Povos das Missões, colonizações jesuíticas que civilizavam e catequizavam os índios Guaranis. Estes Povos foram São Francisco de Borja, São Nicolau, São Luiz Gonzaga, São Miguel, São Lourenço Mártir, São João Batista e Santo Ângelo. Estes cresceram rapidamente

1 Proposta de Modelo de Gestão do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Território Rural das Missões/RS, relatório do consultor da SDT/RS – Março/2005

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formando grandes povoados. Em 1750, o tratado de Madrid assinado pelas coroas portuguesa e espanhola impediu o crescimento deste povo, transformando um grande sonho em ruínas e escombros. Hoje sua história é contada por cada pedra e esculturas que resistiram ao tempo e aos saques realizados por bandeirantes. Suas largas paredes que parecem mudas,contam o drama Guarani (Documentário São Miguel dos Sete Povos2 ).

Tratando também da história das Missões, a historiadora Sandra Jatahy Pesavento3, afirma que:

A atividade predatória sobre o gado da Vacaria Del Mar, com seu abate indiscriminado devastava o rebanho. Tal tendência não passou despercebida aos padres jesuítas, que, desde 1682, haviam começado a retornar ao Rio Grande do Sul, fundando os chamados Sete Povos. Além da atividade de prear o gado xucro, os jesuítas separaram parte do rebanho e o levaram para o nordeste do Rio Grande do Sul, formando uma nova reserva de gado chamada Vacaria dos Pinhais ou Campos de Vacaria

Paralelamente, os padres estabeleceram, junto às reduções, estâncias para criar o gado. Além da extração de couro, exportado por Buenos Ayres, os Sete Povos, tinham sua base econômica assentada na produção da erva-mate.

Quando em suas aldeias os índios viviam em regime de comunidade primitiva. Arregimentados pelos padres, passaram a trabalhar sob a orientação e fiscalização dos jesuítas em regime comunitário. A terra, assim como todos os meios de produção, pertencia à comunidade. Demarcavam-se lavouras para as famílias e outras para a comunidade. Nestas últimas, todos eram obrigados a trabalhar determinados dias da semana a fim de garantir sustento dos incapacitados (órfãos, viúvas e doentes) e ocupantes de cargos de administração. Toda a colheita era arrecadada para armazéns públicos e daí distribuída por funcionários para as famílias.

Os Sete Povos tornaram-se importantes centros econômicos, onde, além da erva-mate e criação de gado, realizavam-se trabalhos de fiação, tecelagem, metalurgia, ofícios vários e trabalhos artísticos, com destaque na agricultura e escultura. Usando de habilidade, num processo de adaptação da cultura indígena anterior ao aldeamento, os missionários nomearam seus caciques como chefes de setores de serviços administrativos. Aos poucos, com o florescimento dos Sete Povos e o desenvolvimento dos quadros administrativos necessários a organização de cada redução, os novos cargos, agora eletivos, foram substituindo as antigas lideranças.

No decorrer do século XVIII, estas reduções, criadas em território riograndense, vieram a se constituir numa linha de expansão

2 Documentário “São Miguel dos Sete Povos – A História de Um Povo Guerreiro” – Relato da experiência dos sete povos missioneiros.3 Sandra Jatahy Pesavento, em sua obra: “História do Rio Grande do Sul”, 5ª edição, 1990, ao tratar do Rio Grande de São Pedro e sua expansão rumo ao sul: Os Sete Povos das Missões.

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rumo ao sul praticamente independente da lusitana ou espanhola propriamente dita, que se entrechocavam na fronteira pela disputa do gado, da terra e do comércio platino.

Criando unidades economicamente desenvolvidas, praticamente autônomas, exportando para a Europa, enviando tributos ao Geral da Companhia, em Roma, com influência política dentro dos Estados Católicos da Europa, a Companhia de Jesus, tornou-se pouco a pouco uma ameaça. Generalizou-se o boato de que a ordem jesuíta se constituíra num “Estado dentro do Estado” e que os padres estariam com intenção de fundar um “Império Teocrático na América”.

Zona economicamente rica e constituindo ameaça política para a segurança das monarquias ibéricas, a região dos Sete Povos foi colocada em pauta nas disposições do Tratado de Madrid, acertado entre Portugal e Espanha, em 1750.

Posteriormente com a generalização do ambiente hostil à Companhia de Jesus, uma vez que ameaçava o absolutismo monárquico dos estados europeus, os jesuítas acabaram sendo expulsos de Portugal (1759), Espanha (1767) e América, efetivando-se o confisco de suas propriedades.

Dessa forma fica evidente o significado econômico, social e político da experiência dos Sete Povos missioneiros, onde se comprova um grande desenvolvimento sócio-econômico. Este se baseou num modelo de gestão dos meios de produção, caracterizado pelas formas associativas e comunitárias, predominando sobre as formas particulares ou familiares, ou seja, os interesses públicos de dimensão comunitária e coletiva estavam em primeiro lugar, em detrimento da dimensão particular/individual.

De fato, a experiência jesuítico-guarani missioneira, esboçou no seu período e contexto histórico um projeto político-histórico alternativo dos modelos dominantes vigentes na época. Este, com certeza, foi um dos grandes fatores que despontou a coalizão dos impérios português e espanhol, via Tratado de Madrid em 1750, para por fim a experiência em curso.

3.2 Dinâmica Demográfica do Território das Missões

Atualmente o Território das Missões4, como visto na Figura 1, é composto por 25 municípios: Bossoroca, Caibaté, Cerro Largo, Dezesseis de Novembro, Entre-Ijuís, Eugênio de Castro, Garruchos, Giruá, Guarani das Missões, Mato Queimado, Pirapó, Porto Xavier, Rolador, Roque Gonzáles, Salvador das Missões, Santo Ângelo, Santo Antônio das Missões, São Luiz Gonzaga, São Miguel das Missões, São Nicolau, São Paulo das Missões, São Pedro do Butiá, Sete de Setembro, Ubiretama e Vitória das Missões.

Figura 1: Localização do Território das Missões no Rio Grande do Sul

4 O mapa situa o território das Missões no contexto do Rio Grande do Sul, conforme o planejamento do projeto dos Consórcios de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, o MDS. Para tanto, realizou-se um diagnóstico no âmbito dos municípios do CONSAD/Missões, elaborado com finalidade de auxiliar o desenvolvimento do Plano de Ação. Portanto, a área de ação do CODETER/Missões/SDT/MDA é a mesma do CONSAD/Missões.

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A Região das Missões abriga uma população de 267.536 habitantes, o que corresponde a 2,6% da população do Estado do Rio Grande do Sul, ocupando 4,4% da área do Estado. Apresenta uma densidade demográfica de 21,5 hab/km2, enquanto a média estadual é de 36,16 hab/km2 (IBGE, 2000).

Analisando a Tabela 1, percebe-se a desigual distribuição da população no território em tela. Sozinho, Santo Ângelo concentra quase 29% de toda população da região das Missões, possuindo uma densidade demográfica de quase 114 hab/km2. No extremo oposto, localidades como Garruchos, Bossoroca e São Miguel das Missões possuem densidades extremamente baixas, equivalentes a respectivamente 4,43; 4,86 e 5,56 hab/km². As seis localidades com mais de 10 mil habitantes (Cerro Largo, Giruá, Porto Xavier, Santo Ângelo, Santo Antônio das Missões e São Luiz Gonzaga) concentram 64,1% da população regional.

Tabela 1 – Municípios do Território das Missões segundo o número de habitantes, densidade demográfica e classificação (urbana ou rural)

Município Habitantes Hab/km2 ClassificaçãoBossoroca 7.757 4,86 RuralCaibaté 7.243 19,36 RuralCerro Largo 12.665 72,64 UrbanoDezesseis de Novembro

3.444 15,97 Rural

Entre-Ijuís 9.702 17,57 RuralEugênio de Castro 3.313 7,87 RuralGarruchos 3.675 4,43 RuralGiruá 18.749 22,70 UrbanoGuarani das Missões 8.990 30,95 RuralMato Queimado 2.022 17,74 Rural

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Pirapó 3.349 12,21 RuralPorto Xavier 11.190 41,65 UrbanoRolador 2.869 9,93 RuralRoque González 7.799 21,39 RuralSalvador das Missões 2.665 27,40 RuralSanto Ângelo 76.745 113,59 UrbanoSanto Antônio das Missões

12.691 7,53 Rural

São Luiz Gonzaga 39.553 24,85 UrbanoSão Miguel das Missões

7.682 5,56 Rural

São Nicolau 6.406 12,62 RuralSão Paulo das Missões

7.187 30,16 Rural

São Pedro do Butiá 2.862 27,10 RuralSete de Setembro 2.357 16,27 RuralUbiretama 2.677 21,13 RuralVitória das Missões 3.979 15,29 Rural

Fonte: Elaborado a partir do Censo Demográfico (IBGE, 2000).

Ainda conforme a Tabela 1, pode-se dizer que apenas 5,das 25 localidades integrantes do Território das Missões poderiam ser consideradas como eminentemente “urbanas”: Cerro Largo, Giruá, Porto Xavier, Santo Ângelo e São Luiz Gonzaga. Sessenta e quatro por cento (64%) da população regional reside em áreas urbanas e trinta e seis por cento (36%) em áreas rurais, sendo que o Estado do RS apresenta 81,7% de população urbana e 18,3%, de população rural (IBGE, 2000).

Outro aspecto revela, de antemão, um quadro preocupante. Segundo dados do IBGE (2000), dos 25 municípios existentes, apenas 05 (Garruchos, Porto Xavier, São Pedro do Butiá, Santo Ângelo e São Miguel das Missões) apresentaram, na última década, taxas de crescimento positivas, que, ainda assim, são muito baixas. Apenas Garruchos conheceu uma taxa (1,69%) superior à média estadual (1,21%). O maior declínio demográfico ficou a cargo de São Paulo das Missões (-1,89%), Dezesseis de Novembro (-1,60), Pirapó (-1,46%), Roque González (-1,36%), Sete de Setembro (-1,26%) e Vitória das Missões (-1,14%).

O Território das Missões revela ainda uma outra faceta, qual seja, a da existência de localidades marcadas pelo fenômeno da “masculinização” da população, tal como indicam os dados da Tabela 2, ou seja, municípios em que a população masculina supera à população feminina, com destaque para Vitória das Missões, Garruchos, Dezesseis de Novembro, Pirapó, São Miguel das Missões e Sete de Setembro. Por outro lado, há localidades como Cerro Largo, Giruá, Santo Ângelo e São Luiz Gonzaga em que a situação é exatamente oposta, ou seja, lugares em que o número de mulheres supera o de homens.

Além disso, se identifica no território uma tendência ao envelhecimento demográfico, fenômeno este que se deve ao efeito combinado da queda da taxa de fecundidade e aumento da esperança de vida da população. A população com idade superior aos 65 anos, concentra atualmente 7,97% da população missioneira, superior inclusive à média estadual, que é de 7,20%. Por outro lado, a proporção da população ativa (entre 15 e 65 anos) chega a 65,32%, ao passo que para o Estado é 66,75%. Mais uma vez se vê confirmado que é justamente o intervalo mais importante entre as faixas etárias que se reduziu com maior intensidade no âmbito das Missões.

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Tabela 2 - Municípios do CONSAD Missões segundo o número de homens, mulheres e razão de gêneros (homens/mulheres) com destaque para as localidades mais masculinizadas

Município Homens Mulheres Razão de gênerosBossoroca 3.981 3.776 1,05Caibaté 3.665 3.578 1,02Cerro Largo 6.207 6.458 0,96Dezesseis de Novembro 1.782 1.662 1,07Entre-Ijuís 4.844 4.858 1,00Eugênio de Castro 1.638 1.675 0,99Garruchos 1.939 1.736 1,12Giruá 9.128 9.621 0,95Guarani das Missões 4.496 4.494 1,00Mato Queimado* S/inf. s/inf. s/inf.Pirapó 1.737 1.612 1,08Porto Xavier 5.628 5.562 1,01Rolador* S/inf. s/inf. s/inf.Roque González 3.909 3.890 1,00Salvador das Missões 1.345 1.320 1,02Santo Ângelo 37.02

739.71

80,93

Santo Antônio das Missões 6.461 6.230 1,04São Luiz Gonzaga 19.27

220.28

10,95

São Miguel das Missões 3.971 3.711 1,07São Paulo das Missões 3.660 3.527 1,04São Nicolau 3.276 3.130 1,05São Pedro do Butiá 1.454 1.408 1,03Sete de Setembro 1.217 1.140 1,07Ubiretama 1.358 1.319 1,03Vitória das Missões 2.111 1.868 1,13

(*) Não haviam sido emancipados por ocasião da realização do censo.Fonte: Elaborado a partir do Censo Demográfico (IBGE, 2000).

3.3 A Situação Social das Missões

A realidade encontrada no Território das Missões é apresentada na Tabela 3, onde percebe-se que três grandes grupos de localidades, tendo à testa Santo Ângelo, Salvador das Missões, São Pedro do Butiá e Cerro Largo apresentam os mais altos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). No outro extremo, Dezesseis de Novembro, Pirapó, Garruchos e São Nicolau apresentam os piores desempenhos, situando-se nos últimos postos entre os 497 municípios atualmente existentes no Estado do Rio Grande do Sul.

Tabela 3 - Relação dos municípios do CONSAD/ Missões no Rio Grande do Sul com destaque para os municípios segundo grupos de Índice de Desenvolvimento Humano

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Município IDH Ranking RS Ordem

Santo Ângelo 0,821 7 1Salvador das Missões 0,813 110 2São Pedro do Butiá 0,808 125 3

Cerro Largo 0,807 137 4São Luis Gonzaga 0,800 173 5

Caibaté 0,784 242 6Ubiretama 0,783 253 7Bossoroca 0,781 258 8

São Paulo das Missões 0,777 272 9Guarani das Missões 0,777 277 10

Giruá 0,775 283 11Entre-Ijuís 0,767 316 12

Sete de Setembro 0,765 320 13Eugênio de Castro 0,765 321 14

São Miguel das Missões 0,763 333 15Porto Xavier 0,762 335 16

Vitória das Missões 0,760 342 17Santo Antônio das

Missões0,757 354 18

Roque Gonzalez 0,749 380 19Dezesseis de Novembro 0,724 440 20

Pirapó 0,720 443 21Garruchos 0,715 450 22

São Nicolau 0,714 453 23Mato Queimado s/inf. s/inf. s/inf.

Rolador s/inf. s/inf. s/inf.(*) Não haviam sido emancipados na ocasião da realização do censo.Fonte: FAO (2003).

Ao analisar os dados referentes às condições dos domicílios (IBGE, 2000), na Tabela 4, identifica-se a situação mais favorável de Santo Ângelo, marcadamente identificado como pólo regional, seguido de Cerro Largo, Salvador das Missões e São Pedro do Butiá. No extremo oposto têm-se Garruchos e Dezesseis de Novembro com valores que ultrapassam a 0,67 pessoas por cômodo. Os valores grifados em azul revelam os valores mais positivos, ao passo que os grifados em vermelho indicam a situação diametralmente oposta.

Ainda conforme a Tabela 4, Salvador das Missões, revela uma situação privilegiada com relação à proporção de domicílios com abastecimento de água. Pode-se observar também que até mesmo os domicílios rurais são atendidos com abastecimento da rede municipal, condição esta de que poucos municípios brasileiros de iguais dimensões dispõem na

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atualidade. Por outro lado, Garruchos aponta um quadro francamente desfavorável neste quesito, com apenas 0,33 domicílios servidos por abastecimento hídrico.

Nota-se também que Santo Ângelo e Cerro Largo apresentam os melhores índices com relação à proporção de domicílios com escoadouro de esgoto, ao passo que em Dezesseis de Novembro esta proporção é nula. Já os municípios de Garruchos, Eugênio de Castro, Sete de Setembro, Giruá e Ubiretama também apresentam situação bastante próxima. Com relação à coleta de lixo, novamente Santo Ângelo e Cerro Largo revelam-se positivamente diferenciados dos outros municípios.

Na última coluna da Tabela 4, registra-se a proporção dos domicílios que possuem energia elétrica. O município de Santo Ângelo, Salvador das Missões e São Pedro do Butiá, apresentam a maior cobertura dos domicílios, ao passo que em Dezesseis de Novembro e Pirapó têm-se o pior desempenho neste quesito, onde a porcentagem oscila entre 73 e 74% dos domicílios.

Tabela 4 - Relação dos municípios do Território das Missões com destaque à: número médio de pessoas por cômodo (Nº pes/com), proporção de domicílios com abastecimento de água (Propabast), número médio de sanitários por domicílio (Sanit/dom), proporção de domicílios com escoadouro de esgoto (Propescoa), proporção de domicílios com coleta de lixo (Proplixo), proporção de domicílios com ligação elétrica (Propeletri)

Município Nº pés/com Propabast Propescoa Proplixo Propeletri

Santo Ângelo 0,5050 0,8654 0,2988 0,8605 0,9653Salvador das Missões 0,4817 0,9712 0,1268 0,3770 0,9896São Pedro do Butiá 0,4757 0,9711 0,0327 0,3433 0,9884

Cerro Largo 0,4843 0,9297 0,3318 0,7809 0,9581São Luis Gonzaga 0,5354 0,8277 0,3072 0,7176 0,9247

Caibaté 0,5554 0,8423 0,0734 0,4547 0,9139Ubiretama 0,6100 0,4988 0,0159 0,1460 0,9541Bossoroca 0,6157 0,5673 0,0380 0,4153 0,8113

São Paulo das Missões 0,6005 0,7062 0,0326 0,3238 0,9139Guarani das Missões 0,5624 0,8627 0,0531 0,5476 0,9268

Giruá 0,5098 0,7604 0,0154 0,6842 0,9384Entre-Ijuís 0,5816 0,6756 0,0382 0,4389 0,9198

Sete de Setembro 0,6206 0,6823 0,0107 0,1342 0,8006Eugênio de Castro 0,5516 0,6426 0,0252 0,3992 0,8538

São Miguel das Missões

0,6077 0,6125 0,0510 0,3252 0,8368

Porto Xavier 0,6210 0,7649 0,2361 0,5139 0,8712Vitória das Missões 0,6185 0,8189 0,0316 0,1430 0,8338

Sto. Antônio das Missões

0,5862 0,6086 0,0670 0,4844 0,8514

Roque Gonzalez 0,5897 0,8500 0,0708 0,3887 0,9175Dezesseis de Novembro

0,6761 0,8144 0,0000 0,1696 0,7447

Pirapó 0,5943 0,9005 0,4078 ** 0,2483 0,7334Garruchos 0,6796 0,3309 0,0143 0,2668 0,8808

São Nicolau 0,6088 0,8841 0,0777 0,5117 0,8217Mato Queimado * s/inf. s/inf. s/inf. S/inf. s/inf.

Rolador * s/inf. s/inf. s/inf. S/inf. s/inf.

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(*) Não haviam sido emancipados na ocasião da realização do censo.(**) Alertamos para um possível erro neste dado por parte do IBGE, dado que é absolutamente incompatível com as condições desta localidade.Fonte: FAO (2003).

Na Tabela 5, com relação à taxa de analfabetismo, verifica-se que em Salvador das Missões, São Pedro do Butiá, Cerro Largo e Santo Ângelo esta taxa é bastante baixa. Por outro lado, São Nicolau (0,1943), Dezesseis de Novembro (0,1601), Pirapó (0,1408), Garruchos (0,1408), São Miguel das Missões (0,1156), Porto Xavier (0,1390), Santo Antônio das Missões (0,1147) apresentam indicadores bastante desfavoráveis.

Tabela 5 – Relação dos municípios do Território das Missões com destaque à: Taxa de analfabetismo (Taxa analf.), escolaridade média em anos (Escol.méd), renda per capita domiciliar média (Rend.perc.), Proporção de pessoas pobres (Prop.pobre) e Número total de pessoas com renda per capita domiciliar inferior (Nº pobres) à linha de pobreza (R$ 75,00).

Município Taxa analf.

Escol.mé-dia

Rend. perc. Prop. pobres Nº pobres

Santo Ângelo 0,0539 7,8357 330,65 0,2238 17.177Salvador das Missões 0,0141 7,1029 203,35 0,1562 416São Pedro do Butiá 0,0428 6,9567 222,57 0,1934 553

Cerro Largo 0,0537 7,2026 250,20 0,2185 2.767São Luis Gonzaga 0,0928 6,7835 249,18 0,2780 10.997

Caibaté 0,0660 6,3884 199,92 0,2971 2.152Ubiretama 0,0887 5,7709 127,52 0,3908 1.046Bossoroca 0,1115 6,1068 160,53 0,4922 3.818

São Paulo das Missões 0,0613 6,0337 140,51 0,3585 2.577Guarani das Missões 0,0604 6,3752 173,42 0,3486 3.134

Giruá 0,0764 6,7957 231,65 0,3741 7.015Entre-Ijuís 0,0812 6,2093 163,70 0,3735 3.623

Sete de Setembro 0,0361 5,7766 127,41 0,4681 1.103Eugênio de Castro 0,0848 6,0540 203,27 0,3627 1.201

São Miguel das Missões 0,1156 5,7380 257,83 0,4342 3.336Porto Xavier 0,1390 6,1532 219,44 0,3872 4.333

Vitória das Missões 0,0960 5,4589 115,83 0,4900 1.950Sto. Antônio das Missões 0,1147 6,0464 176,12 0,4723 5.994

Roque Gonzalez 0,1090 5,9311 163,60 0,4608 3.594Dezesseis de Novembro 0,1601 5,3172 115,05 0,5078 1.749

Pirapó 0,1408 5,6107 115,15 0,5657 1.894Garruchos 0,1401 5,6145 133,11 0,4922 1.809

São Nicolau 0,1943 5,1857 124,35 0,5395 3.456Mato Queimado * s/inf. s/inf. s/inf. S/inf. s/inf.

Rolador * s/inf. s/inf. s/inf. S/inf. s/inf.

(*) Não haviam sido emancipados por ocasião da realização do censo.

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Fonte: FAO (2003).

A escolaridade média nos municípios de Santo Ângelo, Salvador das Missões e Cerro Largo supera os 7 anos. No caso de Santo Ângelo é provável que isso ocorra por ser uma cidade-pólo que possui instituições de nível superior, elevando este indicador. O mesmo ocorre em Cerro Largo, onde há um campus da Universidade Regional Integrada – URI. Em contraposição a essa situação, São Nicolau (5,11857), Dezesseis de Novembro (5,3172), Pirapó (5,6107), Garruchos (5,6145) e Vitória das Missões (5,4589) a escolaridade é consideravelmente inferior.

Já com relação à renda per capita domiciliar média, mostrada na terceira coluna da Tabela 5, apresenta melhores índices nos municípios de Santo Ângelo, Cerro Largo e São Miguel das Missões. No que tange à proporção de pobres, os dados indicam que as localidades que figuram com os piores números em outros quesitos são justamente as que apresentam a maior porcentagem de pessoas cuja renda per capita domiciliar é inferior à linha de pobreza (R$ 75,50). É o caso de São Nicolau (0,5395), Pirapó (0,5657), Dezesseis de Novembro (0,5078), Garruchos (0,4922) ou Bossoroca (0,4922). O total de pobres, ou seja, pessoas que recebem uma renda per capita domiciliar inferior à linha de pobreza (R$ 75,50), reflete a tendência de que os maiores municípios (Santo Ângelo, São Luiz Gonzaga, Giruá) abriguem em seu interior, o maior número de pessoas nesta condição.

Outro índice que demonstra o agravamento da crise social e o processo grave de empobrecimento da população regional, é o Índice de Desenvolvimento Sócio-Econômico – IDESE, que avalia os aspectos da educação, da renda, do saneamento e domicílios e da saúde. Utilizando este instrumento, o Diagnóstico de Estudo Propositivo5, apontou que nos municípios do Território das Missões os resultados foram inferiores às médias estaduais, como pode ser visto na Tabela 6. Esta mostra a situação de cada município e as cinco melhores posições no IDESE, bem como, as cinco piores situações no IDESE.

Tabela 6 – Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese), por município no Rio Grande do Sul – 2000

ESTADO E MUNICÍPIOS EDUCAÇÃO RENDA SANEAMENTO E DOMICÍLIOS SAÚDE IDESE

Índice Ordem Índice Ordem Índice Ordem Índice Ordem Índice Ordem

Total do Estado 0,834 - 0,757 - 0,562 - 0,853 - 0,751 -

Bossoroca 0,824 230 0,700 128 0,351 240 0,884 109 0,690 189Caibaté 0,806 322 0,649 219 0,473 127 0,885 102 0,703 155

Cerro Largo 0,869 46 0,747 75 0,619 33 0,902 32 0,784 15Dezesseis de Novembro 0,822 235 0,502 434 0,477 121 0,854 315 0,664 255

Entre-Ijuís 0,837 174 0,722 102 0,405 182 0,883 110 0,712 131Eugênio de Castro 0,822 236 0,694 136 0,398 190 0,854 316 0,692 185

Garruchos 0,769 423 0,496 436 0,211 368 0,814 454 0,572 435Giruá 0,847 130 0,726 93 0,443 146 0,840 374 0,714 123

Guarani das Missões 0,842 153 0,665 187 0,495 107 0,855 293 0,714 121Mato Queimado

Pirapó 0,793 365 0,564 376 0,508 96 0,854 312 0,680 214Porto Xavier 0,813 279 0,659 196 0,499 103 0,863 247 0,709 142

RoladorRoque Gonzales 0,807 314 0,606 300 0,474 124 0,865 231 0,688 197

5 Diagnóstico do Estudo Propositivo realizado pelo Professor Glauco Schultz – DESER/SDT/MDA, sobre o território das Missões – 2005.

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Salvador das Missões 0,898 10 0,712 116 0,540 76 0,893 59 0,761 35Santo Ângelo 0,872 36 0,683 161 0,581 51 0,857 282 0,748 61

Santo Antônio das Missões 0,820 245 0,607 299 0,362 227 0,856 286 0,661 261São Luiz Gonzaga 0,848 121 0,690 149 0,582 50 0,886 89 0,751 55

São Miguel das Missões 0,785 389 0,744 77 0,363 225 0,882 116 0,693 181São Nicolau 0,771 421 0,544 399 0,513 92 0,854 311 0,671 238

São Paulo das Missões 0,838 171 0,596 321 0,410 175 0,893 58 0,684 205São Pedro do Butiá 0,905 6 0,673 173 0,531 80 0,885 101 0,748 60Sete de Setembro 0,848 119 0,477 445 0,399 189 0,885 103 0,652 291

Ubiretama 0,869 44 0,635 252 0,305 291 0,882 120 0,673 228Vitória das Missões 0,814 276 0,577 355 0,471 130 0,884 108 0,686 200

FONTE: FEE/CIE

De uma forma geral, o Território das Missões é um dos mais pobres do Rio Grande do Sul. Entre seus principais problemas encontram-se os altos índices de desemprego, uma economia baseada na atividade agropecuária tradicional (centrada na produção de soja), uma crescente concentração da população nas cidades e severos problemas ambientais urbanos. A estes, soma-se uma escassa experiência participativa na gestão dos assuntos públicos e uma baixa capacidade de trabalho interinstitucional e multiatoral (governos locais e sociedade civil) para a formulação de propostas de desenvolvimento.

Estrutura Fundiária

A distribuição da estrutura fundiária do Território das Missões é caracterizada pela desigual ocupação do espaço. Este fato reflete-se nas grandes diferenças de densidade demográfica e, principalmente por caracterizar os tipos de agricultura que predominam nesses municípios. Assim, por exemplo, têm-se Salvador das Missões, São Pedro do Butiá, Cerro Largo, Entre-Ijuís, Sete de Setembro ou Ubiretama, que caracterizam-se pela agricultura familiar. Já, Bossoroca, Garruchos, São Luiz Gonzaga, Santo Antônio das Missões ou São Miguel das Missões, se caracterizam pela agricultura patronal, centrada no desenvolvimento da pecuária extensiva.

Esta região também se destaca pelas atividades agrícolas. No que tange aos tipos de culturas desenvolvidas no território, identificam-se duas grandes commodities: trigo e soja. São elas que fomentam a economia regional, configurando-se como um contexto visceralmente tributário do desempenho dos mercados internacionais. Dessa forma, se ambas as culturas experimentam condições climáticas favoráveis e um mercado que absorve a produção com preços igualmente satisfatórios, todos os setores, vinculados ou não às atividades agropecuárias, mantêm-se sob uma dinâmica relativamente intensa. Outrossim, como vem acontecendo nas últimas safras, ciclos de seca significam um quadro desesperador para a economia regional, intensificando os problemas aludidos anteriormente.

Nas lavouras onde utilizam grandes quantidades de máquinas, é preponderante a presença masculina na condução das operações. Dessa forma, nos espaços locais fica difícil oferecer condições mínimas para absorver a mão-de-obra feminina. Assim, muitas mulheres acabam por migrar em busca de oportunidades de trabalho e das estruturas de ascensão social (escolas, universidades, centros de formação) que, necessariamente, não se encontram nas “cidades rurais”. O mesmo vem acontecendo com os jovens residentes no campo e nas pequenas localidades das Missões.

Assim, para melhor visualização, a Tabela 7, refere-se à estrutura fundiária do Território das Missões. Nota-se que na região, à exceção de Bossoroca, predominam as pequenas propriedades (88%, do total dos estabelecimentos) com área de até 50 hectares,

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abrangendo 26% da área regional. Nessa condição temos acima de 90% dos estabelecimentos existentes em: Caibaté, Campinas das Missões, Cerro Largo, Dezesseis de Novembro, Guarani das Missões, Porto Xavier, Roque González, Salvador das Missões, São Paulo das Missões, São Pedro das Missões e Vitória das Missões.

As médias propriedades de 50 a 500 hectares,representam 13,7%, do número de estabelecimentos da região, ocupando uma área de 43,7% da área regional.. As grandes propriedades, em pequeno número, também ocupam uma área expressiva, 30,3% da área utilizada pela agropecuária. Portanto, as pequenas propriedades inseridas na denominada agricultura familiar ocupa um papel estratégico na região.

Tabela 7 – Número de estabelecimentos e participação porcentual nos municípios integrantes do Território das Missões.

Município Até50 há

% 50 a 100 ha %

100 a 500 há

% 500 e mais ha % Total

Bossoroca. 434 46,92 156 16,86 270 29,19 65 7,03 925Caibaté 1 371 90,32 76 5,01 68 4,48 3 0,20 1 518Cerro Largo. 991 97,83 22 2,17 - 0,00 0 0,00 1 013Dezesseis de Novembro 677 91,61 29 3,92 31 4,19 2 0,27 739Entre-Ijuís. 1 170 86,41 95 7,02 75 5,54 14 1,03 1 354Eugênio de Castro 576 80,22 60 8,36 69 9,61 13 1,81 718Garruchos 423 63,61 104 15,64 110 16,54 28 4,21 665Giruá 2 320 85,26 230 8,45 153 5,62 18 0,66 2 721Guarani das Missões 1 666 94,93 71 4,05 18 1,03 0 0,00 1 755Porto Xavier 1 668 96,64 35 2,03 23 1,33 0 0,00 1 726Pirapó 711 87,13 53 6,50 49 6,00 3 0,37 816Roque Gonzáles 1 410 92,89 65 4,28 40 2,64 3 0,20 1 518Salvador das Missões 600 98,68 8 1,32 - 0,00 0 0,00 608Santo Ângelo 1 670 89,98 108 5,82 71 3,83 7 0,38 1 856Sto. Antônio das Missões 744 59,28 169 13,47 280 22,31 62 4,94 1 255São Paulo das Missões 1 403 99,08 12 0,85 1 0,07 0 0,00 1 416São Pedro do Butiá 730 98,12 8 1,08 6 0,81 0 0,00 744São Luiz Gonzaga. 1 684 77,93 151 6,99 262 12,12 64 2,96 2 161São Miguel das Missões 888 68,94 145 11,26 208 16,15 47 3,65 1 288São Nicolau 686 79,40 65 7,52 99 11,46 14 1,62 864Vitória das Missões 1 060 92,82 62 5,43 18 1,58 2 0,18 1 142Fonte: Censo Agropecuário 1995-1996

Por sua vez, a Tabela 8, mostra a distribuição da área total dos estabelecimentos. Novamente o município de Bossoroca é diferenciado, pois evidencia o peso do latifúndio. Nessa localidade os estabelecimentos com mais de 100 hectares correspondem a 36,22% do total de estabelecimentos, ainda que concentrem cerca de 87% da área total. Apenas 65 estabelecimentos (7,03% do total) que possuem mais de 500 hectares absorvem nada menos que 44% da área total. No extremo oposto, 434 estabelecimentos (46,92% do total) com área até 50 hectares controlam apenas 6% da área total disponível. Tal situação é muito próxima ao que ocorre em Santo Antônio das Missões, Garruchos, São Luís Gonzaga, São Miguel das Missões, São Nicolau ou Eugênio de Castro, onde as explorações com mais de 100 hectares concentram respectivamente 84%; 79,74%; 79%; 80%; 72% e 64% da área total.

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Tabela 8 – Distribuição da área total segundo estratos de estabelecimentos e participação porcentual nos municípios integrantes do Território das Missões.

Município Até50 ha

% 50 a100 ha % 100 a

500 ha % 500 emais ha

% Total

Bossoroca. 8 594 5,70 10 955 7,27 64 333 42,68 66.865 44,36150.74

6Caibaté 15 160 41,85 5 003 13,81 14 190 39,17 1.876 5,18 36.229Cerro Largo. 13 317 90,45 1 405 9,55 - 0,00 0 0,00 14.723Dezesseis de Novembro 8 660 45,69 1 919 10,12 5 284 27,87 3.094 16,32 18.957Entre-Ijuís. 15 498 31,98 6 141 12,67 15 547 32,09 11.269 23,26 48.456Eugênio de Castro 7 989 23,28 4 387 12,78 12 814 37,33 9.134 26,61 34.325Garruchos 6 106 9,44 6 991 10,81 23 540 36,41 28 012 43,33 64 648Giruá 36 617 37,64 15 868 16,31 30 296 31,15 14.490 14,90 97.271Guarani das Missões 25 521 78,56 4 638 14,28 2 328 7,17 0 0,00 32.486Porto Xavier 17 347 74,16 2 178 9,31 3 865 16,52 0 0,00 23.390Pirapó 9 068 36,54 3 511 14,15 9 018 36,34 3.222 12,98 24.819Roque Gonzales 17 678 55,43 4 412 13,83 6 994 21,93 2.810 8,81 31.894Salvador das Missões 8 086 94,25 493 5,75 - 0,00 0 0,00 8.579Santo Ângelo 23 707 48,33 7 072 14,42 13 825 28,18 4.449 9,07 49.054Sto. Antôn. das Missões 12 695 8,23 11 771 7,63 61 348 39,77 68.427 44,36

154.240

São Paulo das Missões 17 875 95,29 755 4,02 130 0,69 0 0,00 18.760São Pedro do Butiá 8 428 83,33 517 5,11 1 170 11,56 0 0,00 10.115

São Luiz Gonzaga. 21 809 14,52 10 194 6,79 53 612 35,70 64.543 42,98150.15

7São Miguel das Missões 13 033 11,85 9 871 8,98 46 772 42,53 40.294 36,64

109.969

São Nicolau 7 804 17,60 4 546 10,25 20 923 47,19 11.062 24,95 44.334Vitória das Missões 12 672 59,15 4 072 19,01 2 933 13,69 1.747 8,15 21.424

Fonte: Censo Agropecuário 1995-1996.

Assim, o Território das Missões é marcado pela hegemonia da pecuária extensiva de baixos indicadores zootécnicos e reduzida capacidade de geração de empregos e ocupação para a população local. Esta estagnação é fruto da escassa diversificação das atividades produtivas, inserida num contexto (extensão da campanha ocidental gaúcha) historicamente marcado pelo êxodo rural e por um padrão que reforça ainda mais uma tendência à concentração fundiária e à exclusão social. É diante de fatos como este que se encontram algumas das chaves explicativas para entender a extensão de fenômenos como: o declínio demográfico destas localidades, o elevado índice de masculinização e o envelhecimento populacional. Somam-se a estes, altas taxas de analfabetismo e de precariedade dos serviços sociais disponibilizados pelo poder público municipal à população.

Além disso, há uma extrema rigidez de uma matriz técnico-produtiva excessivamente apoiada no desempenho de commodities ou de atividades com escasso nível de dinamismo. Diante desse panorama torna-se difícil a incorporação de novas tecnologias além de não contribuir para o fortalecimento da estrutura de oportunidades de emprego e renda para o

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conjunto da população, como também é o caso da pecuária extensiva. Todos estes aspectos conspiram para conformar um quadro no qual tornam-se reduzidas as possibilidades de transformação a curto e médio prazo.

Características Edafo-Climáticas do Território das Missões

O Território das Missões é caracterizado pelo clima subtropical com temperaturas médias no verão acima dos 20ºC e, no inverno atingindo graus negativos. Há formação de geadas no inverno e os ventos de origem sul/sudoeste, provocam uma sensação de frio muito intensa. O regime de chuvas é bem distribuído com precipitações mensais que chegam a 150 mm, porém há um déficit hídrico de novembro a fevereiro, ou seja, em determinados períodos chove em demasia e nos períodos críticos para diversas culturas agrícolas faltam chuvas, ocasionando as estiagens e secas freqüentes, em períodos sucessivos. Mesmo assim, conforme levantamentos realizados pela Cooperativa Tritícola Regional Santo Ângelo Ltda.6, a COTRISA, e outros órgãos climatológicos, a região das Missões possui uma média boa e razoável em termos de precipitação de chuva.

Com relação ao tipo de solo existente nas Missões existem dois tipos. Um mais argiloso (latossolo) na porção norte, nas regiões coloniais, apresentando maior declividade, e outro na porção sul, onde o relevo é levemente ondulado e com presença de solos basálticos menos desenvolvidos (ciríaco-charrua). Também na margem de alguns rios encontram-se várzeas, que na grande maioria são utilizadas para a cultura do arroz, principalmente nas margens do rio Ijuí, Camaquã, e Uruguai. A Figura 2 apresenta a classificação dos solos das regiões do Estado.

Figura 2 – Classificação dos solos do Rio Grande do Sul

6 A Cooperativa Tritícola Regional Santo Ângelo Ltda., a COTRISA, tem realizado levantamentos regulares sobre os índices de precipitações de chuvas nos municípios de sua área de abrangência.

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As principais bacias hidrográficas do território são as do rio Piratini e Ijuí. Estas estão localizadas nas Serras do Cadeado e de Tupanciretã, com altitudes em torno de 400 metros e jusante com aproximadamente 100 metros, desaguando no rio Uruguai.

Já a cobertura vegetal da região está divida em duas partes distintas. Na porção norte/noroeste encontram-se pequenas manchas dos ecossistemas originais, associados à Mata Atlântica com árvores maiores, frondosas e de madeira de lei. Neste ecossistema destacam-se os angicos, grápias, guajuviras, cedros, louros, etc. Já na parte sul, existem os campos onde há matas de galeria e ciliar acompanhando os cursos d’água. Hoje estima-se que 10% da região esteja coberta com matas originais, ficando totalmente aquém das previsões e exigências legais e ambientais.

No que tange às questões ambientais, tendo em vista que a região apresenta um perfil econômico baseado na exploração intensiva dos recursos naturais, na utilização de insumos químicos e mecanização, principalmente nas culturas de soja e trigo, a área apresenta graves problemas. Estes estão relacionados à contaminação do solo e da água, com a perda de fertilidade e de camadas de solo, através da erosão, somam-se à estes danos o desmatamento das margens dos rios, provocando conseqüentemente seu assoreamento.

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Matriz Produtiva

Segundo dados do IBGE (2000), e ASTRF7 (2005), a matriz agrícola produtiva está baseada em poucos produtos, pois há predominância de cultivos anuais como o milho e soja. Com relação à pecuária, destaca-se a bovinocultura de leite, embora há presença de alguns bovinos de corte em muitas propriedades de região. Por conseqüência, algumas espécies de pastagens perenes e anuais, como milheto e aveia, também aparecem com uma significativa área cultivada.

Também em muitas propriedades a cana-de-açúcar é destinada à alimentação animal. Além disso, é utilizada na fabricação de açúcar e melado para o consumo das famílias e, na produção comercial de derivados como rapadura, melado, açúcar mascavo, cachaça e álcool combustível. Essas atividades constituem-se em alternativas de geração de trabalho e renda, com significativas vantagens em relação à monocultura da soja.

Aspectos da Infra-Estrutura Regional de Transporte

O Território das Missões possui um aeroporto regional, localizado em Santo Ângelo. Este possui pista de asfalto de 1.685 metros de extensão, com vôos regionais regulares. Além disso, duas linhas férreas atravessam a região; uma no sentido sul/norte passando por São Luiz Gonzaga e, outra no sentido oeste/leste ligando Cerro Largo a Santo Ângelo (inoperante). Esta última encontra-se atualmente relativamente sucateada com o processo de privatização, sob o controle da Empresa América Latina Logística – ALL.

No que tange à infra-estrutura rodoviária, destacam-se importantes rodovias, como a BR-285, BR-392, a RS-168, a RS-561, a RS-165, a RS-536, a RS-344, e RS-472, como mostra a figura a seguir:

Figura 3 – Principais eixos rodoviários do Rio Grande do Sul

7 Diagnósticos da ASTRF – Associação dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais Fronteiriços, 2005.

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Em termos energéticos, por conta dos investimentos recentes realizados no período do governo Olívio Dutra, que aumentaram a capacidade disponível, a região possui condições de respaldar empresas de todos os portes.

Características Gerais do Território

Situada no extremo oeste do Rio Grande do Sul, na fronteira com a Argentina, tendo como limite, o potente Rio Uruguai, a região vem sendo caracterizada como pouco dinâmica economicamente, dependendo basicamente do setor primário. Este enfrenta uma crise prolongada nos últimos 20 anos, pois o processo de modernização conservadora, baseada na imposição da monocultura e do pacote tecnológico, gerou uma dinâmica de forte êxodo rural. Devido a isso concentrou um enorme contingente nas cidades de Santo Ângelo e São Luiz Gonzaga, constituindo o fenômeno das vilas e favelas, dinâmica conhecida em nível nacional, principalmente nos anos 60/70. As conseqüências geradas, se refletiram no crescimento desordenado das cidades, com desemprego e crescimento da informalidade.

As imposições do modelo-pacote-tecnológico conservador, baseado no processo da monocultura da soja e do trigo, desestruturou o modelo de agricultura de subsistência, a denominada “agricultura colonial”. Esta realidade refletiu-se na qualidade de vida e na

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insegurança alimentar/nutricional, pois em média mais de 80% dos produtos consumidos nos municípios, acabam vindo de outras regiões.

Assim, o principal problema do Território das Missões é a crise da agricultura familiar. Apesar de o atual Governo propor uma política agrícola voltada às aspirações do setor, problemas de estiagem e altos custos dos insumos prejudicaram a economia da região em seu conjunto. O empobrecimento dos agricultores atinge diretamente o comércio e os serviços da região, assim como limita o próprio potencial de desenvolvimento sustentável. O modelo de desenvolvimento centrado na monocultura da soja e pecuária extensiva tem causado dificuldade à diversificação da produção agrícola regional, levando à concentração de renda nas mãos de poucos produtores. Esse fato exclui grande parte da população que empobrecida, migra para as cidades e para outras regiões.

Com relação às políticas sociais, um aspecto extremamente relevante no contexto regional é o grande aporte de recursos canalizados através dos benefícios da Previdência Social (INSS), com os processos de aposentadorias rurais e urbanas. Estes repassam somas expressivas de recursos para as comunidades regionais, constituindo-se, na maioria dos municípios, como uma das principais fontes de receitas. Conforme Tabela de Benefícios pagos e mantidos pela APS de Santo Ângelo, Cerro Largo e São Luiz Gonzaga, tomando com referência o mês de maio de 2005, a região das Missões recebeu mais de R$17 milhões/mensais na forma de benefícios.

Além disso, conforme o Estudo Propositivo realizado no território, a política pública que mais canaliza recurso para as Missões é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Este somente no último Plano Safra destinou mais de R$ 46 milhões para a região. Somando-se com os mais de R$ 13 milhões do Seguro da Agricultura Familiar, o PROAGRO Mais, são em torno de R$ 60 milhões, que infelizmente, pelos critérios adotados para os projetos de custeio e investimentos, não estão gerando efetivo desenvolvimento e inclusão social. Fato este que exige uma profunda reflexão e tomada de posição.

Dessa forma a ausência de um Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável para a região, a falta de acompanhamento técnico e extensão rural mais consistente e o apoio para a produção familiar, a carência de chuvas, a precariedade das estradas, o envelhecimento da população rural, a desorganização da comercialização, consumo elevado de produtos de fora da região, os impactos ambientais e a falta de um ensino apropriado são entraves a serem superados. Isto coloca enormes desafios para a agricultura familiar que no último período vem se estruturando e ocupando uma importância estratégica na região missioneira.

São legítimas e absolutamente oportunas todas as iniciativas que tenham por foco a busca de novos caminhos para o desenvolvimento regional, sem perder de vista o tema da segurança alimentar, da redução das desigualdades, do combate à desnutrição, do fortalecimento do tecido produtivo local e regional, os quais devem estar fortemente apoiadas numa abordagem territorial, fugindo, portanto, da atuação estritamente local ou municipalista.

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4. CONCEPÇÃO DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL E AÇÕES EM ANDAMENTO NO TERRITÓRIO

A opção por uma determinada concepção de desenvolvimento e visão de futuro, bem como, a definição de eixos estruturantes, orientam as definições de projetos e ações em nível regional.

Entende-se como equivocada a visão de copiar os modelos dos denominados países centrais e desenvolvidos. Da mesma forma, não pode-se incorrer a um conjunto de mitos sobre o desenvolvimento, que historicamente tem se comprovado como inconsistentes. Entre estes mitos, destacam-se a tese da atrair grandes empreendimentos, ou grandes obras de engenharia. Destaca-se ainda, a obsessão de ingressar na guerra fiscal com uso intenso de incentivos e isenções de tributos, exatamente para uma minoria de grandes empreendimentos sob o controle de grandes grupos econômicos, em prejuízo das cadeias produtivas regionais e aos sistemas locais de produção. Não pode ocorrer que para os que efetivamente geram trabalho e renda, a rede de micro e pequenas empresas, bem como a agricultura familiar com todas suas cadeias produtivas, recebam apenas alguns recursos insignificantes. Em síntese os grandes projetos não podem ocorrer em prejuízo das cadeias produtivas regionais e dos sistemas locais de produção.

No Brasil, o modelo de desenvolvimento convencional está baseado em práticas que não se sustentam, a longo prazo, como verifica-se nas características abaixo:

• Agricultura pouco competitiva, que necessita rígidas intervenções públicas para garantir preços adequados aos consumidores e renda lucrativa aos produtores;

• Apesar de sua alta capacidade de produção não é capaz de resolver os problemas de alimentação e fome no mundo;

• Manejo inadequado de recursos naturais que provoca grandes e difusos impactos ambientais;

• Homogeneização da paisagem o que vai contra os fundamentos essenciais da ecologia e a biodiversidade;

• Utilização exponencial de recursos não renováveis (combustíveis fósseis);• Degradação da fertilidade da terra, colocando em perigo a reprodução dos sistemas

agrícolas e dos sistemas humanos em geral.Sendo assim, torna-se necessário buscar um novo modelo de desenvolvimento, pois as

experiências históricas têm demonstrado que as opções de desenvolvimento marcadas pelo foco economista, podem até produzir bons índices de crescimento como, aliás, demonstra claramente a história do Brasil. Mas assim não gera sustentabilidade e inclusão social, ao contrário, como regra geral tem aumentado a exclusão e a miséria. Portanto, o desenvolvimento precisa ser endógeno e sustentável, ou seja, ser integral, combinando o dinamismo econômico com eqüidade social e preservação ambiental, caso contrário não poderá ser entendido como desenvolvimento sustentável.

Tem-se convicção que a opção ética e política de combate à pobreza e miséria, o cuidado com a vida e com o ambiente, tornam mais eficazes e eficientes as opções políticas econômicas no sentido da promover a dignidade humana e melhoria das condições de vida da população regional. Porém cada cidadão precisa assumir seu papel de protagonista e não de objeto manipulado pelas políticas públicas e governamentais dos diversos níveis.

A agricultura sustentável, segundo Stephen Gliessmann, é uma agricultura que protege a base de recursos naturais e que permite uma economia viável e também propõe um aspecto social justo e aberto a todos que fazem parte da sociedade. Na agricultura sustentável se manifestam diferentes correntes, como a Agroecológica, a Orgânica, a Regenerativa, a Biodinâmica e a Permacultura.

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17A agroecologia, de acordo com Miguel Altieri (Universidade de Berkeley), encara os

agroecossistemas como unidades fundamentais de estudo, em que os ciclos minerais, as transformações energéticas, os processos biológicos e as relações sócio-econômicas são investigadas e analisadas em conjunto. A pesquisa agroecológica não se preocupa com a maximização da produção de uma atividade em particular e sim com a otimização do agroecossistema como um todo, enfatizando o conhecimento, a análise e a interpretação das complexas interações existentes entre pessoas, cultivos, solos e animais. Já para Stephen Gliessmann, a agroecologia deve ser capaz de restaurar a capacidade produtiva dos agroecossistemas, mantendo-a no tempo.

Em outros termos, a Agroecologia é a construção de processos de desenvolvimento sustentáveis no planeta. Busca construir uma nova “ética da vida”, baseada na sustentabilidade social, econômica, ambiental e cultural. Tem no protagonismo agricultor a principal referência de sujeito social no meio rural. Nesta perspectiva a manutenção da biodiversidade é essencial para atingirmos este objetivo. Outro princípio básico está ligado à sustentabilidade social, que visa a inclusão social dos sujeitos e a geração de equidade social. Do ponto de vista econômico, a agroecologia desenvolve ações que se sustentem e sejam duráveis ao longo do tempo, beneficiando, principalmente produtores e consumidores. No aspecto cultural, a agroecologia respeita e resgata os valores e saberes locais e busca construir sempre o protagonismo da população do campo e da sociedade em geral nos seus processos de desenvolvimento (ASSESSOAR - Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural).

A Agroecologia é acima de tudo, um ato de liberdade, um modo de ver e de se relacionar com o mundo e com a natureza, uma opção de vida. Agroecologia faz quem quer e não exige uma fórmula pronta que se pode “copiar e sair fazendo”. Na produção agroecológica, a agricultora e o agricultor são profissionais, em constante aprendizado, na arte de produzir alimentos saudáveis. Descobrir o que ajuda e o que prejudica a natureza, e toda a vida existente nela, faz parte desse aprendizado constante. Quem pensa só em dinheiro não conseguirá praticar a agroecologia (Rede Ecovida de Agroecologia)

Numa visão de futuro aponta-se para a urgência de mudança da matriz produtiva regional, como sendo um processo progressivo de transição agroecológica, considerando-se um modelo de agricultura sustentável para enfrentar nossa realidade climática adversa. A segurança alimentar e nutricional precisa iniciar no contexto de cada família de agricultores familiares, na perspectiva de aumentar a eficiência e a produtividade em vista de atender as demandas de consumo familiar e do mercado local e regional, mas também criar alternativas de educação, lazer, cultura, etc.

No âmbito do Território das Missões, o CONSAD/Missões, construiu um Plano de Ação Regional como um instrumento destinado a balizar o desenvolvimento de projetos e programas com ações integradas entre a sociedade civil e o poder público. Desenvolvido através de uma metodologia considerada participativa, mas que possui muitos limites, fundamentou-se na articulação interinstitucional, com propósitos de servir como ferramenta estratégica para o desenvolvimento regional. Desse modo, o Plano constitui a vontade de uma esfera pública não estatal ampliada para a promoção de ações de segurança alimentar e desenvolvimento local, de forma institucionalizada, visando integrar na esfera da produção, consumo e crédito o conjunto da população empobrecida e em processo de exclusão social.

O CODETER/Missões, com o foco do desenvolvimento rural sustentável, num amplo processo de mobilização e debates com os atores envolvidos, apontou sua visão de futuro, seus eixos estruturantes e ações prioritárias, que dialogam e se articulam com as indicações do CONSAD/Missões, numa salutar complementaridade e potencialização mútua, inclusive

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18incorpora várias questões indicadas no Plano de Ação do CONSAD/Missões na primeira versão do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável, o PTDRS.

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195. INDICAÇÃO DE EIXOS ESTRUTURANTES DO DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL

a) O Incremento da Renda da Agricultura Familiar, dos Assentados da Reforma Agrária, dos Pescadores Artesanais e das Populações Indígenas

As cadeias produtivas tradicionais e inovadoras precisam estar organizadas e avançar para o processo de agregação de rendas e melhorias efetivas nas condições de vida dos atores envolvidos no processo. Sem o incremento da renda dos atores do desenvolvimento rural sustentável, será difícil melhorar suas condições de vida e reverter o quadro do esvaziamento populacional da região.

Diante do quadro de crescimento demográfico negativo na maioria dos municípios do território, ou seja, do processo de esvaziamento populacional e envelhecimento da população do campo, os Assentamentos da Reforma Agrária possuem um papel estratégico no sentido de repor o capital social e humano evadido da região.

Os Assentamentos do Processo de Reforma Agrária, que conforme dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA, 2005), são dezenove, perfazendo 6,5% de Assentamentos no Rio Grande do Sul, totalizando 584 famílias, atingindo 5,2% do total do Estado, sem dúvidas constituem-se fato estratégico para a implementação do Plano Territorial de desenvolvimento Rural Sustentável – PTDRS. O município com maior número de assentamentos é São Luiz Gonzaga, com sete, sendo cinco de responsabilidade do Governo Federal e dois do Governo Estadual. Em segundo lugar constam Giruá e São Miguel das Missões, com três assentamentos cada um.

Alguns diagnósticos participativos realizados são unânimes quanto ao fato de ter havido uma profunda modificação do modo de vida das famílias rurais e, sobretudo, nos hábitos alimentares, principalmente, a partir da década de 80. Muitas famílias rurais estão enquadradas nos critérios de pobreza, sendo passíveis de inclusão no programa Bolsa Família do Governo Federal, embora somente parte destas tenha acesso ao programa. Este quadro justifica a necessidade de serem realizadas ações que busquem resgatar, em parte, traços da identidade e dos conhecimentos da Agricultura Familiar da região, antes que a existência de recursos sociais e naturais torne-se ainda mais fragilizada.

Diante dessa realidade, a melhoria da renda e incremento do dinamismo econômico dos agricultores familiares, dos assentados da Reforma Agrária, dos pescadores artesanais, das populações indígenas e população em geral no território, será viabilizado com amplos programas em torno de uma estratégia consistente de apoio às agroindústrias familiares e a rede de comercialização solidária dos produtos da agricultura familiar em nível local e regional.

b) Implementação de Amplo Programa de Economia Popular e Solidária

Para incluir amplos setores de nossa população que vive a situação de desemprego, de informalidade e miséria, no campo e na cidade, será implementado um amplo programa de economia popular solidária. A economia pode e deve funcionar em moldes não capitalistas tendo como base os valores da solidariedade e da cooperação. As formas associativas e cooperativas de trabalho e produção constituem-se em mecanismos estratégicos no enfretamento da atual crise social e econômica.

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20Assim, propõe-se o fortalecimento das iniciativas em curso, como em rede de

cooperativas da Agricultura Familiares, vinculada Central Regional de Cooperativas da Agricultura Familiar, a CRECAF, a Cooperativa dos Produtores de Cana de Porto Xavier, a COOPERCANA, as associações de agricultores familiares e organizações a partir de cadeias produtivas. O ponto de partida prioritário no processo de combate à pobreza e à miséria, em nível regional é o trabalho envolvendo as vinte mil famílias beneficiárias do Projeto Bolsa Família, vinculado ao programa Fome Zero do Governo Federal. Três ações combinadas com o CONSAD/Missões e o TALHER/RS, são propostas: 1º) Implantação do Programa de Aquisição de Alimentos, o PAA, vinculado a Conab/MDS,comercializando produtos da Agricultura Familiar nos vinte e cinco municípios. 2º) Organização de grupos de famílias para a implantação de hortas individuais/comunitárias, com espaço para plantas medicinais e pequenos pomares; 3º) Processo de formação e qualificação profissional.

c) Um Projeto Educacional Emancipatório

Sabe-se que é urgente que seja elaborado um plano de desenvolvimento sustentável para todo o Território das Missões. Um projeto de desenvolvimento onde todos sejam convidados para participar desse processo de construção. Um novo plano de desenvolvimento exige o rompimento de paradigmas, e romper paradigmas é reconstruir caminhos, não ter medo de reinventar o futuro a partir do presente.

A elaboração de um plano de desenvolvimento territorial sustentável precisa levar em consideração o saber dos homens e das mulheres do campo. A sustentabilidade está implantada nas famílias de agricultores familiares que têm na produção de subsistência o pilar da sua permanência na comunidade rural. O agricultor familiar produz primeiramente para a família, depois para o mercado interno, dificilmente exporta. Deve usar os recursos naturais de maneira múltipla, sem degradar o meio ambiente, cultivar plantas e criar animais onde predominem as espécies nativas, além de conservar e enriquecer a diversidade biológica. A tecnologia que é empregada está baseada no saber local. O emprego é gerado a partir do trabalho familiar. Permanecer na terra e resistir ao modelo de desenvolvimento excludente. As comunidades rurais possuem uma grande diversidade cultural de dança, poesia, música, contos, etc.

Entende-se que todo processo de desenvolvimento passa primeiro pela formação dos atores sociais, que estão atuando ativamente na transição de um modelo de desenvolvimento que foi imposto para um novo modelo que a sociedade espera que entre em vigor o mais rápido possível.

A educação do campo deve assumir esse papel de contribuir para a transição para um novo modelo de desenvolvimento. A educação isoladamente pode não encontrar as alternativas para o desenvolvimento, mas sem a participação da educação e dos educadores será muito difícil o processo de transformação social.

Os processos educacionais formais e não formais de nível fundamental, médio e universitário, precisam assumir o compromisso verdadeiro de superar o analfabetismo existente na região. Da mesma forma, todas as instituições formais e não formais de ensino deveriam se comprometer efetivamente na qualificação e capacitação do capital humano e social, em vista de promover a cidadania, a capacidade crítica e auto-crítica, ou seja, de promover o protagonismo de todos os educandos, em vista do objetivo de um projeto articulado de desenvolvimento rural sustentável na região.

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21Enganam-se profundamente, as propostas educacionais que propõem a pretensa

neutralidade dos projetos educacionais pedagógicos. Todas as ações pedagógicas constituem-se em ações político-pedagógicas, ou seja, educa-se em função de uma determinada visão de sociedade e de pessoa humana. Por isso, investir em educação e capacitação efetiva do capital humano e social/comunitário, promover dignidade dos educadores e educadoras, nunca deveria ser encarado como uma simples despesa orçamentária e, sim como um dos investimentos mais estratégicos em vista de um processo de desenvolvimento sustentável e com justiça social.

Assim, investir na formação dos educadores; priorizar os projetos político- pedagógicos condizentes com a realidade do seu lugar social; discutir com a comunidade escolar a elaboração de novos currículos para as escolas do campo, são algumas ações que podem ser realizadas na busca de um novo plano de desenvolvimento sustentável.

O Desenvolvimento Territorial Sustentável passa pela transformação das escolas do campo, dos educadores e das educadoras do campo, enfim da Educação do Campo. O paradigma da sustentabilidade deve ter a cor, o cheiro e o saber dos sujeitos do seu território. Mudar a escola para encontrar o caminho da sustentabilidade. Esse o nosso grande desafio.

Propõe-se dessa forma, como ações prioritárias:a) a realização de Seminários Regionais de Educação no Campo e Desenvolvimento Sustentável; b) o fortalecimento da Câmara Setorial de Educação do Campo e/ou o Fórum Regional de Educação do Campo e Desenvolvimento Rural Sustentável; c) a elaboração de projetos de educação com claros compromisso político-pedagógicos na perspectiva da Agricultura Familiar, tanto nas redes públicas de ensino, como nos processos de educação não-formais;d) apoio efetivo na estruturação e funcionamento das Casas Familiares Rurais Missões I e II.

d) Gestão, Autogestão e Novo Arranjo Institucional

Em cada programa e projeto de abrangência regional precisa-se da definição de mecanismos de monitoramento, de avaliação permanente em vista dos objetivos e resultados almejados. Em nível regional é o caso do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, o PRONAF, vinculado ao MDA, que precisa urgentemente de mecanismos de monitoramento e avaliação, que incida junto a todos os atores envolvidos no processo, afim de que possa de fato tornar-se um fator de desenvolvimento e inclusão social e, não um mero mecanismo de aplicação do pacote tecnológico a serviço do modelo de monocultura. Só no último período foram mais de R$ 46 milhões destinados às Missões, via PRONAF. O processo do CODETER – Missões/SDT/MDA pretende implementar o Plano Safra da Agricultura Familiar, como uma de suas prioridades de 2006.

A capacidade de gestão e de auto-gestão dos empreendimentos sócio-econômicos, a integração e articulação de políticas e projetos de abrangência regional, em vista de se evitar dispersão de energias e recursos financeiros e humanos, constitui-se em um mecanismo decisivo para a condução do Plano Territorial de Desenvolvimento Sustentável, o PTDRS.

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226. INDICAÇÃO DE PROGRAMAS E AÇÕES GERAIS – 2006

6.1. Programas e Ações Transversais

a) Construção de Novo Arranjo Institucional em Nível Regional e Municipal

É evidente que um dos grandes entraves ao processo de desenvolvimento sustentável é a ausência de um planejamento estratégico convergente, que envolva a participação de todos os atores sociais. Neste sentido é vital a constituição de um Fórum de Debates e Mobilização Unificado e Permanente,com presença de entidades governamentais e da sociedade civil, com capacidade de mediar conflitos e interesses, em vista da potencialização de recursos humanos e financeiros.

Como encaminhamento imediato, propõe-se uma Mesa de Concertação Pró-Desenvolvimento Sustentável Regional, congregando o CODETER/Missões, CONSAD/Missões, COREDE/Missões e FUNMISSÕES/AMM.

Já a médio prazo, propõe-se a constituição formal do Fórum Regional Unificado de Desenvolvimento Sustentável, que poderá ser a partir da adequação estatutária do CONSAD/Missões, ampliando o seu Fórum Regional de Mobilização, que conta com representações majoritárias da sociedade civil e órgãos governamentais de todos os municípios missioneiros.

Se não houver a efetiva mobilização, debates, vontade e determinação política em nível municipal e das comunidades locais, todas as ações e planejamentos regionais (ou mais amplos) não terão eficácia e praticidade, para incidir na transformação da realidade.

Neste sentido, propõe-se como fundamental a estruturação dos Fóruns Municipais e Microrregionais de Mobilização e Debates Pró-Desenvolvimento Rural Sustentável.

Os pontos de partida no âmbito municipal deverão ser os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural, que possuem como uma de suas atribuições centrais pouco exercitados o debate sobre políticas e projetos de desenvolvimento no âmbito municipal e regional. Conforme a realidade de cada município, serão convidados para compor o Fórum lideranças e organizações que refletem e desejam contribuir para o Desenvolvimento Rural Sustentável, tais como Igrejas, pastorais, escolas, universidades, pesquisadores, ONGs, etc.

b) Os Governos Locais e suas Responsabilidades com o Desenvolvimento Sustentável

Por conta das distorções históricas do pacto federativo, com tendência crescente de centralização dos tributos e recursos financeiros na união, em detrimento dos estados e municípios, situação esta em que se buscou estabelecer um equilíbrio na constituição de 1988, mas que se agravou progressivamente, no entanto se conseguiu uma solução satisfatória no Governo Lula. De outra parte, verdadeiras romarias de prefeitos e parlamentares em busca de recursos em Brasília/DF, no Governo Federal, fomentou-se a imagem lamentável dos governantes com o “pires nas mãos”, disputando fatias do orçamento da união. A idéia disseminada é que bastam bons projetos e estar bem articulado, ter “bons contatos” no governo federal, que os recursos são viabilizados.

O fato é que os dois fatores acima citados, a falta de ousadia e iniciativa da grande maioria dos governos locais, que passa traduzir-se num processo de ausência de planejamento integrado e estratégico em âmbito local e regional, condena a grande maioria dos governos

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23locais a se omitirem em relação a execução de políticas de projetos de desenvolvimento econômico e social, ou o que é pior, resta aplicar em parceria com os governos estaduais e federal, políticas compensatórias e assistencialistas, ou ficar aguardando os investimentos externos, a vinda de grupos ou empregos, que implementem projetos econômicos, em geral, com incentivos e isenção de tributos e taxas que se traduz na famigerada guerra fiscal, ameaçando os cofres políticos.

As conseqüências deste quadro é o agravamento das condições de vida da população em geral, obviamente as ações das prefeituras é limitada, mas é possível implementar ações que gerem trabalho, emprego e renda melhorando as condições de vida de parcelas significativas das comunidades.

A seguir apresentam-se alguns eixos e ações para que os governos locais sejam efetivados agentes e fatores de desenvolvimento sustentável. O pressuposto é o compromisso político, ou seja, a vontade e determinação dos governos locais, guardadas todas as particularidades e contextos específicos dos municípios, em tomar iniciativas de implementação de mecanismos administrativos e de políticas públicas de desenvolvimento econômico e social. Os mecanismos administrativo-institucionais, em geral podem se traduzir em secretarias, departamentos ou assessorias de desenvolvimento econômico, que deverão atuar com ações de articulação, de formulação e de apoio às empresas, assim definida por José Carlos Vaz8:

1 - Articulação: coordenação de fóruns de desenvolvimento, negociações e discussões com empresários, trabalhadores e sociedade civil; contatos com agentes financeiros; divulgação dos municípios em novos mercados; contatos com universidades, entidades corporativas e outros potenciais parceiros das empresas locais no desenvolvimento tecnológico; articulação com municípios vizinhos, órgãos de infra-estrutura dos governos estadual e federal e outras áreas da prefeitura;

2 - Formulação: coordenação da formulação e implementação de política de desenvolvimento econômico do governo municipal; elaboração de projetos de lei; discussão estudos e pesquisas sobre a economia local; acompanhamento de indicadores econômicos municipais; estudos econômicos relevantes para o município;

3 - Apoio a empresas: promoção de programas de treinamento e assessoria à emprensa; construção, gestão e operação de centros industriais ou comerciais e incubadoras de empresas; regularização de empresas; apoio à trabalhadores informais; pesquisa e divulgação de oportunidades de negócio para empresas do município; organização de feiras e exposições de produtos locais.

Por sua vez Ladislau Dowbor9, apresenta outras ações consideradas importantes:a) Apoio aos mecanismos de micro-crédito e articulação direta entre agricultores e

consumidores, com vista de terem condições de estruturação de pequenos empreendimentos e complementação das políticas de abastecimento urbano. A cidade e o campo devem ser complementares;

b) Apoio ao processo de qualificação e capacitação profissional, mas não como simples reciclagem, e sim, como um processo de reengenharia social, que de conta de superar os desafios da reorganização comunitária e busca dos direitos sociais e econômicos, ou seja,

8 Ver, Preparando a Prefeitura para Intervir na Economia, IN: Vaz, José Carlos, Org. 50 Dicas – Idéias para a ação municipal: Propostas e experiências em gestão municipal. São Paulo,Polis, 1996. 128p. (Publicações Polis, 24).9 Ver, Desenvolvimento a Ações de Governo Local e Requisitos para um Projeto de Desenvolvimento, IN: Vaz, José Carlos, Org. 50 Dicas...

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24o exercício da cidadania. Neste sentido é vital a atenção para o setor de serviços, onde se propõem políticas e programas de inclusão social e combate a pobreza;

c) Incentivo a novas formas de organização da produção e novas formas de ajuda e cooperação, pois estes mecanismos podem contribuir para a organização de unidades econômicas não capitalistas e com caráter de economia solidária e auto-gestionária, bem como, a formação de redes de cooperação, em vista de acesso de novas tecnologias e bases de serviço comum, para diminuir custos. É o caso da região Missões, que precisa consolidar uma rede de comercialização solidária dos produtos da agricultura familiar, que viabilize as estruturas dos quiosques e centrais de comercialização locais;

d) O incremento da produtividade social e superação dos fatores sub-utilizados, que consistem em promover o uso racional dos recursos de uma determinada comunidade, em vista da melhora conjunta, implicando ações articuladas dos diversos segmentos sociais e econômicos do meio urbano e rural. A superação de fatores sub-utilizados, pode contribuir para enfrentarmos nosso modelo agrícola de monoculturas, sazonalidades, etc.

Por fim, outras duas questões são fundamentais para potencializar os governos locais como fator de desenvolvimento. Em primeiro lugar, a iniciativa das parcerias com vários atores com responsabilidades em relação ao desenvolvimento social e econômico, buscando um novo arranjo institucional local, ou seja, uma espécie de fórum unificado e permanente, que valorize os conselhos municipais de desenvolvimento rural, mas que vai além, congregando outros segmentos, com compromissos e interesses em impulsionar as vocações e potenciais locais de desenvolvimento.

Outra questão vital na opinião de Markus Brose10 para os atores comprometidos com o processo de desenvolvimento sustentável, com preservação ambiental, com promoção de eqüidade social, implementando programas de inclusão social e combate à pobreza, relaciona-se a uma metodologia e instrumentos efetivos de democracia direta e participativa, ou seja, a implementação de um método participativo, que democratize o poder, que coloque nas mãos dos atores sociais o protagonismo das decisões e opções estratégicas de construção de uma nova sociedade e de uma nova história, marcada pela justiça social e solidariedade.

c) Projetos e Ações de Sustentabilidade Ambiental

Os problemas de desequilíbrio ambiental global, como o super aquecimento e agravamento da destruição da camada de ozônio, a diminuição drástica das águas doces disponíveis, etc, geram conseqüências que atingem a todos os seres humanos, direta ou indiretamente. Assim, não haverá possibilidades de futuro sustentável sem uma profunda reconciliação com a natureza. A primeira atitude é o compromisso ético-político de cuidar do ambiente em todos os seus ecossistemas. O ser humano precisa entender-se como integrante da natureza e, não como ser externo, que busca explorá-la e dominá-la visando a obtenção de lucros e a concentração de riquezas, pois os recursos naturais são limitados.

Diante desta situação, propõe-se um conjunto articulado de cinco ações visando a recomposição e harmonização com a natureza:

10 Ver, Introdução, IN: Brose, Markus, Org. Metodologias Participativas: uma introdução a 29 instrumentos, Porto Alegre, Tomo Editorial, 2001 – 312p.

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251 – Recomposição do conjunto das mata ciliares em âmbito territorial,

envolvendo todos os principais rios e riachos, conforme exigências previstas nos Códigos Florestais

A cobertura vegetal da região está divida em duas partes distintas. Na porção norte/noroeste se encontram pequenas manchas de ecossistemas naturais, associados à Mata Atlântica com árvores maiores, frondosas e de madeira de lei. Já na parte sul existem os campos onde há matas de galeria e as ciliares que acompanham os cursos d’água. Porém atualmente, estima-se que somente 10%, da região esteja coberta com matas nativas, ficando totalmente aquém das previsões e exigências legais e ambientais.Este fato aponta para uma necessidade urgente de um projeto ofensivo de reposição florestal para o equilíbrio do ecossistema.

2- Fontes Naturais Protegidas

Conclusão do Programa de Fontes Naturais Protegidas, em todos os municípios, em vista da preservação das águas disponíveis para o consumo humano, animal e pequenas irrigações.

3 – Gerenciamento e Armazenagem das águas das Chuvas

Como já visto anteriormente, a matriz agrícola produtiva do Território das Missões está baseada em poucos produtos, onde há predominância de cultivos anuais como milho e soja. Já com relação à pecuária, destaca-se a bovinocultura de leite, onde a alimentação animal, em muitas propriedades, consiste na utilização da cana-de-açúcar. Também são cultivadas algumas espécies de pastagens perenes e anuais, como milheto e aveia, que também aparecem com uma significativa área cultivada.

Assim, essas atividades constituem-se nas alternativas de geração de trabalho e renda no território missioneiro. Porém devido às condições climáticas, os cultivos anuais e a pecuária têm sido freqüentemente afetados. Embora o regime de chuvas seja bem distribuído com precipitações mensais que chegam a 150 mm, há um déficit hídrico, em determinados períodos, ocasionando freqüentes estiagens e secas. Na última década, a produção de soja, por exemplo, foi fortemente afetada em, pelo menos, 7 anos.

Atualmente considera-se as Missões como uma das regiões com maiores problemas de seca do Estado. Apesar disso não existe nenhuma política pública ou iniciativa que procure superar o problema, de forma consistente. Esta realidade aponta como urgente um programa audacioso e abrangente de gerenciamento e armazenamento das águas das chuvas para a utilização doméstica e também para a agropecuária.

Neste sentido, propõe-se um amplo programa regional de convivência com a seca, ou seja, de um conjunto de medidas de reutilização das águas domésticas, gerenciamento e conservação das águas das chuvas, para fim de uso humano, para os animais e o processo produtivo em pequenas escalas.

No âmbito regional, a ASTRF e o MDA firmaram convênio para a execução do projeto denominado “Convivência com a Estiagem”, que deverá servir de apoio e referência em todos os municípios em vista da execução de um conjunto de ações.

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4 – Manejo e Conservação dos Solos, prioritariamente os mais degradados e com problemas de fertilidade, utilizando-se principalmente as plantas recuperadoras

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992 (ECO 92), através do documento Agenda 21, considerou a degradação da terra o mais grave problema ambiental. Além disto, reconheceu dificuldades para controlar a erosão e reduzir os problemas da sanilinização, encharcamento, poluição e perda da fertilidade do solo, especialmente nos países em desenvolvimento, como o caso do Brasil.

É necessário compreender o solo a partir de uma abordagem integrada, que o considere como um espaço para as atividades humanas, mas sobretudo como um componente fundamental dos ecossistemas e dos ciclos naturais.

A conservação, o uso e o manejo do solo agrícola devem ser objetos de políticas públicas planejadas que ofereçam suporte para soluções de longo prazo para o problema da degradação das terras gaúchas, especialmente nas áreas mais seriamente afetadas e mais vulneráveis. Para isso, o Estado deve disponibilizar os meios científicos e tecnológicos, o desenvolvimento de recursos humanos e garantir as condições de financiamento para as ações que controlem as práticas inadequadas e assegurem o incentivo à adoção de novos procedimentos compatíveis com os princípios da sustentabilidade.

Em sintonia com os debates da Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembléia Legislativa/RS, a CAPC/AL/RS, a região das Missões contribuirá com a definição de um Código Estadual para o Uso, Manejo e Conservação do Solo Agrícola, mas principalmente, na implantação de medidas práticas e adequadas para o uso, manejo e conservação do solo agrícola.

5 – Programa Regional de Educação Ambiental Permanente

Somente uma forte ação de informação, educação e reeducação sobre as práticas e procedimentos adequados em relação ao ambiente,com ações preventivas e conservacionistas, de forma regular e permanente, poderão incidir para a superação de graves problemas ambientais, no contexto regional.

Cada um precisa assumir sua parte e o seu compromisso na recuperação do ambiente degradado e na preservação ambiental permanente.

NOTA: O conjunto de ações de sustentabilidade ambiental,deverão caminhar articulados e coordenados, em base uma estratégia geral regional, ou seja, o norte maior será a execução da Agenda 21, como verdadeira ação transversal.

d) Plano Safra de Agricultura Familiar/Missões

A SDT/MDA, em conjunto com a Associação dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais Fronteiriços, a ASTRF, firmou um convênio para a implementação do Plano Safra da Agricultura Familiar, durante o ano de 2006. Este envolve amplos debates sobre todos os fatores que envolvem o processo produtivo agrícola, como a questão do crédito, em especial o PRONAF, a assistência técnica, o processo de comercialização, a mudança da matriz

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27produtiva, as alternativas de produção através da reorganização das cadeias produtivas tradicionais e inovadoras, etc.

A CAPC/AL/RS está debatendo o projeto de um Plano Safra da Agricultura Familiar em âmbito estadual. Em nível territorial, os atores que vem participando do processo de construção do PTDRS, apresentam amplo consenso sobre necessidade e urgência de profunda revisão das rotinas que envolvem o PRONAF, apontando para a perspectiva de um projeto de “PRONAF PROPRIEDADE”, como uma alternativa das formas tradicionais de operar as linhas de crédito para o custeio e investimentos.

Tendo em vista o volume de recursos expressivos canalizados pela principal política pública no território, o PRONAF e o Seguro Agrícola Familiar, totalizando mais de R$ 60 milhões, somente no último período, propõe-se um amplo debate sobre o conjunto de fatores que compõe o Plano Safra de Agricultura Familiar: custeio, assistência técnica, comercialização, investimentos, etc.

Na prática, devemos projetar um amplo pacto regional, envolvendo o governo federal, estadual e os municipais, os agentes financeiros, os movimentos sociais, as cooperativas, as redes de assistência técnica, etc. Este pacto deverá reorientar as ações de custeio, de investimentos e os processos de reorganização das propriedades familiares, em vista de uma transição e mudança de matriz produtiva, na perspectiva agroecológica e sustentável. O regramento e o pacto, por exemplo, deverão prever ações mínimas de reposição das matas ciliares, da proteção das fontes naturais, a organização de hortas e pomares com manejo ecológico, o gerenciamento das águas das chuvas, etc.

É impossível haver desenvolvimento sustentável com a existência de mais de 20 mil famílias vivendo abaixo da linha da pobreza e, dependentes do Programa Bolsa Família, vinculado ao Fome Zero do Governo Federal. Mais de 80% do que consumimos na região vem de fora, quando poderíamos ter autosustentabilidade alimentar.

Por isso, o Plano Safra deverá contemplar e condicionar o sistema de crédito oficial e de assistência técnica, no sentido de que todos os agricultores familiares tenham uma estrutura mínima de hortas, de pomares e de culturas de subsistência com manejo ecológico.

As prefeituras, já em 2003, poderiam implementar o Programa de Aquisição de Produtos da Agricultura Familiar, como uma forma de incremento da produção de alimentos e melhoria da renda, na perspectiva da mudança da matriz produtiva. O Governo Federal, através do PRONAF, poderia financiar, por exemplo, a aquisição das sementes ou mudas de ervas e equipamentos para grupos comunitários ou individuais para agricultores focalizando os que já tem experiências com ervas medicinais.

e) O Turismo Rural como Fator de Trabalho e Renda A região missioneira possui uma característica muito forte na área do turismo histórico e cultural, a partir da experiência inédita e referencial dos Sete Povos Missioneiros, que serve de inspiração aos movimentos sociais e lutadores sociais na busca de alternativas nas áreas de produção, de agroindustrialização, de comércio justo e solidário e de consumo. Na verdade a experiência das Missões/RS serve como inspiração para a busca de alternativas globais de sociedade, tendo como paradigma maior os debates e reflexões em torno do Fórum Social Mundial, em vista do eixo de que “Outro Mundo é Possível”.

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28 A lacuna que o CODETER/MISSÕES aponta e se propõe contribuir é no sentido de forjar e elaborar alternativas e projetos concretos tendo como eixos o turismo ecológico e o eco-turismo a partir da realidade dominante nas Missões/RS da Agricultura Familiar e dos Assentamentos da Reforma Agrária, bem como, das populações tradicionais como os pescadores artesanais e povos indígenas. Neste sentido aponta-se como indicações dos debates realizados e em curso a organização de roteiros turísticos junto aos Assentamentos da Reforma Agrária , aos municípios com forte tradições de etnias como a alemã, a polonesa, a reserva indígena guarani,etc.

6.2 Ações Setoriais, Projetos e Indicadores de Avaliação

A oficina dos dias 15 e 16 de dezembro de 2005,encaminhou as ações prioritárias, a partir de trabalhos em grupos, por cadeias produtivas e temas específicos, conforme segue:

a) Agricultura Familiar e Agregação de Valor: Agroindústrias Familiares e Rede de Comercialização Solidária

Ações Propostas

• Estruturar o Programa Regional de Agroindústrias Familiares de forma coordenada e planejada, considerando as cadeias produtivas tradicionais e inovadoras: ampliar o número de agroindústrias, criar uma base técnica de apoio que assessore as questões de tributação, legislação sanitária e ambiental; fortalecer o Comitê Regional de Análise;

• Capacitação de agricultores e gestores;• Fazer levantamento de agroindústrias desativadas ou com dificuldades, para apoiá-las

na retomada das atividades;• Conscientizar agricultores da importância da produção de matéria-prima para

viabilizar as agroindústrias familiares;• Estimular a organização de pequenas agroindústrias familiares, para atender o

mercado local e regional, prioritariamente;• Sensibilizar o Poder Público para a importância da compra dos produtos da agricultura

familiar para creches, merenda escolar, hospitais e famílias beneficiadas pelo programa Bolsa Família;

• Fortalecimento das Casas Missioneiras de Comercialização dos Produtos da Agricultura Familiar/Quiosques e as Centrais Locais de Comercialização;

• Atualização do levantamento dos produtos produzidos e sua qualidade, e a necessidade para abastecer mercado local e regional;

• Organizar um grupo de apoio/equipe técnica para o processo de comercialização;• Reorganizar e qualificar as Feiras Municipais;• Buscar uma interação direta com as políticas públicas do Fome Zero;• Realizar cursos sobre processo de comercialização e gestão para agricultores e

técnicos envolvidos.

Indicadores de Avaliação

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• Número de agroindústrias organizadas através do Programa de Agroindústrias Familiares;

• Número de integrantes da Base Técnica e, suas respectivas qualificações;• Com a criação da Base Técnica, ocorreram melhorias acerca da prestação de

assessoria dos mesmos?• Número de cursos destinados à capacitação dos agricultores familiares e dos gestores;• Número de gestores e agricultores capacitados;• Com a capacitação dos agricultores e gestores, quais melhorias foram percebidas

acerca do cenário agrícola no território;• Número de agroindústrias ociosas/desativadas ou com dificuldades;• Que medidas de apoio foram destinadas a estas agroindústrias?• Número de agroindústrias que estavam ociosas ou com dificuldades e que foram

ativadas;• Número de famílias beneficiadas com a reativação/adequação das mesmas;• Com a conscientização dos agricultores acerca da produção de matéria-prima, houve

melhorias de viabilidade econômica das agroindústrias familiares? Em que proporção?• Número de agroindústrias viabilizadas após esta conscientização;• Número de agroindústrias familiares fomentadas para atender o mercado local e

regional;• Número de instituições que adquirem produtos da agricultura familiar através da

compra direta do governo federal;• Número de famílias beneficiadas com a compra direta dos produtos da agricultura

familiar;• Número de Casas Missioneiras de Comercialização/Quiosques e as Centrais Locais de

Comercialização em funcionamento efetivo;• Número de produtores participantes dos empreendimentos (Quiosques e Centrais de

Comercialização);• Percentual de aumento da renda destes produtores;• Disponibilidade de dados sobre o levantamento dos produtos produzidos e sua

qualidade, para abastecer o mercado local e regional;• Quantidade (%) dos produtos consumidos originados na região;• Percentual de municípios com feiras de comercialização local;• Número de feiras municipais existentes ;• Número de famílias beneficiadas com as feiras municipais.

b) Programa de Economia Popular e Solidária como estratégia de Inclusão Social

Ações Propostas

• Fortalecimento e aumento de cooperativas autogestionárias da agricultura familiar;

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30• Processo de capacitação e qualificação de lideranças em Economia Popular e

Solidária;• Organização das comunidades de produtores de alimentos saudáveis e de

consumidores urbanos.

Projetos Propostos

• Compra Antecipada/Programada de Produtos da Agricultura Familiar para as famílias beneficiárias do Bolsa Família e/ou programas institucionais como de merenda escolar;

• Implantação de Hortas Comunitárias/Pomares e/ou individuais, tendo por prioridade as famílias – Fome Zero – do campo e da cidade;

• Implantação do Banco de Sementes Crioulas em todos os municípios/comunidades.

Indicadores de Avaliação

• Número de cursos de capacitação de economia solidária;• Número de participantes nestes cursos;• Número de empreendimentos de economia solidária;• Melhoria da renda, obtida através da implantação dos empreendimentos solidários;• Surgimento de novas organizações solidárias a nível de comunidades, municípios e

território; • Aumento do capital social nas comunidades de abrangência dos projetos de economia

solidária;• Número de municípios que tiveram implantados o banco de sementes crioulas.

c) A Educação do Campo e Desenvolvimento Sustentável

Educação do Campo: Ações Propostas

a) Seminários Municipais e Regionais, na 2ª quinzena de março/06. Tema: Educação e Desenvolvimento Sustentável;

b) Fortalecimento das Casas Familiares Rurais – CFRs (Missões II), bem como, a criação a CFR, na microrregião de Santo Ângelo/Cerro Largo.(Missões I);c) Definir uma Política Pública para a Educação do Campo, levando em conta as diretrizes básicas da Educação do Campo (MEC). Formatar um Projeto Político-Pedagógico da Educação do Campo, envolvendo os segmentos formais e não formais, que atuam no território das missões;d) Envolver as Universidades, a Instituição de Ensino Universitário no debate regional, pois a maiorias dos cursos voltados para questão rural, não possuem nas bases curriculares a Educação do Campo. Da mesma forma deverão ser envolvidas as Secretarias Municipais de Educação. As modalidades de ensino supletivo/EJA/MOVA, etc... deveriam adotar os princípios do desenvolvimento sustentável.

Considerações e Questionamento

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É necessário compor uma rede de atores da educação no campo, incluindo todos os segmentos que possuem responsabilidades no processo. Da mesma forma, ativar a Comissão Estadual da Educação do Campo. Na prática, em nível estadual, está havendo um processo de sucateamento das Escolas Técnicas Profissionalizantes, da mesma forma, promove-se um esvaziamento da Universidade Estadual, a UERGS, que aqui na região possui uma Unidade em São Luiz Gonzaga, onde se fechou o curso estratégico para o território: Bacharelado em Desenvolvimento Rural e Gestão Agroindustrial. De outra parte, está ocorrendo um movimento, positivo, com o Governo Federal através do MEC, que vem fortalecendo o ensino profissionalizante de nível médio e, também, vem ampliando o Ensino Público Universitário. Em nosso caso, com o debate sobre a Universidade Pública Federal da Metade Norte/RS, hoje, com o formato de Universidade do Mercosul, com vista ao avanço na integração latino-americana. Indicadores de Avaliação

• Repercussão das temáticas tratadas em seminários, acerca do tema educação no campo, a nível municipal e regional;

• Número de produtores rurais participantes das Casas Familiares Rurais;• Aumento da produção na região, otimização da mão-de-obra rural, melhoria da

economia do território com a criação das Casas Familiares Rurais;• Foi criado algum tipo de política pública para a Educação do Campo, tendo como base

as diretrizes básicas da Educação do Campo (MEC)? Com a criação destas políticas, sua elaboração/implantação atendeu aos anseios do público beneficiado?

• Que tipo de envolvimento ocorreu com entidades de ensino superior e, outras organizações de ensino, acerca da implantação na base curricular das mesmas com temas que abordam sobre os princípios do desenvolvimento sustentável.

d) Programa de Segurança Alimentar e Nutricional e Saúde Preventiva

O Brasil é o país com a maior diversidade de plantas medicinais do mundo. Infelizmente investe-se pouquíssimo em pesquisa. Inúmeros países mantém pesquisadores na Amazônia e em outras regiões brasileiras, muitas vezes pirateiam nossas plantas e nós ainda compramos esses medicamentos à preços exorbitantes.

É hora de tomar-se conhecimento e consciência da utilidade medicinal das plantas e exigirmos maiores investimentos neste campo de pesquisa e multiplicar as boas experiências que temos na nossa região.

A Utilização de Recursos do SUS

A consolidação do Sistema Único de Saúde tem demandado intensa luta em todas as áreas de trabalho, seja técnica ou gerencial na adaptação das estruturas públicas tradicionais à novas formas de ver e entender a farmácia básica nas secretarias municipais de saúde. Nesta luta diária e constante, em razão da mudança radical que o SUS propôs aos gestores e profissionais, acrescenta-se a pressão dos usuários na retomada da cidadania e da dinâmica econômica, na linha da escassez de recursos.

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32Neste cenário, a disponibilização remédios de ervas medicinais são uma estratégia

para as ações básicas de saúde. Ocupa um lugar de prioridade indiscutível na gestão, para não se distanciar da demanda e para não implicar em remeter a gestão à autofagia, com o esgotamento dos recursos financeiros na aquisição de medicamentos pelos Municípios, Estado e União.

A discussão pode concentrar-se perigosamente na exigência focal ,de maior orçamento e recursos para buscar atender essa demanda. Sem dúvida, é base de discussão para que os recursos sejam disponibilizados no percentual constitucional. Embora, qualquer percentual, será insuficiente para atender a demanda, ainda menos para a necessidade, se paralelamente não enfrentar-se duas questões: a questão de recursos humanos e da produção de insumos no setor público.

A incorporação de conhecimento é a chave para o rompimento da alucinada corrida atrás da defasagem tecnológica dos serviços e da infindável choradeira por mais recursos para a saúde, aliás muitas vezes desacompanhada de políticas e mesmo de propostas e mecanismos de racionalização na utilização destes.

Desenvolvimento Local na Saúde Básica

É preciso investir em pesquisa e produção, através de uma estratégia que agrega valor às ações pela potencialização que traz a capacidade de resolução do sistema, assim como, especialmente a pesquisa oportuniza a geração de renda significativa para a região e para o município. A tomada de decisão, planejamento e a definição e acompanhamento das políticas públicas ocorre através de projetos que solidificam os recursos.

Conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 80% da população mundial faz uso de do chá. Isto demonstra que as ervas medicinais têm um potencial muito grande para ser desenvolvido no município junto às secretarias municipais de saúde, quando há interesse do gestor. O município através de projetos de grupos familiares, organizações, sindicato dos trabalhadores rurais, EMATER, igrejas, pastorais entre outros podem resgatar a medicina popular e agregar valor na renda familiar, com pequenas hortas de determinadas ervas, de forma organizada e estimulada por política pública que contemple a produção.

O município, através da secretaria de saúde, organiza uma horta medicinal com diversas plantas existentes nas comunidades, tendo acompanhamento da equipe técnica, com o médico, a enfermeira, o farmacêutico e o técnico agrícola. As plantas serão organizadas pelos agentes comunitários, para isso, será necessário formação e treinamento básico de conhecimento para o manejo das plantas. Há que se fazer um debate intenso em relação aos agrotóxicos, não comprometendo as plantas medicinais. A vigilância sanitária deve cuidar e fiscalizar a aplicação dos inseticidas e pesticidas próximas às hortas.

Projetos Propostos

• Organização de Hortas Municipais e/ou Comunitárias, com plantas medicinais e fitoterápicos;

• Projeto “Cozinha Brasil”: Curso e Seminários sobre a reeducação alimentar e nutricional, sob responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome;

• Formação de Agentes de Saúde para promoção de Saúde Preventiva.

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33Indicadores de Avaliação

• Número de hortas implantadas com plantas medicinais ou fitoterápicos;• Número de pessoas envolvidas e beneficiadas com a implantação das mesmas;• Número de cursos e seminários realizados sobre o tema: reeducação alimentar e

nutricional, no território das missões;• Número de participantes do projeto Cozinha Brasil;• O nível de contribuição do projeto cozinha Brasil na reeducação alimentar e

nutricional dos participantes do mesmo;• Número de Agentes de Saúde formadas para atuar na Saúde Preventiva;• Qual o grau de capacitação dessas agentes para tal finalidade;• Qual o grau de diminuição de doenças com a atuação das agentes de saúde.

6.3. Projetos Inovadores e Estruturantes

A área de energia renovável, que dialogue com a agricultura familiar, envolvendo a questão do biodiesel e da biomassa, etc, constitui-se em uma questão estratégica para a retomada do desenvolvimento regional sustentável.

Ações Propostas

• Formar uma equipe/grupo regional para formar um projeto de caráter regional sobre a questão da energia renovável: biodiesel, biomassa, etc;

• Ampliar o número de micro destilarias de álcool na região;

a) A Energia Renovável Sustentável é uma Opção que Promove a Universalização do Acesso à Energia, a Gestão Participativa e Descentralizada dos Recursos Energéticos Locais

Nossa intenção é mostrar aos agricultores familiares, aos movimentos organizados do meio rural e à população em geral as possibilidades do uso das fontes renováveis. Isto será possível através das micro e mini plantas industriais de biocombustível, vindos da biomassa como forma de descentralização e democratização dos benefícios da energia, com inclusão social. Este fato reflete sobre quais as condicionantes e quais as restrições para que seu uso seja sustentável e traga benefícios para as comunidades e para o meio ambiente.

Nesse contexto queremos apresentar possibilidades da utilização de energia retirada da matéria orgânica vegetal que será utilizada como recurso energético a partir de diferentes processos:

1-Cana-de açúcar – Álcool e vários sub-produtos;

2-Plantas com óleos vegetais – Biodiesel e vários sub-produtos;

Hoje, tanto o álcool como o biodiesel se apresentam como combustíveis renováveis para substituir os poluentes e cada vez mais caros derivados do petróleo. Os biocombustíveis podem substituir os fósseis nos transportes, na geração de energia elétrica ou no

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34funcionamento de máquinas e sistemas de beneficiamento da produção rural, bem como, vários outros sub-produtos, em especial quando os insumos para a sua produção estão na ou próximo da própria localidade

Tradição Cultural

De acordo com pesquisadores da história guaranítica, a cana-de-açúcar vem sendo cultivada na região das Missões há cerca de quatro séculos. Durante esse período foi utilizada para alimentação animal e como importante componente energético na dieta alimentar de humanos. Na alimentação animal, seu uso, ainda hoje, é considerado pelos agricultores como fundamental em épocas de escassez de alimentos, como períodos hibernais e estiagens prolongadas.

Esta tradição cultural do cultivo e do uso da cana-de-açúcar na região se mantém e, com o esgotamento do modelo agrícola convencional, baseado na monocultura da soja, vem se expandindo nos últimos anos como alternativa de geração de renda na agricultura familiar. Resgata aí, uma prática que já era utilizada pelos agricultores familiares da região antes da fase de modernização da agricultura. Calendários históricos construídos em processos participativos e sistematizados pela ASTRF apontam, nesse período, a produção de rapadura e cachaça que eram comercializados e de produtos como açúcar e melado para o consumo familiar, prática que se conserva até os dias de hoje.

Espera-se ainda que a substituição do diesel oriundo do petróleo, pelo biodiesel, que é um combustível tirado de oleaginosa, sendo que muitas plantas são perfeitamente possíveis de serem produzida na nossa região, num futuro bem próximo.

O Desenvolvimento Regional e a Expansão do Cultivo

O ano de 2005, teve algumas inovações nos debates sobre desenvolvimento regional. Uma das propostas inovadoras em andamento está relacionada à segurança alimentar com fortalecimento da cadeia produtiva da cana-de-açúcar, entre outras. Tal proposta visa a inclusão social de famílias de baixa renda do meio rural à cadeia produtiva da cana-de-açúcar, mantendo a diversidade na produção de alimentos, com produção de adubo orgânico, alimentos e energia de forma renovável.

Nos últimos cinco anos, em vários municípios da região, houve um expressivo aumento na produção de açúcar mascavo, melado, rapadura e álcool combustível, bem como, no número de famílias nas unidades de produção e vida familiar que passaram a gerar renda com a cultura da cana-de-açúcar. Estes fatores associados à existência de estímulos para o resgate da produção de derivados, pesquisas com enfoque metodológico participativo, apoio à comercialização solidária, etc, possibilitaram, em 2005, a implementação do projeto “Construindo Segurança Alimentar na Região das Missões”, executado pela ASTRF, juntamente com outras organizações da agricultura familiar da região e com as prefeituras municipais, com o apoio do Governo Federal, por meio do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS.

Com a implementação do projeto houve significativa expansão, nesse ano de 2005, do plantio de cana-de-açúcar em toda a região, tendo sido realizado o fornecimento de mudas por meio da Coopercana, de Porto Xavier a diversos municípios aos quais as ações do projeto foram extensivas, mesmo para aqueles com menor tradição no cultivo e mais distantes das microrregiões consideradas com micro-climas mais favoráveis ao cultivo.

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35Nessa lógica além das entidades que debatem a cadeia produtiva da cana-de-açúcar,

agregou-se mais algumas prefeituras (São Pedro do Butiá, Guarani das Missões, Cerro Largo), Sindicatos de Trabalhdores Rurais, os STRs e lideranças regionais, na discussão do beneficiamento dos óleos vegetais em biocombustível, dentro de uma percepção de formação de pequenas unidades industriais descentralizadas e com múltiplas utilização de tecnologias para o aproveitamento da biomassa. A idéia seria desencadear uma série de pequenas plantas industriais tendo a gestão participativa dos agricultores e, utilizando todas as formas para transformação de novos produtos.

Energia da Biomassa

Chamamos energia da biomassa toda a energia proveniente das plantas verdes, algumas de altíssima produtividade, capazes de serem transformadas em energia líquida, sólida, gasosa, ou elétrica.

Neste sentido, a intenção é enfatizar o uso da biomassa proveniente da cana-de-açúcar por ser uma forma de energia limpa, renovável, pacífica, geradora de empregos e indutora de um processo descentralizador de população, renda e poder. Além de ser uma ótima alternativa para substituir a energia fóssil (carvão mineral e petróleo), em fase de exaustão.

Outro aspecto importante é o privilégio de termos na região as condições climáticas e de solo favorável para o desenvolvimento da cana-de-açúcar, cabendo ressaltar a observância dos dois diferentes tipos de solo predominante na região missioneira, que são: o lotossolo argiloso de mapeamento Santo Ângelo, (terra vermelho) e o solo do tipo podzoíco de mapeamento Ciríaco-charrua (terra de tosca). Além do controle de invasoras, pragas e doenças ser extremamente facilitado, não exigindo a utilização de máquinas pesadas e agrotóxicos.

A característica desta energia (biomassa) é ser renovável, equilibrada com o meio ambiente rural e urbano, descentralizador, criadora de tecnologia própria e geradora de emprego no meio rural. No auge da crise do petróleo (década de 80), quando os países industrializados entraram em pânico por causa do embargo feito pelos Árabes, o Brasil, foi o único país do mundo que achou uma alternativa para o petróleo. O Álcool de cana-de-açúcar através do projeto PROÁLCOOL. Desde a crise, o mundo não encontrou nenhuma reserva que fosse considerável, portanto o petróleo é uma energia que lentamente vai acabando.

O álcool carburante da cana-de-açúcar continua sendo uma das únicas alternativas para o país não depender do petróleo, que cada vez mais está nas mãos das empresas multinacionais, ou seja, de árabes e americanos. Mas não é só isso, o álcool é o único combustível que diminui a poluição, principalmente, urbana e, ainda cria uma infinidade de emprego no meio rural.

b) Micro-destilarias para Produção de Álcool na Agricultura Familiar

Neste ano de 2005, uma das inovações e objeto de estudos das iniciativas para sua implementação que vem sendo debatida é a produção de álcool combustível em micro destilarias. O álcool é um biocombustível considerado estratégico para a humanidade do novo milênio, capaz de ser produzido com energia solar, barata e abundante na nossa região.

A partir das visitas realizadas por agricultores familiares, técnicos e representantes de organizações da agricultura familiar aos estados de Santa Catarina e Minas Gerais, foi dado

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36um grande passo para a construção desse processo em nível da região, numa perspectiva de produção de energia limpa e renovável, da produção do adubo orgânico, de alimentos e com geração de emprego e renda no meio rural, tanto na agricultura familiar, quanto na pequena indústria metalúrgica da região na fabricação dos equipamentos.

A micro destilaria é uma máquina prática e barata e que já vem sendo fabricada para comercialização, possibilitando que no mesmo equipamento possam ser fabricados álcool combustível e cachaça de excelente qualidade.

Vários municípios da região estão discutindo a implementação de projetos de micro destilarias. Cabe ressaltar, no entanto, que a viabilidade econômica destes empreendimentos está diretamente relacionada à forma de organização das iniciativas, da integração com a criação animal, da complementaridade com outras produções agrícolas, sobretudo aquelas para auto-consumo, além do mais, contribui para que as propriedades rurais familiares da região possam se caracterizar com o princípio da multifuncionalidade da agricultura familiar.

O mérito desta proposta não está no fato da agroindústria em debate, ser de pequeno porte, mas na possibilidade de ser implementada dentro da realidade das famílias e numa perspectiva de construir formas mais amplas de organização por meio das organizações dos agricultores familiares. Um dos fatores a ser levado em conta é o tamanho e estrutura necessários para que se evite o uso de equipamentos que possam elevar os custos econômicos e ambientais.

Uma micro destilaria com capacidade de produzir 200 litros de álcool por dia requer cerca de 4 ou 5 hectares de cana-de-açúcar. Pode envolver maior ou menor número de famílias, conforme cada situação, sem transformar as propriedades em imensos canaviais, onde mais nada é cultivado a não ser cana-de-açúcar. Isto também preserva a mata nativa, importante para o ecossistema, e destinando uma pequena área para uma floresta superdensa, uma área para circulação dos animais e uma outra para produção de alimentos.

Atualmente na região existem também projetos de grandes usinas produtoras de álcool. O limitante para sua instalação estão sendo os recursos econômicos, pois esses grandes projetos envolvem muito dinheiro. Além disso, seria uma estrutura criada para concentrar a renda e o poder, não causando o desenvolvimento de todos, e sim de poucos empresários rurais. Provocando ainda um forte impacto ambiental, pois exigiria que a cana se transformasse numa nova monocultura intensiva e extensiva.

Temos que acreditar que o desenvolvimento exógeno (soluções de fora) não se sustentam por muito tempo, muitas experiências já nos mostraram isso sacrificando principalmente a população mais pobre da região.

Quanto ás micro destilarias, por envolver as pessoas e os recursos próprios e característicos da região, certamente teriam mais condições de obterem êxito.

c) Micro Usinas para Produção de Biodiesel na Agricultura Familiar

O Biodiesel nas Missões; “Com o programa Nacional de Produção e Uso de Biocombustíveis” o Brasil entra de vez no mercado da energia limpa, e pode se tornar uma grande potência de energia liquida e limpa do planeta”. Segundo especialistas, o petróleo e outros combustíveis fósseis estão no fim e as reservas podem durar, no máximo, mais 40 anos. Fato que já se sabe há tempos, mas que agora tem impulsionado os países grandes consumidores desse tipo de energia a procurar alternativas - a ratificação do protocolo de Kyoto serviu como incentivo a mais para esta procura de alternativas. E o Brasil é a grande

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37potência mundial para esta produção. Por isso, o Governo Federal editou o marco regulatório em 2004, o Programa Nacional de Produção e Uso de Biocombustíveis.

A idéia do programa é incentivar a produção de plantas oleagionosas devendo impulsionar e desenvolver a Agricultura Familiar. A estimativa que mediou os debates em torno do programa de produção de biodiesel é que especialmente a agricultura familiar contribua para o programa, seja gerando emprego e renda na implantação da cultura até a transformação dos produtos em pequenas unidades industriais.

Em nossa região, já existem estudos técnicos preliminares que apontam ser favorável a plantação de oleaginosas com capacidade de extração suficiente para viabilizar a tecnologia de transformação do biodiesel. Porém, tem que se ter cuidado no sentido de não incentivarmos a implantação de mega usinas, tornando-as empreendimentos de altos investimento e que certamente promoverá a concentração de capital e renda nas mãos de poucos empresários rurais.

Advoga-se que num projeto de descentralização e gestão participativa e com a utilização de múltiplas tecnologias para produção de produtos, em pequenas plantas industriais, a agricultura familiar não será mera fornecedora de matéria-prima, e certamente avançará nos processos de agregação de valor e no domínio da cadeia produtiva do biodiesel; e que o programa de biodiesel pelo menos em nossa região promova a inclusão social e não priorize o agro-negócio, não reproduza a monocultura novamente e, sua produção não ameace a segurança alimentar da região, pois deixarão de produzir alimentos, detendo-se na produção de oleaginosas; que os aspectos de desenvolvimento da ciência de transferência e apropriação das tecnologias sejam das comunidades rurais e não do agronegócio.

Indicadores de Avaliação

• Foi criada uma equipe para trabalhar na elaboração de projetos a nível regional?• Número de micro destilarias de álcool criadas no território;• Número de micro usinas de produção de biodiesel criadas no território;• Número de agricultores familiares participantes destes empreendimentos;• Número de municípios beneficiados com a implantação destes empreendimentos;• Ocorreu a Gestão Participativa e Descentralizada dos Recursos Energéticos com a

criação destas micro destilarias de álcool e usinas de biodiesel?

6.4. Outras ações propostas

6.4.1. Suinocultura e Grãos

a) Porco Preto: Produção para a subsistência. Organizar um matrizeiro para o processo de multiplicação através dos municípios/alunos da Casa Familiar Rural, a CFR de Santo Antonio das Missões. Usar a cana-de-açúcar, o milho e a mandioca como insumos básicos.

b) Suíno integrado e comercial: Organizar as alternativas como a Bioenergia e os Biodigestores, a fertilização e o matrizeiro. O objetivo é produção de energia limpa para a propriedade. O matrizeiro poderia multiplicar leitões para as demandas regionais, mas em vista de serem criados em todo o ciclo aqui na região.

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38c) Grãos: milho, trigo, sorgo, girassol e canola florada. A meta é produção de matéria prima como forinha e sub-produtos como ração, etc...O Biodisel também poderia ser uma alternativa. O desafio principal é a pesquisa e resgate das “sementes crioulas”, e variedades mais resistentes a seca. Após a exposição do grupo houveram várias manifestações e questionamentos. Considerou-se que o ideal é buscar o domínio do ciclo completo e a autonomia dos agricultores, pois os suínos integrados é uma estratégia de dominação e exploração das grandes indústrias.

Da mesma forma, indica-se a necessidade de diminuir os custos do processo produtivo, na medida que a suinocultura deve ser integrada ao conjunto das propriedades familiares e não de forma isolada. De outra parte é necessário avaliar melhor a organização dos matrizeiros centralizados, pois deveria ser retomado o processo de produção de leitões em nível de cada unidade. Enfim, enfatiza-se que a suinocultura é uma alternativa a mais e não a única. O fato é que as grandes indústrias dominam o mercado. As cooperativas e outras formas associativas podem compor as novas alternativas.

Indicadores de Avaliação

• Número de propriedades que produzem porco preto para subsistência da família;• Ocorreu a organização de um matrizeiro pelos municípios/alunos da Casa Familiar

Rural de Santo Antonio das Missões?• A cana-de-açúcar, o milho e a mandioca foram utilizados para a alimentar os suínos?• Quais alternativas foram criadas no território, para utilizar os dejetos dos suínos na

geração de Bio-energia, biodigestores?• Número de sementes crioulas que foram resgatadas.

6.4.2. Cadeia do Leite

a) Organização de grupos mediante assistência técnica e capacitação dos produtores;b) Avançar nas pesquisas genéticas buscando o equilíbrio em nível de cada micro-região e propriedades;c) Considerar a questão dos solos, da fertilidade e pastagens com possibilidades de manejo do pastoreio rotativo;d) Adequar a Infra-estrutura e equipamentos;e) Definição de uma Política Agrícola que garanta segurança em termos de preços satisfatórios, sanidade animal, etc... Pautar a questão do Custo-Brasil envolvendo a carga tributária, etc...f) Avançar no processo de agroindustrialização do leite, em nível territorial.

Consideração Geral: Portanto, os projetos apontados na cadeia do leite envolvem os seguintes aspectos: agroindustrialização do leite e seus derivados, correção dos solos e organização das pastagens, pesquisa em genética e adequação em termos de equipamentos e tecnologias.

De uma forma geral, os projetos apontados na cadeia do leite envolvem os seguintes

aspectos: agroindustrialização do leite e seus derivados, correção dos solos e organização das pastagens, pesquisa em genética e adequação em termos de equipamentos e tecnologias.

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39A questão central e maior entrave da cadeia do leite, levantado na CPI do leite, na

Assembléia Legislativa/RS é o processo de monopolização da indústria e comercialização pelas maiores empresas. Ao mesmo tempo, a falta de apoio ao processo de agroindustrialização regional. Na prática, a indústria acaba ficando com quase todos os lucros, mas omite-se do processo de assistência técnica, que recaem sobre as prefeituras, as cooperativas, a Emater ou os próprios agricultores. O ideal seria organizarmos toda a cadeia aqui no território, com o processo de agroindustrialização, em vista de agregação de valor no processo produtivo. Temos atores envolvidos na cadeia do leite que estão se estruturando para atingir este objetivo. A Cooperoque e rede de cooperativas vinculadas a CRECAF são alguns dos exemplos. Neste sentido, de se buscar alternativas, deveríamos discutir a possibilidade da organização de um “Consórcio” em nível regional, em vista da integração das ações da cadeia do leite. Em nível do CODETER/Missões propõe-se a organização da setorial do leite. A implantação de uma planta industrial centralizada possivelmente não é a melhor alternativa. Por isso, a organização de unidades descentralizadas e próximas dos agricultores, com autonomia e auto-gestão dos próprios agricultores, aponta-se como melhor alternativa.

Não de pode, no entanto, competir com os padrões dos produtos das multinacionais, precisa-se um produto diferenciado, da agricultura familiar.Indicadores de Avaliação

• Número de grupos de leite que foram organizados mediante assistência técnica a capacitação dos produtores;

• Tamanho do rebanho leiteiro do território;• Média de produtividade (mês e ano);• Número de propriedades que tem o leite como principal fonte de renda;• Número de pesquisas genéticas realizadas no território, na busca do equilíbrio em

nível de cada micro-região e propriedades;• Tipos de solos e suas pastagens correspondentes;• Número de laticínios no território;• Em nível de infra-estrutura e equipamentos, ocorreu adequação dos mesmos?• Foi criado algum tipo de política agrícola para garantir preços satisfatórios, sanidade

animal, etc? Com a criação destas políticas, sua elaboração/implantação atendeu aos anseios do público beneficiado?

• Número de agroindústrias que beneficiam o leite.

6.4.3. Cana-de-Açúcar

a) Como produção de alimentos para usos humanos e usos animais;b) Processo de qualificação e capacitação de agricultores produtores de cana-de-açúcar, com uma assistência técnica adequada;c) Organização de uma Infra-estrutura com equipamentos adequados a agricultura familiar;d) Buscar uma legislação adequada, que viabilize pequenas agroindústrias voltadas para a produção de cachaças, álcool, etc... Existe potencial da cana como fonte energética.e) Garantir um processo de recuperação dos solos, que combine com variedades mais adequadas e produtivas;f) Planejar uma Central de Comercialização que possa conquistar mercados em centrais maiores, ou até em nível internacional;

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Propõe-se que a ALICAVE promova uma ação conjunta em nível regional. A cana-de-açúcar deve ser considerada como uma das alternativas importantes na região, no contexto das alternativas de sustentabilidade que estão sendo construía para a agricultura familiar.

Indicadores de Avaliação

• Número de propriedades que tem a cana-de-açúcar como principal fonte de renda;• Número de agroindústrias que tem a cana-de-açúcar como matéria-prima;• Número de cursos de capacitação destinados aos produtores de cana-de-açúcar;• Número de propriedades familiares atendidas com a assistência técnica adequada;• A infra-estrutura (equipamentos), foi organizada a fim de atender os agricultores

familiares?• Ocorreram modificações na legislação para viabilizar a criação de pequenos

empreendimentos familiares que têm a cana-de-açúcar como matéria-prima?• Quais as práticas de recuperação do solo foram realizadas no território a fim de

atender as características produtivas de cada variedade de cana-de-açúcar?• Número de variedades de cana-de-açúcar adequadas para o plantio no território das

missões;• Foi planejada a Central de Comercialização? Quais os resultados obtidos?

6.4.4. Comercialização Solidária e Orientação ao Crédito

Sobre o Processo de Comercialização.

a)Organização dos agricultores nos processos produtivos, mediante um planejamento, Incentivar a estruturação da Cooperativa da Agricultura Familiar, e em nível local articulando-se com uma central de cooperativas regionais;b)Estimular a qualificação da Assistência Técnica e capacitação dos Agricultores Familiares.c) Avançar na definição de um novo padrão de fiscalização e inspeção, adequando as normas legais, evoluindo para um patamar comum entre o SIM, o CISPOA e o SIF, sem inviabilizar o “SIM” em nível municipal.

Os agricultores familiares devem se capacitar para o processo de vendas e comercialização do excedente produzido nas unidades familiares, para colocar nos quiosques e compor a rede de comercialização em nível regional. Torna-se vital o debate que envolva os produtores e consumidores, organizando toda a cadeia produtiva dos produtos da agricultura familiar regional, unido a produção e o consumo em uma mesma rede de comercialização. É possível, ainda, planejar uma central que se articule com os Quiosques, com os Centros Locais de Comercialização e/ou com uma Agência de Comercialização (base de apoio técnica).

Indicadores de Avaliação

• Número de agricultores que possuem planejamento e estão aptos a comercializar seus produtos;

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41• Ocorreu incentivo para a estruturação da Cooperativa da Agricultura Familiar local

com o intuito articular-se com a Central de Cooperativas Regional?• Número de cursos, seminários, para qualificação da assistência técnica responsável

pelo território;• Número de cursos, seminários, para qualificação dos produtores rurais do território;• Que tipo de definição ocorreu acerca das fiscalizações e inspeções sem inviabilizar o

“SIM”;

Orientações sobre o crédito

a)Propor que agentes financeiros apóiem o crédito para o processo de produção alternativa;

b) Apoiar cadeias produtivas tradicionais e inovadoras que impulsionem o desenvolvimento sustentável, bem como, variedades mais resistentes a seca;c) Implantar o Plano-Safra da Agricultura Familiar em nível regional;d)Discutir a organização do PRONAF Propriedade para um período determinado.

Há um grande acordo que da forma como estão sendo aplicados os recursos do PRONAF não contribui para o processo do desenvolvimento sustentável. Ao contrário, está gerando muitos problemas.As organizações locais (sindicatos, cooperativas) devem assumir suas responsabilidades com as diretrizes e ações prioritárias. O ideal é evoluir para um modelo de PRONAF Propriedade, como uma ação conjunta, integrada e por um determinado período.

É certo que o modelo dominante da monocultura e aplicação do pacote tecnológico com o uso intenso de insumos químicos, ainda induz os agricultores para optarem pela soja/milho, etc, pois sabem que existem perspectivas de mercado e, atualmente, um seguro lucrativo – Proagro-Mais.

Indicadores de Avaliação

• Ocorreu o apoio ao crédito, pelos agentes financeiros?• Com apoio ao crédito aumentou a produção do território?• Número de cadeias produtivas tradicionais e inovadoras apoiadas para promover o

desenvolvimento sustentável da região;• O plano safra da agricultura familiar em nível regional foi implantado?• O que mudou com o referido plano?

6.4.5. Cadeia do Mel

A existência de abelhas com regularidade e normalidade significa um fator bioindicador, ou seja, que o ar possui boa qualidade. Da mesma forma as minhocas e os peixes apontam para boa qualidade da terra e das águas.

Existem pesquisas que apontam o incremento da produção através do processo de polinização efetuada pelas abelhas,chegando a atingir em torno de 30 %. Por isso, o fato do possível crime ambiental regional, com a morte significativa de abelhas, ocasionada pela adição de inseticidas nas aplicações de secantes nas lavouras de plantio direto, podem ocasionar quedas na produtividade agrícola regional.

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a)Capacitação de Produtores e Técnicos de forma regular e constante; promover a tecnologia para produção de pólen, própolis, geléia real e apina;b)Programas de incentivos apícolas, criando linhas específicas no PRONAF, no moderfrota, etc;c) Apoio às Agroindústrias Regionais, garantindo uma adequação das legislações sanitárias, mas sem acabar com os SIM municipais. Os produtos possíveis: mel, pólen, geléia real, própolis, apina, etc;d) Pastagem apícola: Optar por florestas e reflorestamentos com bom potencial para o mel. Incluir a possibilidade de fruticultura; e) Melhoramento genético: trabalhar a possibilidade de um centro de pesquisas e criação de rainhas envolvendo a UFSM, a UFRGS, a UERGS, etc;f) Rede Mel Missões: Garantir uma marca própria missioneira e uma boa prática de marketing.

O ponto de partida para uma mudança efetiva territorial deve iniciar nas famílias. A matança de abelhas em nível regional é muito grave. É o caso de ser analisada a execução de ações judiciais para responsabilizar os causadores deste dano ambiental.

Indicadores de Avaliação

• Número de linhas específicas criadas no PRONAF, Moderfrota, etc, para incentivar os produtores apícolas;

• Número de agroindústrias apoiadas para beneficiar produtos oriundos da apicultura;• Quais resultados provenientes das discussões acerca da pastagem apícola?• Qual envolvimento ocorreu com instituições de ensino superior (UFSM, UFRGS e

UERGS) para a criação de um centro de pesquisas sobre a apicultura?• Quais atividades de markentig ocorreram para difundir a rede mel missões?

6.4.6. Convivência com a seca e reflorestamento

Sobre florestamento e reflorestamento

a)Trabalho envolvendo escolas regionais, com possibilidade da estruturação dos viveiros para socializar mudas nativas entre os alunos e comunidades;b) Mapeamento e caracterização da realidade regional com seus déficits em florestas normais e matas ciliares, fruticulturas, etc.. propondo o resgate de sementes e espécies nativas em processo de extinção;c) Organização das hortas municipais que desenvolva prioritariamente espécies nativas;d)Preservação de fontes nativas e matas ciliares e variedades adaptadas, com apoio de linhas específicas de crédito;e)Organização de agroflorestas com produção de espécies e variedades adaptadas às florestas.Como exemplo, pode-se citar o cultivo de banana, abacaxis e mangas.

Indicadores de Avaliação

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43• Número de trabalhos envolvendo instituições de ensino sobre o tema, reflorestamento;• Número de palestras, seminários com o intuito de estruturar viveiros e promover a

socialização das mudas nativas entre os alunos e a comunidade regional;• Quais resultados oriundos do mapeamento da região para propor o resgate de sementes

e espécies nativas em processo de extinção;• Número de fontes nativas, matas ciliares preservadas com apoio de linhas específicas

de crédito;• Número de agroflorestas organizadas no território;

Sobre a Convivência com a Seca

a)Sistemas produtivos com as espécies adaptadas à seca/estiagens;b)Recuperação via bancos de sementes de variedades crioulas;c)Organização e execução de programa de reservatório de águas das chuvas, como cisternas e outras modalidades emergenciais e de baixo custo, para fins de pequeno processo de irrigação e consumo;d) Implantação de secadores solares;e) Processo de Formação (educação ambiental).

Embora seja um tema mundial, a questão dos créditos de carbono, ou seja, a possibilidade de uma compensação financeira em função de Áreas de Preservação Permanente, as APPs, devemos pautar esta questão com possibilidades de captar recursos internacionais que venham financiar nossos projetos. É o caso dos dejetos de suínos, que possuem forte incidência regional A compra de créditos de carbono por países poluidores está viabilizando projetos em São Pedro do Butiá, aqui no território;

O debate mais geral aponta para a necessidade de conciliar as ciências e o avanço dos conhecimentos com a questão da ética do cuidado com o nosso planeta. Temos urgência em unificar nossas ações em torno de ações prioritárias regionais: repor matas ciliares, gerenciar águas de chuvas e proteger fontes naturais.

Indicadores de Avaliação

• Quais tipos de sistemas de produção foram orientados a produzir com sementes adaptadas a seca/estiagem;

• Número e variedades de sementes crioulas recuperadas através da implantação do banco de sementes;

• Número de cisternas implantados no território;• Número de propriedades beneficiadas;• Número de projetos de secadores solares implantados;• Número de cursos de capacitação sobre o tema, educação ambiental;• Número de produtores rurais participantes deste curso;• Através da participação nestes cursos, o que mudou nas propriedades?

6.4.7. Saúde Preventiva

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44a) Hortas: plantas medicinais com apoio ou responsabilidade do poder público municipal;b) Formação e capacitação de profissionais e agentes de saúde pública;c)Adotar as plantas aromáticas como uma alternativa para a agricultura familiar com o apoio público;d) Incluir na base curricular o tema de pesquisa de ervas e plantas medicinais. Envolver as universidades e escolas neste processo, tendo a saúde preventiva como eixo organizador das ações;e) O processo de financiamento e custeio dos projetos deve considerar a questão da saúde preventiva;

Indicadores de Avaliação

• Número de hortas medicinais implantadas com apoio ou responsabilidade do poder público municipal;

• Número de pessoas envolvidas e beneficiadas com a implantação das mesmas;• Número de Agentes de Saúde formadas para atuar na Saúde Preventiva;• Número de cursos e seminários realizados para a formação e capacitação de

profissionais e agentes de saúde pública;• Número de agricultores apoiados pelo setor público para adotar as plantas medicinais

como nova alternativa de renda;• Qual o grau de envolvimento realizado com instituições de ensino para incluir na base

curricular temas como, saúde preventiva e, também, ervas e plantas medicinais;• Número de financiamento e custeio de projetos que consideraram a saúde preventiva

como item básico para sua realização;

6.4.8. Artesanato Regional

O convênio envolvendo o SEBRAE e a FUNMISSÕES iniciado em 2002, que teve seqüência em anos seguintes, priorizou a qualificação do artesanato regional. A oficina de cerâmica missioneira envolvendo o tema da origem guarani, o trabalho com o barro, visando resgatar a auto-estima e a dignidade dos povos guaranis, em vista da produção de um produto de melhor qualidade e melhoria de renda,mas existe muito a avançar, em especial na questão do artesanato de origem da Agricultura Familiar.

Indicadores de Avaliação

• Número de pessoas envolvidas nas atividades de artesanato a nível municipal e de território;

• Número de cursos de capacitação acerca do artesanato;• Número de pessoas participantes destes cursos;• Número de pessoas que tem o artesanato como principal fonte de renda;

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45 ANEXOS DIVERSOS

I - RELAÇÃO DOS PROJETOS DO PRONAT - 2003,2004, 2005 E 2006:

28V - FICHA DE RESUMO DE PROJETO - 2003

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO - MDASECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL - SDT

FICHA RESUMO DE PROJETO

INSTITUIÇÃO INTERMUNICIPAL: ASSOCIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DAS MISSÕES - RS ESTADO: RSRELAÇÃO DOS MUNICÍPIOS BENEFICIADOS: Bossoroca, Caibaté, Cerro Largo, Dezesseis de Novembro, Entre-Ijuis, Eugênio de Castro, Garruchos, Giruá, Guarani das Missões, Mato Queimado, Pirapó, Porto Xavier, Rolador, Roque Gonzales, Salvador das Missões, Santo Ângelo, Santo Antônio das Missões, São Luiz Gonzaga, São Miguel das Missões, São Nicolau, São Paulo das Missões, São Pedro do Butiá, Sete de Setembro, Ubiretama, Vitória das Missões.DESCRIÇÃO DOS OBJETIVOS: O objetivo do projeto é de buscar aporte financeiro junto a SDT/MDA para amplo projeto de desenvolvimento de competências humanas e institucionais dos territórios das Missões, articulando a construção e implementação de um plano territorial que organiza o desenvolvimento sustentável da região envolvendo agricultores familiares e beneficiários da reforma e ordenamento agrário. O fortalecimento do capital social e estimular a capacidade e criatividade dos atores sociais para elaborar estratégias de intervenção, negociar e adequar a cada realidade, por meio de cooperação institucional

AÇÕES METAS VALOR (R$1,00)

A) INVESTIMENTO: SDTCONTRAPAR

TIDA TOTAL

EXECUTOR PROPOSTO

1. Infraestrutura de apoio 1.1 Construção de Quioque

R$ 346.931,91

R$ 3.807,00

R$ 350.738,91 AMM

1.2 Aquis. Equip. projeção

R$ 15.000,00

R$ 1.000,00

R$ 16.000,00 AMM

1.3 Aquis. Toldos

R$ 20.000,00

R$ 1.000,00

R$ 21.000,00 AMM

TOTAL DE INVESTIMENTO:

R$ 381.931,91

R$ 5.807,00

R$ 387.738,91

29

AÇÕES METAS VALOR (R$1,00)

B) CUSTEIO: SDTCONTRAPAR

TIDA TOTAL

EXECUTOR PROPOSTO

2. Capacitação de agentes Cursos de R$ R$ R$ AMM

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46capacitação 30.015,47 4.177,54 34.193,01

TOTAL DE CUSTEIO: R$ -

TOTAL GERAL: R$ 421.931,92

PARECER DO GRUPO DE TRABALHO COM RECOMENDAÇÃO: DO CEDRS: HOMOLOGAÇÃO

FICHA RESUMO DE PROJETO TERRITORIAL

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO - MDASECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL - SDT

FICHA RESUMO DE PROJETO TERRITORIAL : ANO:2004

NOME DO TERRITÓRIO: ASSOCIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DAS MISSÕES- AMM

ESTADO: RS

RELAÇÃO DOS MUNICÍPIOS QUE COMPÕE O TERRITÓRIO: BENEFICIADOS:CAIBATÉ, CERRO LARGO, EUG. CASTRO, ENTRE IJUIS, GUARANI DAS MISSÕES,PORTO XAVIER,ROQUE GONZALES,SALVADOR DAS MISSÕES, SÃO LUIZ GONZAGA,SÃO MIGUEL DAS MISSÕES,SÃO PEDRO BUTIA E PORTO LUCENA.

DESCRIÇÃO DOS OBJETIVOS:BUSCAR APORTICO FINANCEIRO JUNTO AO SDT/MDA PARA AMPLO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL DAS MISSÕES ONDE SERÃO ARTICULDO CONSTRUÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM PLANO TERRITORIAL QUE ORGANIZA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA REGIÃO ENVOLVENDO AGRICULTORES FAMILIARES E BENEFICIÁRIOS DE REFORMA E REORDENAMENTO AGRÁRIO.

AÇÕES DE INVESTIMENTO METAS/ ANO DE EXECUÇÃO

VALOR (R$1,00)a) Investimento SDT CONTRA

PARTIDATOTAL

EXECUTOR PROPOSTO

1) INFRA –ESTRUTURA DE APOIO

1.1 AQUISIÇÃO DE UM VEÍCULO1.2 AQUS. EQUIP. INFORMÁTICA1.3AQUS.EQUIP. AGROINDÚSTRIA1.4QUIOSQUE1.5CONST. INFR. BÁCIA LEITEIRA1.6 AGROIND. DERIV CANA AÇÚC1.7 CONST. UM CRESOL

20.000,0043.000,0050.00,0090.000,00260.000,0045.000,0030.175,37

1.000,002.150,002.500,004.500,0013.000,002.250,001.508,77

21.000,0045.150,0052.500,0094.500,00273.000

47.250,0031.684,14

AMMAMMAMMAMMAMMAMMAMM

TOTAL DE INVESTIMENTO:

R$538,175,37

R$ 26.908,77

R$ 565.084,14 AMM

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47

AÇÕES DE CUSTEIO METAS / ANO DE EXECUÇÃO

VALOR (R$1,00)

SDT CONTRA-PARTIDA

TOTAL

EXECUTOR PROPOSTO

NÃO HOUVE CUSTEIO NESTE PLANO.

TOTAL DE CUSTEIO:

PARECER DO GRUPO DE TRABALHO COM RECOMENDAÇÃO: HOMOLOGAÇÃO DO CEDRS:

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FICHA RESUMO DE PROJETO TERRITORIAL

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO - MDASECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL - SDT

FICHA RESUMO DE PROJETO TERRITORIAL : ANO:2005

NOME DO TERRITÓRIO: ASSOCIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DAS MISSÕES- AMM

ESTADO: RS

RELAÇÃO DOS MUNICÍPIOS QUE COMPÕE O TERRITÓRIO: BENEFICIADOS: SANTO ANTÔNIO DAS MISSÕES, CERRO LARGO, SÃO LUIZ GONZAGA, SÃO NICOLAU, ROLADOR, VITÓRIA DAS MISSÕES, PIRAPÓ, ROQUE GONZALES, CAIBATÉ, XVI DE NOVEMBRO,SÃO PEDRO BUTIÁ,SALVADOR DAS MISSÕES,DESCRIÇÃO DOS OBJETIVOS:BUSCAR APORTICO FINANCEIRO JUNTO AO SDT/MDA PARA AMPLO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL DAS MISSÕES ONDE SERÃO ARTICULDO CONSTRUÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM PLANO TERRITORIAL QUE ORGANIZA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA REGIÃO ENVOLVENDO AGRICULTORES FAMILIARES E BENEFICIÁRIOS DE REFORMA E REORDENAMENTO AGRÁRIO.

AÇÕES DE INVESTIMENTO METAS/ ANO DE EXECUÇÃO

VALOR (R$1,00)a) Investimento SDT CONTRA

PARTIDATOTAL

EXECUTOR PROPOSTO

1) INFRA –ESTRUTURA DE APOIO

1.1 FÁBRICA DE RAÇÃO (EQUIPAMENTOS)1.2 CASA FAMILIAR RURAL1.3 QUIOSQUES-(EQUIPAMENTOS)1.4 COOPERATIVA DE CRÉDITO- EQUIPAMENTOS1.5 CONSTRUÇÃO CASAS MEL1.6 KIT MEL (EQUIPAMENTOS)1.7 AGROINDÚSTRIA -MANDIOCA1.8 MICRO-DESTILARIA DE ÁLCOOL1.9 CONSTRUÇÃO E EQUIPAMENTOS CENTRAL DE COMERCIALIZAÇÃO2.0 AGROINDÚSTRIA E PASTEURIZAÇÃO DE LEITE

49.000,00

24.000,00

49.000,00

39.000,00

79.000,00

36.000,00

65.000,00

55.000,00

65.000,00

45.000,00

2.500,001.250,002.500,00

2.000,004.000,001.800,003.250,002.750,00

3.250,00

2.250,00

51.500,0025.250,0051.500,00

41.000,0083.000,0037.800,0068.250,0057.750,00

68.250,00

47.250,00

AMMAMMAMM

AMMAMMAMMAMMAMM

AMM

AMM

TOTAL DE INVESTIMENTO: R$506.000,

00

R$25.550,00

R$531.550,00 AMM

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49

FICHA RESUMO DE PROJETO TERRITORIAL

FICHA RESUMO DE PROJETO TERRITORIAL

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO - MDASECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL – SDT

FICHA RESUMO DE PROJETO TERRITORIAL MISSÕES – RS - ANO: 2006.

NOME DO TERRITÓRIO: ASSOCIACÃO DOS MUNICIPIOS DAS MISSÕES- AMMESTADO: RS

RELAÇÃO DOS MUNICÍPIOS QUE COMPÕE O TERRITÓRIO:

GIRUÁ, SANTO ANGELO, EUGENIO DE CASTRO, SÂO NICOLAU, PORTO XAVIER, SÃO LUIZ GONZAGA, BOSSOROCA, SÃO PAULO DAS MISSÕES, ROLADOR, DEZESSEIS DE NOVEMBRO, SÃO MIGUEL DAS MISSÕES, SANTO ANTÔNIO DAS MISSÕES, SÃO PEDRO BUTIÁ, UBIRETAMA,SETE DE SETEMBRO,GARRUCHOS E SALVADOR DAS MISSÕES.

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50DESCRIÇÃO DOS OBJETIVOS:

BUSCAR O APOIO FINANCEIRO DA SDT/MDA PARA A EXECUÇÃO DOS PROJETOS DE INFRA – ESTRUTURA DO TERRITÓRIO DAS MISSÔES, ARTICULADOS COM AS DIRETRIZES DO PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL, O PTDRS, SENDO OS BENEFICIÁRIOS OS AGRICULTORES E AGRICULTORAS FAMILIARES, OS PESCADORES ARTESANAIS, AS MULHRES E OS JOVENS TRABALHORES RURAIS DO TERRITÓRIO DAS MISSSÕES - RS

PARECER DO NÚCLEO TECNICO DO COLEGIADO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, CODETER MISSÕES:

O NUCLEO TECNICO DO CODETER MISSÕES INSTÂNCIA RESPONSAVEL PARA EMITIR PARECERES AS DEMAIS IN STÂNCIAS DO CODETER MISSÕES(ARTIGOS 3º E 4º - REGIMENTO INTERNO),APÓS ANALISE DOS PROJETOS DE INFRA-ESTRUTURA CONSTANTES NA FICHA RESUMO – 2006, EMITE O SEGUINTE PARECER:

O CONJUNTO DOS PROJETOS DE INFRA-ESTRUTURA PRIORIZADOS PELAS ISNTÂNCIAS DO CODETER MISSÕES, CUMPRIRAM AS EXIGÊNCIAS DO AMPLO DEBATE COM OS ATORES ENVOLVIDOS EM NÍVEL REGIONAL E MUNICIPAL, ATRAVÉS DAS REUNIÕES PREPARATÓRIAS E EM ESPECIAL NO NÚCLEO DE DIREÇÃO E DA PLENÁRIA GERAL, TENDO COMO PONTO DE PARTIDA OS PARECERES E ORIENTAÇÕES DO NÚCLEO TÉCNICO. TODOS OS PROJETOS PRIORIAZADOS FORAM APROVADOS ATRAVÉS DE ACORDO. O NUCLEO DE DIREÇÃO PROCEDEU OS AJUSTES E ADEQUAAÇÕES NECESSÁRIAS.

O CONJUNTO DOS PROJETOS DIAOGAM COM OS CRITÉRIOS OBRIGATÓRIOS ESTABELECIDOS PELA SDT/MDA,GARANTINDO O CARÁTER DE INTEGRAÇÃO ENTRE OS MUNICÍPIOS E A PERSPECTIVA DE REGIONALIDADE, BEM COMO, AOS ASPECTOS DE COMPLEMENTARIDADE E DE AÇÕES INOVADORAS.

POR FIM, OS PROJETOS PRIORIZADOS INTEGRAM OS EIXOS E AÇÕES PRIORITÁRIAS PREVISTAS NO PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL, O PTDRS: A CONSTITUIÇÃO DE UMA REDE DE COMERCIALIZAÇÃO SOLIDARIA DOS PRODUTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR, A EDUCAÇÃO DO CAMPO, O FORTALECIMENTO DAS AGROINDUSTRIAS FAMILARES, A GARANTIA DA SEGUARANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL E O PROGRAMA DE ENERGIA RENOVÁVEL, CONSIDERADA QUESTÃO ESTRATÉGICA PARA AS MISSÕES.

PELAS RAZÕES ACIMA EXPOSTAS , RECOMENDA-SE A SDT/MDA E O CEDRS, APROVAÇÃO INTEGRAL DOS PROJETOS CONSTANTES DA FICHA RESUMO – 2006.

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51II- Contribuição do Consad/Missões – Plano de Ação¹¹

AÇÕES DE INVESTIMENTO METAS/ ANO DE EXECUÇÃO

VALOR (R$1,00)1- INFRA – ESTRUTURA PARA DESENVTO RURAL SUSTENTÁVEL

2006 SDTR$

CONTRAPARTIDA

TOTALR$

EXECUTOR PROPOSTO

1.1 APOIO A REDE DE COMERCILAIZAÇÃO SOLIDÁRIA ( QUIOSQUES)

1.2 APOIO AS AGROINDÚSTRIAS FAMILIARES

1.3-APOIO A EDUCAÇÃO DO CAMPO

1.4- APOIO AO PROGRAMA DE ENERGIA RENOVÁVEL

1.5- APOIO A SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

-AQUISIÇÃO EQUIP. QUIOSQUE

- AQUISIÇÃO EQUP QUIOSQUE

- AQUISIÇÃO EQUITOS QUIOSQUE

- CONSTRUÇÃO CENTRAL COMERCILIZAÇÃO

- EQUIPQQMENTOS PARA QUIOSQUE- AQUISIÇÃO EQUIPTOS AGROINDUSTRIAS- A QUISIÇÃO AGROIND PEIXE- equipamentos agroind

DOCES CONSERVAS

- AQUISIÇÃO EQUIPTOS. AGROINDÚSTRIAS- AQUISIÇÃO EQUIPTOS AGROIND MEL

- AQUISIÇÃO EQUIPTOS AGROIND. CANA

- CONST. CASA MEL E EQUIPAMENTOS

- EQUIPAMENTOS AGROINÚSTRIA - AQUISIÇÃO DE EQUITOS - ALICAVE- AQUISIÇÃO EQUITOS ALICAVE - AQUISIÃO DE AUTÓVEL

- AQUISIÇÃO DE EQUIPAMENTOS CASA FAMILIAR RURAL

- AQUISIÇÃO DE AUTÓVEL

- AQUIISÇÃO EQUIPTOS CASA FAMILIAR RURAL

- EQUIPAMENTOS MICRO USINA BIODIESEL

AQUISIÇÃO EQUIPAMENTOS IRRIGAÇÃO -UMA ENFARDADEIRA

TOTAL INVESTIMENTOS:

10.500,00

10.780,00

9.738,45

50.000,00

10.000,0050.000,00

25.000,00

20.500,00

30.000,0020.000,00

10.300,00

50.000,00

40.000,00

20.000,0020.000,00

24.788,55

14.473,00

25.000,00

25.000,00

50.000,00

45.000,00

29.100,00

590.180,00

599,00

2.140,00

512,55

2.500,00

740,002.671,00

2.858,00

1.500,00

1.500,004.470,00

1.700,00

2.400,00

1.200.00

1.000,001.000,00

1.304,45

633,00

5.000,00

5.000,00

2.500,00

2250,00

900,00

44.378,00

11.099,00

12.920,00

10.251,00

52.500,00

10.740,0052.671,00

27.858,00

22.000,00

31.500,0024.470,00

12.000,00

52.400,00

41.200,00

21.000,0021.000,00

26.093,00

15.106,00

30.000,00

30.000,00

52.500,00

47.250,00

30.000,00

634.558,00

BOSSOROCA

SÃO LUIZ GONZ

S.A.MISSÕES

EUG CASTRO

S. P. MISSÕES UBIRETAMA

S. NICOLAU

16 NOVEMBRO

GIRUASETE DE SETEMBRO

GARRUCHOS

S.M.MISSÕES

PORTO XAVIER

SALVDOR MISSÕES S PEDRO BUTIÁ

S.A.MISSÕES

S. A.MISSÕES

STO ÂNGELO

STO ANGELO

S PEDRO BUTIÁ

ROLADOR

S P MISSÕES

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52

O CODETER/Missões recomenda e adota de forma complementar as indicações de eixos prioritários: Agricultura e Agroindústrias Familiares, Turismo, o novo ambiente como oportunidade, a educação como fator de emancipação e um novo marco institucional de gestão regional e diretrizes para priorização de demandas, presentes no Plano de Ações do CONSAD/Missões.

III- Contribuição do MST Regional: Relatório Regional de outubro de 2005

O processo de participação e planejamento regional do MST/Missões, tendo em vista a importância sócio-econômica dos Assentamentos de Reforma Agrária no contexto do PTDRS, merecerá a atenção e apoio do CODETER/Missões.

IV- A COTRISA

Após ser convidada para integrar-se ao processo de desenvolvimento sustentável, a COTRISA apresentou um documento com propostas que consta nos anexos sob o título “Contribuição da COTRISA para implementação de estratégias de Desenvolvimento Rural Sustentável”11

V- Plano de Ação Territorial do Movimento de Mulheres Camponesas

Conforme texto do livreto: “Gênero: Diferenças, desigualdades e protagonismo – Mulheres reconstruindo sua história”12 , na página 37, propõe-se o seguinte:

PLANO DE AÇÃO REGIONAL: O Plano de Ação Regional foi elaborado de forma coletiva entre as mulheres que participam do Projeto de Gênero, tendo em conta todas as discussões desenvolvidas durante os encontros, reuniões e demais atividades. O mesmo foi aprovado no dia 17 de outubro de 2005 no segundo encontro Regional de Gênero, desenvolvido no município de Cerro Largo, onde participaram mulheres de toda a região missioneira.

O Plano tem como objetivo resgatar os encaminhamentos e as ações que deverão ser desenvolvidas no futuro. Mostram os principais anseios das mulheres da região e as próximas ações que devem ser desenvolvidas.

Na continuação, apresentamos os diferentes pontos do Plano:

1- Criação dos Conselhos Municipais dos Direitos da Mulher, com participação de todos os setores da sociedade;

2- Potencialização e criação de grupos de Mulheres Rurais e Urbanas, dando destaque para o MMC, MMTU e grupos de Mulheres dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais;

11 A Cooperativa TRITÍCOLA Regional Ltda., a COTRISA, com atuação num conjunto de municípios das Missões, passou a integrar-se no processo de mobilização, debate e construção do desenvolvimento rural sustentável.12 O Movimento de Mulheres Camponesas, organizado na maioria dos municípios do território, fez amplos debates e mobilizações, concluindo com indicações prioritárias, que compõem seu Plano de Ação Regional, em 2005.

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533- Incentivo para o desenvolvimento das atividades que gerem trabalho e renda para as

mulheres;4- Universalizar o PRONAF Mulher como ferramenta de políticas públicas que incentiva

a participação das mulheres no mundo produtivo;5- Lutar pela manutenção da Previdência Rural Pública e Universal;6- Lutar pela conquista da Aposentadoria das Donas de Casa;7- Incentivar a criação de grupos de Promotoras Legais Populares (PLP´s) como forma

de superar a problemática da violência feminina.

VI – Regimento Interno do Codeter/Missões/RS

REGIMENTO INTERNO DO COLEGIADO DE DESENVOVIMENTO TERRITORIAL - CODETER/MISSÕES.SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL DO MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO – SDT/MDA.

I – Da Abrangência Territorial

Art. 1º – O Território das Missões, de acordo com o documento: “Seleção de Territórios Rurais Prioritários para a SDT” de agosto de 2005, é composto por 25 municípios: Bossoroca, Caibaté, Cerro Largo, Dezesseis de Novembro, Entre-Ijuis, Eugênio de Castro, Garruchos, Giruá, Guarani das Missões, Mato Queimado, Pirapó, Porto Xavier, Rolador, Roque Gonzáles, Salvador das Missões, Santo Ângelo, Santo Antonio das Missões, São Luiz Gonzaga, São Miguel das Missões, São Nicolau, São Paulo das Missões, São Pedro do Butiá, Sete de Setembro, Ubiretama e Vitória das Missões.

II – Dos Objetivos, Instâncias e Competências

Art. 2º – O CODETER/Missões, com suas respectivas instâncias: Plenária Geral, Núcleo de Direção, Núcleo Técnico e Câmaras Setoriais, constitui-se num espaço de articulação, debates e deliberações de políticas públicas, de projetos e ações voltadas ao desenvolvimento rural sustentável, envolvendo um conjunto de atores vinculados a sociedade civil , movimentos sociais do campo e instituições públicas governamentais, que incidem no processo de desenvolvimento rural . O público alvo prioritário são os agricultores e agricultoras familiares, os assentados da reforma agrária, a juventude, as populações tradicionais: pescadores artesanais, populações indígenas e remanescentes de quilombolas. Os dois objetivos centrais da CODETER/MISSÔES/SDT/MDA relacionam-se: a) - ao apoio regular a Projetos de Infra-estrutura e Serviços; b)- A organização e permanente atualização do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável, o PTDRS, como a grande referência para o conjunto dos atores do território. Da mesma forma, busca um novo arranjo institucional em vista de racionalizar e potencializar esforços e recursos humanos e financeiros, priorizando o trabalho integrado com os conselhos e instâncias regionais que dialogam com o desenvolvimento econômico e social sustentáveis como o Consórcio da Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local, o CONSAD Missões, o Conselho de Desenvolvimento da Região Missões,o COREDE Missões e a AMM/Funmissões. A visão e concepção de desenvolvimento proposta ao debate territorial é o desenvolvimento rural sustentável,

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54combinando o combate a pobreza e miséria, a preservação ambiental e melhor dinamismo da economia e renda do público-alvo prioritário. O horizonte é um processo de transição e mudança da matriz produtiva baseada na monocultura e aplicação do pacote tecnológico com uso intenso de insumos químicos, com forte dependência dos grandes complexos agroindustriais e empresas multinacionais. Busca-se uma nova matriz produtiva baseada nos princípios da agroecologia e equilíbrio dos ecosistemas, com diversificação de culturas no contexto da agricultura familiar. A CODETER/Missões, aponta o objetivo de evoluir para ser um Colegiado de Desenvolvimento Rural Sustentável, o CODETER/Missões.

II – Das Instâncias e Metodologias da Codeter/ Missões – Atribuições

Art. 3º – O CODETER/Missões possui as seguintes instâncias: a) – Plenária Geral: Conjunto de atores que participam do processo. Cada ator deve formalizar 01 representante titular e 01 suplente; b) – Núcleo de Direção é composto por 24 atores: 12 da sociedade civil e 12 órgãos governamentais.

Pela Sociedade Civil:1.- MST Regional;2 – FETAG Regional II; 3.- CUT Rural Missões; 4.- Movimento de Mulheres Camponesas – MMC; 5.- CRESOL Porto Xavier; 6.- Cooperoque;7.- FETAG Regional I; 8.- Coopercana ;9.- Crecaf ; 10.-Coopleite; 11.- ASTRF; 12.- Consad Missões.Órgãos Governamentais:13.- AMM;14.- Emater Regional;15.- Funmissões; 16.- Sebrae; 17.- Cresma 18.- Micro-Região de São Nicolau; 19.- Micro-Região de Ubiretama;20.- Micro-Região S. Luiz Gonzaga; 21.- Micro-Região Vitória das Missões/ S. Miguel das Missões; 22.- Micro-Região Salvador das Missões;23.- Coordenaria Regional de Agricultura;24.- Associação dos Legislativos das Missões- ALM.

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55c) O Núcleo Técnico é composto pelos seguintes órgãos e instituições: Emater: Amauri Coracini; ASTRF: Jairo Jair Tavares; AMM/Funmissões: Pedro Pillon, Revis Moura e Vagner Hilgert; Sebrae: Marcelino Colla; Coptec/MST Missões:Janávio dos Santos Ferreirad) Câmara Setorial da Rede de Comercialização Solidária e agroindústrias familiares:e)Câmara Setorial da Educação do Campo:Prof. Ayrton Ávila da Cruz, Profª Neusa Nunes Colbek...

Art. 4º – Atribuições das Instâncias: Todas possuem como fundamento a prática dos princípios democráticos e participativos o respeito à pluralidade e diversidade.

a) – Plenária Geral: Instância máxima de representação territorial,com objetivo de debater as grandes opções e diretrizes gerais para fundamentar os projetos e a permanente atualização do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável, o PTDRS. As decisões serão precedidas de debates e negociações e, se for necessário será adotado processo de votação, em base a um representante por organização/instituição presente nos eventos.

b) – O Núcleo de Direção: Constitui-se em instância representativa dos atores vinculados a sociedade civil e órgãos governamentais. A sua atribuição é possibilitar os debates e encaminhamentos necessários e preparatórios às plenárias gerais. Procurarão sempre deliberar em base a ampla negociações e acordos. Se algumas questões não for possível acordar remete-se à Plenária Geral.

c) – Núcleo Técnico: Possui papel de produzir processos técnicos apontando viabilidade técnica, econômica e social dos projetos demandados. Não possui caráter deliberativo.

d) - Câmara Setorial da Rede de Comercialização Solidária e Agroindústrias Familiares: Possui o objetivo de monitorar, avaliar e propor pareceres para os projetos vinculados aos Quiosques e Centrais de Comercialização dos Produtos da Agricultura Familiar, bem como, as Agroindústrias da Agricultura Familiar, funcionem de forma adequada e coerente com os objetivos e diretrizes do desenvolvimento rural sustentável,principalmente, em consonância com o PTDRS.

e) Câmara Setorial da Educação do Campo: O objetivo é aglutinar e promover amplo debate com todos os setores e instituições de educação formal e não formal em vista da estruturação de um projeto político-pedagógico emancipatório e fator estratégico de capacitação dos atores que atuam no desenvolvimento rural sustentável, para que promova justiça social, preservação ambiental e mais renda para a agricultura familiar.

IV- Dos Critérios e Princípios Gerais para o Apoio aos Projetos e Construção do PTDRS

Art. 5º – As diretrizes e critérios gerais da CODETER/Missões sãos os seguintes:a)- Priorizar um modelo de agricultura familiar sustentável, tendo uma perspectiva agro-ecológica, visando enfrentar o contexto regional de graves problemas climáticos, ambientais e sociais;b)- Estimular ações e mecanismos de gestão e autogestão solidária e com ênfase no processo de inclusão social do maior número possível de atores sociais em processo de exclusão.c) –Dialogar e apoiar o conjunto de cadeias produtivas em desenvolvimento, e estimulando outras com importante potencial adormecido, em nível regional. Busca-se evitar os equívocos históricos de fixar-se em uma única cadeia, ou nas tentações das monoculturas.;

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56d) –Sempre levar em conta e considerar em todos os projetos os fatores de gênero, da juventude e ambientais, como aspectos decisivos para um processo de desenvolvimento inclusivo e sustentável;e) – Optar sempre por formas de organização e estruturação do processo produtivo, de industrialização e comercialização, que priorize práticas associativas e de cooperação vinculados a agricultura familiar;f) – Os projetos e ações priorizadas, procurarão atender uma dimensão regional ou no mínimo intermunicipal superando as práticas e culturas tradicionais de projetos meramente municipais e locais, sem articulação e integração com o contexto regional;g) – Todas as ações e projetos levarão em conta os objetivos e diretrizes do Programa Fome Zero, visando combater a fome e a miséria promovendo segurança alimentar e nutricional, resgatando cidadania e melhores condições de vida para a população regional.h) –Consideram-se prioritários os municípios que ainda não foram contemplados com projetos e ações da SDT/MDA. Porém, sempre buscar a seqüência e continuidade dos projetos, que são executados na forma de etapas e progressivamente.

V – Das Disposições Transitórias

Art. 6°- Todos os integrantes das instâncias do CODETER/Missões: Plenária Geral, Núcleo de Direção, Núcleo Técnico e Câmaras Setoriais, que faltarem duas reuniões consecutivas sem justificativas serão substituídos pelos seus suplentes e/ou por outras entidades representativas através da Plenária Geral. Art.7º-O PTDRS constitui-se na referência central para todos as ações e investimentos serem realizados no território das missões, porém a cada ano ele deve ser avaliado e aperfeiçoado.Art. 8º- Os municípios que através de seus gestores municipais se comprometerem em executar os Planos de Trabalho e respectivos projetos deliberados no contexto do CODETER/Missões, mas que por má fé ou culpa não cumprirem os compromissos assumidos, serão inviabilizados de serem contemplados com novos projetos no período de dois anos.

Reunião Ordinária do Núcleo de Direção Do CODETER/Missões

Cerro Largo, Sala de Reuniões da Associação de Municípios das Missões, em 13 de dezembro de 2005.

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ANEXOS ESPECÍIFICOS

ANEXO I – Elementos para o Desenvolvimento Sustentável para a Região das Missões(Amauri Coracini – Supervisor EMATER/ASCAN/RS)

A região possui na Agricultura Familiar sua atividade majoritária e assim um grande potencial a ser desenvolvido, mas que só através da mudança de paradigmas e do desenvolvimento de atividades consolidadas e implantações de alternativas inovadoras, somando com muito profissionalismo de todos os segmentos, se conseguirá mudar o cenário.

Lembro que a organização dos agricultores familiares, a organização da produção são fundamentais.

Ressalta-se que este é um momento de reflexão para toda a Região Noroeste do Rio Grande do Sul, e que este espaço demarca um novo marco de discussões, em torno de inovações e novas alternativas para a unidade familiar e o impulso necessário para o desenvolvimento regional.

Sem ambição levanto alguns elementos que possa intervir no processo de desenvolvimento:- Foco na agricultura familiar como categoria de atores principais do

processo de desenvolvimento; - Reconversão do modelo atual de agricultura para um sistema que

tenha na agroecologia como princípio para sustentabilidade.- Intensificação das atividades já consolidadas readequando as

característica dos agricultores familiares da região: soja, trigo, milho, leite,

- Introdução de atividades inovadoras que de forma viável reconverta os sistemas de produção tornando-os viáveis e sustentáveis, Ex;: Fruticultura, agroindústrias, criações.

- Ter a produção de subsistência como atividade básica para a reprodução e viabilização das unidades de produção familiar;

- Ter a questão ambiental equilibrada e preservada como fundamental para a segurança alimentar e qualidade de vida;

Na busca de Alternativas para sustentabilidade da Agricultura Familiar, é fundamental levar em questão a história da Agricultura nas Missões, desde as tradições indígenas, posteriormente sua dizimação até o repovoamento. A evolução da colonização, mecanização, desmatamentos, queimadas, desenvolvimento, êxodo rural, microbacias, plantio direto e paralelamente a história das instituições que interferiram no processo de desenvolvimento da região. Dessa evolução surgiu um cenário no qual estamos inseridos e a partir dele devemos buscar alternativas de desenvolvimentos.

Algumas atividades e ou tecnologias já consolidada e que podem ser referência:

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59- Na produção leiteira o pastoreio rotativo: oferece ao produtor de leite possibilidade de

diminuir custos de produção e aumento de produtividade, bem como melhor proteger o ambiente com diminuição de uso de carrapaticida, bernicidas e vermífugos.

- Cultivos protegidos (casa de vegetação, hidroponia): proposta para agricultores que sua propriedade rural oferece poucas condições de produção, como pequenas áreas, afloramentos de rocha, com a utilização de tecnologias chega-se a produção de Hortigranjeiros.

- .Plantas Medicinais e ervas condimentares/relógio do corpo humano: A Fitoterapia é uma ciência usada na prática cotidiana. Na forma de remédios caseiros, como chás, xaropes, compressas, tinturas, etc, são elaborados com base no uso e conhecimentos tradicionais sobre as propriedades benéficas das plantas medicinais. Em nosso corpo cada órgão que funcionam involuntariamente, apresenta duas horas de máxima atividade diária, portanto o relógio do corpo humano simboliza de forma didática os horários e as plantas medicinais com maior atividade em relação ao órgão correspondente.

- Agroindústria: transformação como forma de agregação de valores a produção da agricultura familiar.

- Saneamento Básico: cuidados com os destinos das águas servidas bem como o reaproveitamento das águas das chuvas.

- Produção de subsistência: com o Reaproveitamento e armazenagem da água pode-se consolidar a produção básica de alimentos tendo na irrigação uma prática importante em se pensar nas estiagem e má distribuição das chuvas na região.

- Armazenagem e Secador Solar: alternativa para o pequeno produtor rural armazenar seu produto, com economia e também através da energia solar, secar o mesmo, utilizando portanto as riquezas que a natureza oferece.

- Minhocário: Utilização da minhoca para o melhor aproveitamento de dejetos, restos vegetais, melhorando a qualidade do adubo orgânico, a vermicompostagem, ou seja compostagem através da minhoca.

ANEXO II – Contribuição da Cotrisa sobre o Desenvolvimento Rural Sustentável

Fatores limitantes do desenvolvimento rural sustentável

1. ClimaSe analisar os dados históricos de índices de chuva na região, chegaremos a conclusão

que, na realidade, não existe falta de chuva no volume total. O que existe é uma má distribuição, principalmente para as culturas de verão.

2. SoloDe uma forma geral, no solo da nossa região, há deficiência química (acidez e

nutrientes), baixo teor de matéria orgânica, problemas físicos (compactação), e falta de rotação de culturas.

3. Elevada faixa etária dos produtores ruraisExemplo: Do quadro social da COTRISA, 76% tem acima de 41 anos.

4. Matriz produtiva, aliada a estrutura fundiária

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60Culturas extensivas (soja, trigo...) em pequenas áreas.Exemplo: Do quadro social da COTRISA, 93% possui propriedade com área de até 50

hectares.

5. Logística e falta de mercado para os produtosLonga distância dos principais centros consumidores.

6. Descapitalização dos produtoresProdutores estão descapitalizados, e muitos com dívidas elevadas, em razão das

sucessivas quebras de safra.

7. Carga tributária e taxas de licenciamento elevadas (FEPAM...)

8. Falta de estrutura de armazenagem para segregaçãoExemplo: Recebimento e armazenagem de trigo brando e trigo pão.

9. Falta consciência empreendedora e gerenciamento das propriedades

10. Baixo nível tecnológico e preconceito e/ou resistência em relação a tecnologia por parte de alguns produtores

11. Imobilização elevada nas propriedades

12. Baixo nível cultural e cultura individualista do produtor rural

13. Apelo sedutor das “Luzes da Cidade”No campo não há internet e outros meios de comunicação disponíveis na cidade, além

de outras vantagens e confortos que atraem principalmente a população mais jovem.

Ações sugeridas para o desenvolvimento rural sustentável:

1. CapacitaçãoTreinamento e desenvolvimento do elemento humano que está estabelecido na atividade

agropecuária, identificando o agricultor que efetivamente tenha vocação para a atividade. O sistema de “Casa Familiar Rural” pode ser uma das alternativas bem direcionada de capacitação.

2. Estudo e dimensionamento do mercado consumidorIdentificar e localizar o mercado consumidor.

3. Organizar as cadeias produtivasTer constância de fornecimento e de qualidade, com boa relação custo-benefício.

4. Abastecimento do mercado pelo método de entrega imediata, de acordo com a necessidade do consumo.

Ninguém quer estocar para o longo prazo.

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615. Organização de condomínios rurais

Leite, máquinas agrícolas.

6. Implementação e revitalização de culturas alternativasProporcionar garantia de mercado, com viabilidade econômica, para as culturas

alternativas.

7. Maior uso de tecnologia e gerenciamentoPesquisa de alternativas econômicas de manejo integrado de pragas e doenças.

8. Associações de ProdutoresFormação de Associações de Produtores para otimizar a produção e industrialização,

formando parcerias para comercialização dos produtos (mercado).

9. Realizar diagnóstico detalhado de cada propriedade, para determinar as culturas viáveis

Usar os exemplos regionais positivos de alternativas viáveis.

10. Flexibilização das Leis ambientais e redução da carga tributária Há morosidade e falta de clareza para liberação de empreendimentos e valores muito

elevados das taxas de licenciamento.

Exemplo: Num empreendimento de uma pocilga para terminação de 300 suínos, obra de construção civil num valor total de R$ 30.000,00, a taxa de licenciamento é de R$ 6.000,00, ou seja, encarecendo a obra em 20% (fonte: José Buchar, município de Sete de Setembro, RS).

Em se tratando de empreendimento para geração de emprego, renda e impostos, não deveria existir taxas de licenciamento, ou seja, os órgãos públicos deveriam apoiar e orientar a criação de novos empreendimentos, sem cobrança de taxas.

11. Zoneamento agroclimáticoRealização de pesquisas, pelos órgãos encarregados (EMBRAPA, EMATER,

FEPAGRO, etc.) e elaboração de um zoneamento agroclimático detalhado, por município, para horticultura, fruticultura, etc.

12. Implementar e/ou melhorar os sistemas de armazenamento e aproveitamento de água Recuperação dos recursos naturais (mata ciliar, banhados, etc.).

Coletores e armazenadores de água pluvial (açudes comunitários para criação de peixe e aproveitamento da água para irrigação).

Adequação das estradas com captadores de água da chuva.

Aproveitamento dos recursos hídricos (rios), com barragens hidrelétricas, já contemplado a muito tempo pelo Conselho Regional de Desenvolvimento das Missões, denominado de Projeto Meso-Região (buscar informação com o Professor Alberto Gomes Toscani, na URI, em Santo Ângelo).

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6213. Consolidação da Rota Missões

A Rota Missões poderá ser uma ação de agregação dos municípios em torno do desenvolvimento regional.

Desenvolver ações de conscientização para as exigências do turismo rural.

A exemplo do que foi feito no vale dos vinhedos, desenvolver uma grife com a marca Missões.

ANEXO III – Reflexão Crítica sobre o Processo de Consumo

Você é o que você consome?Reflexões de Cecília Margarida Bernardi, engenheira agrônoma e militante da Marcha

Mundial das Mulheres, pensando em nossas contradições diárias.

Penso nesta frase e sigo saboreando uma amora que acabei de colher e tento rememorar quando comecei a perceber a veracidade desta expressão: você é o que você consome.

Fui atrás do professor Paulo que me disse na sombra de sua mangueira:E não me digam que “as coisas são assim porque não podem ser diferentes“. Não

podem ser de outra maneira porque, se o fossem, feririam o interesse dos poderosos: ...Não podemos renunciar à luta pelo exercício de nossa capacidade e de nosso direito de

decidir e de romper, sem o que não reinventamos o mundo. Neste sentido insisto em que a História é possibilidade e não determinismo. Somos seres condicionados, mas não determinados. É impossível entender a História como tempo de possibilidade se não reconhecermos o ser humano como ser da decisão, da ruptura. Sem esse exercício não há como falarmos em ética.

Então pensei podemos reinventar a roda. Aqui me atenho a pensar sobre o consumo. Enfim precisamos comer, tomar banho (graças aos índios), nos embelezar, limpar nossa casa.

O que tem por trás desta tomada de decisão de compra? Que rota segue o suado dinheiro que recebo em forma de salário?Fico pensando na rota do dinheiro. Ganho um salário que não tem reajuste, blá, blá´,

blá. Mas os governos dão incentivos para grandes multinacionais. Até aí fico indignada. Vou na marcha dos SEM, protesto no dia do trabalhador, das mulheres e onde vou fazer minhas compras? O que vou comprar?

Vejamos a NESTLÉ, a COCA-COLA, O NACIONAL e tantas outras multinacionais poderosas. O dinheiro destas empresas vem dos incentivos de governos e dos consumidores de seus produtos. E quando vou ao supermercado o achocolatado da Nestlé é o melhor ! Oh! Aí vem a Pergunta: quantos agricultores e agricultoras que vendem leite eu paguei para perder seu emprego – que é a venda de leite? Afinal a Nestlé é a empresa que mais exclui agricultores no mundo.

Uma das teses do consumo cotidiano diz que precisamos seguir as ofertas, enfim os supermercados grandes são mais baratos. Tenho que esticar meu dinheiro? Saiba que os supermercados de multinacionais cobram o “famoso” enxoval que é uma doação em forma de produtos para por em oferta o que encarece o produto como um todo. Pense, duvido quem vai

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63ao super e só sai com a super-oferta, quase de graça. Parabéns, você é a exceção que convence a regra sobre as falsas verdades de mercado e de consumo.

Quem vende para estes mercados? Quem estou excluindo ao consumir de grandes multinacionais? Onde vai meu salário?

Outra questão é o tal de gosto: não posso deixar de tomar refrigerante por exemplo pois eu gosto? Quando aprendemos a comer? Será que nunca posso mudar ?

Onde vai o meu discurso. Cada vez mais longe de minha prática. Enfim, vou incluído as pessoas com minha ação no meu trabalho, mas na hora do consumo. Rasguei o livrinho.

Desenvolvo um método extremamente participativo e tento incluir na minha aula jovens que estão excluídos de tudo. Quando vou pagar a conta num supermercado de uma multinacional acabei de excluir mais dois, acabei de pagar o trabalho escravo em grandes fazendas.

Ao comprar numa feira diretamente de agricultores onde vai meu dinheiro? Quem estou incluído? Penso: em Santa Rosa da feira livre se enxerga um ponto de uma multinacional de supermercados.

Em nome de premissas simplistas uma vózinha ao lado do meu ouvido me diz: Que besteira, a mudança somente acontece pela luta coletiva, só se mudarmos a macro economia. Novamente me lembro desta doideira de economia solidária. E quem diz que se cada um se negar a comprar, não abala as estruturas? Como posso fazer minha subversão diária. Ou nossa busca de um novo mundo possível não inclui a nossa colaboração, virá somente pela revolução com armas? Ou com governos revolucionários? Em Santa Rosa foi construído um ponto de vendas da Central de pequenas cooperativas que congrega oito cooperativas de agricultores e agricultoras familiares com objetivo de aproximar os agricultores dos consumidores urbanos. Nos municípios essencialmente agrícolas de nossa região temos feiras livres, pequenas cooperativas comercializando diretamente dos agricultores em seus pontos comerciais.E me pergunto? Somos consumidores destas iniciativas?

Fica aqui o convite para que companheiros e companheiras exerçam sua cidadania e solidariedade também no consumo,

Deixemos a imobilidade diante de nossa prática rompendo dia-a dia as amarras deste tufão consumista exercitando novas rotas para nosso parcos salários com uma frase do nosso professor Paulo: “A afirmação “as coisas são assim porque não podem ser de outra maneira” é um dos muitos instrumentos dos dominantes com que tentam abortar a resistência dos dominados.” (Paulo Freire sentado à sobra desta mangueira)

ANEXO IV – Carta de São Paulo das Missões

Nós, 130 pequenos agricultores(as) e representantes das cinco Dioceses do Interdiocesano Centro, de organizações governamentais e não-governamentais, reunidos em São Paulo das Missões no XI Seminário Regional de Alternativas à Cultura do Fumo, vindos de 30 municípios, queremos nos dirigir a todos irmãos e irmãs que vivem no campo e na cidade para se somarem a esta luta que já mostra, nesta curta caminhada, resulta muitos animadores. É com este ânimo e com esta confiança de que este caminho é correto, que nos reunimos para refletir a Agricultura Familiar com Diversificação, Organização e Políticas Públicas.

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Constatamos:

- Que já existem alternativas à cultura do fumo e às monoculturas em geral, com propostas de incipientes políticas públicas que se mostram promissoras.- É clara e forte a vontade do agricultor familiar em buscar uma reconversão do seu modo de produzir e assim sair da dependência do grande capital com diversidade, saúde, autonomia e fortalecimento de sua auto-estima.- O agricultor familiar já tem presente que a sua atividade vai alem da simples produção de alimentos, mas avança e agrega valor com outras atividades de beneficiamento destes produtos e organização do mercado para comercialização, nos princípios da Economia Popular Solidária.- A existência de algumas políticas públicas estaduais específicas para a agricultura familiar.

Denunciamos:

- A existência de falsos modelos de agroecologia que mantêm o agricultor refém dos grandes grupos econômicos e favorece a ideologia da concorrência com programas das empresas fumageiras.- A legislação federal arcaica que impede a expansão econômica da agricultura familiar.- A continuidade da comercialização de sementes transgênicas no Rio Grande do Sul, sem controle.- O favorecimento do PRONAF a empresas fumageiras e de outros produtos enquanto que, para produção de alimentos, o financiamento é menor e tardio.- O grave momento que passa o governo federal envolvido em denúncia de corrupção e no limite do seu plano econômico.- A violência que levou à morte de um militante italiano que participava de um protesto contra o neoliberalismo em Gênova na reunião do G-8.

Propomos:

- Uma ação mais incisiva por parte do governo, das Igrejas, da sociedade, da sociedade, dos consumidores dos movimentos populares contra os produtos transgênicos.- Políticas públicas que priorizem a reconvenção da cultura do fumo e outras monoculturas realizadas na própria propriedade familiar para produção de alimentos.- Uma ação mais forte da extensão rural no sentido de operacionalizar os programas públicos para a propriedade familiar e garantir um agricultor autônomo.- A continuidade do apoio aos agricultores familiares no sentido de sua formação , organização, fomento à produção e à comercialização diretas em feiras e outros espaços da Economia Popular Solidária.- O fortalecimento das instituições e movimentos sociais organizados com base em uma efetiva reforma agrária, com o controle social das políticas públicas e a construção de uma m=nova matriz produtiva apoiada na agroecologia.

São Paulo das Missões, RS, 21 de julho de 2001.Aprovada pelos 130 participantes.

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ANEXO V – Agroecologia – Base científicas para um a agricultura sustentável (Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA)

Porque mudar o modelo de agricultura e desenvolvimento rural? Os avanços técnicos ocorridos nas últimas décadas permitiram conquistas importantes, mas, muitas vezes, tomaram um rumo que coloca em risco a própria sobrevivência da humanidade. Como conseqüência, o ar está ficando mais poluído, as águas mais contaminadas, o solo mais degradado e o alimento que consumimos, muitas vezes, chega às nossas mesas envenenado. Alguns dizem que esse é o preço do progresso, que o importante é o crescimento econômico, o aumento do consumo, etc. Mas todos sabemos que crescimento nem sempre se traduz em desenvolvimento. Em muitos casos, os benefícios gerados não são para todos e se persistir o atual ritmo de degradação dos recursos naturais, o futuro das próximas gerações estará cada vez mais comprometido.

Por onde começar? É necessário uma mudança na maneira de perceber o meio em que estamos inseridos e do qual o ser humano é parte inseparável. Para fazer isso, além de conhecimentos técnicos, é necessário ter sensibilidade social e respeito para com os conhecimentos e saberes dos agricultores (as).

A Agroecologia

A Agroecologia não se confunde como uma formação ou estilo particular de agricultura, qualquer que seja a sua denominação, mas propõe um conjunto de princípios e metodologias participativas que apóiam o processo de transição da agricultura convencional para estilos de agricultura e base ecológica. A aplicação desses princípios envolve várias dimensões: ambiental, social, econômica, cultural, política e ética.

Não se deve esperar, portanto, que a Agroecologia oferece um pacote tecnológico, como ocorreu com a Revolução Verde. Isto significa que é necessário traduzir, local ou regionalmente, princípios agroecológicos em formas tecnológicas específicas. Princípio, como bem definiu um agricultor, é onde tudo começa.

Transição ecológica

A transição agroecológica é a passagem da maneira convencional de produzir com agrotóxicos e outros contaminantes, para novas maneiras de fazer agricultura, com tecnologias de base ecológica.

A proposta agroecológica vai além dos aspectos técnicos de produção. Ela inclui todo o complexo de relações que estabelecemos com o meio ambiente, assim como as relações entre as pessoas. Então, é essencial fazer a nossa parte, seja na roça, na comunidade, no bairro, no município ou na região onde vivemos, seguindo a idéia de “pensar globalmente e agir localmente”.

Ter consciência ecológica

O importante é buscar a integração dos vários elementos que existem no ambiente, de maneira que o solo, as plantas, os animais, a água e tudo que está a nossa volta possa ser

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66usado de forma sustentável, permitindo assim que as gerações futuras também possam produzir e viver com dignidade.

A quem interessa a proposta agroecológica

O resultado disso é bom para os agricultores, para os consumidores e para sociedade em geral. Todos saem ganhando à medida que avançamos no processo de transição agroecológica e passamos a nos relacionar de forma mais harmoniosa com a natureza e com os outros seres humanos, produzindo alimentos sadios e de melhor qualidade biológica.

ANEXO VI – Conhecendo as árvores nativas da mata ciliar dos nossos rios (COOPERLUZ – Santa Rosa)

• Açoita-cavalo: árvore com até 30 metros de altura, copa frondosa. Suas flores são muito visadas por abelhas. Tolera solos rasos e encharcados. Cresce rápido.

• Angico: possui crescimento rápido, invade áreas abandonadas e suporta todos os tipos de solo. Pode chegar até a 30 metros de altura. Madeira de muitas utilidades.

• Araçá: pode ser plantada em banhados ou terra seca. Árvore normalmente pequena, com flores muito cheirosas e frutos muito procurados por animais, como o jacu.

• Araticum: prefere área aberta, onde pode chegar o sol. Árvore não muito alta, copa densa, fruta de cor amarelo, muito apreciado por animais. Desenvolve-se rapidamente e dá muitos frutos.

• Branquilho: árvore pequena, desenvolvem-se em lugares muito úmidos e abertos, indicada para reflorestamento nas margens de rios e usinas hidrelétricas.

• Guajuvira: Uma das árvores mais comuns do Brasil, ocupa rapidamente áreas abandonadas. Copa densa, fechada, é muito procurada pelos pássaros para fazer ninhos. Madeira de muitas utilidades nas propriedades rurais. Pode atingir até 80 centímetros de diâmetro e 25 metros de altura.

• Guavirova: é ornamental, flores melíferas, brancas, muito abundantes, e frutos com altos teores de vitaminas. Pode atingir até 20 metros de altura, ocorre em solos úmidos e compactados.

• Ingá: crescimento rápido, pode chegar a 12 metros de altura. Melífera para abelhas. Importante frutífera nativa consumida por aves, macacos e peixes. Indicada para reflorestamento e recuperação de matas ribeirinhas de rios, lagos e reservatórios.

• Olhos-de-pomba (vacum): flores melíferas, frutífera muito procurada pelos animais, preferem solos um pouco úmidos.

• Pitangueira: frutífera nativa. Pode atingir 15 metros de altura. Suas frutas são boas e atraem muitas aves, que dispersam sementes de outras espécies, sendo indicada para ser plantada na beira de rios.

• Tarumã: Pode atingir 25 metros de altura, com frutos procurados por pássaros, peixes e macacos. Tolera qualquer tipo de solo. O chá das folhas é depurativo sangüíneo, e o da casca serve para tratamento de reumatismo.