plano semestral de trabalho docente - 1as séries do curso formação de docentes - ieppep

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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DO PARANÁ PROFESSOR ERASMO PILOTTO PLANO DE DISCIPLINA SEMESTRAL Curso: Formação de Docentes da Educação infantil e anos Iniciais do Ensino Fundamental – com aproveitamento de estudos. Disciplina: Fundamentos Filosóficos da Educação. Professor: Otávio Camargo Lobo Neto Série: 1ª série. Carga Horária Semanal: 2 horas semanais. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS Desde seu nascimento, a filosofia aparece como modalidade discursiva acerca do sentido do real. Sua estrutura dialógica se afasta de outras formas de discurso – científicas, religiosas, míticas e as do senso comum – graças à sua rigorosidade, radicalidade e crítica. Embora credora do real e de seus fenômenos, a atitude filosófica investiga as essências que subjazem ao real dado. Nesse sentido, o foco das Filosofias da Educação é justamente a busca do sentido do educar, bem como dos processos pelos quais é possível o conhecer. O fio de Ariadne de nossa tradição de pensamento sobre educação tem como acorde fundamental a pergunta platônica: “É possível ensinar a virtude?” Deste modo, no primeiro bimestre, a intenção é mostrar o nascimento desta tradição entre os gregos. Dado que ela nasce em contraposição à insuficiência do discurso (logos) mítico, nasce, portanto, como uma forma de discurso onde a lógica e a coerência interna do “eu” reflexivo coloca em questão a mediação poética do mito. Trocando em miúdos, o modelo de educação (paidéia) para a virtude (areté) repassada pela tradição mítica, não mais se sustenta diante do pensamento filosófico. A ideia, portanto, é repassar o conceito educativo da Grécia Arcaica expressa na polaridade da areté “cavalheiresca” homérica e a areté “campesina” hesiódica. Objetivando a crítica platônica ao modo de expressão poético. Crítica que inicia nossa tradição de pensamento sobre educação no ocidente exposta na pergunta supracitada. 1

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Plano Semestral de Trabalho Docente feito para as 1as Séries do Curso Formação de Docentes. Aulas Ministradas no Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto.

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Page 1: Plano Semestral de Trabalho Docente - 1as Séries do Curso Formação de Docentes - IEPPEP

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DO PARANÁ PROFESSOR ERASMO PILOTTO

PLANO DE DISCIPLINA SEMESTRAL

Curso: Formação de Docentes da Educação infantil e anos Iniciais do Ensino Fundamental – com

aproveitamento de estudos.

Disciplina: Fundamentos Filosóficos da Educação.

Professor: Otávio Camargo Lobo Neto

Série: 1ª série. Carga Horária Semanal: 2 horas semanais.

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Desde seu nascimento, a filosofia aparece como modalidade discursiva acerca do sentido

do real. Sua estrutura dialógica se afasta de outras formas de discurso – científicas, religiosas,

míticas e as do senso comum – graças à sua rigorosidade, radicalidade e crítica. Embora

credora do real e de seus fenômenos, a atitude filosófica investiga as essências que subjazem

ao real dado. Nesse sentido, o foco das Filosofias da Educação é justamente a busca do

sentido do educar, bem como dos processos pelos quais é possível o conhecer. O fio de

Ariadne de nossa tradição de pensamento sobre educação tem como acorde fundamental a

pergunta platônica: “É possível ensinar a virtude?”

Deste modo, no primeiro bimestre, a intenção é mostrar o nascimento desta tradição entre

os gregos. Dado que ela nasce em contraposição à insuficiência do discurso (logos) mítico,

nasce, portanto, como uma forma de discurso onde a lógica e a coerência interna do “eu”

reflexivo coloca em questão a mediação poética do mito. Trocando em miúdos, o modelo de

educação (paidéia) para a virtude (areté) repassada pela tradição mítica, não mais se sustenta

diante do pensamento filosófico. A ideia, portanto, é repassar o conceito educativo da Grécia

Arcaica expressa na polaridade da areté “cavalheiresca” homérica e a areté “campesina”

hesiódica. Objetivando a crítica platônica ao modo de expressão poético. Crítica que inicia

nossa tradição de pensamento sobre educação no ocidente exposta na pergunta supracitada.

No segundo bimestre pretende-se mostrar a nova concepção de homem – em detrimento

ao paradigma medieval. As revalorizações da cultura greco-romana bem como os

descobrimentos científicos realizados neste período trouxeram novas questões desconfortáveis

ao modo escolástico de investigação. A passagem à um novo modelo compreende dois

momentos que, embora distintos, são complementares: o Renascimento e o Iluminismo.

No Renascimento, a reflexão sobre educação para um novo mundo foi um dos enfoques

no pensamento de Michel de Montaigne como crítico do paradigma educativo que coloca a

memorização em primeiro plano, ao invés de se educar ao mesmo tempo “a alma e o corpo”.

Para além do campo exclusivamente filosófico, a efervescência cultural do Renascimento gera

em seu seio a Reforma Protestante. Martinho Lutero ao traduzir a bíblia, trouxe a verdade

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revelada para mais perto daquele que crê. O que, além de resultar numa proposta educativa

mais abrangente, pressupõe um novo quadro epistemológico de conteúdos a serem ministrados

às crianças. Em resposta ao pensamento renascentista e ao reformista, a Igreja Católica por

meio dos Jesuítas publica seu Ratio Studiorum, que procura defender não só os dogmas

católicos, mas preservar seu método educativo baseado na memorização e na tradição.

A meio caminho entre Renascimento e Iluminismo, surge a Filosofia Moderna que,

entusiasmada pelo desenvolvimento invulgar das Ciências da Natureza, clamam por um novo

paradigma epistemológico para elas. Assim, as figuras de René Descartes e John Locke

encampam duas posições inconciliáveis. O racionalismo inatista cartesiano e o empirismo

lockiano. Enquanto o primeiro defende que todo o conhecimento surge a partir de ideias inatas

corroboradas pela razão. O segundo, mostra que estas ideias surgem das sensações, ou das

reflexões, ou da combinação entre elas, que correspondem à uma realidade que existe em si e

por si mesma. Assim, o conhecimento só se inicia após a experiência sensível.

O iluminismo, por seu turno, deseja que o homem chegue à sua maioridade. Acentuando o

movimento pela liberdade intelectual do homem. Nesse sentido, dois pensadores se destacam

como avatares desse movimento: Jean-Jacques Rousseau e Immanuel Kant. Rousseau

resgata a relação entre educação e política, perdida desde os gregos. E foca, pela primeira vez,

a educação na criança. Onde a educação não deve tratá-la como um adulto em miniatura, mas

deve centrar a educação na própria vida da criança. Epistemologicamente falando, Kant supera

a contradição entre o cartesianismo e o empirismo lockiano, ao afirmar que algumas ideias

eram inatas – como o espaço e o tempo – e que outras são apresentadas pelos sentidos. A

estas considerações, interpõe Kant a sua preocupação pedagógica uma vez que “o ser humano

é a única criatura que precisa ser educada” ( Kant, 1988, p. 441). Pois segundo ele, o homem

não pode se tornar um verdadeiro homem senão pela educação, sendo o indivíduo aquilo que a

educação o torna. Profundamente influenciado por Rousseau, a pedagogia kantiana também

tem seu foco na criança e no seu modo de ser diante o mundo com vistas à autonomia do

pensar (a maioridade), porém sempre em relação à sociedade que a circunscreve, pois “À

liberdade de pensar opõe-se em primeiro lugar a coação civil (...) Em segundo lugar, a

liberdade de pensar é também tomada no sentido de que se opõe a toda coação à consciência

moral (...) Em terceiro lugar, a liberdade de pensamento significa que a razão não se submete a

qualquer outra lei senão àquela que dá a si própria”( Kant, 1974, p. 92, 94)

CONTEÚDOS ESTRUTURANTES E SEUS DESDOBRAMENTOS

1º Bimestre – Os desdobramentos da paidéia grega O discurso mítico.

o O sentido da Paidéia homérica e hesiódica. “É possível ensinar a virtude?”

o Platão e o problema do conhecimento;

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A República – a "Alegoria da caverna"; A República – o "Mito de Er".

2º Bimestre – O Humanismo e a educação O renascimento.

o Michel de Montaigne: A educação das Crianças;o Martinho Lutero: A educação Protestante;o Os Jesuítas: A Ratio Studiorum.

A modernidadeo René Descartes: A educação da razão pela razão;o John Locke: Tudo se aprende, não há ideias inatas.

O iluminismo.o Educação e cidadania Rousseau.

A descoberta da infância e a formação do cidadão republicano;o O conhecimento como ousadia - Kant e os inimigos da razão.

OBJETIVOS DA DISCIPLINA

Contribuir para o desenvolvimento de uma prática educativa contextualizada e socialmente responsável para que o(a) educador(a) compreenda os processos filosóficos subjacentes ao à história, nas transformações e mudanças dos paradigmas educativos.

Refletir filosoficamente sobre a educação – suas finalidades, conteúdos e principalmente sua interação com o contexto histórico – possibilita uma maior compreensão da educação atual e pode contribuir de forma eficaz para o desenvolvimento de um sistema educacional mais justo.

METODOLOGIA

A metodologia será trabalhada numa perspectiva histórica, de forma problematizadora, ou seja, estabelecendo a relação entre a prática e a teoria, entre o conhecimento que o aluno já possui e os conteúdos que precisam ser incorporados para que ele alcance autonomia em seu sentido mais amplo.

As novas tecnologias de informação – computador, internet e seus derivados – também serão utilizados como ponte metodológica aos Objetivos propostos e como incentivo ao uso destas tecnologias. Ainda que seu uso nesta disciplina seja secundário – como apoio aos conteúdos ministrados em sala – e relativamente tímido – graças às limitações materiais da instituição de ensino e dos alunos – não se pode furtar de tal utilização, já que as prerrogativas da cidadania em termos hodiernos passam necessariamente pela inclusão digital. O portal de internet utilizado será o sítio: http://professorotaviolobo.blogspot.com/

Assim, a metodologia envolverá o diálogo, a contextualização e a problematização de conteúdos levando em consideração o ponto de partida do conhecimento do aluno e o ponto a que se deseja chegar, instigando o aluno à pesquisa, ao trabalho cooperativo, à reflexão, análises, sínteses e comparações. Onde a preocupação com o estabelecimento dialógico será o locus privilegiado para o devido equacionamento entre a reflexão filosófica às perspectivas dos estudantes.

AVALIAÇÃO

A avaliação seguirá o que dispõe o Capítulo III do Regimento Escolar deste Estabelecimento de Ensino. Ressalta-se a importância da prevalência dos aspectos qualitativos sobre quantitativos, da relevância à atividade critica, à capacidade de síntese e à elaboração pessoal, devendo a verificação do aproveitamento escolar incidir sobre o desempenho do

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aluno, no mínimo, em três experiências de aprendizagem (debates, seminários, relatórios, testes de aproveitamento orais e escritos, trabalhos de criação, observações etc.), durante cada bimestre.

ESTRATÉGIAS DE RECUPERAÇÃO CONCOMITANTE E PARALELA

Serão utilizadas práticas diferenciadas considerando as características dos alunos, para melhor intervenção pedagógica e apropriação do conteúdo. O momento mais importante para a recuperação deve ocorrer no período de aula. A revisão diária dos conteúdos, explicações complementares, atividades extraclasse, correção de exercícios e testes de verificação, entre outras são procedimentos que atuarão preventivamente, contribuindo para a aprendizagem do aluno. São estratégias também: a) atividades diversificadas oferecidas durante a aula, b) atividades extra-classe, c) planos de estudos.

REFERÊNCIAS BÁSICAS

CHAUÍ, Marilena. O conceito Marxista de Ideologia in O que é Ideologia? São Paulo: Brasiliense, 1980. pp. 87 e ss.

_______. Estado de Natureza, contrato social, Estado Civil na filosofia de Hobbes, Locke e Rousseau in Filosofia Ed. Ática, São Paulo, ano 2000, pág. 220-223.

DESCARTES, René. Discurso sobre o Método. Tradução Enrico Corvisieri. Disponível em http://www.scribd.com/doc/8913091/Descartes-Discurso-do-Metodo Acesso em: 10 de agosto de 2010.

FERREIRA, André. O Conhecer e o Educar em Platão: A Anamnesis apresentada No “Menôn” como condição de possibilidade da Paidéia apresentada na "República". Disponível em http://www.anped.org.br/reunioes/32ra/arquivos/trabalhos/GT17-5879--Int.pdf Acesso em 10 de Agosto de 2010.

JAEGER, Werner. Homero como Educador in Paidéia: A Formação do Homem Grego. 3ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 1995. pp. 61-84.

Hesíodo e a vida no campo. in Paidéia: A Formação do Homem Grego. 3ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 1995. pp. 85-105.

KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Trad. por Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1988.

_______.. Textos Seletos. Trad. Raimundo Vier. Petrópolis: Vozes, 1974.

MARROU, Henri Irénée. A Educação Espartana. in História da Educação na Antiguidade. São Paulo: E.P.U., Ed. Da Universidade de São Paulo, 1973. pp 34-50.

PLATÃO. A Alegoria da Caverna in A República: Livro VII, 514a-521b. Lisboa: Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, 1990. Adaptado.

_______. O mito de Er in A República: Livro X . Disponível em www.scribd.com/doc/27630032/Platao-A-republica-Livro-X Acesso: 10 de Agosto de 2010.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens. Tradução: Maria Lacerda de Moura. Disponível em http://www.scribd.com/doc/7302343/Rousseau-Discurso-Sobre-a-Origem-Da-Desigualdade-Entre-Os-Homens Acesso em: 10 de agosto de 2010.

SEED-PR. Filosofia – Livro Didático Público. Curitiba, 2ª ed. SEED-PR, 2006.

SEED-PR. Sociologia – Livro Didático Público. Curitiba, 2ª ed. SEED-PR, 2006.

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