plano diocesano de pastoral litúrgica (projecto)

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Plano Diocesano de Pastoral Litúrgica (projecto) Diocese de Aveiro

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Documento relativo à terceira etapa do nosso plano pastoral, dedicado à oração, disponível para leitura, estudo e debate por todos os diocesanos.

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Plano Diocesano de Pastoral Litúrgica (projecto)

Diocese de Aveiro

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Introdução

( A redigir pelo Senhor Bispo)

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I - Fundamentação

O culto da Igreja tem como objecto e centro Cristo e, sobretudo, o seu mistério pascal. Na acção litúrgica, a Igreja evoca e torna presente a obra salvadora realizada por Deus em Cristo e associa-se, deste modo, ao culto definitivo tributado por Ele ao Pai, no Espírito Santo.

Nos escritos do Novo Testamento, geralmente ao mesmo tempo que se faz notar o que há de continuidade no culto cristão com a herança do Antigo Testamento, sublinha-se com força a sua novidade. Há dois dados especialmente significativos que se podem apresentar como testemunho disto. Um primeiro dado, é depararmo-nos com o facto de que, quando se fala do culto da Igreja, nascida do Pentecostes, evitam-se os termos consagrados no Antigo Testamento e recorre-se a expressões alheias ao âmbito cultual. Assim, a celebração eucarística nunca de denomina como “sacrifício” mas “fracção do pão” (cf. Act 2, 42. 46; 20, 7-11; I Cor 10, 16), “ceia do Senhor” (cf. I Cor 11, 20), “mesa do Senhor” (cf. I Cor 10, 21) e “cálice da bênção” ou “cálice do Senhor” (cf. I Cor 10, 16-21).

Em segundo lugar, o uso que o Novo Testamento faz da terminologia cultual, para designar realidades como a comunidade cristã e a vida pessoal dos fiéis e dos apóstolos, realizada segundo as exigências da caridade. Ou seja, os cristãos que se mantêm em comunhão de vida com o seu Senhor são considerados elementos constitutivos do “templo” e partes integrantes do sacerdócio:

“Também vós, como pedras vivas, ides entrando na construção do templo espiritual, formando um sacerdócio santo, destinado a oferecer sacrifícios espirituais que Deus aceita por Jesus, o Messias” (I Pe 2, 5; cf. I Cor 3, 10-17; II Cor 6, 16ss; Ef 2, 20ss). Do mesmo modo, o apóstolo Paulo identifica o culto cristão com a vida cristã:

“Pelo amor de Deus vos exorto, irmãos, a que ofereçais a vossa própria existência como sacrifício vivo, agradável a Deus, como o vosso culto autêntico” (Rom 12, 1). É por esta concepção de culto que o templo material do Antigo Testamento é substituído

pela própria comunidade cristã, que é “o corpo de Cristo ressuscitado” (cf. I Cor 12, 12), verdadeiro povo sacerdotal que adora, em Cristo e por Cristo, o Pai “em espírito e verdade” (Jo 4, 23-24).

Daí, o culto cristão ser a tradução e a experiência externa, em formas tipicamente cultuais, de uma vida consagrada na sua totalidade ao serviço de Deus à imitação da de Jesus, que aceitou fielmente a vontade do Pai como norma de existência. Neste sentido, ele ultrapassa os limites de toda a celebração litúrgica, pois abarca a vida inteira oferecida a Deus em obediência. Assim, é necessário assinalar a função que a liturgia desempenha em relação com este culto total.

Não se pode esquecer, numa sociedade secularizada, como a nossa, que há grupos de cris-tãos e atitudes que recusam qualquer celebração litúrgica, persuadidos que o culto inaugurado por Jesus se reduz ao culto que prestamos a Deus com a nossa vida entregue, e na crença de que as for-mas litúrgicas mais não são que expressões próprias da religiosidade do Antigo Testamento, indevi-damente adoptadas pela Igreja.

O erro desta maneira de pensar está num certo reducionismo, que considera a liturgia como um conjunto normalizado de cerimónias e ritos, sem ter em conta a sua dimensão sacramental.

A liturgia é o sinal eficaz da presença e da acção salvífica de Cristo. Cristo é algo mais que um modelo que devemos imitar. Na liturgia entra o crente em relação com o dom de Deus feito aos homens em Cristo e recebe com isso a possibilidade de transformar a sua vida em culto agradável ao Pai. Na Eucaristia, celebração litúrgica por excelência, a presença dinâmica de Cristo constitui a comunidade, transforma-a em seu corpo e apresenta-a ao mundo como povo sacerdotal.

Neste sentido pode dizer-se que a celebração litúrgica está ao serviço do culto total, pois torna possível a transformação da vida.

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Recusar, pois, o sacramento em nome do culto “em espírito e verdade” significa recusar a ordem da encarnação e pensar ser-se capaz de auto-salvação; perder-se-ia dessa maneira a cons-ciência de que a salvação é uma iniciativa de Deus, verdadeiro e único fundamento de uma vida autenticamente cristã realizada no amor.

Neste sentido, Cristo deu-nos “a plenitude do culto verdadeiro” (SC 5), para que possamos fazer da nossa vida um culto ao Pai no Espírito e em verdade (cf. Jo 4, 23).

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II - Situação na Diocese

Estamos prestes a celebrar os cinquenta anos da promulgação da Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, do Concílio Vaticano II, promulgada em 4 de Dezembro de 1962. Trata-se do primeiro documento do Concílio e, de imediato, despertou uma enorme curiosidade e, ao mesmo tempo, expectativas esperançosas quanto às reformas que se anunciavam neste documento.

Também a Diocese de Aveiro viveu esta expectativa e esperança de novos tempos e de novos rumos. Assim, em 14 de Fevereiro de 1964, o bispo da Diocese, D. Manuel de Almeida Trin-dade, que participou em todas as sessões conciliares, dirige uma carta ao clero em que resume e completa a informação dada nas Conferências Eclesiásticas de Janeiro desse ano bem como a apli-cação da Constituição De Sacra Liturgia, de 4 de Dezembro do ano anterior sobre as prescrições do Motu proprio Sacram Liturgiam, de 25 de Janeiro de 1964 1. Dá conta, D. Manuel Trindade, que na Diocese já se tinha constituído a “Comissão de Liturgia e de Música Sacra”, como prescreve o documento da Santa Sé, bem como a ‘Comissão de Arte Sacra’ «que tão assinalados serviços tem prestado na defesa do património artístico da Diocese e na orientação dada em obras de restauração de novos templos», remodelando e enriquecendo esta mesma ‘Comissão’ com dois novos membros, à data da publicação da carta 2.

Em 1980, porém, como prevê o Plano de Acção Pastoral da Diocese, são atribuídas novas competências ao Secretariado da Liturgia que passam a ser: «animar as equipas litúrgicas das paró-quias; promover a formação permanente e contínua dos ministros extraordinários da comunhão e preparar os candidatos a este ministério; apoiar a criação e valorização dos diversos ministérios na assembleia; acompanhar o trabalho de remodelação dos templos antigos e da construção de novos; educar o gosto musical-litúrgico das comunidades eclesiais; colaborar com os Secretariados afins de outras dioceses e com o Nacional correspondente; velar pela conservação do património artístico-religioso» 3.

Se o bispo conciliar tinha a preocupação de ir renovando a vida litúrgica da Diocese, é certo que lhe encontrou já uma certa predisposição para o seu acolhimento favorável.

Efectivamente, desde a restauração da mesma, D. João Evangelista teve a preocupação de enviar os candidatos ao ministério ordenado a frequentar o Seminário Patriarcal dos Olivais, em Lisboa, onde encontraram e foram alunos do seu Reitor, Mons. Pereira dos Reis, um dos maiores expoentes em Portugal do Movimento Litúrgico.

O saber e o espírito deste grande homem da liturgia foi, sem dúvida, absorvido pelos seus alunos e futuros padres de Aveiro. Após o seu afastamento da docência e do próprio Seminário dos Olivais, outros mestres se lhe sucederam, tal como o Pe. José Ferreira, certamente o seu melhor discípulo, que continuou na mesma senda do mestre Mons. Pereira dos Reis. Não foi, pois, difícil aos bispos anteriores ao Concílio, que na sua acção pastoral não descuraram de modo algum as questões litúrgicas bem como a educação litúrgica do povo de Deus, encontrar eco na acção pastoral confiada aos padres da Diocese. Esta educação propiciou muito favoravelmente a educação para a renovação litúrgica ao longo dos anos, até aos nossos dias, destacando-se a realização dos Congres-sos Eucarísticos em Vagos, Anadia, Águeda, Estarreja e Sever do Vouga, as Semanas Pastorais, também com incidência litúrgica, Cursos de Liturgia, etc.

Todas estas acções foram preparando os diocesanos e propiciando uma grande abertura de espírito para as grandes reformas que o Concílio veio propor, tendo encontrado eco favorável o pró-prio desígnio conciliar de que os fiéis tenham na liturgia uma verdadeira participação consciente,

1 Cf. Georgino Rocha, Acção Pastoral da Diocese de Aveiro, do Vaticano II às Festas Jubilares da Restauração

(1962/63 ‒ 1987/88), Centro de Acção Pastoral de Aveiro, 2º Vol., Aveiro 1990, 228. 2 Ibidem, 228. 3 Cf. SDP, O Domingo na Renovação da Igreja – Programação do 2º Ano Pastoral, 1980-81, Aveiro 1980, 21.

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activa e frutuosa (cf. SC 11). Mais uma vez, como lhe competia, o Secretariado Diocesano se empe-nhou nesta tarefa, sob a responsabilidade de Mons. Aníbal de Oliveira Marques Ramos que, assu-mindo as responsabilidades diocesanas, ao mesmo tempo veio a acumular as do Secretariado Nacional de Liturgia. Esta é uma das razões da grande mobilização de diocesanas aveirenses para a participação nos Encontros Nacionais de Liturgia, que se têm vindo a realizar sucessivamente ao longo dos anos, no Santuário de Fátima, e que se foram igualmente constituindo como uma escola litúrgica que tanto bem tem realizado na formação dos agentes de pastoral litúrgica.

De alguns anos a esta parte, tem o Secretariado assegurado uma colaboração gratuita e gene-rosa com o Centre de Pastoral Litúrgica de Barcelona que, através dos seus estudos e publicações tem oferecido à diocese a possibilidade de uma formação pessoal e de grupo em várias paróquias, por meio dos suas equipas de liturgia. Assim, desenvolveram-se, ao longo de um ano, sete cateque-ses eucarísticas, devidamente apoiadas com material didáctico e, ultimamente a formação, a um nível mais generalizado, por meio da publicação das Folhas azuis as quais foram substituídas pela actual publicação do Bloco MD.

Este tem sido o contexto em que se desenvolveu o último ano do nosso Plano Pastoral, cuja terceira etapa foi toda ela perspectivada sobre a dimensão orante e litúrgica da Igreja, como lugar de esperança.

É na sequência desta terceira etapa do Plano Diocesano para o quinquénio preparatório do jubileu da Diocese que importa olhar o futuro.

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III - Princípios Orientadores Os princípios que hão-de orientar a vida diocesana no campo litúrgico não podem ignorar o que de relevante aconteceu na Diocese, aquando da celebração do seu II Sínodo Diocesano. Ele aponta à Diocese aqueles princípios aos quais se deve dar uma particular atenção, tais como:

• Ter como princípio orientador a necessidade da oração, como a Sagrada Escritura tanto insiste e nos refere ter sido uma constante na vida do Senhor.

• Por isso, o Concílio Vaticano II recomenda aos baptizados, reconhecendo, na esteira da pri-meira carta de Pedro, que os cristãos são consagrados para serem casa espiritual, sacerdócio santo, para que se ofereçam a si como hóstias vivas, santas e agradáveis a Deus e ofereçam sacrifícios espirituais, pelos quais se tornem anunciadores dos louvores d’Aquele que das trevas os chamou à sua luz admirável, inclusivamente dando testemunho àqueles que lho peçam (cf. I Pe 3, 15), dando igualmente a razão da esperança que habita na sua vida (cf. LG 10).

• Daí que todo o culto público, bem como a oração e a penitência, atingindo e afectando toda a humanidade pode contribuir para a salvação do mundo inteiro (cf. AA 16), já que a liturgia é a meta de toda a acção que a Igreja realiza e, ao mesmo tempo, a sua fonte onde vai buscar a energia necessária à sua própria acção (cf. SC 10).

• Com estes pressupostos, o II Sínodo Diocesano, entende e propõe que a «Diocese inteira se converta numa comunidade de orantes que perseverem ‘unanimemente em oração’ a adorar o Pai ‘em espírito e em verdade’ 4, visto que, “é desejo ardente da mãe Igreja que todos os fiéis cheguem àquela plena, consciente e activa participação nas celebrações litúrgicas, que a própria natureza da Liturgia exige e que é, por força do Baptismo, um direito e um dever do povo cristão, ‘raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido’”» (SC 14) 5.

• Por isso, a Igreja diocesana impelida pelo Espírito e mantendo-se atenta às diferentes situa-ções humanas deverá organizar os meios necessários para a digna celebração dos mistérios da fé, valorizando a Eucaristia dominical de maneira a tornar-se uma verdadeira escola de oração para as comunidades, para as pessoas e para as famílias.

• Deverá também promover o espírito de oração quer nos cristãos quer nas comunidades e que este espírito esteja presente em todos os processos de formação dos quais deverá ser a sua alma e, por outro lado, estimular e apoiar grupos de oração, de maneira que estes possam ser a expressão de uma ‘Diocese orante e comprometida no mundo com os valores de Reino e os critérios evangélicos’ 6, pelo que é necessário «promover a formação e educação litúrgica de todo o povo cristão pelos meios ao seu alcance» 7.

• O sonho que o II Sínodo Diocesano tem desenvolve-se em três níveis: o dos membros da Igreja diocesana, o das comunidades eclesiais e o das estruturas pastorais.

• No que se refere ao primeiro nível, o dos membros da Igreja diocesana, começa-se por pedir que se reconheça a importância da educação litúrgica permanente, da celebração do Ano litúrgico, cujo centro é o Tríduo Pascal, da celebração da Eucaristia dominical assim como dos sacramentos e sacramentais para que constituam um ponto convergente da vida cristã e alimento para toda a oração e actividade dos fiéis; que se fomente e organize a participação activa e consciente dos membros da assembleia litúrgica e dos agentes litúrgicos pelas

4 Sagrada Congregação dos Bispos, Directório do Ministério Pastoral dos Bispos, n. 77, Trad. port., Coimbra 1976, 76. 5 Diocese de Aveiro, II Sínodo Diocesano de Aveiro 1990-1995, Diocese de Aveiro 1995, 107. 6 Ibidem, 108. 7 Ibidem.

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diversas formas de participação; que se ensine e promova a oração, explícita, espontânea e organizada, em todos os âmbitos da vida para revigorar e fomentar o espírito familiar e ecle-sial, intercedendo pelas intenções da Igreja e pela sua unidade, suscitar vocações de consa-gração e ao compromisso de cada uma com a vida e os problemas da sociedade.

• Quanto ao segundo nível, o das comunidades eclesiais, é proposto que se valorize a celebra-ção da Eucaristia dominical, preparando-se cuidadosamente todas as celebrações, sejam dio-cesanas ou paroquiais, para que estas, em espírito de família, ajudem e ensinem o povo cris-tão a rezar e a prestar o devido culto a Deus; que o Tríduo Pascal seja especialmente cuidado e se dê à Vigília Pascal a maior solenidade; que os sacramentos e sacramentais com uma maior envolvência social mereçam uma especial atenção já que muitos fiéis neles participam ocasionalmente sem compromisso cristão; e que se diversifiquem as celebrações destes mesmos sacramentos e sacramentais atendendo à situação de fé e de integração eclesial dos participantes e da sua própria capacidade de compreensão e de participação.

• Finalmente, no que ao terceiro nível se refere, o das estruturas pastorais, aí se pede que sejam estruturados os serviços diocesanos de Liturgia para poderem ser na Diocese motor de renovação litúrgica e do espírito de oração; que sejam criadas ou reactivadas as Equipas de animação Litúrgica nos arciprestados para que possam promover e apoiar os serviços de Liturgia e promoverem também a formação litúrgica do Povo de Deus; que sejam prepara-dos adequadamente os que presidem às celebrações da assembleia e instituídos, após uma formação específica, aqueles que exerçam ministérios litúrgicos laicais, como sejam os lei-tores, os acólitos e os animadores das celebrações dominicais sem Eucaristia; e que seja apoiada e estimulada a Escola Musical Litúrgica, em ligação com o ISCRA, como escola para a Liturgia.

• Para implementar estes Princípios Orientadores o II Sínodo Diocesano propunha algumas estratégias a que a programação da III Etapa do Plano Pastoral, que se tem estado a viver neste quinquénio preparatório das festas jubilares, procurou corporizar. Elas mantêm a sua capacidade mobilizadora para os próximos anos. Para isso, insistem na necessidade de esta-belecer-se um plano de educação litúrgica do Povo de Deus, promovendo activamente a Pas-toral do Domingo sem esquecer o ambiente secularista que vivemos e que se tem vindo a acentuar; formando equipas de liturgia e fomentando grupos de oração com espírito eclesial e formação teológica, para se transformarem em escolas de oração nas comunidades.

• A necessidade de revitalizar momentos de oração nas paróquias e apoiar as comunidades religiosas e movimentos que tenham propostas de renovação paroquial, como comunidade orante; favorecer um clima propício para se criarem hábitos de oração familiar e dar às famí-lias subsídios e apoios para o garantir.

• A necessidade de promover a renovação litúrgica das formas públicas de religiosidade e piedade popular, muito particularmente as mais significativas, para serem um caminho pedagógico que leve os fiéis ao encontro da celebração do Mistério Pascal que, de algum modo, nelas está contido.

• E constata-se também a necessidade de elaborar orientações pastorais para as celebrações litúrgicas em grupos e em pequenas assembleias sem deixar de ter presentes as orientações e as normas da Igreja.

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IV - Estruturas e Organização

O SDPL deve ter como meta principal da sua acção a pastoral litúrgica a qual ajuda a purifi-car a celebração daquelas deficiências, rotinas, superficialidades, comportamentos contraditórios que, por vezes, afastam os fiéis da Igreja. Com efeito, a pastoral litúrgica é fundamentalmente edu-cativa. Daí que a sua principal tarefa seja a de educar o povo de Deus de acordo com o sentido pró-prio de Deus e com a verdadeira dimensão do sagrado; introduzir os crentes no espírito da celebra-ção litúrgica, gerar o sentido de Igreja; ensinar a participar, activamente, na oração comunitária; ajudar a compreender o significado e a profundidade das diversas celebrações, etc. Trata-se de um trabalho lento e progressivo que deverá ser feito mediante etapas a atingir e com realismo. Contudo, este é um trabalho que toda e qualquer comunidade cristã não pode descurar para não cair na rotina, mas possibilite uma vivência de fé cada vez mais profunda e amadurecida.

Os principais campos de actuação a que uma eficaz pastoral litúrgica deverá prestar uma especial atenção são:

Pastoral do Domingo

Para os cristãos “o domingo é, pois, o principal dia de festa a propor e a inculcar no espírito dos fiéis… porque o domingo é o fundamento e o centro de todo o ano litúrgico” (SC 106). A vida hodierna tem tornado mais difícil a vivência do domingo, mas este continua a ser o centro da vida da comunidade. Por isso mesmo, a pastoral litúrgica deve estar atenta para recuperar toda a profun-didade do domingo como o dia da ressurreição, o dia da Eucaristia, o dia da assembleia cristã, o dia da escuta da Palavra de Deus, o dia do descanso e da esperança.

Tudo isto exigirá uma acção pastoral que abarque os diversos aspectos: a missa vespertina de domingo; a distribuição adequada dos horários e do número de missas; o chamamento feito pelo toque dos sinos; o acolhimento; e a própria celebração em si mesma.

Pastoral do Ano Litúrgico

Declara o Concílio Vaticano II que a Igreja “distribui todo o mistério de Cristo pelo correr do ano, da Encarnação e Nascimento à Ascensão, ao Pentecostes, à expectativa da feliz esperança da vinda do Senhor. Com esta recordação dos mistérios da Redenção, a Igreja oferece aos fiéis as riquezas das obras e merecimentos do seu Senhor, a ponto de os tornar como que presentes a todo o tempo, para que os fiéis, em contacto com eles, se encham de graça” (SC 102). Deste modo, o ano litúrgico torna-se o alimento principal da espiritualidade dos fiéis e a melhor pedagogia para crescer na fé e incorporação em Cristo. Ordenado segundo um calendário próprio, o ano litúrgico é a coluna vertebral da vida da comunidade. Exigirá, por isso, o cuidado e a preparação adequada dos diversos tempos litúrgicos (Advento, Natal, Quaresma, Semana Santa, Tríduo Pascal, Páscoa, Pentecostes, Tempo Comum) para ajudar os fiéis a viver o espírito próprio de cada um deles. Pastoral da Liturgia Sacramental

A liturgia sacramental exige uma preparação própria, pois é nos sacramentos que a liturgia cristã atinge o seu ponto mais alto. A equipa de liturgia deve prever que se faça a catequese, prévia e necessária, para preparar a celebração de cada sacramento e deverá trabalhar para que esta celebração seja viva e autêntica. Assim: A pastoral da iniciação cristã abrange o catecumenato de adultos, o baptismo de crianças, a confirmação e a primeira comunhão. A pastoral destes sacramentos terá de ir mais longe que preo-

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cupar-se essencialmente com a preparação imediata dos mesmos, mas deve integrar também, a celebração digna e frutuosa, tendo em conta não só os candidatos como igualmente toda a comuni-dade. A pastoral da assembleia eucarística tem como objecto a participação na eucaristia domini-cal e o culto eucarístico fora da missa. Esta pastoral requer uma atenção especial à correcta celebra-ção de determinadas partes da missa, como a da Liturgia da Palavra, os cânticos, a Oração Eucarís-tica e a comunhão sacramental (cf. SC 55). Tem igualmente a tarefa de enriquecer o culto eucarísti-co fora da missa, promovendo, por exemplo, a adoração ao Santíssimo Sacramento. A pastoral do sacramento do matrimónio abrange a celebração do matrimónio cristão, o aniversário de casamento e a liturgia familiar, campo para o qual se começa a despertar e a dar os primeiros passos na pastoral litúrgica. A pastoral penitencial compreende o sacramento da reconciliação e os tempos penitenciais. As celebrações penitenciais são um belo instrumento de renovação comunitária e os tempos peni-tenciais são uma boa oportunidade para fazer reviver o espírito baptismal e realizar determinadas acções como, por exemplo, esmolas, jejuns, etc. A pastoral dos doentes compreende a comunhão, o sacramento da Unção dos Doentes, o Viático e a entrega dos moribundos a Deus ou a encomendação das suas almas. A pastoral da morte cristã abrange a celebração das exéquias, o aniversário do falecimento, a comemoração dos defuntos e o seu culto em geral. Pastoral da Oração Comunitária

Toda a comunidade cristã deve convocar os seus fiéis também para a oração comunitária. São muitos os cristãos que sentem a necessidade do silêncio, da oração, do encontro com Deus… A equipa de liturgia tem aí uma tarefa a realizar, progressivamente: oferecer encontros de oração e de revisão de vida; preparar e adequar à comunidade novas formas de oração; ajudar os fiéis a orar em silêncio; oferecer-lhes a possibilidade de escutar a Palavra de Deus num clima de silêncio e de sos-sego… Estes encontros de oração não deveriam acontecer à margem da liturgia, mas deveriam ins-pirar-se nela e ser um prolongamento de tudo quanto é vivido na celebração litúrgica. Neste sentido tem todo o cabimento organizar momentos de oração nos tempos litúrgicos e que esta organização fosse confiada a grupos de oração que os promovessem sem requerer necessariamente a presença de um ministro ordenado. Pastoral da Piedade e Religiosidade Popular

O povo de Deus ao longo da história foi desenvolvendo uma religiosidade popular que, com alguma frequência, sofre de desvios e deficiências notáveis, mas que contém valores e experiências que alimentaram, e continuam a alimentar, a sua fé. Não se pode, pois, ignorar nem desprezar esta religiosidade popular. A liturgia deve ser celebrada, cada vez mais, como liturgia viva, participada e enraizada no povo de Deus. Contudo, deve-se rever, purificar e cuidar dos valores que a religiosidade popular oferece, vinculando-a cada vez mais com a vida litúrgica da Igreja (cf. SC 13, 60, 105, 111; cf. Directório sobre a Piedade

Popular e a Liturgia, nn. 11-13). Neste âmbito deve dar-se especial atenção às devoções populares e aos exercícios piedosos que ainda têm eco em vários sectores do povo: a religiosidade nascida da devoção a Maria e o culto aos Santos (novenas, tríduos); a prática dos meses devocionais (Maio, Junho, Outubro, Novembro), dedicados à Virgem Maria, ao Sagrado Coração de Jesus, ao Rosário e aos defuntos); a religiosida-de à volta dos santuários, ermidas e lugares de culto (romarias, peregrinações, procissões, etc.).

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Estruturas organizativas

No que respeita à organização dos serviços litúrgicos diocesanos, pediu o nosso II Sínodo, ao referir-se às “Estruturas pastorais”: «sejam estruturados os serviços diocesanos de Liturgia, para que possam ser na Diocese motor de renovação litúrgica e do espírito de oração» 8. Como em todos os serviços e secretariados diocesanos, também neste sector da vida eclesial, a primeira responsabilidade é sempre do Bispo da Diocese.

O Secretariado Diocesano da Pastoral Litúrgica (SDPL), designação actual, orientado por um Director-Coordenador tem ao seu encargo as tarefas que lhe foram cometidas explicitamente, desde 1980, às quais já se fez referência mais acima. Por outro lado, o II Sínodo Diocesano veio trazer novos empenhamentos que a III Etapa do actual Plano Pastoral Diocesano reforçou. Neste sentido, aí se prevê e propõe nos seus Objectivos específicos: «rever as estruturas e serviços dioce-sanos de liturgia para melhor responderem às solicitações da Diocese».

Assim, propõe-se que o SDPL se apresente com a seguinte estrutura:

1. Serviço da Direcção-Coordenação

Este serviço é presidido e coordenado pelo responsável diocesano nomeado pelo Bispo e constituído por cada um dos responsáveis dos restantes serviços que inte-gram o Secretariado. Terá por missão programar, coordenar e orientar toda a actividade litúrgica a apre-sentar em programação diocesana em cada ano pastoral, procurando atender às dife-rentes necessidades da Diocese, dos arciprestados e, na medida do possível, das paróquias que requeiram a sua ajuda.

2. Serviço da Formação Litúrgica

O serviço será coordenado pelo um responsável cuja nomeação será feita pelo Bispo da Diocese, sob proposta do responsável diocesano do SDPL. A sua competência versará todas as acções de formação geral de pastoral litúrgica, mormente o apoio com subsídios em formato escrito, power point ou outros que se possam divulgar junto dos agentes de pastoral litúrgica e do povo de Deus em geral, e estimular a criação das Equipas de Animação Litúrgica a nível paroquial ou arci-prestal.

3. Serviço de Leitores

O serviço de Leitores será coordenado por um responsável nomeado pelo Bispo da Diocese, sob proposta do responsável diocesano do SDPL. Terá como competência a formação específica e o apoio à formação de Leitores litúrgicos através de cursos especializados sobre a Palavra de Deus e da sua celebra-ção, bem como os aspectos técnicos e práticos para a sua correcta proclamação.

4. Serviço de Acólitos

a) Acólitos Juvenis O serviço será orientado por uma equipa coordenada por um responsável nomeado pelo Bispo da Diocese, sob proposta do responsável do SDPL. A sua incidência de trabalho pastoral exercer-se-á no âmbito dos acólitos juvenis, ou seja, aqueles que estão em processo normal de catequese paroquial.

8 Diocese de Aveiro, II Sínodo Diocesano, 110.

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Além da formação específica para este sector, a equipa terá a seu encargo a progra-mação e coordenação de encontros arciprestais e paroquiais de acólitos, retiros e outros momentos de formação técnica e espiritual, levando os acólitos a descobrir a beleza do serviço do altar. b) Acólitos Jovens-Adultos O serviço deste grupo de acólitos será orientado por uma equipa coordenada por um responsável nomeado pelo Bispo da Diocese, sob proposta do responsável do SDPL. Terá como objectivo a formação teórico-prática e espiritual destes jovens-adultos que se dispõem a servir o altar, e para os quais a assembleia olha com maior atenção e exigência; a formação realizar-se-á através de encontros arciprestais e, na medida do possível, paroquiais. Deles se requer, pois, uma maior responsabilização pelo ser-viço que prestam, pelo que a sua formação deverá ser mais exigente, pois se poderão tornar também eles responsáveis pela primeira formação de acólitos juvenis nas suas respectivas paróquias. Estas duas equipas de formação de Acólitos terão ainda ao seu encargo programar e organizar um Encontro Diocesano de Acólitos, em cada ano pastoral, e organizar a participação dos acólitos da Diocese na Peregrinação Nacional, em Fátima.

5. Serviço dos Ministros Extraordinários da Comunhão

Este serviço será coordenado e dirigido por um responsável cuja nomeação será feita pelo Bispo da Diocese, sob proposta do responsável do SDPL. A este serviço compete programar, propor e dirigir a formação inicial dos candidatos ao ministério de MEC e a verificação das condições de admissibilidade dos mesmos, segundo as Normas Diocesanas, para submeter os requerimentos à concordância do Bispo da Diocese. A apresentação dos candidatos será feita pelos párocos em reque-rimento ao Bispo Diocesano dentro dos prazos estabelecidos pelo serviço, tendo em conta as orientações da Instrução Imensæ Caritatis, de 29 de Janeiro de 1973 e as Normas Diocesanas em vigor. Será ainda da competência deste serviço a formação permanente dos MEC, que se realiza bimestralmente, e a programação e organização anual do retiro diocesano. Ao Serviço dos MEC corresponde a verificação das condi-ções para a renovação do mandato trienal, a pedido dos párocos, a submeter à apre-ciação e aprovação do Bispo diocesano.

6. Serviço da Música Sacra

O Serviço de Música Sacra será orientado por um responsável cuja nomeação será feita pelo Bispo diocesano, sob proposta do responsável do SDPL. Ao Serviço da Música Sacra competirá a formação inicial e permanente dos agentes do canto litúrgico, entre os quais se situam os coros, salmistas, organistas e demais instrumentistas, director de coro e director de assembleia, bem como a educação para o canto litúrgico do povo de Deus em geral. Este Serviço será distinto da Escola Dio-cesana de Música Sacra, embora possa ser exercido em colaboração com a mesma.

7. Serviço de Ambientação do Espaço Litúrgico

O Serviço de Ambientação do Espaço Litúrgico será orientado por um responsável cuja nomeação será feita pelo Bispo diocesano, sob proposta do responsável do SDPL. A este Serviço competirá apresentar as orientações da Igreja quanto ao ordenamento do espaço litúrgico, tendo em conta os princípios orientadores que se condensam nas disposições da Constituição Conciliar do Vaticano II, Sacrosanctum Concilium, e na

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Instrução Inter Œcumenici. Dentro destes princípios há que salientar algumas quali-dades que se devem notar, como sejam, a autenticidade no que respeita aos materiais que compõem e adornam os lugares da celebração (cf. SC 122); a sobriedade ou sim-

plicidade, de acordo com o espírito evangélico (cf. SC 124); criatividade na arte de adornar o espaço celebrativo com os elementos naturais (cf. SC 127); elegância e

simplicidade, especialmente no que se refere aos paramentos litúrgicos, de modo que estes se distingam por um toque de distinção, elegância e virilidade, sem desprimor para a qualidade artística, dentro da sobriedade acima referida; limpeza dos interiores e exteriores do lugar da celebração e esmero em todos os elementos e objectos litúr-gicos que constituem também um sinal e um chamamento à pureza interior como condição indispensável para participar activa e frutuosamente na Liturgia (cf. Instru-ção Eucharisticum Mysterium (1967), 24; cf. Cerimonial dos Bispos, 38).

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V - Caminhos a Percorrer Para a implementação deste Plano Diocesano de Pastoral Litúrgica importa dar alguns pas-sos para que seja posto em execução. Assim entende-se imprescindível:

• Estruturar o SDPL de acordo com a proposta apresentada neste Plano e prover cada Serviço com o seu responsável.

• Assumir o SDPL como o coordenador e motor de toda a acção pastoral litúrgica da diocese.

• Dinamizar acções de sensibilização para a diocese no seu todo e suas comunidades arciprestais ou, na medida do possível, paroquiais no sentido de assumirem os desíg-nios do Concílio Vaticano II de uma maior participação activa, consciente e frutuosa dos fiéis nas acções litúrgicas e na valorização da religiosidade popular à luz dos ensinamentos da Igreja, bem como do II Sínodo da Diocese de Aveiro.

• Criar e implementar ao nível mais local as Equipas de Liturgia para que estas sejam verdadeiro motor de sensibilidade e de formação litúrgica nas diversas comunidades celebrativas.

• Envolver os Diáconos Permanentes na pastoral litúrgica onde são também agentes privilegiados pelo serviço que a Igreja lhes comete.

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Conclusão A liturgia é a actuação sacramental do mistério de Cristo e, por conseguinte, de toda a histó-ria da salvação. Na acção sacramental da liturgia a história da salvação alcança o seu momento último de actuação.