plano de pormenor da zona balnear dos anjos · considerando a localização privilegiada da área...

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PLANO DE PORMENOR DA ZONA BALNEAR DOS ANJOS Fase 1 – Caracterização, Diagnóstico e Pré-proposta Janeiro de 2012

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PLANO DE PORMENOR DA ZONA BALNEAR DOS ANJOS Fase 1 – Caracterização, Diagnóstico e Pré-proposta Janeiro de 2012

INDICE

1. Introdução 5

2. Enquadramento 9

2.1. A área de intervenção 9

2.2. Instrumentos de gestão territorial 11

2.2.1  Plano de Ordenamento da Orla Costeira da Ilha de Santa Maria [POOC] 112.2.2  Revisão do pdm_vila do porto 16

2.3. Participação pública 21

3. Caracterização da área de intervenção 23

3.1. As pessoas e as actividades 23

3.2. O território 25

3.2.1  Uso do solo 253.2.2  O sector leste da baía dos anjos 29

3.3. A ocupação urbana 30

3.3.1  O espaço edificado 313.3.2  Rede viária, circulação e estacionamento 363.3.3  Outros espaços públicos 403.3.4  Infra-estruturas 413.3.5  Compromissos urbanísticos 42

4. Estratégia de intervenção 43

5. Pré-proposta de estruturação urbana 47

ANEXOS

ANEXO_01: DESENHOS

01_USO ACTUAL DO SOLO

02_CADASTRO PRELIMINAR

03_PRÉ-PROPOSTA DE ESTRUTURAÇÃO URBANA

ANEXO_02: LEVANTAMENTO DO EDIFICADO

Técnicos Especialidade

Arqt.ª Paisag. Ana Barroco (coordenação) Arquitectura Paisagista

Arqt.ª Susana Magalhães Arquitectura e Urbanismo

Arqt.ª Rute Afonso Arquitectura e Urbanismo

Arqt.º Paisag. Rui Figueiredo Arquitectura Paisagista

Arqt.ª Maria Amaral Arquitectura e Urbanismo

Eng. Artur Costa Engenharia civil

Eng. Nuno Cruz Geologia

Dr. António Duarte de Almeida Direito

Alfredo Ferreira Design Gráfico

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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1. INTRODUÇÃO

A área de intervenção encontra-se situada na freguesia de Vila do Porto, junto ao litoral, numa zona privilegiada quer do ponto de vista ambiental, quer paisagístico, abrangendo a área urbana que envolve uma importante zona de recreio balnear, o núcleo urbano dos Anjos.

Figura 1.1_Vista geral sobre a área de intervenção do PP_Anjos

Fonte: Quaternaire Portugal SA

A elaboração do Plano de Pormenor da Zona Balnear dos Anjos, adiante designado por PP_Anjos, é uma orientação estratégica do Plano de Ordenamento da Orla Costeira da Ilha de Santa Maria (POOC), aprovado pelo DRR n.º 15/2008/A, de 25 de Junho. No âmbito deste instrumento de gestão territorial é definido um conjunto de objetivos específicos1 para a elaboração deste plano de pormenor, designadamente:

a) Requalificar elementos dissonantes, qualificar os espaços públicos e melhorar as infraestruturas urbanas;

b) Estabelecer regras que fomentem a diminuição de conflitos entre as diferentes pretensões de utilização do território;

c) Acautelar situações de risco identificadas como a erosão das arribas e potenciais deslizamentos de massas.

O PP_Anjos deverá, ainda, enquadrar o Plano da Zona Balnear dos Anjos previsto no âmbito do POOC, englobando na sua área de intervenção a área de utilização recreativa e de lazer e a área balnear, equacionando as intervenções necessárias para adequar esta zona balnear à tipologia 1 (nos termos da legislação posterior, Decreto Legislativo Regional nº 16/2011/A, sobre a classificação tipologia das zonas balneares na Região esta área será reclassificada para zona balnear não equipada de uso condicionado (tipo 3).

A Baía dos Anjos constitui um espaço natural encaixado junto à orla costeira com uma localização privilegiada sob o ponto de vista ambiental e paisagístico. A informalidade do tecido urbano original e a vivência do espaço urbano retratam o carácter iminentemente de lazer e de recreio da área de intervenção.

Considerando a localização privilegiada da área urbana (junto ao litoral) e a envolvente ambiental existente será fundamental na intervenção neste espaço urbano a avaliação paisagística e respetivas 1 DRR nº 15/2008/A de 25 de Junho, Art. 31.º

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propostas de integração, bem como a conceção de um modelo de desenvolvimento urbano sustentável, compatível com a vulnerabilidade ambiental e paisagística que o caracteriza.

A Zona Balnear dos Anjos apresenta-se como um território bastante ocupado, embora predominantemente com uma utilização sazonal, em que o grande desafio que se coloca à sua requalificação emerge da necessidade de encontrar uma visão coletiva consensual de transformação futura do espaço face à importância estratégica que este núcleo desempenha quer como área de 1ª e 2ª residência, quer em termos de potencial desenvolvimento turístico atendendo a que tem:

a) uma localização privilegiada junto à orla marítima, numa baia encaixada e com uma envolvente natural e paisagística impar;

b) uma proximidade a Vila do Porto que lhe permite atrair população que vive e trabalha na sede do concelho mas que usufrui este espaço no seu tempo de lazer e recreio;

c) uma imagem urbana informal, de carácter “quase efémero” na frente urbana mais marítima, fruto de uma ocupação com construções “ligeiras” de utilização sazonal, mas de contraste em relação às edificações recuadas mais recentes;

d) uma linguagem urbanística heterogénea, por vezes quase dissonante mas onde o tradicional e a modernidade convivem, à procura de um equilíbrio e de uma identidade própria;

e) uma zona marginal muito aprazível, onde as vivências e o convívio intergeracional são dominantes e o espaço público apropriado e vivido por todos os que residem ou visitam a Baía dos Anjos.

No que se refere à avaliação ambiental estratégica do Plano, segundo o Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial (RJIGT), os planos de pormenor “que impliquem a utilização de pequenas áreas a nível local só são objeto de avaliação ambiental no caso de se determinar que são suscetíveis de ter efeitos significativos no ambiente” (número 5 do artigo 74º do RJIGT).

Nestes termos, compete à câmara municipal ponderar a necessidade de elaboração da Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) face ao âmbito e aos efeitos ambientais resultantes da aplicação do Plano.

A área de intervenção do Plano de Pormenor da Zona Balnear dos Anjos integra solo urbano e solo rural, nos termos do PDM, correspondendo a uma área total de 25 ha. Destes apenas cerca de 4,8 ha (19% do total da área de intervenção), são classificados como solo urbano, dos quais cerca de 3,6ha (75%) correspondem a espaços urbanos consolidados e cerca de 1,2ha (25%) a espaços urbanos a consolidar. A restante área é classificada como solo rural sobre a qual incidem cumulativamente um conjunto de restrições significativas em termos de uso, ocupações e transformação do solo com as quais o Plano de Pormenor da Zona Balnear dos Anjos terá que se conformar.

Atendendo a que o Plano de Pormenor da Zona Balnear dos Anjos:

a) Decorre das orientações do Plano de Ordenamento da Orla Costeira de Santa Maria, publicado pelo DRR n.º 15/2008/A, de 25 de junho;

b) Foi integrado e reavaliado posteriormente na revisão do Plano Diretor Municipal, que aguarda publicação;

c) Ambos os planos referidos anteriormente foram sujeitos a AAE das quais não há nenhuma orientação específica para a área objeto de Plano;

d) Trata-se da elaboração de um plano que tem como objetivos fundamentais aspetos de requalificação urbanística e desenvolvimento urbano sustentável;

e) Abrange uma área de intervenção pequena, de escala local,

a câmara municipal entende que não há justificação para se proceder à AAE deste Plano de Pormenor já que considera que a proposta de plano não é suscetível de ter efeitos significativos no ambiente.

O presente relatório integra a primeira fase da elaboração do Plano, denominada Caracterização, Diagnóstico e Pré-Proposta, onde se apresenta a análise e caracterização da área de intervenção,

complementada por um diagnóstico estratégico e uma primeira proposta de modelo de ocupação e desenvolvimento urbano.

O relatório que se apresenta encontra-se estruturado em quatro partes fundamentais:

A primeira, que corresponde ao capítulo 2, apresenta um enquadramento da área de intervenção e sintetiza o quadro de referência estratégica das principais orientações estabelecidas pelos instrumentos de gestão territorial de âmbito nacional e regional, que enquadram a elaboração do PP_Anjos;

A segunda, relativa ao capítulo 3, procede à caracterização da área de intervenção segundo os vários domínios sectoriais e que configuram a situação existente;

A terceira, correspondente ao capítulo 4, apresenta um breve diagnóstico prospetivo com base nas diversas componentes analisadas e a partir do qual se estabelece a estratégia de intervenção;

E a última, respeitante ao capítulo 5, formula a primeira proposta de organização espacial da área do PP_Anjos assente nos objetivos e nas apostas estratégicas definidas, materializada num conjunto de desenhos ilustrativos das opções, bem como na identificação das principais regras e parâmetros urbanísticos associados.

Os trabalhos de terreno decorreram no mês de Julho, tendo-se recolhido os elementos indispensáveis à caracterização e diagnóstico da área de intervenção, bem como de suporte à formulação das linhas de orientação da proposta futura. Esta informação foi sistematizada numa base de dados que se encontra em anexo (veja-se Anexo 2).

Refira-se ainda que os trabalhos de execução da cartografia e levantamento cadastral ainda se encontram em curso, só sendo integrados no estudo na fase seguinte,

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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2. ENQUADRAMENTO

2.1. A ÁREA DE INTERVENÇÃO

Integrada no Grupo Oriental da Região Autónoma dos Açores (RAA), a ilha de Santa Maria possui 5.547 habitantes (segundo os dados preliminares do Censo 2011) e é composta por um único concelho – Vila do Porto – que ocupa cerca de 97 km² e se divide em cinco freguesias: Vila do Porto, Almagreira, Santa Bárbara, Santo Espírito e São Pedro.

Santa Maria apresenta uma morfologia única, como que dividida ao meio através de uma cordilheira de picos vulcânicos: a “metade” ocidental da ilha apresenta uma configuração essencialmente plana e de baixas altitudes, enquanto a parte oriental possui um relevo mais acidentado, coberto por manchas de vegetação arbórea significativas, desenvolvendo-se sempre acima da cota 200m. A morfologia litoral é bastante recortada com existência frequente de baías, por vezes com falésias de grande altura.

A localização geográfica periférica da ilha no contexto do arquipélago e, ao mesmo tempo, a proximidade relativamente a São Miguel, as características do solo e morfologia próprias de Santa Maria justificam algum isolamento e dificuldade de acessibilidade, bem como a fraca dinâmica económica que se tem verificado na última década.

O território municipal caracteriza-se por um padrão de urbanização de carácter marcadamente rural, de baixa densidade e pequena dimensão, à exceção do centro urbano de Vila do Porto que apresenta as densidades de edificação mais elevadas da ilha. Os núcleos urbanos desenvolveram-se maioritariamente para o interior da ilha, afastados da linha de costa, sobretudo ligados à atividade agropecuária e completamente dependentes da sede de concelho.

Em termos de população residente no concelho de Vila do Porto registou-se um aumento significativo entre as décadas de 1950 e 1960, tendo vindo a diminuir desde então, com uma regressão demográfica mais acentuada na década de 1970 em que, neste período, o concelho perdeu mais de ¼ da sua população. De acordo com os resultados preliminares dos Censos 2011 verifica-se um ligeiro decréscimo da população residente no concelho em relação a 2001, tendo diminuído de 5.578 para 5.547 residentes, o que corresponde a uma variação de -2,9%. Verifica-se, contudo, a manutenção da distribuição territorial da população no concelho, ou seja mais de metade da população concentra-se na freguesia sede de concelho, sendo as freguesias de Santa Barbara e Almagreira as que continuam a apresentar um efetivo populacional menos significativo. No entanto, o número de famílias cresceu na última década, passando de 1.816 famílias para 2.016 famílias em 2011, ou seja cerca de 11,01%.

É no centro urbano de Vila do Porto que se concentram as principais funções urbanas e os grandes equipamentos de utilização coletiva, tais como as atividades económicas mais relevantes, os serviços públicos e os equipamentos sociais, educativos e de saúde.

Ao nível do parque edificado, os edifícios existentes estão quase exclusivamente associados à função habitacional, de baixa volumetria – a construção em altura é praticamente inexistente - e apresentam uma distribuição dispersa no território, muitas vezes não acompanhando as principais vias de comunicação. Relativamente a 2001, no concelho verifica-se um aumento dos alojamentos e dos edifícios, cerca de 1,94% e 2,84% respetivamente.

A área de intervenção do PP_Anjos localiza-se na costa norte do concelho, na freguesia de Vila do Porto, numa zona privilegiada do ponto de vista ambiental e paisagístico, abrangendo cerca de 25ha, onde se inclui a área urbana que envolve uma importante zona balnear - a Piscina dos Anjos. Importa reter que destes 25 ha apenas cerca de 5,1 ha tem uma ocupação dominantemente urbana, a zona a nascente /norte da baia do Anjos, possível área de expansão do núcleo urbano dos Anjos, corresponde a cerca de 2,8 ha e, complementarmente, o sector a Este da Baia dos Anjos, a zona de baía, plana, corresponde a uma área com cerca de 4,5 ha. Desta análise parcelar das diferentes áreas que compõem a área de intervenção resulta que cerca de 12 ha são ocupados ou pela orla

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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costeira e respetivos equipamentos existentes (piscinas, área portuária, espaço público, etc.) ou pelas arribas

Segundo os dados preliminares do Censos de 2011, este lugar regista um crescimento quer em termos de população residente, passando de 30 para 38, e número de famílias, mais 5 famílias residente em 2011, quer em termos do número de edifícios ou alojamentos, de 45 para 52 em 2011, constituindo uma situação de exceção ao nível do município.

Esta capacidade de fixação verificada na última década teve consequências ao nível do parque habitacional, reduzindo a percentagem de alojamentos de ocupação sazonal já que se construíram 7 novos edifícios mas fixaram-se 5 novas famílias. Assim, dos cerca de 52 alojamentos existentes cerca de 70% são de ocupação sazonal

Em síntese, a área em estudo tem uma população de 38 residentes e 16 famílias em 2011, a que corresponde mais 8 residentes e 5 famílias do que em 2001 como se referiu, apresenta um parque habitacional constituído por cerca de 52 edifícios /alojamentos, mais 7 alojamentos ou edifícios do que em 2001, dos quais mais cerca 70% são de ocupação sazonal (valor inferior ao verificado em 2001, que correspondia a cerca 75%).

Figura 2.1_Vista geral sobre a área de intervenção do PP_Anjos

Localiza-se a sensivelmente 5 km da sede de freguesia, onde se encontram os principais equipamentos de utilização coletiva do município, nomeadamente as escolas, o complexo desportivo, os serviços administrativos, entre outros. Aqui encontram-se também os grandes estabelecimentos de comércio e serviços de proximidade, de suporte à função residencial.

A delimitação da área de intervenção corresponde aos limites definidos pelo POOC para a respetiva área de projeto (AP4), os quais foram integrados numa UOPG no âmbito da Revisão do PDM_Vila do Porto, em fase de aprovação, devidamente ajustada à cartografia de pormenor do presente plano.

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2.2. INSTRUMENTOS DE GESTÃO TERRITORIAL

Sobre a área de intervenção incidem um conjunto de planos, programas e políticas regionais com relevância na área de intervenção e que servirão de enquadramento para o desenvolvimento da proposta de plano.

Os instrumentos de gestão territorial com incidência na área do PP_Anjos encontram-se descritos na tabela seguinte.

Tabela 2.1_IGT com incidência na área do PP_Anjos

Instrumentos de Gestão Territorial Diploma regulador Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT) Lei n.º 58/2007, de 4/09 Plano Regional de Ordenamento do Território dos Açores (PROTA) DLR n.º 26/2010/A, de 12/08

Plano de Ordenamento Turístico da Região Autónoma dos Açores (POTRAA) DLR n.º 38/2008/A, de 11/08; suspensão parcial aprovada pelo DLR n.º 13/2010/A, de 7 /04

Plano Estratégico de Gestão de Resíduos dos Açores (PEGRA) DLR n.º 10/2008/A, de 12/05 Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) da Ilha de Santa Maria DRR n.º 15/2008/A, de 25/06

Revisão do Plano Director Municipal de Vila do Porto Em fase a aprovação após discussão pública

No âmbito do presente PP_Anjos torna-se imprescindível analisar as diretrizes, objetivos e condicionantes com implicações diretas na área de intervenção que decorrem do POOC da Ilha de Santa Maria e da revisão do PDM de Vila do Porto, em fase de aprovação, cujos aspetos mais relevantes se descrevem seguidamente, assumindo-se que as implicações territoriais dos restantes instrumentos já estão incorporadas nestes planos (e.g. o PROTA já foi incorporado na revisão do PDM).

2.2.1 PLANO DE ORDENAMENTO DA ORLA COSTEIRA DA ILHA DE SANTA MARIA [POOC]

O Plano de Ordenamento da Orla Costeira da Ilha de Santa Maria [POOC] é um plano especial de ordenamento do território tem natureza de regulamento administrativo e com ele devem conformar-se os planos municipais e intermunicipais de ordenamento do território, bem como os programas e projetos, de iniciativa pública ou privada a realizar na sua área de intervenção.

Nos termos do Artigo 2.º do DRR n.º 15º/2008/A, que publica o POOC de Santa Maria, são objetivos específicos deste plano os seguintes:

Defender a preservação do património natural dos espaços insulares;

Definir critérios de prevenção para áreas de risco geológico;

Preservar o património natural e em especial os recursos marinhos;

Qualificar as zonas de paisagem com interesse geológico;

Estruturar condições de fruição e utilização de áreas com potencial paisagístico e de áreas de cultura tradicional de vinha;

Requalificar as áreas afetas a zonas balneares;

Realizar propostas de intervenção em áreas prioritárias de risco geológico;

Potenciar as atividades passivas de recreio e lazer ligadas ao mar;

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Promover o reforço de proximidade geográfica com a ilha de São Miguel e a identidade do grupo oriental do arquipélago dos Açores;

Fomentar medidas que atenuem a sazonalidade de procura turística.

Em termos de usos e regimes de gestão compatíveis com a utilização sustentável do território, a área de intervenção do POOC divide-se em duas zonas fundamentais, designadas:

Zona A - Áreas indispensáveis à utilização sustentável da orla costeira, constituídas pela faixa marítima, leitos e margens das águas do mar, linhas de água e respetivas zonas de proteção, pelas áreas de especial interesse ambiental, entre as quais as classificadas e integradas em estatutos de conservação específicos ou aquelas que reúnem um conjunto de recursos e valores ambientais relevantes – para as quais o POOC fixa usos preferenciais e respetivos regimes de gestão.

Zona B – restantes áreas que integram a zona terrestre de proteção – para as quais POOC define princípios de ocupação e condicionamentos a atividades específicas, sendo o seu regime de gestão específico definido no âmbito dos PMOT.

Figura 2.2_Extracto da Planta de Síntese POOC Santa Maria – Área de Projeto AP4 – Anjos

Fonte: POOC Santa Maria

A área envolvente ao núcleo urbano dos Anjos está classificada no POOC como área de proteção e conservação da natureza e ainda área de vocação recreativa e área balnear, para as quais são fixados os usos e o respetivo regime de gestão. Relativamente à restante área territorial inserida na faixa dos 500m, encontra-se classificada como áreas florestais, e o núcleo urbano corresponde à área edificada cuja regulamentação o POOC remete para o PDM.

O POOC identifica ainda um conjunto de áreas vulneráveis que correspondem a zonas onde se considera existir perigo de ocorrência de movimentos de vertente associados à instabilidade de arribas costeiras e a zonas expostas ao avanço do mar e para as quais é definido um regime específico, cumulativo com o da classe de espaço abrangida (veja-se tabela seguinte). No âmbito da elaboração e revisão de PMOT que integrem estas áreas deve ser equacionada a relocalização das edificações existentes, bem como definidos os usos e as atividades compatíveis com os riscos em presença.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Tabela 2.2_Usos e atividades admitidas nas áreas vulneráveis

Classificação Atividades permitidas

Áreas edificadas - Usos e atividades compatíveis com os riscos presentes definidos em sede de PMOT;

- Deve ser equacionada a relocalização de edificações existentes

Áreas agrícolas

Áreas florestais

Áreas de vocação recreativa

- Admite-se a instalação de novos empreendimentos de turismo TER e TN que resultem da recuperação de edificação existente ou ampliação;

- Permite-se a instalação dos equipamentos previstos no Plano de Intervenções do POOC;

- Admite-se a construção de equipamentos de apoio à utilização destas áreas nomeadamente instalações sanitárias e outras infraestruturas, com área máxima de construção de 200m² e 1 piso, caso não seja possível reabilitar edificações existentes.

Áreas de interesse cultural e paisagístico

- Admite-se a abertura de acessos pedonais não consolidados, trilhos pedonais interpretativos e zonas de estadia não consolidadas, sinalização e painéis interpretativos;

- Admite-se a instalação de novos empreendimentos de turismo TER e TN que resultem da recuperação de edificação existente ou ampliação;

- São admitidas obras de reconstrução, conservação e ampliação desde que seja assegurado o respetivo uso original;

- Admite-se a requalificação do espaço exterior, bem como intervenções de integração paisagística que visem a valorização do património existente;

- Admite-se a construção de equipamento de apoio à utilização destas áreas que centralize e sirva de suporte a todas as atividades relacionadas (divulgação e sensibilização ambiental, apoio ao material de preservação da área e de suporte a outras atividades secundárias) com área máxima de construção de 200m² e 1 piso, caso não seja possível reabilitar edificações existentes.

Áreas de proteção e conservação da natureza

- São admitidas obras de reconstrução, conservação e ampliação desde que seja assegurado o respetivo uso original, exceto nos casos de:

instalação de equipamentos de suporte à divulgação e sensibilização dos ecossistemas naturais, desde que em estruturas amovíveis com área máxima de construção de 200m² e 1 piso, caso não seja possível reabilitar edificações existentes;

instalação de painéis informativos e de divulgação do património natural

construção de trilhos ou acessos pedonais não consolidados

- Admite-se a instalação de novos empreendimentos de turismo TER e TN que resultem da recuperação de edificação existente ou ampliação;

Refira-se que as áreas vulneráveis não integradas em áreas edificadas são consideradas áreas non aedificandi, exceto nas situações identificadas na tabela anterior.

Importa ainda ter em consideração que a área de intervenção está integrada na Área de Projeto dos Anjos [AP4] delimitada no POOC, para a qual é definido um conjunto de objetivos específicos2, designadamente:

Requalificar elementos dissonantes, qualificar os espaços públicos e melhorar as infraestruturas urbanas;

Estabelecer regras que fomentem a diminuição de conflitos entre as diferentes pretensões de utilização do território;

Acautelar situações de risco identificadas como a erosão das arribas e potenciais deslizamentos de massas.

2 DRR nº 15/2008/A de 25 de Junho, Art. 30.º

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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As áreas de projeto, segundo aquele instrumento de gestão territorial /artigo 10º), são áreas a submeter a projetos integrados de intervenção considerados fundamentais para a prossecução dos objetivos do POOC, incluindo as frentes urbanas litorais, consideradas zonas ameaçadas pela instabilidade de arribas e vertentes.

O sistema de implementação das áreas de projecto e neste caso da área de intervenção é definido no âmbito regulamentar do POOC, sendo expressamente definido que, até à entrada em vigor do Plano de Pormenor dos Anjos, a área rege-se pelas seguintes disposições (artigo 32º):

1. Nas frentes urbanas litorais das áreas projeto e até à execução das obras de qualificação e consolidação de arribas ficam interditos os seguintes atos e atividades, a saber

a) Operações de loteamento;

b) Construção de novas edificações, nomeadamente empreendimentos turísticos, habitações multifamiliares, industria, comércio e serviços.

2. Nas áreas de projeto, as obras de conservação, reconstrução e de ampliação devem apresentar, na instrução da memória descritiva e justificativa, a indicação da natureza e condições do terreno, nomeadamente a explicitação das condições geológicas e geotécnicas do local, que devem estar em conformidade com legislação e códigos de construção vigentes, tendo em consideração a minimização de risco e impactes.

3. As interdições previstas no n.º 1 podem ser excecionadas caso a caso desde que devidamente fundamentadas e obtenham parecer prévio vinculativo da entidade legalmente competente em matéria de ordenamento do território e recursos hídricos.

De acordo com o plano de intervenções do POOC, os objetivos referidos traduzem-se num conjunto de intervenções que importa conhecer no âmbito do presente estudo.

Figura 2.3 _Localização das intervenções propostas para a Área de Projeto AP4 – Anjos

Fonte: Adaptado do POOC de Santa Maria

Projeto 1. - Intervenção na área urbana dos Anjos – na descrição deste projeto é reconhecida a necessidade de ajustar a área classificada como solo urbano, tendo por referência a área definida no PDM anterior, desaconselhando a ocupação prevista para a Praia de Lobos, a poente daquele núcleo urbano, e assumindo que deverá ser no âmbito da elaboração do Plano de Pormenor que a área urbana deve integrar, em alternativa àquela zona, uma bolsa de expansão do aglomerado, para norte /nascente no núcleo antigo; neste contexto o Plano de Pormenor a desenvolver deve integrar o núcleo urbano existente e a área de expansão devendo ter como objetivos gerais: a requalificação dos espaços públicos, o ordenamento da rede viária, a preservação e valorização do património existente e a necessidade de programar os equipamentos coletivos necessários;

Projeto 2. - Requalificação da frente marítima dos Anjos – neste projeto é proposto, para além da requalificação da frente marginal existente, a sua expansão para norte/nascente de forma a “abrir um nova frente urbana, no sentido de dar resposta à procura dos terrenos para construção”, a criação de uma área de recreio e lazer para poente dotada de zonas de estadia

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CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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associadas a equipamentos de apoio com funções comerciais, designadamente restauração, esplanadas e quiosque;

Projeto 3. - Plano da Zona Balnear da Piscina dos Anjos – neste projeto estão contempladas todas as ações necessárias para a requalificação da zona balnear de acordo com a tipologia proposta;

Projeto 4. – Porto dos Anjos – qualificação e acessos- neste projeto propõe-se a melhoria do acesso ao porto através da reformulação da rotunda existente, para além de obras de conservação e manutenção da própria infraestrutura portuária.

Projeto 5. - Requalificação de percurso pedonal junto à costa – Anjos – neste projeto está prevista a beneficiação de um percurso pedonal existente, que parte do núcleo urbano para poente junto ao litoral.

Neste contexto, o PP_Anjos deverá enquadrar o Plano da Zona Balnear da Piscina dos Anjos (ZB6) previsto no âmbito no Plano de intervenções, englobando na sua área de intervenção a área de utilização recreativa e de lazer e a área balnear e equacionando as intervenções necessárias para adequar os Anjos à tipologia 1.

De acordo com o Regulamento do POOC, a classificação como “tipologia 1” corresponde a uma zona balnear equipada de uso intensivo, adjacente ou associada a aglomerados urbanos, que detém um nível elevado de apoios, equipamentos e infraestruturas de utilização pública.

O Plano da Zona Balnear prevê:

Manutenção do solário existente, nivelamento de parte da escadaria existente e ampliação para poente da área adjacente que se desenvolve até ao porto;

Ligação entre a via marginal e a via de acesso local interior e alteração da zona de retorno;

Reforço do estacionamento existente através da construção de estacionamento na via de acesso local interior;

Construção de rampa de acesso a pessoas de mobilidade condicionada

Manutenção do apoio completo existente, do restaurante e do parque infantil existentes;

Demolição da zona de merendas existente e relocalização.

Figura 2.4_Plano da Zona Balnear da Piscina dos Anjos

Fonte: POOC Sant Maria, Planos de Zonas Balneares, 2008 

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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No entanto com a publicação do Decreto Legislativo Regional nº 16/2011/A, 30 de Maio, que estabelece o regime jurídica de gestão da zonas balneares na Região e estabelece, nomeadamente, a classificação tipologia das zonas balneares esta área será reclassificada de acordo com uma grelha de critérios diferentes passando, provavelmente, a uma para zona balnear não equipada de uso condicionado (tipo 3).

2.2.2 REVISÃO DO PDM_VILA DO PORTO

A Revisão do PDM_Vila do Porto, publicada no Diário da República, 2ª série, pelo Aviso n.º 3279/2012 de 29 de Fevereiro, constitui o documento orientador da proposta de PP_Anjos, no que diz respeito à intervenção na área urbana.

Figura2.5_Modelo da rede urbana municipal de Vila do Porto

Fonte: Revisão PDM_Vila do Porto. Volume 2 – Relatório. 5ª Fase

A rede urbana municipal assenta na organização dos núcleos urbanos em dois níveis: a rede fundamental, formada pelas sedes de freguesia e os aglomerados urbanos delas dependentes, e uma rede complementar, constituída por áreas essencialmente relacionadas com as atividades de recreio e lazer, onde se integram as baías da Praia Formosa, Maia, São Lourenço e Anjos, representando importantes estruturas para o desenvolvimento económico e turístico do concelho, a que correspondem tipologias de ocupação específicas do território.

O aglomerado urbano da Baía dos Anjos pertence assim à rede complementar que estrutura a hierarquia urbana do município de Vila do Porto e para a qual se preconizam os seguintes objetivos:

Promover a elaboração dos planos de pormenor e projetos específicos, tendo por base os objetivos definidos no âmbito do POOC de Santa Maria;

Promover a estruturação e requalificação das zonas balneares e delimitação de áreas de vocação recreativa e de lazer em função da respetiva capacidade de carga;

Equacionar a relocalização das edificações existentes em áreas vulneráveis ou áreas de risco (ameaçadas por cheias, risco de erosão e instabilidade de vertentes) - este objetivo é especialmente importante porque tem em vista a salvaguarda e proteção de pessoas e bens.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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A área de intervenção do PP_Anjos corresponde à UOPG 04 delimitada pela Revisão do PDM_Vila do Porto, cujos objetivos específicos decorrem integralmente dos objetivos definidos para a Área de Projeto AP4 do POOC de Santa Maria.

Em termos de ordenamento, a área de intervenção é abrangida pelas categorias de espaço que constam na figura e tabela seguintes, para as quais são definidas regimes de edificabilidade.

Figura 2.6_Extracto da planta de ordenamento da Revisão do PDM_Vila do Porto

Fonte: Revisão PDM_Vila do Porto. Planta de Ordenamento, versão para aprovação

Tabela 2.3_Regime de edificabilidade definido pela Revisão do PDM_Vila do Porto

Categoria de espaço Regime de edificabilidade

Espaços florestais

Explorações agropecuárias: área mínima da parcela para edificação: 5000m², admitindo-se no máximo 1500m² de construção e uma altura máxima 5m;

A parcela mínima para novas construções de habitação é de 5.000m² admitindo-se uma área de construção máxima de 270m², não podendo o 2º piso exceder 100 m² de área de construção e afastamento mínimo aos limites do lote de 3m

Ampliações até 20m2 sem aumento do nº de pisos

São admitidas novas edificações, obras de recuperação e de ampliação de edificações existentes destinadas à instalação de novos empreendimentos de turismo no espaço rural e turismo de habitação nos termos da legislação em vigor.

Espaços naturais e culturais

São admitidas obras de reconstrução, conservação, alteração e ampliação de edificações existentes, desde que destinadas a suprimir insuficiências de instalações sanitárias e ou cozinhas não podendo em nenhuma situação corresponder a um aumento total de área de construção superior a 16 m² ou ao aumento do número de pisos

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Categoria de espaço Regime de edificabilidade

Espaços de equipamentos Sem prejuízo das servidões e restrições de utilidade pública e de outras condicionantes impostas pelo PDM, são permitidas obras de construção, reconstrução, alteração e ampliação dos equipamentos coletivos existentes localizados no solo rural, desde que a sua ampliação não exceda 50% da área de ocupação existente.

- Áreas de vocação recreativa e de lazer Definido no âmbito do POOC da Ilha de Santa Maria

- Áreas balneares

Espaços urbanos consolidados

Índice de ocupação do solo: 50%;

Índice de utilização do solo: 0,8;

Número máximo de pisos: 2 ou altura da edificação de 6,5m;

Quando se tratar de lotes ou prédios a reconstruir ou remodelar, aplicam-se os índices anteriores ou os preexistentes.

Afastamentos laterais aos limites do lote no mínimo de 3 m;

A profundidade máxima das edificações é de 15m, salvo se outra vier a ser estabelecida pelo PP;

Espaços urbanos a consolidar

Índice de ocupação do solo: 50%;

Índice de utilização do solo: 0,6;

Número máximo de pisos: 2 ou altura máxima da edificação de 6,5 m;

Operações de loteamento:

- Densidade habitacional máxima de 50 fogos/ha;

Índice de utilização do solo para habitação, comércio e indústria ≤ a 0,6;

Área mínima do lote: de 300 m² e área máxima do lote de 2.500 m²

- Número máximo de pisos: 2, salvo se, mediante plano de pormenor, vier a ser estabelecido um número superior.

Superfície máxima a afetar a anexos, que não podem exceder 1 piso: 10% da área do lote, num máximo de 100 m²;

Admite-se ainda a instalação de atividades industriais da classe C, desde que compatíveis com o uso habitacional nos termos da legislação aplicável, no piso térreo de edifício novo ou adaptado, desde que garantido o devido isolamento e insonorização.

Espaços verdes

Admite-se a construção de equipamentos coletivos de interesse público, destinados preferencialmente ao desporto, cultura, recreio e lazer, bem como instalações de apoio, nomeadamente estabelecimentos de restauração e bebidas;

Devem ser tidas em consideração as características e condicionantes de cada local.

Sobre a área de intervenção incide um conjunto de servidões e restrições de utilidade pública, assinadas na tabela seguinte: (veja-se extratos da plantas de condicionantes da revisão do PDM_Vila do Porto).

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Tabela 2.4_Serdições e restrições de utilidade pública

Descrição

Recursos Hídricos Leitos e margens das Linhas de água

Margens das águas do mar Áreas de Reserva e Proteção dos Solos e das Espécies Vegetais e Animais

Reserva Ecológica (Arribas e respetivas faixas de proteção)

Património edificado Imóveis de Interesse Público

Infraestruturas Básicas

Rede de abastecimento de água

Rede de drenagem de águas residuais e pluviais

Rede elétrica (6Kv e 10 Kv)

Infra-estruturas Viárias

Rede Regional Via Regional Secundária

Rede Municipal Vias Municipais

Caminhos Municipais

Infra-estruturas Portuárias Faróis e outros sinais marítimos Infra-estruturas de Comunicação Antenas de transmissão

Fonte: Revisão do PDM_Vila do Porto

Figura 2.7_Extracto da Planta de Condicionantes (folha 1)

Fonte: Revisão PDM_Vila do Porto. Planta de Condicionantes, versão para aprovação

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Figura 2.8_Extracto da Planta de Condicionantes (folha 02)

Fonte: Revisão PDM_Vila do Porto. Planta de Condicionantes, versão para aprovação

A figura seguinte sintetiza as zonas condicionadas dentro da área de intervenção, distinguindo os respetivos regimes aplicáveis. A área envolvente ao perímetro urbano está classificada como “espaços naturais e culturais” - com exceção de uma zona muito pouco significativa no limite sul que corresponde aos “espaços florestais” - e encontra-se totalmente inserida em reserva ecológica, impondo fortes restrições à construção nos espaços rurais.

Figura 2.9_Síntese das propostas de ordenamento do POOC e PDM_Vila do Porto

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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No respeita ao solo urbano, os espaços a consolidar são atualmente pouco expressivos, evidenciando-se uma vez mais o elevado grau de consolidação do tecido urbano existente, destacando-se a articulação direta com a área balnear adjacente a que corresponde a piscina dos Anjos e uma área significativa de praia.

Como se pode verificar pela imagem anterior, a área de vocação recreativa definida pelo POOC Santa Maria não está incluída na área de intervenção do PP_Anjos, embora o acesso seja efetuado a partir do núcleo urbano.

2.3. PARTICIPAÇÃO PÚBLICA

No período de auscultação prévia à deliberação que determinou a elaboração do PP_Anjos foram recebidas 2 participações, que refletem preocupações sobre a necessidade de reforço de equipamentos públicos e de intervenções de beneficiação no espaço público, o que relava a importância deste núcleo para as funções de recreio e lazer.

Na tabela seguinte sintetizam os conteúdos das duas participações recebidas.

Tabela 2.5_Participações recebidas no período de auscultação prévia

Requerente Assunto /propostas de intervenção

1 Paulo Sérgio Braga Chaves

Criação de um local para os surfistas Criação de infraestruturas na piscina natural da “poça do carro” – restaurante e balneários Manutenção da cortina arbórea (salgueiros) existente na frente marítima dos Anjos, entre o parque infantil e o bar.

2 Associação “Escravos da Cadeínha”

Criação de um espaço de utilização coletiva equipado; Criação de um parque de campismo Criação de zonas verdes Classificação do património existente Requalificação da frente marítima para nascente Criação de estacionamento no início do percurso pedonal para a gruta de Santana Requalificação do acesso pedonal à grupa de Santana e à poça do carro

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO

3.1. AS PESSOAS E AS ACTIVIDADES

A área de intervenção integra-se na subsecção estatística definida na BGRI 2001 (Base Geográfica de Referenciação da Informação, INE) como Anjos. Segundo os dados provisórios dos censos de 2011, residiam no lugar dos Anjos cerca de 38 indivíduos, o correspondente a uma amostra claramente pouco significativa (1%) relativamente ao total de residentes na freguesia de Vila do Porto (3115 habitantes).

Na tabela seguinte apresentam-se alguns dados estatísticos, ainda dos Censos de 2001, que permitem caracterizar em área em estudo (ainda não existem estes dados para 2011, contudo, as alterações não serão relevantes como pelos indicadores gerias anteriormente referidos se constatou).

Tabela 3.1_Alguns indicadores demográficos relativos ao lugar dos Anjos, em 2011

Indicadores estatísticos (Estrutura da população)

Indicadores estatísticos (Qualificação dos residentes)

Área [ha] 20 Taxa de analfabetismo [%] 15,4

População residente [hab] 30 Pop. com 1º ciclo 13

Densidade populacional [hab/ha] 1,5 Pop. com 2º ciclo 1

Pop. jovem (0 – 14 anos) 5 Pop. com 3º ciclo 3

Pop. idade activa (25 – 64 anos) 18 Pop. com ensino secundário 5

Pop. Idosa (> 65 anos) 7 Pop. com ensino médio ou superior 3

Índice de envelhecimento 140

Índice de dependência de idosos 38,9

Fonte: BGRI Censo 2001, INE

Destaca-se o número reduzido de pessoas a residir na área de intervenção do PP_Anjos, e respetiva baixa densidade populacional - cerca de metade do valor concelhio (0,58hab/ha), mas semelhante ao registado na freguesia (1,2 hab/ha) -, bem como o facto da maioria dos residentes se encontrar em idade ativa, sendo que praticamente metade da população possui apenas o 1º ciclo de escolaridade.

Figura 3.1_Aglomerado urbano dos Anjos

Fonte: Quaternaire Portugal.

Em 2001 existiam no lugar dos Anjos cerca de 45 alojamentos familiares clássicos (em 2011 – 52 alojamentos clássicos), representando apenas 3% do total de alojamentos na freguesia sede do concelho, com uma média de ocupação de 3 indivíduos por alojamento.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Tabela 3.2_Alojamentos familiares clássicos existentes no lugar dos Anjos, em 2001

Lugar

Alojamentos familiares clássicos Uso

sazonal/secundário ou com proprietário

ausente Vagos

Com residência habitual

Total Com proprietário ocupante Arrendado

Anjos 76 % 0 % 24 % 81,8 % 0 %

Fonte: BGRI Censo 2001, INE

A sazonalidade é uma característica evidente do aglomerado urbano dos Anjos, onde cerca de ¾ dos alojamentos são de uso sazonal/secundário ou apresentam-se com o proprietário ausente. A procura de alojamento – sobretudo destinado a segunda habitação - nesta importante zona balnear é significativa, destacando-se a inexistência de alojamentos vagos.

A análise do parque habitacional engloba ainda a avaliação das condições que os alojamentos oferecem a quem neles reside. Assim, em termos de condições dos alojamentos familiares clássicos com residência habitual, com base nos dados do Censo 2001 /2011, pode dizer-se que apresentam um grau de infra-estruturação de 100%, não existindo alojamentos sem casa de banho.

No que se refere à estrutura da economia e do emprego na área de intervenção, a informação que se apresenta na tabela seguinte apenas diz respeito ao local de residência dos empregados, e não ao local de trabalho.

Tabela 3.3_Dados sobre a atividade económica dos residentes no lugar dos Anjos, em 2001

Lugar Sector primário (%)

Sector secundário (%)

Sector Terciário (%)

Total residentes empregados

Total residentes desempregados

Anjos 12,5 25,0 62,5 8 0

Fonte: BGRI Censo 2001, INE

Em termos de distribuição do emprego por sectores de atividade, o sector terciário é claramente o mais representativo com quase ²/3 da população empregada (dados de 2001) – superior à média regional (57,4%).

Sendo os Anjos um local especialmente vocacionado para o turismo (ainda que de 2ª residência), é de salientar a inexistência de atividades económicas direcionadas para este sector, nomeadamente empreendimentos turísticos e serviços associados, sendo a única exceção um estabelecimento de restauração o qual alberga o apoio balnear da Piscina. Não existem quaisquer estabelecimentos de serviços/comércio local, de apoio à função residencial.

Figura 3.2_Piscinas dos Anjos, Restaurante e apoio balnear e Espaço Ass. Escravos da Cadeínha

Fonte: Quaternaire Portugal.

Destaque ainda para a realização do Festival de música “Santa Maria Blues” que se realiza no espaço pertencente à Associação Escravos da Cadeínha.

No que diz respeito aos equipamentos coletivos, existem dois equipamentos culturais (Centro Cultural Cristóvão Colombo e o Espaço da Associação Escravos da Cadeínha) e a Ermida de Nossa Senhora dos Anjos. Os restantes equipamentos públicos de utilização coletiva localizam-se fundamentalmente na sede de concelho.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

25

Finalmente, uma referência às projeções demográficas apresentadas na Revisão do PDM_Vila do Porto, que demonstram a tendência de declínio do número de residentes em todo o concelho, sendo esta variação negativa prevista uma das menos acentuadas relativamente às restantes freguesias.

Tabela 3.4_Estimativa e variação da população residente nas freguesias do concelho de Vila do Porto

Freguesia 1981 1991 2001 2011 2020 Taxa de

variação (%) 2001/2020

Almagreira 618 525 537 482 425 -20,85

Santa Bárbara 621 512 480 430 373 -22,28

Santo Espírito 1005 758 723 592 496 -31,41

São Pedro 788 811 841 859 838 -0,33

Vila do Porto 3468 3316 2997 2904 2684 -10,44 Total Concelho Vila do Porto 6500 5922 5578 5261 4797 -14,00

Fonte: PROTA e Equipa Técnica da Revisão do PDM

Como se comprova pela leitura da tabela anterior, de acordo com as projeções demográficas, das cinco freguesias que compõem o concelho de Vila do Porto, a freguesia onde se integra o lugar dos Anjos irá registar uma regressão da população residente na ordem dos 10,4% entre 2001 e 2020, o que constitui uma perspetiva negativa que deverá ser atendida na elaboração do PP_Anjos, embora se considere que esta tendência poderá não ter eco na área de intervenção, já que a aposta de requalificação e desenvolvimento de atividades turísticas nesta área poderão fazer emergir uma nova dinâmica que terá necessariamente repercussões no crescimento da população residente.

3.2. O TERRITÓRIO

3.2.1 USO DO SOLO

Para a determinação da ocupação atual do solo procedeu-se a uma atualização e pormenorização da carta de Uso Atual do Solo produzida no âmbito dos estudos elaborados para a revisão do PDM de Vila do Porto. Neste sentido, procedeu-se, num primeiro momento, a uma análise da carta referida para a área de intervenção, seguindo-se uma verificação das áreas através de fotointerpretação, fotografias de terreno e levantamentos de campo.

Com o intuito de proporcionar uma melhor compreensão da estruturação deste território, optou-se por classificar os usos do solo tendo por base a aproximação ao cadastro (a este propósito veja-se capítulo adiante) Assim, e na ausência de um levantamento do cadastro da propriedade, optou-se por classificar cada lote delimitado com um único uso, destacando assim o uso dominante.

Nos casos em que existem edificações nos lotes definidos optou-se por classificar esses mesmos lotes como lotes edificados, sendo simultaneamente identificado o grau de impermeabilização dessas parcelas. Selecionaram-se três graus de impermeabilização do terreno (baixo, médio e alto) permitindo assim compreender quais os lotes com maior área impermeabilizada.

Relativamente aos espaços não edificados optou-se por identificar quais os usos dominantes identificando as seguintes classes em função das existências: agricultura, vegetação natural e orla costeira.

No cartograma que seguidamente se apresenta estão também identificadas as áreas consideradas como espaço público, genericamente representadas pelas vias, áreas de estacionamento, passeio e pequenos espaços públicos de estadia, recreio e lazer. Nestes espaços optou-se por dividir as vias

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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em duas classes: vias impermeabilizadas e vias não impermeabilizadas (em terra). Foram também identificados os espaços de estacionamento existentes, assim como as áreas de passeio.

Figura 3.3_ Uso atual do solo

Da análise do cartograma pode concluir-se que a área de intervenção é rodeada por um conjunto de áreas ocupadas com vegetação natural, que correspondem às encostas que rodeiam a área de intervenção, e que, devido aos seus declives, não possuem características quer para a edificação quer para a agricultura. As áreas de agricultura localizam-se preferencialmente a nascente o núcleo urbano mais antigo da Baia dos Anjos, zona muito plana.

Os lotes edificados estão associados à rede viária distribuindo-se preferencialmente em duas zonas, a primeira, constituída por um conjunto de edificações mais antigas, a nascente do núcleo central localizado e encaixado na Baia dos Anjos; o segundo, com um desenvolvimento ao longo da baia, em cunha, constituído por duas frentes sobre o mar.

As áreas de equipamento correspondem a três lotes distintos sendo o de maior dimensão uma antiga fábrica abandonada junto à orla costeira e as outras à Associação Escravos da Cadeínha e à zona balnear, localizada na zona central da baía dos Anjos constituída pelas piscinas de mar e respetivas infraestruturas associadas.

Em termos de património evidencia-se a Ermidas dos Anjos que é um imóvel de interesse público, classificado pela Resolução n.º 58/2001, de 17 de Maio.

No que se refere ao espaço público importa referir que a marginal e os respetivos equipamentos e outros espaços de recreio e lazer são os elementos estruturantes de todo os sistema.

As áreas de estacionamento localizam-se predominantemente no passeio marginal, existindo ainda pequenas bolsas de estacionamento associadas a edificações.

No quadro seguinte estão identificadas as áreas afetas a cada uso assim como a sua representatividade na área de intervenção.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Tabela 3.5_Distribuição dos diferentes usos na área de intervenção

Uso do Solo Área ocupada (ha) Representatividade no território (%)

Lotes edificados 2,6 10,26

Equipamentos 0,47 1,86

Património 0,06 0,24

Espaço público 1,1 4,34

Agricultura 7,7 30,40

Vegetação natural 9,6 37,90

Orla costeira 3,8 15,00

Tal como se pode comprovar pela observação do cartograma anterior a distribuição dos usos é claramente dominada por três classes: vegetação natural e orla costeira, agricultura e lotes edificados a que correspondem cerca de 90% do território. O espaço público e os equipamentos representam cerca de 6,2% do território assim como as áreas de equipamentos.

Nos solos ocupados com atividade agrícola existem diferentes tipos de culturas presentes. As culturas mais representativas desta área são as pastagens, hortas e alguma vinha.

Figura 3.4_Mosaico agrícola dos Anjos

Importa referir que na área de intervenção não existe nenhuma área classificada como Reserva Agrícola Regional (RAR) e a maior parte da área de intervenção está classificada como solos pertencentes à classe de capacidade VII, considerada como reserva natural.

A área de intervenção é, na sua globalidade, um território com um grau de impermeabilização muito baixo, não só por uma elevada percentagem do seu território não ser construído mas, também, porque a percentagem de lotes muito impermeabilizados tem uma expressão relativa diminuta.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Figura 3.5_Grau de impermeabilização do solo

A figura anterior pretende demonstrar o grau de impermeabilização ou artificialização do território. Todas as áreas com ocupações agrícolas ou de vegetação natural foram consideradas como áreas permeáveis e os lotes edificados foram divididos em três classes de impermeabilização. O espaço público foi classificado com áreas com elevada impermeabilização do solo, exceto os caminhos em terra que foram considerados permeáveis.

Esta análise permite ainda compreender a estrutura da propriedade, assim como as zonas de maior consolidação urbana. Assim pode constatar-se que a dimensão da propriedade é variada ao longo da área de intervenção, localizando-se os lotes de menor dimensão ao longo da marginal. Devido à limitada dimensão dos lotes a impermeabilização é bastante elevada. A segunda frente urbana, mais recuada já apresenta lotes de maior dimensão aos quais se associam, também, edificações maiores,

A área de intervenção do PP_Anjos possui alguma riqueza no que se refere a valores naturais e culturais. Relativamente aos valores patrimoniais edificados salienta-se a presença da Ermida de Nossa Senhora dos Anjos, erguida primeiramente em 1439 em madeira e reconstruída em alvenaria entre 1460 e 1474, a qual foi alvo de obras de restauro no final do século XIX, estando classificada como Imóvel de Interesse Público (Resolução n.º 58/2001 de 17 de Maio).

No que se refere a valores naturais, importa salientar que toda a faixa marítima envolvente à área de intervenção, da Praia dos Lobos à Ponta dos Frades, está classificada como Área Protegida de Gestão de Recursos, com área de incidência exclusivamente marítima.

A área de intervenção do plano é na quase sua globalidade classificada como Reserva Ecológica, excetuando-se o território considerado como solo urbano. As classes existentes na área de intervenção são: Praias, Arribas e respetivas faixas de proteção e cursos de água, respetivos leitos e margens.

A figura seguinte sintetiza os valores patrimoniais existentes na área de intervenção.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Figura 3.6_Valores naturais

3.2.2 O SECTOR LESTE DA BAÍA DOS ANJOS

No âmbito do POOC de Santa Maria a zona a nascente da baia dos Anjos foi objeto de parecer tendo em consideração a possibilidade da expansão da área urbana para essa área.

Nos termos do Volume 2 – Síntese e Modelo de Intervenção do POOC, nomeadamente no Anexo designado – Parecer sobre a possibilidade de expansão da área urbana para o sector Leste da Baia dos Anjos (Santa Maria) esta área (identificada na figura seguinte) foi objeto de um parecer técnico do qual se pode concluir, conforme excertos que seguidamente se apresentam, as condições e limitações que devem orientar a sua futura ocupação e transformação do solo.

“A área que se pretende urbanizar corresponde a uma fajã detrítica constituída essencialmente por areias de praia recentes e quaternárias, depositadas sobre depósitos de vertente provenientes da encosta que lhe é sobranceira e depósitos fluviais provenientes da Ribeira do Lemos. A vertente sobranceira à fajã apresenta um comando na ordem dos 60 m e declives muitas vezes superiores a 30º excedendo em alguns locais os 45º, por uma extensão nunca superior a 100 m (figura seguinte). Litologicamente, a base é constituída por formações do complexo dos Anjos, na si8a maioria escoadas lávicas e piroclastos, truncados no topo por arenitos do Complexo do Touri.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Figura 3.7_Perfil da vertente sobranceira à área que se pretende urbanizar

Fonte: POOC_Santa Maria: Parecer incluído no Anexo do Relatório – Síntese e Modelo de Intervenção (Volume 2)

Segundo os critérios adotados por Pacheco et al. (2006) para a caracterização e diagnóstico dos perigos geológicos, aquando da 1ª fase de execução do POOC Santa Maria esta área apresenta uma suscetibilidade Alta a Moderada no que respeita à suscetibilidade à ocorrência de movimentos de vertentes e está inserida numa zona cuja probabilidade de ser afetada por um tsunami ou pela própria dinâmica marinha é também Alta a Moderada (figura seguinte). Os elevados valores de suscetibilidade a movimentos de vertente resultam não só dos elevados declives observados, mas também a sua associação a depósitos facilmente erodíveis. No que respeita aos tsunamis e a possíveis invasões de mar, pelo facto desta fajã apresentar declive reduzidos (<5º), associado à inexistência de qualquer tipo de defesa natural e/ou artificial ao longo da linha de costa, justificam a possibilidade de ocorrência deste tipo de fenómenos naturais.”

Face a este cenário descrito, o referido parecer conclui o seguinte: “embora esta possível área de expansão se localize numa zona onde o risco geológico é alto a moderado consideram que se houver uma decisão de aceitação da ocupação desta área deverão ser mitigados os riscos nomeadamente através de medidas que garantam:

1. na zona que se pretende urbanizar - a proteção da linha de costa contra possíveis invasões do mar, fruto da dinâmica litoral e /ou de hipotético tsunami;

2. na grota existente no sector mais a E da Baia dos Anjos – a proteção da zona contra possíveis extravasamentos da ribeira dos Lemos, bem como de fluxos originados pela acumulação do escoamento superficial;

3. o aumento do fator de segurança do talude através da suavização do seu declive e/ou consolidação/sustentação dos seus materiais bem como a reorganização do seu sistema de drenagem;

4. que se tenha em consideração o comportamento sísmico dos diferentes tipos de solos e de eventuais aterros, para a definição da melhor estratégia de edificação das infraestruturas – embora o risco sísmico em Santa Maria seja baixo.”

Neste contexto as condições de ocupação e transformação desta área deverá ter em consideração as recomendações enunciadas no POOC.

3.3. A OCUPAÇÃO URBANA

O aglomerado urbano dos Anjos localiza-se numa pequena baía, em que a povoação se encontra implantada na plataforma menos inclinada junto à linha de costa, a qual limita o perímetro urbano, adjacente a uma importante área de lazer: as piscinas dos Anjos. A área urbana compreende uma faixa de cerca de 100m de largura paralela ao limite de costa, sofrendo um alargamento no extremo Este, onde os terrenos são mais planos.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

31

O início da ocupação urbana deu-se numa faixa interior à via de acesso paralela à linha de costa; posteriormente, foi-se formando um segundo alinhamento de edificações na encosta, paralelo ao primeiro, com uma rua de acesso. Mais recentemente tem-se verificado o aparecimento de novas construções numa bolsa de espaço urbano junto à curva da estrada regional, a nascente do restante aglomerado, sobretudo habitações unifamiliares.

A zona balnear dos Anjos possui uma vocação e elevado potencial para habitação, quer secundária quer de primeira residência face à sua proximidade a Vila do Porto, e para o turismo.

A topografia do território e as condicionantes à ocupação e utilização do solo resultantes de fatores naturais e vários regimes de proteção e conservação da natureza, bem como as atividades ligadas ao mar deram origem a um tecido urbano desenvolvido em articulação com a frente de mar.

Figura 3.8_ Panorâmica sobre o aglomerado urbano

Fonte: Quaternaire Portugal

Apenas uma percentagem da área de intervenção tem atualmente o estatuto de solo urbano, ou seja cerca de 5,1 ha a que corresponde cerca de 20% da área de intervenção.

A área urbana dos Anjos apresenta um grau de preenchimento elevado e corresponde essencialmente a uma faixa que se desenvolve ao longo de uma via de acesso, envolvida por uma área com fortes restrições, classificada como espaços naturais e culturais. Além de totalmente integrada na reserva ecológica, esta área envolvente ao perímetro urbano encontra-se igualmente condicionada pelo POOC, onde se permitem apenas obras de reconstrução, conservação ou ampliação de edificações existentes, desde que destinadas a retificar problemas de higiene e salubridade das construções, admitindo um aumento máximo de 16 m² de área de construção sem alteração do número de pisos. Contudo o POOC admite a ampliação do perímetro urbano na sequência da elaboração do presente plano.

3.3.1 O ESPAÇO EDIFICADO

A área edificada da área do Plano apresenta uma estrutura de média densidade, cuja ocupação se encontra bastante consolidada, desenvolvendo-se ao longo da única via de acesso ao aglomerado. Durante os meses de Verão a utilização balnear assume um papel significativo embora a frequência de utilização de ocupação sazonal (2ª habitação) seja relevante durante a maior parte do ano (residência de fins de semana).

Figura 3.9_Ocupação urbana

Fonte: Quaternaire Portugal

O núcleo urbano dos Anjos caracteriza-se por um parque edificado de um modo geral já com alguma idade, maioritariamente da década de 1980 – com algumas exceções de habitações de arquitetura

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

32

tradicional, as quais se encontram bastante degradadas ou em estado de abandono -, composto por edifícios de baixa volumetria (1 a 2 pisos) e onde predominam os materiais tradicionais, embora se tenha registado a presença de algumas estruturas pré-fabricadas.

De acordo com os dados dos Censos 2001, existiam 45 edifícios clássicos, sendo a grande maioria de construção entre 1971 e 2001 (71%), na última década surgiram 7 novos edifícios (Censos 2011).

Tabela 3.6_Distribuição dos edifícios segundo a época de construção, em 2011 (valor absoluto)

Lugar Antes de 1945 Entre 1945 e 1971 Entre 1971 e 1990 Entre 1991 e 2001

Entre 2001 e 2011

Anjos 3 10 16 16 7

Fonte: BGRI Censo 2001 e dados provisórios de 2011, INE

A caracterização dos lotes e edificações existentes na área de intervenção baseia-se no levantamento de campo efetuado que deu origem à constituição de uma base de dados georreferenciada que permite a análise de um conjunto de parâmetros urbanísticos. Salienta-se que esta base ainda não se encontra concluída e apenas apresenta os lotes com edificações, em virtude de não estar terminado o levantamento cadastral da área de intervenção, estando a faltar a contabilização dos lotes sem edificações. Neste sentido, salvaguarda-se desde já a oportunidade de completar esta caracterização na fase seguinte da elaboração do PP.

Não existindo, no momento, o respetivo levantamento do cadastro existente na área de intervenção, optou-se por fazer uma aproximação aos limites as unidades cadastrais, através da fotointerpretação do ortofotomapa de 2005, representada no esquema seguinte, carecendo de validação por parte da autarquia. Para tal, este esquema é apresentado em anexo à escala 1:2.000 como planta de trabalho (veja-se Desenho 02) para posterior validação da delimitação e identificação dos proprietários.

Figura 3.10_Aproximação ao cadastro existente

Fonte: Quaternaire Portugal.

As unidades cadastrais inseridas no perímetro urbano apresentam configurações e áreas muito variáveis, entre 63m² e 2.300m². Foram delimitadas na área de intervenção dentro do perímetro urbano cerca de 74 parcelas, das quais apenas 58 possuem edificações, em geral com um médio nível de impermeabilização, confirmando o grau de consolidação do tecido urbano. A bolsa a nascente /norte da Baía dos Anjos, considerada a área de expansão a ser equacionada no âmbito do

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

33

presente plano de pormenor, segundo as orientações do POOC, corresponde a cerca de 2,8ha envolvendo um conjunto de 11 parcelas, com características e dimensões muito diversas mas para a operação urbanística necessária o grau de fragmentação da propriedade é assinalável.

Todo o sector Este da Baia dos Anjos, que foi objeto de parecer específico do POOC, corresponde a uma zona em baía, constituindo-se como uma 2ª baía na área de intervenção, com cerca de 4,5ha na zona aplanada onde existem características para uma futura ocupação urbana. Para esta área ainda não se conhece o cadastro. (veja-se Desenho 01 e 02).

Figura 3.11_Situação das parcelas dentro do perímetro urbano

Nos levantamentos de campo - e de acordo com a base de dados - foram identificadas 71 edificações, distribuídas entre edifícios exclusivamente habitacionais (53), equipamentos (5), restauração (1) e ainda 12 edifícios considerados como anexos (arrecadações, garagens, entre outros). Os edifícios relativos aos equipamentos correspondem à Ermida de Nossa Senhora dos Anjos e edifício de apoio, ao espaço do Centro Cultural Cristóvão Colombo e à antiga fábrica ligada à pesca da baleia, estes últimos relacionados com a Associação Escravos da Cadeínha, onde decorrem vários eventos culturais.

A figura que se segue apresenta a distribuição das várias funções na área de intervenção. Existe apenas um estabelecimento de restauração, o qual integra o apoio balnear completo, de apoio às piscinas.

Não existe nenhum empreendimento turístico nem nenhum estabelecimento de comércio ou outros serviços de apoio à função residencial.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Figura 3.12_Distribuição funcional

Relativamente à época de construção, a maioria das edificações surgiram entre 1970 e 1990, seguindo-se a época entre 1991-2005, e registaram-se apenas 2 de construção posterior a 2005, afetos exclusivamente à função residencial.

Figura 3.13_Época de construção dos edifícios

No que concerne às tipologias de edificado, verifica-se a predominância da tipologia de habitação unifamiliar isolada (40), seguida da habitação unifamiliar geminada ou em banda (13), registando-se a inexistência de edifícios de habitação coletiva.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Figura 3.14_Tipologias do edificado

Em termos construtivos, as edificações existentes apresentam quase na sua totalidade (cerca de 70%) uma volumetria correspondente a 1 piso, sobretudo localizados na frente urbana principal, 21 edifícios possui 2 pisos, implantados no arruamento secundário, numa cota superior à primeira fileira de edifícios e apenas 1 edifício tem 3 pisos.

A cobertura em telha com duas e quatro águas é a mais frequente, pelo que é uma característica da imagem do núcleo urbano. Apresentam uma implantação regular, de modo geral próximo ao arruamento de acesso e a associação a atividades rurais é ainda evidente, daí o número relevante de edifícios de anexos e armazéns, e ainda a existência de vários telheiros.

Figura 3.15_Número de pisos

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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O estado de conservação dos edifícios existentes na área de intervenção é muito satisfatório, tendo-se encontrado 63% das edificações em bom estado e cerca de 22% em estado razoável. Do total dos edifícios, apenas 12 se apresentavam em mau estado dos quais 10 foram classificados como ruína.

Figura 3.16_Estade de conservação do edificado

No que se refere ao património edificado, importa aqui destacar a Ermida de Nossa Senhora dos Anjos, erguida primeiramente em 1439 em madeira e reconstruída em alvenaria entre 1460 e 1474, a qual foi alvo de obras de restauro no final do século XIX, estando classificada como Imóvel de Interesse Público (Resolução n.º 58/2001 de 17 de Maio). O edifício construído em alvenaria de pedra rebocada e caiada apresenta planta retangular e encontra-se implantado num adro murado, junto ao arruamento principal de acesso ao núcleo urbano.

As construções de matriz tradicional – a designada casa mariense – são praticamente inexistentes no aglomerado, verificando-se apenas 4 edifícios que apresentam algumas características típicas dessa arquitetura, embora já bastante adulterados.

Figura 3.17_Ermida e alguns exemplares de edifícios marienses existentes no aglomerado

3.3.2 REDE VIÁRIA, CIRCULAÇÃO E ESTACIONAMENTO

A rede viária existente na área de intervenção do PP_Anjos apresenta uma estrutura muito simplificada, com uma hierarquia funcional dividida em dois níveis, embora semelhantes entre si: uma via principal de distribuição e uma outra de acesso local.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Figura 3.18_Rede viária existente

Fonte: Quaternaire Portugal

O acesso ao núcleo urbano dos Anjos é efetuado exclusivamente pela Estrada Regional Secundária que o liga ao aglomerado sede de freguesia. Esta via estruturante acompanha a linha de costa e não tem saída, servindo a primeira fileira de edificações e a zona das Piscinas dos Anjos. Existe um segundo arruamento que garante exclusivamente o acesso às habitações localizadas na base da encosta, paralelo ao primeiro.

Por outro lado, verifica-se a existência de um conjunto de caminhos de acesso a lotes que não possuem frentes para a via pública e associados maioritariamente às atividades rurais, delimitados por muros tradicionais de pedra seca.

Figura 3.19_Rede viária, circulação e estacionamento na área de intervenção

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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De um modo geral, os arruamentos são asfaltados e encontram-se em bom estado de conservação. Os casos de arruamentos em terra batida ou saibro coincidem com os acessos a parcelas afastadas dos eixos viários principais ou ainda zonas em transformação, como é o caso do troço localizado a poente do aglomerado que atualmente se encontra em infra-estruturação.

No que respeita aos perfis transversais, a estrutura viária na área de intervenção apresenta geometrias muito semelhantes, mesmo tratando-se de níveis diferentes da hierarquia. Pode concluir-se que, de um modo geral, as vias são constituídas por uma faixa de rodagem com uma largura de aproximadamente 6 m e dois sentidos de circulação, em que, salvo algumas exceções, não apresentam passeios, sendo a circulação pedonal efetuada nas bermas com largura variável de cerca 0,80m, com pavimento diferenciado.

Figura 3.20_Perfil da via principal de acesso ao aglomerado urbano

Figura 3.21_Perfil da via principal junto à zona balnear

O troço de via junto à zona balnear apresenta um perfil reduzido para a função que exerce, com apenas uma faixa de passeio formalizada de dimensão insuficiente. As áreas de estacionamento são praticamente inexistentes nesta área, levando ao estacionamento dos veículos ao longo do arruamento, na berma, junto aos muros das edificações.

Figura 3.22_Perfil da via municipal de ligação à segunda fileira de edificações

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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A via de acesso à segunda fileira de habitações constitui um arruamento de carácter secundário - o qual corresponde na realidade a um impasse, sendo a ligação ao arruamento principal efetuada pelo mesmo troço de perfil estreito e sem passeios – e apresenta uma faixa de rodagem generosa onde, apesar de não existir zona de estacionamento formalizado, é possível estacionar sem condicionar a circulação.

As áreas de circulação pedonal existem apenas junto à costa. A maioria dos arruamentos em toda a área de intervenção não possui passeios formalizados, apresentando pequenos trechos ao longo das vias – por vezes coincidentes com as bermas por onde se faz a drenagem de águas pluviais – com uma largura mínima para a circulação de pessoas, embora constitua um percurso desconfortável. Junto ao parque de estacionamento ao longo da via marginal existe um passeio mais largo, mas sem características de passeio marítimo.

Figura 3.23_Percurso pedonal junto à costa e Gruta dos Anjos

Partindo do limite do perímetro urbano – zona do porto dos Anjos – para poente, existe um caminho pedonal construído em calçada de seixo rolado, de largura mais ou menos regular que passa na Gruta dos Anjos e que termina numa plataforma rochosa designada por “Poça do Carro”. Trata-se de um percurso de elevado interesse paisagístico – atualmente com alguns troços bastante degradados - permite a fruição de vistas panorâmicas para a costa, o núcleo urbano e a sua envolvente.

Por outro lado, refira-se a existência de um trilho homologado (PR2SMA) com 14km de extensão que se inicia no Pico Alto e vem ter ao aglomerado dos Anjos. O percurso, de 4h de duração e um grau de dificuldade “média”, no que respeita ao troço adjacente a área de intervenção apresenta pavimento em terra e atravessa zonas de pastagens, permitindo uma vista panorâmica sobre o aglomerado.

Em termos de estacionamento, existem quatro zonas (num total de cerca de 860m²), duas perfeitamente formalizadas: uma à entrada do aglomerado - junto à Ermida dos Anjos - e outra ao longo da via marginal. Quanto às restantes, uma situa-se no alargamento da via na zona de inversão de marcha e a outra corresponde a uma bolsa de estacionamento entre a zona de merendas e o parque infantil.

Figura 3.24_Áreas de estacionamento

De acordo com os parâmetros de dimensionamento para a implantação de infraestruturas viárias definidos na Portaria n.º 216-B/2008 de 3 de Março, retificada pela Declaração de Retificação n.º 24/2008 de 2 de Maio, prevê-se que os arruamentos correspondam a determinados perfis-tipo, consoante a ocupação dominante.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Tabela 3.7_Parâmetros de dimensionamento

Arruamentos implantados em zonas predominantemente habitacionais

Perfil transversal ≥ 9,7m

Faixa de rodagem Passeios Estacionamento Caldeiras

6,50 m 2 x 1,60m 2x2,00m (opcional) 2x1,0m (opcional)

Arruamentos implantados em áreas de ocupação habitacional com

comércio e serviços

Perfil transversal ≥ 12,0m

Faixa de rodagem Passeios Estacionamento Caldeiras

7,50 m 2 x 2,25m 2x2,25m (opcional) 2x1,0m (opcional)

Fonte: Portaria n.º 216-B/2008 de 3 de Março, retificada pela Declaração de Retificação n.º 24/2008 de 2 de Maio

3.3.3 OUTROS ESPAÇOS PÚBLICOS

O espaço público é definido pelo limite de propriedade, em que se destaca a homogeneidade da tipologia de muros geralmente em alvenaria de tijolo, rebocados e pintados em geral a branco, salientando-se reduzida presença de muros de pedra seca arrumada à mão, localizados sobretudo ao longo da estrada regional, exterior ao perímetro urbano.

A baía dos Anjos forma uma praia de calhau rolado onde se localizam as estruturas de recreio e lazer e um estabelecimento de restauração.

Os espaços públicos existentes correspondem, de uma forma genérica, aos arruamentos e a três áreas de estadia, além da zona balnear da Piscina dos Anjos: o adro da Ermida dos Anjos e zona adjacente, a zona de merendas e o parque infantil.

A zona da piscina, por sua vez, apresenta três espaços distintos: duas piscinas – uma artificial e uma seminatural – e uma plataforma de solário adjacente.

Figura 3.25_Praia de calhau rolado e Zona Balnear da Piscina dos Anjos

Em termos de mobiliário urbano, há que fazer referência à zona de merendas e ao parque infantil existentes junto à zona balnear, sendo a primeira com pavimento empedrado, delimitada por muretes de betão e constituída por mesas e bancos executados em betão armado forrados a madeira, localizada junto a uma zona de churrascos, disposta em corredor com uma pérgula de madeira.

Relativamente ao parque infantil, este localiza-se entre a zona de merendas e estacionamento e a área de esplanada do estabelecimento de restauração, que é simultaneamente o apoio de praia existente. Na restante área de intervenção, o mobiliário urbano resume-se apenas aos elementos de iluminação pública ao longo das vias e alguns balizadores. Destaque ainda para a quase ausência de sinalética.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Figura 3.26_Zonas de merendas junto à zona balnear

3.3.4 INFRA-ESTRUTURAS

A área de intervenção do PP_Anjos abrange uma infraestrutura portuária - o Porto dos Anjos - administrada pela Secretaria Regional da Agricultura e Pescas, a qual foi reclassificada pelo DLR n.º 13/2000/A, de 20 de Maio, como porto de classe D, desempenhando essencialmente funções relacionadas com a atividade piscatória.

O Porto dos Anjos foi sujeito a obras de reabilitação e beneficiação, ao abrigo do PRODESA-IFOP, que resultaram num prolongamento do muro existente através da construção de um molhe com um muro em cortina de betão. Existe ainda uma rampa de alagem em betão e uma plataforma de estacionamento.

De acordo com a informação disponível, está prevista a melhoria das condições de operacionalidade do Porto dos Anjos através da adaptação do cais e da instalação de uma grua elétrica.

Figura 3.27_Distribuição das Infraestruturas básicas na área de intervenção

A nível de infraestruturas básicas (abastecimento de água, saneamento, eletricidade e telecomunicações) existentes na área de intervenção, segundo os dados facultados pela autarquia, regista-se uma cobertura domiciliária total na área abrangida pelo Plano.

A rede pública de abastecimento de água atual abrange a totalidade da área de intervenção e é considerada adequada, apresentando boas condições de funcionamento. A tubagem é em PVC de 63 m/m.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Existe recolha das águas residuais através de coletores em PCV de 200mm, em toda a extensão da estrada onde se encontram habitações (cerca de 500 m de extensão). São conduzidos a uma fossa séptica coletiva com sumidouro, situada na parte mais baixa da localidade, perto do fim da estrada e do porto de pescas.

Apesar do número reduzido de habitantes, esta zona balnear caracteriza-se por uma ocupação essencialmente sazonal, com especial destaque para os meses de Verão, sendo que a fossa séptica está dimensionada tendo em conta esta pressão demográfica.

Na zona de intervenção a drenagem das águas pluviais é efetuada pelas bermas dos arruamentos - com valetas e sumidouros que conduzem as águas pluviais para as linhas de água – uma linha de água principal - a Ribeira do Lemos situada no limite nascente da área do PP – e ainda por linhas de escorrência que atravessam a área central do Plano, algumas com troços já canalizados, e que encaminham as águas para o mar.

No Plano de Intervenções do POOC Santa Maria está prevista uma intervenção no sentido de desviar as linhas de drenagem que estão atualmente a conduzir as águas pluviais para a Zona Balnear da Piscina dos Anjos.

As redes de telefones/ telecomunicações e elétrica existentes abrangem praticamente a totalidade da zona de intervenção do plano e podem considerar-se em estado satisfatório e suficiente para as necessidades atuais.

3.3.5 COMPROMISSOS URBANÍSTICOS

Importa aqui fazer referência aos compromissos urbanísticos que deverão ser tidos em consideração na proposta de ordenamento da área de intervenção e que correspondem aos alvarás de loteamento, licenças de construção e pedidos de informação prévia com parecer favorável emitidos pela autarquia que se encontram em vigor.

Neste sentido, de acordo com a planta de compromissos urbanísticos da proposta de revisão do PDM_Vila do Porto, constituem compromissos as situações descritas na tabela seguinte.

Tabela 3.8_Compromissos urbanísticos (obras de urbanização, edificação, alteração, ampliação, entre outros)

ID Data do Processo Localização Tipo Alvará Pretensão

REF23 2005 Anjos Lic 57/2005 Construção de moradia – lote 10

REF24 2008 Anjos PIP Alteração de uso para habitação

Fonte: Tabela de compromissos urbanísticos, Revisão do PDM Vila do Porto, versão Discussão Publica, Janeiro 2011

Figura 3.28_Localização dos compromissos urbanísticos (obras de urbanização, edificação, alteração, ampliação, entre outros)

Fonte: PDM_Vila do Porto

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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4. ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO

De forma resumida, o quadro seguinte pretende evidenciar os principais fatores positivos e negativos que melhor caracterizam a área de intervenção do PP_Anjos

Tabela 4.1 _ Diagnóstico

FACTORES POSITIVOS FACTORES NEGATIVOS

Malha de matriz tradicional orgânica fortemente marcada ao nível da sua estrutura edificada pelo seu carácter de utilização sazonal

Ausência de uma linguagem urbanística valorizadora do conjunto

Núcleo urbano marcado pela presença de uma forte memória coletiva de apropriação do espaço coletivo e público

Ausência de valores arquitetónicos assinaláveis ou de conjuntos urbanísticos coerentes e interessantes

Forte cultura de bairro alicerçada em relações de vizinhança e apropriação coletiva do espaço público

Fragmentação territorial das tipologias presentes criando situações de transição desconexas e dissonantes

Forte coesão grupal e participação local no associativismo de bairro

Número relativamente importante de devolutos, cerca de 12 edifícios que corresponde a 17% do total de edifícios existentes, em muito mau estado de conservação ou mesmo ruína

Presença de espaços públicos emblemáticos em termos de referência identitárias e de sociabilidade de rua – espaço público exíguo mas atrativo pela estrutura que apresenta e na relação que estabelece com o mar (a marginal marítima/ a pesca/ o mar)

Emergência de novas tipologias de habitação nos últimos anos, moradias de grandes dimensões, e de muitas pequenas obras de ampliação das construções mais antigas

Condições naturais excecionais para o recreio balnear e para as práticas desportivas náuticas

Sistema viário incipiente e sem alternativas face a uma situação de emergência

Potencial de atração como área de 1ª residência face à proximidade a Vila do Porto e boas acessibilidades à área de intervenção

Com exceção da marginal ausência de passeios, equipamentos ou de qualquer mobiliário urbano.

Quando em comparação com outros núcleos similares no concelho - Praia Formosa, Maia e São Lourenço - a vocação dos Anjos pode ser, até por oposição às outras baías, aquela que se afigura como a área onde a tendência de fixação de população e a procura para 2ª habitação é mais expressiva face à proximidade aos principais centros de emprego do municípios, aeroporto e Vila do Porto.

A Zona Balnear dos Anjos apresenta-se, assim, como um território predominantemente de utilização sazonal, em que o grande desafio que se coloca à sua requalificação emerge da necessidade de encontrar uma visão coletiva consensual de transformação futura do espaço face à importância estratégica que este núcleo desempenha quer como área de 1ª e 2ª residência, quer em termos de potencial desenvolvimento turístico atendendo a que tem:

a) uma localização privilegiada junto à orla marítima, numa baia encaixada e com uma envolvente natural e paisagística impar;

b) uma proximidade a Vila do Porto que lhe permite atrair população que vive e trabalha na sede do concelho mas que usufrui este espaço no seu tempo de lazer e recreio;

c) uma imagem urbana informal, de carácter “quase efémero” na frente urbana mais marítima, fruto de uma ocupação com construções “ligeiras” de utilização sazonal, mas de contraste em relação às edificações recuadas mais recentes;

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

44

d) uma linguagem urbanística heterogénea, por vezes quase dissonante mas onde o tradicional e a modernidade convivem, à procura de um equilíbrio e de uma identidade própria;

e) uma zona marginal muito aprazível, onde as vivências e o convívio intergeracional são dominantes e o espaço público apropriado e vivido por todos os que residem ou visitam a Baía dos Anjos.

O POOC identifica os seguintes objetivos para o plano de pormenor:

Requalificar elementos dissonantes, qualificar os espaços públicos e melhorar as infraestruturas urbanas;

Estabelecer regras que fomentem a diminuição de conflitos entre as diferentes pretensões de utilização do território;

Acautelar situações de risco identificadas como a erosão das arribas e potenciais deslizamentos de massas.

Neste contexto, e tendo como objetivo a potencialização das principais virtudes e a reversão dos seus principais estrangulamentos encontrados na área de intervenção identificam-se as apostas estratégicas que permitem cumprir a estratégia de requalificação do núcleo urbano: (i) defendendo a sua imagem sem comprometer o ambiente de vivências existentes, (ii) valorizando os hábitos de convívio e culturais, como forma de integração social entre novos e velhos residentes, (iii) e programando as intervenções necessárias que permitam introduzir novas funções de guarnição urbana nos domínios da hotelaria e da dinâmica cultural.

Um primeiro conjunto (apostas de diferenciação) que pretende garantir uma vocação e uma identidade própria à Baia dos Anjos, aposta nos principais fatores positivos existentes. Estas apostas centram-se naquelas que se demonstram as principais vantagens competitivas dos Anjos:

(i) a forte cultura de bairro alicerçada em relações de vizinhança e com o espaço público como elemento de sociabilidade;

(ii) a presença de uma associação cultural que aposta na promoção de iniciativas de carácter desportivo, recreativo e cultural divulgando a promovendo a história do lugar dos Anjos;

(iii) a posição privilegiada do núcleo em termos de envolvente natural e a sua proximidade aos principais centros de empregos, infraestruturas e equipamento municipais.

Um segundo conjunto de apostas (qualificação) centradas na melhoria das condições de base que permitam a revitalização do núcleo urbano e a definição de regras de transformação que visem a sua requalificação urbanística. Estão incluídas nestas apostas, entre outras:

(i) a resolução dos problemas de requalificação e integração de elementos dissonantes, através de regras urbanísticas que permitam uma transformação harmónica evolutiva mais adequada);

(ii) a qualificação dos espaços públicos e das infraestruturas urbanística, através da construção de pequenos troços vários que garantam a circulação, bolsas de estacionamento, novas vias, etc,

(iii) a criação de bolsas de expansão que permitam acolher novos usos (e.g. turismo).

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Tabela 4.3 Apostas estratégicas

APOSTAS DE DIFERENCIAÇÃO

Apostar no forte associativismo e na vivência de bairro existente como forma de integração e

atração de novos residentes

Reforçar a efetivação de um espaço de memória dos Anjos (por exemplo aumentar e diversificar

a área afeta ao centro cultural Cristóvão Colombo)

Reforçar e apoiar as iniciativas culturais existentes como fator de atração e diferenciação deste

núcleo.

Criar condições para uma nova oferta de alojamento de hotelaria qualificada e de animação

urbana pensada para públicos exigentes na área continua ao núcleo urbano

Reforçar e ampliar o espaço público existente, nomeadamente prolongando a marginal.

APOSTAS DE QUALIFICAÇÃO

Promover a requalificação urbanísticas das sub-zonas que apresentam situações de

degradação dos seus edifícios criando condições atrativas para a sua recuperação

Manter o padrão de ocupação presente e a linguagem urbanística da frente urbana mais antiga,

pequenos lotes com casas de 1 só piso mas, em simultâneo, criar bolsas de oferta para outras

tipologias na zona de expansão da frente marginal

Construir espaços de fruição pública que mantenham o “espírito” do associativismo e da

vivência coletiva do espaço público.

Resolver estruturas de “passivo urbano” e a presença de habitações degradadas junto ao litoral

Criar um sistema viário que garanta condições de circulação e de segurança.

Tendo por base esta visão são identificadas no capítulo seguinte as implicações territoriais que as apostas agora definidas terão na proposta de organização espacial dos Anjos.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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5. PRÉ-PROPOSTA DE ESTRUTURAÇÃO URBANA

O quadro de referência estratégico, resultante dos instrumentos de gestão territorial vigentes conforme anteriormente caracterizado, é sintetizado na tabela que se apresenta seguidamente. Esta matriz enquadra e condiciona o modelo de ordenamento que se desenvolve e obriga à divisão da área de intervenção em 5 sectores, a saber:

Sector 1_ Frente marítima dos Anjos [POOC]

Sector 2_ Área edificada [POOC] ou solos urbanizados [PDM]

Sector 3_ Área de projeto do POOC

Sector 4_ Sector Este da Baía dos Anjos

Sector 5_ Espaço natural adjacente

A área de intervenção pode ser dividida segundo o estatuo regulamentar que lhe está associado, especialmente decorrente do POOC de Santa Maria como anteriormente foi referido, que se sintetiza seguidamente.

Figura 5.1_Quadro de referência estratégica

SECTOR 1 – Frente marítima dos Anjos [POOC] (4,1ha) Corresponde à frente marginal existente, incluindo a zona balnear dos Anjos, o Porto dos Anjos e à nova frente marítima proposta pelo POOC. No âmbito deste plano salientam-se as seguintes intervenções:

Requalificação da zona balnear dos Anjos; Melhoria dos acessos, obras de manutenção e conservação do Porto

dos Anjos; Requalificação da frente marginal existente e expansão para

norte/nascente da marginal de forma a constituir-se uma nova frente urbana.

Requalificação do percurso pedonal para poente junto ao litoral Área inserida em reserva ecológica

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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SECTOR 2 – Área edificada [POOC] ou solos urbanizados [PDM] (5,1ha) Corresponde à área edificada definida no POOC cujo regime de gestão remete para o PDM. O perímetro urbano divide-se em espaços urbanos consolidados, a consolidar e espaços verdes Nos espaços urbanos consolidados são permitidas obras de construção, demolição, alteração ou ampliação, bem como operações de loteamento, segundo determinadas regras de ocupação e integração no tecido envolvente, onde se preconiza a consolidação dos perímetros existentes através do preenchimento dos terrenos expectantes. Pretende-se a uniformização do tecido urbano consolidado, através da replicação das tipologias de ocupação existentes, da manutenção dos alinhamentos das frentes de rua e das alturas das edificações. Nas novas construções aplicam-se os seguintes indicadores: Índice de ocupação do solo: 50%; Índice de utilização do solo: 0,8; máximo 2 pisos ou altura máxima de 6,5m; afastamentos laterais aos limites do lote no mínimo de 3 m; e profundidade máxima das edificações de 15m (salvo se outra vier a ser estabelecida pelo PP) Quando se tratar de lotes ou prédios a reconstruir ou remodelar, aplicam-se os índices anteriores ou os preexistentes. Nos espaços urbanos a consolidar admitem-se novas construções, obras de alteração e ampliação das construções existentes, obras de reconversão urbanística e operações de loteamento, com base nos seguintes indicadores; Índice de ocupação do solo: 50%; Índice de utilização do solo: 0,6; máximo 2 pisos ou altura máxima da edificação de 6,5 m. Nas operações de loteamento, densidade habitacional máxima de 50 fogos/ha; Índice de utilização do solo para habitação, comércio e indústria a 0,6; Área mínima do lote: de 300 m² e área máxima do lote de 2.500 m²; máximo 2 pisos (salvo se no PP vier a ser estabelecido um número superior); superfície máxima a afetar a anexos, 10% da área do lote, num máximo de 100 m² e 1 piso; Os espaços verdes têm como objetivo garantir o equilíbrio urbano através de ações de requalificação e integração urbanística do espaço público. Apenas se admite a construção de equipamentos de utilização coletiva destinados sobretudo ao desporto, cultura, recreio e lazer, bem como instalações de apoio, tais como estabelecimentos de restauração e de bebidas.

SECTOR 3 – Área de projeto do POOC para a qual é reconhecida a necessidade de através de Plano de Pormenor programar a sua expansão urbana (10,4ha) No âmbito do POOC de Santa Maria projeto é reconhecida a necessidade de ajustar a área classificada como solo urbano, tendo por referencia o área definida no PDM ainda em vigor, desaconselhado a ocupação prevista para a Praia de Lobos, a poente daquele núcleo urbano, e assumindo que deverá ser no âmbito da elaboração do Plano de Pormenor que a área urbana deve integrar, em alternativa àquela zona, uma bolsa de expansão do aglomerado, para norte /nascente no núcleo antigo; neste contexto o Plano de Pormenor a desenvolver deve integrar o núcleo urbano existente e a área de expansão devendo ter como objetivos gerais: a requalificação dos espaços públicos, o ordenamento da rede viária, a preservação e valorização do património existente e a necessidade de programar os equipamentos coletivos necessários.

SECTOR 4 – Sector Este da Baía dos Anjos (2,7ha) Engloba a baía a nascente da dos Anjos integrada nas Áreas de Porteção e Conservação da Natureza do POOC e que foi, veja-se respetivo capítulo, objeto de análise a avaliação no âmbito da elaboração do POOC numa perspetiva de no futuro poder ser integrado como área de expansão dos Anjos. Deste parecer parece ser possível a sua classificação, no âmbito do PP_Anjos, deste que sejam observadas as disposições e orientações propostas para a sua ocupação (?)

SECTOR 5 – Espaço natural adjacente (10,3ha) Engloba o solo rural restante na envolvente das áreas anteriores descritas, integrado as Áreas de Proteção e Conservação da Natureza e as áreas vulneráveis do POOC e os espaços naturais e culturais do PDM. A área encontra-se inserida na Reserva Ecológica.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Em termos das estruturas biofísicas presentes na área de intervenção importará salvaguardar a valorização destes elementos fundamentais para a sustentabilidade ambiental e em simultâneo criar condições que potenciem a sua utilização e fruição.

O desenvolvimento sustentável deste território, na aceção da proposta que se desenvolve, procura encontrar o equilíbrio entre desenvolvimento económico, social/cultural e ecológico, respeitando cada uma das suas dimensões, tentado gerar um modelo evolutivo que enquadre os novos desafios de forma gradual, integrada e harmoniosa, sem comprometer a evolução dos sistemas ecológicos fundamentais.

Face às características e aos valores presentes na área de intervenção a proposta que se desenvolve assenta na valorização de toda a frente água, quer oceânica quer ribeirinha, tirando partido da qualidade ecológica e ambiental intrínseca e potenciando as atividades de recreio, lazer e usufruto deste importante território, e na proteção do sistema de arribas, que poderá originar intervenções pontuais de reperfilamento, limpeza e valorização do coberto vegetal existente.

Na figura seguinte sistematizam-se as estruturas e valores mais significantes existentes na área de intervenção. A sua configuração marcada pela presença de duas baías que se desenvolvem quase à cota do mar, envolvidas por vertentes declivosas, evidencia a necessidade de estruturar a ocupação urbana atendendo às orientações definidas pelo POOC de forma a minimizar situações futuras de risco.

Figura 5.2_ Macro-zonamento das estruturas biofísicas

Outras das dimensões estruturantes da proposta é a reestruturação da rede de circulação, de estacionamento e de oferta de espaços públicos de recreio e lazer. Assume-se que um factor de diferenciação deste espaço urbano passa pela aposta de um espaço urbano vocacionado para a fruição dos espaços públicos, privilegiando-se a mobilidade inclusiva e restringindo-se a circulação automóvel.

Nesse sentido a proposta envolve a construção de ligações entre vias existentes, eliminando situações de impasses, para além de um conjunto de novos arruamento associados à área de expansão.

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Toda a baía do sector Este deverá ser estruturada segundo um modelo de ocupação a discutir na fase seguinte.

Face ao sistema viário existente e à constatação de não existir uma via alternativa de acesso à baía dos Anjos para situações de emergência, considera-se extremamente importante preservar e melhorar o acesso pedonal que confina com o limite poente do núcleo urbano, permanecendo pedonal mas com características que permitam a circulação de veículos de emergência.

Na figura seguinte sintetizam-se as principais propostas associadas a este sistema.

Figura 5.3_ Estruturação da rede de circulação e espaço público

A proposta de estruturação urbana que se apresenta visa criar condições de colmatação da malha existente e de proporcionar uma oferta diversificada de zonas com características distintas capazes de atrair novos residentes mas também novos investimentos, nomeadamente turísticos.

Atendendo à organização presente privilegia-se a constituição de subzonas que se diferenciem entre si pelo padrão de ocupação que se propõe. Este modelo obriga à definição de normas construtivas que garantam uma linguagem urbanística coerente e homogénea por subzona, assegurando a manutenção do padrão de ocupação dominantes no núcleo consolidado que permita a manutenção do carácter e do espírito que marcam a vivência urbana existente, (veja-se figura seguinte).

Nos termos da proposta são definidas nas seguintes subzonas:

Zona residencial consolidada de matriz orgânica /tradicional, que corresponde à área urbana existente e integra os lotes urbanos existentes já ocupados ou vazios mas que são fundamentalmente de colmatação de malha. Dentro desta zona, podem identificar-se subzonas em termos das intervenções a propor posteriormente e que resultam das morfologias dominantes presentes em cada uma das subzonas que necessitam de intervenção de requalificação e reorganização espacial distintas;

Zona residencial de expansão, que corresponde à área nascente/norte da baía dos Anjos que será estruturada a partir da nova marginal marítima que se prevê construir constituindo uma nova frente urbana predominantemente residencial;

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Zona residencial /turística de expansão do sector Este da baía dos Anjos, que corresponde à baía a nascente da zona anterior, permitirá criar uma nova zona urbano turística com dimensão e expressão territorial adequada à dimensão do núcleo urbano.

Figura 5.4_ Estrutura urbana

O elemento estruturante de articulação das duas primeiras zonas referidas, predominantemente residenciais, será assegurado essencialmente através da extensão da marginal que se propõe e que está prevista no âmbito do POOC.

Embora a zona urbana existente apresente um forte nível de consolidação, verifica-se que ainda existem no interior deste núcleo 16 parcelas não ocupadas (o que corresponde a cerca de 20% do número total de parcelas) com áreas variáveis entre os 190 m2 e os 750m2, para além das cerca de 8 parcelas integradas nesta malha urbana em cujos edifícios estão em mau estado de conservação ou mesmo ruína. Ou seja, dentro do perímetro urbano atual cerca de 30 % das parcelas existentes (no número total de 24) ou estão vazias ou estão devolutas.

Para a zona residencial nascente de expansão são propostas 31 novos lotes, com dimensões variáveis entre os 412 m2 e os 1200m2; predominando os lotes com dimensões entre os 450/550 m2 que deverão ser ocupados predominantemente por habitações unifamiliares isoladas, admitindo-se, por reparcelamentos dos lotes, a instalações de empreendimentos turísticos nos termos legais vigente. Nesta área propõe-se ainda a manutenção do reticulado agrícola existente adjacente ao Centro Cultural Cristóvão Colombo propondo-se que este seja, no futuro, o espaço ao ar livre de expansão daquele equipamento, pelo valor e singularidade que encerra.

Por fim, considera-se que a estruturação da zona residencial /turística de expansão do sector Este da Baía dos Anjos só deverá ser objeto de um modelo de ocupação após a discussão sobre a possibilidade de ocupação e transformação deste território. Importa reter que é uma área com2,7 ha.

Em síntese, o modelo que se propõe cria as condições necessárias para que o núcleo urbano dos Anjos se possa desenvolver de uma forma harmónica e sustentável, integrando e reforçando as dimensões sociais, económicas e ambientais que traduzem a autenticidade deste território.

No Desenho 03, em anexo, apresenta-se a proposta de estruturação urbana. Esta é uma primeira proposta que carece de discussão alargada de forma a serem validados os seus princípios e objetivos.

Zona urbana consolidada

Zona residencial de expansão

Zona residencial/ turística de expansão

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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Figura 5.5_ Pré-proposta de estrutura urbana

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

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ANEXO_01: DESENHOS

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

ANEXO_02: LEVANTAMENTO DO EDIFICADO

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

A caracterização dos lotes e edificações passou pela construção de uma ficha de caracterização constituída por um conjunto de parâmetros, que posteriormente foram inseridos numa base de dados de forma a permitir o posterior manuseamento bem como uma análise relativa dos mesmos.

A ficha de caracterização divide-se em 3 sectores que têm o seguinte conteúdo:

1. Identificação do lote – esta primeira parte integra:

1.1. O número de identificação do lote, que distingue 80 fichas e que constitui o campo-chave da base de dados;

1.2. A morada e o número de polícia (quando existem);

1.3. O artigo (número) e a secção (letra) do registo cadastral – a completar com os elementos fornecidos pelos serviços da Câmara Municipal;

1.4. A localização dentro ou fora do perímetro urbano;

1.5. Fotografias dos edifícios existentes no lote;

2. Caracterização do lote – a segunda parte da ficha inclui os seguintes parâmetros:

2.1. Área do lote – informação a incluir com base na cartografia de base, medida em hectares;

2.2. Área dentro do PP – valor idêntico ao anterior quando a parcela é totalmente abrangida pelo plano; nos casos em que não é foi medida a parte da parcela abrangida; permite avaliar a capacidade de construção atual;

2.3. Nº de frentes para a via pública – número de frentes do lote que confinam com arruamentos públicos; permite saber se a parcela tem um acesso direto ou se o faz através de outras parcelas;

2.4. Função/utilização – identifica as principais funções visíveis no terreno (agrícola, jardim, armazém, estacionamento, habitação ou outra); permite escolha múltipla;

2.5. Vedação do lote – caracterização do tipo de vedação existente no lote (muro, gradeamento ou sebe); permite escolha múltipla;

2.6. Superfície não pavimentada – identifica o tipo de superfície presente (terra, saibro, relvado, vegetação rasteira ou arbustiva, coberto arbóreo ou cultivo, etc.); permite escolha múltipla;

2.7. Superfície pavimentada – identifica do tipo de material presente na superfície pavimentada, quando existe;

2.8. Infraestruturas – assinala as infraestruturas que abastecem o terreno, caracterização feita a partir do levantamento de campo;

2.9. Elementos naturais – identifica a presença de elementos naturais no terreno ou nas imediações, nomeadamente as linhas de água, maciços arbóreos, localização na base da vertente ou na crista da arriba, ou outra;

2.10. Apreciação global do espaço – apreciação do estado em que se encontra a parte visível do lote; serve sobretudo para avaliar os espaços em torno dos edifícios;

3. Caracterização do Edificado – feita com base nos seguintes parâmetros:

3.1. Identificação do edifício – para cada edifício existente no lote, incluindo anexos, identificados quer nos levantamentos de campo quer na cartografia, é feita uma ficha;

3.2. Área de implantação – área do lote ocupada pelo edifício; informação a incluir com base na cartografia;

3.3. Nº de pisos – nº de pisos do edifício, acima da cota de soleira;

CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PRÉ-PROPOSTA

3.4. Época de construção – componente considerada importante na caracterização do edifício, optando-se pela identificação da época por décadas, com base nas tipologias definidas pelo INE (anterior a 1945, entre 1945 e 1970, entre 1971 e 1991, entre 1991 e 2005 e posterior a 2005);

3.5. Funções – identificação das funções aparentes dos edifícios existentes (habitação, comércio, restauração, armazém, indústria, equipamento ou outro); permite escolha múltipla;

3.6. Tipologia – identificação da tipologia do edifício ou edifícios existentes dentro da área de intervenção (habitação unifamiliar isolada, geminada ou em banda, habitação colectiva ou armazém/barracão);

3.7. Cobertura – caracterização da cobertura do edifício (plana, águas – identificando o nº de águas -, mista, etc.);

3.8. Estado de conservação – apreciação do estado construtivo que o edifício apresenta; nos casos em que o edifício está em construção optou-se por não caracterizar o seu estado de conservação.

As imagens seguintes exemplificam o formulário de carregamento da base de dados.

Importa salientar que a base de dados ainda não se encontra fechada e apenas apresenta os lotes com edificações, em virtude de não estar terminado o levantamento cadastral da área de intervenção, estando a faltar a contabilização dos lotes sem edificações. Neste sentido, salvaguarda-se desde já a oportunidade de completar esta caracterização na fase seguinte da elaboração do PP.

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