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Page 1: Planejamento, Orçamento Público e Participação. · Planejamento, Orçamento Público e Participação Assessoria Geral de Orçamento e Controle AGOC Uberaba, março de 2010

Planejamento, Orçamento Público e

Participação

Assessoria Geral de Orçamento e Controle

AGOC

Uberaba, março de 2010

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Planejamento e gestão de políticas públicas

A prática sistemática do planejamento iniciou-se principalmente na extinta União

Soviética, quando os planos governamentais passaram a ser utilizados para substituir o

mecanismo de mercado como regulador automático da economia e da sociedade. Os países

capitalistas também incorporaram a prática em razão da necessidade de uma maior

intervenção do Estado no funcionamento de suas economias diante da crise econômica dos

anos 1930. Os êxitos com a experiência soviética, a retomada do crescimento nos Estados

Unidos e na reconstrução européia pós-guerra convenceram os demais países, inclusive os da

América Latina, de sua importância no desenvolvimento social e econômico.

O Planejamento é entendido como um sistema de métodos e

procedimentos cuja finalidade é a construção e a utilização de

representações antecipadas, esquematizadas e hierarquizadas,

ou seja, de cenários, para servir de guia a uma atividade.

É um recurso de formalização das decisões, e visa assegurar que as escolhas quanto às

ações futuras ocorram com a maior racionalidade possível. O planejamento é claramente, um

“instrumento auxiliar”, a “negação da improvisação”.

Planejamento Normativo e Planejamento Estratégico Situacional

(PES)

Planejamento e gestão democrática não se separam. A gestão estratégica incorpora

também outras formas de construção do saber, como o bom senso e a intuição, que também

são outras formas de trabalhar a informação.

O Planejamento governamental tradicional tem características normativas, visto que a

comunidade e as suas relações territoriais são consideradas “passivas”, que aceita e assimila

as políticas e programas impostos pelo governo, sem reação por parte das instituições e da

comunidade. Pressupõe alta governabilidade, ou seja, que aquele que governa tem total

conhecimento e controle das variáveis envolvidas no problema. O planejador julga que

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quando os atores sociais reagem, o fazem de forma previsível e previamente estabelece

estratégias que anulem esta reação.

Esse modelo tende a ser superficial e incompleto, encontrando menos problemas em

situações onde o poder estatal é centralizado, a exemplo do planejamento utilizado no período

de 1930 a 1970, de regimes militares ou economias socialistas

Suas características:

- controle absoluto do planejador sobre o sistema social;

- considera as reações dos agentes sociais como previsíveis;

- considera que as variáveis que não controla não tem relevância no processo.

Em ambientes democráticos, de complexidades sociais, econômicas e políticas de

nossa atualidade, o planejamento normativo não se mostra mais adequado em função dessa

característica linear. Dentre os métodos não lineares destaca-se o Planejamento Estratégico

Situacional – PES, que surgiu da análise das dificuldades do Planejamento normativo

tradicional.

Carlos Maltus, principal idealizador do método PES e crítico do planejamento normativo,

define o PES como “cálculo situacional sistemático que relaciona o presente com o futuro e o

conhecimento da ação”, ou seja, considera as relações de poder entre os atores sociais

envolvidos no processo e incorpora as variáveis políticas como determinante para a

viabilidade das políticas públicas.

Neste contexto, os fatores políticos não se tornam restrições, mas informações que

possibilitam as demandas possíveis.

Nas políticas públicas, atores sociais são todas as pessoas e

organizações envolvidas nos processos de formação e gestão pública.

Este conceito reforça o fato de que nas ciências sociais, ao contrário do

que ocorre nas ciências naturais, os objetos de estudo pensam, agem e

reagem.

No PES, a realidade social é algo bem mais complexo que um fenômeno natural. O

planejamento ou o ato de governar surge como um conflito entre o individual que se opõe ao

interesse coletivo. São diferentes visões, objetivos, recursos e poder, assim, o PES analisa as

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situações como uma interação entre os atores, onde cada ator interpreta a realidade de acordo

com suas motivações, interesses e valores.

Esse fato dificulta a criação de um planejamento governamental capaz de atender as

necessidades de todos.

É uma metodologia situacional, pois lida com uma realidade dinâmica e complexa,

que não supõe um final exato, de forma pré-estabelecida. É possível planejar mas, não é

possível prever o resultado com total exatidão. Neste contexto, um programa não é válido

antes que tenha sido concluído e sua avaliação o determinar como tal, visto que as causas que

o determinaram no momento da elaboração podem não o ser mais em poucos meses.

Deve então, ser constantemente avaliado para correções e realinhado com os interesses

de seu público alvo e objetivos.

O PES valoriza mecanismos que garantam sua implementação: previsão, correção e

aprendizado. Necessita efetivamente de um sistema de cobrança e prestação de contas

(monitoramento), onde as responsabilidades são atribuídas e o desempenho cobrado, assim, o

programa só estará terminado quando estiver o mais próximo possível dos objetivos

propostos.

Problema Social

Problema social é o objeto central de uma política pública.

Ocorre quando há uma disfunção no funcionamento de uma sociedade, como

exemplo, a alta taxa de mortalidade, a evasão escolar ou falta de determinado serviço público

essencial. No entanto, um problema social pode compreender outras demandas, como a

exploração de uma potencialidade econômica, a criação de infraestrutura para o

aproveitamento do potencial turístico de uma localidade. Devem ser descritos, sustentados em

fatos verificáveis, com existência amplamente aceita reconhecidos e validados pela maioria.

Um problema social é decorrente de um conjunto de causas,

assim, é necessário diagnosticar (identificar) as causas críticas e

eliminá-las por meio de ações governamentais.

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Uma vez identificado um problema social, é necessário um diagnóstico sobre suas causas para

que sejam adotadas medidas para eliminá-lo e demonstrado por indicadores adequados.

Diagnóstico e Indicadores

Diagnóstico é o conjunto de procedimentos que visa procurar as principais causas de

um problema, ou seja, dentro de um amplo conjunto de causas, definir as causas críticas na

situação, que se enfrentadas, vão produzir o maior impacto possível sobre o problema.

Realizado o diagnóstico e identificadas as causas críticas, estabelecem-se as ações

governamentais necessárias para eliminar cada uma das causas críticas e assim, solucionar o

problema.

Esse conjunto de ações constitui os projetos e atividades da política pública, ou seja,

do programa governamental destinado a solucionar o problema em questão.

O enfoque do Planejamento Estratégico Situacional na problematização da realidade,

permite a construção de um modelo de planejamento simples e efetivo para o enfrentamento

dos problemas sociais.

Um problema social é decorrente de um conjunto de causas,

assim, é necessário diagnosticar (identificar) as causas críticas e

eliminá-las por meio de ações governamentais.

No processo de gestão de políticas públicas, os indicadores são necessários para o

monitoramento e para avaliação dos resultados obtidos, tendo em visto, que no contexto de

políticas públicas, mais importante que medir os resultados, é saber se a sociedade está

Causa 2

Causa 1

Problema Programa

Ação 1

Ação 2

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satisfeita com eles. No ambiente democrático atual, a relação de estado com a sociedade deve

ser uma relação de parceria. Avaliar uma política pública é fundamentalmente, “medir” sua

efetividade.

Indicadores compreendem tanto as informações verbais ou escritas obtidas para

realizar o monitoramento de tarefas, projetos ou atividades. Assim, um índice, uma taxa, um

coeficiente, proporções, porcentagens ou outros elementos de estatística, um número simples

ou uma informação verbal pode ser um indicador, dependendo do quadro referencial de

propósitos e de conceitos em que for inserido.

O Indicador não é apenas um dado, é uma medida que permite

concluir atributos desse dado, como qualidade, impacto, resultado.

(definição, valor ou unidade de medida.

Indicadores de Resultado e Indicadores de Impacto

É possível classificar os indicadores como indicadores de resultado e indicadores de

impacto.

1) Indicadores de Resultado:

a) Indicadores de resultado para produtos – Se referem à própria atividade de

intervenção, medindo os produtos (bens ou serviços) em termos físicos. Compreendem a linha

de ações e de tarefas. Ex: Postos de saúde construídos.

b) Indicadores de resultado por objetivos – Relacionam aos efeitos diretos do

programa e correspondem à linha do objetivo do programa. Acoberta aspectos quantitativos

ou qualitativos, podendo ser indicadores físicos ou financeiros. Ex: Redução do número de

acidentes de trânsito; redução do custo do transporte.

2) Indicadores de impacto:

Os indicadores de impacto não oferecem informações objetivas, são considerados os

aspectos mais amplos, como a situação socioeconômica e ambiental. Indicadores de impacto

estão frequentemente fora do alcance direto de um programa, pois correspondem à linha

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finalidade, exigindo análises mais profundas, além do fato de que geralmente são publicados

ou disponíveis apenas após longo período de tempo.

Monitoramento e avaliação

Monitorar e avaliar são conceitos interligados, porém distintos quanto aos seus

objetivos e suas funções.

a) Monitorar significa acompanhar sistematicamente e consiste na comparação de

produtos ou resultados obtidos com as metas ou quantidades programadas. Neste contexto, a

tarefa de monitorar produtos e resultados é geralmente simples.

b) Avaliar, no entanto, é uma tarefa mais complexa e consiste em coletar informações

não apenas de monitoramento, mas de outras fontes para a compreensão e explicação dos

resultados de políticas públicas sobre o público-alvo, e ainda os aspectos econômico, social e

ambiental do seu contexto, não é simplesmente comparar metas previstas e metas obtidas.

Na gestão pública, avaliar é fundamental e contribui para o crescente

aprendizado do processo de gestão, para melhor análise da alocação de

recursos com a transparência da gestão pública.

Marco conceitual para formulação e a gestão das políticas públicas

Uma das principais mudanças introduzidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal foi ter

transformado o processo orçamentário em efetivo instrumento de planejamento. Neste

sentido, a Lei de Responsabilidade Fiscal recuperou o espírito constitucional e veio somar-se

à nova metodologia que integra planos e orçamentos, conferindo às três peças - Plano

Plurianual, Diretrizes Orçamentárias e Orçamento - um caráter integrado nos três níveis de

governo.

Em sentido complementar, a Lei de Responsabilidade Fiscal institucionaliza o regime de

metas fiscais, fazendo com que o orçamento seja elaborado para cumprir as metas físicas ou

financeiras do PPA e as metas fiscais da LDO.

O conceito de responsabilidade fiscal está intrinsecamente relacionado à noção de

prudência na gestão das finanças públicas ao longo do tempo; à idéia de que não é correto, da

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parte do gestor público, contrair compromissos superiores à capacidade de pagamento, e que

se o fizer, tal opção deverá refletir uma opção consciente da sociedade.

A nova metodologia do Plano Plurianual que integra planejamento e orçamento se

insere nesse contexto. Antes mesmo da elaboração da Lei de Responsabilidade Fiscal, havia

grande preocupação com a ênfase excessiva dada ao orçamento e com o fato de o Plano

Plurianual apresentar objetivos e diretrizes gerais, não quantificadas e difíceis de acompanhar

e controlar. A ausência de metas induzia o cidadão a pensar que gastar mais era

necessariamente melhor, quando pouco acompanhamento havia em relação ao produto final

gerado pelo gasto público.

Os programas do Plano Plurianual, elaborado no primeiro ano do mandato, devem

materializar as promessas de campanha e guardar condições de equilíbrio financeiro. Depois,

os programas ganham gerentes que são responsáveis por assegurar resultados e fazer

avaliações periódicas. O ideal é que se possa avaliar se os índices desejados foram atingidos,

isto é, se houve efetividade no gasto.

O passo seguinte no processo orçamentário é a elaboração da Lei de Diretrizes

Orçamentárias. Novamente, então, havia diretrizes gerais, não quantificadas e difíceis de

acompanhar e controlar. A Lei de Responsabilidade Fiscal inovou ao introduzir o Anexo de

Metas Fiscais, para três anos, contendo metas para receita, despesa, resultado primário e

nominal e dívida pública. A importância dessa inovação, é de conferir à gestão pública uma

perspectiva inter-temporal.

O terceiro passo é a elaboração do orçamento que deve detalhar as despesas e as fontes

de receita que as financiam. Depois, a Lei de Responsabilidade Fiscal obriga a publicação das

metas de arrecadação bimestrais e da programação financeira mensal para o exercício. O

objetivo é permitir o acompanhamento das metas na execução financeira. Exige-se, ainda, a

adoção de práticas de gestão fiscal transparente, de modo que o cidadão contribuinte e eleitor

possa exercer o controle social já no processo orçamentário. Neste sentido, a Lei exige que se

divulguem demonstrativos sobre renúncia de receitas e criação de despesas de caráter

continuado.

A legislação que rege estes processos de planejamento e orçamento, tem como base a

Constituição Federal, as Constituições Estaduais, Leis Orgânicas dos Municípios, Lei de

Responsabilidade Fiscal (LRF) e Lei 4.320/64.

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Plano Plurianual - PPA

O PPA, como importante peça de planejamento, consolida-se em forma de Lei e

orienta a Administração Pública na execução dos gastos e na aplicação dos investimentos.

Assim, como um amplo plano de Governo, tem como pressuposto organizar as

demandas da sociedade nas diversas áreas, tais como saúde, educação, ciência e tecnologia,

assistência social, segurança pública, justiça, trabalho e renda, agricultura, entre outras.

Este instrumento é a lei que define as prioridades do Poder Executivo para um período de 4

(quatro) anos, entrando em vigor a partir do 2º ano de uma gestão e se estendendo até o 1º ano

de outra gestão.

O PPA estabelece as diretrizes, objetivos e metas da administração pública para as

despesas de capital (relativas a obras e construção de equipamentos públicos) e outras delas

decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada.

Quanto aos seus principais objetivos no âmbito municipal, podemos afirmar que são

eles:

- Conjugar a orientação estratégica de governo com limites financeiros e capacidade

operacional;

- Integrar as ações desenvolvidas pelos três níveis federativos (União, Estado e

Município),

- Dar transparência à aplicação dos recursos e aos resultados obtidos;

No contexto municipal, o PPA deve estar organizado em princípios como ética,

transparência, eficiência, racionalização e participação. Os objetivos são específicos a serem

alcançados pelo Governo ao final dos 04 anos da Gestão Pública, e que representam impacto

ou resultados para a população, como a redução da pobreza, emprego e geração de renda,

segurança, educação etc.

As diretrizes são orientações mais gerais, etapas com as quais o Governo se

compromete a seguir quando define os seus programas e ações.

Para alcançar esses resultados, a ação do Governo se organiza em programas. Os

programas visam solucionar problemas, atender demandas ou ainda criar oportunidades de

desenvolvimento e crescimento para as populações das cidades e do campo.

As ações são projetos ou atividades focadas, que visam proporcionar um bem ou

serviço para atendimento de tais demandas da sociedade.

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O Art. 108 da Lei Orgânica do Município, em consonância com os prazos da CF -,

determina a data limite de 30 de abril para que o Executivo envie o Projeto de Lei (PL) do

PPA à Câmara Municipal, devendo ser votado até 30 de maio, lembrando que sua

periodicidade é de 4 anos.

Monitoramento e Avaliação do PPA

As revisões acontecem nos anos seguintes à sua elaboração. O objetivo é rever as

ações que estão sendo feitas, aperfeiçoar as que precisam, e modificar aquelas que não

estiverem tendo bom êxito.Todavia, assim como nos demais processos, o monitoramento e a

avaliação não devem se restringir ao poder público já que são, também, formas da sociedade

exercer o controle social.

Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)

A LDO estabelece anualmente as metas e prioridades para o exercício financeiro

subseqüente, orienta a elaboração da Lei Orçamentária Anual, dispõe sobre alterações na

legislação tributária e estabelece a política de aplicação de recursos financeiros das agências

financeiras de fomento, baseada no artigo 165 § 2º e 169 § 1º da Constituição Federal.

Ainda define as metas e prioridades de programas de governo, baseadas no PPA, e

nela deve constar: autorização específica para a concessão de qualquer vantagem ou aumento

de remuneração, a criação de cargos ou alteração de estrutura de carreiras, bem como a

admissão de pessoal, pelos órgãos e entidades da administração direta e indireta, ressalvadas

as empresas públicas e sociedades de economia mista.

No Município, o executivo tem que enviar o projeto de lei da LDO para análise do

legislativo até 10 de junho de cada ano e votado até 10 de julho.

Lei de Orçamento Anual (LOA)

O orçamento é uma forma de planejar e executar despesas que tanto os indivíduos

quanto as instituições utilizam. Todo o orçamento distribui o planejamento das ações

envolvidas em termos de receitas e despesas.

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Além do planejamento, o orçamento público possui muitas características parecidas

específicas, como a necessidade de compatibilizar receitas e despesas, relacionadas ao

processo legal ao qual está submetido e a sua finalidade de orientar as finanças públicas.

O orçamento público é uma Lei que deve refletir o compromisso formulado

anualmente entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo (que representa os cidadãos) para

viabilizar a implementação de ações realizadas pelo poder público. A lei que rege os

orçamentos públicos é a Lei Federal 4.320/64. Ela prevê que: “A lei do orçamento conterá a

discriminação da receita e da despesa, de forma a evidenciar a política econômico-financeira e

o programa de trabalho do governo, obedecido os princípios da unidade, da universalidade e

da anualidade.”

A Lei Orçamentária Anual disciplina todos os programas e ações do Poder Executivo

em exercício. Nenhuma despesa pública pode ser executada sem estar consignada no

Orçamento.

A LOA estima as receitas e autoriza as despesas do governo de acordo com a previsão

de arrecadação. Se durante o exercício financeiro houver necessidade de realização de

despesas acima do limite que está previsto na Lei, o Poder Executivo submete ao Legislativo

um novo projeto de lei solicitando crédito adicional.

O executivo tem que enviar o projeto da LOA à Câmara dos Vereadores até 15 de

outubro e o projeto tem que ser votado até 10 de dezembro.

Trâmite do Projeto de Lei Orçamentária

É importante destacar que apesar da LOA ser um ato de autorização de despesas e não

obrigar o Poder Executivo a efetivá-las integralmente, ela é uma referência para embasar a

execução orçamentária e é um instrumento que pode ser utilizado para cobrança dos reais

compromissos da administração pública com a sociedade.

Além disso, é essencial atentar para o percentual de remanejamento entre as

secretarias que costuma ser praticado pelos governos na execução orçamentária. Esse

percentual está definido na LOA e permite que os governantes reorganizem o orçamento

aprovado conforme suas prioridades, sem que elas sejam examinadas pelos legisladores.

Contudo, são os próprios legisladores que, na aprovação da Lei, dão aos governantes o aval

para utilizar essa manobra.

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Composição do orçamento público

a) Receitas

A composição das receitas do orçamento público provém de tributos arrecadados pelo

Poder Executivo. A Constituição Federal nos seus artigos 145 a 162 define os tributos

Federais, Estaduais e Municipais.

A arrecadação da receita pública se dá por meio de:

Impostos

Tributo obrigatório cobrado pela União, estados e municípios, que devem reverter

para a comunidade sob forma de serviços públicos de interesse geral, tais como

educação, saúde, transporte, etc.

Taxas Tributo obrigatório cobrado pela União, estados e municípios, pela prestação de

serviços específicos à população. Ex:Taxa do lixo.

Contribuições

de melhoria

Tributo gerado pela valorização imobiliária decorrente de obras públicas

realizadas pelo governo. Ex: construção do metrô.

Tarifas Pagamento de serviço prestado pelo Poder Público ou concessionárias do Poder

Público. Ex: Tarifas de água e energia elétrica.

O quadro abaixo indica os principais tributos a cargo de cada esfera de governo:

Principais Tributos

Municipais

IPTU – Imposto Territorial e Predial Urbano

ISS – Imposto sobre Serviços

ITBI – Imposto de Transmissão de Bens Intervivos

Taxas – ex: limpeza pública

Contribuições de Melhoria

Principais Tributos

Estaduais

ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias – (25% deste imposto é

redistribuído aos municípios)

IPVA – Imposto sobre Proprietários de Veículos Automotores – (50% se

destina ao município arrecadador)

Principais Tributos

Federais1

FPM – Fundo de Participação dos Municípios (Formado por 22,5% do IPI

e do IR e é repassado aos Municípios, seguindo critérios de porte

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populacional e regional)

IR – Imposto de Renda Retido na Fonte

ITR – Imposto Territorial Rural

Cada esfera de governo tem autonomia para realizar modificações nos tributos de sua

responsabilidade. Por exemplo, somente o Governo Federal tem autonomia para modificar

alíquotas ou a forma de distribuição dos valores arrecadados pelo Fundo de Participação dos

Estados e Municípios (FPE e FPM, respectivamente). Já em relação ao ICMS quem define

são os Estados, e no caso do IPTU, fica a cargo dos Municípios.

Codificação da Natureza da Receita e seu detalhamento

Exemplo:

1.1.1.2.02.02 – Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana

Dígito 1 1 1 2 02 01

Definição Categoria

Econômica Origem Espécie Rubrica Alínea Subalínea

Descrição Receita

Corrente

Receita

tributária Impostos

Impostos

sobre o

patrimônio e

a renda

Imposto sobre a

propriedade

predial e

territorial e

urbana

Imposto

sobre a

propriedade

predial

2.4.2.1.01.01 - Transferências de recursos do SUS

Dígito 2 4 2 1 01 01

Definição Categoria

Econômica Origem Espécie Rubrica Alínea Subalínea

Descrição Receitas de

Capital

Transferências

de Capital

Transferência

s Inter-

governamenta

is

Transferência

s da União

Transferência

s de rec. do

SUS

Transferência

s de rec. do

SUS

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Despesas

As despesas são classificadas de formas diversas e com objetivos diferentes.

1) Classificação Institucional: codificação destinada a identificar as despesas em

órgãos e unidades orçamentárias. Esta codificação não é padronizada, podendo ser definida

pelo próprio ente da federação.

2) Classificação Funcional-Programática

a) Classificação Funcional: codificação via função e subfunção, destinada a

classificar as despesas por atribuições permanentes da administração pública, tais como

educação, saúde, transporte, etc. Esta codificação segue uma mesma padronização nos

municípios, estados e União.

b) Classificação Programática: codificação destinada a identificar os objetivos do

Poder Executivo para os quais as despesas estão programadas (programa, projeto, atividade e

operação especial). Esta codificação não é uniforme, variando conforme os governos.

- Programa: conjunto de ações que concorrem para um objetivo comum

preestabelecido, mensurado por indicadores instituídos no Plano Plurianual, visando a solução

de um problema ou o atendimento de determinada necessidade ou demanda da sociedade. O

programa é o nível integrador entre o PPA e o orçamento. Os nomes dos programas são

definidos pelo governo na elaboração do Plano Plurianual e os programas indicam as

prioridades que o governo definiu para sua gestão.

- Atividade: é o instrumento de programação utilizado para alcançar o objetivo de um

programa, envolvendo um conjunto de operações contínuas e permanentes, das quais resulta

um produto ou serviço necessário à manutenção da ação dos Governos. Cada Administração

tem a liberdade de definir os títulos de suas atividades. No contexto municipal, a orientação é

de que sejam descrições claras e sintéticas sobre o foco da ação.

- Projeto: instrumento de programação para alcançar o objetivo de um programa, que

envolve um conjunto de operações limitadas no tempo, das quais resulta um produto que

concorre para a expansão ou aperfeiçoamento da ação dos governos. Cada Administração tem

a liberdade de definir os títulos de seus projetos.

Exemplo de Dotação Orçamentária:

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15.10.10.302.040.2 001 – 3.3.90.30.00 - 0 100

15.10 10.302. 040 2 001 3.3.90.30 0 100

Instituc. Funcional Programátic

a

Ação

(atividade)

Natureza da Despesa Fonte

Onde:

Os quatro dígitos iniciais referem-se à classificação institucional, são definidos pelo

próprio ente da federação.

- Órgão – Secretaria da Saúde (15)

- Unidade – Hospital Municipal (10)

O 5º e 6º e 7º a 9º dígitos são de determinação obrigatória e igual em todo território e

indicam respectivamente:

- Função – Saúde (10)

- Subfunção – Assistência Hospitalar e Ambulatorial (302).

Do 10º ao 13º (0040) temos o Programa de Governo – Gestão Administrativa -

Designa o conjunto de projetos e atividades a cargo de um órgão ou unidade orçamentária, em

um determinado exercício, podendo também se referir à programação de todo o setor público.

Esta codificação também fica a critério de cada município;

Do 14º ao 17º temos uma ATIVIDADE, também definida pelos Municípios (inicia-se

com nº par - 2 001) – Manutenção do Administrativo da Unidade.

Em seguida, identificamos a natureza da despesa – Material de Consumo

(3.3.90.30.00) – Determinação Obrigatória e igual em todo território. Ou seja, nesta dotação

orçamentária os gastos serão feitos para a aquisição de materiais de consumo, como por

exemplo, papel sulfite, canetas, etc.

Já os últimos dígitos indicam a Fonte de Recursos – Tesouro Municipal (0 100) –

Definido pelo Município.

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Planejamento e Participação

“Adotar medidas que nos permitam acompanhar o progresso real da sociedade e do

planeta é necessário, mas não suficiente. Temos de assegurar que a sociedade tenha mais

possibilidade de cobrar os resultados. As críticas ao tamanho do setor público refletem em

geral uma visão ideológica e pouco conhecimento da realidade. Nas palavras de um diretor da

Ecole Nationale d’Administration, a famosa ENA, melhorar a produtividade do setor público

constitui a melhor maneira de melhorar a produtividade sistêmica de toda a sociedade... a boa

gestão se consegue por meio da articulação inteligente e equilibrada do conjunto dos atores

interessados no desenvolvimento, os chamados “stakeholders”. É uma gestão que busca

“responder”, ou “corresponder” aos interesses que diferentes grupos manifestam, e supõe

sistemas amplamente participativos, e em todo caso mais democráticos, na linha da

“governança participativa”. (Ladislau Dowbor, 2009)

A decisão de realizar um processo de planejamento participativo, implica que o

Governo ouça a população. Embora essa iniciativa torne o processo mais complexo e

demanda maior capacidade de governar, é de suma importância que Governo e sociedade, os

movimentos, os fóruns, enfim, que todas as formas de organização da sociedade civil se

articulem para que este processo realmente se materialize como democrático e coerente com

as demandas da sociedade.

Dado que os recursos são limitados, é preciso que haja um adequado planejamento

junto à população, formando parcerias e dividindo responsabilidades, para que todos possam

ser participantes desse processo coletivo. É importante que todos estejam conscientes de que

as demandas deverão ser coletivas e as propostas pactuadas, isto porque “(...) governo

nenhum, em lugar nenhum do mundo, fará mais e melhor sozinho. Só poderá fazer se for

junto com o povo, com a participação popular (...)”.

Entretanto, para exercer o controle social é necessário que os cidadãos tenham acesso

à informação sobre a gestão e as políticas públicas, participem de canais de debate público,

interfiram em todas as fases da política pública, sendo de fato ouvidos em suas propostas e

que disponham de mecanismos para apurar e punir irregularidades quando necessário.

O controle social tem 3 componentes principais:

- o acesso à informação,

- canais de interlocução

- partilha de poder com o Estado incluindo todas as fases das políticas públicas.

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Mas não bastam apenas espaços participativos, se a cultura participativa não existir.

A elaboração de um PPA Participativo é fundamental para que seja possível construir

propostas consistentes de ações. O município que adotar a elaboração do seu PPA de forma

compartilhada com a sociedade estará preparando um futuro coletivo baseado na

transparência, na equidade e sustentabilidade.

Como se dará isso na prática? Voltemos a Celso Furtado, o melhor formulador do

desenvolvimentismo brasileiro, um pouco antes de sua morte: “Sabemos que uma luta dessa

magnitude só terá êxito com a participação entusiástica de toda uma geração. A nós, cientistas

sociais, caberá a responsabilidade maior de velar para que não se repitam os erros do passado,

ou melhor, para que não voltem a ser adotadas falsas políticas de desenvolvimento cujos

benefícios se concentram nas mãos de poucos”

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Fontes

NUNES, Selene Peres Peres - O processo orçamentário na Lei de Responsabilidade Fiscal

QUEIROZ, Roosevelt – Formação e Gestão de Políticas Públicas (2009) Ibpex, Curitiba

NASCIMENTO, Edson Ronaldo. Gestão Pública. (2006) Saraiva, São Paulo.

PÓLIS. Como Intervir na Política Municipal de Cultura: orçamento público como instrumento

de pressão e controle social. (2009).

SERAFIM, Lizandra. Controle Social: que caminhos? (2008) Paper apresentado para

discussão no Observatório dos Direitos do Cidadão.