pinha irrigada e desenvolvimento local em presidente dutra - ba (2000-2010)

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS SANDILLA DE OLIVEIRA MACHADO PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010) Feira de Santana 2012

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Monografia apresentada ao curso Ciências Econômicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, como requisito parcial para a obtenção do certificado de Bacharel em Ciências Econômicas.

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Page 1: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

SANDILLA DE OLIVEIRA MACHADO

PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

Feira de Santana 2012

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SANDILLA DE OLIVEIRA MACHADO

PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

Monografia apresentada ao curso Ciências Econômicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, como requisito parcial para a obtenção do certificado de Bacharel em Ciências Econômicas.

Orientador: Profª. Drª. Márcia da Silva Pedreira

Feira de Santana 2012

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SANDILLA DE OLIVEIRA MACHADO

PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

Monografia apresentada ao curso Ciências Econômicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, como requisito parcial para a obtenção do certificado de Bacharel em Ciências Econômicas.

21 de agosto de 2012

Banca Examinadora

Márcia da Silva Pedreira – Orientadora Doutora em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil. Universidade Estadual de Feira de Santana

Luiz Carlos Ribeiro Santos Mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia, Brasil.

Universidade Estadual de Feira de Santana

Gilton Alves Aragão Doutor pela Sandwich na HEC Montreal, Canadá.

Universidade Estadual de Feira de Santana

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Aos meus “heróis de carne e osso”: Ediçon e Cida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela inspiração e por todas as bênçãos concedidas em

minha vida. A minha orientadora Márcia, pelo apoio, dedicação e inúmeros momentos de

aprendizado. Aos meus pais, Ediçon e Cida, por serem minha inspiração e alicerce em todos

os momentos. Aos meus tios Vivi, Lieni, Valdir e Uilson (in memorian), pelo apoio, carinho e

confiança sempre prestados. Aos meus avós João e Constância pelo carinho e sábios

ensinamentos concedidos em minha vida. A minha irmã Morgana, por ser sempre um exemplo

de perseverança e luta. Ao meu lindo sobrinho Gabriel, que consegue tocar meu coração de

forma tão especial. A Kelly Isábula pelo carinho e conselhos. A vó Nicinha, tia Gilva e tia

Vanete pela ajuda em recuperar a memória de Presidente Dutra através de fotos antigas. Aos

demais familiares por todo apoio, incentivo e carinho. Aos amigos pesquisadores Flávio

Dantas e Celito Regmendes pelo incentivo e materiais disponibilizados. A Rafael Alecrim,

pelas correções e interesse prestados. A Geandro Machado pelo apoio, incentivo e dedicação

prestados. Aos amigos – irmãos adotados na UEFS - Fabrício, Vinicius, Agrário, Érica, Caio,

Vanessa, Jorinha, Thiago dos Anjos, Diego, Jarbas, Tiago Amorim, Martinha, Mila,

Wellington, Amanda, Simone, Karine, Marcela, Roberta, Gerusa, Clériston, Soninho, Laisse,

Cris e Helen. As amigos de infância sempre presentes, Julle, Laíse, Aninha e Thaís. Aos

demais amigos de Feira de Santana e de Presidente Dutra pelo apoio e incentivo. As meninas

do Labenf: Adriana, Marise e Márcia, pelo apoio e por sempre entender minhas ausências.

Aos professores Sílvio Humberto, Margarida e Emília, grandes economistas que me

inspiraram neste trabalho. A “mãe” Dôra e Jéssica do Colegiado de Economia por toda

dedicação e apoio ao curso de Economia. As borboletinhas Sandra, Cibele e Daniela, por

fazerem da nossa residência em Feira de Santana um lar, repleto de solidariedade e alegria. A

residência CEU – FSA, sendo que seus moradores foram os primeiros a me receberem em

Feira de Santana. E por último, porém não menos importante, aos produtores rurais de

Presidente Dutra, que me receberam com carinho e compartilharam suas experiências, as

quais contribuíram grandemente na realização deste trabalho.

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“... Procure por aí a fora

"Cabra" que acorda antes da aurora

E da enxada lança mão.

Procure mulher com dez filhos

Que quando a palma não alimenta

Bebem leite de jumenta

E nenhum dá pra ladrão

Procure por aí a fora

Quem melhor que a gente canta,

Quem melhor que a gente dança

Xote, xaxado e baião.

Procure no mundo uma cidade

Com a beleza e a claridade

Do luar do meu sertão.”

Luiz Gonzaga de Moura

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RESUMO

O território de Irecê, localizado a noroeste do Estado da Bahia, passou por um processo de intensa exploração agrícola no período que envolve as décadas de 1940 até meados da década de 1990. Este período foi marcado por forte incentivo creditício através do Governo Federal, para a produção de grãos, essencialmente o feijão. Depois de um período de significativa expansão econômica, inicia-se um período de crise nessa monocultura, que ocorre nos primeiros anos da década de 1990 e afeta a economia de todos os municípios do território de Irecê. Esta crise induziu os agricultores a diversificarem suas atividades econômicas, principalmente agropecuárias, para assim garantirem a sua sobrevivência.

O município de Presidente Dutra, localizado no território de Irecê desenvolveu a cultura da fruticultura irrigada como alternativa para superar tal crise. O objetivo deste trabalho é demonstrar, através do estudo de caso e entrevistas junto aos produtores rurais, que após a implantação dessa atividade econômica houve um desenvolvimento local no município, evidenciado pelo crescimento econômico e melhoria da qualidade de vida da população. As conclusões feitas através das entrevistas confirmam que houve geração de emprego e renda no município, e consequentemente diminuição da pobreza.

Palavras-chave: Desenvolvimento Local, Presidente Dutra – BA, Território de Irecê, Fruticultura Irrigada.

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ABSTRACT

The region's economic Irecê, located northwest of the State of Bahia, has undergone a process of intensive farming in the period surrounding the 1940s until the mid 1990s. This period was marked by strong incentive credits through the Federal Government, for the production of grains, mainly beans. After a period of significant economic expansion, begins a period of crisis in monoculture, which occurs in the early years of 1990 and affects the economy of all the cities in the region of Irecê, which forces farmers to diversify their economic activities primarily to agricultural, so as to ensure their survival.

Presidente Dutra is located in the economic Irecê developed the culture of irrigated horticulture as an alternative to overcome this crisis. The objective of this study is to demonstrate through case studies and interviews with the producers that after the implementation of economic activity there was a local development in the city, evidenced by economic growth and improvement of the quality of life. The conclusions drawn from the interviews confirm that there was a generation of employment and income, and hence poverty alleviation.

Keywords: Local Development, Presidente Dutra - BA, Irecê Region, Irrigated Fruit.

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Os Pilares do desenvolvimento local ........................................................................ 20

Figura 2: Mapa da Bahia e seus Territórios Identidade ............................................................ 24

Figura 3: Território de Irecê ...................................................................................................... 24

Figura 4: Praça do Comércio de Presidente Dutra – BA, 1983 ................................................ 42

Figura 5: Praça do Comércio de Presidente Dutra – BA .......................................................... 42

Figura 6: Depósito de pinha no fim da década de 1980 ........................................................... 45

Figura 7: Colheita de pinha em 2011 ........................................................................................ 45

Figura 8: Ovelhas pastando entre a plantação de pinha............................................................ 65

Page 10: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

ÍNDICE DE TABELAS E GRÁFICOS

Gráfico 1: Área em hectares da safra do município de Presidente Dutra nós períodos 2004 e

2010 .......................................................................................................................................... 51

Gráfico 2: Área da Plantação Regional de Pinha ..................................................................... 52

Gráfico 3: Produtividade Regional de pinha ............................................................................ 53

Gráfico 4: PIB de Presidente Dutra - BA (em milhões) ........................................................... 57

Gráfico 5: Evolução do IDE de Presidente Dutra no período 1998 - 2006 .............................. 59

Gráfico 6: Evolução do IDE do Território de Irecê no período 1998 - 2006 ............................ 60

Gráfico 7: Evolução do IDS de Presidente Dutra no período 1998 - 2006 .............................. 61

Gráfico 8: Evolução do IDS do Território de Irecê no período 1998 - 2006 ........................... 61

Tabela 1: Perfil da estrutura fundiária do Território Irecê ........................................................ 25

Tabela 2: Evolução da População no período de 1991 a 2009 ................................................. 34

Tabela 3: Tabela território Irecê, População, 2000,2010 .......................................................... 37

Tabela 4:Territorio Irece, Estabelecimentos Agricultura Familiar e não familiar, 2006 .......... 38

Tabela 5: Condição legal das terras do município de Presidente Dutra ................................... 39

Tabela 6: Condições do produtor .............................................................................................. 40

Tabela 7: Grupos de atividade econômica ................................................................................ 40

Tabela 8: Perfil da estrutura fundiária de Presidente Dutra ...................................................... 41

Tabela 9: Área em hectares da safra do município de Presidente Dutra nós períodos 2004 e

2010 .......................................................................................................................................... 51

Tabela 10: Municípios do Território de Irecê com suas respectivas áreas de produção e

produtividade de pinha ............................................................................................................. 54

Tabela 11: PIB Municipal e Territorial a Preços Correntes (R$ milhões) ................................ 55

Tabela 12: Composição do Produto Interno Bruto (PIB), por Município, 2007 (R$ 1.000,00),

por Município, 2007 (R$ 1.000,00). ......................................................................................... 55

Tabela 13: Produto Interno Bruto a Preços Correntes Por Regiões Econômicas e Municípios,

Bahia - 2003 - 2008 .................................................................................................................. 57

Tabela 14: Índice de Desenvolvimento Social e Econômico ................................................... 62

Tabela 15: Índice de Desenvolvimento Social e Econômico ................................................... 63

Tabela 16: Índice de Gini .......................................................................................................... 64

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LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS

ABC - Associação Beneficente do Caldeirão

ADAB - Agência Estadual de Defesa Agropecuária

BNB - Banco do Nordeste do Brasil

CAR - Companhia de Ação e Desenvolvimento Regional

CLT - Consolidação das Leis do Trabalho

CODEVASF - Companhia do Vale do São Francisco

CONSADs - Consórcios de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local

DLIS - Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável

EBDA - Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EPI - Equipamento de Proteção Individual

FER - Desenvolvimento Regional Endógeno

FMI - Fundo Monetário Nacional

I.C - Informante- Chave

IDE - Índice de Desenvolvimento Econômico

IDS - Índice de Desenvolvimento Social

PBIO - Programa Nacional de Biocombustível

PIA - Produção Integrada de Anonáceas

PIB - Produto Interno Bruto

POLONORDESTE - Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil

PROAGRO - Programa de Garantia da Atividade Agropecuária

PTDRS - Plano Territorial De Desenvolvimento Rural Sustentável

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SEI - Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia

SNCR - Sistema Nacional de Crédito Rural

SUDENE - Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

SUVALE - Superintendência do Vale do São Francisco

Page 12: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................................... 7

ABSTRACT ............................................................................................................................... 8

ÍNDICE DE FIGURAS .............................................................................................................. 9

ÍNDICE DE TABELAS E GRÁFICOS ................................................................................... 10

LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS .................................................................................. 11

1. Introdução ......................................................................................................................... 14

2. Desenvolvimento Local: conceito e características .......................................................... 16

3. Presidente Dutra e o Território de Irecê ............................................................................ 23

3.1 Caracterização Geral....................................................................................................... 23

3.2 Aspectos Históricos e a Crise do Feijão ......................................................................... 26

4. Identificação do município de Presidente Dutra: ocupação econômica e desenvolvimento recente ....................................................................................................................................... 33

4.1 Formação Histórica......................................................................................................... 34

4.2 Caracterização Geral....................................................................................................... 36

4.2.1 Caracterização geral das terras ................................................................................ 39

4.3 Processo de desenvolvimento recente e o cultivo da pinha ............................................ 41

4.3.1 Geração de Emprego e Condições de Trabalho ....................................................... 44

4.3.2 Produção e Renda .................................................................................................... 48

4.4 Presidente Dutra e a exploração da pinha: caracterização produtiva e impactos socioeconômicos ................................................................................................................... 50

4.4.1 Estrutura Produtiva: evolução e características ....................................................... 50

4.4.2 Especialização Produtiva ......................................................................................... 51

4.4.3 Proeminência de Presidente Dutra no Território de Irecê ........................................ 52

4.4.4 Produto Interno Bruto – PIB .................................................................................... 54

4.4.7 Índice de Desenvolvimento Econômico e Social – IDE e IDS ............................... 58

4.4.8 O desenvolvimento econômico e social frente ao contexto do território ................ 58

4.4.9 O desenvolvimento econômico e social frente aos municípios selecionados do território ............................................................................................................................ 62

4.4.10 Índice de Gini ........................................................................................................ 64

4.5 A exploração da pinha e desenvolvimento local: potencialidades, limites e desafios .... 64

4.5.1 Inovações ................................................................................................................. 64

4.5.2 Produção Integrada de Anonáceas (PIA) ................................................................. 65

4.5.3 A ação pública .......................................................................................................... 67

4.6 Desafios a Serem Superados........................................................................................... 67

4.6.1 Atravessador ............................................................................................................ 68

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4.6.2 Capital Social ........................................................................................................... 69

4.6.3 Escassez de água subterrânea .................................................................................. 70

5. Considerações Finais ........................................................................................................ 71

6. Referência ......................................................................................................................... 75

7. Anexos .............................................................................................................................. 79

Anexo 1 ................................................................................................................................ 79

Page 14: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

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1. INTRODUÇÃO

Esta monografia tem como objetivo analisar o processo de desenvolvimento no

município de Presidente Dutra, focalizando as mudanças desencadeadas na sua estrutura

econômica a partir da década de 1990 com a implantação e expansão da fruticultura irrigada.

O município de Presidente Dutra está inserido no território de Irecê, localizado no

semiárido baiano. Em meados dos anos 1940 o território passa por um intenso processo de

exploração agrícola, baseado no triconsórcio feijão-milho-mamona, o qual é incentivado por

programas de financiamento promovidos pelo Governo Estadual e Federal. Tais incentivos

são eliminados no inicio dos anos 1990, sendo um dos principais fatores causadores da crise

do feijão.

Com o declínio desse meio de produção agrícola, os produtores rurais da região

passaram a explorar outras atividades agropecuárias, com o intuito de garantir sua

sobrevivência. Essa diversificação agropecuária se deu através de culturas irrigadas no inicio

anos 1990 como olerícolas (cenoura, cebola e beterraba) e frutíferas (manga, banana, pinha,

goiaba e atemóia), destacando-se a pinha no município de Presidente Dutra.

O município de Presidente Dutra passou por transformações socioeconômicas

importantes a partir da implantação da pinha irrigada, evidenciadas pelo crescimento e

consequente desenvolvimento econômico ocorrido no município. Marcados pelos seguintes

fatores: a) formação e aumento da renda da população; b) geração de empregos, com o

surgimento de novas áreas de trabalho e c) investimento do excedente da produção em

tecnologia e educação.

Atualmente a principal atividade econômica do município consiste na produção da

pinha irrigada, a qual é desenvolvida a partir da agricultura familiar. Sendo, portanto, uma

característica endógena do município1, a qual surgiu como alternativa ao cultivo do feijão de

sequeiro2, atividade parcialmente extinta na região após a crise do feijão em meados da

década de 1990.

Nesse sentido, esta monografia analisa o processo de desenvolvimento e da expansão

da cultura da pinha, seus impactos e condicionantes para o desenvolvimento local do 1 Visto que esta produção não se desenvolveu em outras cidades do território, mas não com o mesmo nível de produtividade e extensão, fato que será analisado mais profundamente no capítulo 3. 2 Regime de produção totalmente dependente das chuvas.

Page 15: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

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município de Presidente Dutra e avalia em que medida a exploração da pinha constituiu como

vetor e contribuiu para superar a decadência do feijão, traçando como isso culminou em um

desenvolvimento local. A delimitação temporal vai do ano 2000 ao ano 2010, no entanto é

possível encontrar referências de datas anteriores ou posteriores a este período.

Para responder a essas questões esta pesquisa apoia-se em uma revisão bibliográfica e

uma análise de dados, observados sobre a estrutura fundiária e agrícola e indicadores

socioeconômicos. A pesquisa se utilizou metodologicamente de fontes secundárias e

primárias. No primeiro caso, destacam-se a revisão da bibliográfica e sistematização e analise

de dados econômicos e sociais. Já no que tange as fontes primárias foram realizadas

entrevistas semiestruturadas junto a 15 produtores locais no período de janeiro a abril de

2012.

A monografia está organizada em cinco capítulos, sendo esta introdução o primeiro; o

segundo capitulo apresenta referencial teórico, abordando o conceito e objetivos do

desenvolvimento local; no terceiro é feita uma caracterização do território de Irecê, com

dados socioeconômicos secundários e revisão bibliográfica sobre a crise do feijão; no quarto

capítulo é analisado o objeto de estudo da monografia que é o município de Presidente Dutra,

sendo feita uma contextualização histórica e uma caracterização econômica do município,

tendo como base dados secundários e primários referentes ao município e território,e o quinto

e último capítulo onde são traçadas as considerações finais desta pesquisa, onde se confirma

que de fato houve desenvolvimento local do município, marcada geração de emprego e renda

no município, e consequentemente diminuição da pobreza.

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2. DESENVOLVIMENTO LOCAL: CONCEITO E

CARACTERÍSTICAS

Este capítulo faz uma explanação sobre o termo “Desenvolvimento Econômico” e as

visões e perspectivas a ele associadas, enfatizando a vertente do “Desenvolvimento Local”,

tendo em vista sua relação e maior aproximação ao objeto de estudo desta monografia, qual

seja: o município de Presidente Dutra - BA.

O termo desenvolvimento esteve inicialmente ligado à biologia, associado ao

movimento de um ser vivo do estágio inicial até ao estágio ou forma apropriada. Como pode

ser observado a partir da citação de (FISCHER, 2002):

“Após Darwin, o desenvolvimento passa a ser o movimento em direção ou uma forma sempre mais perfeita de um determinado ser. Desenvolvimento e evolução passam a ser sinônimos. A transferência para a área social ocorre no final do século XVIII; a palavra passa a ser empregada para designar um processo gradual de mudança social.” (FISCHER, 2002, pg. 3).

Com o declínio do modelo de crescimento econômico baseado no padrão fordista de

produção, marcado pela “abundância de recursos naturais, aumento da produtividade do

trabalho e a presença do Estado de Bem-Estar” (Buarque, 2001, pg.6), percebeu-se que

somente o crescimento econômico não bastava para garantir o bem estar da sociedade, sendo

necessário, portanto uma nova teoria que aliasse crescimento econômico e bem- estar social.

Surgiu, assim, o conceito de “Desenvolvimento Econômico”, o qual tem como metas a

eficiência econômica e justiça social, atributos que pertencem à linha de pensamento pós-

fordista.

Buarque (2001) contextualiza a crise do modelo de produção fordista e a transição de

paradigmas, no caso a ascensão do termo desenvolvimento econômico em substituição do

usual crescimento econômico, como pode ser observado pela citação abaixo:

No interior mesmo do fordismo em crise, surgem novos processos e inovações que preparam a emergência e formação de um novo paradigma de desenvolvimento com respostas diferentes aos problemas e desafios do modelo em declínio. A base das transformações que levam a esta virada de sistemas sociais e econômicos é a aceleração e aprofundamento da revolução tecnológica e organizacional, com seus desdobramentos políticos e sociais. Durante as duas últimas décadas, o mundo passa por um período de transição de paradigmas, combinando os problemas e

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contradições do fordismo em decadência com a desorganização decorrente da emergência de novas relações. (BUARQUE, 2001, pg. 7).

Portanto, o desenvolvimento econômico deve ser encarado como um processo

complexo de mudanças e transformações de ordem econômica, política e, principalmente,

humana e social, conforme explicitado por Bresser Pereira:

[...] processo de transformação que implica mudanças nos três níveis ou instâncias de uma sociedade: estrutural, institucional ou cultural. É o aumento sustentado dos padrões de vida possibilitado pelo aumento da produtividade de determinadas atividades e/ou pela transferência da mão-de-obra dessas para outras atividades com maior valor adicionado per capita porque envolvendo maior conhecimento.” (BRESSER – PEREIRA, 2006, pg. 9).

Segundo o mesmo autor, o processo de desenvolvimento econômico tem um objetivo

geral e claro que é a melhoria do padrão de vida da população e este ainda afirma que para

que o mesmo aconteça é essencial que haja um aumento da renda por habitante.

Nas abordagens iniciais sobre o desenvolvimento, as preocupações eram voltadas para

países e regiões, com uma ausência de pensar o local, o que gerava um desenvolvimento

imposto de cima para baixo, o qual não respeitava as potencialidades dos municípios. A

introdução do desenvolvimento local em uma escala menor supõe o desenvolvimento de um

determinado território, de dentro pra fora, respeitando suas especificidades. O

desenvolvimento local sugere a participação conjunta do Estado e sociedade como forma

gerar um crescimento econômico aliado à melhoria da qualidade de vida da população.

A perspectiva de desenvolvimento local surgiu inicialmente na Áustria, durante a crise

econômica dos anos 1970, também conhecida como crise da era de ouro, à qual teve como

principal consequência à reconfiguração espacial não apenas da produção capitalista, como

também da própria organização da produção. Como apontam Veiga (1999) e Gil e Fernandes

(2005) a primeira grande experiência de enfrentamento a este novo paradigma ocorreu na

Áustria, sendo também lá que se verificou uma nova experiência de desenvolvimento local.

Como logo no início dos anos 1970 a Áustria foi duramente castigada pela crise do padrão de crescimento da “era de ouro”, foi por lá que primeiro se experimentou propostas de reestruturação industrial discutidas no âmbito das organizações internacionais que acabaram convergindo para a idéia central de promover o “desenvolvimento local”. (VEIGA, 1998, pg. 14).

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Foi na Áustria, no início da década de 1970, que se começou a discutir a idéia de desenvolvimento local pela primeira vez. A reestruturação da economia mundial, desencadeada pelo processo de globalização, em curso desde as últimas décadas do século XX, provocou impactos desconcertantes na maior parte dos países e regiões do mundo. Mesmo na Europa, países estáveis tiveram que repensar conceitos clássicos de crescimento econômico, em voga durante a chamada “era de ouro”, que se estabeleceu no pós-guerra.

Surgem, então, as primeiras propostas discutidas pelas organizações internacionais para reestruturação industrial, o que acabou convergindo para o “desenvolvimento local”. Tal tendência acabou provocando fortes impactos no conceito austríaco de planejamento. Entre 1981 e 1991, o conceito evoluiu da clássica visão de desenvolvimento a partir da intensificação industrial e na redução das disparidades regionais de padrão de vida através da atuação de empresas em áreas menos favorecidas, mediante incentivos fiscais e financeiros, para o empenho em se definir o potencial de cada região para um desenvolvimento “endógeno”, dando origem, no âmbito federal, ao Programa para o Desenvolvimento Regional Endógeno - FER (Idem, p. 284). (GIL E FERNANDES, 2005).

No Brasil, segundo Lutosa (2002, pg. 1) a difusão do desenvolvimento local

sustentável, “em grande parte, foi uma resposta às dificuldades encontradas pelo Estado

brasileiro para dar suporte a um conjunto de ações governamentais que dependiam de uma

relação mais transparente e participativa entre Estado e Sociedade.” Sendo completado por

Piorski (2008):

No Brasil, essa estratégia tem início com o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), cujo mote repousava no incentivo ao desenvolvimento autônomo e endógeno, promovido pela própria comunidade. É assim, na tentativa promover uma melhor articulação entre sociedade civil e Estado, que se assiste a implantação dos Fórum de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentado, popularmente conhecidos como DLIS, que constituíram, por assim dizer, a primeira experiência brasileira de articulação entre a sociedade civil e o Estado nesse contexto.

Posteriormente, com o advento do primeiro governo Lula (2003-2007) a estratégia de desenvolvimento territorial rural tem continuidade, no entanto com algumas alterações que, apesar de sutis apresentam sensíveis modificações junto a essa estratégia. A primeira delas, construída com base na experiência de DLIS, constitui no incentivo da formação de consórcios de segurança alimentar e desenvolvimento local, popularmente conhecido como CONSADs, que serviriam de base para um “reordenamento territorial”, configurado na identificação de áreas em extrema pobreza. Tais áreas viriam a constituir aquilo que se conhece hoje como Territórios Rurais. (PIORSKI, 2008).

Considerando a visão de desenvolvimento econômico apresentada, partiremos agora

para uma perspectiva do desenvolvimento local, o qual tem como visão a melhoria da

qualidade de vida da população de uma localidade, através da identificação e aproveitamento

das suas potencialidades, aliada a ação integrada da comunidade e governo. Para Martins

(2002), o verdadeiro diferencial do desenvolvimento local está na postura que atribui e

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assegura à comunidade o papel de agente e não apenas de beneficiária do desenvolvimento.

O “local” é entendido como qualquer recorte sócio-territorial delimitado a partir de

uma característica eletiva e definidora de identidade. Pode ser, por exemplo, uma

característica físico-territorial, uma característica econômica, uma característica ética-cultural,

ou uma característica politico-territorial. Enfim, o recorte “local” depende do olhar do sujeito

e dos critérios eletivos de agregação (PAULA, 2008).

Enquanto estratégia de planejamento e de ação, o desenvolvimento local aparece num

contexto em que se esgotam as concepções de desenvolvimento associadas a progresso

material, pessoal e ilimitado, mas, sobretudo é um produto da iniciativa compartilhada, da

inovação e do empreendedorismo comunitários (MARTINS, 2002).

A ideia de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável (DLIS) é um novo conceito

de desenvolvimento e uma nova estratégia para sua implantação. Ele:

[...] parte do pressuposto de que o crescimento econômico é necessário, mas não é suficiente para promover o desenvolvimento. O desenvolvimento é um fenômeno que ultrapassa o econômico. O sentido do desenvolvimento deve ser o de melhorar a qualidade de vida das pessoas (desenvolvimento humano), todas as pessoas (desenvolvimento social), as pessoas que estão vivas hoje e as que viverão no futuro (desenvolvimento sustentável). (PAULA, 2008, pg. 6).

O DLIS é uma estratégia de promoção do desenvolvimento local. O qual entende por

“desenvolvimento local”:

[...] o processo de tornar dinâmicas as vantagens comparativas e competitivas de uma determinada localidade, de modo a favorecer o crescimento econômico e simultaneamente elevar o capital humano, o capital social e o capital empresarial, bem como conquistar o uso sustentável do capital natural.” (PAULA, 2008, pg. 11).

O conceito de desenvolvimento local apontado por Paula (2008) pode ser completado

com a visão de Buarque (2001), o qual aponta que o desenvolvimento econômico local é um

processo endógeno de mudança, que leva ao dinamismo econômico e à melhoria da qualidade

de vida da população e que depende da capacidade de integrar os recursos disponíveis e

potenciais de um dado território, mobilizando-os de forma sustentável para elevar as

oportunidades sociais e a viabilidade e a competitividade da economia local.

O desenvolvimento local exige a existência de capital humano, social e natural.

Page 20: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

20

Compreende-se como capital humano a exigência do crescimento das habilidades,

conhecimentos e competências das pessoas, quanto maior o capital humano, melhores são as

condições de desenvolvimento. O capital social é o produto da confiança e da cooperação

entre os atores sociais, que lhes confere organização, capacidade de participação e

empoderamento. No que diz respeito ao capital natural precisa-se pensar em como satisfazer

as necessidades de hoje sem prejudicar a possibilidade de satisfazê-la no futuro, o requer uma

profunda mudança nos padrões de produção e consumo, o que só será possível com elevados

níveis de capital humano e capital social. Portanto, não existe a possibilidade de um

desenvolvimento que se queria humano, social e sustentável sem a combinação simultânea de

todos esses esforços. (PAULA, 2008).

O desenvolvimento local busca a formação de identidades para que se possa enfrentar

o ambiente competitivo e promover uma mudança social no território. Deve ser entendido,

levando-se em conta os aspectos locais, os quais têm significado em um território específico,

mas sem deixar de levar em conta a importância de uma dinâmica econômica, ou seja,

desenvolver atividades secundárias em conjunto com a atividade econômica principal, para

dessa forma diminuir a dependência dos produtores com a mesma e dinamizar a economia

local (BUARQUE, 2001).

A figura abaixo ilustra a concepção de desenvolvimento local proposta por Buarque

(2001):

Figura 1: Os Pilares do desenvolvimento local

Fonte: Buarque (2001), pg. 15.

Page 21: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

21

O autor sugere que o desenvolvimento local tem três pilares, sendo eles: a governança,

a organização da sociedade e a distribuição dos ativos sociais. Segundo o autor, governança é

a atuação pública que parte da base econômica para as finanças e investimentos públicos; para

que haja uma organização da sociedade ele aponta a necessidade de formação do capital

social; e a distribuição dos ativos sociais seria garantida pela internalização da riqueza gerada

nos desdobramentos sociais da economia.

A interação da governança com a organização da sociedade traça uma gestão pública

eficiente, pois a sociedade não só irá cobrar eficiência e transparência, como também

apresentar projetos que viabilizem o bem estar da comunidade. A interação da organização da

sociedade com a distribuição dos ativos sociais aumenta a qualidade de vida, marcado pela

redução da pobreza, geração de riqueza e distribuição de ativos. Por fim, a distribuição dos

ativos sociais aliada com a governança gera uma eficiência econômica, com agregação de

valor na cadeia produtiva. Ainda segundo o autor, qualquer estratégia para a promoção do

desenvolvimento local deve se estruturar nesses pilares.

O desenvolvimento local é, portanto um poderoso instrumento de combate à pobreza

em razão de poder proporcionar um instrumento de geração de emprego e renda, além da

agregação de valor na sua cadeia produtiva, aumentando a competitividade a partir da

utilização das vantagens locais.

Para que haja um desenvolvimento local eficiente, é importante a participação não

somente da população, mas também do setor público, visto que este pode estimular e facilitar

esse desenvolvimento a partir de políticas de incentivo, investimento e capacitação popular

(BUARQUE, 2001). Este aspecto é reforçado por Paula (2008) quando afirma que o ponto de

partida é a sensibilização das lideranças locais para a construção de parcerias entre atores do

Estado, do mercado e da sociedade, vale ressaltar que o setor público tem uma importância

intransferível, pois este possui meios de maior abrangência os quais podem incentivar o

desenvolvimento local e promover mudanças efetivas, as quais a partir do mesmo podem ser

transferidas para a sociedade em geral, gerando emprego, renda e diminuição da pobreza. No

entanto, ela não é suficiente para promover o desenvolvimento local, pois os maiores

responsáveis pelo desenvolvimento de uma sociedade são as pessoas que nela vivem.

Buarque (2001), assim como Paula (2008) ressaltam também a importância da

mobilização da população local em torno de um projeto coletivo, não podendo a população

Page 22: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

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deixar o desenvolvimento do município somente ao cargo de órgãos públicos, pois é dever da

mesma cobrar e fiscalizar a atuação dos órgãos públicos para assim garantir a sua

transparência. Os atores sociais têm, portanto, uma responsabilidade fundamental para a

promoção do desenvolvimento local e devem sempre estar atuantes, ao contrario, o mais

provável é que as mudanças geradas não criem raízes no local e não se traduzam em efetivo

desenvolvimento, ou seja, não sejam internalizadas na estrutura social, econômica e cultural

do município, reduzindo as possibilidades do dinamismo econômico e de aumento da

qualidade de vida da população. Paula (2008) afirma que:

Quem faz o desenvolvimento local são as pessoas que residem na localidade. Não existe desenvolvimento local sem o interesse, o envolvimento, o compromisso e a adesão da comunidade local. É o que chamamos de protagonismo local, quer dizer, os moradores de uma determinada localidade assumindo seu papel de atores principais, ou seja, de sujeitos da sua historia. Por isso, o primeiro passo na promoção do DLIS é a mobilização e sensibilização da população local. (PAULA, 2008, Pg. 16).

Para o desenvolvimento local acontecer é necessário o incremento do protagonismo

local, ou seja, a constituição e o fortalecimento das redes de autores locais capazes de liderar

o processo de mudanças. Exigindo a participação das pessoas que nela vive, pois estes são os

maiores responsáveis pelo desenvolvimento de uma localidade. Sem o interesse, o

envolvimento, o compromisso e a adesão da comunidade local, nenhuma política de indução

ou promoção do desenvolvimento alcança êxito.

Tendo em vista os aportes e abordagens assinaladas acima, conclui-se que o

desenvolvimento local envolve a ação conjunta dos diversos agentes sociais, políticos e

econômicos, existentes no município ou em outro recorte espacial. Este local é um espaço o

qual pode ser delimitado por questões geográficas, econômicas, políticas ou cultural, o qual

depende dos critérios eletivos do sujeito. O desenvolvimento local leva em conta as

características e potencialidades locais, seja fortalecendo, descobrindo ou fomentando. Sendo,

portanto, uma rede de ações voltadas para a construção de um objetivo comum.

Os três capítulos seguintes objetivam descrever e analisar a história de Presidente

Dutra, destacando seu processo de desenvolvimento recente, a luz das visões e perspectivas

sobre o desenvolvimento local analisadas neste capitulo.

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3. PRESIDENTE DUTRA E O TERRITÓRIO DE IRECÊ

Este capítulo traz uma caracterização geográfica e uma contextualização histórica do

território de Irecê, tendo como objetivo situar o contexto econômico o qual o município de

Presidente Dutra, objeto de estudo desta monografia, está inserido. O capitulo encontra-se

dividido em dois tópicos, no primeiro abordam-se os aspectos socioeconômicos do território,

e no segundo uma explanação sobre a crise do feijão, apontando-a como propulsora para um

novo reordenamento da dinâmica econômica do território.

3.1 Caracterização Geral

O território de Irecê está localizado na Chapada Diamantina Setentrional, noroeste do

estado da Bahia, ocupando uma área de 26.730 km² à qual corresponde a 4,6% da superfície

total do estado. É composto por vinte municípios, os quais têm como principal atividade

econômica a agricultura, sendo eles: Irecê, Barra do Mendes, João Dourado, Central,

Presidente Dutra, Ibipeba, Xique-Xique, Ibititá, Canarana, Cafarnaum, Barro Alto, Jussara,

América Dourada, Lapão, Gentio do Ouro, Uibaí, São Gabriel, Itaguaçu da Bahia, Ipupiara e

Mulungu do Morro, como pode ser observado na Figura 2 (Plano Territorial De

Desenvolvimento Rural Sustentável – PTDRS, 2010).

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Figura 2: Mapa da Bahia e seus Territórios Identidade

Fonte: www.seplan.ba.gov.br

Figura 3: Território de Irecê

Fonte: PTDRS, 2010

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O território de Irecê abriga uma população total de 403 mil de habitantes

representando cerca de 3% do total Estado e uma densidade demográfica de 15,1 hab./km²

(Censo IBGE 2010). O perfil demográfico é predominantemente urbano (61,45%), ficando

abaixo da média verificada no estado, cuja taxa de urbanização é da ordem de 72%. A

atividade econômica predominante é a agricultura familiar, sendo que a agropecuária

corresponde a 13% da participação do Produto Interno Bruto (PIB), perdendo somente para os

serviços que correspondem a 68,7% (PTDRS, 2010).

Atualmente, a agricultura irrigada constitui um dos principais vetores promotores do

desenvolvimento econômico do território de Irecê, caracterizada por dois aspectos: a)

pequenas unidades de produção familiar mecanizada e b) irrigação através de poços

artesianos. Ela é responsável pelo fortalecimento da agricultura familiar e pela manutenção do

homem no campo. Isso ocorre devido sua capacidade de gerar emprego e renda à população

de todo o território.

Ao que se refere à distribuição das propriedades rurais, no Território de Irecê

predominam as pequenas propriedades agropecuárias, cerca 66,3% dos estabelecimentos

dispõem de áreas abaixo de 10 hectares, sendo, portanto, significativa à participação da

agricultura familiar na economia regional. Conforme censo agropecuário de 2006, 91% dos

estabelecimentos são familiares detendo 45% das terras do Território (PTDRS, 2010).

Percebe-se a importância da agricultura familiar para a economia e o desenvolvimento

do Território, quando se observa que 91% dos estabelecimentos possuem área menor que 50

ha e detêm apenas 31% das terras do Território, sendo, no entanto, responsável por 87% do

pessoal ocupado e ainda contribui com 57% do Valor da Produção (PTDRS, 2010).

Tabela 1: Perfil da estrutura fundiária do Território Irecê

Grupos de área dos estabelecimentos

rurais

Participação no total (%)

Nº de

Estab.

Área Pessoal

Ocupado

Valor da

Produção

1. Até 10 hectares 66,26 9,46 57,77 26,11

2. Mais de 10 a 20 hectares 13,35 6,89 14,69 11,61

3. Sub – Total (1+2) 79,60 16,35 72,46 37,73

4. Mais de 20 a 50 hectares 12,10 14,17 15,03 19,04

5. Mais de 50 a 100 hectares 4,12 10,73 5,77 13,09

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6. Sub – Total (3+4+5) 95,82 41,25 93,27 69,85

7. Mais de 100 a 200 hectares 2,19 11,09 3,17 11,32

8. Mais de 200 a 500 hectares 1,33 14,86 2,21 10,87

9. Sub – Total (7+8) 3,53 25,94 5,38 22,19

Fonte: IBGE. Censo Demográfico - 2000 apud PTDRS - 2010, elaboração própria.

3.2 Aspectos Históricos e a Crise do Feijão

O processo de povoamento da população nas terras que atualmente compõem o

território de Irecê pode ser dividido em cinco vetores: a) antes da chegada dos europeus ao

Brasil a região é marcada pela presença de povos autóctones, a qual é registrada em grutas e

cavernas do território; b) em meados do século XVIII com a pecuária na Fazenda Praia (atual

município de Xique-Xique); c) no século XIX devido à mineração na Serra do Açuruá (atual

município Gentio do Ouro) e em meados dos anos 1860 com a cultura do algodão no vale do

Rio Jacaré (onde atualmente estão localizados os municípios de Canarana, América Dourada,

João Dourado e Lapão); d) no início do século XX com a expansão da exploração de

borracha, maniçoba e cultura do algodão nas atuais municípios de Uibaí e Ibipeba; e) em

meados do século XX com projetos Federais de Desenvolvimento Nacional que identificam

na região um potencial de produção de grãos.

O território passa a obter um maior dinamismo econômico a partir de 1943, tendo

como vetor para esse desenvolvimento a atuação dos governos estadual e federal na região,

que intervém com a implantação de projetos que resultaram no aumento da mecanização e na

introdução de novas técnicas agrícolas. O primeiro órgão instalado foi a Secretaria de

Agricultura do Estado da Bahia, que trouxe tratores (para serem alugados por preços módicos)

e do Banco do Nordeste que abre linhas de crédito (com juros subsidiados) para a exploração

agrícola. Sendo este período, portanto, marcado por forte incentivo financeiro do Estado para

a mecanização deste território.

A partir da década de 1950 outros órgãos passaram a atuar na área com incentivo do

governo federal, são eles: a) Superintendência do Vale do São Francisco (SUVALE) que, mais

tarde, transformou-se em Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco

(CODEVASF), a qual deu suporte técnico e incentivo à mecanização e b) o Banco do Brasil

que partir de 1953, passa a atuar com concessão de crédito para financiamento, custeio e

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comercialização da safra de grãos para os agricultores locais. É importante frisar que estes

créditos inicialmente só foram liberados para grandes produtores agrícolas, só após o ano de

1976, com a participação do Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil

(POLONORDESTE), é que uma parcelas de pequenos produtores passam a obter tais créditos

(PTDRS, 2010). A Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) faz-se

presente na região em 1959 e inicia seus trabalhos nos anos 1960 com a meta de modernizar a

agricultura tradicional.

A presença e atuação dos órgãos e programas implantados no território, resultou no

aumento da mecanização e na introdução de novas técnicas agrícolas na região, a partir de um

plano de assistência técnica e financeira, o qual tinha como objetivo intensificar o

desenvolvimento da produção agrícola da região, este plano denominado ‘Operação Irecê’, foi

patrocinado pelo Banco do Nordeste do Brasil – BNB (DUARTE, 1963). O crédito agrícola

foi um dos principais instrumentos da política agrícola do governo para estimular e acelerar o

desenvolvimento agrícola da região.

Esse processo de investimento e financiamento, os quais atingiam o território de Irecê

é apenas um reflexo do que estava acontecendo no cenário nacional, como pode ser observado

abaixo pelas citações de Ortega (2001):

O processo de modernização da agricultura, iniciado nos anos 50, mas intensificado a partir de meados dos 60, no contexto de desenvolvimento que tinha a industrialização como principal vetor do processo de desenvolvimento econômico, representava uma solução para o atraso da agricultura, da estagnação da sua produção. Caberia à agricultura gerar uma produção maior de excedentes agrícolas, voltados à exportação com o objetivo de fornecer receitas para o crescimento do mercado interno, produzir matérias-primas para a indústria nacional, que estava se desenvolvendo, produzir alimentos para a população urbana e ainda liberar força de trabalho para o emprego industrial. (ORTEGA, 2001).

Os programas governamentais implementados visavam solucionar os principais problemas apontados para a agricultura, com seus baixos índices de produtividade e baixo volume de produção, e que poderiam representar sérios obstáculos ao desenvolvimento capitalista. Isso se daria por meio de mudanças no sistema produtivo, com maior uso de insumos agrícolas (fertilizantes, corretivos, defensivos), sementes melhoradas geneticamente, máquinas e implementos. (ORTEGA, 2001).

O reflexo resultante de tais políticas de desenvolvimento no território de Irecê pode ser

percebido, através das citações de Duarte (1963) e Wilkinson (2008), respectivamente:

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Assim o uso do arado puxado a trator está generalizada na região. Os proprietários que não possuem máquinas costumam alugar, dos órgãos oficiais, como a Comissão do Vale do São Francisco e a Secretária da Agricultura do estado que institui um plano de assistência técnica e financeira para intensificar o desenvolvimento da produção agrícola do município, intitulada “Operação Irecê”. Esses órgãos alugam, como dissemos, tratores e implementos para os trabalhos de desmatamento, destocamento, aradura e gradagem. (DUARTE, 1963, pg. 49).

O sistema de produção dominante empregado é a plantação mista de feijão/milho/mamona, que, como vimos, é o sistema predominante na região toda para pequenos, médios e mesmo grandes fazendeiros. (WILKINSON, 2008, pg. 178).

Este plano de desenvolvimento implantado pelo Governo Federal, apesar de trazer

crescimento econômico para os municípios da região, não levou em conta as especificidades

locais, sendo que não houve nenhum estudo mais aprofundado no território. Trazendo,

portanto, crescimento e não desenvolvimento econômico. Abaixo segue uma crítica de Borges

(2006) a esse respeito:

Este modelo agrícola imposto de cima para baixo, além de produzir a concentração da propriedade da terra, concretiza a falência da agricultura familiar ao estabelecer como paradigma produtivo a monocultura do feijão de arranca (estimulada pelas linhas de crédito abertas para o cultivo desta cultura); a cultura agrícola regional é totalmente transformada e consolida-se em seu lugar, como modelo a ser seguido, a cultura do feijão de arranca. (BORGES, 2006, pg. 12).

A crítica de Borges (2006) é reforçada pela de Wilkinson (2008):

Nos anos 70, a rápida valorização da terra, além das facilidades do crédito subsidiado, num contexto de fechamento da fronteira, levaram à crescente eliminação deste minifundiário e um declínio absoluto em todas as propriedades de menos de 200 ha. Assim, enquanto em 1950 a área ocupada pelo estrato de 0-50 ha era exatamente a metade da ocupação pelo grupo de mais de 50 ha, por volta de 1975 a parte que cabia ao primeiro correspondia a menos de um quarto. (WILKINSON, 2008, pg. 173).

Ainda de acordo com Wilkinson (2008), a SUVALE foi responsável pela

“concentração de tratores e técnicos de extensão rural na área, transformando rapidamente

Irecê no segundo município mais mecanizado do Estado”, os efeitos da modernização agrícola

na região foram a concentração de terra na faixa das médias propriedades, um associativismo

que não leva em conta as especificidades regionais e um benefício dos setores comerciais em

detrimento dos produtores e trabalhadores rurais.

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Nesse período a produção voltou-se para o abastecimento do comércio nacional de

gêneros alimentícios, daí a sua importância para o Estado, no qual os cultivos agrícolas

visavam, principalmente, o mercado externo, a exemplo do cacau, cana-de-açúcar e fumo.

Como confirma Wilkinson (2008) “esta predominância de culturas alimentares ocorreu lado a

lado com a explosão do mercado urbano para gêneros alimentícios básicos nos anos 50”. Por

estes motivos o cultivo do feijão se consolidou como a principal atividade propulsora do

desenvolvimento econômico do território.

A partir do final da década de 1960, a economia da região passa por uma grande

expansão agrícola, devido à intensa exploração do plantio consorciado de mamona, milho e

feijão, sendo que a exploração maior era a do feijão3, fato este obtido devido ao farto crédito

rural (altamente subsidiado por meio do Sistema Nacional de Crédito Rural – SNCR), fácil

escoamento da produção, devido ao asfaltamento da BA – 0524, a criação do Programa de

Garantia da Atividade Agropecuária (PROAGRO), o qual cobria todos os prejuízos obtidos

pelo produtor (em função de atividades climáticas ou ataque de pragas e doenças), e a natural

fertilidade do solo. Em decorrência disso e a região passa então a ser conhecida como Pólo do

Feijão, sendo a maior produtora de grãos do Nordeste e a maior produtora de mamona do

Brasil. O auge do feijão coincide com o que se convencionou chamar do “milagre brasileiro”

implementado pelos governos militares. Para se ter ideia da alta produção do feijão e sua

importância econômica para estes municípios é interessante observar o que Wilkinson (2008)

escreveu a este respeito:

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Centro Baiano de Abastecimento Alimentar, em 1973 cerca de 34% do consumo de feijão de Salvador dependia de suprimentos provenientes desta única região, embora a maioria de sua produção fosse diretamente para outras capitais nordestinas. (WILKINSON, 2008, pg. 171).

De acordo com Borges (2006) a microrregião de Irecê abandona a atividade

econômica baseada na agricultura familiar, voltada ao autoconsumo e a comercialização do

excedente com auferição de renda, e torna-se extremamente dependente de linhas creditícias.

Além disso, a estrutura produtiva regional é remodelada, de forma que ficasse plenamente

integrado à proposta dos governos militares conhecida como modernização conservadora.

Os bancos oficiais atuavam por meio do crédito rural direcionado para o triconsócio

3 Por este obter a grande maioria dos financiamentos que eram direcionados aos grãos. 4 Estrada do Feijão, que liga Feira de Santana a Xique-Xique.

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(feijão, milho e mamona) no intuito de consolidar um novo modelo agrícola na microrregião

de Irecê, o qual viria a transformar drasticamente a economia agrícola da região. Como pode-

se observar pela citação de Borges (2006):

A imposição/intensificação pelos bancos oficiais das linhas de créditos exclusivas para a monocultura do feijão, na década de 70, produz uma profunda modificação do modelo agrícola regional. É a atuação estatal no intuito de transformar a dinâmica produtiva regional promovendo perniciosas consequências na macro-estrutura da micro-região de Irecê (BORGES, 2006, pg. 46).

Este período corresponde também ao processo de modernização que aconteceu na

agricultura nacional chamado “Revolução Verde”, o qual se baseava no uso intensivo de

insumos produzidos pela indústria, sendo eles: fertilizantes, agrotóxicos, corretivos,

maquinário e rações. A inserção da Bahia neste processo de desenvolvimento brasileiro

acontece de forma tardia, este é contextualizado abaixo pela citação de Pedreira (2008):

A atividade agropecuária ampliou o uso de crédito, aumentando o emprego de insumos industriais — defensivos, fertilizantes, máquinas e equipamentos em geral. Sua produção passa a apresentar maior vinculação com os setores industriais — fornecedores de insumos e consumidores de matérias-primas agrícolas — assim como com o sistema financeiro. Ou seja, a agropecuária baiana, pelo menos em termos parciais, se insere, progressivamente, embora com certo atraso, no processo de modernização agrícola brasileiro, amplamente conhecido na literatura como 'industrialização da agricultura'. (PEDREIRA, 2008, pg. 40).

Os impactos causados no território podem ser observar o aumento do número de

tratores e arados mecânico, que de acordo com Borges (2006) passou de 1,2 % dos tratores e

1,9 % dos arados mecânicos utilizados na Bahia em 1950, para respectivamente para 22,4 % e

23,8 % em 1970, o que reflete a importância econômica da região para o Estado. De acordo

com Borges (2006):

É importante ressaltar que todo este “desenvolvimento” foi fruto de uma política impositiva e equivocada que não levou em conta as especificidades da região, tais como clima, solo, saberes culturais nativos, ocasionando assim, uma monocultura que com o passar do tempo desmantelou a estrutura da tradicional agricultura familiar, pois, a política de créditos, baseada em juros excessivos e altos custos de produção, não acompanhado de uma política de preço mínimo, resultou entre outras coisas, um endividamento crônico que tem como consequência a falência da maioria dos agricultores da chamada agricultura familiar. (BORGES, 2006, pg. 6).

Vale lembrar que estas culturas foram desenvolvidas em regime de sequeiro, ou seja, a

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produção era totalmente dependente das escassas chuvas, visto que a seca é um problema que

assola a região. E que este período também é marcado pela vinda de muitos migrantes, em

especial vindo do agreste e sertão de Pernambuco e Paraíba, que se dirigiam a estas terras

sobretudo devido ao mito criado sobre o feijão.

Na década de 1980 o Brasil sofre uma crise econômica e passa a ser monitorado pelo

Fundo Monetário Nacional (FMI), que para enfrentar a crise na balança de pagamentos e a

aceleração da inflação, impõe ao país um programa de ajustamento de caráter recessivo. Em

decorrência da referida crise financeira do Estado, tornou-se inviável o financiamento

subsidiado das atividades agrícolas (pois estas atividades tinham baixa eficiência no uso dos

recursos financeiros), devido a isso, os empréstimos concedidos aos empresários rurais

perderam o subsídio e tiveram de ser pagos integralmente, com juros e correção monetária.

Em consequência disso houve uma perda da capacidade competitiva dos grãos e o

endividamento dos produtores.

Nesse mesmo período, devido ao aumento do período de estiagem, as safras de grãos

passam por sucessivas quedas de produção. Dados da Companhia de Ação e Desenvolvimento

Regional (CAR) (2004) confirmam a crise econômica a qual a região estava enfrentando e

mostram que a produção de feijão que saí de 77 536 toneladas em 1980 a para 27 393 em

1995, constatando uma queda de aproximadamente 65% da produção.

É importante notar ainda, outros pontos que estão ligados a crise do feijão; falta de

preparo dos agricultores para a tomada de crédito rural, o que ocasionou um alto nível de

inadimplência dos mesmos; a redução da produtividade dos solos, devido à alta exploração

com as sucessivas plantações; e a falta de incentivo do governo federal para o surgimento de

atividades complementares para a diversificação econômica.

A falência do modelo de desenvolvimento implantado na região, modelo este baseado

na modernização da agricultura e no crédito subsidiado, acabou por revelar os problemas

desta modelo, sendo eles: a) forte dependência econômica dos agricultores, b) ineficiência na

aplicação de tais recursos pelos mesmos devido ao uso indevido do credito agrícola, c)

aumento do êxodo rural (sobretudo para São Paulo), d) devastação do bioma caatinga e

empobrecimento do solo.

Dentre os motivos citados, e como já foi salientado por outros autores da região, a

exemplos de Sobrinho (2007) e Neto (2008), a principal causa da crise do feijão foi à retirada

abrupta do crédito agrícola subsidiado, fato que deixou parte dos agricultores endividados e

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despreparados para se adequarem a uma nova realidade política e econômica, na qual eles se

veem obrigados a financiar essa produção incerta com seus próprios recursos5.

Se por um lado a crise provocou êxodo, desemprego, falências, por outro estimulou a

procura de solução para sua superação. Destaca-se nesta direção o desenvolvimento de

diversas atividades não apenas para superá-la, mas para garantir a própria sobrevivência de

sua população, como foi o caso da irrigação de hortaliças (beterraba, cebola e cenoura),

criação de caprinos, ovinos, bovinos, suínos, fruticultura irrigada, entre outras atividades. È

neste cenário que se enquadra o desenvolvimento da fruticultura irrigada do município de

Presidente Dutra, objeto do nosso próximo capítulo.

5 “Segundo fontes orais, no ano de 1995, a micro-região de Irecê registrou a ocorrência de vinte e dois (22) suicídios ocasionados pela situação de absoluta insolvência, ou melhor, pelo absoluto endividamento dos agricultores perante os organismos financeiros.” (BORGES, 2006, pg. 6).

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4. IDENTIFICAÇÃO DO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE DUTRA:

OCUPAÇÃO ECONÔMICA E DESENVOLVIMENTO RECENTE

Neste capítulo é feito uma caracterização histórica do município de Presidente Dutra,

identificando os elementos e aspectos relevantes da sua historia recente. Busca-se avaliar se

os processos econômicos e sociais do município podem ser caracterizados como

representativos do desenvolvimento econômico local. Em outros termos, procura-se responder

as seguintes questões: quais as principais transformações ocorridas na economia e sociedade

local e quais os rebatimentos dessas transformações sobre o padrão e a dinâmica do

desenvolvimento local? Para isso, serão analisados dados históricos e atuais do município

utilizando como fontes o IBGE, PTDRS e Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais

da Bahia (SEI), além de entrevistas semiestruturadas feitas com uma parcela dos produtores

locais.

Pretende-se assim, verificar a ocorrência de desenvolvimento local em Presidente

Dutra, usando como variável relevante para a análise do processo de transformação local a

implantação, expansão e a consolidação da fruticultura irrigada no município, em especial a

pinha.

A análise do desenvolvimento local é feita em duas etapas, na primeira de caráter

predominantemente qualitativo e, tomando como base os depoimentos das entrevistas

realizadas na pesquisa de campo, objetiva verificar a percepção da população e averiguar as

possíveis mudanças associando-as à dinâmica do desenvolvimento local. A segunda, busca

ilustrar com dados e indicadores quantitativos o desempenho econômico e social do

município e suas implicações em termos da inserção do município na economia do território.

Para tanto foram utilizados os seguintes indicadores: a) evolução da participação da região no

PIB regional; b) o desempenho da produção agrícola e, em particular, dos produtos da

fruticultura irrigada no município e da sua representatividade regional.

As análises comparativas serão feitas entre Presidente Dutra e os municípios com

população absoluta semelhante a este município, são eles: Barra do Mendes, Barro Alto,

Gentio do Ouro, Itaguaçu da Bahia, Jussara e Mulungu do Morro.

Page 34: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

34

Tabela 2: Evolução da População no período de 1991 a 2009

Município 1991 2000 2009 Variação 1991-

2009

América Dourada 15.965 15.959 16.787 5,1

Barra do Mendes 14.193 13.610 14.459 1,8

Barro Alto 12.059 12.099 14.172 17,5

Cafarnaum 17.415 16.059 18.314 5,2

Canarana 18.879 21.665 25.935 37,4

Central 18.057 16.792 18.022 0,0

Gentio do Ouro 11.093 10.173 11.988 8,0

Ibipeba 17.725 15.362 17.666 -0,3

Ibititá 17.285 17.905 19.410 12,3

Ipupiara 8.034 8.541 9.325 16,0

Irecê 50.908 57.436 66.061 29,8

Itaguaçu da Bahia 13.258 11.309 13. 260 0,0

João Dourado 19.211 21.056 21.990 10,8

Jussara 15.862 15.339 15.204 -4,3

Lapão 20.913 24.727 26.616 15,2

Mulungu do

Morro

13.741 15.119 13.879 -1,0

Presidente Dutra 12.012 13.730 14.306 19,1

São Gabriel 17.884 18.412 19.099 6,6

Uibaí 14.300 13.614 14.203 -0,7

Xique-Xique 40.373 44.718 47.470 17,6

Total 369.167 383.625 418.166 13,3

Fonte: IBGE. Censo Demográfico - 2000 apud PTDRS - 2010, elaboração própria.

4.1 Formação Histórica

Sabe-se que Belchior Dias Moreira desbravou o sertão baiano em busca de ouro e

prata no final do século XVI e início do século XVII, e acredita-se que um casebre encontrado

nas terras da Fazenda Canabrava (atual município de Uibaí) tenha sido feito na sua passagem

por lá, sendo este, portanto, o primeiro "civilizado" a penetrar nas terras que constituem hoje a

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35

região de Irecê (LA BANCA, 1988), no entanto especula-se ainda que esta possa ter sido

construída por outros desbravadores ou mesmo por quilombolas.

Consta nos anais do arquivo público da Bahia que estas terras situadas ao poente da

Vila de Santo Antônio de Jacobina até o rio das Velas foram doadas pela Coroa

Portuguesa sob forma de sesmarias remuneratórias ao mestre de campo Antônio de Brito

Correa, por serviços que este prestou no desbravamento dos sertões da Capitania no ano 1663.

Sendo que as mesmas foram passadas sucessoriamente a herdeiros de Antônio Correa de

Brito, segundo consta na Comarca de Santo Amaro da Purificação em 30 de junho de 1807

apud La Banca (1988):

Antônio Correa de Brito foi sucedido pelo filho Antônio de Guedes filho, e este pela filha Isabel Maria Guedes de Brito, casada com Antônio da Silva Pimentel, que foram por sua vez sucedidos pela filha Joana da Silva Guedes de Brito, casada com Manoel Saldanha Guedes de Brito, e este pelo filho João Saldanha da Gama Melo Torres Guedes de Brito - Conde da Ponte. (Comarca de Santo Amaro da Purificação, 1807 apud La Banca, 1988).

Sabe-se que essas terras ainda pertenceram ao Coronel Ernesto Augusto da Rocha

Medrado, casado com Ana Joaquina Medrado Prudêncio dos Santos Socorro Castelo Branco,

sendo estes herdeiros da Casa da Ponte (ROCHA e OLIVEIRA, 1988).

No entanto, o primeiro morador destas terras não foi o Coronel Ernesto Augusto da

Rocha Medrado, nem tão pouco o desbravador Belchior Dias, e sim Vicente Veloso, escravo

fugido da atual município de Jacobina, nos anos 1840 após matar o seu senhor. Acredita-se

que este andou por muitos dias no meio do mato até encontrar refúgio pela proximidade da

Serra Azul, lugar com abundância de água doce e longe dos capitães-do-mato que

provavelmente estavam a sua procura (MARTINS, 2010).

Em 26 de março de 1847 José Pereira Rocha (Cazuza) e Venceslau Pereira Machado

com suas respectivas esposas Francisca e Isabel compraram ao coronel Ernesto Medrado a

Fazenda Canabrava, e com suas famílias fizeram destas terras sua morada (REGMENDES,

2011). Tornaram-se vizinhos de Gonçalo Alves e da sua esposa Raimunda Pereira Rosa, os

quais já residiam por estas terras desde os anos 1844, após a compra do Olho d'Água do

mesmo coronel. As referidas terras faziam parte da Fazenda Conceição, nesse mesmo período

Vicente partiu não se sabe pra onde. É interessante ressaltar que essas famílias vieram de

Gentio do Ouro e que praticavam pecuária extensiva de pequenos rebanhos e agricultura

familiar de subsistência, além de terem enorme número de filhos, os quais formavam a base

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36

da mão de obra da unidade produtiva (MARTINS, 2010).

Em abril de 1890, Antônio Pereira Machado6 com alguns primos e irmãos, saíram da

Fazenda Canabrava de Gonçalo a caminho da Fazenda São Gabriel (atual São Gabriel), a qual

pertencia a Cazuza e Francisca, no intuito de demarcar uma estrada reta que ligasse as duas

fazendas, aproximadamente no meio do caminho estes encontraram uma lagoa (atual Lagoa

do Ferreira), dias depois em suas proximidades foram construídos casebres e roças e

posteriormente uma igreja, o lugarejo foi batizado como Lagoa, depois passou a ser chamada

de Lagoa da Canabrava e após as eleições de 1945 passou a ser conhecida como Lagoa de

Dutra.

A Lagoa da Canabrava enquanto lugarejo pertenceu primeiramente a Xique-Xique, no

entanto após a emancipação de Central em 1958, passou a ser distrito deste município. Sendo

no dia 12 de abril de 1962 aprovada na Câmera de Vereadores de Central e na Assembléia

Legislativa da Bahia a emancipação do município como Presidente Dutra, tendo como

primeiro prefeito Francisco Nunes de Souza, vulgo Chicão, o qual já tinha sido vereador

eleito na Lagoa da Canabrava, antes desta tornar-se município. O nome do município está

relacionado ao curioso fato de quase unanimidade (exceto um, o qual especula-se ter sido

intencional por receio de que a unanimidade causasse anulação do pleito), dos votos ao

candidato e eleito à presidência da República nas eleições de 1945, Eurico Gaspar Dutra do

Partido Social Democrata- PSD.

4.2 Caracterização Geral

Incluído no polígono das secas, o município de Presidente Dutra está localizado no

território de Irecê, a 18 km deste município e 492 km da capital Salvador, possui uma área

territorial de 163, 55 Km², sua renda per capta é de R$ 2.968,58 e o seu PIB R$ 42.343,888

(Censo IBGE 2008). É composto por 23 distritos, sendo eles: Campo Formoso, Alto Bonito,

Bela Vista, Matinha de Brito, Baixa Verde, Zumba, Barro Branco, Gaza, Curralinho, Ramos,

Juá Velho, Araçatuba, Carros, Canoão, Sapecado, Gameleira, Águas Claras, Bernardes,

Arrecife, Brasil, Aguadinha, Queimada e Riachinho.

O município de Presidente Dutra abriga uma população de 13.750 mil de habitantes e

uma densidade demográfica de 84,07 hab./Km² (Censo IBGE 2010). O perfil demográfico é

6 Filho de Venceslau Pereira Machado.

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37

predominantemente urbano (66,78%), ficando acima da média verificada no território

(61,45%) e abaixo da verificada no estado, cuja taxa de urbanização é da ordem de 72%

(PTDRS, 2010).

Tabela 3: Tabela território Irecê, População, 2000,2010

Território / Municípios

Área Total (km²)

Total 2010

% Urbana 2010

Rural 2010

Taxa de Urb. 2010

Dens. Dem. 2010

VAR 00/10

VAR POP TOTAL 00/10

Taxa anual

Território de Identidade Irecê

26.730,87 403.070 247.678 155.392 61,45% 15,1 2,9% 5,57% 0,54

Irecê 313,70 66.404 16,47 10.845 5.107 67,99% 21,4 4,4% -0,04% (0,004)

Xique-Xique 5.671,44 45.562 11,30 6.255 7.742 44,69% 11,2 3,7% 2,84% 0,28

Lapão 638,32 25.651 6,36 6.726 6.900 49,36% 32,0 6,6% 12,63% 1,20

Canarana 617,99 24.055 5,97 10.559 6.653 61,35% 18,6 4,0% 7,18% 0,70

João Dourado 984,02 22.359 5,55 11.463 12.592 47,65% 38,9 2,6% 11,03% 1,05

São Gabriel 1.156,80 18.419 4,57 8.165 8.862 47,95% 28,1 2,5% 1,40% 0,14

Ibititá 564,92 17.832 4,42 5.404 5.316 50,41% 2,9 3,4% 5,38% 0,53

Cafarnaum 927,49 17.212 4,27 10.055 6.966 59,07% 12,0 -1,3% 10,80% 1,03

Central 607,00 17.027 4,22 8.341 9.491 46,78% 31,6 1,8% -0,41% (0,04)

Ibipeba 1.417,14 17.021 4,22 5.984 3.306 64,41% 7,9 3,6% 8,77% 0,84

América Dourada

743,89 15.952 3,96 61.248 5.156 92,24% 211,7 -0,3% 15,61% 1,46

Jussara 886,02 15.053 3,73 2.598 10.611 19,67% 3,0 2,1% 16,80% 1,57

Barra do Mendes 1.252,09 13.997 3,47 13.566 8.793 60,67% 22,7 0,4% 17,88% 1,66

Presidente Dutra 243,92 13.756 3,41 10.052 5.001 66,78% 17,0 2,5% -1,86% (0,19)

Uibaí 515,66 13.655 3,39 10.053 15.598 39,19% 40,2 1,9% 3,74% 0,37

Barro Alto 425,75 13.626 3,38 5.934 6.336 48,36% 23,7 7,6% -18,84%

(2,07)

Itaguaçu da Bahia

4.396,34 13.209 3,28 9.057 4.699 65,84% 56,4 10,1% 0,19% 0,02

Mulungu do Morro

517,60 12.270 3,04 10.486 7.933 56,93% 15,9 4,4% -1,43% (0,14)

Gentio do Ouro 3.671,24 10.720 2,66 8.335 5.320 61,04% 26,5 3,2% 0,30% 0,03

Ipupiara 1.179,54 9.290 2,30 32.552 13.010 71,45% 8,0 0,9% 1,89% 0,19

Fonte: IBGE apud Relatório Survey – BAHIA.

A atividade agropecuária é muito relevante para economia sendo responsável por

18,7% do produto interno bruto do município. Conforme censo agropecuário de 2006, 88,9%

dos estabelecimentos agropecuários de Presidente Dutra são familiares, ficando abaixo do

Page 38: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

38

valor do território que é de 91% e acima do valor do estado que é de 87,4 %. As propriedades

familiares que compõem o município, território e estado detêm respectivamente 81%, 45,6% e

34,1% do total das terras dos mesmos, observando uma alta participação da agricultura

familiar no município, a qual corresponde a quase duas vezes o percentual de área do

território e a três vezes a do estado. Sendo também superior aos municípios analisados, Barra

do Mendes, Barro Alto, Gentio do Ouro, Itaguaçu da Bahia, Jussara, Mulungu do Morro e

Uibaí (PTDRS, 2010).

Tabela 4:Territorio Irece, Estabelecimentos Agricultura Familiar e não familiar, 2006

Macrorregião / Território de Identidade / Municípios

Agricultura familiar - Lei nº 11.326 Não familiar TOTAL

Estab. % Área (ha)

% Estab. % Área (ha) % Estab. Área (ha)

BAHIA 665.831

87,4% 9.955.563

34,1% 95.697

12,6% 19.224.983

65,9% 761.528

29.180.546

Irecê 41.011

91,5% 550.552

45,6% 3.804

8,5% 657.265

54,4% 44.815

1.207.817

América Dourada 1.535

90,1% 38.335

54,6% 169

9,9% 31.919

45,4% 1.704

70.254

Barra do Mendes 1.772

89,7% 21.793

59,1% 203

10,3% 15.108

40,9% 1.975

36.900

Barro Alto 2.306

94,8% 25.624

77,4% 127

5,2% 7.469

22,6% 2.433

33.093

Cafarnaum 2.061

90,0% 33.567

64,4% 229

10,0% 18.596

35,6% 2.290

52.162

Canarana 3.406

93,4% 38.823

77,6% 239

6,6% 11.209

22,4% 3.645

50.032

Central 2.232

92,1% 26.021

72,4% 191

7,9% 9.917

27,6% 2.423

35.938

Gentio do Ouro 1.496

93,5% 22.071

64,5% 104

6,5% 12.156

35,5% 1.600

34.227

Ibipeba 1.893

85,7% 30.681

45,0% 316

14,3% 37.429

55,0% 2.209

68.110

Ibititá 3.819

93,3% 35.704

79,0% 275

6,7% 9.476

21,0% 4.094

45.180

Ipupiara 1.435

95,2% 26.934

85,3% 72

4,8% 4.660

14,7% 1.507

31.594

Irecê 765

85,6% 12.118

52,9% 129

14,4% 10.793

47,1% 894

22.911

Itaguaçu da Bahia 1.587

90,3% 35.196

10,3% 170

9,7% 306.465

89,7% 1.757

341.661

João Dourado 1.143

78,5% 25.606

52,8% 313

21,5% 22.901

47,2% 1.456

48.508

Page 39: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

39

Jussara 2.245

93,2% 30.107

60,3% 163

6,8% 19.791

39,7% 2.408

49.899

Lapão 1.780

94,5% 23.665

78,3% 103

5,5% 6.540

21,7% 1.883

30.205

Mulungu do Morro 1.977

87,4% 16.836

58,6% 285

12,6% 11.916

41,4% 2.262

28.752

Presidente Dutra 1.463

88,9% 9.171

81,0% 182

11,1% 2.152

19,0% 1.645

11.324

São Gabriel 2.975

94,7% 42.885

62,3% 168

5,3% 25.945

37,7% 3.143

68.829

Uibaí 2.558

95,8% 17.661

73,5% 112

4,2% 6.351

26,5% 2.670

24.012

Xique – Xique 2.563

91,0% 37.753

30,4% 254

9,0% 86.473

69,6% 2.817

124.226

Fonte: IBGE, elaboração própria.

4.2.1 Caracterização geral das terras

A partir da análise da tabela abaixo se percebe que 82% dos estabelecimentos

agropecuários do município são próprios, seguindo por 0,1 terras concedidas, 1,9%

arrendadas, 9,3% em parceria e 6,7% ocupadas.

Tabela 5: Condição legal das terras do município de Presidente Dutra

Condição legal das terras Número de estabelecimentos agropecuários

%

Próprias 1.383 82

Terras concedidas por órgão fundiário ainda sem titulação definitiva

1 0,1

Arrendadas 32 1,9

Em parceria 157 9,3

Ocupadas 112 6,7

Total 1685 100

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006

Segue abaixo uma tabela com a condição do produtor, onde 84,1% são proprietários,

1,4% arrendatários, 7,5% parceiro, 5,3% ocupante e 1,7% produtor sem área.

Page 40: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

40

Tabela 6: Condições do produtor

Número de estabelecimentos agropecuários %

Proprietário 1.383 84,1

Assentado sem titulação definitiva - -

Arrendatário 24 1,4

Parceiro 124 7,5

Ocupante 88 5,3

Produtor sem área 26 1,7

Total 1645 100

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006

Temos ainda, a divisão da atividade econômica predominante por número de

estabelecimento. Onde se observa que 50% das terras são ocupadas por lavoura temporária,

0,3% por horticultura e floricultura, 32% por lavoura permanente, 17% por pecuária e criação

de outros animais, 0,2% por florestas plantadas e 0,5% por florestas nativas.

Tabela 7: Grupos de atividade econômica

Grupos de atividade econômica Número de estabelecimentos agropecuários %

Lavoura temporária 823

Horticultura e floricultura 6

Lavoura permanente 522

Pecuária e criação de outros animais 285

Produção florestal - florestas plantadas 3

Produção florestal - florestas nativas 6

Total

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006

O município de Presidente Dutra é predominantemente composto por agricultores

familiares. A maior parte dos estabelecimentos (21,4%) possuem uma área de 5 a 10 hectares,

no entanto os estabelecimentos que têm a maior parte são aqueles que possuem 10 a 20

hectares.

Page 41: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

41

Tabela 8: Perfil da estrutura fundiária de Presidente Dutra

Grupos de área dos estabelecimentos rurais

(em hectares)

Participação no total (%)

Número de estabelecimentos agropecuários

Área dos estabelecimentos agropecuários

Mais de 0 a menos de 0,1 0,73 0,00

De 0,1 a menos de 0,2 0,12 0,00

De 0,2 a menos de 0,5 5,05 0,27

De 0,5 a menos de 1 5,41 0,61

De 1 a menos de 2 15,20 3,18

De 2 a menos de 3 12,40 4,28

De 3 a menos de 4 11,98 5,96

De 4 a menos de 5 8,94 5,71

De 5 a menos de 10 21,40 21,23

De 10 a menos de 20 11,55 22,49

De 20 a menos de 50 4,50 19,51

De 50 a menos de 100 0,73 7,91

De 100 a menos de 200 há 0,43 8,84

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006

4.3 Processo de desenvolvimento recente e o cultivo da pinha7

Desde o final dos anos 1990 vem sendo desenvolvida em Presidente Dutra a produção

da fruticultura irrigada. Até então, a população local obtinha sua renda a partir do cultivo em

regime de sequeiro, sendo os principais produtos o milho, feijão, mamona e a pinha, sendo

esta última apenas colhida de pés que nasciam nas casas e roças desses agricultores (sem

nenhum cuidado do proprietário), tendo, portanto, pouca inserção comercial. Existia ainda

uma pequena parcela de agricultores que se envolviam com olerícolas irrigada, a partir de

poços artesianos.

7 A pinha, também conhecida como ata, fruta-do-conde e condessa é o fruto da Annona Squamosa, árvore da família das anonáceas. Originária da América Central de onde se expandiu para o Oriente e Filipinas. Foi introduzida no Brasil em 1626, pelo Governador Geral do Brasil e Conde de Miranda, Dom Diogo Luis de Oliveira, que a trouxe a Bahia, atualmente é cultivada em diversos estados brasileiros como, por exemplo, a Bahia, São Paulo e Alagoas. É uma excelente fonte de vitamina C e complexo B, rica em açúcares e sais minerais (ARAUJO, 2003).

Page 42: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

42

Figura 4: Praça do Comércio de Presidente Dutra – BA, 1983

Fonte: La Banca, 1988

Figura 5: Praça do Comércio de Presidente Dutra – BA

Fonte: Acervo pessoal de Doval Novaes, 2010.

O interesse em produzir essa fruta para o comercio teve início no município na década

de 1970 quando Aprígio Moraes8 percebendo o grande número de frutos produzidos ali sem

nenhum teor econômico passou a comprá-las na feira livre do município e a revendê-las em

8 Segundo o I. C 05, Aprígio Moraes foi o comerciante que iniciou a compra da pinha no município de Presidente Dutra para revendê-la em outros municípios.

Page 43: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

43

outros municípios do território. Vendo que era um bom negocio e já com uma melhor

infraestrutura surgiram outros atravessadores, como é o caso de Lourival de Souza Santos9

(LA BANCA, 1988). A pinha então passou a ser comprada e embalada em depósitos, o que

desencadeou novas áreas de emprego, como por exemplo, a confecção de embalagens para a

exportação das mesmas, atividade que ainda hoje é desenvolvida em depósitos semelhantes a

este.

Sobre as atividades desenvolvidas no município antes da implantação da pinha

irrigada o produtor Informante – Chave (I.C) 07 faz a seguinte observação:

Trabalhávamos com a pinha de sequeiro, de péssima qualidade, só conseguíamos colher na época da safra, e o preço lá embaixo, porque todo mundo produzia ao mesmo tempo, também plantávamos feijão, milho e mamona10.

Percebe-se que desde a década de 1970 a pinha já tinha papel importante para a

subsistência das famílias, no entanto a economia ainda se baseava na produção de milho,

feijão, mamona e algodão que eram as principais fontes de renda do município. Durante a

década de 1980 foram implantadas as primeiras plantações de pinha de sequeiro, que surgiram

devido à percepção popular do teor econômico desse fruto, como pode ser observado na fala

do produtor I. C 04:

Os nossos solos são apropriados para a pinha, mas o principal motivo que levou ao seu plantio para a comercialização foi mesmo a descoberta de que a pinha dava dinheiro, Cigano vinha comprar a pinha e dez pés de pinha da roça davam mais dinheiro do que uma tarefa de milho11.

No fim da década de 1980 a irrigação foi implantada no município a partir de poços

artesianos, como alternativa de superação das secas periódicas e das perdas de safras dos

grãos. A agricultura se expandiu para o cultivo de beterraba, cenoura e cebola, o cultivo da

pinha já tinha se estendido na medida em que já havia plantações de pinha de sequeiro, as

atividades nos depósitos se intensificaram e já absorvia uma mão de obra significante.

O produtor I. C 07 um dos pioneiros da fruticultura irrigada no município, afirma que

a prefeitura local contribuiu, por esta ter levado ao município “pela primeira vez um

9 Um caminhoneiro conhecido como Cigano, o qual trazia alguns produtos de Xique-Xique para comercializar na cidade. 10 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012. 11 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012.

Page 44: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

44

especialista da pinha, daí que eu tive a ideia de produzir a pinha irrigada12”, tal especialista

era o Alagoano Zé de Barros e de acordo com o produtor I. C 01 “foi o maior incentivador

que já conheci13”.

Em meados da década de 90 surgiram às primeiras plantações de pinha irrigada, no

entanto essa atividade ainda surpreendia a população local que não conheciam e por isso não

acreditavam nessa nova forma de manejo da fruta, mas isso foi por pouco tempo. Vendo o

sucesso das produções que passaram de uma para duas e até três vezes por ano, muitas

pessoas migraram do cultivo de cenoura, cebola e beterraba para a pinha. Sobre a migração do

cultivo de leguminosas para a produção da pinha irrigada o produtor I. C 03 da a seguinte

justificativa:

Quando a irrigação de verduras começou a ficar muito difícil, os recursos muito caros, aí ficamos sem opção e optamos pela pinha, por já ser uma planta nativa, que se desenvolvia bem. A pinha já tinha uma renda boa de sequeiro, e irrigada começou a produzir de duas a três vezes ao ano14.

A implantação e expansão da pinha irrigada em Presidente Dutra, têm induzido um

processo de transformação econômica e social no município, a qual levou o município a se

destacar regionalmente, transformação esta, marcada pelo aumento na qualidade de vida dos

habitantes, materializada principalmente pelo surgimento de novos campos na área de

trabalho e uma renda extra a qual está sendo empregada na educação, em tecnologia nas

fazendas e em novas atividades econômicas, como por exemplo, o comércio.

4.3.1 Geração de Emprego e Condições de Trabalho

No final da década de 1990 o município vivia um momento de êxtase econômico, com

o surgimento de novos campos de trabalho, como por exemplo, os produtores de mudas de

pinha que compravam terra, sementes e contratavam os funcionários que acompanhavam

todas as etapas de produção das mudas, até chegar o momento da venda.

As atividades nos depósitos se intensificaram (gerando emprego e renda) e surgiram

novos depósitos, de acordo com o produtor I. C 01:

12 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012. 13 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012. 14 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012.

Page 45: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

45

Até a década de 1990 havia uns 8 depósitos, mas estes só funcionavam 3 meses por ano, pois ainda não tinha a produção da pinha irrigada, atualmente com a irrigação da pinha tem 19 depósitos, que funcionam o ano inteiro15.

Figura 6: Depósito de pinha no fim da década de 1980

Fonte: Acervo pessoal de Valdenir Leite de Melo

Figura 7: Colheita de pinha em 2011

Fonte: Acervo pessoal de Ediçon Machado

15 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012.

Page 46: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

46

Através das fotos acima, percebe-se a especialização que houve na colheita da pinha,

na década de 1990 ela era levada até os depósitos sem nenhum cuidado, o que danificava os

frutos causando perdas na venda, atualmente os frutos já são pré-embalados na propriedade

rural, o que acarreta em uma melhor durabilidade e qualidade nos mesmos.

O número de produtores rurais foi ampliado, sendo que a maioria dos produtores

migrou da produção de leguminosas. No campo as atividades também foram ampliadas, os

pés de pinha passaram a ter um cuidado especial, exigindo profissionais para podar, capinar,

polinizar, aplicar defensivos dentre outras atividades.

Quanto à geração de emprego hortaliça versus pinha, o produtor I.C 01 afirma que “a

hortaliça se plantava uma vez no ano, já com a pinha trabalha o ano todo, com mão de obra o

ano todo16”, como se pode notar pela fala do produtor, a geração de emprego ocasionada pela

pinha é extremamente mais significante do que a gerada anteriormente pela irrigação de

hortaliças, pois esses produtores precisam contratar uma quantidade maior de trabalhadores

rurais, devido aos maiores cuidados exigidos por esse cultivo, como a adubação, aplicação de

defensivos e polinização. Sendo que estes trabalhos gerados são permanentes, visto que a os

pés de pinha demandam cuidados o ano todo.

Como motivo para o desenvolvimento dessa atividade no município, os pioneiros

afirmam que sem essa alternativa eles sairiam da região, pois não teriam como manter a si e

suas famílias. Isso pode ser constatado na fala do produtor I.C 01 “Não tinha outra

perspectiva, ou você partir pra descobrir uma fonte de renda na fruticultura irrigada, ou então

ir embora da região17”. De acordo com os mesmos o interesse por esta atividade em específico

surgiu após assistirem um Curso o qual foi ministrado pelo técnico de Zé de Barros, onde

estavam presentes mais de 30 pessoas, tal curso ocorreu no povoado de Baixa Verde,

localizado no próprio município e a 6 km deste, foi patrocinado pelo Serviço Brasileiro de

Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Empresa Baiana de Desenvolvimento

Agrícola (EBDA) e prefeitura local.

De acordo com a EBDA municipal, nesses últimos 10 anos as plantações de pinha

irrigada geraram cera de 4.000 empregos diretos e indiretos, enquanto a pinha de sequeiro

com o dobro da área plantada absorve somente 100 trabalhadores. Esses empregos gerados

são divididos na poda de frutificação, irrigação, adubação e a polinização artificial. Estes

cuidados permitem a obtenção de duas a três safras por ano. De acordo com o produtor I. C

16 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012. 17 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012.

Page 47: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

47

01, atualmente eles necessitam em média de um trabalhador assalariado por hectare, sendo

que na plantação de olerícolas era um trabalhador para dois hectares, ou seja, a pinha irrigada

dobrou a mão de obra utilizada pelos agricultores familiares, o que significa maior geração de

emprego e renda para o município.

A respeito da geração de emprego ocasionada pela implantação da pinha irrigada o

produtor I. C 04 afirma que: “Todas as pessoas da casa têm condições de ganhar dinheiro na

pinha, aí melhora bastante os meios de sobrevivência, pois todos da casa produzem fonte de

renda18”, fala reforçada pelo I. C 03 e pelo I. C 07 respectivamente:

Poucas pessoas da região têm um nível de escolaridade alto, e com a pinha todos conseguem trabalho, de crianças até idoso (que estariam fora do mercado), conseguem trabalhar na pinha, só não trabalha quem não quer19.

Presidente Dutra, eu creio o seguinte, não é nem comparando com o Nordeste, eu acho que Presidente Dutra talvez seja a única cidade brasileira que o índice de desemprego é zero, você sabe, aqui em Presidente Dutra só não trabalha quem não quer, trabalha homem, mulher, idoso e criança, a produção da pinha, foi muito importante para a cidade20.

Sobre as condições de trabalho e direitos dos trabalhadores, o produtor rural I. C 01

faz a seguinte afirmação:

Aqui na cidade são os trabalhadores que não querem que se assine a carteira, ninguém aqui quer trabalhar a semana inteira, aqui em Presidente Dutra o trabalhador rural só trabalha de terça a sexta, aqui tem serviço demais, o trabalhador escolhe o que vai fazer, para fazer um trabalho mais duro a gente tem trazer gente da região do sisal, os trabalhadores aqui não trabalham mais com chibanca21.

Nota-se que o produtor mostra-se interessado em assinar a carteira dos trabalhadores,

faltando o interesse dos mesmos. Sendo, portanto, necessário ao município uma

conscientização destes trabalhadores da importância de trabalhar com a Carteira de Trabalho

assinada, o que garantiria aos mesmos diversos direitos, como décimo terceiro e férias

remuneradas.

18 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012. 19 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012. 20 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012. 21 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012.

Page 48: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

48

Ao que se refere aos direitos existentes na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é

notório que elas não se aplicam totalmente aos trabalhadores rurais do município, por diversos

motivos, dentre eles a deficiência na própria fiscalização dessas leis pelos órgãos competentes

e pelo desconhecimento dos trabalhadores e empregadores dos seus direitos e deveres,

respectivamente. Fato que não se restringe somente o município de Presidente Dutra, nem tão

pouco somente aos trabalhadores rurais, mas a diversas classes trabalhadoras de todo o país.

No entanto, mesmo o trabalhador não tendo todos os seus direitos garantidos não se

pode desprezar a importância da geração de emprego que ocorre em Presidente Dutra, pois,

embora não sendo respeitadas todas as leis trabalhistas, sem estes empregos a população

provavelmente teria pouquíssimas outras fontes de renda.

Foi constatada também a existência de um incipiente Capital Social entre os

trabalhadores rurais, fato este comprovado pela fala do produtor I. C 05: “Tem um restrito

número de trabalhadores que se reúnem em grupos e só trabalham se forem juntos22.” Assim

como é frágil a organização por parte dos produtores rurais, também é por parte dos

trabalhadores, que escassamente lutam por melhores condições de trabalho, fato este que não

será aprofundado neste trabalho, pelo fato destes não serem o objeto de estudo.

4.3.2 Produção e Renda

A partir da implantação da pinha irrigada no município de Presidente Dutra, houve

uma grande expansão referente à geração de emprego e renda e a consequência disso foi à

diminuição da pobreza, fato este comprovado a partir da fala do produtor I. C 02: “Melhorou

a saúde, educação, saneamento, pavimentação, o município cresceu, hoje temos água

encanada (até 1994 a água era salgada e sem tratamento), a pobreza não é tanta, hoje tem sim,

mas é em menor número”, foi agregado valor na cadeia produtiva, visto que a produção

irrigada exige maiores cuidados o que aumentou a qualidade dos produtos exportados e

consequentemente o seu preço. Ainda ao que diz respeito ao aumento na qualidade de vida da

população pode ser comprovado a partir da fala dos produtores I. C 01, I.C 02 e I.C 03

respectivamente:

Hoje todo mundo tem uma casa arrumada com cerâmica, geladeira, televisão,

22 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012.

Page 49: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

49

forrada, antes não tinha isso não, melhorou o comércio, abriu várias lojas de móveis, melhorou a qualidade de vida do pessoal, tanto na alimentação como na moradia, no lazer, hoje todo fim de semana a pessoa tem o dinheiro pra tomar uma cerveja, pra ir a um banho23.

Se não existisse a produção da pinha irrigada Presidente Dutra hoje não existiria, ou seria uma cidade desestimulada, onde ninguém queria morar, onde ninguém queria colocar seu comércio. Pra você ter uma ideia depois da pinha aqui tem três lojas de fora de móveis que antigamente não tinha nenhuma, e lojas de certo padrão, antigamente não tinha, tinha umas lojinhas locais muito pequenas, o número de supermercados também aumentou muito24.

Entre as cidades da região de Irecê, depois de Irecê Presidente Dutra fica em segundo lugar no quesito desenvolvimento econômico, de movimentação do comércio, outras cidades que não tem a pinha irrigada você vê as dificuldades que sofrem25.

De acordo com a EBDA local o município atualmente é a principal produtora de pinha

irrigada do estado, com setecentos e cinquenta hectares irrigados e mil e quinhentos hectares

em sequeiro, a safra anual é a maior do país, estimada em dezoito mil toneladas, gerando uma

renda acima de R$ 14 milhões por ano, o que corresponde a cerca de duas vezes o valor

arrecadado pela prefeitura local.

É importante destacar a autoestima elevada que os presidutenses têm do

desenvolvimento da fruticultura irrigada no município, fato que fica evidenciado na fala do

produtor I. C 05:

A pinha resgatou em Presidente Dutra o valor da terra, ela resgatou em Presidente Dutra o orgulho do trabalhador dizer que trabalha na pinha, antigamente você mandava um garoto ir pra roça ele corria, ficava no meio da rua, mas pra roça ele não ia, hoje a pinha resgatou isso, hoje você diz na escola que trabalha na pinha, o seu namorado te conquista falando da pinha26...

Os produtores não veem a possibilidade de uma crise de excesso de produção, pois de

acordo com os mesmos nunca faltaria comprador, fato que pode ser constatado nas falas dos

produtores I. C 01 e I. C 04 respectivamente: “é uma produção de pobre pra rico, você vende

o que produz” e:

23 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012. 24 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012. 25 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012. 26 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012.

Page 50: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

50

As perspectivas são boas, de acordo com as informações que são passadas em seminários pra gente. O Dr. Kavati da Unicamp, disse isso recentemente, que aumentou os consumidores e as áreas têm diminuído. Porque tínhamos concorrentes em São Paulo (caiu a produtividade devido as chuvas), Alagoas (a seca matou a pinha praticamente toda, eles estão reiniciando) e Pernambuco, essas regiões eram produtoras e concorriam com a gente. Hoje Presidente Dutra praticamente é o principal fornecedor, quase o único do Brasil, a gente nota que ainda não produzimos quarenta por cento do total do consumo de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília27.

O município de Presidente Dutra é considerado a capital mundial da pinha e

atualmente uma parcela considerável da população se envolve na produção, colheita,

embalagem e comercialização da mesma. No entanto, a exemplo do que ocorrem com outras

culturas agrícolas, as estatísticas da área plantada, volume de produção, e geração de emprego

ocasionados pela produção da pinha irrigada são escassos, o que não permite fazer uma

análise mais profunda dessa atividade econômica.

4.4 Presidente Dutra e a exploração da pinha: caracterização produtiva e

impactos socioeconômicos

Nessa quarta parte serão apresentados dados oficiais de Presidente Dutra e do

território de Irecê, com o intuito de comprovar a especialização produtiva que houve no

município e seus impactos socioeconômicos. Esses dados serão fornecidos através de gráficos

e tabelas, seguidos de uma interpretação dos mesmos. São eles: área plantada com a cultura da

pinha, a produção obtida nessa área, PIB, Índice de Desenvolvimento Econômico - IDE,

Índice de Desenvolvimento Social - IDS e Índice de Gini.

4.4.1 Estrutura Produtiva: evolução e características

A exploração da pinha irrigada no município de Presidente Dutra é realizada

predominantemente por agricultores familiares28. São em maioria filhos de Presidente Dutra,

tem formação de técnico agrícola, grau de instrução concedido na própria escola estadual

local, curso extinto atualmente no município.

27 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012. 28 Propriedade de até 260 hectares e que usam predominantemente a mão de obra familiar.

Page 51: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

51

4.4.2 Especialização Produtiva

Conforme o gráfico e tabela abaixo se pode observar que a expansão da cultura da

pinha, aliada a um declínio das demais culturas agrícolas. Enquanto, em 2004, a produção

agrícola de feijão, mamona e milho, eram respectivamente 11.000, 5.000 e 12.000 hectares,

em 2010 esses valores caíram para os valores entre 200, 3.500 e 5.700 respectivamente. A

área de produção da pinha irrigada no ano de 2004 era de 200 passando em 2010 a abranger

2.225 hectares. Acredita-se que o valor diminuído na área de feijão, mamona e milho se

devem ao advento da produção. O vertiginoso crescimento da produção da fruticultura

irrigada indica a tendência à especialização dessa atividade, o que permite uma maior

rentabilidade financeira e maior integração ao mercado nacional.

Gráfico 1: Área em hectares da safra do município de Presidente Dutra nós períodos 2004 e 2010

Fonte: Censo Agropecuário e EBDA, elaboração própria.

Tabela 9: Área em hectares da safra do município de Presidente Dutra nós períodos 2004 e 2010

Produto 2004 2010

Feijão 11000 200

Mamona 5000 3500

Milho 12000 5700

Pinha 200 2250

Fonte: Censo Agropecuário e EBDA, elaboração própria.

Percebe-se que a produção do milho e principalmente do feijão caíram, drasticamente

no território (em um percentual de respectivamente 98,2% e 52,5%), essa queda deve-se

principalmente a baixa competitividade desses grãos no mercado, sendo produzidos

Page 52: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

atualmente quase que exclusivamente para o consumo familiar e animal. Enquanto isso tem

uma queda de apenas 30% na produção da mamona, fato que segundo os agricultores se deve

ao aumento e estabilidade que o preço da mamona adquiriu a partir do

Biocombustível (PBIO), que atua no território através da compra da mamona por cooperativas

cadastradas, dando assim, aos agricultores uma nova via de comercialização que não apenas

os atravessadores e garantindo portando uma alta inserção econômica do produto na economia

do município.

A produção da pinha irrigada nesses anos teve um aumento de 1025%, fato que se

deve a especialização da pr

competitividade da fruta no mercado nacional

financeiro dos produtores rurais

4.4.3 Proeminência de Presidente Dutra no

No gráfico abaixo, percebe

plantada com pinha no território, sendo que outr

Central e Uibaí, com respectivamente 14% e 13%, segue

Gabriel com 3% cada, os demais

mente quase que exclusivamente para o consumo familiar e animal. Enquanto isso tem

uma queda de apenas 30% na produção da mamona, fato que segundo os agricultores se deve

ao aumento e estabilidade que o preço da mamona adquiriu a partir do

, que atua no território através da compra da mamona por cooperativas

dando assim, aos agricultores uma nova via de comercialização que não apenas

e garantindo portando uma alta inserção econômica do produto na economia

A produção da pinha irrigada nesses anos teve um aumento de 1025%, fato que se

deve a especialização da produção agrícola no município e a grande aceitação e

idade da fruta no mercado nacional, o que possibilitou um aumento do retorno

financeiro dos produtores rurais.

4.4.3 Proeminência de Presidente Dutra no Território de Irecê

No gráfico abaixo, percebe-se que Presidente Dutra concentra 58% cento da área

plantada com pinha no território, sendo que outros municípios com áreas significantes são

Central e Uibaí, com respectivamente 14% e 13%, segue-se Ibipeba com 4%, Lapão e São

s demais municípios têm uma área produtiva igual ou inferio

Gráfico 2: Área da Plantação Regional de Pinha

Fonte: Censo IBGE 2010– 2010, elaboração própria.

52

mente quase que exclusivamente para o consumo familiar e animal. Enquanto isso tem-se

uma queda de apenas 30% na produção da mamona, fato que segundo os agricultores se deve

Programa Nacional de

, que atua no território através da compra da mamona por cooperativas

dando assim, aos agricultores uma nova via de comercialização que não apenas

e garantindo portando uma alta inserção econômica do produto na economia

A produção da pinha irrigada nesses anos teve um aumento de 1025%, fato que se

a grande aceitação e

, o que possibilitou um aumento do retorno

se que Presidente Dutra concentra 58% cento da área

com áreas significantes são

se Ibipeba com 4%, Lapão e São

s têm uma área produtiva igual ou inferior a 2%.

Page 53: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

Quanto à produção, percebe

total produzido no território, Central 15%, Uibaí 13%, Lapão 2% e São Gabriel 1%,

demais municípios possuem dados iguais ou inferiores a 1%.

A partir da analise dos dados utilizados na pesquisa, conclui

Presidente Dutra é o principal produtor e exportador de pinha do território de I

maior abrangência em área e produtividade. A partir das entrevistas junto aos produtores

locais, conclui-se como motivo para essa supremacia produtiva no município

deve-se ao fato desta fruta já ser considerada típica d

dos produtores (a maioria deles são técnicas agrícolas)

adequados a produção da mesma, além de possuir águ

Os produtores também

prática em campo da cultura da pinha que

esta é compartilhada entre os produtores

aprendizagem na prática esta presente n

período que esta atividade começou a se desenvolver

municípios Central e Uibaí

plantada e produtividade)

Quanto à produção, percebe-se pelo gráfico abaixo que Presidente Dutra produz 63%

total produzido no território, Central 15%, Uibaí 13%, Lapão 2% e São Gabriel 1%,

s possuem dados iguais ou inferiores a 1%.

Gráfico 3: Produtividade Regional de pinha

Fonte: Censo IBGE 2010– 2010, elaboração própria.

A partir da analise dos dados utilizados na pesquisa, conclui-se que o município de

Presidente Dutra é o principal produtor e exportador de pinha do território de I

maior abrangência em área e produtividade. A partir das entrevistas junto aos produtores

se como motivo para essa supremacia produtiva no município

se ao fato desta fruta já ser considerada típica do município, pelo grau de

(a maioria deles são técnicas agrícolas) e pelo município possuir clima e solo

adequados a produção da mesma, além de possuir água em lençóis subterrâneos.

Os produtores também citaram que o município apresenta uma maior experiência n

da cultura da pinha que os demais municípios do território

compartilhada entre os produtores (formação de capital social). E

aprendizagem na prática esta presente no município a 13 anos, o que corresponde com o

período que esta atividade começou a se desenvolver no município. É importante citar que os

municípios Central e Uibaí (que se classificam respectivamente na 2º e 3º posição em área

plantada e produtividade) possuem uma grande fronteira territorial com Presidente Dutra e

53

se pelo gráfico abaixo que Presidente Dutra produz 63%

total produzido no território, Central 15%, Uibaí 13%, Lapão 2% e São Gabriel 1%, os

se que o município de

Presidente Dutra é o principal produtor e exportador de pinha do território de Irecê, com uma

maior abrangência em área e produtividade. A partir das entrevistas junto aos produtores

se como motivo para essa supremacia produtiva no município

, pelo grau de escolaridade

e pelo município possuir clima e solo

a em lençóis subterrâneos.

que o município apresenta uma maior experiência na

s do território e apontaram que

(formação de capital social). Este processo de

a 13 anos, o que corresponde com o

É importante citar que os

e se classificam respectivamente na 2º e 3º posição em área

possuem uma grande fronteira territorial com Presidente Dutra e

Page 54: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

54

uma consequente proximidade geográfica com as áreas que produzem a pinha irrigada do

município estudado.

Tabela 10: Municípios do Território de Irecê com suas respectivas áreas de produção e produtividade de pinha

Municípios Área Plantada

(ha)

Produção (ton)

América Dourada

15 60

Barro Alto 10 40

Barra do Mendes 5 20

Cafarnaum - 0

Canarana 20 80

Central 560 4.480

Gentio do Ouro - 0

Ibipeba 170 1.360

Ibititá 2 6

Irecê 15 60

Itaguaçu da Bahia

30 120

João dourado 15 60

Jussara 70 280

Lapão 120 480

Munlugu do Morro

- 0

Presidente Dutra 2250 19.125

São Gabriel 100 400

Uibaí 500 4.000

Xique Xique 0 0

Total 3882 30571

Fonte:EBDA – 2010, elaboração própria.

4.4.4 Produto Interno Bruto – PIB

O PIB representa a soma de todos os bens e serviços finais produzidos em determinada

região.

Page 55: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

55

4.4.5 PIB x Território

A partir da análise da tabela abaixo, percebe-se que a participação do PIB em

Presidente Dutra no PIB do território de Irecê teve uma queda, passando de 4,6% em 1998

para 3% em 2008. Apesar do PIB do município nesse período ter tido um aumento de 79,4%

isso não se refletiu no território.

Tabela 11: PIB Municipal e Territorial a Preços Correntes (R$ milhões)

ANO Presidente Dutra

Território de Irecê

Participação em (%)

1998 23,6 509,07 4,6

2000 29,18 632,69 4,6

2002 20,86 632,69 3,3

2003 24,87 830,65 3,0

2004 27,44 896,07 3,1

2005 32,18 1.051,35 3,1

2006 33,65 1.086,56 3,1

2007 39,55 1.224,83 3,2

2008 42,34 1.423,37 3,0

Fonte: IBGE e SEI, elaboração própria

4.4.6 Estrutura do PIB

O PIB dos municípios que compõem o território de Irecê, seguindo a regra de todo

semiárido baiano, é composto em maior parte pelo setor de serviços, o que revela a fragilidade

da economia. Os setores produtivos agropecuária e industrial representam apenas, cerca de

um quinto do total (22,1%).

Tabela 12: Composição do Produto Interno Bruto (PIB), por Município, 2007 (R$ 1.000,00), por Município, 2007 (R$ 1.000,00).

Municípios

Composição do PIB por setores PIB

Per capita Agropecúaria Indústria Serviços Impostos

América Dourada

10.835 3.373 30.103 1.658 2.914

Barra do Mendes

6.556 3.307 28.801 1.212 2.842

Barro Alto 4.425 4.149 25.008 1.282 2.538

Page 56: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

56

Cafarnaum 8.077 6.165 32.913 1.497 2.680

Canarana 10.542 4.068 44.742 2.482 2.616

Central 3.960 2.537 32.964 1.313 2.443

Gentio do Ouro

4.636 7.421 18.904 789 2.372

Ibipeba 4.913 2.540 31.453 2.749 2.776

Ibititá 8.874 5.694 35.724 2.011 2.810

Ipupiara 1.740 2.540 20.950 1.437 2.986

Irecê 11.062 28.586 243.248 32.597 5.034

Itaguaçu da Bahia

5.336 3.311 20.873 811 2.418

João Dourado

16.905 6.411 44.543 2.947 3.399

Jussara 4.430 3.568 25.690 11.130 2.347

Lapão 27.186 8.004 50.237 2.879 3.455

Mulungu do Morro

4.603 3.142 24.333 1.195 2.419

Presidente Dutra

7.400 3.933 26.807 1341 2.856

São Gabriel 6.469 4.801 37.025 1.873 2.717

Uibaí 5.208 3.379 26.414 1.235 2.641

Xique-Xique 15.509 11.679 93.371 47.024 2.741

Total 168.666 118.608 894.103 119.462 2.850

% 13,0 9,1 68,7 9,2 -

Fonte: IBGE. www.ibge.gov.br – cidades@ apud PTDRS - 2010, elaboração própria.

Abaixo segue o gráfico com a elevação do PIB de Presidente Dutra dos anos que vão

de 1998 a 2008, sendo uma evolução total de 79,4 %.

Page 57: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

57

Gráfico 4: PIB de Presidente Dutra - BA (em milhões)

Fonte: IBGE e SEI, elaboração própria

Na tabela abaixo observa-se que relativamente aos municípios selecionados no

território de Irecê, o PIB de Presidente Dutra em 2008 só era inferior ao de Barra do Mendes.

Em relação ao crescimento do PIB entre os anos de 2003 e 2008, Presidente Dutra registrou

um aumento de 79,4 % ficando inferior somente ao de Itaguaçu da Bahia que foi de 110%, os

demais municípios apresentaram uma taxa de crescimento inferior, sendo Barra do Mendes

com 60%, Barro Alto com 44%, Jussara com 66%, Mulungu 55% e Uibaí 56%.

Tabela 13: Produto Interno Bruto a Preços Correntes Por Regiões Econômicas e Municípios, Bahia - 2003 - 2008

Estado,

Regiões

Econômicas

e Municípios

(R$ milhões)

2003 2004 2005 2006 2007 2008

BAHIA 68.146,92 79.083,23 90.919,33 96.520,70 109.651,84 121.508,47

Irecê 830,65 980,76 1.051,35 1.071,74 1.224,83 1.423,37

América

Dourada

30,66 38,55 41,20 40,16 47,28 64,86

Barra do

Mendes

27,54 33,06 32,58 36,09 40,03 44,27

Barro Alto 24,43 26,82 28,55 28,41 34,07 35,28

Cafarnaum 30,98 33,88 41,18 36,59 46,65 70,72

Canarana 49,95 50,87 51,81 54,87 64,01 69,12

Page 58: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

58

Central 27,35 38,35 36,06 37,61 42,36 47,66

Gentio do

Ouro

17,53 18,78 21,26 23,47 26,88 29,81

Ibipeba 29,97 39,51 40,62 40,66 46,58 50,57

Ibititá 36,08 48,22 45,49 45,46 52,38 54,35

Irecê 215,81 242,91 277,42 292,15 315,57 362,01

Itaguaçu da

Bahia

17,75 20,98 23,99 27,27 30,39 37,04

João

Dourado

45,92 57,27 57,35 56,70 70,88 89,39

Jussara 22,98 31,63 33,13 32,40 34,86 38,26

Lapão 62,48 73,89 75,12 70,53 88,36 93,47

Mulungu do

Morro

26,38 29,63 32,96 26,64 33,30 40,94

Presidente

Dutra

24,87 37,08 32,18 33,57 39,55 42,34

São Gabriel 29,63 37,99 42,44 42,74 50,22 67,06

Uibaí 23,81 31,78 32,48 32,44 36,25 37,32

Xique- Xique 86,55 89,56 105,54 113,99 125,22 148,91

Fonte: IBGE, elaboração própria.

4.4.7 Índice de Desenvolvimento Econômico e Social – IDE e IDS

4.4.8 O desenvolvimento econômico e social frente ao contexto do território

A análise da situação do bem estar econômico e social do município e do território em

estudo se valeu dos seguintes indicadores: Índice de Desenvolvimento Econômico (IDE) e

Social (IDS) dos municípios e territórios baianos, elaborado pela SEI. A leitura e análise dos

indicadores selecionados serão precedidas por uma breve apresentação conceitual da

composição dos mesmos.

O índice de Desenvolvimento Econômico (IDE) é definido como resultante dos níveis

de infraestrutura e qualificação e mão de obra existente e da renda gerada localmente. Assim,

Page 59: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

59

na construção do IDE estão incluídos os seguintes índices:

INF – Índice de Infraestrutura – envolve um conjunto informações quantitativas sobre

a infraestrutura do município (consumo de energia elétrica, terminais telefônicos em serviços,

quantidades de estabelecimentos bancários, comerciais e de serviços).

IQM – Índice de Qualificação de Mão de Obra – considera o nível de escolaridade dos

trabalhadores ocupados no setor formal.

IPM – Índice do Produto Municipal – contabiliza o nível aproximado de geração de

renda dos municípios em todos os setores de atividade econômica (SEI, 2011).

Segundo este método, ou municípios são classificados em ordem decrescente em cada

índice, obtido através da média geométrica dos escores padronizados de cada um deles.

Percebe-se que o IDE de Presidente Dutra começa a se elevar em 2002, depois de

quedas consecutivas nos anos 1998 e 2000, enquanto que com o índice do território ocorre

justamente o contrário. Fecha-se o ano de 2006 com o IDE municipal de 4990,73, superir ao

regional de 4971,98.

Percebe-se que o período que vai de 1998 a 2002 o IDE municipal sofre seguidas

quedas, subindo consecutivamente nos anos que seguem, período que corresponde com a

consolidação da pinha irrigada no município de Presidente Dutra.

Gráfico 5: Evolução do IDE de Presidente Dutra no período 1998 - 2006

Fonte: SEI. 1998 – 2006, elaboração própria.

O IDE regional sofre uma leve queda de 1998 para 2000, subindo em 2002 e

posteriormente sofre consecutivas quedas, fato que revela a fragilidade econômica que o

Page 60: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

60

território passa nesse período de crise do feijão. É importante frisar que em todos esses

momentos o IDE de Presidente Dutra permanece acima do IDE territorial.

Gráfico 6: Evolução do IDE do Território de Irecê no período 1998 - 2006

Fonte: SEI. 1998 – 2006, elaboração própria.

O índice de Desenvolvimento Social – IDS tem como pressuposto o acesso da

população aos serviços de saúde, educação, água tratada e energia elétrica. Encerra também a

ideia de que os chefes de família recebem de algum modo, uma remuneração mensal.

Para exprimir este conceito o IDS é composto dos seguintes índices:

INS – Índice de Nível de Saúde – construído a partir de variáveis de notificação e

óbitos por sinais e afecções mal definidas (este último entendido como indicativo de

deficiência do atendimento médico). Pressupõe-se que se a população estiver bem assistida

nas áreas de saúde e saneamento, os níveis de ocorrência das doenças redutíveis por

imunização e saneamento básico tendem a ser baixos.

Dada a impossibilidade de mensurar a qualidade de serviços de saúde para os

municípios, procura-se aferir o nível de atendimento a população agregando indicadores de

referentes à oferta de serviços como número de profissionais de saúde, estabelecimentos de

saúde, vacinações e leitos.

INE – Índice de Nível de Educação - construído a partir de medidas quantitativas em

serviços de educação, expresso pelo número de matrículas do ensino pré-escolar ao nível

superior.

ISB – Índice de Serviços Básicos – expresso por variáveis de consumo de água tratada

Page 61: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

61

e de energia elétrica.

IRMCH – Índice de Renda Média dos Chefes de Família – mensura o rendimento

médio dos chefes de família.

Gráfico 7: Evolução do IDS de Presidente Dutra no período 1998 - 2006

Fonte: SEI. 1998 – 2006, elaboração própria.

Gráfico 8: Evolução do IDS do Território de Irecê no período 1998 - 2006

Fonte: SEI. 1998 – 2006, elaboração própria.

Como pode ser observado pelos gráficos acima, o município de Presidente Dutra entra

o ano 2000 com uma queda do IDS comparado ao anterior de 1998, tendo outro acréscimo em

2002 e um decréscimo em 2004, em 2006 dá uma leve subida, fechando o ano no valor de

5017,34. O IDE regional também inicia o ano de 2000 com uma queda em relação a 1998,

tendo acréscimos consecutivos nos anos 2002, 2004 e 2006, no entanto, mesmo assim fecha o

Page 62: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

62

ano de 2004 no valor de 4998,01, mantendo-se abaixo do verificado no município de

Presidente Dutra.

Percebe-se nesse período que o IDS não apresentou crescimento constante como o

IDE. Fato que confirma que crescimento econômico não trás necessariamente um

desenvolvimento social. No caso observado, este acontece, mas com fragilidades que se

refletem em quedas consecutivas.

4.4.9 O desenvolvimento econômico e social frente aos municípios selecionados do território

Percebe-se a partir da análise das tabelas abaixo que no ano 2000 o IDS e IDE de

Presidente Dutra era respectivamente 4.01033 e 4.988,50, ocupando as respectivas posições

141° e 234°na classificação estadual, ficando em posição desfavorável no IDS somente da

Barra do Mendes que ocupou a posição 71°. Em relação ao IDE, ocupou a posição 234°,

ficando abaixo dos municípios de Barra do Mendes e Lapão com respectivas posições 170° e

167°.

Tabela 14: Índice de Desenvolvimento Social e Econômico

Municípios IDS Classif. IDE Classif.

América Dourada

4.979,52 236º 4.988,73 216º

Barra do Mendes

5.045,25 71º 4.989,65 170º

Barro Alto 4.985,73 207º 4.987,61 330º

Cafarnaum 4.988,28 198º 4.988,37 246º

Canarana 4.997,41 169º 4.989,20 195º

Central 5.028,26 92º 4.989,02 205º

Gentio do Ouro 4.977,56 242º 4.987,93 293º

Ibipeba 5.008,10 144º 4.989,80 166º

Ibititá 5.000,62 162º 4.990,42 139º

Ipupiara s/d s/d s/d s/d

Irecê 5.129,68 18º 5.005,52 34º

Itaguaçu da Bahia

4.950,74 349º 4.987,01 378º

João Dourado 5.030,38 87º 4.989,41 182º

Jussara 4.984,10 215º 4.987,83 302º

Lapão 4.979,28 237º 4.989,79 167º

Mulungu do 4.940,01 373º 4.987,24 362º

Page 63: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

63

Morro

Presidente Dutra

5.010,33 141º 4.988,50 234º

São Gabriel 4.973,43 260º 4.988,65 219º

Uibaí 4.974,18 256º 4.988,20 266º

Xique-Xique 5.005,91 150º 4.995,51 68º

Irecê 4.974,02 11º 4.955,00 14º

Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 2000 apud PTDRS, 2010.

Tabela 15: Índice de Desenvolvimento Social e Econômico

Municípios IDS Classif. IDE Classif.

America Dourada 4986,36 224º 4967,14 342º

Barra do Mendes 5.020,98 111º 4.993,37 171 º

Barro Alto 4.983,65 236º 4.974,31 293º

Cafarnaum 4972,79 283º 4980,76 259º

Canarana 4987,28 220º 4984,70 230º

Central 4996,15 185º 4989,56 189º

Gentio do Ouro 4971,30 291º 4984,45 233º

Ibipeba 5024,78 105º 4999,77 134º

Ibititá 4992,69 196º 4980,25 264º

Irecê 5115,26 17º 5047,59 41º

Itaguaçu da Bahia 5078.41 37º 4971.49 317º

João Dourado 5038,04 82º 4994,11 166º

Jussara 4979.26 251º 4959.09 384º

Lapão 4984.58 234º 4972.37 305º

Mulungu do

Morro

4912.01 304º 4956.23 398º

São Gabriel 4959,61 334º 4975,79 286º

Presidente Dutra 5017.34 119 º 4990.74 182 º

Uibaí 5000.33 170º 4995.43 155º

Xique- Xique 5020,26 113º 4992,80 173º

Fonte: SEI - 2006, elaboração própria.

Page 64: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

64

4.4.10 Índice de Gini

O índice de Gini é um coeficiente utilizado para calcular a desigualdade da

distribuição de renda. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais

ricos. Variando de 0 a 1, onde o zero corresponde a completa igualdade de renda e 1 que

corresponde à completa desigualdade.

Na tabela abaixo está a evolução do índice de Gini do município de Presidente Dutra e

do estado da Bahia dos anos 1970 até 2006. Percebe-se que o índice sempre se manteve

inferior ao do estado e que sua menor numeração corresponde ao ano de 2006, periodo em

que a fruticultura irrigada já estava estabelecida no município.

Tabela 16: Índice de Gini

Local

Índice de Gini/ Ano

1970 1975 1980 1985 1996 2006

BAHIA 0,795 0,805 0,821 0,835 0,829 0,838

Presidente Dutra

0,586 0,600 0,644 0,588 0,613 0,579

Fonte: IBGE, Censos Agropecuários

4.5 A exploração da pinha e desenvolvimento local: potencialidades, limites e desafios

4.5.1 Inovações

O desenvolvimento local esta associado, normalmente, a iniciativas inovadoras e

mobilizadoras da coletividade, articulando as potencialidades locais nas condições dadas pelo

contexto externo, por isso a importância de se observar as inovações que aconteceram não

somente após a crise do feijão, mas também a sua superação por parte do município de

Presidente Dutra.

A irrigação da pinha no município constitui uma importante iniciativa inovadora, pois,

embora esta prática já fosse desenvolvida em outros estados como São Paulo e Pernambuco,

consistiu em uma novidade no município.

Como atividade secundária e que também se enquadra a atividades inovadoras pode-se

Page 65: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

65

citar a criação de ovinos, caprinos e aves em meio á de plantação da pinha, já que estes não

pastejam as folhas dessa frutífera, consistindo em uma integração lavoura pecuária, a qual

reduz os custos com as capinas da área em que estes pastejam e ainda contribuem com a

fertilização da área pelo dejeto dos mesmos.

Figura 8: Ovelhas pastando entre a plantação de pinha

Fonte: Acervo pessoal de Ediçon Machado

Destaca-se ainda como iniciativas empreendedora e em prol da diversificação

produtiva a introdução de outras espécies de anonáceas no município. È o caso da graviola e

da atemóia29, que estão em fase de iniciação no município e já têm boa aceitação do mercado.

4.5.2 Produção Integrada de Anonáceas (PIA)

Em fevereiro de 2011, ocorreu no município de Presidente Dutra uma reunião

organizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA em parceria com

o SEBRAE, Agência Estadual de Defesa Agropecuária (ADAB) e produtores locais sobre a

29 Hibrido resultante do cruzamento da pinha com a cherimóia.

Page 66: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

66

possível implantação da Produção Integrada de Anonácea (pinha, graviola e atemóia) no

município.

Os palestrantes apresentaram o conceito da produção integrada, a qual é uma

tendência global na comercialização de frutas. Esta forma de produção garante e certifica aos

consumidores que estes estão usufruindo um produto de qualidade, pois para se enquadrarem

a este programa os produtores terão que atender a diversas exigências do mercado. Essa

certificação ocorre a partir de um selo de qualidade, onde os agricultores poderão identificar

sua produção, sendo esta supervisionada pela EMBRAPA.

A obtenção deste selo é uma etapa importante a ser conquistada pelos produtores, pois

além de ser uma exigência futura nos mercados nacionais, já é prioridade para a importação

nos mercados internacionais, ou seja, só a partir da obtenção deste selo eles poderão exportar

a pinha para outros países e assegurar a comercialização dos mesmos no mercado nacional. O

que acarretaria em um aumento da demanda e consequente aumento do preço da fruta.

Uma dificuldade ainda presente para os produtores de anonáceas se cadastrarem nesse

projeto é a inexistência de agrotóxicos específicos para estas frutas, fato que inviabiliza a

obtenção deste selo, obstáculo este que a EMBRAPA juntos com os produtores rurais

pretendem ultrapassar nesses próximos 4 anos.

A Produção Integrada respeita as condições climáticas, econômicas e ambientais do

local onde é implantada, busca minimizar o uso de insumos e agrotóxicos, capacitar os

trabalhadores do campo e zelar por suas condições de higiene e segurança no trabalho, como é

o caso da implantação de banheiros (algo tão necessário e negligenciado no ambiente de

trabalho rural) nas propriedades rurais, utilização de equipamento de proteção individual

(EPI), entre outras exigências para que o trabalho no campo seja feito com qualidade e

segurança.

Pode-se apontar também como objetivo da PIA a eliminação dos atravessadores da

pinha, pois a existência dos mesmos trata-se de um atraso econômico para sociedade, visto

que estes ficam com boa parte do lucro, o qual deveria ser repassados aos produtores e

trabalhadores rurais.

O PIA destina-se a agricultores, com área irrigada a partir 2 hectares. Também é

fundamental a existência de uma cooperativa ou associação, que deverá será criada à partir

dos interessados em adentrar nesse projeto, o qual é de livre e espontânea vontade atualmente,

mas a perspectiva é que no futuro os mercados só aceitem uma produção a qual tenha o selo

Page 67: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

67

de origem.

Os trabalhadores rurais deverão ser capacitados, o que irá gerar um encadeamento

positivo, na medida em que trabalhando com dignidade (visto que a carga horária será a

permitida e terão EPI, tendo o conforto mínimo no trabalho o qual hoje é inexistente) e com

os direitos trabalhistas garantidos; sua realidade familiar será afetada, seus filhos terão

oportunidades diferentes das que têm hoje e poderão ter um futuro diferente também. O

proprietário rural só se enquadrará sua produção a esse projeto se respeitar todas as exigências

sobre os direitos dos trabalhadores.

4.5.3 A ação pública

Os produtores destacam que não há um envolvimento efetivo da prefeitura local, ou de

outra esfera do Governo neste processo. Sendo que a prefeitura oferece somente algumas

palestras, as quais veem diminuindo a sua realização a cada ano. Referente ao início da

atividade os produtores I. C 01 e o I. C 04 destacam respectivamente que:

No inicio a gente teve apoio do SEBRAE, o SEBRAE foi o mais forte, EBDA, ADAB, e no inicio banco não queria saber, Banco do Nordeste, Banco do Brasil um jogava pra outro, somente a partir do quarto ano que eles viram que era viável ai hoje tem linha de credito específica para a implantação e manutenção dessa atividade30.

A prefeitura de uma forma geral participa promovendo encontros e seminários. Na gestão anterior teve maior dedicação nesse quesito, a atual faz coisas pequenas e com divulgação em cima da hora31.

4.6 Desafios a Serem Superados

Como os principais problemas os produtores apontaram a mão de obra desqualificada

para tal produção, o receio da falta da água subterrânea (visto que muitos poços já secaram) e

a parca associação32 entre os mesmos e em parte a existência do atravessador.

30 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012. 31 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012. 32 Foi constatado através das entrevistas, a falta de confiança entre eles no sentido de fortalecer uma cooperativa ou associação, pois as mesmas existem mas não estão atuando.

Page 68: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

68

4.6.1 Atravessador

Um grande problema enfrentado pelos agricultores está ligado à comercialização dos

produtos, principalmente pela intervenção dos atravessadores controlando preços e condições de

pagamento. Mais que uma perda econômica para os agricultores essa submissão frente aos

atravessadores representa uma fragilidade política e social, onde a população é carente de

informação, incentivo e consequentemente de organização com os demais membros sociais,

de forma que não encontram alternativas, a não ser a submissão.

Outra dificuldade existente em Presidente Dutra é a falta de confiança dos agricultores

em Associações e Cooperativas, inúmeras nascem e somem sem deixar rastro, obrigando os

produtores a venderem sua produção individualmente a atravessadores. Outro desafio

enfrentado é o baixo poder aquisitivo da população local, que não favorece uma demanda

sustentável para os produtos locais.

Conforme abordado nas entrevistas, somente quando os produtores perceberem a real

importância da união é que estes conseguirão dar esse passo econômico importante, de formar

uma instituição forte e participativa, e com isso vender a produção de pinha a um preço mais

favorável ao produtor. Para isso precisam conhecer as práticas necessárias para se vender bem

a produção, sendo que as principais são: a) conhecer o mercado, b) conhecer as oscilações

reais do preço e c) ter compradores certos. Os produtores precisam dá esse passo à frente e só

conseguirão isso com união, conhecimento e confiança.

Percebe-se que há um consenso da parte dos produtores na necessidade de eliminar o

atravessador, mas devido a existência de uma falta de confiança generalizada entre os

mesmos, estes acreditam que sem a existência do atravessador não existiria o comércio da

pinha no município, como pode ser constatada na fala do produtor I. C02: “O atravessador é

uma praga que no momento tem que existir, porque sem ele a gente não teria onde colocar

nossa mercadoria, justamente porque falta união entre produtores, falta uma cooperativa que

funcione33”.

33 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012.

Page 69: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

69

4.6.2 Capital Social

Outro fator preocupante no município e região é a pequena tradição de mobilização

popular, até o inicio da década de 1990 só existia ativamente na região a Associação

Comunitária de Palmeiras em Central e a Associação Beneficente do Caldeirão (ABC) em

Uibaí. De acordo com Wilkinson (2008) houve outras experiências de associativismo em toda

a região pelo POLONORDESTE, mas foram efêmeras. Atualmente no município de

Presidente Dutra existe muitas associações e cooperativas (mas no momento todas se

encontram paradas), e, portanto sua participação ainda não é significativa devido à resistência

cultural do sertanejo em se unir, em busca de alternativas melhores, ou seja, o nível de

confiança existente no município ainda é pequeno.

Sobre a ineficiência das cooperativas e associações vigente o produtor I. C 01 faz a

seguinte afirmação: “Isso ocorre devido à questão cultural, eles querem que a direção da

cooperativa resolva o problema, ou seja, de assistência técnica, negocia e da o dinheiro em

mãos, não sabem que a cooperativa é um conjunto34”.

Para Buarque (2001) o capital social é fator indispensável para que haja o

desenvolvimento local, pois somente com ele a sociedade poderia identificar as

potencialidades do município e junto com a governança local realizar projetos que realmente

viabilizem o desenvolvimento da localidade, através da identificação das potencialidades

locais e da utilização da mesma no auxilio a sociedade, ou seja, o capital social pode

promover e impulsionar o desenvolvimento local, através de atividades coletivas que visem

um objetivo em comum, maximizando o uso dos recursos individuais. Ainda de acordo com

Buarque (2001), capital social é a capacidade de organização de uma dada sociedade, ou seja,

a capacidade das pessoas de estabeleceram relações de confiança, de cooperação e associação

em torno de interesses em comuns.

Outro aspecto a destacar neste campo é a ausência de um modelo de gestão integrada

de políticas públicas que favoreça o desenvolvimento local, como dito anteriormente, faltam

incentivos municipal, estadual e federal. Fato controverso em decorrência da importância

econômica que esta atividade tem para o município e território, gerando emprego e renda para

a população.

34 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012.

Page 70: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

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4.6.3 Escassez de água subterrânea

Quanto à perspectiva de futuro da produção de pinha irrigada, os produtores I. C 05 e

I. C 07 apontam á possível escassez da água subterrânea como fator responsável para uma

possível crise da pinha, descartando, portanto uma crise de superprodução, como pode ser

observado nas citações abaixo:

A tendência da cultura da pinha é só crescer, pois não falta pra quem vender, pra nós aqui, o que tá deixando a gente preocupado é a falta de água, porque como é uma cultura irrigada e varias poços estão secando nossa preocupação é essa, porque doenças quase não tem e pragas são poucas e já controlamos. Então o que tá me deixando preocupado é a falta de água35.

A perspectiva é triste, porque o solo nosso aqui ta esgotado, ás águas do solo, hoje eu creio que sessenta por cento da água já esgotou, então eu creio que daqui dois ou três anos acaba a pinha irrigada porque acaba a água, Deus ajude que eu esteja errado, mas infelizmente a realidade é essa36.

Como se pode observar acima, pela fala dos produtores I. C 05 I. C 07, a implantação

dessa monocultura irrigada está secando os lençóis freáticos e comprometendo o futuro do

desenvolvimento do município, visto que a escassez da água subterrânea condenaria a falência

desse modelo de atividade econômica implantado no município.

Nota-se também a ausência de políticas públicas e privadas, assim como ações efetivas

voltadas para a gestão das águas subterrâneas, sobretudo quanto ao seu condicionamento,

monitoramento e controle, a fim de evitar conflitos e desperdícios em seu uso. O que

impossibilita também, uma definição exata da real situação da água subterrânea da região. A

existência de um estudo sobre os lençóis freáticos ajudaria na conscientização dos produtores

sobre a importância de preservar e racionalizar a água subterrânea.

35 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012. 36 Dados de entrevista. Pesquisa de campo realizada no município, Presidente Dutra, janeiro/2012.

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71

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo analisar o surgimento da produção da fruticultura

irrigada no município de Presidente Dutra, no estado da Bahia, com base nas noções de

desenvolvimento local. Buscou-se entender até que ponto a produção da pinha irrigada em

Presidente Dutra, a partir da década de 1990, contribui para o desenvolvimento no referido

município. O estudo levou às seguintes conclusões.

1. A produção da fruticultura irrigada, que se iniciou em Presidente Dutra e conseguiu atrair

produtores de municípios vizinhos, surgiu da necessidade resultante das dificuldades pelas

quais os produtores do território vinham passando em decorrência da crise do feijão. A

opção pela fruticultura irrigada, refere-se ao fato do fruto já gerar lucro quando colhido

sem nenhum cuidado específico. Esse fato possibilitou a intensificação e difusão da

produção, gerando renda, e dessa forma melhorando a qualidade de vida dos agricultores;

2. A respeito de incentivos para a produção da fruticultura no município ele se divide em três

esferas: a) Os produtores destacam que não há um envolvimento efetivo da prefeitura

local, ou de outra esfera do Governo neste processo, sendo que a participação da

prefeitura resume-se oferta de algumas palestras, as quais veem diminuindo a sua

realização a cada ano; b) Referente ao início da atividade os produtores indicam a atuação

do SEBRAE, EBDA e ADAB no sentido de oferecer cursos e palestras, no entanto, os

produtores afirmam que atualmente tais órgãos buscam mais informações junto aos

produtores do que oferecem aos mesmos; c) Sobre a atuação dos agentes financeiros

(Banco do Brasil e Banco do Nordeste), os produtores afirmam que atualmente existem

linhas de crédito específicas para a implantação e manutenção da pinha irrigada, no

entanto no início da produção os bancos mostravam-se resistentes a abrir crédito para tal

atividade.

3. Ficou constatado que a pinha irrigada corresponde a cerca de setenta a cem por cento da

renda total dos produtores e das suas respectivas famílias, o que respalda sua importância

econômica para o município.

4. A fruticultura irrigada difere da cultura do feijão de sequeiro em dois aspectos: 1) a

monocultura do feijão foi fortemente incentivada pelo governo federal, enquanto a cultura

da pinha surgiu de forma autônoma pelos agricultores locais e teve um incentivo

financeiro somente após sua consolidação, ou seja, o primeiro foi um processo imposto de

cima pra baixo, ao contrário do segundo. 2) O feijão era plantado em regime de sequeiro,

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enquanto a pinha utiliza a irrigação através de poços artesianos;

5. Há uma dificuldade dos produtores em aumentar a sua renda, devido o mercado regional

ainda ser dominado pelos atravessadores. Apesar disto, os produtores acreditam, que, no

contexto atual, a extinção dos atravessadores impossibilitaria o comércio da pinha. Fato

que ocorre devido à parca socialização dos produtores e a ausência de políticas públicas

de incentivo a geração de capital social no município;

6. A organização popular constitui em uma fragilidade no município, devido ao baixo nível

de confiança da população e consequentemente um baixo nível de mobilização popular.

Sendo importante registrar que esta precisa ser mais atuante, para assim ter resultados

mais eficientes;

7. Ao que se refere a necessidade da dinamização econômica para assegurar a continuidade

do desenvolvimento local, sabe-se que essa dinamização econômica ocorre no município

de maneira singela, pois somente alguns produtores investem em atividades secundárias,

como é o caso da criação de caprinos e aves aliada a produção de pinha. Alguns

produtores ainda possuem outras atividades econômicas, no entanto tais atividades são

exercidas fora da propriedade rural, é o caso de empregos públicos e privados.

8. A produção da fruticultura irrigada no município se encaixa nas propostas de

desenvolvimento local defendidas por Buarque (2001), sendo que esta é uma característica

endógena do município e, portanto uma identidade do mesmo, pois a referida cultura

mesmo sendo implantada em outros municípios da região como por exemplo em Central e

Uibaí, não conseguem atingir o mesmo nível de produtividade que ocorre em Presidente

Dutra e consequentemente não dinamiza na mesma proporção a economia das mesmas.

9. A partir dos conceitos de desenvolvimento local, discutidos neste trabalho, pode-se

afirmar que a produção da fruticultura irrigada em Presidente Dutra é o principal fator

responsável pelo desenvolvimento local que ocorre no município. De fato, conforme os

relatos, dados e analises realizadas o desenvolvimento da cultura da pinha se baseou na

exploração das potencialidades do município, levando a processo de mudança social no

território, com geração de emprego, aumento da renda, potencialização do comércio e

investimentos em educação, lazer e tecnologia na propriedade rural.

A especialização que emergiu com base na fruticultura irrigada, em especial a pinha,

cultura endógena do município, levou essa produção a melhorar a qualidade técnica em todas

as etapas de produção e colheita da pinha, em molde muitos diferentes do passado. Gerando

um aumento da produção e uma maior rentabilidade da mesma.

Page 73: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

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Essa estratégia produtiva proporcionou ao município de Presidente Dutra um maior

dinamismo econômico, com aumento das oportunidades sociais e da competitividade da

economia local. Em seu conjunto a fruticultura irrigada proporcionou a criação de empregos,

ocupação e melhoria da renda, não apenas para os produtores, mas para toda a população que

participa direta ou indiretamente na produção, diminuindo consequentemente a pobreza no

município e contribuindo para a formação de capital social.

É interessante ressaltar que o desenvolvimento local ocorrido em Presidente Dutra foi

de certa forma espontâneo, caracterizado por iniciativas isoladas dos produtores rurais, fato

que ocorre devido a fragilidade do capital social existente no município. Mesmo assim tais

características não fogem do conceito dado por Buarque (2001) ao desenvolvimento local,

como pode ser observado pela citação seguinte “O desenvolvimento local depende da

capacidade dos atores e da sociedade locais se estruturarem e se mobilizarem, com base nas

suas potencialidades e sua matriz cultural, para definir e explorar suas prioridades e

especificidades”. (BUARQUE, 2001, pg. 17).

Verificou-se inclusive que o sucesso que foi alcançado até o presente tem contribuído

para elevar a autoestima dos produtores e sua confiança na produção da pinha irrigada. O

estudo constatou que a confiança entre os produtores ainda está em construção, uma vez que

as cooperativas existentes no município estão todas desativadas.

Entretanto, levando se em consideração a dinâmica atual do território, caracterizada

como pela pior seca dos últimos 30 anos, marcada pela seca dos lençóis subterrâneos, é

necessário ter cautela quanto ao futuro da produção da fruticultura irrigada no município de

Presidente Dutra.

O relativo sucesso alcançado por essa parceria até o presente, somado à esperança dos

produtores de que consigam avançar ainda mais na construção de um futuro melhor,

representa um potencial promissor de desenvolvimento para o município de Presidente Dutra.

Entretanto, é importante que os produtores fiquem atentos para aproveitar melhor as

oportunidades que surgirem, e para eventuais correções de rota que se façam necessárias.

Por fim, cabe ressaltar que este trabalhou utilizou como informantes-chaves somente

os produtores de pinha, por considerá-los os principais atores do desenvolvimento local

ocorrido no município, no entanto pretende-se dá continuidade a pesquisa, onde os demais

membros da comunidade serão ouvidos, como é o caso dos trabalhadores rurais assalariados,

Page 74: PINHA IRRIGADA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM  PRESIDENTE DUTRA - BA (2000-2010)

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dos comerciantes e políticos locais, com isso pretende-se fazer uma análise mais profunda

sobre o desenvolvimento local ocorrido em Presidente Dutra.

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7. ANEXOS

Anexo 1 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A ANÁLISE DA IMPLANTAÇÃO DA PINHA

IRRIGADA EM PRESIDENTE DUTRA- BA.

DADOS PESSOAIS

I. Nome:

II. Idade:

III. Tempo que trabalha com a pinha irrigada:

PERGUNTAS PARA TODOS OS ENTREVISTADOS

1. Em que constituía o trabalho dos agricultores de Presidente Dutra- BA antes da

implantação da pinha irrigada?

2. Quais fatores contribuíram para o surgimento da fruticultura irrigada em Presidente

Dutra- BA?

3. Por que você optou em trabalhar com a fruticultura irrigada? Você exerce outra

atividade econômica além dessa?

4. Quais as principais dificuldades internas e externas enfrentadas na produção da pinha

irrigada?

5. Quais as principais potencialidades dessa atividade econômica?

6. Houve algum tipo de patrocínio, financiamento ou parceria voltada para a implantação

da pinha irrigada? De quais órgãos? E qual a importância dessa colaboração?

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7. Em sua opinião, o que significa desenvolvimento? A implantação da pinha irrigada

tem sido uma boa alternativa de desenvolvimento para a cidade de Presidente Dutra?

8. Você considera o produtor rural como ator principal do desenvolvimento local

ocorrido em Presidente Dutra? Por quê?

9. Em sua opinião, qual a importância da geração de emprego e renda ocasionados pela

produção irrigada da pinha? Houve diminuição da pobreza?

10. As cooperativas em geral, discutem a importância de eliminar o atravessador. Em sua

opinião, por que as Cooperativas locais ainda não obtiveram êxito nesse quesito?

11. A que se deve a alta produção e produtividade de pinha em Presidente Dutra em

relação a outras cidades da região?

12. Qual o papel do governo local nesse processo de desenvolvimento econômico?

13. Você sabe qual o destino final do seu produto?

14. Qual a sua perspectiva de futuro da produção de pinha irrigada em Presidente Dutra?

PERGUNTAS APENAS PARA OS PARTICIPANTES DE ALGUMA

COOPERATIVA

1. Da qual cooperativa você participa? O que levou você a juntar-se a ela?

2. Qual objetivo ou objetivos do trabalho da mesma?

3. Você está satisfeito em participar dela? Qual principal razão o leva a continuar

participando?

4. Quais os pontos fortes e os fracos da cooperativa em questão?

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5. Em sua opinião, o trabalho desta cooperativa tem contribuído para o

desenvolvimento econômico de Presidente Dutra- BA?

6. Você considera que existe resistência dos produtores rurais em se juntarem a

cooperativas?

7. A cooperativa mantém alguma parceria com órgãos de incentivo a agricultura?

Com quais órgãos? E qual o efeito dessa parceria?