pesquisa: valores e estrutura social no brasil · valores e estrutura social no brasil ... tende a...

83
Pesquisa: Valores e Estrutura Social no Brasil Felix Lopez Fabio de Sá e Silva

Upload: lynguyet

Post on 25-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Pesquisa: Valores e Estrutura Social no Brasil

Felix Lopez

Fabio de Sá e Silva

Contexto e Objetivos da Pesquisa

• Consciência, no governo, sobre a ocorrência de transformações sociais e econômicas de larga escala no país da última década;

– De 2001 a 2011, a renda dos 10% mais pobres cresceu 550% mais que a dos 10% mais ricos (IPEA, 2012)

• Interesse em verificar como essas transformações repercutem no plano das representações que os/as brasileiros/as fazem de si próprios, especialmente em temas de direitos e cidadania;

Contexto e Objetivos da Pesquisa

“Tivemos muito sucesso, no governo Lula, com as políticas voltadas para os excluídos. Mas nós fizemos surgir a nova classe média. Temos, também, a classe média tradicional. Precisamos falar para todos, para toda a sociedade [e] temos que fazer este diálogo falando de valores. Valores referentes à cultura, aos diretos humanos, ao meio ambiente, os valores sociais [Alguns têm dito, a respeito deste governo], ‘eles promoveram essa nova classe média, que os derrotará mais adiante porque é uma classe média conservadora, como a classe média tradicional’ [Mas] queremos falar a essa nova classe média e também à tradicional, e faremos isso falando de valores caros à sociedade”.

Presidenta Dilma Rousseff

Contexto e Objetivos da Pesquisa

• Especulação acerca de possível singularidade dos setores emergentes, seja na expectativa de que possam funcionar como catalizadores de mudanças nas preferências da sociedade brasileira, ajudando a “modernizá-la, seja sob o temor de que possam carregar consigo valores mais arcaicos, atuando na “conservadorização” do país;

• Razões para suspeitar que a redução de desigualdade de renda e a mobilidade econômica ascendente signifiquem um processo de maior homogeneização dos valores da sociedade;

Contexto e Objetivos da Pesquisa

• Acréscimo de renda não implica adesão automática a preferências de setores mais elevados ou homologia da discrepância de preferências entre estes grupos;

• Posições na estrutura ocupacional e heranças familiares geram distintos repertórios de ação e visões de mundo que, uma vez inscritos nos indivíduos, não são modificáveis facilmente em função de variações de curto ou médio prazo da renda;

• Formação e a distribuição de preferências na estrutura social têm caráter relacional. Em situações de mobilidade social, o rearranjo das posições pode ativar processo de diferenciação (“distinção”) dos estratos superiores em relação aos inferiores e pode se converter até mesmo em antagonismo; – Em palestra ao Fórum de Direitos e Cidadania, Kehl discutiu a possibilidade

de que a ascensão de grupos gere “ressentimento” por parte daqueles que sentem que recursos e oportunidades lhes seria de “pertencimento”;

Método

• Pesquisa de opinião no âmbito do Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) do Ipea;

• Temas salientes na agenda do Fórum de Direitos e Cidadania, instância de coordenação governamental que vigorou no início do governo Dilma, em especial: – Democracia e participação política;

– Relações de gênero;

– Relações raciais;

Método

• Construção compartilhada do questionário entre quadros do Ipea e do Fórum; – Base em pesquisas congêneres, com adequações para o atendimento a

inquietações específicas;

• Aplicação segundo padrões do SIPS/Ipea: – Amostra: 3.772 domicílios; – Amostragem probabilística de domicílios, obtida em três estágios de seleção:

municípios; setores censitários; unidades domiciliares; – Margem de erro de 5% e um nível de confiança de 95%, para Brasil e Grandes

Regiões, não estando garantida representatividade da expansão para os estados ou desagregações geográficas menores;

– Pré-teste qualitativo de questões;

• Análise utilizando modelos multivariados (mensuração do efeito de variáveis independentes, com controle por outras variáveis tradicionais neste tipo de estudo);

• Suplementação por análises bivariadas para verificação mais concreta dos efeitos;

Método

• Como em toda pesquisa de opinião, esta tende a captar o “senso comum” vigente entre os respondentes, não necessariamente a forma pela qual estes atores se engajam em práticas sociais;

• Têm relevância heurística, no entanto, as variações nas respostas entre as perguntas e entre as variáveis que, para cada e para o conjunto delas apresentam efeito explicativo;

Principais Resultados

Bloco I - Juventude, Igualdade Racial e Gênero

Igualdade de Gênero

Gráfico 41 – Proporção da opinião dos entrevistados quanto a temas agregados de igualdade de gênero (em %), onde +2 representa

posições mais conservadoras e -2 mais igualitárias

A parcela da população que se associa a uma relação mais progressista é majoritária (62%, i.e., soma de -1 e -2). Entretanto, persiste fração intermédia ainda expressiva de aproximadamente 1/3 da população que se revela adepta de posições menos

igualitárias. Parte disso decorre das respostas oferecidas a questão sobre o direito ao aborto, que encontra muitos opositores.

Gráfico 42 – Proporção da opinião dos entrevistados sobre igualdade de gênero, excluindo questão sobre aborto, (em %)

60% dos entrevistados dizem discordar do direito das mulheres interromperem a gravidez. Quando os escores relativos à questão do aborto são excluídos da agregação, o valor da adesão máxima à igualdade de gênero salta de 17% para 50% e a

fatia “progressista” vai a 80%.

Gráfico 43 – Proporção da opinião dos entrevistados sobre igualdade de gênero, segundo faixas de escolaridade (em %)

O gráfico ilustra a forte variação no nível -2 (mais igualitário), comparando-se entrevistados analfabetos (4%) ou com ensino fundamental (11%) com os de nível superior (29%). A escolaridade emerge como variável explicativa fundamental das

diferenças de percepção e valores dos brasileiros.

Gráfico 44 – Proporção da opinião dos entrevistados sobre igualdade de gênero, segundo sexo (em %)

As mulheres têm posições igualitárias, mas as diferenças não são substantivamente relevantes, ainda que estatisticamente significativas. A diferença máxima é 7%, no ponto médio da escala.

Gráfico 45 – Proporção da opinião dos entrevistados sobre igualdade de gênero, segundo sexo e excluindo da agregação a questão sobre

direito ao aborto (em %)

A diferença entre os sexos é um pouco maior quando a questão sobre aborto é excluída. (9%, em -2)

Gráfico 47 – Proporção da opinião dos entrevistados na questão sobre o homem ter a “última palavra” nas decisões de um casal (em %)

A maioria da população tem posição igualitária

Gráfico 48 – Proporção da opinião dos entrevistados na questão sobre o homem ter a “última palavra” nas decisões de um casal, segundo

faixas de escolaridade (em %)

Há associação da escolaridade com a variação nas respostas: maior escolaridade aumenta chances de discordância e, por conseguinte, maior a adesão a uma perspectiva de relação igualitária entre o homem e a mulher na relação a dois.

Gráfico 49 – Proporção da opinião dos entrevistados sobre o homem ter a “última palavra” nas decisões de um casal, segundo regiões (%)

Nordeste, Norte e Sul concordam mais que o Sudeste, do qual não se distingue o Centro-Oeste.

Gráfico 50 – Proporção da opinião dos entrevistados sobre o homem ter a “última palavra” nas decisões de um casal, segundo filiação

religiosa (em %)

Os evangélicos são mais propensos a concordar com a assertiva e, em sentido inverso, com menor taxa de adesão aos níveis de discordância em relação à questão formulada.

Gráfico 51 – Proporção da opinião dos entrevistados sobre o homem ter a “última palavra” nas decisões de um casal, segundo sexo (em %)

As mulheres são mais veementes em aderir à igualdade entre os sexos. A discordância máxima sobre a questão sobre de 26% entre homens para 41% entre as mulheres.

Gráfico 52 – Proporção da opinião dos entrevistados em relação a maior capacidade de liderança dos homens no trabalho em relação às

mulheres (%)

Assertiva que conta com forte discordância da população

Gráfico 53 – Proporção da opinião dos entrevistados em relação a maior capacidade de liderança dos homens no trabalho em relação às

mulheres, segundo faixas de escolaridade (em %)

Discordância que cresce de forma linear, de 69% a 86%, conforme amplia a escolaridade do entrevistado.

Gráfico 55 – Proporção da opinião dos entrevistados em relação a maior capacidade de liderança dos homens no trabalho em relação às

mulheres, segundo sexo (em %)

Variação de quase 10 pontos percentuais nas frequências de homens e mulheres, com a proporção de respostas discordantes sendo maior no sexo feminino.

Gráfico 56 – Proporção da opinião dos entrevistados em relação à mulher ter de tolerar violência em ambiente doméstico em nome da

união da família (em %)

Assertiva que conta com forte discordância da população

Gráfico 53 – Proporção da opinião dos entrevistados em relação à mulher ter de tolerar violência em ambiente doméstico em nome da

união da família, segundo faixas de escolaridade (em %)

Em que pese estarem quase todos os respondentes associados às alternativas de discordância, ela é mais intensa (discorda bastante) entre os mais escolarizados

Gráfico 53 – Proporção da opinião dos entrevistados em relação à mulher ter de tolerar violência em ambiente doméstico em nome da

união da família, segundo regiões (em %)

A região CO se mostrou mais progressista que o SE; as demais menos. A região S apresenta níveis de discordância máxima (“discordo muito”) bem inferiores, comparativamente

Gráfico 53 – Proporção da opinião dos entrevistados em relação à mulher ter de tolerar violência em ambiente doméstico em nome da

união da família, segundo sexo (em %)

Em que pese a proximidade na distribuição das respostas, a discordância máxima é sempre maior entre as mulheres (60% entre mulheres e de 51% entre homens).

Gráfico 61 – Proporção da opinião dos entrevistados em relação ao direito ao aborto (em %)

Distribuição bastante diferente das demais questões: 59% discordam, 13% em posição neutra, e 27% concordam

Gráfico 62 – Proporção da opinião dos entrevistados sobre o direito ao aborto, segundo faixas de renda (em %)

Uma das poucas questões em que variações de renda são expressivas: a adesão ao aborto como direito cresce de forma quase linear com o crescimento da renda.

Gráfico 63 – Proporção da opinião dos entrevistados sobre o direito ao aborto, segundo faixas de escolaridade (em %)

A proporção dos discordantes (portanto, que apoiam o aborto como direito) cai continuamente, de 72% entre analfabetos a 51% entre os mais escolarizados, mas estas diferenças não são estatisticamente significativas na análise multivariada

Gráfico 65 – Proporção da opinião dos entrevistados sobre o direito ao aborto, segundo sexo e com escala desagregada (em %)

As mulheres são as que mais discordam em relação ao aborto como direito (30% mulheres, 27% homens). Mas a divisão em relação à concordância é bastante parecida entre homens e mulheres.

Gráfico 66 – Proporção da opinião dos entrevistados sobre o direito ao aborto, segundo filiação religiosa (em %)

Evangélicos registram a maior porcentagem de discordância e a menor porcentagem de concordância da assertiva.

Gráfico 67 – Proporção da opinião dos entrevistados em questão sobre culpa concorrente da mulher, em casos de estupro, por usar “roupa

provocante” (em %)

Apenas 57% dos entrevistados discordam ou discordam muito dessa assertiva, sendo que 31% concordam ou concordam muito e 12% disseram nem concordar, nem discordar. Este resultado, somado ao da questão do aborto, indica que a sociedade

brasileira é claramente mal resolvida na questão dos direitos sexuais e reprodutivos.

Gráfico 69 – Proporção da opinião dos entrevistados em questão sobre culpa concorrente da mulher, em casos de estupro, por usar “roupa

provocante”, segundo regiões (em %)

Norte e Sul discordam mais, ainda que apenas no Norte isso se traduza em larga concordância (47% dos entrevistados): no Sul, a carga se desloca para os “indecisos”.

Gráfico 70 – Proporção da opinião dos entrevistados em questão sobre culpa concorrente da mulher, em casos de estupro, por usar “roupa

provocante”, segundo sexo (em %)

Ainda que haja discordância maior entre as mulheres, conforme padrão observado nas questões deste bloco, a diferença é muito pequena, o que indica que a relativa concordância é generalizada na população, sob o aspecto “sexo”.

Principais Resultados

Bloco I - Juventude, Igualdade Racial e Gênero

Proximidade social e igualdade racial

Gráfico 71 - Proporção da opinião dos entrevistados sobre a proximidade social com diferentes grupos (em %)

A proporção de aceitabilidade de proximidade social dentro do círculo familiar varia de um máximo de 52% para pessoas pobres a um mínimo de do mínimo de 23% em relação aos homossexuais. Exceto pela categoria de “pobres”, todos os grupos mencionados encontram no círculo social (extrafamiliar) o limite da proximidade social, na opinião dos respondentes . Por fim,

chama a atenção a diferença entre “pobres” e “moradores de favela”, por indicar barreira de interação especificamente relacionada a condições de moradia.

Proporção da opinião dos entrevistados sobre a proximidade social com diferentes grupos, de forma desagregada (em %)

0,4

2

3,2

7,7

34,4

9,9

42,4

1,2

2,8

3,2

7

37,4

9,1

39,3

0,7

2,2

3,3

8

42

8,4

35,2

2,9

6,5

4,4

10,2

40,6

6,3

29,2

11,7

11,1

5

10,5

33,9

6,1

21,9

8,4

9,8

4,8

11,3

42,9

5,6

17,7

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Sem proximidade

Conhecido

Colega de trabalho

Vizinho

Amigo

Namoro na família

Casamento na família

Pobres Negros Deficientes Moradores de favela Religião Afro Homossexuais

Tabela 1 - Efeitos das variáveis de controle sobre as preferências quanto a distância/proximidade social em relação a diferentes grupos

Renda Escolaridade Gênero Região Religião Raça

Pobre - NS H=- NO=-; NE=- NS NS

Deficiente NS NS H=- NO=-; NE=- NS NS

Negro - + NS NO=-; NE=- E=- NS

Morador de favela - NS NS NO=-; NE=-; Sul=+ NS NS

Homossexual NS NS H=- NO=-; NE=- E=- NS

Praticante de religião de matriz africana

NS + 0 NO=-; NE=- Acr=-; E=-; A=- Pardo=-

Gráfico 78 – Proporção da opinião dos entrevistados sobre proximidade social em relação a negros, segundo faixas de renda (%)

Há associação negativa entre renda e aceitação de proximidade com os negros – relação essa que fica mais clara quando as variáveis de controle são inseridas. A comparação entre a faixa 2 de renda (R$ 163 a R$ 441) e a maior faixa, acima de R$1.020

aponta uma variação na aceitação no círculo familiar que é de 7 pontos percentuais.

Gráfico 79 – Proporção da opinião dos entrevistados sobre proximidade social em relação aos negros, segundo faixas de

escolaridade (em %)

Mesmo sendo pequena a variação, que maior grau de escolaridade tende a produzir maior aproximação declarada relação aos negros, novamente utilizando a agregação das categorias as -1 (sem aceitação de proximidade) e 0 (aceitação de proximidade

no círculo social) em oposição à categoria 1 (aceitação de proximidade no círculo familiar).

Gráfico 81– Proporção da opinião dos entrevistados sobre proximidade social em relação aos negros, segundo região (em %)

A regiões CO e S apresentam maior proximidade (potencial) dos entrevistados em relação aos negros. Norte e Nordeste têm forte associação com menor probabilidade de aceitação de proximidade, especialmente a região Norte. Observe-se que 85%

da população desta região erige o limite da interação com negros nas relações de amizade.

Gráfico 83 – Proporção da opinião dos entrevistados sobre proximidade social em relação aos negros, segundo raça (em %)

Não há mudanças relevantes na proporção de repostas, segundo raça. Observa-se menor aceitação de proximidade social de negros em relação a negros, mas elas não são significativas quando controles são inseridos.

Gráfico 84 – Proporção da opinião dos entrevistados sobre razões para a desigualdade econômica entre brancos e negros (em %)

Associação já esperada entre desigualdade racial e preconceito (50% dos respondentes), mas alternativas que indicam serem os negros os responsáveis por sua situação – uma vez que não aproveitam as oportunidades que têm – ou que negam a

desigualdade entre raças representam 25% das repostas. De forma geral, não há diferenças substantivas por renda, escolaridade, idade, e sexo, quando comparam-se as probabilidades de escolha da alternativa “preconceito” em relação às

demais. Há diferenças regionais e negros rejeitam a opção relativa à inexistência de piores condições.

Principais Resultados

Bloco I – Juventude, Igualdade Racial e Gênero

Juventude

Gráfico 85– Proporção da opinião dos entrevistados sobre grau percebido de influência sobre o governo, segundo faixas de idade (%)

Entre a primeira faixa (18 a 24 anos) e a última (54 anos ou mais) a alternativa “muito baixa” aumenta de 22% para 31%. De forma inversa, 9% dos jovens consideram “muito alta” sua capacidade de influir no governo, taxa que cai a 5% entre os mais

velhos.

Gráfico 86 – Proporção da opinião dos entrevistados sobre diversidade e luta por direitos, segundo faixas de idade (em %)

Os mais jovens têm maior probabilidade de perceber positivamente a luta por direitos para minorias (52% a 43%, nos extremos), se bem que as diferenças não seguem padrão linear.

8 9

11

9

11

14 13

15

13

15

27

30 29

30 31

32

31 30

31

29

20

18

16

18

15

0

5

10

15

20

25

30

35

18/24 25/34 35/44 45/54 de 54

muito negativo negativo neutro positivo muito positivo

Gráfico 87– Proporção da opinião dos entrevistados sobre o direito a o protesto contra o governo, segundo faixas de idade (em %)

Jovens foram a fração etária de maior proporção na resposta “sempre”, indicando maior adesão à práticas associadas à democracia.

Gráfico 88 – Proporção da opinião dos entrevistados sobre a escolha de candidatos nas eleições pelos mais pobres, segundo faixas de idade

(em %)

Os jovens discordam mais da afirmação segundo a qual os pobres escolhem piores candidatos que os mais ricos.

Gráfico 89 - Proporção da opinião dos entrevistados sobre a forma mais importante de influenciar o governo, segundo faixas de idade (%)

À luz das distinções geracionais observadas anteriormente, surpreende não haver associação significativa entre faixas etárias e a proporção de respostas na questão sobre “como modificar a desigualdade no país”, como ilustra o gráfico.

Gráfico 91– Proporção da opinião dos entrevistados sobre igualdade de gênero, segundo faixas de idade (em %)

Notam-se também associações em termos geracionais nos temas de igualdade de gênero. Por exemplo, no nível -2 do mencionado “índice” de igualdade de gênero, ela se mostra visível. A distância entre os mais jovens e mais velhos nessa opção

é de 8 pontos percentuais, no âmbito de relação linear entre as faixas de idade

Gráfico 92– Proporção da opinião dos entrevistados na questão sobre culpa concorrente da mulher, em casos de estupro, por usar “roupa

provocante”, segundo faixas de idade (em %)

Em todas as questões de gênero, a associação se mostra relevante apenas nesta questão. Os jovens são a fração que discorda em maior proporção dessa avaliação. A variação da discordância em relação a esta afirmação vai de 66% entre estes a 51%

entre os mais velhos, com mais de 54 anos.

Principais Resultados

Bloco II - Cultura Política Em que medida e por que meios os

cidadãos se sentem capazes de influenciar o governo?

Gráfico 14 – Proporção da opinião dos entrevistados quanto à capacidade de o cidadão influenciar o governo (em %)

Gráfico 15 – Proporção da opinião dos entrevistados quanto à capacidade de o cidadão influenciar o governo, por faixas de

escolaridade (em %)

Relação positiva entre escolaridade e capacidade de influir em decisões governamentais . A influência alta ou muito alta dobra (15% para 32%) quando se muda de “analfabeto” para “nível superior ou pós-graduação”. Em sentido inverso, o

sentimento de impotência se reduz quase à metade (40% para 22%), se comparamos as mesmas faixas.

Gráfico 17 – Proporção da opinião dos entrevistados quanto à capacidade de influenciar o governo, por raça (em %)

Quanto maior a renda, maior a crença na capacidade de influenciar o governo.

Forma mais importante de influenciar o governo

* 1 = votando, 2 = apresentando pessoalmente propostas a políticos e funcionários que dirigem ou trabalham em órgãos do governo; 3 = indo pessoalmente a reunião de fóruns participativos (orçamentos participativos, conselhos, audiências públicas),

ou procurando pessoas que participem delas; 4 = participando de associações ou sindicatos para que eles apresentem as demandas ou propostas ao governo; 5 = fazendo reclamações ou denúncias em setores/órgãos específicos (como ouvidorias,

corregedorias etc.); 6 = participando de protestos, abaixo-assinados, manifestações relacionadas a uma causa; 7 = pessoas como eu não conseguem influenciar o governo.

Gráfico 20 – Proporção da opinião dos entrevistados quanto à forma mais importante de influenciar o governo, por categorias agregadas

(em %)

Gráfico 21 – Proporção da opinião dos entrevistados quanto à forma mais importante de influenciar o governo, por categorias agregadas

(em %)

Gráfico 22 – Proporção da opinião dos entrevistados quanto à forma mais importante de influenciar o governo, por regiões (em %)

A região Norte apresenta alta adesão (52%) aos mecanismos diretos de influência como via preferencial de atuar sobre os governos. O Norte é, ao mesmo tempo, a região na qual o voto, como instrumento prioritário encontra, comparativamente, a menor adesão (44%).

Principais Resultados

Bloco II - Cultura Política

Pobres votam pior que ricos?

Gráfico 24 – Proporção da opinião dos entrevistados quanto à escolha de bons candidatos por eleitores pobres (em %)

Renda, sexo, religião e raça não apresentaram associação significativa na presença dos controles.

Gráfico 26 - Proporção da opinião dos entrevistados quanto à escolha de bons candidatos por eleitores pobres, por escolaridade (em %)

Associação não-linear com as faixas de escolaridade. 62% dos analfabetos concordam com a afirmação, contra 50% dos que têm nível superior, perfazendo diferença de 12 pontos percentuais entre os extremos desta variável. Todavia, a associação não

é exatamente linear

Gráfico 26 - Proporção da opinião dos entrevistados quanto à escolha de bons candidatos por eleitores pobres, por região (em %)

Entrevistados das regiões Nordeste e Norte reportam maior grau de concordância com a assertiva, cabendo observar, contudo, que apesar de a região Sul ser a que apresenta menor concordância, a taxa de ‘incerteza’ (“não concorda nem discorda”)

daquela região é bastante elevada

Principais Resultados

Bloco II - Cultura Política

A democracia como regime de luta por mais direitos

Gráfico 27 - Proporção da opinião dos entrevistados quanto ao sentido (positivo ou negativo) da luta de minorias por direitos, por região (%)

Como se pode observar, quase 1/2 dos entrevistados (47%) afirma que tal luta por direitos é “muito positiva” ou “positiva”, mas quase 1/4 dos entrevistados (24%) afirma que tal luta por direitos é “muito negativa” ou “negativa” e um terço tem

posição de “neutralidade”. A renda, assim como a raça, não exibiu, mais uma vez, associação significativa

Gráfico 28 - Proporção da opinião dos entrevistados quanto ao sentido da luta por direitos por minorias, por escolaridade (em %)

Escolaridade tem associação positiva. Aqueles que possuem ensino superior ou pós-graduação, por exemplo, dão mais valor à luta por direitos das minorias, se comparados aos analfabetos (53% contra 44%).

Gráfico 30 – Proporção da opinião dos entrevistados quanto ao sentido da luta das minorias por direitos, por filiação religiosa (em %)

Evangélicos têm menor propensão a aceitar as lutas das minorias, se comparados aos católicos.

Gráfico 31 - Proporção da opinião dos entrevistados quanto ao sentido da luta das minorias por direitos, por região (em %)

Se para outras questões o Sudeste não figura entre as regiões mais modernas – como seria esperado –, aqui, essa proeminência pró-direitos é clara

Gráfico 32 - Proporção da opinião dos entrevistados sobre o direito ao protesto contra o governo (em %)

A maioria afirma ser incondicional o direito ao protesto contra os governos (56%), mas uma fração relevante postula por condicionantes a esse direito (37%), sendo que 6% se opõem a qualquer forma de protesto.

Gráfico 34 - Proporção da opinião dos entrevistados sobre o direito ao protesto contra o governo, por faixas de escolaridade (em %)

A adesão ao protesto incondicional cresce continuamente. A variação vai 46% de apoio ao protesto incondicional entre os analfabetos a 60% entre os mais escolarizados. Em ordem inversa, 13% dos menos escolarizados entendem

que protestos contra o governo “nunca” são admissíveis, percentual que cai abaixo de 3% para os mais escolarizados.

Gráfico 35 - Proporção da opinião dos entrevistados sobre o direito ao protesto contra o governo, por região (em %)

As regiões Sul, NE e CO apresentam os menores níveis de adesão incondicional ao direito ao protesto. Esse dado contrasta com o alto percentual relativo de respondentes da região NO (60%) que entendem o direito ao protesto como incondicional, aliado à ausência de respondentes nesta região que tenham optado pela alternativa “nunca”

Principais Resultados

Bloco II - Cultura Política

Estado, indivíduo e natureza no combate às desigualdades

Gráfico 36 - Proporção da opinião dos entrevistados sobre as razões das desigualdades entre pobres e ricos (em %)

As três alternativas de resposta somam adesão substancial na população.

Gráfico 37 - Proporção da opinião dos entrevistados sobre as razões da desigualdades entre pobres e ricos, por faixas de escolaridade (em %)

Os mais escolarizados atribuem ao esforço dos próprios pobres a via mais importante para modificar a desigualdade. Nos extremos, essa variação vai de 22% entre analfabetos a 37% entre aqueles que têm nível superior.

Gráfico 40 - Proporção da opinião dos entrevistados sobre as razões da desigualdades entre pobres e ricos, por região (em %)

Moradores do Norte e do Centro-Oeste revelam maior tendência de escolha da opção que afirma que a desigualdade “é natural”, em contraposição aos entrevistados da região Sul, que são assertivos quer na rejeição da “naturalidade” das desigualdades, quer na rejeição de que esta deveria ser superada pelo esforço pessoal – localizando claramente

na ação do Estado o necessário redutor das desigualdades.

Principais Resultados

Panorama Geral

Situação geral Renda Escolaridade Idade Sexo Região Religião Raça

Uso de cargo público para enriquecer 94%=errado; 3=depende; 3=certo NS NS + NS S=- E=+; A=- NS

Estacionar o carro em vagas reservadas a

deficientes por alguns minutos 92%=errado; 6%=depende; 2%=certo NS NS + M=- N=+; NE=+ A=- Pr=-

A polícia bater nos suspeitos para extrair a

confissão de crimes 86%=errado; 8%=depende; 6%=certo NS NS NS NS N=+; CO=- O=+; A=- NS

Confiança interpessoal 82%=concorda; 7%=neutro; 11%=discorda NS - NS NS

CO=+; NE=+; N=+;

S=+ Acr=- P=-

Capacidade de influência no governo

Média de 4,42 (Escala de "0" a "10");

Desvio padrão de 2,65 + + - NS S=-; N=-; CO=- A=-

Negro=+;

I,A=+

Forma de influência: incidência por meios

oficiais/diretos**

38,7% (principal meio de influência, vis-à-

vis 55,6% para o voto) NS + NS NS N=+; NE=+; S=+ NS NS

Forma de influência: protesto direto**

5,67% (principal meio de influência, vis-à-

vis 55,6% para o voto) NS NS - NS NS - NS

Pobres votam pior

53%=concordam; 18=neutro;

29%=discordam NS - - NS N=+; NE=+; S=- NS NS

Luta de minorias é positiva 47%=positiva; 29%=neutro; 24%=negativa NS + - M=+ SE+ E=- NS

Protesto contra o governo: sempre 57%=sempre; 37%=depende; 6%=nunca NSb - - NS S=-; NE=-; CO=- C=+ NS

Desigualdades: indivíduo 33% NS + NS NS S=- C=+; E=+; O=+ NS

Desigualdades: natureza 44% NS + NS NS N=+; S=- NS Negro=-

Igualdade de gênero: igualdade no casal

70%=discorda; 11,36%=neutro;

18,5=concorda NS + NS M=+ NE=-; NO=-; S=- E- NS

Igualdade de gênero: igualdade nas

relações de trabalho 78%=discorda; 9%=neutro; 13=concorda NS + NS M=+ NE=-; NO=-;S=- NS NS

Igualdade de gênero: violência em ambiente

doméstico "para preservar a união da

família" 89%=discorda; 6%=neutro; 5=concorda

NS + NS M=+ CO=+; NE=-; NO=-;

S=- Acr=+; A=- P=-

Igualdade de gênero: aborto 59%=discorda; 13%=neutro; 27=concorda + NS NS M=+ N=+; CO=-; S=+ E=-; Acr=+ Pr=+

Igualdade de gênero: "culpa concorrente"

em caso de estupro por usar "roupa

provocante"

57%=discorda; 12%=neutro;

31%=concorda

NS + + NS NO=-; S=- NS Pr=-

Diversidade: proximidade de negros

48,4%=família; 50,4%=social;

1,2%=nenhuma - + NS NS NO=-; NE=-; CO=+ E=- NS

Igualdade racial: combate às

desigualdades****

50%=preconceito; 13%=indivíduo;

15%=políticas públicas; 10%=problema

social; 11%=negação

NS NS NS NS

S (1=-; 4=+; 5=-) NE

(2=+; 4=+) N (4=+;

5=-) CO (4=+)

E (1=-; 5=-); Negro=5-

* As análises bivariadas reportadas com os sinais + e - são aquelas para as quais foi observada significância estatística, pelo menos ao nível de 10%, em teste bicaudal

** A categoria de base (para a comparação das asssociações) é a categoria 1 (voto)

*** A alternativa 3 é a categoria de base.

Considerações Finais

• Quadro de preferências dominantes longe de ser unilinear e entusiástico: parte importante adere a posições mais “progressistas”, mas em várias questões as posições são divididas;

• Quase nenhuma dessas clivagens é explicada pela renda, o que não permite falar de uma classe média com valores diferenciados;

• Destaques para região, religião, escolaridade e idade;

Aspectos a explorar

• Idade apresenta efeitos surpreendentes para questões relativas ao sistema político, mas outras opiniões são de mainstream ou mesmo mais “conservadoras”;

• Região apresenta efeitos importantes, a demandar maiores reflexões;

• Escolaridade está muito associada a posições mais “progressistas”, corroborando a literatura, mas também está associada a posições mais individualistas;

• Quase nenhuma dessas clivagens é explicada pela renda, o que não permite falar de uma classe média com valores diferenciados;

Considerações Finais

• Desafio de prosseguir e sofisticar na tarefa de compreender a relação entre valores e estrutura social: – Sistematicidade

• Pesquisas devem ser mais regulares;

– Validade • Perguntas devem ser compatíveis e consensuais perante cientistas e atores

sociais;

– Complexidade • Temas; • Seleção de variáveis; • Técnicas de análise;

• Uma possibilidade seria a criação de um Comitê Técnico entre atores governamentais e não-governamentais (em especial da academia) para ajudar a formular e executar, no médio prazo um projeto como este;

Perspectivas e possibilidades (I): variáveis a explorar

• (Auto)percepção de classe e mobilidade;

• Ocupações;

• Capital familiar herdado:

– Escolaridade dos pais;

– Ocupação dos pais;

Perspectivas e possibilidades (II): técnicas de análise a explorar (correspondência)

professores liberais superiores

propriet. urbano

adm e gerentes

funções médias

Escol

prop emp. rurais

espregado agricola

Segurança

donas de casa

aposentado

desempregado

Apoios e auxiliares

cinema

Filmes em casa

Assistir TV

show musical

concerto

teatro

Ir ao museu

galeria arte

ir ao jogo

ler

shopping

ficar em casa igreja

praia

viajar

pescar

dormir

gin/caminhar

bar

parque/praça

outros

sertanejo

forro

reggae

funk

classica dance

pagode

rap

jazz

mpb

rock

gospel

axe

country

bossa nova

newage

brega

samba

evangelica

blues

hip hop

moda viola

outras

-1

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

-1 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

Renda - Renda +

Es co

+

Esco

-