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Planejamento de Pesquisa para as Ciências Sociais HARTMUT GÜNTHER Pesquisa qualitativa v. pesquisa quantitativa: esta é a questão? UnB/ Instituto de Psicologia / Laboratório de Psicologia Ambiental Planejamento de Pesquisa para as Ciências Sociais Hartmut Günther (Organizador) 2004 Pesquisa qualitativa v. pesquisa quantitativa: esta é a questão? HARTMUT GÜNTHER O autor é professor titular no Departamento de Psicologia Social e do Trabalho, Universidade da Brasília. E-mail para contato: [email protected] O trabalho é fruto do Seminário em Psicologia: Metodologia Qualitativa oferecido no programa de pós-graduação em psicologia durante o segundo semestre de 2003. O trabalho contou, ainda, com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Como citar este texto: Günther, H.. (2004). Pesquisa qualitativa v. pesquisa quantitativa: Esta é a questão? (Série: Planejamento de Pesquisa nas Ciências Sociais, Nº 07). Brasília, DF: UnB, Laboratório de Psicologia Ambiental. Disponível na URL www.unb.br/ip/lpa/pdf/07QualQuant.pdf Ref: D:\Publications\Serie PPCS\07qualquant\07QualQuant 05.wpd // 2004 XI 22 09:17

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Planejamento de Pesquisa para as Ciências Sociais

HARTMUT GÜNTHER

Pe s q u is a q u alitativa v. p e s q u is aq u an titativa:

e s ta é a q u e s tão ?

UnB/ Instituto de Psicologia / Laboratório de Psicologia Ambiental

Planejamento de Pesquisa para as Ciências Sociais

Hartmut Günther (Organizador)

2004

Pesquisa qualitativa v. pesquisa quantitativa: esta é a questão?

HARTMUT GÜNTHER

O autor é professor titular no Departamento de Psicologia Social e doTrabalho, Universidade da Brasília. E-mail para contato:[email protected]

O trabalho é fruto do Seminário em Psicologia: Metodologia Qualitativaoferecido no programa de pós-graduação em psicologia durante o segundosemestre de 2003. O trabalho contou, ainda, com apoio do ConselhoNacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Como citar este texto:

Günther, H.. (2004). Pesquisa qualitativa v. pesquisa quantitativa: Esta é aquestão? (Série: Planejamento de Pesquisa nas Ciências Sociais, Nº 07).Brasília, DF: UnB, Laboratório de Psicologia Ambiental. Disponível naURL www.unb.br/ip/lpa/pdf/07QualQuant.pdf

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Em Inglês é comum falar em behavior, termo que se refere tanto a1

comportamento aberto quanto a estados subjetivos, i.é, comportamentocoberto. Em português a palavra comportamento tem um sentido mais restrito.À medida que tratamos de ambos os comportamentos neste texto, utilizamosa abreviação CES, que corresponde a comportamento e a estados subjetivos.

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Definida a variabilidade do comportamento e dos estados subjetivos(pensamentos, sentimentos, atitudes, etc.) como objeto de estudo docientista social, segue a pergunta: a que atribuir esta variabilidade? Sob aótica das ciências socias empíricas existem três aproximações principais paracompreender o comportamento e seus estados subjetivos (CES) : (1)1

observar o comportamento que ocorre naturalmente no âmbito real; (2) criarsituações artificiais e observar o comportamento diante das tarefas definidaspara essas situações; (3) perguntar às pessoas sobre o seu comportamento: oque fazem (fizeram) e seus estados subjetivos: o que, por exemplo, pensam(pensaram). Cada uma destas três famílias de métodos para conduzir estudosempíricos — observação, experimento e survey — apresenta vantagens edesvantagens distintas (Kish, 1987). As vantagens e desvantagens são ligadasà qualidade dos dados obtidos, às possibilidades da sua obtenção e àmaneira da sua utilização e análise. Não obstante as variações dentro decada uma das áreas que utilizam estas técnicas, podemos afirmar que oponto forte da observação é o realismo da situação estudada; que oexperimento possibilita tanto a randomização de características das pessoasestudadas quanto inferências causais; e que o levantamento de dados poramostragem, ou survey, assegura melhor representatividade e permitegeneralização para uma população mais ampla. Considerando que estecapítulo trata, predominantemente, da pesquisa e de dados qualitativos,convém explicitar que a primeira vertente, observação de comportamento,inclui registros de CES (documentos, diários, filmes, gravações) queconstituem manifestações humanas observáveis.

O que une os mais diversos métodos e técnicas de pesquisa que fazemparte destas três grandes áreas é o fato de todos partirem de uma perguntaessencialmente qualitativa – por que existe variabilidade, quais as suasimplicações, como lidar com a mesma? Estas perguntas, por sua vez,requerem respostas qualitativas: por esta ou aquela razão, com estas ouaquelas implicações. Sob esta ótica, todo tipo de pesquisa torna-se

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Wilhelm Wundt apresentou os argumentos em favor de uma psicologia2

explicativa das ciências naturais, no seu texto clássico sobre as ‘Tarefas daPsicologia Experimental’, em 1906.

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qualitativa. Qual seria, então, a diferença entre pesquisa qualitativa (PQL) epesquisa quantitativa (PQN)?

Neste capítulo, começamos com a apresentação de algumasdiferenciações entre PQL e PQN . Mostraremos, depois, a complexidade dePQL em termos de pressupostos, coleta, transcrição e análise de dados. Aseguir, consideramos critérios de qualidade para a PQL. O capítulo finalizacom implicações para pesquisa, ao se optar para PQL e/ou PQN .

DIFERENCIAÇÕES ENTRE PQL E PQN

Ao revisar a literatura sobre PQL, o que chama atenção imediata é o fatoque, freqüentemente, PQL não está sendo definida por si só, mas emcontraponto à PQN . Apresentamos alguns destes contrastes e comparações.Para organizar as diferenças e similaridades entre PQL e PQN , consideramos:características da PQL; postura do pesquisador; estratégias de coleta dedados; estudo de caso; papel do sujeito e aplicabilidade e uso dos resultadosda pesquisa.

Características da PQL

A clássica afirmação de Dilthey (1894), “explicamos a natureza,compreendemos a vida mental” (apud Hofstätter, 1957, p. 315) pode servista como o ponto de partida para as diferenças entre PQN e PQL. Aprimazia ‘compreender a vida mental’, ao invés de almejar uma explicaçãonos termos das ciências naturais , reaparece em todas as discussões sobre a2

natureza da PQL. Qual, então, a natureza da PQL, quais alguns dospressupostos desta abordagem?

Flick, v. Kardorff & Steinke (2000, p. 22), apresentam quatro basesteóricas: (1) a realidade social é vista como construção e atribuição social designificados; (2) a ênfase no caráter processual e na refletividade; (3) as

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As aspas são do original.3

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condições “objetivas” de vida tornam-se relevantes por meio de3

significados subjetivos; e (4) o caráter comunicativo da realidade socialpermite que a re-construção do processo de construção das realidadessociais se torne ponto de partida da pesquisa. Subseqüentemente (p. 24),estes autores ‘traduzem’ estas bases teóricas em 12 características de PQL.Mayring (2002), por outro lado, apresenta 13 alicerces da PQL. Agregandoestes dois conjuntos, chegamos às seguintes características da PQL,agrupadas em termos de (1) características gerais; (2) coleta de dados; (3)objeto de estudo; (4) interpretação dos resultados; e (5) generalização.

Características gerais. Seguindo o pensamento de Dilthey citado acima, Flicket al. (2000) apontam a primazia da compreensão como princípio do conhecimento,i.é, de relações complexas ao invés da explicação de relações por meio doisolamento de variáveis. Uma segunda característica geral da PQL é aconstrução da realidade, i.é, a construção subjetiva e a concepção da pesquisacomo ato de construção. Os autores afirmam, ainda, que a descoberta e aconstrução de teorias são objetos desta abordagem. Um quarto aspecto geral daPQL, conforme estes autores, é que apesar da crescente importância dematerial visual, PQL é uma ciência baseada em textos, i.é, a coleta de dadosproduz textos que nas diferentes técnicas analíticas são interpretadoshermeneuticamente.

Cabe alertar o leitor que a primeira destas quatro características pode serconsiderada um contraponto artificial: dificilmente um pesquisadoradjetivado como quantitativo exclui o interesse em compreender as relaçõescomplexas; o que ele defende é que a maneira de chegar a tal compreensão épor meio de explicações, senão compreensões das relações entre variáveis.Sem dúvida, pode-se conceber as múltiplas atividades que compõem oprocesso de pesquisa como um ato social de construção de conhecimento.A questão não respondida, porém é, ‘qual a correspondência entre oconhecimento socialmente construído e a realidade alheia’? – supondo,obviamente, que ela existe independentemente do pesquisador. Descoberta econstrução de teorias simplesmente constituem o cerne de qualquer ciência,enquanto que a preferência por material textual é uma legitima opção deprocedimento, desde que não se contraponha aos princípios elencados nopróximo parágrafo.

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Coleta de dados. Tanto Maying (2002) quanto Flick et al. (2000) consideram oestudo de caso como ponto de partida ou elemento essencial da PQL. Emambas as publicações ressaltam-se o princípio da abertura. Tal postura vai alémda formulação de perguntas abertas. Nas palavras de Mayring (p. 28), “nemestruturações teóricas e hipóteses, nem procedimentos metodológicosdevem impedir a visão de aspectos essenciais do objeto [de pesquisa]”. Aomesmo tempo, enfatiza Mayring, que “apesar da abertura exigida, os métodossão sujeitos a um controle contínuo .... Os passos da pesquisa precisam serexplicitados, ser documentados e seguir regras fundamentadas” (p. 29). Oprincípio da abertura se traduz, ainda, para Flick et al. (2000) no fato de PQL

ser caracterizada por um espectro de métodos e técnicas, adaptados ao casoespecífico, ao invés de um método padronizado único, ressaltando, ainda,que o método deve se adequar ao objeto de estudo.

De maneira global, pode-se argumentar que não somente o controlemetodológico, mas também as demais características desta secção, seaplicam a qualquer tipo de pesquisa. A questão subjacente que se coloca é –a partir de que momento no processo de pesquisa parte-se de um casoespecífico, deixam-se portas abertas para agregar dados não esperados, nãose restringe a um único método padronizado? Concebendo o processo depesquisa como um mosaico que descreve um fenômeno complexo a sercompreendido, é fácil entender que as peças individuais representem umespectro de métodos e técnicas, que precisam estar abertas a novas idéias,perguntas e dados, ao mesmo tempo que a diversidade destas peças incluiperguntas fechadas e abertas, passos predeterminados e abertos, qualitativose quantitativos.

Objeto de estudo. Para Mayring (2002) a ênfase na totalidade do indivíduocomo objeto de estudo é essencial para PQL, i.é, o princípio da Gestalt. Alémdo mais, a concepção do objeto de estudo qualitativo sempre será visto nasua historicidade, tanto no que diz respeito ao processo desenvolvimental doindivíduo, quanto ao contexto histórico dentro do qual o indivíduo seformou. Tanto Mayring quanto Flick et al. (2000) sublinham que o ponto departida de um estudo seja centrado num problema, que a diferenciação entrepesquisa básica e aplicada não é muito frutífera. Flick et al. salientem, ainda,que a perspectiva de todos os participantes da pesquisa são relevantes, nãoapenas a do pesquisador.

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A questão do objeto de estudo na PQL nos leva de volta às controvérsiasentre a posição da Gestalt e dos experimentalistas, embora a afirmação deque o tudo (a Gestalt) seja maior do que a soma das suas partes não significa,que não possa ser conveniente, concentrar-se ‘apenas’ numa parte noprocesso da pesquisa.

Interpretação dos resultados. Tanto Mayring (2002) quanto Flick et al. (2000)apontam acontecimentos e conhecimentos cotidianos como elementos dainterpretação de dados, em outras palavras, os acontecimentos no âmbito doprocesso de pesquisa não são desvinculados da vida fora do mesmo. Istoleva, ainda, à contextualidade como fio condutor de qualquer análise emcontraste com uma abstração nos resultados para que sejam facilmentegeneralizáveis. Implica, ainda, num processo de reflexão contínua sobre o seucomportamento por parte do pesquisador e, finalmente, numa interaçãodinâmica entre pesquisador e objeto de estudo.

Uma distinção mais acentuada entre PQL e PQN diz respeito à interaçãodinâmica entre pesquisador e objeto de estudo: no caso de PQN , dificilmentese escuta o participante após a coleta de dados. Uma inclusão deacontecimentos e conhecimentos cotidianos na interpretação de dadosdepende, no caso da PQN , da audiência e do meio de divulgação: ao mesmotempo em que um maior nível de abstração pode impedir a inclusão docotidiano, qualquer passo na direção de uma aplicação de resultadosnecessariamente inclui a vida cotidiana. O mesmo se aplica para a questãoda contextualidade. Já a reflexão contínua, obviamente, em nada é específicada PQL, deve ser aplicada a qualquer pesquisa científica.

Generalização de resultados. Conforme Mayring (2002), a generalização deresultados de PQL passa por quatro dimensões. O autor introduz o conceitoda generalização argumentativa. Ao invés de apoiar-se em uma amostrarepresentativa que asseguraria uma generalização dos resultados; os achadosna PQL – à medida que os mesmos se apóiem em estudos de caso –dependem de uma argumentação explícita para quais circunstânciasespecíficas uma generalização seria factível. Relacionado a isto há a ênfaseno processo indutivo, i.é, partindo de elementos individuais para chegar ahipóteses e generalizações. Entretanto, este processo deve seguir regras, quenão são uniformes, mas específicas a cada circunstância. Desta maneira, é desuma importância que as regras sejam explicitadas para permitir umaeventual generalização. Finalmente, Mayring não exclui a quantificação, mas

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enfatiza que função importante da abordagem qualitativa é a de permitiruma quantificação propositada. Desta maneira, chegar-se-ia a generalizaçõesmais consubstanciadas.

Postura Pessoal do Pesquisador

Uma primeira distinção entre PQL e PQN refere-se à aceitação explícita dainfluência de crenças e valores sobre teoria, escolha de tópicos de pesquisa,método e interpretação de resultados por parte da PQL. Já na PQN , crenças evalores pessoais não são considerados fonte de influência no processocientífico. Será mesmo? Considerando que um tema importante dapsicologia social é o estudo de atitudes, crenças e valores, a questão não é sevalores influenciam CES, inclusive os do cientista social. A questão que secoloca é como lidar com esta influência no contexto da pesquisa – seja elaqualitativa ou quantitativa.

Além da influência de valores no processo de pesquisa, há de se constatarum envolvimento emocional do pesquisador com o seu tema deinvestigação. A aceitação de tal envolvimento caracterize a PQL, já a intençãode controlá-lo ou sua negação, caracterizam a PQN . Da mesma maneira queos valores fazem parte da vida humana, o estudo de emoções é assuntoimportante da psicologia clínica e da personalidade, razão pela qual, maisuma vez, volta-se à questão: como lidar com esta influência no contexto dapesquisa?

Estratégias de coleta de dados

Uma resposta ao problema de como lidar com os valores e oenvolvimento emocional do pesquisador com o objeto de estudo é por meiodo controle das variáveis de um estudo. O contraponto feito entre PQL ePQN é o de estudar um determinado fenômeno no seu contexto naturalversus estudá-lo no laboratório. A primeira estratégia implica em relativafalta de controle de variáveis estanhas ou, ainda, a constatação de que nãoexistem variáveis interferentes e irrelevantes: todas as variáveis do contextosão importantes. Na segunda estratégia tenta-se um controle máximo sobreo contexto, inclusive produzindo ambientes artificiais com o objetivo dereduzir ou eliminar a interferência de variáveis interferentes e irrelevantes. Aprimeira estratégia seria da PQL, a segunda, da PQN . Entre as variáveis

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irrelevantes e potencialmente interferentes, incluem-se tanto atributos dopesquisador (por exemplo, seus valores), quanto variáveis contextuais ouatributos do objeto de estudo que “não interessam” naquele momento dapesquisa.

Antes de tudo, consideramos esta classificação de variáveis em relevantese interferentes uma questão estratégica no processo de pesquisa. Ao mesmotempo que há de se admitir que, em princípio, qualquer variável podeexplicar uma parte, mesmo que infinitésima, da variabilidade do fenômenosob estudo, é óbvio que existem variáveis que por razões teóricos e/ou deexperiência prévia são mais promissoras do que outras. Além do mais, porrazões práticas, há de se limitar as variáveis estudadas em um mesmo tempo aum número manejável, seja em termos de recursos – de tempo e dinheiro –por parte do pesquisador, da paciência dos participantes da pesquisa ou donúmero de variáveis que podem ser estudadas num determinado intervalode tempo. Desta maneira, tentar limitar o número de variáveis estudadasnuma determinada pesquisa não implica que as demais variáveis sejamnecessariamente consideradas improcedentes – uma boa pesquisa sempreestá aberta ao surgimento de novas variáveis e a explicações alternativas aocenário considerado no início da investigação. O fato de se levar em contamais explicitamente valores e demais atributos do pesquisador requer, porparte da PQL, maior detalhamento dos pressupostos teóricos subjacentes,bem como do contexto da pesquisa. Ao mesmo tempo, a estandardizaçãodos procedimentos, por parte da PQN , pode ser considerada como indíciode avanço no estabelecimento de um maior grau de intersubjetividade entrepesquisadores que usam um determinado procedimento.

Estudo de Caso

O “paradoxo da psicologia” coloca o estudo aprofundado de um eventoindividual (objeto por excelência da psicologia) em confronto com anecessidade de se ter parâmetros, por exemplo médias, dos atributos pormeio dos quais tal evento é descrito – já que tais parâmetros são obtidossomente em estudos que ignoram a individualidade dos eventos. Assim, aodescrever a individualidade de uma pessoa como agradável, está implícita aresposta à pergunta “em termos de que referencial?” Este referencial, seja elequalitativo (mais do que fulano) ou quantitativo (7 pontos numa escala de 0

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a 10), somente será obtido por meio de investigações mais complexas doque de estudos de caso. Desta maneira começa a se diluir o contraste entreestudo de caso – uma investigação aprofundada de uma instância de algumfenômeno – e do estudo envolvendo um conjunto de instâncias de ummesmo fenômeno – a partir do qual seria possível generalizar para outrasinstâncias. Como procedimentos qualitativos tendem a ser associados aestudos de caso, enquanto que os quantitativos a estudos que visam gerarresultados generalizáveis, há de se constatar que o primeiro depende dosreferenciais obtidos, freqüentemente, do segundo tipo. Além do mais, numestudo de caso é possível utilizar tanto procedimentos qualitativos quantoquantitativos.

Papel do Sujeito

Paralelamente à questão do envolvimento emocional e valorativo dopesquisador com a temática do seu estudo, pode-se indagar sobre o grau depassividade do participante de uma pesquisa. Até que ponto o sujeito de umestudo pode ou deve ser envolvido na concepção, realização e interpretaçãode resultados de uma pesquisa? A associação feita é de que um participantemais ativo implica em PQL, já um participante passivo, é “sujeito” de PQN .Entretanto, se a investigação chamada pesquisa-ação é considerada umaabordagem que permite um papel mais ativo do participante, há de seressaltar que na concepção original da pesquisa-ação por parte de Lewin(1982), qualquer tipo de pesquisa – observacional, experimental, survey,qualitativo, quantitativo – poderia ser utilizada, como demonstrado porSommer & Anick (2003/1984). Voltaremos à questão da pesquisa-ação epesquisa participante, mais adiante.

Aplicabilidade e Uso da Pesquisa.

Existe uma longa controvérsia sobre o valor relativo da natureza daciência básica versus aplicada. A argumentação compreende desde “pesquisasem aplicação é um desperdício” até “gerar conhecimento é um fim em si,qualquer utilidade é secundária”. Por alguma razão pouco clara, a posição daprimazia da pesquisa aplicada é associada à PQL, e da pesquisa básica à PQN .Esta associação pode estar relacionada ao processo de “tradução”, em

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qualquer pesquisa social, da questão inicialmente qualitativa em estratégiasde coleta de dados quantitativos.

Subjacente à discussão em torno da pesquisa básica versus pesquisaaplicada está a questão da finalidade do conhecimento. Uma postura ativista,de que a finalidade da ciência é a de ajudar as pessoas (participantes dapesquisa) a obter autodeterminação seria mais característica da PQL. Poroutro lado, a ciência que ‘somente’ contribui para com o avanço doconhecimento aplicável a todas as pessoas – podendo ou não manter ostatus quo – seria postura da PQN .

Sem dúvida, o próprio fato de existirem estas associações aponta para ofato de que pesquisas – sociais, psicológicas ou outras – não são atividadesdesvinculadas das características do pesquisador, nem do contextosociocultural dentro do qual são realizadas. Por outro lado, temos sériasdúvidas quanto à procedência das respectivas associações com a PQL e aPQN . A postura do pesquisador diante do seu objeto de estudo pode levar aestratégias de pesquisa diferentes, mas não significa que um ou outro tenhamaior reconhecimento da importância de valores na pesquisa. O própriofato de se abordar indivíduos para que participem em pesquisa demonstra oreconhecimento da sua expertise. Da mesma maneira que é difícil defender aparticipação de todos os participantes de uma pesquisa em todas as fases damesma (por exemplo, crianças de cinco anos sendo observadas numplayground), o pesquisador deve solicitar e utilizar os comentários dos seussujeitos sobre a sua pesquisa. O fato de considerar a distinção entre pesquisaaplicada versus básica pouca vantajosa no contexto do avanço doconhecimento, torna uma eventual associação destas duas vertentes à PQL eà PQN , respectivamente, ainda mais irrelevante. Em conclusão, os pontoslistados acima constituem (devem constituir) preocupações de qualquerpesquisador.

PQL: DELINEAMENTO , COLETA, TRANSCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

No início deste capítulo, apontamos três aproximações básicas paracompreender CES nas ciências sociais: observar o comportamento queocorre (ou ocorreu) naturalmente no âmbito real; criar situações artificiais eobservar o comportamento diante de tarefas definidas para essas situações;perguntar às pessoas sobre o seu comportamento e seus estados subjetivos.

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Diante da exposição sobre os pressupostos da PQL, onde e como técnicasqualitativas específicas se enquadram nesta divisão tripartite? Conformeapontado anteriormente, uma das características da PQL é sua grandeflexibilidade e adaptabilidade. Ao invés de utilizar instrumentos eprocedimentos padronizados, a PQL considera cada problema objeto de umapesquisa específica para a qual são necessários instrumentos eprocedimentos especiais. Tal postura requer, portanto, maior cuidado nadescrição de todos os passos da pesquisa, desde o delineamento, passandopela coleta de dados, a transcrição e preparação dos mesmos para sua análiseespecífica. Inspirado em Mayring (2002) que organizou o seu livrointrodutório desta maneira, trataremos de cada um destes quatro passos parao contexto de PQL de maneira separada. Julgamos esta separação útil, vezque existem muitas combinações entre os diferentes delineamentos,maneiras de coletar, transcrever e analisar os dados. Freqüentemente,manuais de PQL apresentam coleta e análise de dados juntos (por exemplo,Camic, Rhodes e Yardley, 2003; Denzin & Lincoln, 1994). Mesmo que seconsidere tal junção interessante, vez que mostra a integração entre coleta eanálise, tal procedimento tende a ocultar as demais possibilidades decombinar elementos destas técnicas de pesquisa.

Delineamentos de PQL

Mayring (2002) apresenta seis delineamentos de PQL: estudo de caso,análise de documentos, pesquisa-ação, pesquisa de campo, experimentoqualitativo e avaliação qualitativa. Para qualquer pesquisador acostumado atrabalhar quantitativamente fica evidente que nenhum destes delineamentosé necessariamente qualitativo.

No contexto de um estudo de caso, definido como a coleta e análise dedados sobre um exemplo individual para definir um fenômeno mais amplo(Vogt, 1993, p. 30), podem-se coletar e analisar tanto dados quantitativosquanto qualitativos. Além disto, é concebível observar comportamento noseu contexto natural, criar experimentos que utilizam o sujeito como seupróprio controle (cf., Campbell & Stanley, 1963; Ibrahim, 1979), bem comorealizar entrevistas, aplicar questionários ou administrar testes.

A análise de documentos é, sem dúvida, a variante mais antiga para realizarpesquisa, especialmente no que diz respeito à revisão de literatura. Além de

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procedimentos mais tradicionais de leitura e resumo de idéias, é possívelextrair e sumarizar resultados por meio de meta-analise (e.g., Rosenthal,1984). A utilização de documentos como fonte sistemática de dados foiiniciada por Leopold von Ranke, o pai da história científica na primeiraparte do século 19 (cf., Grafton, 1997). Desde então, desenvolveram-setanto técnicas mais quantitativas quanto qualitativas para lidar com fontessecundárias e documentais. Dependendo da natureza dos documentos,existem as mais diferentes maneiras de encará-los: desde relatos verbais erespostas a perguntas de pesquisadores futuros até “sujeitos” selecionadosentre uma multidão de trechos de texto selecionados por meio deprocedimentos de amostragem.

Não somente no Brasil pesquisa-ação foi incorporada ao campo de PQL (cf.,Thiollent, 1985). Num texto que propõe dar uma breve introdução àpesquisa-ação, Newman (2000) sequer faz referência a Lewin, embora aperspectiva original de pesquisa-ação tenha sido a de realizar pesquisa quecontribua, ao mesmo tempo, para o avanço científica e a transformaçãosocial (Lewin, 1982). Conforme apontado por Sommer (1977, Sommer &Amick, 2003/1984), pesquisa-ação independe da técnica de pesquisa,podendo ser utilizada com experimento, observação ou survey. Observa-se,ainda, um mistura entre pesquisa-ação e pesquisa participante (cf., Brandão,1985, 1987).

Pesquisa de campo engloba uma ampla variedade de contextos de pesquisa,desde seu início no contexto acadêmico por Jahoda, Lazarsfeld & Zeisel(1933) na década de 1930. Este estudo é especialmente interessante doponto de vista metodológico à medida que Mayring (2002) o cita comoexemplo de PQL, ao mesmo tempo que o aponta como exemplo detriangulação, i.é, uma integração de diferentes abordagens e técnicas, nocaso qualitativas e quantitativas, num mesmo estudo. O manual de métodosem antropologia cultural (Naroll & Cohen, 1970) inclui a secção ‘processode pesquisa de campo’ envolvendo desde métodos quantitativosexperimentais (e.g., Sechrest, 1970) a procedimentos qualitativos / clínicos(Edgerton, 1970). Amplitude semelhante de procedimentos pode serencontrado na obra de Werner & Schoepfle (1987), bem como em outroslivros sobre pesquisa de campo.

O fato de qualificar experimento e avaliação com o adjetivo “qualitativo”reforça a constatação de que estes procedimentos, além da interpretação

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tradicional como parte da PQN , podem também incluir uma arbordagemqualitativa.

Em suma, se nenhum dos seis procedimentos metodológicos énecessariamente qualitativo ou quantitativo, analisaremos a seguir,elementos do processo de pesquisa: coleta, transcrição e análise de dados,enquanto utilizados em PQL.

Coleta de dados na PQL

Para o contexto da PQL, as três maneiras de coleta de dados apontadaspor Kish – observação, experimento e survey – podem ser re-agrupadascomo coleta de dados visuais e verbais respectivamente. Independente dosdelineamentos elencados acima, diferentes técnicas de coleta de dadosvisuais e verbais podem ser utilizadas. Diante dos objetivos deste capítulo,constatamos um grande número de procedimentos em diversos livros daárea. Mayring (2002) descreve com certo detalhe quatro maneiras de levantardados no contexto da PQL: dados verbais por meio de entrevista centradanum problema, entrevista narrativa, grupo de discussão e dados visuais pormeio da observação participante. Flick (1995) diferencia entre quatro tiposde entrevistas: focalizada, semi-estandardizada, centrada num problema,centrada no contexto (e.g., com especialistas ou etnógrafos); três tipos derelatos: entrevista narrativa, entrevista episódica e contos; e três tipos deprocedimentos grupais: entrevista em grupo, discussão em grupo e narrativaem grupo. No que diz respeito a procedimentos visuais, aponta observação,observação participante, etnografia, fotografia e análise de filmes.

Seguem algumas referências em Português e Inglês que tratam destasmaneiras de coleta de dados com maior detalhe:

• Dados verbais:

• entrevista de maneira geral: Banister, Burman, Parker, Taylor & Tindall(1994), Fontana & Frey (1994)

• entrevista centrada no problema (Schorn, 2000)

• entrevista episódica: Flick (2002);

• entrevistas individuais e grupais: Gaskell (2002);

• entrevista narrativa: Dick (2000), Jovchelovitch & Bauer (2002);

• entrevista por telefone: Burke & Miller (2001)

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Planejamento de Pesquisa para as Ciências Sociais

• Dados visuais:

• uso de vídeo, filme e fotografias: Loizos (2002), Ratcliff (2003), Neiva-Silva e Koller (2002)

• observações: Adler & Adler (1994), Banister et al. (1994)

Transcrição de dados na PQL

Não somente na PQL, o passo entre a coleta e a análise de dados pareceser o mais ignorado na literatura. Entretanto, especialmente na PQL, estepasso é de grande importância diante da grande variabilidade e não-estandadização da coleta de dados. Mayring (2002) diferencia entre meios derepresentação, de transcrição propriamente dita e da construção de sistemasdescritivos.

Os meios de representação de dados de qualquer pesquisa são maisintimamente ligadas às técnicas de coleta de informação. Isto fica mais clarono caso de escolher meios visuais: o próprio ato de fotografar ou filmar umdeterminado evento já tem incluída a “transcrição” de uma idéia em umarepresentação, no caso visual. De certa maneira, as imagens já se encontramconcatenadas.

A transcrição de material verbal pode tomar as mais variadas formas. Deum extremo há a transcrição literal de uma entrevista gravada. Salienta-seque tal transcrição deve incluir sinais indicando entonações, sotaques,regionalismo e “erros” de fala. Ao mesmo tempo é a transcrição maiscompleta, mais informativa e a mais cara em termos de tempo e dinheiro.Existe a transcrição comentada, não necessariamente mutuamenteexcludente, na qual se registra, mais explicitamente, hesitação na fala alémdas expressões faciais e corporais que acompanham as verbalizações dapessoa. Obviamente, registros filmados ajudam, consideravelmente, napreparação deste tipo de transcrição. Outra forma de transcrição consiste noprotocolo resumido, se bem que este já implique num processamento dainformação dentro de algum esquema interpretativo. Os protocolosseletivos, apropriados no caso de muito material, não somente supõem umesquema interpretativo subjacente, mas, necessitam, ainda mais do que asoutras formas de transcrição de regras explícitas para a seleção do material.

Se o meio de representação de dados faz o elo com a técnica da coleta dedados, a construção de sistemas descritivos dentro da transcrição faz o elo

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Hartmut Günther (Organizador)

com a interpretação dos dados. Embora a PQL seja mais indutiva do quededutiva, não há como afirmar que a construção de um sistema descritivoseja totalmente livre de perspectivas, valores, emoções de quem os prepara,por exemplo, um sistema de categorização de eventos. Diante dasconsiderações acima sobre a postura do pesquisador e as estratégias decoleta de dados, uma descrição detalhada da coleta, da transcrição e daanálise de dados são essenciais. A grounded theory é um exemplo do quanto atranscrição e a interpretação estão entrelaçadas.

Análise de dados na PQL

A variedade de técnicas de análise de dados corresponde a variedade decoleta, embora não exista uma relação direta entre as duas. Mayring (2002)menciona sete maneiras de analisar com dados qualitativos: grounded theory,análise fenomenológica, paráfrase social-hermenêutica, análise de conteúdoqualitativa, hermenêutica objetiva, interpretação psicanalítica de textos eanálise tipológica. No livro de Bauer & Gaskell (2002/2000) há oitocapítulos apresentando enfoques analíticos para texto, imagem e som. Àmedida que os recortes metodológico-analíticos variam, Camic et al. (2003) eDenzin & Lincoln (1994) apresentam vários capítulos sobre análise dedados qualitativos. Transversal a esta diversidade há de se mencionar o usocada vez mais intenso de recursos computacionais na área; no Apêndice sãoapresentadas algumas referências e links para páginas de programas.

CRITÉRIOS DE QUALIDADE DE PESQUISA

O que constitui “pesquisa bem feita”, confiável, merecedora de ser tornadapública para contribuir para o manacial de conhecimento sobre umdeterminado assunto? Lienert (1989) diferencia entre critérios principais ecritérios secundários. Entre os primeiros, constam objetividade,fidedignidade e validade, enquanto que entre os segundos constam utilidade,economia de esforço, normatização e comparabilidade. Seria difícil, se nãoimpossível, verificar a base científica, por meio de estudos adicionais dequando uma pesquisa não satisfaz a estes critérios.

Até que ponto estes – ou outros – critérios se aplicam a PQL? Steinke(2000) aponta três posturas quanto à aplicabilidade de critérios de qualidadeà PQL. Uma primeira posição rejeita critérios de qualidade. O freqüente-

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Planejamento de Pesquisa para as Ciências Sociais

mente citado argumento de Feyerabend (1976), segundo o qual “qualquercoisa” vale, parece-nos confortável, entretanto mal compreendido. Dianteda multiplicidade de problemas a serem estudados, deve-se adaptar ométodo à pergunta. Neste sentido, qualquer método que dê conta do recado,vale. Tal estratégia, porém, não exime o pesquisador da indagação sobre acorrespondência entre a pergunta e o método escolhido e muito menos daqualidade dos resultados. Raciocínio semelhante aplica-se ao argumentosócio-construtivista contra uma avaliação da PQL: ao mesmo tempo queconhecimento e avaliação são parte do processo de criação deconhecimento, resultado de construção social e, portanto, dependente docontexto e dos atores, não constituindo uma realidade a parte, há de sereconhecer que parte inerente do processo social da construção deconhecimento é o julgamento dos atores (pesquisadores) em aceitar, ou não,a posição subjetiva do outro.

Uma segunda posição argumenta em favor de critérios específicos daPQL, questionando a aplicabilidade de critérios de qualidade utilizados naPQN . Partindo da natureza sui generis da PQL, podem ser utilizados várioscritérios específicos (Steinke, 2000): a validação comunicativa implica numachecagem com o participante da pesquisa, no sentido de perguntar se opesquisador o entendeu corretamente. Na validação da situação de entrevistaverifica-se até que ponto foi possível estabelecer uma relação de confiançaentre pesquisador e entrevistado. A triangulação implica na utilização deabordagens múltiplas para evitar distorções em função de um método, umateoria ou um pesquisador.

A terceira posição tenta adaptar critérios da PQN para determinar aqualidade da PQL – Miles & Huberman (1994, p. 277-280) apresentam umasérie de critérios que constituem tais adaptações. Grunenberg (2001) vai umpasso além, ao realizar uma meta-análise de pesquisas qualitativas das áreasda educação e das ciências sociais, para verificar a qualidade da PQL.

Agregando as considerações de Grunenberg, Mayring (2002), Miles eHuberman, bem como as de Steinke, apresentamos os seguintes critérios –formulados em termos de perguntas – para analisar até que ponto uma PQL

pode ser considerada de boa qualidade. Consistente com os princípios tantoPQL quanto PQN (i.e., validade), estes critérios podem alcançar algum nívelnuma gradação qualitativa, mas não algum valor numérico. Há de se lembrarque, sem tais critérios, não existe diálogo entre resultados de pesquisa –

16 Hartmut Günther

Hartmut Günther (Organizador)

sejam estes de natureza qualitativa ou quantitativa. Sem diálogo entre osresultados, não há como se chegar a uma compreensão – no sentido deDilthey – da natureza do ser humano.

• As perguntas da pesquisa são claramente formuladas?

• O delineamento da pesquisa é consiste com o objetivo e as perguntas?

• Os paradigmas e os construtos analíticos foram bem explicitados?

• A posição teórica e as expectativas do pesquisador foram explicitadas?

• Adotaram-se regras explícitas nos procedimentos metodológicos?

• Os procedimentos metodológicos são bem documentados?

• Adotaram-se regras explícitas nos procedimentos analíticos?

• Os procedimentos analíticos são bem documentados?

• Os dados foram coletados em todos os contextos, tempos e pessoassugeridos pelo delineamento?

• O detalhamento da análise leva em conta resultados não-esperados econtrários ao esperado?

• A discussão dos resultados leva em conta possíveis alternativas deinterpretação?

• Os resultados são – ou não – congruentes com as expectativas teóricas?

• Explicitou-se a teoria que pode ser derivada dos dados e utilizada emoutros contextos?

• Os resultados são acessíveis, tanto para a comunidade acadêmica quantopara os usuários no campo?

• Os resultados estimulam ações – básicas e aplicadas – futuras?

Recomenda-se a leitura do capitulo Making good sense: Drawing and verifyingconclusions do livro de Miles & Huberman (1994, pp. 245-287) para umaanálise mais detalhada da qualidade das pesquisas qualitativas. Igualmenteinteressante é a discussão na revista online “Forum: Qualitative Social Research”sobre a questão da qualidade. Esta discussão foi iniciada por Reichertz em2000 e seguida em cada número subseqüente da revista com réplicas,tréplicas (em ordem de publicação: Breuer, 2000; Huber, 2001; Kiener &Schanne, 2001; Breuer & Reichertz, 2002; Lauken, 2002; Fahrenberg, 2003;Rost 2003; Breuer, 2003).

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Planejamento de Pesquisa para as Ciências Sociais

A ESCOLHA ENTRE PQL E PQN

Inicialmente, devemos admitir que não concordamos com a dicotomia deDilthey quando afirmou “explicamos a natureza, compreendemos a vidamental”: o ser humano e, portanto, sua vida mental faz parte da natureza,encontra-se em constante interface com a natureza. Desta maneira, a ciênciado ser humano e da sua vida mental consiste em um esforço concomitantede explicar e compreender. Mais enfaticamente, explicação e compreensãodependem uma da outra, são impossíveis uma sem a outra.

Para o processo de investigação científica tal perspectiva implica que opesquisador, enquanto consumidor de pesquisa, i.é, na fase da revisão deliteratura, não deve se restringir a resultados que são fruto de umadeterminada abordagem, ignorando ou, até, vilificando os demais,simplesmente por falta de conhecimento.

Enquanto participante do processo de construção de conhecimento,idealmente, o pesquisador não deveria escolher entre um método ou outro,mas utilizar as várias abordagens, qualitativas e quantitativas que se adequamà sua questão de pesquisa. Do ponto de vista prático existem razões deordem diversas que podem induzir um pesquisador a escolher umaabordagem, ou outra.

Da mesma maneira que é difícil ser fluente em mais de uma cultura elíngua, não é fácil aproximar-se a um tema de pesquisa a partir deparadigmas distintos. Enquanto Turato (2004) alerta para uma “lamentávelindiferença à real não-harmonia dos paradigmas” (p. 22) argumentandocontra abordagens que combinam métodos qualitativos e quantitativos,ressaltamos que uma abordagem mista não necessariamente implica numaalgaravia metodológica.

Um primeiro argumento em favor de um determinado método estáimplícito no princípio da abertura (veja p. 5), i.é, na escolha de um métodoadequado para a pergunta que está sendo estudada. Na medida queperguntas de pesquisa freqüentemente são multifacetadas, comportam maisde um método. Assim, uma segunda consideração, obviamente, é a dacompetência específica do pesquisador. Cabe ressaltar que tal competênciadeve incluir a sabedoria de não realizar uma pesquisa, ao invés de modificara pergunta em função da sua competência.

18 Hartmut Günther

Hartmut Günther (Organizador)

Considerações mais objetivas incluem recursos disponíveis: quanto tempoexiste para realizar a pesquisa e preparar o relatório com os resultados?Quanto dinheiro está sendo disponibilizado para contratar colaboradores eassistentes de pesquisa? Quais os recursos materiais (gravadores, filmadoras,computadores) existentes? Qual o acesso a população a ser estudada?

Em suma, a questão não é PQL versus PQN , PQL ou PQN . A questão é denatureza prática, empírica e técnica: considerando os recursos materiais,temporais e pessoais disponíveis diante de uma determinada perguntacientífica, qual a abordagem teórico-metodológica que permite aopesquisador e à sua equipe, num mínimo de tempo, chegar a um resultadoque melhor contribua para a compreensão do fenômeno e para o avanço dobem-estar social.

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Duas revista online e de acesso gratuito para pesquisa qualitativa:

Forum: Qualitative Social Research – URL: www.qualitative-research.net

The Qualitative Report – URL: www.nova.edu/ssss/QR/

APÊNDICE

Seguem alguns links para recursos computacionais para a análise de dadosqualitativos. À medida que existe grande diversidade na coleta e análise dedados, não surpreende a existência de vários programas.

Um bom ponto de partida é a página do Computer Assisted Qualitative DataAnalysis (CAQDAS) Networking Project, http://caqdas.soc.surrey.ac.uk/,que apresenta, no seu sítio uma comparação de seis importantes programascomputacionais: ATLAS.ti, HyperRESEARCH, MAXqda, N6, NVivo,Qualrus.

À primeira vista, estes programas oferecem recursos muito semelhantes,como análise de dados não somente textuais, mas também gráficas, áudio evídeo, bem como interface com SPSS ou EXCEL. As páginas dosprogramas na Internet freqüentemente trazem links para textos sobrepesquisa qualitativa. A maioria dos programas tem interface em inglês, oMAXqda também tem interface em alemão e espanhol. O programa Alceste,

24 Hartmut Günther

Hartmut Günther (Organizador)

desenvolvido na França, difere dos demais por ser orientado maisdiretamente para uma análise de conteúdo, tendo versões com interface em francês e inglês.

A revista online Forum: Qualitative Social Research traz em maio de 2002 umnúmero especial sobre o uso de tecnologia no processo de pesquisaqualitativa. A URL deste número é www.qualitative-research.net/fqs/fqs-e/inhalt2-02-e.htm

Links para Programas

• ATLAS.ti – www.atlasti.de

• HyperRESEARCH – www.researchware.com/

• MAXqda – www.maxqda.com/maxqda-eng/start.htm (inglês) ouwww.maxqda.com/maxqda-spa/ (espanhol).

• N6 e NVivo – www.qsrinternational.com/index.htm.

• Qualrus – www.qualrus.com/Qualrus.shtml

• Alceste – http://www.image.cict.fr/