pesquisa em história comparada da america

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Dossiê História das Américas

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Estudo sobre história comparada em história da américa.

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Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 339DossiHistria das AmricasResumoAbstractPalavras-ChaveKeywordsREPENSANDO A HISTRIA COMPARADADA AMRICA LATINA*Maria Ligia Coelho PradoDept o.deHi st r i a FFLCH/ USPEsteartigodiscuteabordagensemtodosdaHistriaComparada,indicandopossibilidadeselimitesdessaescolha. Apresentadiferentesenfoquesassumidosporsocilogosecientistapolticos,insistindonasparticularidades do ofcio do historiador. Debrua-se de forma particularsobreproblemasespecficosprpriosdaHistriada AmricaLatina.Estabelece dilogos com os desafios propostos pelas histrias conectadas.Histria Comparada Amrica Latina Histrias ConectadasThis article deals with methods and approaches to Comparative History,presenting possibilities and limits of this choice. It shows social sciencesdifferentapproaches,emphasizingtheparticularitiesofthemetierduhistorien.ItconsiderssomeissuesconcerningLatin AmericanHistory.It debates also the challenges brought byconnectedhistories.Comparative History Latin America Connected Histories* Agradeo a Maria Helena Capelato, Mary Anne Junqueira, Marcelo Cndido da Silvae Stella Maris Scatena Franco pelas contribuies a este artigo.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3312Apresentando o problemaComparar o Brasil com os demais pases da Amrica Latina sempre mepareceu um desafio estimulante. Na medida em que a histria de cada paslatino-americano corre paralelamente s demais, atravessando situaes sin-crnicas bastante semelhantes a colonizao ibrica, a independncia pol-tica, a formao dos Estados Nacionais, a preeminncia inglesa e depois anorte-americana, para ficar nas temtica tradicionais no h, do meu pontode vista, como escapar s comparaes. Em vez de manter os olhos fixos naEuropa, mais eficaz, para o historiador, olhar o Brasil ao lado dos pases decolonizao espanhola.Assim fez Manoel Bomfim que, em O Brasil na Amrica. Caracteriza-o da Formao Brasileira (1929), estudou o processo histrico brasileiro,da colnia independncias poltica, marcando as diferenas entre as duasAmricas Ibricas.1 Do mesmo modo, Srgio Buarque de Holanda que, nosclssicos Razes do Brasil (1936) e Viso do Paraso (1959), para pensar oBrasil, tambm comparou as Amricas Portuguesa e Espanhola. 2 A originalida-de dessas reflexes e as novas questes propostas so devedoras da escolhidaabordagem que abrangente e ampliada. Desde j, assinalem-se duas condi-es imperativas para a efetivao de um trabalho de histria comparada, pre-sentes nesses livros: um elenco de problemas substantivos colocados a priorie uma slida erudio.Entretanto, de um modo geral, dentro ou fora do Brasil, a produo sobrehistria comparada pequena e intermitente. Por outro lado, alguns textosclssicos de autores europeus que utilizaram a comparao so bastante co-nhecidos. No sculo XIX, em A democracia na Amrica, Alexis de Tocquevillerealizou uma obra extraordinria, em parte, porque se apoiou na comparaoentre os Estados Unidos e a Europa (particularmente a Frana) para refletirsobre o tema escolhido.3 No sculo XX, o historiador ingls de grande prest-1 BOMFIM, Manoel. O Brasil na Amrica. Caracterizao da formao brasileira.2a.ed., Rio de Janeiro: Topbooks, 1997.2 HOLANDA, Srgio Buarque de. Razes do Brasil. 22 ed., Rio de Janeiro: Jos Olympio,1991. HOLANDA, Srgio Buarque de. Viso do Paraso. Os motivos ednicos no desco-brimento e colonizao do Brasil. 5 ed., So Paulo: Brasiliense, 1992.3 TOCQUEVILLE, Alexis de. A democracia na Amrica. Trad. Neil Ribeiro da Silva. 3ed., So Paulo: Edusp, 1987.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3313gio, Eric Hobsbawm, tambm comparou ao construir as eras das revolues,do capital, dos imprios e dos extremos, contribuindo para ampliar e inovara viso sobre essas temticas.4Mas indiscutvel que a histria comparada provoca resistncias entre amaioria dos historiadores. Para entend-las, preciso voltar prpria cons-truo do campo da Histria no sculo XIX. Marcavam-se as fronteiras dessesaber, enfatizando-se a busca da verdade objetiva baseada nas fontes docu-mentais e a singularidade dos fatos histricos. Desse modo, os acontecimen-tos eram vistos como nicos, no se ajustando a generalizaes ou modeloselaborados a partir de variveis constantes. Teorizaes provenientes da an-lise de vrios casos deveria ser a tarefa de outras cincias sociais, como a socio-logia, a antropologia ou a cincia poltica. A questo que se esconde por trsdessas manifestaes vincula-se idia da pouca eficcia, ou mesmo, da ina-dequao da comparao para a compreenso do processo histrico. Nessesentido, o historiador em seu ofcio deve valorizar os dados empricos (suasfontes) que configuram as singularidades histricas.Ao lado dessa questo, as prticas historiogrficas que recortam o espaonacional como o ideal vm sendo acolhidas, desde o sculo XIX, pela maio-ria dos pesquisadores. A perspectiva de tomar as fronteiras da nao como oslimites naturais estabelecidos para a pesquisa histrica ainda a escolha ma-joritria. A fora persuasiva do nacionalismo continua presente e fortementeestabelecida tanto no cenrio da poltica como tambm no mundo universit-rio, onde a centralidade das disciplinas referidas histria nacional provacabal dessa viso hegemnica.Em 1924, o historiador belga, Henri Pirenne, apontava com vigor para esseproblema. Sob o impacto da inaudita violncia da Primeira Guerra, provocadapelos nacionalismos em concorrncia, criticava os horizontes da histria nacio-nal e argumentava em favor da histria comparada. Enfatizava que o confina-mento da pesquisa histrica dentro dos espaos estritamente nacionais impe-4 Ver: HOBSBAWM, Eric. J. A era das revolues: Europa, 1789-1848. Trad. Maria TerezaLopes Teixeira. 7 ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989; A era do capital: 1848-1875.Trad. Luciano Costa Neto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977; A era dos imprios: 1875-1914. Trad. Sieni M. Campos e Yolanda S. Toledo. 3 ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra,1992;Eradosextremos:obrevesculoXX:1914-1991.Trad.MarcosSantarrita.SoPaulo: Companhia das Letras, 1995.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3314dia a compreenso da histria do prprio pas e se traduzia na falta de impar-cialidade do historiador, produzindo preconceitos polticos e de raa. Essalimitao condenava o historiador a ignorar os laos que ligavam cada hist-ria nacional histria das outra naes. Para escapar a essas restries, ahistria comparada era a soluo, pois apenas ela seria capaz de permitir apre-ciar o justo valor e o grau preciso de verdade cientfica dos fatos estuda-dos. Sua proposio era a de adotar para a histria nacional, o ponto de vistada histria universal. Desse modo, a histria seria no apenas mais exata,como mais humana, e mostraria aos povos a solidariedade de seus desti-nos, um patriotismo mais fraterno, mais consciente e mais puro. 5Problemas de mtodoAs dificuldades de aceitao da histria comparada - ao lado da j men-cionada forte adeso do historiador ao recorte de seu objeto dentro do espaonacionalrelacionam-setambmsincertezassobreosprocedimentosmetodolgicos de tal abordagem e eficcia dos resultados.Os advogados da histria comparada reafirmam sua importncia e inte-resse. Mesmo fora do campo dos historiadores, h depoimentos favorveis,como o do antroplogo norte-americano, Sidney Mintz, que afirma: A hist-ria nunca se repete exatamente, e cada acontecimento , evidentemente, ni-co; mas as foras histricas certamente podem se mover em rotas paralelasnum mesmo tempo ou em diferentes temporalidades. A comparao de taisparalelos pode revelar regularidades de valor cientfico potencial.6Noentanto,oscrticosdahistriacomparadaalertamparaosenganosproduzidos pelos procedimentos comparativos, levando, por exemplo, os pes-quisadores a serem induzidos a assumir uma viso colada ao eurocentrismo.75 PIRENNE, Henri. De la mthode comparative en histoire. Discours prononc la sancedouverturedu VeCongrsInternationaldesSciencesHistoriques.Bruxelles,1923.PIRENNE, Henri. La tche de lhistorien. Le Flambeau, vol. XIV, n 8, 1931. pp. 5-22.6MINTZ,Sidney.LaborandsugarinPuertoRicoandinJamaica,1800-1850.Comparative Studies in Society and History, vol.1, no. 3, 1959, citado por FRENCH, J.;MRNER,M.; VIUELA,J.Comparative ApproachestoLatin AmericanHistory.Latin American Research Review,vol. 17,n 2, p.57.7Retomareiestetemamaisadiante,aoabordaraperspectivadohistoriadorSergeGruzinski.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3315Edward Said indiretamente aponta para o olhar comparativo como respons-vel pela construo de um Oriente inventado pelo Ocidente. As vises negati-vas sobre o Oriente, elaboradas pelos especialistas europeus (sobretudo in-gleses e franceses), particularmente no sculo XIX, que se contrapunham civilizada Europa, expressavam a valorao hierarquizada que colocava oOcidente num patamar acima do Oriente. Afirma Said que o mais importan-te componente da cultura europia precisamente o que faz aquela culturahegemnica dentro ou fora da Europa: a idia de uma identidade europia comosuperior em comparao com todos os povos e culturas no europias. H emadio a essa viso, a hegemonia das idias europias sobre o Oriente, elasmesmas reiterando a superioridade europia sobre o atraso do Oriente, e usu-almente escondendo a possibilidade de que um pensador mais independenteou mais ctico possa ter perspectivas diferentes sobre o assunto.8Essa mesma abordagem etnocntrica pode ser detectada no influente li-vro de Gabriel Almond e Sidney Verba, The civic culture: political attitudesand democracy in five nations.9 Este um estudo que aplica o conceito de cul-tura poltica democracia e cidadania, comparando as relaes entre as ati-tudes dos indivduos e o funcionamento da democracia em cinco pases: Mxi-co, Itlia, Alemanha, Gr-Bretanha e Estados Unidos. Os autores se detmfundamentalmente no conhecimento dos sistemas polticos, nos sentimentosem relao a esses sistemas e no desempenho dos cidados como atores polti-cos. Apoiando-se no paradigma construdo, assumem a perspectiva de que acultura poltica e as instituies democrticas anglo-saxnicas so superiorese universalmente desejveis. Desse modo, no surpreende que, em suas conclu-ses, a cultura poltica ideal seja a dos Estados Unidos e a da Gr-Bretanha.Por outro lado, Mxico, Itlia e Alemanha desviam-se em graus variadosdo modelo edificado, sendo colocados em um patamar inferior no que se referes atitudes frente democracia e cidadania.A comparao, portanto, coloca desafios e demanda cautela. Uma entra-da exemplar para a discusso sobre mtodo comparativo em histria, conti-8 SAID, Edward W. Orientalismo:oOrientecomoinvenodoOcidente. Trad. TomsR. Bueno. So Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 7.9 ALMOND,Gabriel A.; VERBA,Sidney.Thecivicculture:politicalattitudesanddemocracy in five nations. Boston: Little Brown and Company, 1965.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3316nua sendo o inspirado artigo de Marc Bloch, Pour une histoire compare dessocits europennes, escrito em 1928. 10 Historiadores e cientistas sociaiscontinuam tomando esse texto como referncia fundamental. Bloch j haviaexperimentado a comparao em seu clssico, Os reis taumaturgos, de 1924,em que analisava o carter sobrenatural atribudo ao poder real, especialmen-te na Frana e na Inglaterra, no perodo medieval. 11A proposta do artigo a de demonstrar que o mtodo comparativo se apre-senta como um instrumento tcnico, de uso corrente, manejvel e capaz de levara resultados positivos. 12 O texto de Bloch assume uma dimenso militante, poisprope que a histria comparada, por seu valor e alcance, deva ser incorporada grade curricular dos cursos de Histria das universidades. Conhecendo as di-ficuldades de sua aceitao, afirmava que os historiadores de sua gerao, dife-rentemente dele, entendiam que a histria comparada se apresentava como umcaptulo da filosofia da histria ou da sociologia geral.Bloch, da mesma forma que Pirenne, ao propor a abordagem comparadaestavafazendoacrticadalimitaodaspesquisasaosespaosnacionais.Ambos estudaram a Idade Mdia, fator inconteste para libert-los mais facil-mente das amarras do nacional. Dizia Bloch que os historiadores que se de-bruavam exclusivamente sobre a histria nacional mantinham, entre eles, umdilogo de surdos, pois caminhavam de uma histria nacional a outra sem quese ouvissem mutuamente.13 Provavelmente, Bloch, como muitos de sua gera-10 BLOCH, Marc. Pour une Historie Compare des societs europennes. In: Mlangeshistoriques. vol. 1, Paris: S.E.V.P.E.N., 1963. pp. 16-40. Ainda hoje, a histria compara-da continua a motivar debates e discusses entre os historiadores, permanecendo MarcBloch como referncia central para a questo. Esta importncia pode ser percebida peloColquio, realizado em Paris, em 1986, destinado a discutir especificamente a relevn-cia dos trabalhos do historiador francs e da histria comparada na atualidade. ATSMA,Hartmut;BURGUIRE, Andr.(Orgs.). MarcBlochaujourdhui:histoirecomparetsciences sociales [Contributions au Colloque international organis Paris du 16 au 18juin1986parlcoledeshautestudesensciencessocialesetlIstituthistoriqueallemand]. Paris: d. de lcole des hautes tudes en sciences sociales,1990.11 BLOCH, Marc. Os reis taumaturgos: o carter sobrenatural do poder rgio, Frana eInglaterra. Trad. Jlia Mainardi. So Paulo: Companhia das Letras, 1993.12 BLOCH, Marc. Pour une Historie Compare des societs europennes. Op. cit., p.16.13 A mesma ruptura foi advogada por Pierre Chaunu que, nos anos 60, afirmou: precisoromper com os Estados e propor a histria du desenclavement plantaire des civilizationset des cultures in: Lexpansion europenne du XIIIe.au XVe sicle. Paris, PUF, 1969, cita-doporGRUZINSKI,Serge,LesmondesmlsdelaMonarchiecatholiqueetautresconnected histories .Annales HSS, n 1, janvier-fvrier 2001. p. 88.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3317o, sofrera o golpe da desiluso provocada pela Primeira Guerra Mundial,abrindo espao para indagaes sobre os perigos dos nacionalismos respon-sveis por aquela catstrofe.Um dos exemplos por ele escolhido paradigmtico, pois afetava as con-vices nacionalistas francesas. A monarquia carolngia, bero da nacionali-dade francesa, se apresentava com caractersticas originais se comparada merovngia que a precedeu no tempo. Os merovngios mantinham o podertemporal separado da Igreja o que era percebido, por exemplo, nos atos laicosda coroao dos reis. J os carolngios recebiam a coroa sagrada pela unodo leo santo. A hiptese de Bloch que tal ritual havia sido absorvido porinfluncia dos reis visigticos da Espanha que, desde o sculo VII, recebiama sacrossanta uno. Afirma que era incontestvel o fato do reino franco, du-rante o sculo que assistiu conquista rabe, ter recebido muita gente co-mum vinda da pennsula ibrica. Ao lado delas, chegaram tambm padresque conheciam os hbitos polticos e religiosos da regio que deixaram. Des-se modo, pode levantar a hiptese de que algumas concepes sobre a reale-za e seu papel, algumas idias sobre a constituio da sociedade vasslica esua utilizao pelo Estado teriam aparecido primeiro na Espanha onde fo-ram traduzidas nos textos legislativos e depois tomadas conscientemente pelaentourage dos reis francos ou por eles mesmos. Apenas a comparao permi-tiu que ele levantasse problemas e hipteses impossveis de serem pensada seas (posteriores) fronteiras nacionais no tivessem sido ultrapassadas. 14O mtodo comparativo supunha determinados procedimentos, a comearpela escolha de seu objeto. Para Bloch, deviam-se escolher dois ou mais fe-nmenos que parecessem, primeira vista, apresentar certas analogias entreeles, em um ou vrios meios sociais diferentes; em seguida, descrever as cur-vas de sua evoluo, constatar as semelhanas e as diferenas e, na medidado possvel, explic-las luz da aproximao entre uns e outros. De prefern-cia, propunha estudar paralelamente sociedades vizinhas e contemporneas,14precisoressaltarquevriostrabalhospublicadosnosltimosanostmsustentadoqueadistnciaqueseparaosmerovngiosdoscarolngiosnotograndequantosepensava. A realeza franca tornou-se, notadamente a partir da segunda metade do sculoVI,profundamenteimpregnadapelosprincpioscristos,muitoantes,portanto,daun-o e da coroao de Pepino, o Breve, na metade do sculo VIII. Ver, por exemplo, GEARY,P. Naissance de la France. Le monde mrovingien. Paris, 1989.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3318sociedades sincrnicas, prximas umas das outras no espao. A leitura crite-riosa das bibliografias deveria induzir formulao de questes e problemasnovos, permitindo discernir as influncias exercidas por uma sociedade sobrea vizinha. Conclua que submetidas, em razo de sua proximidade e de seusincronismo, ao das mesmas grandes causas seria possvel remontar,pelo menos parcialmente, a uma origem comum.15Fiel crtica das limitaes impostas pelo nacional, afirmava que a uni-dade do lugar apenas desordem. Somente a unidade do problema apresentaum centro.16 Enfatizava que no havia nada mais perigoso para qualquer ci-ncia que a tentao de olhar o presente e entend-lo como natural. Dessamaneira, apenas a abordagem da histria comparada poderia indicar a exis-tncia de um problema diante de fenmenos aceitos como naturais e que apa-rentavam no necessitar de explicao. Porm, tinha claro que o avano dahistria comparada seria lento, pois supunha estudos detalhados de fatos so-lidamente documentados e de ensinamentos fornecidos por trabalhos produ-zidos em outros pases. Em suma, para ele, a histria comparada animaria osestudos locais e nacionais, dos quais dependia; mas sem a ajuda da compara-o, no poderiam acontecer avanos na historiografia nacional.O prprio Bloch, sabendo que o trabalho comparativo estaria reservado apoucos, diria mais tarde que seus colegas expressaram sua polida aprovaoaoartigoevoltaramparaseustrabalhossemmudarseushbitos.Heinz-Gerhard Haupt em O lento surgimento de uma histria comparada tem ou-tra explicao para a pouca receptividade do artigo de Bloch na Frana.17 En-tende que o problema est referido prpria construo da histria da Franapela historiografia. A Revoluo Francesa percebida como um acontecimentoprimordial, um centro irradiador de idias e prticas que, ao se espalharempelo mundo, despertaram adeso entusiasta e provocaram rupturas importan-tes. Desse modo, os historiadores franceses vem a Revoluo como um dosmitos fundadores da Frana moderna, como modelo da histria contempor-15 BLOCH, Marc. Pour une Historie Compare des societs europennes. Op. cit., p.19.16 BLOCH, Marc. Une tude rgionale: Gographie ou Histoire?.AnnalesdHistoireEconomique et Sociale, no.6, janeiro de 1934, citado por SKOCPOL, Theda; SOMERS,Margaret. The uses of Comparative History in macrosocial inquiry, Comparative Studiesin Society and History, vol. 22, n 2, 1980. p. 194.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3319nea para o mundo ocidental. Portanto, caberia s outras sociedade e culturasse compararem Frana e no ocorrer o oposto.Raymond Grew, historiador e editor por muitos anos da importante revista,Comparative Studies in Society and History, prope um dilogo com Bloch emartigo de 1980.18 Essa revista, criada em 1958, edita tanto artigos que apresentamanlises de material empricos quanto de vis mais terico referentes a todas ascincias sociais. H muitos textos sobre antropologia, j que a comparao estintrinsicamente ligada conformao desse campo do saber; tambm sobre soci-ologia, pois a comparao muito familiar ao trabalho dos socilogos que, mui-tas vezes, atravessam os limites do tempo e da nao e buscam exatamente asgeneralizaes; menos contemplados so a cincia poltica e a histria.19Grew um entusiasta da histria comparada, e entende que o chamado comparaopermaneceabertoparaaquantificao,paraaconstruodemodelos, para teorizaes e para aproximaes entre sociedades diversas eentre perodos histricos. Porm, afirma ele, no h propriamente um mtodocomparativo. Embora Bloch tenha sempre se referido a um mtodo compara-tivo, Grew entende que o historiador francs propunha mais um modo de pensardo que um mtodo; o uso da comparao era uma maneira de alcanar diferen-tes perspectivas no campo da pesquisa. Constitui-se em modelo que prescin-de da elaborao de estruturas formais e que se apresenta mais como uma for-ma de pensar o objeto do que como uma metodologia.Dez anos depois, em 1990, o mesmo Grew faz uma reflexo sobre o esta-do dos estudos comparativos e mostra uma viso otimista. Afirma que a com-paraoganhoumaisrespeitabilidadeeumnmeromaiordeadeptos.O17 HAUPT, Heinz-Gerhard. La lente mergence dune histoire compare. In: BOUTIER,Jean; DOMINIQUE, Julia (Dir.). Passs recomposs. Champs et chantiers de lHistoire.Paris: Autrement,1995.18 GREW, Raymond. The case for comparing histories, The American Historical Review,vol. 85, n 4, 1980. Outros trabalhos do autor abordando a comparao: GREW, Raymond.The Comparative Weakness of American History. Journal of Interdisciplinary History,vol.XVI,n1,1985.pp.87-101;GREW,Raymond;BURGUIRE, Andr(Eds.).Constructionofminorities:casesforcomparisonacrosstimeandaroundtheworld.University of Michigan Press, 2001.19 Ver,entreoutros,HAMMEL,E. A.Thecomparativemethodinanthropologicalperspective, Comparative Studies in Society and History, vol. 22, n 2, 1980. pp. 145-155;BONNELL, VictoriaE.Theusesoftheory,conceptsandcomparisoninHistoricalSociology, Comparative Studies in Society and History, vol. 22, n 2, 1980. pp. 156-173.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3320chamadocomparaodesligadodequalquerparticularmododeanlise,permanece ecleticamente aberto quantificao, construo de modelos,pequenas e grandes teorias, e comparao dentro das sociedades e perodosassim como atravs daquelas convencionais divises de experincia social.20 Repete as mesmas idias defendidas anteriormente e se alinha como disc-pulo de Marc Bloch: Os usos menos formais da comparao para quebrarvelhos padres de pensamento, para fazer perguntas importantes que aindano haviam sido postas e para modelar percepes para significativos proble-mas histricos que se transformam em possveis tpicos de pesquisa so osmenos comuns ou pelo menos os menos discutidos na escrita acadmica. Essecriativo uso da comparao para estimular a imaginao o uso da compara-o que Marc Bloch tinha em mente em seu famoso ensaio. Usando a compa-raoparaganharumadiferenteperspectivanocampodapesquisaeparareformular sua abordagem, ela no requer estruturas formais. 21As diferenas entre o trabalho do historiador e de outros cientistas sociais,no que se refere a procedimentos metodolgicos com relao comparao,ganham clareza quando acompanhamos o artigo de Theda Skocpol e MargaretSomers, The uses of comparative history in macrosocial inquiry. 22 Este texto uma importante referncia, pois traz uma consistente reflexo metodolgicasobre a questo. As autoras elaboram sua anlise a partir da leitura de um signi-ficativo nmero de estudos de cientistas sociais, dividindo esses trabalhos deacordo com certos critrios metodolgicos. Reconhecendo as contribuies deJohn Stuart Mill e de Max Weber para se pensar a histria comparada, o textoaponta para a existncia de pelo menos trs distintas lgicas no uso da histriacomparada: a) demonstrao paralela de teoria; b) contraste de contextos; c)anlise macro-causal. Na primeira lgica, o analista justape casos histricos20 GREW, Raymond. On the current state of comparative studies. In: ATSMA, Hartmut;BURGUIRE, Andr. (Orgs.) Op. cit.,p.32621 Idem, ibidem,p.331.22SKOCPOL,Theda;SOMERS,Margaret.TheusesofComparativeHistoryinmacrosocial inquiry Op. cit. As autoras tm outros trabalhos em que adotam a perspec-tiva da comparao. Ver: SKOCPOL, Theda. States and social revolutions: a comparativeanalysis of France, Russia and China. Cambridge; New York: Cambridge University Press,1979;SOMERS,Margaret;GOLDFRANK, Walter.Thelimitsofagronomicdeter-minism: a critique of Paiges agrarian revolution,ComparativeStudiesinSocietyandHistory, vol. 23, n 3, 1979.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3321para persuadir o leitor de que a delineada hiptese e (ou) a teoria elaboradas apriori podem ser demonstradas repetidamente. Desse modo, o estudioso elabo-ra modelos tericos e hipteses antes de trabalhar os casos ilustrativos.23 Nasegunda lgica, o objetivo mostrar que uma dada teoria pode se sustentar decaso para caso. H uma nfase nos fatores nicos de cada caso particular e nademonstrao dos contrastes que se desenham entre cada caso individual. Parase chegar a tais contrastes, o analista ajudado pela escolha de grandes temasou de determinadas questes ou, ainda, por conceitos de tipo ideal. A integri-dade histrica de cada caso cuidadosamente respeitada. As autoras referem-se mais longamente ao clssico, Nation-Building and Citizenship, de ReinhartBendix. Este afirma que os estudos comparativos aumentam a visibilidade deuma estrutura em contraste com outra. Por exemplo, o feudalismo europeu podeser mais agudamente definido por comparao, por exemplo, com o feudalis-mo japons.24 A terceira lgica, a da histria comparada como anlise macro-causal, tem por finalidade chegar a inferncias causais, trabalhando o nvel dasmacro estruturas ou processos. Tomando um nmero limitado de casos, esteprocedimento tem a virtude de tentar validar (ou invalidar) hipteses causaissobre macro-fenmenos, podendo levar, com a abordagem comparativa, a no-vas generalizaes histricas. Como exemplo, citam o trabalho segundo asautoras, de ambio sem paralelos - de Barrington Moore Junior que, em buscadas origens sociais da democracia e da ditadura no mundo contemporneo, iden-tifica trs possveis rotas histricas que levaram a tais regimes polticos: a) darevoluo burguesa em direo democracia liberal; b) da revoluo porcima ao fascismo; c) da revoluo camponesa ao comunismo. Moore pre-tende demonstrar como a preferncia por certas alianas sociais explica confi-guraes polticas favorveis ou desfavorveis para o estabelecimento da mo-derna democracia ocidental por exemplo, as desastrosas conseqncias paraa democracia da coalizo entre as elites agrrias e industriais na Alemanha dosculo XIX.2523 Um exemplo dessa lgica o trabalho de EISENSTADT, S. N. The political systems ofempires: the rise and fall of historical bureaucratic societies. New York: Free Press, 1963.24BENDIX,Reinhard.Nation-BuildingandCitizenship.Berkeley;Los Angeles:University of California Press, 1977.25 MOORE JR, Barrington. Social origins of dictatorship and democracy: lord and peasantin the making of the modern world. Boston: Beacon Press, 1966.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3322Esta brevssima passagem pelo artigo das socilogas teve o objetivo deindicar as diferenas epistemolgicas entre o trabalho do historiador e o doscientistas sociais. O historiador no est procura de generalizaes e noconstri suas anlises a partir de modelos elaborados a priori. Nesse sentido,ojcitadolivrode Almonde Verbaseconstituiemexemplodecomoummodelo elaborado a partir de uma viso etnocntrica pode produzir resulta-dos questionveis.Brasil e Amrica LatinaA historiografia latino-americana, do mesmo modo que a europia, de-monstra que os estudos comparativos, ainda que escassos, tm sido uma cons-tante, a comear pelo grande historiador mexicano Silvio Zavala que, em 1935,apresentava um texto no qual comparava semelhanas e diferenas relativas conquista espanhola nas ilhas das Canrias e na Amrica. 26O artigo/balano, de 1982, de Magnus Morner, Julia Fawaz de Viuela eJohn French, Comparative approaches to Latin American History, indica queos historiadores tm preferncia por comparar certos temas - escravido, re-laes raciais, imigrao, fronteiras e urbanizao e defende o mtodo comocapaz de trazer contribuies inovadoras historiografia.27 Os objetivos dacomparao podem, na perspectiva dos autores, ser assim resumidos: a) for-mular generalizaes por meio de observaes de recorrncias; b) demons-trar as singularidades por intermdio da observao das diferenas; c) ajudara produzir explicaes causais. Desse modo, os autores mantm-se filiados auma perspectiva metodolgica que busca as causas gerais dos fenmenoshistricos, pretende chegar a generalizaes e se aproximam da construode modelos. Distinguem os estudos de histria comparada daqueles que pra-ticam a simples justaposio de relatos descritivos e que, por isso, no al-canam o objetivo proposto. Tais trabalhos se restringem, segundo eles, mera26 ZAVALA, Silvio A. Las conquistas de Canarias y Amrica. Las Palmas: Cabildo Insu-lar de Gran Canaria, 1991.27FRENCH,JohnD.;MRNER,Magnus; VIUELA,JuliaFawaz.ComparativeApproaches to Latin American History. Latin American Research Review, vol. 17, n 2,pp. 55-89.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3323classificao de pases, mostrando apenas sociedades com um certo nme-ro de variveis no integradas em uma moldura analtica.A histria comparada deve, portanto, fugir das justaposies e das classi-ficaes. Na minha perspectiva, tambm no deve estar comprometida com abusca de generalizaes;a produo acadmica latino-americana, das dca-das de 1960 e 1970, foi claramente marcada por essa discutvel viso generali-zante. Cientistas sociais estudaram a regio a partir de uma perspectiva totali-zante com nfase na macro-histria que privilegiava as estruturas econmicase scias. Dessa maneira, a Amrica Latina era apresentada com semelhantescaractersticas histricas e com problemas similares a serem enfrentados nopresente: pobreza, atraso, em uma palavra, subdesenvolvimento. Desse modo,oprocessohistricodaregiopoderiaserentendidoapartirdecategoriasexplicativas previamente construdas. O melhor exemplo so os ensaios quese dedicaram a trabalhar com a teoria da dependncia na Amrica Latina.Ainda que os textos mais sofisticados se preocupassem com as nuances naci-onais, comumente a explicao generalizante se estendia nos seus traos maisfortes por todos os pases latino-americanos.28Relacionado a essa questo, outro problema de abordagem da histria daAmrica Latina precisa ser destacado: uma certa viso que transportava parao cenrio latino-americano modelos de interpretao histrica j estabeleci-dos e prprios da histria europia. Como exemplos desse perodo, salienta-mos os debates sobre a natureza das revolues burguesas e socialistas. Ou-trocasoemblemtico,nosanos60e70,refere-seaosestudossobreomovimento operrio. A historiografia esperava encontrar nas sociedades lati-no-americanas o mesmo comportamento poltico e a mesma organizao sindi-cal que haviam criada a conscincia de classe do proletariado europeu. Osautores se decepcionavam ao fazer a comparao e assumiam uma certa hierar-quizao apoiada em determinados juzos de valor assumidos a priori, esca-lonando dos mais avanados movimentos sociais europeus aos mais atra-28 So vrios os textos que abordam a problemtica da dependncia na Amrica Latina.Duas obras referenciais sobre o tema so: CARDOSO, Fernando Henrique e FALETTO,Enzo. Dependncia e desenvolvimento na Amrica Latina. Ensaio de interpretao so-ciolgica.7ed.,RiodeJaneiro:Guanabara,1986.JAGUARIBE,Helioet.al.,Ladependencia poltico-econmica de Amrica Latina. Mxico: Siglo XXI, 1970.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3324sados latino-americanos que, por seu turno, ainda teriam um longo caminhoa percorrer at chegar ao patamar idealizado.Nos anos recentes, alguns historiadores aceitaram os desafios propostospela histria comparada e escaparam das armadilhas das generalizaes e doeurocentrismo.Fareirefernciaadoislivrosbemsucedidos,osdeMariaHelena Capelato e de Jos Luis Bendicho Beired, escolhidos entre outros tra-balhos. 29 Na esteira das reflexes de Marc Bloch, ambos elegeram grandestemas da historiografia e luz das bibliografias nacionais e das fontes arrola-das, propuseram perguntas novas e levantaram interrogaes inditas. O li-vro de Beired sobre os intelectuais autoritrios no Brasil e na Argentina, entre1914 e 1945, contribui de maneira significativa para a compreenso das con-vergncias e das particularidades dos nacionalistas de direita nos dois pases.30Trabalhando com o conceito de campo de Bourdieu, o autor pode equacionaras sub-divises da direita nacionalista como um dado constitutivo e definidorde sua prpria conformao. Desenhou os campos intelectuais nos dois pa-ses a partir de certos plos ideolgicos. Encontrou na Argentina, uma estru-tura ditica catlica e fascista; e no Brasil, uma estrutura tridica catlica,fascista e cientificista. Essa corrente cientificista desempenhar papel centralnas diretrizes do governo Vargas durante o Estado Novo. Ao lado das idias eposturas nacionalistas, antiliberais e anti-democrticas, prprias dos autori-trios nos dois pases, Beired identificou as singularidades de cada uma dassituaes. Em sua concluso, afirma que apresentamos certas analogias en-29 Ver a tese de doutoramento de Gabriela Pellegrino Soares, A semear horizontes: leiturasliterrias na formao da infncia, Argentina e Brasil (1915-1954), Histria Social, FFLCH,USP, 2002, na qual a autora faz uma inspirada anlise sobre literatura infantil, educadorasculturais, experincias bibliotecrias e editoras nos dois pases. Outra referncia interes-santeolivrodeMarianaMartins Villaa,Polifoniatropical.Experimentalismoeengajamento na msica popular (Brasil e Cuba, 1967-1972), So Paulo, Humanitas/His-tria Social, 2004, em que compara o movimento Tropicalista no Brasil e a Nueva Trovaem Cuba. Conferir, ainda, o original trabalho de Marco A. Pamplona, Revoltas, repblicase cidadania, Rio de Janeiro, Record, 2003, em que discute esses temas nas cidades do Riode Janeiro e de Nova York no perodo da consolidao da ordem republicana. E, tambm,Maria Ligia Coelho Prado, Universidade, Estado e Igreja na Amrica Latina e Nature-za e identidade nacional nas Amricas. In: Amrica Latina no sculo XIX: tramas, telas etextos. So Paulo; Bauru: Edusp; Edusc, 1999.30BEIRED, JosLuisBendicho.Sobosignodanovaordem.Intelectuaisautoritriosno Brasil e na Argentina (1914-1945). So Paulo: Edies Loyola, 1999.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3325tre ambos os nacionalismos de direita, analisamos as configuraes dos cam-pos intelectuais, estudamos algumas de suas propostas e representaes fun-damentais, constatamos a existncia de semelhanas e diferenas, e busca-mos explic-las historicamente. 31O livro de Capelato compara varguismo e peronismo, tendo como ques-to central compreender o carter autoritrio da propaganda poltica veicu-lada pelos meios de comunicao, educao e produo cultural para conquis-tar os coraes e mentes.32 Recortou grandes questes, como identidadenacional, cidadania e cultura poltica, analisou um conjunto de fontes da mesmanatureza produzidas nos dois pases e desvendou semelhanas e diferenasentre as prticas autoritrias varguista e peronista. Mostrou que algumas dasdiferenas entre os dois regimes podem ser explicadas pela deciso de Vargasde absorver muitas das idias da direita cientificista (em aberto dilogo comBeired). Nas suas concluses, acompanha-se o dilogo acima mencionado:A anlise da propaganda poltica procurou apontar essas diferenas: enquantoa propaganda peronista empenhou-se em mostra a nova Argentina como umasociedade mais justa e mais livre da dependncia externa, a propaganda esta-donovista explorou os aspectos positivos da construo de um Estado Novomais organizado e eficaz na conquista do progresso, considerado base indispen-svel para a edificao de uma sociedade mais justa no futuro. Essas diferen-as de objetivos e prioridades permitem esclarecer por que o peronismo sedefiniu como uma revoluo social enquanto o advento do estado Novo eraidentificado como uma revoluo poltica concentrada na reforma do Esta-do.33 Interessantes tambm so suas reflexes sobre as heranas dos movi-mentos varguista e peronista e a persistncia dos mitos em torno deles. Enquan-tonoBrasil,ovarguismoumalembranabemconstrudapelamemriaoficial, com o auxlio da mquina de propaganda e recordada com nostalgiapelos trabalhadores que foram beneficiados pelas leis trabalhistas do gover-no, na Argentina, o peronismo muito mais que uma lembrana, constituin-31 Idem, ibidem,p.277.32 CAPELATO, Maria Helena R. Multides em cena. Propaganda poltica no varguismoe no peronismo. Campinas: Papirus, 1998. p.19.33 Idem, ibidem, p.283.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3326do-se em uma fora poltica sustentada pela permanncia de mitos que aindamobilizam a sociedade.O recente livro de Boris Fausto e Fernando Devoto, Brasil e Argentina.Um ensaio de histria comparada (1850-2002) se apresenta com outra pro-posta. Tem o formato de um manual de referncia, abrangendo um longo pero-do histrico.34 Os autores esperam, como afirmam na introduo, que histo-riadores e cientistas sociais encontrem [com a leitura do livro] alguns novospontos de reflexo, ou pelo menos lugares diferentes de onde olhar os proble-mas de suas respectivas naes e que aqueles que atuam em esferas de deci-so possam encontrar nesse passado motivos adicionais para uma colabora-o mais estreita entre as duas naes.35 Ao lado dos mritos incontestes dotrabalho, a ausncia de um seleto e substantivo elenco de problemas coloca-dos de antemo aos pesquisadores produz um resultado final mais prximo justaposio das duas histrias nacionais, marcando-se semelhanas e dife-renas entre os dois pases.Globalizao e histrias conectadasDa mesma forma que o ambiente ps Primeira Guerra Mundial explica,em parte, as crticas de Henri Pirenne e de Marc Bloch ao confinamento doshistoriadores dentro dos espaos nacionais, os tempos recentes de avano daglobalizao propicia a discusso sobre a construo de histrias conectadas.Em artigo publicado em 2001, Les mondes mels de la monarchie catholiqueet autres connected histories, Serge Gruzinski defende a ampliao do olhardo historiador para alm da nao, propondo que se estabeleam conexes.36A expresso histrias conectadas foi proposta por Sanjay Subrahmanyam,historiador indiano radicado na Frana, que desmonta o que considera ser avisotradicionaldahistoriografiaeuropiasobreomundoasitico.3734FAUSTO,BoriseDEVOTO,Fernando.Brasile Argentina.Umensaiodehistriacomparada (1850-2002). So Paulo: Editora 34, 2004. De acordo com tal formato, noh no livro notas de rodap, nem concluso.35Idem, ibidem, p. 28.36GRUZINSKI,Serge.LesmondesmlsdelaMonarchiecatholiqueetautresconnected histories Op.cit.37 SUBRAHMANYAM,Sanjay. Connectedhistories:notestowardsareconfigurationof early modern Eurasia. In: LIEBERMAN, Victor (Ed.). Beyond Binary Histories. Re-imagining Eursaia to c. 1830. Ann Arbor: The University of Michigan Press, 1999.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3327Enfatiza que a histria da Eursia moderna no pode ser vista como mero pro-duto ou resultado do comando da histria europia, sem a qual, suposta-mente, no existiria. Prope que ela seja entendida em suas conexes com aEuropa e com as outras partes do mundo, sem que se estabeleam plos, umdeterminante e outro subordinado.38Essa perspectiva se aproxima da indicada por Michel Espagne que elaborou oconceito de tranferts culturels para pensar conexes entre duas culturas diferentes.Para ele, devem-se buscar objetos de pesquisa que faam aparecer pontos de contatoreais e no simplesmente formais entre duas sociedades distintas. Por exemplo, apresena estrangeira num pas, fenmenos de fronteira, figuras de mestiagem cul-tural. Espagne enfatiza a importncia da comparao, mas alerta para a necessida-de de fugir da projeo de um ponto de vista nacional sobre o outro.39Voltando ao artigo de Gruzinski, nota-se que sua escolha para demons-trar a eficcia da tecitura de conexes histricas precisa: o momento da hist-ria ibrica no qual aconteceu a unio das coroas espanhola e portuguesa.Critica a histria comparada, afirmando que foi uma alternativa para alargaros horizontes dos historiadores, mas que, muita vezes, propiciou o ressurgi-mento insidioso do eurocentrismo. Aponta algumas excees, como o j cita-do livro de Srgio Buarque, Razes do Brasil, mas que se constituem segun-do ele - em casos isolados da produo latino-americana.Associa a viso eurocntrica daqueles que trabalham com a histria daAmrica Latina com as perspectivas dualistas: o ocidente e os outros, os es-38 Chakrabarty, indiano radicado nos Estados Unidos, prope que o olhar do historiadornofiquerestritoaoespaonacional,criticaaperspectivaeurocntricaedefendeumaabordagem transnacional, uma vez que h contatos constantes entre culturas e socieda-des. VerCHAKRABARTY,Dipesh.ProvincializingEurope.Postcolonialthoughtandhistorical difference,Princeton,PrincetonUniversityPress,2000.39ConformeMichel Trebitch:OataqueprincipaldeM.Espagne,apoiadoessencial-mente no exemplo franco-alemo, se dirige ao fato de que a comparao opera sempredentro de um ponto de vista nacional, o que impede de elaborar verdadeiras ferramentascomparativas,confinando-sedentrodecategoriaspuramenteabstratas.TREBITCH,Michel.Lhistoirecomparedesintellectuelscommehistoireexprimentale,inTREBITCH, Michel e GRANJON, Marie-Christine (eds.). Pour une histoire comparedes intelectuels. Bruxelas, Complexe, 1998. Ver ESPAGNE, Michel. Sur les limites ducomparatismeenhistoireculturelle. Genses,no.17,setembrode1994. Ver,ainda,BEIRED,JosLuisB.Aconstruodeidentidadesnacionaisnomundoamericanoeibrico.Mimeo.,2005.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3328panhis e os ndios, os vencedores e os vencidos, em suma, as anlises siste-maticamente concebidas em termos de alteridade. A soluo seria trabalharcom histrias conectadas, pois elas so mltiplas e ligadas entre si, comuni-cando-se umas com as outras. Tal postura est de acordo com a elaborao deseu conceito de mestiagem resultante do encontro de vrios universos cultu-rais na Amrica - o indgena, o europeu, o africano, o asitico que se mani-festa na produo das tcnicas, das artes e das leis.Valoriza a figura dos passeurs, mediadores entre os diversos grupos e soci-edades e portadores das possibilidades das conexes. Para demonstrar sua pers-pectiva, afirma que as fontes referentes histria da Nova Espanha desvendampaisagens misturadas, sempre imprevisveis e nos confrontam com processosque pertencem a vrios espaos ao mesmo tempo. 40 Pensando um mundo emtrnsito para a globalizao e insistindo nas ligaes, lana uma srie de exem-plos de homens que circulavam entre os vrios continentes. O dramaturgo JuanRuiz de Alarcn atravessou o Atlntico trs vezes e seu rival, Tirso de Molina,duas. O mestio peruano Garcilaso de la Vega viveu na Europa e publicou, emLisboa, seu livro sobre a memria dos incas. A dilatao planetria dos espaoseuropeus pode ser medida pela constatao de que alguns textos europeus eramlidos por todo o mundo. Uma famosa e divulgada obra de grande pblico,como Diana de Montemayor, encontrava leitores tanto s margens tropicais dabaia de Salvador quanto nas vilas espanholas das Filipinas. Uma parte da pri-meira edio de Dom Quixote ecoava nos Andes. As fbulas de Esopo foramtraduzidas ao nahuatl na cidade do Mxico e ao japons em Nagasaki... 41A histria comparada, desse modo, para ele, perde a riqueza e as nuances,fazendo permanecer a diviso entre os diversos mundos. Aabordagem queenfatiza as conexes tambm se coloca na contramo dos modelos monogr-ficosaoestilonorte-americano,quesecaracterizampelaverticalidade.Gruzinski admite, finalmente, que as histrias conectadas supem que o his-toriador tenha enorme erudio e notvel maturidade intelectual, o que a res-tringe a uma minoria de estudiosos.40 GRUZINSKI, Serge. O pensamento mestio. Trad. Rosa F. dAguiar. So Paulo: Com-panhia das Letras, 2001.41GRUZINSKI,Serge.LesmondesmlsdelaMonarchiecatholiqueetautresconnected histories Op. cit.p.93.Ma r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3329Tambm inspirado pelos tempos atuais de globalizao, o historiador portu-gus Antonio Nvoa, ao contrrio de Gruzinski, encontra na histria comparadauma importante contribuio para se pensar os temas referidos educao. Nolivro publicado em 1998, Histoire et comparaison. Essais sur lducation, anali-sa problemas das relaes entre as esferas locais e globais. Afirma que a histriada educao, disciplina nascida no sculo XIX, se afinava com o tempo histricomarcado pela consolidao dos sistemas nacionais de ensino. A noo de identi-dades nacionais foi constitutiva dos projetos educativos que pretendiam enqua-drar os cidados dos novos Estados/naes. Uma reflexo comparada fazia partedesse conjunto para pensar as diferenas e semelhanas entre os diversos siste-mas nacionais. No mundo atual, globalizado, continua a entender que interes-sante a comparao. Aponta para a existncia de um carter transnacional de fe-nmenos, como a escola de massas ou a organizao de currculos. Conclui quea histria comparada da educao tem um longo caminho a ser percorrido,notadamente no que concerne produo de instrumentos metodolgicos maispertinentes. Mas impossvel passar ao largo das potencialidades desta linha dereflexo. Num mundo que, apesar do recrudescimento do nacionalismo, no podemais ser imaginado no interior das fronteiras nacionais, til pensar uma histriaque se projeta numa pluralidade de espaos e lugares de pertencimento. 42Para concluirFazendo um balano final, indiscutvel a constatao de que so poucosos estudos produzidos no Brasil que buscam comparar o Brasil aos demais pa-ses da Amrica Latina.43 Mas creio que tal comparao rica em potencialidadese contribuiria para a reflexo sobre novos problemas e questes. 4442NVOA, Antnio.Histoireetcomparaison.Essaissurlducation.Lisboa:Edu-ca,1998.p.48.43 Sobre a distncia que separa o Brasil dos demais pases da Amrica Latina, ver: PRADO,Maria Ligia Coelho. O Brasil e a distante Amrica do Sul. Revista de Histria, no.145,2o.semestre de 2001, pp. 127-149; GUIMARES, Manuel Lus Salgado. Nao e civiliza-o nos Trpicos: o Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro e o projeto de uma HistriaNacional. Estudos Histricos, no. 1, 1998; CAPELATO, Maria Helena R. O gigante bra-sileiro na Amrica Latina: ser ou no ser latino-americano. MOTA, Carlos Guilherme (org.).Viagem incompleta. A grande transao, So Paulo, Editora SENAC, 2000.44 importante salientar que h um Programa de Ps-Graduao em Integrao Latino-Americana (PROLAM) na Universidade de So Paulo, que interdisciplinar e mantmMa r i aLi gi aCoel h o Pr a do /Revista de Histria 153 ( 2-2005) , 11- 3330Penso, ainda, que a escolha da histria comparada no exclui a aborda-gem de histrias conectadas. A nica crtica metodolgica indicada por SergeGruzinski com relao comparao refere-se dificuldade de escapar daviso eurocntrica e dos modelos dicotmicos. Do meu ponto de vista, pos-svel fazer histria comparada e permanecer crtico das vises eurocntricase dicotmicas. Assim, entendo que h mais complementao entre compara-o e conexo, do que excluso. Voltando a Marc Bloch, seria extremamentefecundo, com o rigor e os procedimentos metodolgicos prprios do ofciodo historiador, buscar a unidade do problema em duas ou mais sociedadeslatino-americanas e promover as devidas conexes globalizantes.Estou certa de que a produo historiogrfica brasileira se enriqueceria seolhasse com mais ateno para as possibilidades da comparao e das conexes.BibliografiaALMOND, Gabriel A.; VERBA, Sidney. The civic culture: political attitudes anddemocracy in five nations. Boston: Little Brown and Company, 1965.ATSMA,Hartmut;BURGUIRE, Andr.(Orgs.).MarcBlochaujourdhui:histoire compar et sciences sociales [Contributions au Colloque internationalorganisParisdu16au18juin1986parlcoledeshautestudesensciences sociales et lIstitut historique allemand]. Paris: d. de lcole deshautes tudes en sciences sociales, 1990.BEIRED, Jos Luis Bendicho. Sob o signo da nova ordem. Intelectuais autoritriosno Brasil e na Argentina (1914-1945). 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