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Page 1: pesquisa Cabinas de tratores Barulho sob controle · ção de máquinas e tratores agrícolas. Priori-zando o desempenho e a produtividade, os fatores menos valorizados no projeto

Julho/Agosto 200220

Máquinaswww.cultivar.inf.br

Apartir da década de 60 inicia amodernização da agricultura bra-sileira, pelo incremento da utiliza-

ção de máquinas e tratores agrícolas. Priori-zando o desempenho e a produtividade, osfatores menos valorizados no projeto dos tra-tores agrícolas foram o conforto e a seguran-ça, em detrimento da saúde dos operadores.O projeto dos tratores agrícolas centrava-se namaximização da eficiência do trator, em des-peito ao fator humano. Atualmente, há umatendência para a melhoria das condições deergonomia e segurança do operador, visandomelhorar as condições de trabalho, diminuiro nível de fadiga ao qual este está exposto, di-minuir o risco de acidentes e aumentar a pro-dutividade e qualidade do trabalho.

Dentre os diversos fatores relacionados àergonomia e à segurança a serem observadosdurante o projeto de um trator agrícola, me-recem destaque as condições de visibilidade eexposição ao ruído.

No projeto de máquinas agrícolas, os fa-tores mais importantes para aumentar a efici-ência, a segurança e diminuir a fadiga dos

Cabinas de tratores

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operadores são: adequada sonorização, au-mento da visibilidade e do conforto térmi-co, diminuição das vibrações e melhoria nasposições dos controles e instrumentos. Nes-te sentido, a cabina para tratores foi umimportante avanço tecnológico.

Atualmente, ainda é pequeno o núme-ro de tratores agrícolas que dispõem origi-nalmente deste, digamos, acessório impor-tante. Dizemos acessório, pois as cabinasnão são essenciais ao funcionamento do tra-tor, embora venham a melhorar as condi-ções de conforto do operador. O mercadonacional é crescente, principalmente paraas máquinas envolvidas em tratamentos fi-tossanitários e em algumas regiões onde ascondições climáticas favorecem. No mer-cado europeu e norte americano este equi-pamento é quase obrigatório.

Talvez uma pessoa que não entendessebem o sistema agrícola brasileiro pudesseperguntar: Por que se usa na Europa e Es-tados Unidos e não se usa no Brasil, se osargumentos são favoráveis à saúde do ope-rador?

A cabina para tratores foi umimportante avanço tecnológico

Cabinas de tratores

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Necessitaríamos tempo e espaço pararealizar um raciocínio completo e abran-ger todas as questões que surgem na dis-cussão deste assunto. Mas começaremospela questão econômica. Um trator é umbem agrícola, útil pela sua capacidade detrabalho, e com um custo de aquisição quereflete no custo horário e que, por sua vez,influi no custo de produção dos produtosagrícolas em que ele está envolvido. Comoo preço do nosso produto agrícola é baixo,pois necessitamos concorrer em nível in-ternacional, precisamos trabalhar com mí-nimos custos de produção e re-tornando ao raciocínio inicial,com máquinas baratas e eficien-tes. Um segundo ponto a serconsiderado é o cultural. O ope-rador de máquinas é geralmen-te mal remunerado e de um bai-xo nível cultural, em poucos ca-sos é o dono do negócio. Assim,presume-se que ele não necessi-te conforto por ser rude e resis-tente. Dizem, freqüentemente,que nos países desenvolvidos éo dono e a sua família que tra-balha, por isto existe tanto con-forto nas máquinas. Talvez tudoisto tenha uma verdade, pelomenos relativa. O terceiro aspec-to é legal. Enquanto a legislaçãobrasileira for tolerante quantoaos aspectos de exigência de me-lhores condições de trabalho aosoperadores rurais, de ninguémvai partir a iniciativa de melho-rar as condições de conforto esegurança dos operadores. Porexemplo, na Holanda o limitepara as concentrações de pó noambiente de trabalho é de 15mg/m3, independentemente seé trabalhador da indústria ouagricultura. Assim, o produtor rural de lánão vê outra alternativa que não comprarum trator com cabina, pois em algumasoperações agrícolas, como o preparo dosolo, as concentrações de pó são em média146 mg/m3, com picos de 577 mg/m3,conforme medições feitas. Nestas condi-ções extremas, mesmo com cabinas pres-surizadas, o nível chega a quase 25 mg/m3, na zona ocupada pelo operador.

CONFORTO

O conforto é algo relativo, pois depen-de das condições do posto de trabalho edas características do ser humano. Quan-to à temperatura, conceitua-se como con-forto térmico o estado mental que expres-sa a satisfação do operário com o seu am-biente térmico, e a zona de conforto tér-

mico situa-se entre 24 e 27ºC para a maioriados indivíduos. Existem equações matemáti-cas muito complexas que expressam o confor-to térmico, e algumas características do ambi-ente do operador influem diretamente sobreele, como:

• Pressurização da cabina;• Filtragem do ar que entra;• Ventilação, ou seja, a movimentação do ar;• Aquecimento ou esfriamento do ar e doambiente;• Vedação.

PROJETO DE CABINAS

Para o projeto de uma cabina de uso agrí-cola é imprescindível que haja possibilidadede circulação fechada de ar, isto é, que se im-peça totalmente a entrada de ar externo, re-circulando o ar interno, útil nos casos de apli-cação de produtos agrícolas. Desta maneira,se impede a intoxicação do operador pelo usodo ar condicionado ou mesmo do ventiladordurante a aplicação. Também devem ser colo-cados filtros na entrada do ar externo e na sa-ída do ar condicionado.

Quanto à vibração, que se transmite pelospontos de ancoragem da estrutura, as cabinasdevem ser montadas sobre plataformas uni-das ao trator por meio de “silents blocks”, quesão estruturas de isolamento à vibração, cujaeficiência depende do grau de transmissibili-dade da borracha e da freqüência da vibração

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A cabina também protege o operador do sol,chuva, calor e gases emitidos pelo motor

f“O operador de máquinas é geralmente mal remunerado e de umbaixo nível cultural, em poucos casos é o dono do negócio”

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que se quer diminuir. O piso da plataformatambém deve ser revestido pelos dois lados, ode baixo e o que serve de apoio ao operador.

No projeto de cabinas deve ser evitada acolocação de chapas de grande dimensão, semreforços, evitando a ressonância que provocaruído.

É muito importante a perfeita compatibi-lidade entre a posição da escada e a aberturada porta, que deve ser para trás.

Geralmente, a estrutura de uma cabina écomposta de três marcos, em cada lado, uni-dos por um teto na parte superior:

• O marco dianteiro deve servir de encai-xe para o pára-brisa e de batente para a porta;

• O marco central contém as dobradiçasdas portas e, junto com o marco traseiro, for-ma uma pequena janela lateral;

• O marco traseiro suporta a janela trasei-ra e suas dobradiças e fechos.

Um dos fatores de encarecimento das ca-binas dos tratores são os vidros que, em umbom projeto, devem ser curvos para evitar apresença de colunas suplementares.

No mercado atual de cabinas para trato-res, existem duas opções:

• Cabinas originais, com arco de seguran-ça incorporado - Estas cabinas, geralmentefornecidas pelos próprios fabricantes de tra-tores, contêm o arco de segurança incorpora-do nos próprios marcos, geralmente forman-do uma estrutura de quatro pontos, ocupan-do o marco dianteiro e o traseiro. Desta for-ma, ocupam melhor o espaço e são melhoresquanto à visibilidade;

• Cabinas alternativas, sem arco de segu-

rança - Geralmente são fornecidas por fabri-cantes especializados em cabina que costu-mam utilizar duas opções:

§ Sem arco de segurança - Estas cabi-nas podem adaptar-se ao arco de seguran-ça existente do trator, montando-se porfora ou por dentro da estrutura contra ocapotamento. O problema é que estas tam-bém podem ser montadas sem o arco desegurança, o que de certa forma é inadmis-sível, pois oferecem uma idéia de proteçãoquando na verdade não a proporcionam.

§ Com arco de segurança - Possuem oseu próprio arco de segurança incluído nacabina e adaptado para os diferentes mo-delos de trator.

Atualmente, existem algumas possibilida-des de compra de tratores com cabinas nonosso país e outras de equipar-se um tratorque tenha sido comprado sem este item.

VISIBILIDADE

O campo visual é definido como sendo aárea que pode ser visualizada pelo operador,com o mesmo sentado no banco do trator. Umbom campo visual é considerado essencialdevido a diversos aspectos. Os dois principaisreferem-se ao tempo de reação e à fadiga. Sobboas condições de visibilidade, o operador temuma capacidade de reação mais rápida, o quecolabora para a diminuição dos riscos de aci-dentes e, também, aumenta a eficiência dotrabalho. É importante salientar, ainda, queeste tempo de reação aumenta sensivelmentea partir do momento em que o operador en-

contra-se fatigado em seu traba-lho. Esta fadiga pode ser oriunda,dentre outras fontes, do própriocampo visual inadequado, o queleva o operador a movimentar-seconstantemente para visualizardeterminadas partes do conjuntotrator-implemento. Como conse-qüência, o operador fica mais ex-posto a acidentes e a doenças ocu-pacionais.

O campo visual pode ser in-fluenciado por diversos fatores:altura do assento em relação à pla-taforma, porte do trator, caracte-rísticas antropométricas do ope-rador, presença, localização, ângu-lo em relação à direção de visão elargura de partes componentes,ângulo de inclinação da partefrontal do trator, entre outros. Por-tanto, a inclusão de itens relacio-nados ao conforto e segurança,como estruturas de proteção con-tra o capotamento e as cabinas,tende a diminuir o campo visual.O operador deve poder olhar paravárias posições durante o traba-

lho, sendo prejudicado pela presença de colu-nas, espelhos, maçanetas, reforços etc.

RUÍDO NO TRABALHO

Durante o trabalho, os operadores são ex-postos a fatores insalubres, dentre os quaisdestaca-se o ruído, pois este pode causar da-nos físicos e mentais irreversíveis como a per-da de audição, que pode ocorrer de forma gra-dual. Analisando 111 tratoristas, Fernandes

(1991) detectou 59,8% destes com problemasauditivos. A precocidade desta perda auditivademonstra a severidade da exposição, sendoque 42,9% de pessoas com até cinco anos detrabalho em condições insalubres já apresen-tam perda de audição induzida por ruído.Ruídos acima de níveis considerados salubres,além de prejudicar a saúde do operador, afe-tam negativamente seu desempenho no tra-balho e aumentam o risco de acidentes, poisreduzem sua capacidade de concentração.

Fisicamente, o ruído pode ser definidocomo sendo um som ou uma mistura com-plexa de sons, que causam uma situação dedesconforto. Na prática, o som no ar é umavariação na pressão atmosférica normal.

A unidade mais usual para a medição doruído é o Decibel (dB). Porém, para melhoravaliar a sensação causada, deve-se expressá-lo em pressão sonora. Isto porque um aumen-to de 6 dB duplica a pressão sonora, de ondese conclui que pequenos acréscimos no nívelde ruído, em dB, acarretam em um grandeaumento de pressão sonora.

A perda da capacidade auditiva é funçãodo tempo de exposição e do nível de ruído,sendo também importante a freqüência deexposição e a sensibilidade de cada operador.É importante considerar, ainda, que as pecu-

O ruído captado nas cabinas diminuiu de91,4 dB, em 1971, para 79,6 dB, em 1984

Sistema de circulação de argarante conforto e segurança

“O campo visual é definido como sendo a área que pode servisualizada pelo operador, com o mesmo sentado no banco do trator”

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Medições de ruído no posto do operador, com intervalo de treze anos,durante ensaios de tratores em Nebraska, EUA

1971

1984

Sem cabina a 75% da potênciaCom cabina a 75% da potência

Sem cabina a 75% da potênciaCom cabina a 75% da potência

95,2 dB (A)91,4 dB (A)

94,0 dB (A)79,6 dB (A)

Partindo-se de informações internacionais, quase todas as legislações dospaíses fixam um nível máximo de ruído que o operador pode ser exposto,em função do tempo de exposição

Tempo de exposição máximo, h

oitoseisdois

Nível de ruído, dB(A)

9092

100

liaridades de cada operação agrícola causamvariação na carga a qual está submetido o tra-tor e no ruído emitido. Em função desses fa-tores, fica difícil estabelecer limites rígidos deinsalubridade. O limite máximo, para umajornada média de trabalho de 8 h, é de 85dB, sendo que a cada 5 dB de acréscimo aoruído, reduz-se em 50% a máxima exposi-ção diária permissível.

A origem do ruído em tratores com ca-binas são:

• Transmissão pela ancoragem da estru-tura da plataforma;

• Transmissão pelos batentes das portas;• União entre vidros das janelas e es-

trutura;• Circulação do ar da ventilação ou do

ar condicionado;• Entrada forçada de ar por orifícios e

operador aos ruídos, trazem os maiores be-nefícios, conseguem também isolar o ope-rador de injúrias como sol, chuva, poeira,gases e calor do motor, deriva de defensi-vos, vibrações, e outros.

Poucas são as avaliações feitas em nívelnacional, visando quantificar o efeito redu-tor do ruído pelas cabinas. Dados extraídosde trabalhos estrangeiros mostram reduçõessignificativas. Pesquisas realizadas em Ne-braska, EUA indicam que o aperfeiçoamen-to das cabinas vem tornando-as mais efici-entes na redução do ruído, pois, em umacomparação entre cabinas fabricadas com 13anos de intervalo, entre 1971 e 1984, houveuma boa evolução.

frestas.Estudos sobre

os ruídos produzi-dos pelos tratoresvêm sendo feitosdesde a década de30. Os níveis en-contrados estão emuma faixa alta, sen-do que operá-lostorna-se insalubre.Ortiz (1989) ava-liou 128 tratores,em condições detrabalho, sendo en-contrados valoresmaiores de 90 dB,com a maior partedispersa na faixa de90-97 dB. Estes ní-veis de ruídos po-dem variar confor-me a marca, mode-lo, potência e rota-ção do motor; marcha, implemento, umidadee tipo de solo. Outros aspectos analisados fo-ram as fontes de ruídos. No motor, a exaustãofoi caracterizada como a principal, seguida dahélice, filtro e vibrações mecânicas.

Uma alternativa simples, para proteçãodo aparelho auditivo do operador, seria a uti-lização de protetores auriculares, porém da-dos de pesquisa revelam que somente 7,2 %dos operadores declaram utilizar algum tipode proteção nos ouvidos. A modificação daposição do escapamento e o redimensiona-mento foram estudados por Fernandes(1991). A maior redução no nível de ruídoencontrada foi de 16 dB, quando utilizado oescapamento redimensionado e recolocado naparte inferior do equipamento. Neste con-texto, as cabinas para tratores agrícolas,como forma de diminuir a exposição do

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José Fernando Schlosser,NEMA -UFSM