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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11& 13 th Women’s Worlds Congress(Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017,ISSN 2179-510X PERSPECTIVAS DE ADOÇÃO DE AÇÕES AFIRMATIVAS PARA MULHERES NA UNIVERSIDADE Sandro Augusto Silva Ferreira 1 Resumo: A virada de década da adoção das Ações Afirmativas nas IES vem sendo acompanhada por preocupações relacionadas ao momento político de reação conservadora com o golpe parlamentar de 2016. Este ano foi também o marco previsto para a aplicação integral da Lei 12.711/2012, que reserva 50% das vagas nas universidades para egressos de escola pública, com subdivisões internas de raça/etnia e renda, mas permitindo, por meio da autonomia universitária, a adoção de outras reservas sem prejuízo da primeira. Mesmo considerando a avaliação de que a adoção das cotas se configuraram numa conquista política e pedagógica, é preciso considerar que um conjunto significativo de movimentos sociais ainda demandam uma radicalização das ações afirmativas no sentido da sua ampliação e da sua qualificação quanto às políticas de permanência. Os movimentos feministas, especialmente aqueles organizados no âmbito do movimento estudantil, tem apresentado demandas próprias que vão desde a adoção de cotas para mulheres (em geral, e em perspectivas interseccionais) à construção de políticas de permanência e transformações acadêmicas que combatam as marcas do androcentrismo e sexismo no espaço científico universitário. Este estudo pretende avaliar o contexto atual das lutas por ações afirmativas e reforma universitária, identificando no tenso contexto político atual condições para a defesa das conquistas alcançadas, associadas à radicalização das ações afirmativas em direção das mulheres nas universidades. Palavras-chave: Ações Afirmativas. Políticas de Permanência. Cotas para Mulheres. Reforma Universitária. Os últimos quinze anos se configuram como um período marcado por transformações a nível nacional que apontaram para mudanças na expansão e na democratização da universidade pública brasileira. A implantação de ações afirmativas nas universidades ao longo deste período, e a promulgação da Lei de Cotas (Lei 12.711/12) são marcos deste processo. O estudo das concepções, práticas e políticas de ações afirmativas propostas e desenvolvidas neste período, e as suas identidades com as questões de gênero e sexualidade, não podem ser entendidas como algo unidirecional e localizado num determinado tempo histórico. Este estudo, ainda que voltado a avaliação específicadas políticas de uma universidade (a UFBA) frente ao tema da sexualidade e gênero, se arrisca diante de um quadro complexo de análise acerca das possibilidades de produção de ações afirmativas que radicalize a democratização do ensino superior; que encare o quadro conservador fortalecido com o golpe parlamentar de 2016; e que produza múltiplas ações de ingresso e permanência que amplie a presença numérica e epistemológica de mulheres e LGBT’s na universidade. 1 Professor da Universidade Federal do Sul da Bahia, Itabuna/BA, Brasil.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11& 13thWomen’s Worlds Congress(Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017,ISSN 2179-510X

PERSPECTIVAS DE ADOÇÃO DE AÇÕES AFIRMATIVAS PARA

MULHERES NA UNIVERSIDADE

Sandro Augusto Silva Ferreira1

Resumo: A virada de década da adoção das Ações Afirmativas nas IES vem sendo acompanhada

por preocupações relacionadas ao momento político de reação conservadora com o golpe

parlamentar de 2016. Este ano foi também o marco previsto para a aplicação integral da Lei

12.711/2012, que reserva 50% das vagas nas universidades para egressos de escola pública, com

subdivisões internas de raça/etnia e renda, mas permitindo, por meio da autonomia universitária, a

adoção de outras reservas sem prejuízo da primeira. Mesmo considerando a avaliação de que a

adoção das cotas se configuraram numa conquista política e pedagógica, é preciso considerar que

um conjunto significativo de movimentos sociais ainda demandam uma radicalização das ações

afirmativas no sentido da sua ampliação e da sua qualificação quanto às políticas de permanência.

Os movimentos feministas, especialmente aqueles organizados no âmbito do movimento estudantil,

tem apresentado demandas próprias que vão desde a adoção de cotas para mulheres (em geral, e em

perspectivas interseccionais) à construção de políticas de permanência e transformações acadêmicas

que combatam as marcas do androcentrismo e sexismo no espaço científico universitário. Este

estudo pretende avaliar o contexto atual das lutas por ações afirmativas e reforma universitária,

identificando no tenso contexto político atual condições para a defesa das conquistas alcançadas,

associadas à radicalização das ações afirmativas em direção das mulheres nas universidades.

Palavras-chave: Ações Afirmativas. Políticas de Permanência. Cotas para Mulheres. Reforma

Universitária.

Os últimos quinze anos se configuram como um período marcado por transformações a

nível nacional que apontaram para mudanças na expansão e na democratização da universidade

pública brasileira. A implantação de ações afirmativas nas universidades ao longo deste período, e a

promulgação da Lei de Cotas (Lei 12.711/12) são marcos deste processo.

O estudo das concepções, práticas e políticas de ações afirmativas propostas e

desenvolvidas neste período, e as suas identidades com as questões de gênero e sexualidade, não

podem ser entendidas como algo unidirecional e localizado num determinado tempo histórico. Este

estudo, ainda que voltado a avaliação específicadas políticas de uma universidade (a UFBA) frente

ao tema da sexualidade e gênero, se arrisca diante de um quadro complexo de análise acerca das

possibilidades de produção de ações afirmativas que radicalize a democratização do ensino

superior; que encare o quadro conservador fortalecido com o golpe parlamentar de 2016; e que

produza múltiplas ações de ingresso e permanência que amplie a presença numérica e

epistemológica de mulheres e LGBT’s na universidade.

1Professor da Universidade Federal do Sul da Bahia, Itabuna/BA, Brasil.

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Os estudos sobre Gênero e Ciência e o contexto acadêmico

Os estudos sobre as relações entre Gênero e Ciência tem sido muito produtivo nos últimos

anos. Obras como a de LondaSchienbinger (2001) nos oferecem um ótimo mapa do quanto a

academia criou mecanismos, nem sempre sutis, de exclusão das mulheres, em especial do campo

das chamadas “ciências duras”. O retorno a estes estudos é imperativo no atual momento por conta

da forte ampliação de vagas nas universidades nos últimos 10 anos (muito em decorrência do

REUNI), e da destacada participação feminina neste processo. É verificado um intenso processo de

feminilização do ambiente universitário e científico, porém com variações que reforçam a presença

de mecanismos androcêntricos ainda atuantes na universidade.

Assim como é possível identificar um processo acelerado de feminização de algumas

áreas, marcadas por uma presença numérica, mas também epistemológica, de caráter qualitativo, em

outras áreas sequer é possível apontar uma feminilização por conta de uma reduzida (e

desestimulada) presença de mulheres em seus quadros discentes, docentes e de pesquisadores.

...levaram a postular a existência de ao menos duas grandes maneiras de entender o

fenômeno da feminização: uma perspectiva fundamentalmente quantitativa, preocupada em

descrever e mensurar o fenômeno que denominamos como feminilização, e uma

perspectiva fundamentalmente qualitativa, que procura compreender e explicar os

processos, a qual denominei feminização propriamente dita. A nosso ver, mesmo quando as

expressões feminilização e feminização são até hoje, indistintamente, utilizadas na

literatura especializada, sua diferenciação é cientificamente pertinente e politicamente

relevante. Sem dúvida, os aspectos quantitativos são intrínsecos aos processos de

transformação da composição sexual das profissões. De outro lado, os aspectos qualitativos

da transformação das profissões, que dizem respeito à adstrição de certas características

generificadas, não são tão evidentes e requerem um pensamento analítico mais completo,

complexo e sofisticado. (YANNOULAS, 2011, p. 273)

Ao analisarmos estes processos recentes identificaremos um paradoxo evidente: Porque

essa ampliação de vagas e aumento da presença feminina nas universidades não tem gerado uma

alteração significativa do clássico desequilíbrio entre homens e mulheres nos espaços de direção de

pesquisas e mesmo na docência?

Da presença feminina na ciência a uma ciência feminista

Há um importante debate no campo dos estudos feministas sobre as diferenças entre uma

maior presença feminina na ciência e o desenvolvimento de uma ciência feminista. Essa percepção

é fundamental, já que os meios de inserção das mulheres na ciência muitas vezes impõem uma

autonegação enquanto sujeito e uma transformação destas em representantes do masculino na

ciência, contribuindo para uma reprodução do androcentrismo, já fortemente estabelecido.

Schienbinger (2001) destaca que esta tendência à adaptação das mulheres aos modelos

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teóricos e metodológicos vigentes está associada a uma espécie de canonização da ciência,

tornando-a não apenas pura, mas acima do bem e do mal. Portanto, por mais que os estudos

bibliométricos recentes identifiquem um crescimento da presença feminina na ciência, inclusive nas

ciências duras, é preciso avaliar mais atentamente qual o significado deste processo, e quais

mudanças epistemológicas podem estar ocorrendo nos diversos campos do conhecimento científico.

Esses estudos ignoraram que mulheres e homens têm trajetórias diferenciadas e que é

necessário conhecer os dados por sexo das situações analisadas para compreender o papel

de cada um no mundo científico e tecnológico. Tal critério, sob aparente neutralidade, de

fato, iguala os que não são iguais no acesso às carreiras científicas e tecnológicas. (MELO;

OLIVEIRA, 2006, p. 304)

Em geral, há um certo otimismo com estes dados, com a percepção de que, como um

processo contínuo, essa maior presença das mulheres na universidade venha a significar, em breve,

uma melhor posição de liderança em pesquisa científica. Melo e Oliveira deixa transparecer este

otimismo quando destaca que “há uma nítida tendência do avanço dessas pesquisadoras na

direção da maior qualificação e habilitadas a participar soberanamente, e não de forma

subordinada, nos grupos de pesquisa nacionais”. (2006, p. 305).

O que significaria de fato participar soberanamente da produção científica nacional?

Apenas ter maioria numérica e a liderança destes grupos? Se nos voltarmos para a crítica

epistemológica feminista, perceberemos que esta inserção apenas numérica tende a legitimar as

estruturas conceituais e políticas da ciência moderna, muito disposta hoje a se repensar em vários

campos, menos no que tange ao seu caráter androcêntrico e heteronormativo.

A StandpointTheory de Sandra Harding nos oferece muitas pistas dos riscos de abandonar,

em nome de uma inserção simples, os pressupostos da epistemologia feminista.

O pior de tudo, o compromisso da ciência com neutralidade social desarmou o potencial

cientificamente produtivo das investigações politicamente engajadas com os grupos

oprimidos e, mais geralmente, os projetos culturalmente importantes de todos, em favor do

ocidente dominante, burguês, de supremacia branca, androcêntrico, de cultura

heteronormativa. (HARDING, 2004, p. 05)

Portanto, uma presença feminina na ciência e na universidade deve prezar, antes de

qualquer coisa, pela crítica ao suposto caráter de neutralidade da pesquisa científica, denunciar seu

disfarçado engajamento, propondo uma reorientação dos seus “princípios, conceitos e práticas que

possam superar as limitações de outras estratégias epistemológicas, no sentido de atender aos

interesses sociais, políticos e cognitivos das mulheres e de outros grupos historicamente

subordinados.” (SARDENBERG, 2002, p. 97).

Estratégias de combate aos estereótipos de mulher e ciência

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Não acredito que a melhor estratégia para aumentar a presença feminina, por exemplo, nas

ciências exatas se resuma apenas a estimulá-las ao ingresso nessas áreas, reificando o seu papel

destacado para o desenvolvimento da sociedade ou para a mobilidade social com seus melhores

salários. Também considero insuficiente o apelo a uma “história da ciência de celebridades”

rememorando as mulheres notáveis que se destacaram na ciência.

É bom lembrar que normalmente esquecemo-nos de contextualizar a vida dessas mulheres,

para com isso entendermos melhor porque não é só a condição de gênero que explica a exclusão das

mulheres nestas áreas, mas uma multiplicidade de fatores que nos levam necessariamente a

considerar o papel da interseccionalidade para a nossa análise.

Os modelos de análise interseccional surgiram a partir da articulação da teoria feminista

com as pautas e contribuições dos movimentos subalternizados do “terceiro mundo”, com destaque

para as mulheres negras e lésbicas. Nas últimas décadas, essa produção acadêmica tem se

fortalecido e se direcionado para uma maior intervenção política.

A interseccionalidade é apontada como uma das principais contribuições do pensamento

crítico feminista sobre desigualdades sociais, abarcando diversas possibilidades de aplicação

política e teórica. A perspectiva interseccional torna mais complexa a percepção da produção de

desigualdades em contextos culturais e políticos específicos, permitindo observações mais

articuladas com as realidades locais.

Associado a esta qualificação teórico-metodológica, é preciso também combater o

androcentrismo por dentro do próprio exercício científico, especialmente nestas áreas “ditas duras”

e suas “ditaduras” da neutralidade, sem classe, sem cor e sem sexo.

A partir daí a denúncia dos elementos estruturais que restringem a presença feminina nas

ciências assume centralidade nesta intervenção feminista. De acordo com Schienbinger três fatores

se destacam entre muitos:

1) a estruturação social em torno dos interesses e do poder masculino; 2) a total cisão entre

a esfera pública (dirigida para e pelos homens) e a esfera privada (dirigida para e pelas

mulheres); e 3) a dissociação entre o saber considerado científico do senso comum.

(SCHIENBINGER, 2001, p. 13).

Não há outro caminho senão a denúncia do caráter androcêntrico, ocidental e burguês da

ciência. A associação da crítica feminista às demais críticas radicais à ciência é fundamental, pois

abre espaço para revisões e mudanças institucionais nos objetivos da produção de

conhecimento.Sobre a separação entre público e privado, a universidade pode dar enorme

contribuição criando mecanismos que favoreçam a permanência de jovens pesquisadoras, como, por

exemplo, creches e bolsas de pesquisa.

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Muito das práticas metodológicas científicas são hostis ao perfil social hegemônico das

mulheres, mesmo no ocidente. Padrões de análise que exigem uma dedicação exclusiva à pesquisa

são cruéis com mulheres com filhas/os, considerando que o cuidado das/os filhas/os em nossa

sociedade é uma tarefa centralizada na mulher, onde muitas destas são obrigadas a abandonar ou

interromper suas pesquisas e, por consequência, sua ascensão na carreira.

O sistema científico e tecnológico sob a aparente neutralidade da ciência ignora que

mulheres e homens têm trajetórias diferenciadas e sob esse paradigma iguala os não iguais

no acesso às carreiras científicas e tecnológicas. (MELO; OLIVEIRA, 2006, p. 328)

As hostilidades a formas de produção de conhecimento não científicas acabam por

desqualificar saberes populares, de comunidades e/ou grupos étnicos específicos, muitas delas

lideradas por mulheres. Os dualismos comuns à ciência rejeitam ou minimizam formas de

observação e análise consideradas comuns às mulheres, como, por exemplo, o papel da emoção e da

subjetividade. Os caminhos da crítica feminista à ciência são difíceis, mas é fundamental aproveitar

as movimentações que buscam estimular uma maior presença de mulheres nos espaços de saber

para promover uma constante reflexão epistemológica a partir dos pressupostos da teoria feminista.

Fato é que persiste na ciência do século XXI a ideia de mulheres como atores “inferiores”

ou de menor desempenho na atividade e, portanto, estas têm menos mérito, prestígio,

menos possibilidades de ascender na carreira, o que corrobora, ainda mais, seu papel

inferior. Como, então, é possível interromper este ciclo? Esta é uma questão que,

aparentemente, não tem uma resposta única nem simples. É um desafio que deve ser

enfrentado não apenas por mulheres cientistas, mas, sobretudo, por seus pares homens, que

também devem ser sensibilizados para a relevância de se se criar uma ciência mais humana,

livre das transformações causadas pelos séculos de exclusão de mais da metade da

humanidade, as mulheres. (LETA, 2014, p. 150)

A análise da presença feminina e da crítica feminista no campo das ciências exatas é uma

tarefa complexa. O que percebemos é que grande parte das ações adotadas por dentro e por fora

destas áreas se resumem a divulgação profissional em feiras acadêmicas e eventos escolares. Urge

iniciativas mais incisivas que levem a uma revisão epistemológica e a quebra de estereótipos

sexistas comuns a esta área. É preciso que o movimento feminista encampe esta tarefa como

prioritária, intervindo em uma área importante por seu impacto econômico e político.

Temos alguns motivos para ficarmos otimistas, mas é preciso aproveitar este boom da

presença feminina nas universidades para conseguir resultados mais significativos neste campo

ainda fortemente marcado por práticas androcêntricas e sexistas, quando não misóginas.

A ciência avança e a participação feminina também e no futuro próximo haverá cientistas

de ambos os sexos e a ciência perderá a imagem misógina atualmente dominante. Mas, é

preciso lembrar que as mulheres ainda continuam sujeitas a padrões diferenciados por

gênero na escolha de carreiras profissionais próximas do estereótipo do ser mulher. As

mudanças lentamente vão legitimando-se e por isso é necessário que estudos e pesquisas

desmistifiquem a imagem partida feminina e que a ciência não é um lugar exclusivo dos

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homens, mas de quem tem talento para desempenhar estas funções, seja homem ou mulher.

(MELO; OLIVEIRA, 2006, p. 328).

Além da necessária discussão sobre a presença, o papel e os mecanismos de exclusão das

mulheres nas estruturas de poder e de produção de conhecimento cientifico na universidade, urge a

necessidade de discutirmos o papel da sexualidade na universidade e na ciência em geral. Parte do

ataque misógino às mulheres no campo científico está relacionado a representações sobre o sexo

que remontam a idade média. Estas acabam produzindo outros mecanismos de exclusão,

especialmente sobre aqueles que produzem práticas sexuais “desviantes”. A homossexualidade

ainda é um tabu no campo acadêmico, pois a sexualidade é encarada como algo reservado

exclusivamente ao âmbito privado. As decorrências disto nas práticas científicas e no cotidiano

acadêmicosão significativas, gerando trajetórias e afiliações diferenciadas entre as/os estudantes.

A Universidade e as formas de expressão da identidade

O espaço de sociabilidade universitária ainda carece de mais estudos, especialmente

considerando-se o conjunto de mitos produzidos em torno dele. A representação moderna da

universidade enquanto campo de estímulo à produção acadêmica autônoma em relação às estruturas

de poder da sociedade é um destes mitos.

O feminismo foi enfático ao denunciar o caráter androcêntrico da universidade, e o

movimento LGBT buscaram intervir neste espaço a fim de encontrar uma trincheira potencial de

combate à LGBTfobia. Para muito jovens esta trincheira se constituía como um gueto (MACRAE,

2005), dado que poderiam encontrar neste espaço as condições para a expressão da sua identidade,

ao mesmo tempo em que construiria sociabilidades, desejos e afetos, sem a vigilância tão agressiva

dos outros espaços de convivência. Deste modo, é fundamental compreendermos a importância da

trajetória universitária, pensada em seu amplo papel sociocultural.

O gueto é um lugar onde tais pressões são momentaneamente afastadas e, portanto, onde o

homossexual tem mais condições de se assumir e de testar uma nova identidade social.

Uma vez construída a nova identidade, ele adquire coragem para assumi-la em âmbitos

menos restritos e, em muitos casos, pode vir a ser conhecido como homossexual em todos

os meios que frequenta. Por isso é da maior importância a existência do gueto. Mais cedo

ou mais tarde, acaba afetando outras áreas da sociedade. (MACRAE, 2005, p. 56)

Apesar destas condições específicas, a universidade continua presa a estruturas normativas

que impõem, tanto as mulheres quando aos homossexuais, condições diferenciadas de integração e

desenvolvimento. Outros fatores associados ao tempo e ao espaço2 onde se constituem estas

2 Considero necessário o aprofundamento dos estudos sobre as peculiaridades do processo de interiorização recente do

ensino superior brasileiro. Apesar de não ser o centro da análise deste estudo, é possível afirmar que as dinâmicas

identitárias e as formas de expressão e organização do movimento LGBT nas universidades novas ou campus afastados

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universidades geram ainda mais dificuldades a mulheres e homossexuais.Essas condições

específicas geram formas de expressão identitária bem peculiares para mulheres e LGBT’s que, de

alguma forma, encontram meios de organização e intervenção na universidade, conquistando nos

últimos tempos mais espaço, ainda que a partir de uma geografia específica, com campos mais

abertos e outros menos abertos à sua presença.

Ainda que o espaço acadêmico, especialmente os centrais e mais estabelecidos, sejam

abertos para determinadas formas de expressão homossexual, a homossexualidade feminina

continua a ser a mais reclusa. A opção pela epistemologia do armário acaba sendo uma constante

como forma de reduzir a opressão cruzada pela condição de homossexual e mulher, já que esta

última encontra pouquíssimas formas de se recolher em um armário.

A universidade é um importante espaço de sociabilidade e, potencialmente, um

instrumento de mudança social. Com sua diversidade produz formas de sociabilidade variadas.

Estas variações ajudam a perceber como operam no campo acadêmico as políticas e os dispositivos

de sexualidade, com nuances peculiares quando envolvem questões de gênero e relações de poder

específicas. Indicam também elementos para se pensar a produção de identidades e as estratégias de

intervenção voltadas ao combate do sexismo, androcentrismo e LGBTfobia. Temos um campo em

disputa, que pode avançar como também pode regredir. As questões de gênero e sexualidade se

constituem num importante palco sobre o qual se desenvolvem grandes transformações nos modelos

de produção, retenção e difusão do conhecimento científico.

Ações afirmativas na UFBA: radicalizar os seus sentidos

Em 2004 a UFBA aplicou o seu sistema de cotas, com a peculiaridade de dar maior

destaque a origem educacional do candidato. Após a implantação do Programa de Ações

Afirmativas o perfil dos estudantes da UFBA passou a demonstrar uma participação maior de

negros e egressos de escola pública, produzindo uma maior diversidade étnica na universidade.

Consideradas estas vitórias – ainda parciais3 diante do quadro histórico de desigualdade

social e étnico-racial - cabe avaliar o seu significado para a promoção de políticas de diversidade de

gênero e sexualidade (também entendidas como ações afirmativas) completado os dez anos de

instalados em cidades do interior são diretamente influenciadas pelas dinâmicas culturais, religiosas e políticas locais,

tornando o espaço acadêmico nestes locais menos “livre” para a expressão da sexualidade dos estudantes, como

verificado nas unidades universitárias mais antigas e presentes em áreas metropolitanas. 3 Apesar da redução das desigualdades raciais na educação, verificada entre o ano 2000 e o ano 2010, os dados ainda

mostram que persistem diferenças significativas entre brancos e negros em quase todas as faixas educacionais,

especialmente no ensino superior e pós-graduação. (Relatório anual das Desigualdades Raciais no Brasil: 2009-2010)

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implantação da Política de Cotas4 na UFBA.

Duas abordagens nos permitirão perceber o quanto ainda temos que avançar nesta questão:

A primeira está relacionada as próprias medidas adotadas no campo das ações afirmativas para

combater as desigualdades de gênero na educação, que não desapareceram apesar dos dados que

demonstram a “feminilização” (YANNOULAS, 2011) do ensino superior. A segunda abordagem

identifica “a distância existente entre a linha de investigação sobre desigualdade racial e as

políticas de ações afirmativas no ensino superior, e a linha de investigação sobre as assimetrias

entre homens e mulheres no campo da ciência.” (BARRETO, 2015).

Insisto na necessidade de identificar o papel de ações afirmativas voltadas as questões de

gênero e sexualidade (inclusive reserva de vagas) para múltiplas transformações, de caráter político

e epistemológico, no quadro de desigualdades de gênero nas ciências.

Quanto a feminilização da educação superior verificada nas últimas décadas, é preciso

considerar as variações de raça e classe deste fenômeno e suas limitações no combate ao sexismo e

ao androcentrismo ainda fortes no campo acadêmico. Não há como ignorar que o crescimento

numérico de mulheres na educação tem potencial transformador, mas não garante igualdade de

condições de acesso, permanência e construção de carreira profissional entre homens e mulheres.

Evolução das matrículas no ensino superior por sexo (2009-2012)

2009 2010 2011 2012

Masculino 2.295.60 2.432.81 2.572.65 2.637.42

Feminino 2.820.28 3.016.30 3.174.10 3.286.41 Fonte: Mec/Inep. 5

Além das barreiras sociais ainda impostas às mulheres que buscam o ensino superior,

sobretudo as com maior idade, a trajetória universitária guarda condições mais difíceis para as

mulheres, sobretudo devido a permanência do machismo, do sexismo, do androcentrismo e da

violência a que elas são submetidas, tanto na sociedade quanto na universidade.

As representações simbólicas dos campos profissionais exercem forte influência nas

escolhas e trajetórias das estudantes, e são fortalecidas pela presença desigual também de docentes

de ensino superior nas áreas do conhecimento.

No que diz respeito ao ensino superior, embora o número de mulheres na população de

estudantes seja tão grande quanto, ou até mesmo maior, do que o de homens, a distribuição

de homens e mulheres entre os diferentes cursos e carreiras não é equilibrada. Os estudantes

do sexo masculino estão mais concentrados nos cursos da área de ciências exatas, enquanto

as estudantes do sexo feminino estão mais concentradas em cursos das áreas de

humanidades e ciências biológicas. (BARRETO, 2015, p. 46)

4 Resolução do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão, nº. 1 de 26 de julho de 2004. 5 Censo da Educação Superior 2012: Resumo Técnico. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira, 2014.

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Assim, a valorização dos dados gerais sobre a ampliação da presença feminina no ensino

superior induz ao erro de que não existem demandas de reparação, ou necessidades imediatas de

políticas de combate às desigualdades de gênero na universidade. Somos levados a crer que a

gradativa ampliação da presença femininaproduzirá transformações nos campos profissionais

naturalmente, como se as estruturas de dominação masculina, impregnadas nas colunas da

universidade e nas práticas da ciência moderna, fossem facilmente fragilizáveis com o tempo.

A ampliação da participação feminina nas universidades é cada dia maior. A UFBA

também acompanha esta mudança, mas mesmo com as ações afirmativas, persistem desigualdades

de gênero em parte das áreas mais prestigiadas socialmente.

Os dados atuais mostram que, nos cursos de alto prestígio analisados, a quantidade de

estudantes do sexo masculino representa mais da metade dos selecionados nos últimos nove

anos. Entre os anos de 2004 e 2012, Santos e Queiroz (2013) apontam que houve

significativa mudança a partir do ano de 2008: o percentual de mulheres em 2007 era de

48,4%; no ano seguinte, chegou a 52,2%; aumentando a cada ano, até alcançar, em 2012,

55,9%. No entanto, nos cursos de alto prestígio, o número de homens ultrapassa o de

mulheres, o que, segundo os autores, se explica pela construção histórica de profissões

exercidas por homens, mas também aponta para uma busca dessemelhante de carreiras de

alto prestígio entre os gêneros. (BARRETO, 2015, p. 50)

A luta política feminista e o debate acadêmico estimulado pelas epistemologias feministas

precisam ser reforçadas por ações institucionais, gerais e focalizadas, que combatam o

androcentrismo nas ciências e constituam um ambiente menos desigual para mulheres na

universidade. Considerando a autonomia das universidades ainda é reduzida as ações de

permanência voltadas a questões de gênero e sexualidade. Entre as poucas ações desenvolvidas

merece destaque a ampliação das universidades que garantem auxílios para creche/pré-escola, ou

mantêm creches voltadas para as/osestudantes. Medidas como essas são fundamentais para atrair e

colaborar com a permanência de estudantes mães na universidade.

No atual estágio de consolidação da Lei de Cotas, com inegáveis resultados no combate às

desigualdades sociais e raciais no acesso ao ensino superior, é fundamental avançarmos na reserva

de vagas para transgêneros, especialmente como medida mobilizadora, e na reserva de vagas

focalizada nas áreas de menor presença de mulheres, em especial a área de exatas.

Cabe ressaltar que, considerando a grande “heterogeneidade interna da categoria ‘mulher’

e os limites do binarismo masculino/feminino nas relações de gênero” (BARRETO, 2015, p. 41),

essas medidas voltadas às mulheres teriam efeitos menores e, até mesmo, produziriam “cortinas de

fumaça”, se não forem articuladas numa perspectiva interseccional com as questões de sexualidade,

raça e classe. A lei 12.711/2012 tem seu grande mérito na capacidade de articular origem escolar,

raça e classe, falta-nos reconhecer a importância das outras faces de expressão da desigualdade nas

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oportunidades educacionais.

Os desafios da conjuntura atual

O quadro de perplexidade vivido nos últimos 10 meses, resultante do Golpe Parlamentar de

2016, só se amplia. A cada dia novos ataques são impetrados pela elite política dominante. Direitos

consolidados e conquistas conjunturais fruto do último ciclo progressista vivido na política, são

destronados diante de uma reduzida capacidade de reação da sociedade.

O campo da educação tem sido um dos poucos a demostrar relativa capacidade de reação e

crítica aos ataques conservadores. Greves de servidores públicos, mas sobretudo, a experiências das

ocupações em escolas e universidades ocorridas em 2016, mostram o papel político deste segmento

e sua capacidade inclusive de estimular outras categorias à resistência e a luta.

Este fator pode ser uma das razões explicativas do interesse do novo grupo dominante em

atacar a autonomia do professor e os direitos alcançados na educação na última década, que mesmo

sendo marcada por diversas deficiências orçamentárias e de valorização da categoria docente,

produziu dados positivos refletidos na expansão do ensino superior, na redução do analfabetismo e

na ampliação das taxas de escolarização da população brasileira.

Mesmo considerando outras razões políticas e econômicas - que sustentaram até então o

pacto das elites com o governo petista - que hoje sofrem também ataques duros da direita, não há

dúvida que a educação se tornou alvo prioritário por conta do seu processo de democratização.

Atingir este campo através de medidas de sucateamento, de redução da sua autonomia e da

sua capacidade de produzir pensamento crítico, é uma meta cada dia mais evidente do governo

golpista. De algum modo, o que se pretende é o retorno a um sistema educacional que, em nome da

pseudodemocracia do mérito, reproduz as estruturas de dominação historicamente hegemônicas.

Também as instituições de ensino superior que asseguram ou legitimam o acesso às classes

dirigentes e, sobretudo, as grandes escolas (dentre as quais o internato de Medicina), são

quase totalmente monopolizadas pelas classes dominantes. Os mecanismos objetivos que

permitem às classes dominantes conservar o monopólio das instituições escolares de maior

prestígio (ainda que aparentemente tal monopólio seja colocado em jogo em cada geração),

se escondem sob a roupagem de procedimentos de seleção inteiramente democráticos cujos

critérios únicos seriam o mérito e o talento, e capazes de converter aos ideais do sistema os

membros eliminados e os membros eleitos das classes dominadas, estes últimos os

'milagrosos' levados a viver como 'milagroso' um destino de exceção que constitui a melhor

garantia da democracia escolar. (BOURDIEU, 1974, p. 312)

Além desta medida, o novo bloco parlamentar conservador inunda a pauta legislativa com

Projetos de Lei que pretendem reduzir conquistas aparentemente consolidadas, a exemplo da Lei de

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Cotas6, ou produzir mordaças na prática docente, produzindo uma criminalização do pensamento

crítico7. Estes são sinais do interesse em disputar o campo da educação que, por meio de diversos

processos de transformação (as ações afirmativas são parte importante destes), tem se tornado um

espaço aberto ao pensamento crítico e ao combate ao golpe de 2016.

Assim, é possível afirmar que as conquistas no campo da educação e a insistência dos

movimentos sociais em radicalizar a democratização dos seus espaços, são elementos importantes

que levaram a mobilização da reação conservadora, que culminou no golpe. Um marco desta

rearticulação da direita (dentro e fora do governo petista) pode ser localizado no episódio do veto

determinado pelo governo Dilma à distribuição do Kit Anti Homofobia8, elaborado pelo próprio

MEC com importante colaboração dos movimentos LGBT e feminista. A concessão do executivo à

pressão de setores fundamentalistas no congresso vai permitir a direita derrotada (e a direita aliada)

a produção de um estopim para fomentar o ódio misógino ao governo Dilma, ao passo que fortalece

a expressão de lideranças políticas fundamentalistas e da bancada evangélica na Câmara.

Mesmo verificando um conjunto de conquistas políticas relacionadas a pautas históricas do

movimento negro (a exemplo das cotas nas universidades e concursos públicos), do movimento

feminista (a exemplo da tipificação do crime de feminicídio) e do movimento LGBT (através do

reconhecimento pelo STF da união estável entre pessoas do mesmo sexo), vimos, em 2016, o debate

acerca do combate a homofobia e o reconhecimento das identidades transgêneros nos espaços

escolares gerar uma reação organizada, (sobretudo de bancadas evangélicas cada vez mais hábeis a

intervir em rede) que produziu a negativa da maioria das câmaras legislativas municipais em

incorporar a perspectiva de gênero nos seus Planos Municipais de Educação. O pânico moral da

“ideologia de gênero”, supostamente capaz de levar crianças a mudarem de orientação sexual por

simples intervenção da escola, fez emergir a resistência cultural conservadora à construção da

diversidade no espaço escolar e na sociedade em geral.

Ao permitir com o veto uma sensação de força política destes setores, que até então eram

controlados no baixo clero pelos esquemas estranhos de constituição de maiorias parlamentares, o

governo Dilma acabou permitindo que estes grupos saíssem de suas casernas, e tornando-se o fiel

da balança no processo de enfraquecimento do governo eleito. Assim, uma reflexão sobre a

centralidade do debate sobre os direitos das mulheres, a heteronormatividade e o reconhecimento

6 Projeto de Lei nº 5008/2016, do deputado Vinicius Carvalho – PRB/SP, que pretende retirar o critério étnico-racial das

cotas nas universidades e concursos públicos. 7 A exemplo do PL 867/2015 e do PLS 193/2016 que institui o “Escola sem partido”, e os PL 7180/2014 e 2731/2016

que pretendem proibir os educadores de “professar a ideologia de gênero na escola”. 8 http://acervo.novaescola.org.br/pdf/kit-gay-escola-sem-homofobia-mec.pdf

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das identidades transgêneros nas escolas, nos permite perceber a, ainda forte, resistência das elites

brasileiras ao avanço do movimento feminista e LGBT.Afirmo, portanto, que a articulação destes

elementos: a reação conservadora da direita ao modelo social liberal vivido nos últimos doze anos

no país; o ataque a autonomia relativa e a capacidade crítica do campo da educação; e o

fortalecimento do discurso de ódio, dos valores do patriarcado e da heteronormatividade no

contexto atual, tornam urgente o debate sobre as conquistas já alcançadas e aquelas ainda possíveis

e necessárias de se alcançar por meio das ações afirmativas nas universidades.

Referências

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ensino superior. Revista Brasileira de Ciência Política, nº 16, Brasília, janeiro-abril de 2015, pp.

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Temporalis, Brasilia (DF), ano 11, n.22, p.271-292, jul./dez. 2011.

Perspectives of adoption of Affirmative Actions for women in the University

Astract: The decade turn of the adoption of Affirmative Actions in IES has been accompanied by

concerns related to the political moment of conservative reaction with the parliamentary coup of

2016. This year was also the milestone for the full implementation of Law 12.711/2012, which

reserves 50 % of vacancies in universities for public school graduates, with internal subdivisions of

race / ethnicity and income, but allowing, through university autonomy, the adoption of other

reserves without prejudice to the former. Even considering the evaluation that the adoption of the

quotas were configured in a political and pedagogical achievement, it is necessary to consider that a

significant group of social movements still demand a radicalization of affirmative actions in the

sense of its expansion and its qualification as to the policies of permanence. Feminist movements,

especially those organized within the student movement, have presented their own demands ranging

from the adoption of quotas for women (in general, and in intersectional perspectives) to the

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construction of policies of permanence and academic transformations that combat the marks of

androcentrism and sexism in university scientific space. This study intends to evaluate the present

context of the struggles for affirmative action and university reform, identifying in the tense current

political context conditions for the defense of the achieved achievements, associated with the

radicalization of affirmative actions toward women in the universities.

Keywords: Affirmative Actions, Permanence Policies, Quotas for Women.