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PERSPECTIVA DE GÊNERO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS:
ANÁLISE DAS PRINCIPAIS POLÍTICAS DESENVOLVIDAS PELA
SECRETARIA DE POLÍTICA PARA AS MULHERES
Ana Carolina de Morais Colombaroli 1
RESUMO: Nas últimas décadas, tem e destacado a presença da mulher no mundo
público, com maior liberdade, independência e participação no mercado de trabalho. No
entanto, ainda há muito a ser feito a fim de romper com a discriminação cotidiana, a
permanência da violência sexista, as desigualdades no mundo do trabalho remunerado,
o peso do trabalho doméstico, que permanece sob a responsabilidade feminina e muitos
outros desafios. Esses fatos reafirmam a importância de uma construção sistemática de
políticas públicas de promoção da igualdade, focada em consolidar direitos das
mulheres em toda a sua extensão. Em 2003, foi criada a Secretaria de Políticas para
Mulheres da Presidência da República, com o objetivo de promover a igualdade entre
homens e mulheres, e combater todas as formas de preconceito e discriminação
herdadas de uma sociedade patriarcal e excludente. Objetiva-se, nesse trabalho, analisar
as principais políticas públicas que vêm sendo desenvolvidas pela referida secretaria,
sua formulação, implementação, bem como sua efetividade na realidade das mulheres
brasileiras. Para tanto, faz-se uso de pesquisa bibliográfica e de disponibilizados pela
própria Secretaria.
PALAVRAS-CHAVE: Secretaria de Políticas para as Mulheres; Análise de Políticas
Públicas; Igualdade de Gênero.
1 Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UNESP, [email protected]. Bacharel em
Direito. Mestranda em Direito.
1. INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, vem sendo retomada a preocupação com os estudos de
políticas públicas, bem como das instituições, regras, estratégias e modelos que regem
as decisões, formulações, implementações, monitoramentos e avaliações destas
(SOUZA, 2006, p. 22). Esse crescente interesse tem relação direta com o processo
intenso de mudança que vem acontecendo no interior da sociedade brasileira, bem como
as propostas de reforma do Estado, especialmente a partir do obscurecimento que o
Estado desenvolvimentista deixou (BANDEIRA, 2005, p. 4).
No contexto que se apresenta atualmente, a análise e a discussão das políticas
públicas corre o risco de ser vítima de um tecnicismo exagerado, se a interação de
interesses, valores e normas não receber tanta atenção quanto os critérios técnicos e as
restrições orçamentárias.
Dessa forma, o presente trabalho tem o intuito de abarcar não só as questões
técnicas relativas às políticas públicas para mulheres, mas também, e principalmente, as
questões sociais e teóricas que estão por detrás delas. Preocupa-se com conhecer quais
as proposições analíticas que sustentam as políticas públicas do Estado Brasileiro com
vistas à redução das desigualdades entre homens e mulheres.
Para tanto, o presente trabalho divide-se em seis partes, incluindo-se o presente
intróito. A segunda parte visa fazer uma breve análise da realidade das mulheres
brasileiras, seja no espaço público, seja no espaço privado, a fim de compreender a
situação de desigualdade existente, que motivou a criação de uma Secretaria da
Presidência da República. A terceira parte foca na Secretaria de Políticas para as
Mulheres (SPM), tendo como foco a sua criação, a sua estrutura organizacional, seu
orçamento e planejamento e as prioridades atualmente estabelecidas. A quarta parte
desse trabalho centra-se, efetivamente, nas políticas públicas desenvolvidas pela SPM,
através do estudo e análise dos seus principais programas e ações, desde a sua criação,
em 2003, até a atualidade. A quinta parte, busca analisar o atual Plano Nacional de
Políticas para as Mulheres, relativo ao período compreendido entre 2013 e 2015. A
sexta e última parte visa, à guisa de conclusão, analisar criticamente essas políticas
públicas e sua efetividade.
Faz-se uso de duas metodologias, que se complementam. Primeiramente,
realiza-se uma pesquisa bibliográfica acerca do desenvolvimento de políticas públicas,
tendo como referenciais teóricos Maria Paula Dallari Bucci, Leonardo Secchi, Celina
Souza. Acerca da realidade das mulheres brasileiras, adota-se como referencial teórico
os estudos A mulher brasileira nos espaços público e privado, realizados pela Fundação
Perseu Abramo nos anos de 2001 e 2010. Num segundo momento, ao adentrar
especificamente na questão da Secretaria de Políticas para as Mulheres, faz-se uso dos
dados apresentados pelo Portal da Transparência, bem como das informações
apresentadas no próprio sítio da secretaria, a fim de realizar uma análise crítica.
2. A REALIDADE DAS MULHERES BRASILEIRAS
O presente capítulo toma como base a pesquisa realizada em outubro de 2001,
pelo Núcleo de Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo, quando foram
entrevistadas 2.502 mulheres, com 15 anos ou mais, sobre os mais variados temas, que
deu origem ao livro A mulher brasileira nos espaços público e privado. É sabido, no
entanto, que esses dados, coletados há mais de 10 anos, não mais representam com
fidelidade a realidade das mulheres brasileiras num período marcado por mudanças
frenéticas. Nesse curto período muito mudou, em muito se avançou nas práticas e
discussões de gênero. Dessa forma, foi necessário fazer uso da pesquisa Mulheres
brasileiras e gênero nos espaços público e provado – uma década de mudanças na
opinião pública, realizada também pela fundação Perseu Abramo, no ano de 2010,
introduzindo novas questões e perspectivas não consideradas à época, entrevistando
2.365 mulheres e 1.181 homens.
A primeira constatação possível é a de que não existe a mulher brasileira, mas
muitas, com realidades sociais bem distintas. A desigualdade de recursos materiais e
simbólicos faz com que suas visões de mundo, bem como expectativas de futuro,
mostrem-se bastante diversas. A despeito disso, evidencia-se uma identidade de gênero,
construída a partir de experiências de discriminação e opressão vividas por mulheres
oriundas de todas as camadas sociais.
Erra muito quem, ao pensar nas mulheres brasileiras no século XXI, as associa à
imagem de dona-de-casa, dependente do marido ou à espera de um. A definição de “o
que é ser mulher hoje” foi espontaneamente associada pela maioria das entrevistadas à
sua inserção no espaço público, no mercado de trabalho, à conquista de independência
econômica, à independência social, ou ainda a direitos políticos conquistados. O
trabalho se apresenta como porta de entrada para a cidadania. Os papeis tradicionais de
mãe e esposa também aparecem na definição de ser mulher, mas em grau bem menor.
Infere-se, a partir daí, que as mulheres valorizam a árdua conquista do espaço público,
que colocam a autonomia e a independência enquanto peça central em sua existência,
bem como que o horizonte do mundo público das mulheres tende a ser ampliado.
A idéia de feminino, no século XXI, deixou de implicar, necessariamente, em
maternidade, o que traduz uma ruptura com a ideologia da domesticidade. A maioria
das mulheres entrevistadas, em todas as faixas etárias, demonstrou clara consciência da
subversão da tradicional divisão dos papéis sexuais, ao perceberem a mudança em sua
própria existência enquanto mulheres, bem como ao avaliarem tais transformações
como positivas (RAGO, 2004, p. 33).
Numa visão otimista, mais atenta às mudanças do que as permanências, observa-
se os muitos efeitos da crítica realizada pelo feminismo em relação ao falocentrismo, às
formas masculinas de organização social e codificação da experiência, despindo-se da
sua dimensão misógina e sexista (RAGO, 2004, p. 36). Vê-se uma postura incursa na
“consciência ética” proposta por Dussel (1997, p. 60), que consiste que consiste na
capacidade de se escutar a voz do outro. Quando adotamos uma perspectiva não
androcêntrica-hegemônica, permitimo-nos “ver” com os “olhos” daqueles excluídos do
paradigma de sujeito e direito vigentes.
Margareth Rago (2004, p. 37) acerta ao observar que
Se a receptividade atual ao feminismo pode ser considerada
resultante da invasão do mundo público pelas mulheres, ou
melhor, da dissolução das fronteiras simbólicas construídas
entre o público e o privado, das pressões do feminismo e da
diminuição do medo que causava, assim como da própria
mudança da consciência de gênero nas mulheres, pode-se notar
que se deve ainda, em parte, à própria falência dos modos
masculinos de organizar e gerir a vida social, num mundo
marcado pela violência, pela desagregação social, pela
atomização do indivíduo e por uma profunda crise nas formas da
sociabilidade, incluindo-se as de gênero. Sabe-se que uma
grande quantidade de mulheres, nas diferentes classes que
constituem a sociedade brasileira, tornou-se chefe de família
porque os maridos, companheiros e amantes desertaram, não
conseguindo se ressituar e interagir na nova ordem familiar
descentralizada e des-hierarquizada.
A despeito das profundas mudanças, de auto-afirmação das mulheres, em
diversos momentos da pesquisa, é possível perceber a força dos papeis e referências
tradicionais de gênero, denunciado as desigualdades ainda impregnadas na nossa
sociedade. Tanto no tocante à violência, à desigualdade, à liberdade, ao excesso de
responsabilidade com o trabalho doméstico e a vida familiar, às desigualdades no
âmbito do trabalho ou em outros momentos, aparece a marca da desigualdade de gênero
(GODINHO, 2004, p. 157).
A realidade da mulher brasileira na atualidade é balizada pela tensão entre o
balanço positivo e as reivindicações ainda por ser atendidas. A participação das
mulheres no espaço público é evidente a qualquer um que saia às ruas: elas são vistas
ocupando os mais diversos postos de trabalho. No entanto, quando se volta os olhos
para o trabalho doméstico não-remunerado e as responsabilidades familiares, estas ainda
são atribuídas quase que exclusivamente às mulheres, independentemente de sua
participação no mercado de trabalho. A dupla jornada é um peso e, embora a
participação masculina nas rotinas domésticas tenha aumentado, o ritmo da mudança é
extremamente lento e os homens se limitam a uma ajuda pontual dada às mulheres.
Outra faceta do padrão machista está baseada na violência conjugal contra as
mulheres. É preocupante o fato de, em 2001, um quinto das entrevistadas,
espontaneamente, declarar ter sofrido algum tipo de violência por parte de algum
homem. Esse número não mudou em 2010. No entanto, em 2001, quando estimuladas
pela citação de diferentes formas de agressão, o índice de violência alcançou alarmantes
43% dessas mulheres, sendo que 11% declararam ser vítima de espancamento e outras
11% viveram relações sexuais forçadas. No ano de 2010, esse percentual diminuiu
respectivamente para 34%, 10% e 8%.
Em resumo, grande parte das mulheres brasileiras convive bem com sua
condição feminina, tem consciência das conquistas obtidas ao longo dos últimos anos,
tem confiança na progressiva melhoria do estatuto das mulheres na sociedade, mas
reclama do peso da dupla jornada, reivindica o fim das discriminações, tanto no
mercado de trabalho, quanto sob as formas de violência, e a divisão de
responsabilidades nos cuidados com os filhos e com a casa (SOARES, 2004, p. 170).
Isso significa que, embora tenha havido, nas últimas décadas, consideráveis incrementos
na participação das mulheres em vários setores, não é possível dizer que houve uma real
mudança na condição de gênero. “Se interpelarmos alguns avanços quantitativos,
constata-se que não foram suficientes para alterar a hierarquia e a discriminação nas
relações sociais entre homens e mulheres” (BLAY, 2004, p. 29).
3. A SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES (SPM)
Diante do diagnóstico apresentado, impôs-se uma agenda de atuação em que a
desigualdade de gênero fosse representada nas múltiplas esferas da vida política,
econômica, educacional, cultural, jurídica e nas demais áreas. Em outras palavras, um
desenho de políticas públicas transversais de gênero, de modo que a problemática
devesse ser tratada em todas as instâncias do Estado e dos três poderes da República.
Não basta escolher alguns ministérios para enfocar o problema da condição de metade
da população brasileira: o envolvimento deve ser de todos os poderes, através de uma
rede de políticas públicas (BLAY, 2004, p. 32).
Insere-se assim, no âmbito dessas políticas, o paradigma da responsabilidade
compartilhada: não cabe apenas ao organismo de políticas para as mulheres promover a
igualdade de gênero, mas a todos os órgãos dos três níveis federativos. Para tanto, o
Plano Nacional de Política para Mulheres (PNPM) é implementado com base na
transversalidade, tanto do ponto de vista horizontal (entre os ministérios) quanto do
vertical (porque ele responde nos níveis estadual, distrital e municipal às conferências
realizadas nesses âmbitos e também porque precisa da parceria dos governos estaduais,
distrital e municipais para melhores resultados). A transversalidade permite abordar
problemas multidimensionais e intersetoriais de forma combinada, dividir
responsabilidades e superar a persistente “departamentalização” da política. Na medida
em que considera todas as formas de desigualdade, combina ações para as mulheres e
para a igualdade de gênero e, dessa forma, permite o enfrentamento do problema por
inteiro (BRASIL, 2013b, p. 10).
Por meio da gestão da transversalidade é possível a reorganização de todas as
políticas públicas e das instituições para incorporar a perspectiva de gênero, de modo
que a ação do Estado como um todo seja a base da política para as mulheres. Na
elaboração de todas as políticas públicas, em todas as suas fases, deve ser perguntado:
como é possível contribuir para sedimentar a igualdade de gênero?
Como será demonstrado adiante, a Secretaria de Políticas para as Mulheres da
Presidência da República2, caminha no sentido de desenvolver uma rede de políticas
públicas num cenário de transversalidade, posto que adquire o papel de coordenação
horizontal e, enquanto coordenadora, deve articular os órgãos, organizar os trabalhos,
acompanhar e avaliar os resultados relativos à políticas públicas para mulheres.
2 Denominada, nesse texto, SPM.
A SPM foi criada no ano de 2003, pelo então presidente Luís Inácio Lula da
Silva, com o objetivo de promover a igualdade entre homens e mulheres, de combater o
preconceito e a discriminação herdados de uma sociedade patriarcal e excludente. Desde
sua criação, suas pautas estão voltadas para a valorização da mulher, sua inclusão no
processo de desenvolvimento social, econômico, político e cultural do País.
Num processo contínuo de cooperação transversal entre a SPM, os demais
ministérios, a sociedade civil e a comunidade internacional, a questão de gênero foi
incluída nas políticas dos três níveis de Governo. Ademais, fica evidente uma crescente
mobilização da sociedade civil em busca da igualdade de gênero.
Há três linhas principais de atuação na SPM, organizadas em órgãos específicos
singulares, a saber: 1) políticas do trabalho e da autonomia econômica das mulheres3; 2)
enfrentamento à violência contra as mulheres4; e 3) programas e ações nas áreas de
saúde, educação, cultura, participação política, igualdade de gênero e diversidade5.
3 A Secretaria de Políticas do Trabalho e Autonomia Econômica das Mulheres tem por função:
desenvolver, apoiar e disseminar estudos, projetos e pesquisas sobre temáticas de gênero, trabalho e
autonomia das mulheres, para subsidiar definições de políticas para as mulheres e sua participação
social; formular políticas e desenvolver, implementar, apoiar, monitorar e avaliar programas e projetos
para as mulheres nas áreas de trabalho e autonomia econômica, diretamente ou em parceria com
organismos governamentais e não governamentais; e apoiar os eixos do Plano Nacional de Políticas para
as Mulheres relativos aos temas de competência da Secretaria de Políticas do Trabalho e Autonomia
Econômica das Mulheres.
4 A Secretaria de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres tem por função: formular políticas de
enfrentamento à violência contra as mulheres que visem à prevenção, combate à violência, assistência e
garantia de direitos àquelas em situação de violência; desenvolver, implementar, monitorar e avaliar
programas e projetos voltados ao enfrentamento à violência contra as mulheres, diretamente ou em
parceria com organismos governamentais de diferentes entes da Federação ou organizações não
governamentais; e planejar, coordenar e avaliar as atividades da central de atendimento à mulher.
5 À Secretaria de Articulação Institucional e Ações Temáticas compete: formular políticas para as
mulheres nas áreas de educação, cultura, saúde e participação política, que considerem sua diversidade
racial, de orientação sexual, geracional, relativa a mulheres com deficiência e mulheres indígenas, sem
prejuízo de outras formas de diversidade; desenvolver, implementar, monitorar e avaliar programas e
projetos temáticos nas áreas de educação, cultura, saúde e participação política, que considerem as
mulheres em sua diversidade, visando à promoção da igualdade de gênero e dos direitos das mulheres de
forma direta ou em parceria com organismos governamentais e não governamentais; promover e articular
a formação e a capacitação de agentes públicos nos três níveis de governo em políticas sobre as mulheres;
e articular com os demais órgãos do Poder Público estadual, municipal e do Distrito Federal a
incorporação da perspectiva de gênero.
A SMP assessora diretamente a Presidente da república, em articulação com os
demais ministérios, na formulação e no desenvolvimento de políticas públicas para as
mulheres. Ao mesmo tempo, desenvolve campanhas educativas e não discriminatórias
de caráter nacional, elabora o planejamento de gênero que contribua na ação do governo
federal e das demais esferas de governo, bem como projetos de programas de
cooperação com organizações nacionais e internacionais, públicas e privadas. À SPM
cumpre ainda o acompanhamento da implementação de legislação de ação afirmativa e
definição de ações públicas que visem ao cumprimento dos acordos, convenções e
planos de ação assinados pelo Brasil, nos aspectos relativos à igualdade entre mulheres
e homens e de combate à discriminação.
Atualmente, a SPM está sob o comando da Ministra Eleonora Menicucci de
Oliveira. Militante feminista e professora titular em Saúde Coletiva na Unifesp, as suas
pesquisas sobre as condições de vida das mulheres brasileiras ganharam relevo na sua
trajetória. A Ministra é graduada em Ciências Sociais pela UFMG, mestre em
Sociologia pela UFPB, doutora em Ciência Política pela USP, pós-doutora em Saúde e
Trabalho das Mulheres pela Facultá de Medicina della Universitá Degli Studi Di
Milano, e livre docente em Saúde Coletiva pela Faculdade de Saúde Pública da USP.
Como pesquisadora, publica regularmente estudos e artigos sobre temas críticos da
condição das mulheres nos campos da saúde, violência e do trabalho.
3.1. Estrutura Organizacional
Conforme disposto no Decreto nº 8.030, de 20 de junho de 2013, a SMP divide-
se em órgãos que assistem direta e imediatamente a Ministra de Estado Chefe da SPM,
órgãos singulares específicos e o órgão colegiado.
Os órgãos de assistência direta e imediata são o Gabinete, a Secretaria Executiva
e o Departamento de Administração Interna. Os órgãos específicos singulares são as já
mencionadas Secretarias de Políticas do Trabalho e Autonomia Econômica das
Mulheres, de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, e de Articulação
Institucional de Ações Temáticas.
Tem grande importância o órgão colegiado representado no Conselho Nacional
dos Direitos da Mulher (CNDM). Criado em 1985, como órgão vinculado ao Ministério
da Justiça para promover políticas que visassem eliminar a discriminação contra a
mulher e assegurar a sua participação nas atividades políticas, econômicas e culturais do
país, passou a integrar, em 2003, a SPM, contando, em sua composição6, com
representantes da sociedade civil e do governo, ampliando o processo de controle social
sobre as políticas públicas para as mulheres. Tem ainda a atribuição de apoiar a
6 Atualmente, o CNDM é composto por: a) 16 conselheiras governamentais, representando a Secretaria de
Política para Mulheres, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República, a Secretaria Geral da Presidência da República, Casa
Civil da Presidência da República, Ministério da Cultura, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação,
Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome,
Ministério da Educação, Ministério da Justiça, Ministério do Meio Ambiente, Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, Ministério da Saúde, Ministério das Relações Exteriores e Ministério
do Trabalho e Emprego; b) 24 conselheiras representantes da sociedade civil, sendo b.1.) 15 de redes e
articulações feministas e de defesa dos direitos das mulheres, a saber: Articulação de Mulheres
Brasileiras, Articulação de Ong’s de Mulheres Negras, Associação Brasileira de Mulheres de Carreira
Jurídica, Confederação de Mulheres do Brasil, Federação Nacional dos Trabalhadores Domésticos,
Fórum Nacional de Mulheres Negras, Instituto Equit – Gênero, Economia e Cidadania Global, Liga
Brasileira de Lésbicas, Marcha Mundial de Mulheres, Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia,
Movimento de Mulheres Camponesas, Rede Economia e Feminismo, Rede Nacional Feminista de Saúde
e Direitos Reprodutivos e Sexuais, União Brasileira de Mulheres e Federação das Associações de
Mulheres de Negócios e Profissionais do Brasil e b.2.) 9 Organizações de Caráter Sindical, Associativa,
Profissional ou de Classe que atuem na Promoção dos Direitos das Mulheres, a saber: Associação
Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Central Única dos Trabalhadores, Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação,
Central Geral dos Trabalhadores do Brasil, Conselho Federal de Psicologia, União Nacional de
Estudantes, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria e Federação dos Trabalhadores na
Agricultura Familiar; c) há ainda 3 conselheiras de notório saber em questão de gênero – Jacqueline
Pitanguy, Maria Betania de Melo Ávila, Aparecida Sueli Carneiro – e 1 conselheira emérita, Clara Charf.
Secretaria na articulação com instituições da administração pública federal e com a
sociedade civil.
4. ORÇAMENTO, PROGRAMAS E AÇÕES DA SECRETARIA DE
POLÍTICAS PARA MULHERES
O Orçamento da pasta da Secretaria de Políticas para Mulheres somou, no ano
de 2013, R$208,5 milhões. O referido orçamento conta com dois programas: um
temático e outro de gestão. O primeiro é denominado “política para as mulheres:
promoção da autonomia e enfrentamento à violência”, e acumulou a maior parcela dos
recursos em 2013 R$191 milhões. Já o outro programa, de gestão e manutenção da
SPM, teve orçamento de R$17,6 milhões.
Segundo dados do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, o programa
“Política para as mulheres: promoção da autonomia e enfretamento da violência”
destinou, no ano de 2013, teve oito principais linhas de atuação – a serem apresentadas
abaixo –, destinando um total de R$94.932.000 reais para a sua execução.
A primeira tinha como objetivo de promover autonomia econômica das
mulheres urbanas, do campo e da floresta, considerando as desigualdades entre
mulheres e homens, as desigualdades de classe e raça, desenvolvendo ações específicas
e exclusivas e contribuindo para a modificação da desigual divisão sexual do trabalho,
com ênfase nas políticas de erradicação da pobreza e na garantia da participação das
mulheres no desenvolvimento do país. A iniciativa visa a promoção da autonomia das
mulheres através da implementação e apoio à formulação de políticas públicas que
visem ao enfrentamento da desigual divisão sexual do trabalho por meio da capacitação
e qualificação profissional, do fortalecimento das organizações produtivas e do
atendimento às demandas por equipamentos sociais. Desta feita, foram investidos
R$16.639.000,00 no incentivo à autonomia econômica e ao empreendedorismo das
mulheres.
A segunda linha de ação teve por objetivo fortalecer uma cultura social
igualitária entre mulheres e homens, não sexista, não racista, não lesbofóbica, mediante
apoio às políticas de educação de qualidade, além de políticas culturais, de esporte e
lazer que assegurem tratamento igualitário entre mulheres e homens pelas instituições e
pelos profissionais. Visando o fomento à produção cultural afirmativa que valorize as
expressões do feminino e sua contribuição para a diversidade cultural brasileira, bem
como à produção e circulação de conteúdos não discriminatórios e não estereotipados e,
ao mesmo tempo, favorecer a presença e a permanência desses conteúdos e dessas
produções nos espaços de fruição cultural brasileiros, foram investidos R$500.000,00
nas políticas culturais de incentivo à igualdade de gênero. Por sua vez, tendo em vista o
fomento à produção do conhecimento e à inovação tecnológica em torno da área de
gênero e feminismo, foram investidos R$1.300.000,00 para a incorporação da
perspectiva de gênero nas políticas educacionais e culturais.
A terceira linha de ação teve por objetivo inserir o tema da igualdade entre
mulheres e homens na agenda nacional e internacional para ampliação dos direitos das
mulheres e efetivação da cidadania, por meio de ações de diversas áreas do governo e da
sociedade sobre o novo papel social das mulheres. Na iniciativa de promover e
fortalecer a participação igualitária, plural e multirracial das mulheres nos espaços de
poder e decisão, foram investidos R$580.000,00 no fortalecimento da participação de
mulheres nos espaços de poder e decisão.
A quarta linha de ação teve por objetivo promover a gestão transversal da
Política Nacional para as Mulheres, por meio da articulação intragovernamental,
intergovernamental e do fomento à participação social, garantindo o monitoramento e
avaliação das políticas públicas, a produção de estudos e pesquisas e o fortalecimento
dos instrumentos e canais de diálogo nacionais e internacionais. Na iniciativa de
fortalecimento da gestão da transversalidade das políticas para as mulheres através da
relação inter e intragovernamental em diálogo com a sociedade e movimentos sociais a
fim de promover a defesa e o atendimento dos direitos das mulheres nas três esferas da
federação, foram investidos R$4.480.000,00 no apoio à criação e ao fortalecimento de
organismos de promoção e defesa dos direitos da mulher. Por sua vez, visando o
fortalecimento institucional e consolidação do Observatório Brasil da Igualdade de
Gênero como instrumento para a formulação de políticas para a promoção da igualdade
de gênero, por meio do desenvolvimento e da implementação de sistemas integrados de
dados e indicadores de igualdade de gênero, com a finalidade de subsidiar a tomada de
decisões estratégicas e promover a transparência e a participação social, foram
investidos R$2.450.000,00 na produção e divulgação de informações, estudos e
pesquisas sobre as mulheres.
A quinta linha de ação tem por objetivo fomentar e difundir o debate público,
visando à promoção da igualdade entre mulheres e homens, ao fortalecimento da
autonomia feminina e ao enfrentamento à violência contra a mulher. Desta feita, foram
gastos R$ 4.500.000,00 na produção de peças de publicidade de utilidade pública nos
diferentes meios de comunicação visando ao debate e à adesão da sociedade em torno
de questões de gênero. Na iniciativa de realização de seminários, vídeos, oficinas de
apoio a projetos e materiais diversos que visem a retratar a produção cultural feminina e
a história das mulheres que contribuem para a conquista de seus direitos e cidadania, e
que visem à conscientização da população sobre a promoção da igualdade entre
mulheres e homens, sobre a promoção da autonomia das mulheres e do enfrentamento à
violência contra as mulheres, foram destinados R$13.881.000,00 para apoio a
iniciativas de referência nos eixos temáticos do plano nacional de políticas para as
mulheres.
A sexta linha de ação tem por objetivo promover atendimento às mulheres em
situação de violência por meio da ampliação, capilarização, fortalecimento, qualificação
e integração dos serviços da Rede de Atendimento às Mulheres em Situação de
Violência e a produção, sistematização e monitoramento dos dados da violência
praticada contra as mulheres no Brasil. Na iniciativa de Capacitação permanente da
Rede de Atendimento e dos/as Operadores/as do direito sobre a Lei Maria da Penha (Lei
nº 11.340/06) e as questões da violência contra as mulheres, incluindo a violência
sexual, a exploração sexual e o tráfico de mulheres, assegurando as especificidades
geracionais, de orientação sexual, de pessoas com deficiência, de raça e etnia e das
mulheres do campo e da floresta, foram destinados R$2.900.000,00 para capacitação de
profissionais para o enfrentamento à violência contra as mulheres. Visando o
fortalecimento e divulgação da Central de Atendimento a Mulher - Ligue 180, com a
ampliação para o atendimento internacional e como fonte de dados sobre a violência
contra as mulheres, foram empenhados R$7.033.000,00. Ademais, foram investidos
ainda R$37.070.000,00 para ampliação e consolidação da rede de serviços de
atendimento às mulheres em situação de violência.
A sétima linha de ação teve por objetivo fortalecer a implementação e
aplicabilidade da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) e o Pacto Nacional pelo
Enfrentamento à Violência contra a Mulher, por meio de difusão da lei e dos
instrumentos de proteção de direitos, bem como por meio de ações educativas para o
enfrentamento à exploração sexual e ao tráfico de mulheres, para a promoção de direitos
sexuais e desconstrução dos estereótipos e mitos relacionados à sexualidade das
mulheres. Na iniciativa de realizar mobilizações e ações educativas permanentes que
favoreçam a desconstrução dos mitos e estereótipos relacionados à sexualidade das
mulheres, da naturalização da violência contra as mulheres, que promovam seus direitos
sexuais e que esclareçam a população sobre as práticas que configuram violação dos
direitos das mulheres (violência doméstica, violência sexual, exploração sexual, tráfico
de mulheres e a lesbofobia), foram destinados R$2.800.000 no apoio a iniciativas de
prevenção à violência contra as mulheres.
A oitava e última linha de ação teve por objetivo promover o acesso à Justiça às
mulheres em situação de violência, por meio da implementação de Segurança Cidadã,
do pleno funcionamento dos instrumentos e serviços do sistema de justiça, promovendo
uma cultura não discriminatória. Visando a promoção dos direitos das mulheres em
situação de prisão e articulação, junto aos órgãos responsáveis, para assegurar a
humanização nesses equipamentos e a oferta de espaços físicos adequados, foram
destinados R$800.000,00 para apoio a iniciativas de fortalecimento dos direitos das
mulheres em situação de prisão.
É necessário ressaltar, ainda, que a SPM foi criada com fins de articulação,
influenciando diversas políticas públicas do governo federal, uma vez que o tema é
transversal e deve receber atenção do Estado como um todo.
Desta feita, segundo dados do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
(BRASIL, 2013a), foram destinados, R$ 129.885.216.000,00 a políticas públicas que,
direta ou indiretamente, beneficiariam as mulheres e a equidade de gênero. As
principais programas realizados foram em relação à Agricultura Familiar; Agropecuária
Sustentável, Abastecimento e Comercialização; Aperfeiçoamento do Sistema Único De
Saúde (SUS); Política para Mulheres: Promoção da Autonomia e Enfrentamento à
Violência; Cidadania e Justiça; Desenvolvimento Regional, Territorial Sustentável e
Economia Solidária; Educação Básica; Educação Profissional e Tecnológica; Educação
Superior – Graduação, Pós Graduação, Ensino, Pesquisa e Extensão; Enfrentamento ao
Racismo e Promoção da Igualdade Racial; Esporte e Grandes Eventos Esportivos;
Fortalecimento do Sistema Único de Assistência Social (SUAS); Autonomia e
Emancipação da Juventude; Moradia Digna; Pesca e Aquicultura; Desenvolvimento
Produtivo; Previdência Social; Promoção e Defesa dos Direitos Humanos; Proteção e
Promoção dos Direitos dos Povos Indígenas; Reforma Agrária e Ordenamento da
Estrutura Fundiária; Segurança Alimentar e Nutricional; Segurança Pública com
Cidadania; Trabalho, Emprego e Renda.
5. O PLANO NACIONAL DE POLÍTICA PARA MULHERES (PNPM)
Em julho de 2004, fomentada pela SPM, foi realizada a 1ª Conferência Nacional
de Políticas para as Mulheres, com 1.787 delegadas que debateram as agendas de
gênero. As deliberações dessa conferência subsidiaram o Plano Nacional de Políticas para
as Mulheres, que foi elaborado por um grupo de trabalho interministerial, coordenado pela
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República. O processo,
como um todo, envolveu mais de 120 mil mulheres de todas as regiões do país. Foram
estabelecidas quatro diretrizes gerais da política nacional para as mulheres: 1)
autonomia, igualdade no mundo do trabalho e cidadania; 2) educação inclusiva e não
sexista; 3) saúde da mulher, direitos sexuais e direitos reprodutivos; 4) enfrentamento à
violência contra as mulheres.
A 2º Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres contou com a
participação de cerca de 200 mil mulheres, das quais 2.800 constituíram a delegação na
etapa nacional, que sistematizou um conjunto de propostas e demandas ao Estado
brasileiro. A partir das resoluções da 2ª Conferência, foi elaborado o II PNPM.
A 3ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres ocorreu em dezembro
de 2011, também com 200 mil participantes de todo o país, das quais foram escolhidas
2.125 delegadas para a etapa nacional. Como resultado, tem-se o PNPM 2013-2015,
com ainda maior inserção das temáticas de gênero em diversas frentes do governo.
Às vésperas de completar uma década de existência, o PNPM continua sendo um
marco no processo de consolidação e amadurecimento das políticas para mulheres,
enquanto fruto do diálogo permanente entre governo e sociedade civil, reforça o
princípio de que, em um Estado democrático, a condição da participação social,
sobretudo das mulheres, é constitutiva de todas as fases do ciclo das políticas públicas.
O III PNPM 2013-2015 tem como princípios orientadores a autonomia das
mulheres em todas as dimensões da vida; a busca da igualdade efetiva entre mulheres e
homens, em todos os âmbitos; o respeito à diversidade e combate a todas as formas de
discriminação; o caráter laico do Estado; a universalidade dos serviços e benefícios
ofertados pelo Estado; a participação ativa das mulheres em todas as fases das políticas
públicas; e a transversalidade como princípio orientador de todas as políticas públicas.
O Plano está organizado em dez capítulos. Cada capítulo tem seus objetivos
gerais e específicos, metas, linhas de ação e ações. Ao longo do PNPM, algumas metas
estão quantificadas e outras não. É preciso considerar o caráter transversal e complexo
na implementação do PNPM, pois algumas ações são implementadas diretamente pela
SPM enquanto outras são implementadas por diversos outros órgãos governamentais,
não cabendo à SPM sua execução. Isso faz com que haja maior variedade na
complexidade dos objetivos e metas, que foram padronizados no que foi possível, tanto
na forma quanto no conteúdo, mas ainda mantêm graus de detalhamento variados, dada
a natureza da própria política transversal.
O primeiro capítulo trata de igualdade no mundo do trabalho e autonomia
econômica, com ênfase nas políticas de erradicação da pobreza e na garantia a da
participação das mulheres no desenvolvimento do país. O segundo capítulo traz ações
para construção de educação para igualdade e cidadania, contribuindo para promover o
acesso, a permanência e o sucesso de meninas, jovens e mulheres à educação de
qualidade, com ênfase em grupos com baixa escolaridade. O terceiro capítulo enfoca a
saúde integral das mulheres, os direitos sexuais e os direitos reprodutivos, visando
promover a melhoria das condições de vida e de saúde das mulheres em todas as fases
do seu ciclo vital. O quarto capítulo é dedicado ao enfrentamento de todas as formas de
violência contra as mulheres. O capítulo cinco tem por objetivo fomentar e fortalecer a
participação igualitária, plural e multirracial das mulheres nos espaços de poder e
decisão. O capítulo seis trata de desenvolvimento sustentável com igualdade econômica
e social, para democratizar o acesso aos bens da natureza e aos equipamentos sociais e
serviços públicos. O capítulo sete tem por objetivo promover o fortalecimento
econômico e o direito à vida de qualidade das mulheres no meio rural, respeitando as
especificidades das mulheres do campo e da floresta e comunidades tradicionais, com
garantia do acesso à terra, bens, equipamentos e serviços públicos. O capítulo oito
agrega ações nas áreas de cultura, esporte, comunicação e mídia, para a construção de
uma cultura igualitária, democrática e não reprodutora de estereótipos de gênero. O
capítulo nove enfrenta questões relacionadas ao racismo, sexismo e lesbofobia, para
combater o preconceito e a discriminação baseadas na orientação sexual e identidade de
gênero. E o capítulo dez promove a igualdade para as mulheres jovens, idosas e
mulheres com deficiência, para a garantia do protagonismo dessas mulheres nas
políticas públicas, bem como em seu acesso a equipamentos e serviços públicos. Além
desses dez capítulos, há também a preocupação com gestão e monitoramento, para bem
implementar, acompanhar e monitorar o PNPM 2013-2015, com integração das ações e
articulação entre os diferentes órgãos dos governos federal, distrital, estaduais e
municipais (BRASIL, 2013b).
6. CONCLUSÕES
Nas últimas décadas, o movimento das mulheres brasileiras ganhou novas
características e se afirmou como sujeito político ativo no processo brasileiro de
democratização e de participação política, cuja extensão inseriu a luta das mulheres
negras contra a opressão de gênero e de raça. Entretanto, ainda existem muitas
brasileiras que sofrem com as mais diversas formas de violência, discriminação e
salários desiguais. Uma boa parte da população feminina ainda não tem acesso a bens e
serviços fundamentais, o que acentua a persistência de relações desiguais de poder entre
mulheres e homens na sociedade.
O ponto de destaque da SPM é a orientação transversal das políticas públicas
para mulheres. Para a transformação dos espaços cristalizados de opressão e
invisibilidade das mulheres dentro do aparato estatal, faz-se necessário um novo jeito de
fazer política pública: a transversalidade. A transversalidade das políticas de gênero é,
ao mesmo tempo, um construto teórico e um conjunto de ações e de práticas políticas e
governamentais.
Enquanto construto teórico orientador, a transversalidade das políticas de gênero
consiste em ressignificar os conceitos-chave que possibilitam um entendimento mais
amplo e adequado das estruturas e dinâmicas sociais que se mobilizam – na produção de
desigualdades de gênero, raciais, geracionais, de classe, entre outras. Já enquanto
conjunto de ações e de práticas, a transversalidade das políticas de gênero constitui uma
nova estratégia para o desenvolvimento democrático como processo estruturado em
função da inclusão sociopolítica das diferenças tanto no âmbito privado quanto no
público; sendo também, e sobretudo, necessária nos espaços de relação de poder e de
construção da cidadania.
É fundamental a consolidação de mecanismos de gênero nos órgãos e
ministérios. Sejam esses mecanismos assessorias, coordenações ou diretorias. A
transversalidade das políticas públicas na questão de gênero somente se institucionaliza
quando todos os órgãos do governo internalizam o olhar de gênero como uma constante
em suas ações.
Portanto, a proposição de políticas específicas de gênero propostas pelo PNPM
busca dialogar com todas as esferas governamentais/institucionais, assim como com a
sociedade civil. O PNPM é a configuração do resultado de lutas dos movimentos de
mulheres que vêm se mobilizando desde o início do século XIX, contra todas as
situações de opressão e de discriminação, exigindo a ampliação de seus direitos civis e
políticos, seja por iniciativa individual, seja pelo coletivo de mulheres.
No entanto, ainda há muito a ser feito para a plena inserção das mulheres na
sociedade brasileira, no tocante às políticas públicas, especialmente se considerarmos o
poder de influência e o potencial transformador que elas têm para melhorar a qualidade
de vida das pessoas ao seu redor. Isso se deve não só ao fato de muitas assumirem o
papel de chefes de família, mas também por sua formação e seu nível educacional
influírem diretamente no ensino oferecido aos seus filhos, na alimentação que
consomem, na saúde que têm, nos valores em que acreditam (ABI-ABIB; MIRANDA,
2012, p. 14)
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