perseu o principe dos herÓis

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A cidade de Cassiopeia precisava de um herói e a jovem princesa Andrômeda precisava de um homem com coragem suficiente para salvá-la do cruel destino que a esperava. Um homem destemido e com fome de aventura havia sido colocado naquela cidade no momento exato em que aquela frágil mulher estava prestes a ser amaldiçoada por Posêidon. Decidido a salvar a mulher pela qual ele havia se apaixonado à primeira vista, o jovem saiu com seus soldados em busca de uma resposta para tentar descobrir a forma com a qual ele mataria Kraken, o monstro que governava os sete mares e filho de Posêidon. Esse jovem destemido teve seu nome gravado nas estrelas e até hoje, quando olhamos para os céus, podemos vê-lo. Seu nome era Perseu, o filho de Zeus com a mortal Dânae. Muitos perigos e aventuras esperavam por aqueles destemidos jovens que seguiram junto a Perseu. Para saber o final dessa incrível aventura, temos que mergulhar por dentro das páginas de... Perseu, o Príncipe dos Heróis!

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Page 1: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS
Page 2: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Perseu – O Príncipe dos heróis

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A Editora

Ixtlan

Apresenta...

Adriana Matheus

Perseu - O Príncipe dos heróis

Page 3: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Adriana Matheus

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Adriana Matheus Perseu - O Príncipe dos heróis

1ª Edição

2012

Proibida a reprodução total ou parcial desta

obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico,

mecânico, inclusive através de processos xerográficos, sem

permissão expressa da autora. (Lei nº 5.988 14/12/73).

Adriana Matheus

[email protected]

Page 4: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Perseu – O Príncipe dos heróis

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CIP. Brasil. Catalogação na Publicação. M427s - Matheus, Adriana,

1970. Perseu / Adriana Matheus - Juiz de Fora - MG. 410 p. : il.

ISBN: 978-85-8197-019-6

Literatura brasileira. Literatura infantojuvenil e ficção CDD: B869.8

Projeto Gráfico e Impressão: Editora Ixtlan

[email protected]

Revisão ortográfica: Pâmyla Serra

www.re-visaodeaguia.com

Edição de capa: Thaís Riotto

http://thaisriotto.wix.com/aigam

Diagramação: Adriana Matheus

http://anairdameuslivros.blogspot.com

Page 5: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Adriana Matheus

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INTRODUÇÃO:

QUEM FOI ZEUS?

Zeus é o principal deus da mitologia grega. Era

considerado, na Grécia Antiga, como o deus dos deuses. O

nome Zeus em grego antigo significava “rei divino”.

Genealogia e filhos de Zeus: - Zeus era filho

mais jovem do casal de titãs Cronos e Rea. Casou-se com a

deusa e irmã Hera (deusa do casamento). Porém, de acordo

com a mitologia grega, teve várias amantes (deusas e mortais)

e vários filhos destes relacionamentos. Os filhos mais

conhecidos de Zeus são: Apolo (deus da medicina e da luz),

Atenas (deusa da sabedoria e da estratégia), Hermes (deus do

comércio e dos viajantes), Perséfone (deusa do mundo

subterrâneo), Dionísio (deus do vinho), Herácles (herói grego),

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Perseu – O Príncipe dos heróis

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Helena (princesa grega), Minos (rei de Creta) e Hefesto (deus

do fogo).

Poderes e atributos: - De acordo com a crença

dos gregos antigos, Zeus ficava no Monte Olimpo governando

tudo o que acontecia na Terra. Era considerado também o deus

do céu e do trovão. Era representado nas pinturas e esculturas

num trono ou em pé, ao lado de um raio, carvalho, touro ou

águia. Estas representações simbolizavam qualidades e poderes

(rapidez, força, energia, comando) atribuídos ao deus.

Mitologia romana: - Entre os deuses romanos,

na mitologia romana, Zeus era conhecido como Júpiter,

possuindo as mesmas características e atributos da mitologia

grega.

O que é mitologia: - A Mitologia Grega é um

conjunto de mitos (histórias e lendas), sobre vários deuses,

heróis, titãs, ninfas, e centauros. A Mitologia Grega originou-

se da união das mitologias dórica e micênica.

Seu desenvolvimento ocorreu por volta de 700 a.C. Pode-se

dizer que na Grécia Antiga a religião era politeísta, pois os

gregos adoravam a vários deuses. Não existem escrituras

sagradas (como a Bíblia para os cristãos) a respeito da

Mitologia Grega. As principais fontes a esse respeito foram

escritas no século VIII a.C. por Hesíodo (Teogonia -

Teogonia de Hesíodo - Trata da gênese dos deuses, descreve a

origem do mundo, os reinados de Urano, Cronos e Zeus, e a

união dos mortais aos deuses, desta forma nascendo os heróis

mitológicos ), e por Homero (Ilíada e Odisseia). Na Teogonia

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Adriana Matheus

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são tratadas a origem e a história dos deuses gregos. Nas

narrativas Ilíada e Odisseia são descritos os grandes

acontecimentos envolvendo heróis e deuses. Os deuses, além

de ter forma humana, tinham sentimentos humanos como

amor, inveja, traição, ira, entre outros. Suscetíveis a esses

sentimentos, era comum os deuses se apaixonarem por

humanos e com eles terem filhos. Alguns heróis da Mitologia

Grega eram filhos de deuses e humanos. Os deuses, diferentes

de seus filhos, eram imortais. Os deuses do Olimpo são os

deuses mais poderosos dos vários grupos de deuses. Os deuses

do Olimpo se dividem em várias classes. A classe superior é

formada pelos seguintes deuses:

Quem foi Perseu:

- Perseu era um herói e não um deus; filho de

Zeus e Danae, que era uma princesa mortal, filha do rei Ar-

gos. Perseu casou-se com Andrômeda e foi governador de Ti-

rinto e Micenas, cidade que ele havia fundado. Seu principal

feito foi ter decapitado a Medusa, que era uma linda mulher,

porém com cobras na cabeça em lugar dos cabelos e dotada de

poderes mágicos extraordinários. Perseu é representado por

um jovem que tem uma espada em uma das mãos e segura a

cabeça da Medusa na outra.

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Perseu – O Príncipe dos heróis

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Nota da autora

Esta obra é baseada na mitologia grega,

alguns personagens foram acrescidos para dar mais

vida à história.

Dedico esta obra aos meus filhos Luccas

Matheus Manganelli e Davi Matheus, e ao Sr. Júlio

César Lopes da Silva – diretor da escola Municipal

Rocha Pombo (CAIC - Juiz de Fora - MG), que tão

gentilmente nos cedeu o espaço para o lançamento

dessa obra.

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Adriana Matheus

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Prólogo

O matador da Górgona Medusa era filho de

Zeus e de Dânae, filha de Acrísios que era o rei do reino de

Argos. Advertido de que seria morto pelo neto, Acrísios

trancou a mãe e a criança numa arca, lançando-as ao mar.

A pedido de Zeus, foram lançados por Posêidon

à ilha de Sérifo, onde foram salvos e onde Perseu cresceu até a

idade adulta. Polidectes, rei de Sérifo, apaixonou-se por Dânae

e temendo que Perseu talvez interferisse em seus planos,

enviou-o, então, numa missão para obter a cabeça da Medusa,

um monstro para o qual quem voltasse o olhar era

transformado em pedra. Mas aparentemente o destino

conspirava e Perseu acabou se deparando em uma cidade, onde

conheceu Andrômeda, seu eterno amor. Os dois apaixonaram-

se de imediato. Porém, a mãe de Andrômeda ofendeu

Posêidon, elogiando a filha e dizendo que sua beleza era maior

do que as filhas do deus, as ninfas das águas. Posêidon, então,

amaldiçoou toda a cidade, dizendo que só pouparia seus

habitantes caso Andrômeda fosse sacrificada ainda virgem.

Perseu, então, saiu à procura das Gréias para

descobrir como livrar Andrômeda do triste destino de ser

devorada pelo Kraken, monstro que guardava os sete mares.

Auxiliado por Flávius, seu fiel amigo, Perseu abriu caminho

por entre as Gréias – três velhas decrépitas que

compartilhavam o mesmo olho entre elas. Perseu tomou-lhes

o olho e recusou-se a devolvê-lo até que elas lhe dessem a

direção para alcançar a Medusa.

Perseu venceu muitas batalhas antes de retornar

à cidade de Cassiopeia e salvar sua amada, Andrômeda. E,

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Perseu – O Príncipe dos heróis

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mesmo depois de achar que tudo estaria bem, ainda teve que

enfrentar a ira e o ciúme de Calibos, o semideus filho da deusa

Tétis.

Para saber o final dessa incrível aventura, abra o

restante destas páginas e viaje...

Boa leitura!

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ÍNDICE

Intrudução.....................................12

Capítulo I - Perseu..........................19

Capítulo II - A Missão.....................23

Capítulo III - Do destino ao amor....32

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Perseu – O Príncipe dos heróis

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I - Perseu... á muito tempo, quando os deuses do

Olimpo ainda regiam o universo,

surgiu uma lenda de que a filha de

Acrísio, rei de Argos, daria à luz uma criança que ao crescer

tornar-se-ia o rei absoluto do reino de Argos. Argos era uma

cidade protegida por Zeus. Porém, ao saber da previsão feita

H

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Adriana Matheus

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por um oráculo, o rei passou a blasfemar e a repudiar Zeus

dentro do seu próprio templo sagrado. Zeus, então, tendo

observado o mau comportamento do rei Acrísio, zangou-se e

jurou cumprir a previsão feita pelo suposto oráculo para que,

assim, o mundo conhecesse o seu poder.

Desde então, Acrísio passou a vigiar a esposa,

que estava grávida. Os meses passaram-se e ela deu à luz uma

linda menina, porém, a esposa não resistiu ao parto e veio a

óbito. Acrísio respirou aliviado por saber que a mulher teve

uma menina ao invés de um menino. Mas, mesmo assim, o rei

Acrísio estava temeroso de ver cumprida a previsão do

oráculo, que mais uma vez avisou-o que poderia ser

perfeitamente sua filha Dânae a mulher a dar à luz aquele que

lhe roubaria o trono e a vida. O rei de Argos enclausurou-a

numa torre de bronze por anos, a que somente ele tinha acesso.

Acrísio, então, passou obsessivamente a proibir Dânae de ter

qualquer contato com alguém do sexo oposto. Assim, a jovem

passou a maior parte da infância e juventude triste, trancada

em uma torre onde ela poderia ter tudo que desejasse, menos a

liberdade. A jovem cresceu em igual beleza à própria deusa

Afrodite. Porém, das extremidades dos céus, Zeus observava

Dânae e desejava-a compulsivamente como mulher. Zeus era

um deus muito caprichoso e orgulhoso. Estava disposto a

cumprir a promessa que havia feito a Acrísio por tê-lo

ofendido em seu templo sagrado.

Certa noite, quando todos no palácio dormiam,

Zeus transformou-se em chuva de ouro, introduziu-se na torre

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Perseu – O Príncipe dos heróis

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gradeada e conheceu Dânae. Ela ficou encantada ao ver aquela

chuva misteriosa e amparou suas gotas com as mãos. Uma

delas escorreu pelos dedos, caindo sobre o chão e

transformando-se em um lindo jovem. Dânae rendeu-se aos

seus encantos de imediato.

Assim seguiram os dias da jovem: durante o dia,

tudo ocorria normalmente; mas à noite Zeus visitava-a. Até

que ela engravidou... No dia em que o deus estava se

despedindo de Dânae em seu leito, o rei Acrísio entrou no

quarto com seus soldados e flagrou-a nos braços de Zeus.

Irado, o rei tenta capturar o deus, que foge, transformando-se

em uma águia, voando pelos corredores da torre até alcançar a

liberdade. Nunca mais o deus visitou Dânae, pois já havia

cumprido a promessa de vingar-se do rei Acrísio.

Acrísio, porém, era teimoso, cruel e irado;

porque achava que sua filha havia traído sua confiança ao

engravidar-se de Zeus. Decidiu dar um castigo a ela e ao filho,

desafiando ainda mais o deus. Assim que o bebê de Dânae

nasceu, ele pediu para colocá-los dentro de uma arca de bronze

e que fossem lançados ao mar para que a arca afundasse e,

assim, Dânae e o filho morressem afogados.

Imediatamente, Zeus transformou a arca de

bronze lançada por Posêidon em uma arca de madeira,

impedindo que ela se afundasse. A arca chegou a uma ilha

chamada Sérifo, reino de Polidectes, que se apaixonou por

Dânae. Eles se casaram, criando o seu filho: Perseu. Zeus

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voltou para Argos e destruiu toda a cidade. Com as próprias

mãos, esmagou Acrísio. Deste, nem mesmo o pó foi deixado

como vestígio sobre a Terra. Zeus estava vingado e, agora,

seus olhos eram para seu filho: o semideus Perseu.

Perseu cresceu igualmente em beleza, força e

bondade – o que mais ainda chamou a atenção de Zeus,

demasiadamente orgulhoso por ter um filho belo, forte e com

um nobre coração. Perseu cresceu, prometendo voltar a Argos

um dia e reconstruí-la, tomando para si o trono que lhe era de

direito. A história de Dânae e Perseu espalhou-se por toda a

Terra e os dois viraram mito e cânticos em muitos lugares.

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Perseu – O Príncipe dos heróis

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II – A Missão

ais tarde, enciumado e com o intuito

de afastar Perseu da própria mãe

zelosa, o rei Polidectes encarregou

Perseu de uma perigosa missão: trazer a cabeça da Medusa, a

única górgona mortal ainda viva. Ela possuía a cabeça com

cabelos em forma de serpentes venenosas. Também tinha

presas de javali, mãos de bronze e asas de ouro. Seu olhar

transformava em pedra qualquer ser vivente que a fitasse.

Medusa havia sido amaldiçoada pela deusa Afrodite, que se

enfureceu depois de ela ter seduzido seu marido, Posêidon,

dentro de seu próprio templo sagrado. Medusa, então, deixou

de ser a mais bela das mortais para se transformar na mais

horrenda criatura já existente sobre a Terra.

Incumbido do mais novo destino, Perseu seguiu,

então, com seus fiéis soldados para terras distantes, jamais

pisadas por um mortal antes. No meio do caminho, ele chegou

a Athalais, uma cidade misteriosa. Lá, deparou-se com a deusa

Atena, disfarçada de ninfeta, que chorava muito. Perseu, então,

perguntou-lhe, ao ver a ninfeta debulhando-se em lágrimas:

– Por que chora, oh, filha dos deuses?

– Choro porque estou com fome e não tenho

nada para comer.

– Mas como não? Olhe à sua volta: quantos

pomares frutíferos e recheados de verdadeiros manjares! Como

pode estar com fome? – disse o chefe da guarda que

acompanhava Perseu, parecendo indignado ao ver a ninfeta

chorando.

Perseu olhou para a jovem, colocou as mãos na

cintura e respondeu:

M

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Adriana Matheus

24

– O que poderia estar faltando neste pomar?

Por que não come e para de chorar? – disse isso apontando

para seu redor e mostrando-lhe o tanto de árvores frutíferas

que existiam ali.

– Não posso comer essas frutas daqui. Só posso

comer uma maçã de ouro, que só cresce em uma árvore

especial no templo de Hades. – disse a ninfeta, apontando para

um templo em ruínas à sua frente.

– E por que você mesma não entra no templo e

colhe a tal fruta?

Todos os demais riram, concordando com

Perseu. Porém, a ninfeta respondeu tristemente:

– Porque esse templo é protegido por um

centauro perverso. Ele, além de não me deixar comer a maçã

que é o meu único alimento, também devora todos que lá

entram.

Todos se entreolharam, parecendo curiosos e

loucos por uma aventura como aquela. Perseu perguntou à

ninfeta, percebendo o entusiasmo de seus homens:

– O que quer que nós façamos para que não

fique mais triste e com fome?

Imediatamente, um brilho divino surgiu nos

olhos da ninfeta. Ela pediu a Perseu que fosse buscar para ela

uma maçã de ouro dentro do templo de Hades, em uma árvore

no meio de um misterioso e perigoso labirinto, guardado por

um centauro enfurecido e canibal. Em recompensa, ela dar-lhe-

ia duas sandálias com asas, que lhe ajudariam muito naquela

jornada difícil. Perseu, então, junto com o chefe da guarda e

um de seus seis homens, entrou no labirinto.

O labirinto era escuro e as trepadeiras que

cercavam suas laterais estavam vivas e cheias de veneno

mortal. Elas, ao perceberem a presença de nossos heróis,

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Perseu – O Príncipe dos heróis

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esticaram-se e conseguiram alcançar o soldado, enrolando-se

no corpo dele como uma espécie de casulo, enfiando seus

espinhos venenosos no corpo do rapaz. Ele morreu em um

instante, envenenado e sufocado pela erva daninha. Ficaram,

então, apenas Perseu e o chefe da guarda, que o seguia lado a

lado dentro do labirinto.

Perseu ouviu um som estranho. Empunhou sua

espada, de prontidão. De repente, surgiu à sua frente uma

enorme serpente de fogo. Perseu e o chefe da guarda lutaram

destemidamente com a serpente, mas não havia nada que a

detivesse.

Zeus, então, vendo os apuros do filho, exigiu

que Ártemis lhe enviasse ajuda. Muito a contragosto, a deusa,

enciumada, enviou um jarro contendo as águas sagradas de

Posêidon.

Por fim, os dois homens já estavam quase

exaustos de tanto lutar. Foi quando Perseu percebeu um

enorme jarro de porcelana. Dentro dele havia água, mas não

era uma água qualquer: era um presente da grande deusa

Ártemis.

Ártemis era filha de Zeus e de Leto e irmã

gêmea de Apolo. Tida como virgem e defensora da pureza, era

também protetora das parturientes e estava ligada a ritos de

fecundidade, embora fosse em essência uma deusa caçadora.

Encarnava as forças da natureza e tutelava as ninfas, os

animais selvagens e o mundo vegetal. Cultuada, sobretudo nas

áreas rurais. Na Ática, enfatizou-se seu caráter de senhora

das feras. Na ilha de Eubeia, foi considerada protetora dos

rebanhos. No Peloponeso, reconheceu-se seu domínio sobre o

reino vegetal e ela foi associada à água vivificante. Apesar

dessa imagem protetora, Ártemis exibia facetas cruéis: matou

o caçador Órion; condenou à morte a ninfa Calisto por

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deixar-se seduzir por Zeus; transformou Acteão em cervo para

ser despedaçado por sua própria matilha; e, com Apolo,

exterminou os filhos de Níobe e Anfião, para vingar-se de uma

suposta afronta. Suas ocupações principais eram a caça e a

dança, no que se fazia acompanhar das Ninfas.

Imediatamente, Perseu e o chefe da guarda,

Flávius, pegaram o jarro, cada um de um lado, jogando a água

nas chamas flamejantes da serpente. Sem as chamas, a

serpente ficou indefesa. Então, Perseu transpassou sua espada

na cabeça da serpente, eliminando-a, que soltou um terrível

grito de dor.

Continuaram a entrar mais a fundo no labirinto,

que parecia não ter fim. Até que chegaram à frente de uma

espécie de templo místico, cuja entrada estava totalmente em

ruínas. O cheiro fétido que saía de dentro do lugar era

insuportável – o que fez Perseu e Flávius enlaçarem suas capas

em volta do rosto para tentar amenizar o odor. Os dois homens

subiram cautelosamente os degraus do templo em ruínas. O

lugar era sombrio, úmido e coberto por musgos. A cada

passada que davam, mais o mau cheiro piorava.

Os dois homens ficaram diante de duas portas

largas e resolveram separar-se: cada um escolheu um caminho

diferente. Perseu escolheu o caminho da esquerda e seguiu

escuro adentro. Ele não podia ver mais nada, e diversos

animais desconhecidos arrastavam-se em seus pés. Por fim,

encontrou uma tocha acesa que lhe serviu de guia naquele

caminho, mais parecido à entrada para o inferno.

Chegou ao meio de um grande saguão de ossos,

onde eram depositados os corpos das pessoas que por ali

passaram. Perseu tinha que passar por cima daqueles cadáveres

para poder alcançar a outra extremidade e conseguir sair

daquele lugar abominável. Enquanto ele tentava atravessar por

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Perseu – O Príncipe dos heróis

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cima dos cadáveres e lutar com as lacraias, ratos e outros

bichos repulsivos, seu companheiro Flávius caminhava por

dentro da outra passagem e já estava para alcançar um enorme

jardim, onde a cotovia cantava lindamente e nada se parecia

com aquele lugar em que eles se enfiaram. Era como se fosse

outro mundo.

Flávius ficou totalmente atônito quando

encontrou duas lindas mulheres banhando-se em uma fonte.

Elas cantavam e convidavam-no para se refrescar junto a elas.

Ele ficou encantado com aquela visão de outro mundo.

Aquelas mulheres pareciam anjos: seus corpos eram perfeitos,

e suas vozes eram como o som de harpas suaves e melodiosas.

O homem, então, rendeu-se ao chamado das deusas do lago.

Flávius não sabia, mas as mulheres eram sereias vampiras e o

levariam para a morte assim que ele entrasse nas águas.

Ele começou a se despir, imaginando que havia

encontrado o verdadeiro paraíso. Quando já estava entrando

naquelas águas traiçoeiras, Perseu puxou-o para fora,

despertando-o do transe em que se encontrava. Então, Flávius

pôde ver a real face das mulheres: horrendas e com enormes

presas de lobo.

Quando Perseu conseguiu sair do mar de ossos,

achou uma pequena fenda, que o levou até onde Flávius

estava. Percebendo que o amigo estava encantado, colocou

musgo nos ouvidos para que o canto das sereias também não o

hipnotizasse. Foi assim que Perseu salvou seu companheiro de

um triste destino.

Porém, as sereias, percebendo que Perseu

ajudara o amigo, gritaram tão fortemente que quebraram a

barreira invisível que escondia a grande árvore de maçãs de

ouro. Os dois companheiros entreolharam-se e sorriram

largamente. A árvore era do jardim das Hespérides, onde

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crescia a árvore das maçãs de ouro. Não havia um motivo ou

lógica específica pela qual ela estava naquele lugar: era obra

dos deuses.

O pomo de ouro estava carregado de lindas

maçãs. Perseu estava quase alcançando uma delas quando um

rugido muito alto estremeceu a estrutura do templo. Os dois

homens olharam para trás e depararam-se com o centauro.

Os centauros eram monstros fabulosos, metade

homem, metade cavalo. Viviam nas montanhas e florestas.

Descendiam de Ixion, rei dos Lápitas, povo que habitava

próximo aos montes Pélion e Ossa, na Tessália. Embora

mantivessem contatos frequentes com os seres humanos,

mostravam-se selvagens e extremamente brutais em seus

hábitos. Descendente de Peneu, o deus-rio da Tessália, ou de

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Perseu – O Príncipe dos heróis

29

Sísifo, segundo outra genealogia, Ixion foi o primeiro mortal a

matar um membro da própria família. Para se casar, ele

prometeu dar presentes ao pai da noiva. Mas quando este foi

recebê-los, depois do casamento, o genro lançou-o em um fosso

cheio de brasas. Com isso, tornou-se culpado de crimes que

horrorizaram quem deles tomou conhecimento. Somente Zeus,

num dia de excepcional condescendência, purificou-o e

recebeu-o na morada dos deuses. Lá, Ixion resolveu assediar

Tétis, rainha dos deuses e esposa de Zeus. Mas este, rindo-se da

intenção do mal-agradecido, moldou uma nuvem com a forma

da deusa, deu-lhe vida e assistiu, divertido, ao cortejador

seduzir a nuvem. Depois, quando Ixion começou a se gabar de

ter seduzido a própria Tétis, a paciência divina chegou ao fim.

Para punir o criminoso, Zeus o prendeu a uma roda em chamas

que girava sem cessar, e lançou-o no Hades, o inferno

mitológico, onde deveria ficar por toda a eternidade. Mas da

união entre Ixion e a nuvem nasceu um ser metade homem e

metade cavalo: Centauro, pai dos monstruosos descendentes.

O animal olhou-os com ódio mortal e avançou

para cima deles, empunhando uma lança. Os dois lutaram

impiedosamente com o animal, até que Perseu subiu em suas

costas, enfiou a espada por trás e arrancou o coração do

animal. Ao matá-lo, Perseu e Flávius viram subir aos céus

todos os espíritos dos grandes guerreiros que estavam

aprisionados naquele lugar amaldiçoado por anos. Eram como

luzes transparentes de fumaça. Muitos daqueles guerreiros

Perseu reconheceu como sendo os homens das histórias

contadas por sua mãe.

Os dois amigos, cansados pela luta, sentaram-se

e descansaram por instantes. Depois de finalmente colherem as

maçãs, seguiram pela mesma trilha que Flávius havia

percorrido para chegar ali.

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Adriana Matheus

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O sol já estava se pondo no horizonte quando os

dois conseguiram sair do labirinto. Ao vê-los, a ninfa

perguntou pelo outro soldado. Ambos lhe responderam que ele

havia morrido no início do caminho. Perseu contou aos

companheiros e à ninfa toda a aventura que ele e Flávius

viveram dentro do labirinto. Todos ficaram maravilhados.

Perseu entregou à ninfa as maçãs e também algo

que ela não esperava: tirou de dentro de um alforje o coração

do centauro.

– Este veio de brinde. Agora, quando sentir

fome, não precisará ter medo de colher suas maçãs. Poderá por

si só entrar e pegá-las. – anunciou Perseu.

A ninfa, num gesto de gratidão, esticou a mão a

Perseu, dando-lhe em seguida uma das maçãs:

– Coma uma de minhas maçãs. Com isso,

tornar-se-á imortal.

Perseu comeu a maçã e a ninfa, então, revelou a

verdadeira identidade a ele, transfigurando-se na frente de

todos. Houve imenso alarido de surpresa e assombro. Em

seguida, a deusa deu a Perseu o merecido prêmio: as sandálias

com asas.

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Perseu – O Príncipe dos heróis

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Então, Perseu seguiu com seus soldados o árduo

caminho pedregoso e cheio de perigos. No percurso, pararam

em outro templo antigo. Perseu, mais uma vez, foi presenteado

pelos deuses, a pedido de Zeus, com um elmo de bronze, cujo

poder era a invisibilidade. Ganhou também um escudo de ouro

e prata e uma espada feita de um metal criado pelos deuses.

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Adriana Matheus

32

III – Do Destino ao amor...

camparam naquele templo por uma

noite. Durante seu sonho, Perseu

recebeu a visita de Zeus, seu pai, que

lhe disse:

– Perseu, você é meu filho e esses presentes foram um

presente dos deuses do Olimpo a meu pedido. Guarde-os com

cuidado, pois poderão salvar a sua vida.

Perseu acordou na manhã seguinte muito

impressionado, contando tudo o que sucedera durante a noite

ao seu fiel amigo Flávius. Depois, seguiram seu trajeto,

passando pela Etiópia. Lá se depararam com um enorme

festejo no qual Cassiopeia, esposa do rei Cefeu e mãe de

Andrômeda, proclamava a filha a mais bela de todas as

mulheres, até mais que as próprias ninfas das águas. Posêidon,

ao ouvir tal absurdo e sentindo-se insultado, ficou furioso e

castigou-os com uma inundação e com a presença de um

monstro marinho, o Kraken. Posêidon exigia a princesa

Andrômeda, ainda imaculada, como sacrifício. Um oráculo

informou a Cefeu que a única maneira de salvar o reino seria

expor Andrômeda ao monstro, o que foi feito.

Perseu, ao ver Andrômeda, apaixonou-se de

imediato. Compadecido da atual situação da moça, oferece-se

para ajudá-la, porém não havia nada que pudesse vencer o

Kraken. Um dos soldados de Perseu, porém, disse-lhe:

– Meu caro e nobre príncipe, existe, sim, uma

maneira de salvar a sua donzela.

– E qual seria essa maneira, meu nobre

soldado?

A

Page 26: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Perseu – O Príncipe dos heróis

33

– As feiticeiras de Sticks: três Gréias velhas e

totalmente cegas, dotadas de um fabuloso dom, que é o de

saber responder qualquer coisa que lhes seja perguntada.

– Então, que assim seja. Iremos imediatamente

ao encontro dessas feiticeiras.

– Porém, meu senhor, tem um grande

problema. – ressaltou o chefe da guarda.

– E que problema poderiam me causar três

mulheres velhas e cegas?

– Sim, meu senhor, por certo são cegas e

velhas, mas são também canibais. Nunca houve quem voltasse

de lá, de onde elas vivem.

– Não me importo com o perigo. Farei o que

for possível para salvar a princesa Andrômeda. – disse o jovem

apaixonado e obstinado a cumprir com aquela tarefa árdua.

Foram providenciados todos os preparativos

para seguir viagem. O jovem príncipe Perseu seguiu sua

jornada, sem saber que tudo aquilo estava escrito pelos deuses.

Depois de uma semana de viagem, ele finalmente encontrou as

montanhas de Sticks, onde viviam as Gréias. Porém, eles

levariam, no mínimo, um dia para escalarem a montanha

rochosa. Perseu, então, lembrou-se das sandálias de asas que

lhe foram dadas pela deusa Atena. Com isso, o jovem Perseu

chegou ao topo das montanhas em apenas algumas horas,

enquanto seus companheiros de jornada demoraram o dia todo.

Enquanto os companheiros de Perseu subiam

lentamente pela montanha rochosa e escorregadia, Perseu

arquitetou uma maneira de entrar no covil das feiticeiras.

Quando, por fim, seus amigos chegaram ao topo da montanha,

estavam todos muito exaustos e resolveram deixar aquela

missão para o outro dia. Na manhã seguinte, levantaram muito

cedo, seguindo em direção ao covil das Gréias.

Page 27: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Adriana Matheus

34

O lugar era muito escuro e sujo. Aquelas

mulheres decrépitas não tinham os olhos, pois haviam sido

amaldiçoadas pelos deuses. Por causa da ganância de seus

corações, foi-lhes tirada a visão. No lugar dos olhos, não

existia nada – nem mesmo uma marca sequer; a pele era lisa.

Quando Perseu resolveu entrar na gruta das

feiticeiras, seus soldados não quiseram entrar, temerosos pela

fama de as mulheres serem canibais. Somente Perseu e Flávius

entraram. Dentro da gruta, Perseu e Flávius não conseguiram

permanecer incógnitos, pois as mulheres, embora não

enxergassem, tinham com elas um olho de cristal que lhes

servia de visão. As Gréias eram horrendas e muito sujas. Seus

dedos eram pontiagudos, e elas tinham presas em forma de

serras em vez dos dentes normais. Os poucos fios de cabelos

que sobraram na cabeça davam-lhes ainda mais o pior dos

aspectos. Elas eram empalidecidas e cheiravam muito mal.

Usavam trapos rasgados como vestes e cozinhavam

incessantemente alguma coisa podre e esverdeada dentro de

um caldeirão borbulhante, de onde saíam estranhos ruídos,

como gemidos humanos. O cozido mais parecia uma grande

gosma humana sendo remexida a todo instante.

Uma delas, ao perceber a presença dos jovens,

colocou o olho na frente da testa para poder vê-los melhor. Ao

perceber que Perseu era um jovem forte e bonito, disse ela:

– Aproxime-se mais, meu querido, para que eu

possa vê-lo nitidamente.

A segunda queria ver com quem a irmã estava

falando e, de imediato, tomou o olho de cristal da mão da

primeira. Enquanto as mulheres brigavam entre si, a terceira

perguntou:

Page 28: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Perseu – O Príncipe dos heróis

35

– O que tão saborosas criaturas estão fazendo

aqui? – disse isso, enquanto afundava a mão de um homem no

líquido esverdeado do caldeirão.

Perseu e Flávius entreolharam-se, parecendo

enjoados ao verem o cozido sinistro. Embora Perseu estivesse

repudiando a funesta criatura, respondeu-lhe:

– Estamos aqui porque soubemos que as

senhoras são as criaturas mais sábias de todos os tempos e

podem responder a qualquer pergunta que queiramos fazer-

lhes.

As Gréias começaram a brigar entre si por causa

do olho, o que deu a Perseu a chance de tomá-lo das velhas.

Ao perceberem o que Perseu fizera, clamaram:

– Misericórdia, dependemos desse olho para

sobrevivermos! Por favor, devolva-nos o olho!

– Sim, eu lhes devolverei assim que me

responderem uma pergunta.

– O que você quer saber? – disse a primeira.

– Faremos o que nos pede, responderemos as

suas perguntas, mas nos devolva o olho. – disse a segunda.

– Diga-nos o que você quer logo saber e, assim,

nós o responderemos! Anda! – disse a terceira, parecendo

ansiosa para ter o olho de volta.

– Quero saber como um mortal pode matar o

Kraken.

Todas elas começaram a rir. A primeira

respondeu:

– Isso é impossível, nenhum mortal pode matar

o Kraken.

– Não, não. Existe, sim, uma criatura que pode

matá-lo, mas nunca ninguém voltou vivo de lá, de onde ela

vive, para contar. – disse a terceira.

Page 29: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Adriana Matheus

36

– E quem é a tal criatura capaz de poder matar

o Kraken? Falem logo, ou nunca mais verão o olho!

– Não, não, por favor, eu digo: é a Medusa. Ela

é a única criatura capaz de matar o Kraken. Mas ressalto que

você terá que tirar a cabeça dela.

– Sim, mas ela não vai dar a própria cabeça

assim, de mão beijada para você. – disse a segunda feiticeira,

caçoando de Perseu.

– Ela é tão mortal que, mesmo depois de morta,

até o seu sangue pode ser venenoso. Ele é tão mortal quanto os

seus olhos.

– Se sua cabeça é tão mortal quanto seu sangue,

como poderei trazer sua cabeça caso consiga derrotá-la e matá-

la?

– Você tocou no olho. Assim como ele tem o

poder de nos dar a visão, ele também pode imunizar a sua

capa. Faça um alforje com ela e coloque a cabeça da medusa

dentro. Assim, o sangue dela não escorrerá e não prejudicará

você nem seus companheiros.

Imediatamente, Perseu esfregou o olho mágico

sobre a capa vermelha e depois o jogou ao chão, para que as

feiticeiras pegassem o artefato precioso. Assim, ele e Flávius

ganhariam tempo para fugirem da gruta das Gréias canibais.

Ao chegarem do lado de fora, os soldados

tiveram o árduo trabalho de descer a montanha rochosa e

escorregadia. Perseu, porém, novamente usou as sandálias para

descer e aguardou por seus companheiros, calmo e tranquilo,

em solo firme. Quando a noite caiu, ele, muito a contragosto,

aceitou a ideia de acamparem mais um dia. O tempo estava

passando e estava chegando o dia em que Andrômeda seria

entregue ao Kraken. Perseu estava aflito, mas aproveitou a

noite e cozeu o alforje feito da própria capa.

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Perseu – O Príncipe dos heróis

37

Na fatídica manhã seguinte, Perseu levantou

exausto porque não conseguira dormir. Na noite anterior,

tivera inúmeros pesadelos com Andrômeda sendo devorada

pelo Kraken. Perseu sentiu medo e estava temeroso de não

conseguir capturar a górgona. Então, ele clamou aos deuses

para que o ajudassem. Compadecido por ver a humildade de

Perseu, Zeus imediatamente lhe enviou um presente dos céus:

Pégaso, o último de todos os seus cavalos alados.

Page 31: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Adriana Matheus

38

O animal era magnífico e surgiu

inesperadamente dos céus, com suas admiráveis asas

gigantescas. Pégaso desceu dos céus, transformando os ventos

em redemoinhos, que se dissipavam aos pés de Perseu. Todos

os demais em volta ajoelharam-se para receber o presente

vindo do Olímpio. O animal, ao ver Perseu, aproximou-se e

reverenciou-o, provando a todos que ele era enviado por Zeus

e que estava ali para servir a seu filho. Imediatamente, Perseu

acariciou-o no focinho e montou-o. Os dois saíram cavalgando

por entre as nuvens.

Ambos formavam um conjunto de criaturas

divinas e perfeitas que magistralmente desfilava nos céus,

fazendo até ao mais incrédulo dos mortais sonhar com o

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Perseu – O Príncipe dos heróis

39

surreal. Depois de divertir-se, montando e voando sobre o

alazão alado, Perseu desceu e caminhou lado a lado com seus

homens, montando seu cavalo comum, enquanto Pégaso o

seguia dos céus.

Três dias já haviam se passado depois que os

corajosos homens saíram da gruta das Gréias. Estavam quase

chegando perto do reino de Hades, o submundo onde as trevas

imperavam e o desconhecido mais uma vez esperava por eles.

Eles teriam que atravessar o mar dos mortos dentro de uma

gôndola guiada pelo emissário da própria morte.

Os homens seguiram o trajeto, cada qual mais

apreensivo que o outro. À medida que se aproximavam da

encosta, mais e mais parecia que seus corações iam batendo

em um ritmo descompassado. Era como se soubessem que algo

maligno envolvia aquele lugar, que a cada instante mais

distante da realidade se tornava. Os soldados eram homens

corajosos, mas exigir que eles não sentissem medo mediante

tais situações dos últimos dias era pedir demais – até mesmo

para homens acostumados com o campo de batalha.

De repente, quando nada mais parecia ser

surpresa, eis que surge na frente deles um intenso e misterioso

nevoeiro que pairava sobre a terra, as águas e a praia. Mal dava

para enxergar os próprios pés. Ao aproximarem da beira das

águas, Perseu desceu do cavalo e tocou uma enorme trombeta

feita com o chifre de uma serpente do mar. A melodia era

parecida ao clamor dos mortos. Em um piscar de olhos,

apareceu, em meio ao nevoeiro denso, dentro de uma gôndola

negra e com uma carranca na forma de dragão na frente, um

barqueiro misterioso e sinistro, usando uma veste rasgada e

negra. Ele trazia nas mãos uma foice. Ao se aproximar, o

barqueiro silenciosamente esticou as mãos de esqueleto e

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Adriana Matheus

40

Perseu colocou sobre elas três moedas de prata, subindo em

seguida cada um dentro da gôndola.

Dali por diante, Pégaso não seguiu mais Perseu

das alturas – mas Perseu sabia que se precisasse do fiel amigo,

era só assobiar. Assim seguiram nossos heróis mar adentro,

com um nevoeiro que mal se podia visualizar o que estava à

frente. Não existia dia naquele lugar. Era como se o tempo

nunca passasse. As águas cheiravam a sangue, e diversos

clamores ecoavam à volta de Perseu e seus cinco

companheiros. Todos estavam muito assustados e tentavam

manter os nervos calmos. Em alguns momentos, dava a

impressão de que vultos passavam sobre eles e, com medo,

acabavam esbarrando-se uns nos outros. A tensão tomou conta

do grupo dos bravos destemidos heróis, pois a falta de visão

era uma constante.

Depois de muitas horas navegando por entre

aquelas águas sinistras e no meio daquele nevoeiro denso,

finalmente a gôndola encontrou terra para que nossos viajantes

pudessem atracar. Perseu desceu da gôndola cautelosamente e

pegou uma tocha, que estava estacada na areia, logo na encosta

onde o barqueiro os deixou. Depois de acender a tocha, ele

disse aos companheiros:

– Podem descer, homens. Parece seguro.

Acendam as outras tochas que estão adiante e vamos seguir

caminho.

Os homens obedeceram com os corações cheios

de medo e insegurança. Um dos soldados disse:

– Senhor, é noite. Mesmo aqui, neste lugar

fúnebre e sem luz, seria melhor que esperássemos o dia

amanhecer para entrarmos no templo da Medusa, pois não

sabemos o que poderemos encontrar com essa escuridão toda.

Flávius concordou com o soldado dizendo:

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Perseu – O Príncipe dos heróis

41

– Senhor, acho que devemos acampar esta

noite. Mesmo que o dia aqui se pareça com a noite, ainda

assim teremos mais chances de sobrevivermos na penumbra do

que na escuridão.

Todos concordaram entre si e Perseu não

hesitou em seguir o que os companheiros sugeriram. Armaram

acampamento à beira do mar e acenderam uma fogueira para

protegê-los do frio e dos perigos eminentes. Perseu sentou-se

perto do chefe da guarda e ambos ficaram conversando sobre

as aventuras que encontraram desde que saíram do reino do rei

Polidectes. O restante dos soldados aproveitou para se

distraírem um pouco, bebendo vinho que um deles havia

levado dentro de um alforje feito com o couro de carneiro.

Perseu ficou inerte, olhando o tempo, perdido

em seus próprios pensamentos, imaginando o rosto de

Andrômeda. Ele sentiu o cheiro da amada vindo através dos

ventos que vinham de terras muito distantes. Depois, resolveu

beber com seus homens e acabou adormecendo e sonhando

com Andrômeda.

No sonho, Perseu entrava em um reino

misterioso. Na verdade, era um pântano sujo e sombrio. De

repente, ele via Andrômeda sendo trazida em uma gaiola por

uma ave de rapina gigantesca. A ave pousava e a gaiola

abria-se. Andrômeda descia, vestida com um fino véu azul, e

seguia em direção até onde estava sentada em um trono de

ossos uma criatura horrenda e terrível. A besta, ao ver

Andrômeda, levantava e também seguia ao encontro da

princesa. Em seguida, a besta tomava-a pelos pulos e

obrigava-a a sentar-se ao seu lado. Andrômeda chorava muito

e pedia que a besta libertasse sua alma. A besta dava uma

terrível gargalhada e respondia:

Page 35: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Adriana Matheus

42

– Nunca! Está presa a mim por toda a

eternidade.

Em seguida, Perseu acordou agitado e suando

muito. Ao perceber que o amigo acordou daquele jeito todo

aflito, Flávius perguntou, preocupado:

– O que aconteceu, senhor? Algo em que eu

possa ajudá-lo?

Perseu, então, contou a Flávius sobre o seu

sonho angustiante e aparentemente premonitório. Flávius

respondeu:

– Senhor, esse seu sonho está parecendo um

aviso.

– Como assim? Você acha que minha amada

Andrômeda está correndo perigo agora?

– Isso não sei, senhor. O que sei é que dentro

de duas semanas a sua princesa será sacrificada ao Kraken.

Mas o que estou tentando lhe dizer é que a besta de seu sonho

é Calibos, filho da deusa Tétis, amaldiçoado por Zeus por

causa das crueldades praticadas contra as criaturas da Lua.

Quando sua mãe, a deusa Tétis, deu-lhe os muros da Lua para

que ele governasse, Calibos destruiu e perseguiu toda criatura

viva que encontrou pela frente – sem contar que ele cercou e

matou todos os cavalos alados de Zeus, deixando apenas o

Pégaso. Zeus, então, amaldiçoou Calibos com a deformidade.

Ele se tornou uma criatura horrenda aos olhos humanos. Por

ter sido motivo de deboche entre muitos, refugiou-se no

pântano escuro, onde vive até hoje. Calibos era um homem

muito bem afeiçoado. Quando ainda estava em sua forma

humana, quis se casar com Andrômeda, mas ela rejeitou seu

amor. Calibos jurou vingar-se dela. E agora o senhor me conta

esse sonho... Sinto muito, mas acho que pode ser uma

premonição ou um aviso dos deuses.

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Perseu – O Príncipe dos heróis

43

– Não permitirei que minha amada Andrômeda

seja vítima dessa besta humana! Eu mesmo a destruirei com

minhas próprias mãos.

– Muito nobre de sua parte, senhor, mas antes

temos que destruir a górgona. Aliás, não sei se o senhor

percebeu, desde que saímos da ilha de Sérifo, reino do rei

Polidectes, vivemos prestes a nos tornarmos o jantar de alguma

criatura dos infernos ou feiticeiras canibais!

Ambos começaram a rir e Perseu disse:

– É o destino, meu caro, é o destino...

Quando os dois companheiros caíram em si, o

dia estava raiando. Eles levantaram e acordaram os outros

quatro homens, que ainda dormiam sob o efeito do vinho da

noite anterior. Mesmo tendo amanhecido, a ilha da Medusa era

escura e no céu havia nuvens espessas de cores acinzentadas.

Seguiram por dentro da ilha, cortando o mato

seco que passava de suas cabeças. Até que chegaram a um

templo em ruínas, de onde saiu um uivo que gelou suas almas.

Perseu, então, seguiu em frente, subindo as escadarias do

templo. Até que bem à sua frente surgiu uma enorme criatura

bestial de três cabeças: Cérbero, um animal imenso, com olhos

vermelhos e presas gigantescas.

O cão dos infernos surgiu no meio do nada e

atacou-os com uma fúria mortal. Cada um dos homens lutou

contra uma daquelas cabeças, mas foi Perseu que o venceu,

usando a espada que lhe foi dada por seu pai, Zeus. No

entanto, Perseu perdeu mais um de seus companheiros, que

foram estraçalhados pela terrível criatura. O animal caiu,

gemendo de uma forma horripilante, debatendo-se ao chão, até

que não mais tivesse vida. Os homens entreolharam-se,

calculando o que estaria guardando aquela criatura das trevas.

Page 37: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Adriana Matheus

44

Se a Medusa transformava qualquer criatura

viva em pedra, por certo havia algum motivo para ela ter dado

àquela criatura o privilégio de ainda estar viva. “Ou seria mais

um desafio dos deuses?”, pensou Perseu, exausto por causa da

luta.

Os bravos e destemidos jovens estavam,

finalmente, dentro do templo da Medusa. Sorrateiramente, eles

iam se encostando pelas paredes. Porém, um dos soldados se

assustou com o barulho da górgona arrastando-se por de trás

dele e, sem querer, virou-se para trás, olhando em seus olhos:

transformou-se em pedra imediatamente. Outro jovem tentou

sair do templo, mas a Medusa o laçou com a calda, esmagando

todos os ossos do seu corpo, transformando-o em pedra e, em

seguida, pó. O terceiro e último soldado tentou livrar o amigo

das garras da megera, mas foi envenenado por uma das flechas

de seu arco.

Perseu escondeu-se atrás de uma pilastra de

mármore e jogou o escudo para seu fiel amigo, Flávius, que o

inverteu para o lado mais polido. Assim, com o escudo na

frente do rosto, Flávius não olharia para a Medusa e daria a

chance de Perseu ter uma visão exata de como e onde estava a

famigerada.

A megera, ao perceber o reflexo de Perseu,

arrastou-se vagarosamente até onde ele estava, meio

desconfiada por perceber que o jovem resistia à sua maldição

petrificadora. A megera, então enfurecida, abriu suas asas,

armando o arco e estendendo uma flecha na direção do reflexo

de Perseu, pois ela supunha que o acertaria. Ao se aproximar

mais do reflexo emitido pelo escudo, Perseu mirou a cabeça da

górgona com a lâmina de sua espada e, com um golpe preciso

e certeiro, arrancou-a.

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Perseu – O Príncipe dos heróis

45

A cabeça caiu ao chão. Nem deu tempo de a

megera perceber o que lhe havia acontecido. Porém, seu corpo

ainda estava sob o efeito de seu veneno mortal e debatia-se

como louco – o que começou a abalar as estruturas do templo,

desmoronando-o. Perseu imediatamente pegou a cabeça da

górgona por trás, jogando-a dentro do alforje que fizera com a

capa, juntando as pontas e dando um nó. Ele sabia que a capa

estava imune por causa do olho das feiticeiras. Perseu jogou o

alforje com a cabeça sob as costas e saiu daquele templo em

ruínas com seu amigo Flávius.

Ao saírem, notou que as nuvens abriam-se e o

sol voltara a brilhar naquele lugar amaldiçoado. Pequenas

plantas rasteiras começaram a brotar do solo, e minúsculas

florzinhas abriam-se, enchendo o lugar de vida novamente. As

aves estavam retornando e sobrevoavam a ilha. O intenso

nevoeiro ia se dissipando como que em um passe de mágica.

Os dois homens olharam aquele milagre acontecer com um

largo sorriso de vitória e alívio nos lábios. Em seguida, Perseu

assoviou e eis que surgiu Pégaso. Assim, ele e Flávius

voltaram para a Grécia, onde estariam sendo executadas as

ordens de Posêidon.

A viagem de volta demorou duas semanas

exatas. Os jovens tiveram que parar algumas vezes para

descansar e comer – o que os atrasava em seu tempo escasso.

Pégaso demonstrava-se cada vez mais esperto e fiel, salvando

por várias vezes seu mestre de animais como serpentes,

aranhas e escorpiões. À noite, os homens puderam dormir

sossegados, pois Pégaso mantinha-se sempre alerta. Durante o

dia, os homens cavalgavam pelas nuvens no lombo do corcel

alado, que incansavelmente levava-os pelos céus. A paisagem

era indescritível, pois nenhum outro mortal havia ido tão longe

antes, cruzando os céus e podendo contemplar a magnitude de

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Adriana Matheus

46

ver a Terra tão belamente de cima, num esplendor

indescritível. As paisagens e o vento batendo em seus rostos

davam-lhes a incrível sensação de liberdade e de poder

absoluto.

Ao se aproximarem da cidade da rainha

Cassiopeia, mãe de Andrômeda, Perseu avistou ao longe o

grande tumulto que se formava. Era o dia em que Andrômeda

seria sacrificada ao Kraken. Perseu pousou o corcel e deixou

Flávius ao chão. Subiu, em seguida, no lombo do corcel alado

e sobrevoou o Kraken. Este, ao ver Pégaso, quis lançá-lo ao

mar como uma mosquinha. Perseu chegou a bambear sobre o

cavalo, mas não caiu.

O bravo herói tira a cabeça da medusa do alforje

feito de sua capa, erguendo-a e mostrando-a ao Kraken em

seguida. Em instantes, a criatura foi se transformando em

pedra, começando pelos olhos. Seus pedaços foram caindo ao

mar, causando uma espécie de maremoto e inundando tudo o

que encontrou à volta. Perseu desceu do corcel alado e

desacorrentou sua amada, beijando-a suavemente nos lábios.

Todos os demais que assistiam à execução da

donzela comemoraram satisfeitos por Perseu ter libertado sua

futura rainha. Após o seu casamento com Andrômeda – uma

festa que durou um mês – Perseu retornou à ilha de Sérifo e

libertou sua mãe de Polidectes, que havia se tornado um

terrível e cruel tirano. Perseu usou a cabeça da Medusa para

transformar o rei e seus seguidores em pedra. Então, todos

retornaram a Argos, onde Perseu reconstruiu a cidade de seu

falecido avô – tornando, assim, verdadeira a lenda do oráculo

que dizia que o seu neto seria o rei de Argos. O oráculo

também dizia que seria Perseu o causador de sua morte – o

que, de certa forma, foi verdade, pois por causa de Perseu,

Zeus, seu pai, destruiu toda a cidade com uma inundação.

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Perseu – O Príncipe dos heróis

47

Ao sair de Argos, Perseu fundou Micenas, e

tanto a Grécia como o Egito honraram-no como herói. Essas

qualidades também despertaram a inveja de alguns deuses do

Olimpo, como da fabulosa Tétis. Ela incentivou seu filho,

Calibos, a tomar para si a esposa de Perseu, a princesa

Andrômeda. Calibos, então, sorrateiramente, teceu sua trama

diabólica com a ajuda de sua mãe. A besta, então, evocou das

profundezas a mais terrível das criaturas: o Klaus.

Klaus era um abutre gigantesco, sedento por

sangue, que estava sob o domínio de Calibos. A deusa Tétis,

tomada pela inveja e pelo ódio porque seu filho estava sob a

maldição de Zeus, jogou sobre Andrômeda o encanto do sono,

fazendo-a permanecer adormecida o tempo todo, como se

estivesse morta.

No palácio real, durante uma cerimônia festiva,

Andrômeda caiu inexplicavelmente ao chão. Dali por diante,

permaneceu adormecida, como se estivesse morta. Todos os

médicos e especialistas em feitiços foram chamados pelo rei

Perseu. Ele, desesperado, tentava de tudo para salvar sua

amada esposa. Até que Amadeus, o mais poderoso profeta de

todos os tempos, foi solicitado para ajudar Andrômeda.

Amadeus evocou as forças ocultas para tentar

salvar a princesa. Foi aí que, então, foi-lhe revelado o seguinte

presságio: A princesa Andrômeda tinha a alma capturada por

Calibos, e este a mantinha presa sob seu domínio até que ela

fosse totalmente dele. Amadeus passou todas as informações a

Perseu, que imediatamente lembrou-se de seu sonho. Quase

numa súplica, ele disse:

– E como ele a mantém sob seu domínio? O

que deverá ser feito para que eu possa salvar minha

Andrômeda dessa besta imunda?

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Adriana Matheus

48

– Deverá primeiro usar de cautela, pois se

Calibos souber que o senhor desconfia, ele mata Andrômeda

imediatamente. Como eu disse, por enquanto somente a sua

alma está aprisionada. A princesa permanecerá nesse sono

profundo até que a sua alma seja liberta. Calibos usou de uma

magia muito poderosa. Ele, por certo, foi ajudado por sua mãe.

Ele colocou Andrômeda em sono profundo até que ela perca

suas forças vitais e ele a capture de corpo e alma para sempre.

– O que tenho que fazer? Diga-me!

– Deverá ir ao reino de Calibos, no mais

perigoso de todos os pântanos, e lá deverá descobrir como ele

faz para manter a alma de Andrômeda sob o seu poder. Mas

lembre-se: ele tem também a ajuda de seus soldados, criaturas

enviadas pela morte. O senhor pode não sobreviver a essa

terrível jornada, pois o caminho até o reino de Calibos é muito

perigoso e só Zeus sabe quais os perigos que poderá encontrar

pela frente.

– Como poderei, então, chegar até Calibos e

descobrir uma forma de derrotá-lo e libertar minha esposa?

– Durante a noite, enquanto sua esposa dorme o

sono dos justos, ele envia a seus aposentos uma terrível

criatura, o Klaus. Esse animal dos infernos leva consigo uma

gaiola e, com isso, a sua esposa entra e, assim, ele a tem todas

as noites.

– Mas como não vejo isso, se ela dorme ao meu

lado todas as noites?

– O senhor dorme também profundamente sob

o encanto, assim como todos os demais de seu palácio. No

entanto, esta noite o senhor tomará esta poção que lhe preparei

para que, com isso, o senhor não consiga dormir hoje. Quando

a criatura bestial estiver se aproximando de seu quarto na

calada da noite, o senhor imediatamente deve colocar o elmo

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Perseu – O Príncipe dos heróis

49

que lhe foi dado pelos deuses. O elmo tem o poder da

invisibilidade e, com isso, o senhor deverá subir sobre o lombo

de Pégaso e seguir a criatura alada até as profundezas do

pântano escuro, para onde ela leva a alma de sua Andrômeda.

Naquele exato momento, Perseu reviveu o

sonho que tivera meses atrás. Ele estava impressionado com a

revelação de Amadeus. Foi, então, que Perseu decidiu entrar

sozinho no reino de Calibos, dizendo:

– Estou disposto a fazer o que for preciso para

salvar minha amada Andrômeda. Entrarei sozinho no reino

dessa besta e o destruirei.

Amadeus discordou de Perseu e insistiu para

que ele levasse reforços, mas Perseu respondeu firmemente:

– Nunca! Não posso colocar meus homens

novamente em perigo por uma coisa que está destinada a mim.

Amadeus ressaltou:

– Então, que pelo menos o senhor leve consigo

os homens até a entrada do pântano e, de lá, siga sozinho, pois

os caminhos serão tortuosos e muito perigosos. Deixe que seus

homens ao menos o acompanhem durante o caminho. O senhor

não pode seguir sozinho durante toda essa jornada. É muito

nobre de sua parte querer salvar sua esposa, mas é burrice

querer seguir sozinho. E mesmo o senhor sendo um semideus,

não conseguirá atravessar o deserto de sangue, assim chamado

devido às tantas batalhas acontecidas naquele lugar sem honra.

O senhor também não conseguirá enfrentar os perigos desse

lugar, pois dizem que lá os animais são criaturas monstruosas e

gigantescas. Muito menos conseguirá passar pelo portal de

Lekos, pois dizem que a esfinge que guarda o lugar sempre

tem um enigma para ser desvendado. Nenhum mortal

conseguiu atravessar esse portal até hoje. Por isso, previno-o

que não enfrente esses eminentes perigos sozinho. Precisará,

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Adriana Matheus

50

sim, de toda a ajuda que conseguir contatar. Pense bem, meu

senhor, e seja prudente. Todos os homens que morreram em

suas viagens sabiam que iriam encontrar diversos perigos e,

mesmo assim, seguiram em frente porque estava no sangue

deles a aventura. Não existem vitórias sem derrotas, como não

existe honra sem a morte. Hoje, esses homens são

considerados heróis por todos à sua volta. Acredite: as famílias

daqueles soldados, mesmo tendo passado pela dor da perda de

cada um deles, sentem orgulho daqueles homens corajosos.

Mande chamar seus homens aqui e eu mesmo explicar-lhes-ei

como farão para que consigam passar por essas duas provas de

fogo.

Perseu meditou por instantes e disse a um

lacaio, que estava encostado em um canto e esperando uma

ordem qualquer:

– Rapaz, vá até Flávius e peça-lhe que

convoque oito de seus melhores soldados. Com eles, que

venha até aqui.

Olhou em seguida para Amadeus e disse:

– Espero que realmente eu esteja tomando a

decisão correta, pois não gostaria de levar comigo a morte de

homens inocentes.

– Acredite, meu senhor, esses bravos soldados

estão esperando para que o senhor os convoque e os leve

juntos nessa aventura.

Os soldados chegaram e reverenciaram Perseu,

que foi direto ao assunto, pois não queria perder tempo com

detalhes. Os homens ouviram atentamente cada palavra do rei.

Depois, permaneceram em silêncio para ouvir também o que

Amadeus lhes explicava. Todos murmuravam entre si, mas foi

Flávius quem tomou a frente, dizendo:

Page 44: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Perseu – O Príncipe dos heróis

51

– Estamos a seu dispor, meu rei, e estamos

dispostos a dar nossas vidas pela rainha Andrômeda. A partir

de agora, sua palavra será nossa ordem. – bateu com a mão

direita e o punho fechado no próprio peito.

Todos seguiram Flávius com o mesmo gesto.

Perseu olhou-os dentro dos olhos e disse-lhes:

– Quero que saibam que para sempre terão a

minha gratidão. Aconteça o que acontecer, suas famílias serão

amparadas até o fim de suas vidas. Eu mesmo farei um decreto

em que exonerarei seus familiares de qualquer imposto

cobrado neste reino. Caso haja uma fatalidade, quero que

saibam que será erguido um monumento em honra de cada

homem, que deverá ser reconhecido como herói.

Os homens, mais uma vez, fizeram reverência

ao rei Perseu.

No dia seguinte, Flávius e oito de seus melhores

soldados esperavam Perseu a postos. Todos estavam com

medo e, ao mesmo tempo, ansiosos por começarem a nova

aventura. Dentro do palácio, no entanto, Perseu chorava por

Andrômeda, que permanecia como morta, deitada em seu leito

de núpcias. Perseu ajoelhou-se diante da amada, dizendo-lhe:

– Juro, minha amada esposa, que enquanto não

matar Calibos e restituir-lhe a vida novamente, não voltarei.

Eu lhe juro pela minha vida. – disse, beijando-a nos lábios e

saindo em seguida.

Do lado de fora, Perseu foi aclamado junto com

seus soldados e, então, eles partiram para a nova jornada. O sol

estava escaldante e a água que eles bebiam parecia não surtir

efeito. Caminharam os homens dois dias e duas noites sem

nem descansar, até que Perseu deu-lhes ordem para uma

trégua:

Page 45: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Adriana Matheus

52

– Alto, homens! Pararemos mais à frente,

naquele oásis. – disse, ao avistar um pedaço do paraíso à sua

frente.

Perseu e seus soldados desceram

cautelosamente de seus cavalos, pois havia algo de estranho no

ar. Flávius olhou para Perseu e interrogou-o:

– Senhor, não acha estranho aparecer um oásis

assim, no meio do nada? E se for uma armadilha de algum

gênio do mal?

– Então, saberemos dentro de alguns instantes,

creio.

– Então, devemos ter cautela, pois há algo

maligno no ar.

– Diga aos homens que permaneçam juntos e

que não acreditem em nada que aparecer à frente dos olhos,

pois sinto que esse oásis é uma ilusão.

Flávius e os soldados seguiram lado a lado,

exceto um deles que, ao ver uma luz brilhando no meio da

relva verde, saiu do meio do grupo e seguiu até o local,

tentando ver se encontrava o objeto luminoso que ofuscava

ainda mais com os raios do sol. Ao se aproximar, o soldado viu

uma lamparina de ouro coberta pela areia, deixando à mostra

somente um pedaço que resplandeceu com os raios do sol

escaldante daquele deserto. O homem abaixou-se e tomou para

si o objeto. Logo que suas mãos o tocaram, uma voz

fantasmagórica saiu de dentro dele. O soldado assustou-se de

imediato, jogando o objeto ao chão. A voz prosseguiu, saindo

de dentro da lamparina:

– Julius, liberte-me e lhe darei toda a riqueza

do mundo. Farei de você o homem mais poderoso do

universo...

Page 46: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Perseu – O Príncipe dos heróis

53

O homem, muito ambicioso, pegou novamente a

lamparina:

– Quem é você, e como saberei que não é um

truque?

– Não é um truque, eu garanto. Meu caro

Julius, sou um gênio e meu mestre, muito mau, aprisionou-me

por séculos nesta lamparina de ouro para que eu nunca mais

pudesse conceder um desejo a alguém, senão a ele próprio.

– E como saberei que não está mentindo para

mim?

– Não estou, meu caro amo. Liberte-me e

provarei que o que falo é a mais absoluta verdade.

– E o que tenho que fazer para libertá-lo daí?

– Esfregue a lâmpada e verá!

Page 47: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Adriana Matheus

54

O ingênuo e ambicioso rapaz assim o fez. Logo

da lamparina começou a sair uma nuvem de fumaça.

Assustado, o soldado novamente jogou a lamparina ao chão,

crente que o gênio iria lhe dar toda a fortuna que havia

prometido. Fora da lamparina, o gênio era gigantesco. Ao se

ver livre, deu uma enorme gargalhada, chamando a atenção de

Perseu e de seus soldados, que estavam bem à frente do

soldado desgarrado.

Perseu, então, decidiu voltar e averiguar o

porquê do sumiço de seu soldado. Ele também queria saber

que barulho estrondoso era aquele. O soldado olhou para cima

e ficou perplexo ao ver o gigante que saíra de dentro da

lamparina. Mediante as promessas feitas pelo gênio, o soldado

grita:

– Eu o libertei, e agora exijo que me dê o que

prometeu.

O gênio olhou para aquele ser minúsculo à sua

frente.

– E desde quando recebo ordens de um mortal?

Acha mesmo que eu lhe concederei algum desejo? Para mim,

você não passa de um verme tolo e insignificante.

Dizendo tais palavras, o gênio do mal esmagou

com um dos pés o soldado. Perseu, Flávius e o restante dos

soldados chegaram no exato momento em que o gênio

executava o soldado. Perseu e seus homens tentaram, então,

lutar contra o gênio, que se transformou em fumaça.

– Senhor, é impossível lutarmos contra esse ser,

pois sua forma incorpórea torna-nos impotentes. – disse

Flávius a Perseu.

– Sim, você tem razão. Mas temos que tentar,

ou esse monstro vai nos matar.

Page 48: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Perseu – O Príncipe dos heróis

55

Seguiram-se as horas com os homens e Perseu

lutando em vão contra o gênio. Este apenas se divertia com os

golpes de espadas que transpassavam o corpo dele quase

invisível. Até que ele resolveu dar fim ao seu divertimento

macabro, dizendo:

– Estou cansado de me divertir com vocês, seus

vermes. Vou esmagá-los um a um.

O gênio começou o extermínio, esmagando

mais dois soldados de Perseu. Ao perceber que perderia a vida

e também a de seus homens, Perseu tomou a frente, gritando:

– É muito fácil para o senhor nos derrotar.

Afinal, tem o triplo do nosso tamanho e também usa de

poderes ocultos para isso.

– Quem disse isso? – perguntou o gênio,

admirado por perceber que um daqueles minúsculos homens o

desafiava.

– Eu disse. – pulou Perseu à frente dos demais.

– E quem é você, insignificante criatura?

– Sou Perseu, filho de Zeus e rei de Argos.

Ainda ressalto, o senhor é poderoso porque é grande em

demasia e usa seus poderes ocultos, mas não acredito que um

ser tão gigantesco caiba dentro de uma mísera e apertada

lamparina.

O gênio sentiu-se desafiado e deu outra sonora

gargalhada, respondendo:

– Então, terei o privilégio de esmagar um

mortal que se julga filho de Zeus? – outra gargalhada.

– Por certo, para o senhor isso deve mesmo ser

fácil. Aceito suas dúvidas, mas também tenho o direito de

duvidar que um ser tão poderoso e exuberante como o senhor

caiba nessa mísera lamparina. Isso seria um feito muito

Page 49: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Adriana Matheus

56

grande, até mesmo para alguém com o seu poder. Somente um

gênio poderia executar tal maravilha.

– Não cairei no seu truque. Sou um gênio e

digo: saí de dentro dessa lamparina. – disse o gênio meio

desconfiado, mas com o ego ferido.

– É mesmo? Então nos prove! Se for mesmo

quem realmente nos diz ser, caberá facilmente dentro desse

artefato minúsculo e poderá nos matar. Agora, se não for, terá

que ficar em forma sólida para que tenhamos a chance de

matá-lo.

O gênio, com o orgulho ferido e sentindo-se

desafiado a provar quem ele era, transformou-se em nuvem e

entrou na lamparina. Imediatamente, Perseu lacrou-a com cera

e, assim, prendeu o gênio para sempre dentro do artefato.

Perseu enterrou a lamparina no meio do oásis e, assim, o gênio

do mal se perdeu para sempre, pois as areias do deserto cada

dia estão em um lugar diferente.

Os homens, então, decidiram acampar naquele

refrescante oásis, passando ali uma noite tranquila. No dia

seguinte, Perseu decidiu fazer uma homenagem aos soldados

que haviam morrido esmagados pelo gênio: queimou os

pertences dos amigos junto a algumas ervas, para que assim

seus espíritos descansassem em paz. Seguiram, então, os

bravos homens deserto adentro.

O sol escaldante do deserto deixou os homens

com vertigens. Muitos deles começam a ter alucinações.

Perseu, com isso, perdeu dois de seus melhores cavalos. Assim

seguiram os dias e as noites torturantes pelo deserto de sangue,

assim chamado porque nunca ninguém havia conseguido

atravessá-lo com vida. Aqueles homens eram corajosos e

cheios de perseverança, pois seguiam Perseu, acompanhando-

o, sem se preocupar como os perigos eminentes que os

Page 50: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Perseu – O Príncipe dos heróis

57

esperavam. Quando, por fim, chegaram ao grande portal de

Lekos, uma esfinge cercou-os, dizendo:

– Para passarem, têm que decifrar o enigma.

Decifra-me ou devoro-te.

Perseu e os cinco homens entreolharam-se como

quem queria dizer “A sorte foi lançada!”.

– Então, diga-nos: qual é o enigma, oh, rainha

de toda a sabedoria?! – perguntou Perseu.

– Dois irmãos não de sangue, mas de batalhas,

unidos não pelos laços sanguíneos, mas pela honra e pela

coragem. Destemidos, ambos vencem a morte, mas apenas um

retornará para os braços de sua amada. Após dizer o enigma,

a esfinge fala:

– Vocês só terão três chances para responder a

esse enigma. Caso contrário, fá-los-ei virar pó.

Perseu, Flávius e os homens afastaram-se da

esfinge, sentando-se cada um de um lado. Todos ficaram

pensativos e temerosos no que iriam responder. Porém, no

meio dos cinco homens, eis que surgiu um jovem soldado de

nome Cirus, que gritou, saindo de perto dos companheiros:

– Eu sei, senhor, eu sei a resposta.

– Então, diga, pelo amor de Deus, homem! Não

temos mais tempo a perder! – disse Flávius, pegando o jovem

Page 51: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Adriana Matheus

58

soldado pelos braços e levando-o para frente da esfinge

novamente.

Na frente da gigantesca criatura, o rapaz disse:

– Posso decifrar o seu enigma, serei o primeiro

a derrotá-la.

– Então, faço votos para que seja verdade. Caso

contrário, transformá-los-ei em cinzas.

– Repita para mim novamente, para que eu

responda.

Novamente, a esfinge declamou seu enigma.

– Dois irmãos não de sangue, mas de batalhas,

unidos não pelos laços sanguíneos, mas pela honra e pela

coragem. Destemidos, ambos vencem a morte, mas apenas um

retornará para os braços de sua amada.

– O rapaz, cheio de si e confiante que sua

resposta era a correta, respondeu:

– Sua resposta é os irmãos Castor e Pólux, que

foram dois irmãos gêmeos, filhos de Leda com Tíndaro e Zeus,

respectivamente, irmãos de Helena de Troia e Clitemnestra, e

meios-irmãos de Timandra, Febe, Héracles e Filónoe. Eram

conhecidos coletivamente como Dióscuros, ou seja, "filhos de

Zeus". Por vezes, também, são referidos

como Tindáridas, uma referência ao pai de Castor e pai

adotivo de Pólux. No mito, os gêmeos partilham a mesma mãe,

mas têm pais diferentes, o que significa que Pólux, por ser

filho de Zeus, era imortal, enquanto Castor não o era. Com a

morte deste, Pólux pediu a seu pai Zeus que deixasse seu

irmão partilhar da mesma imortalidade. Porém, ao conseguir

a imortalidade, Castor trai seu irmão Pólux, disputando a

mesma mulher com seu irmão, Millena. Esta, porém, decide

ficar com Pólux. Irado, Castor resolve matar os dois

enamorados, convidando-os para um passeio. Durante o

Page 52: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Perseu – O Príncipe dos heróis

59

passeio, Castor decapita o irmão e a jovem Millena com um

cutelo de bronze. Ao ver a traição, Zeus se ira contra Castor e

o leva, corpo e alma, para o Olímpio. Como Zeus não poderia

voltar atrás com a promessa feita ao filho de dar a

imortalidade ao irmão, decide juntá-los em um só corpo.

Assim, teriam sido transformados na constelação de Gêmeos.

Essa foi a história que minha mãe contou a mim e ao meu

irmão quando ainda éramos crianças. Os irmãos são a sua

resposta, pois eram irmãos, mas eram filhos de pais diferentes

e eram destemidos. E venceram a morte, transformando-se em

estrelas no céu. E ambos não voltaram para os braços de sua

amada. Então, agora, diga-me se estou ou não certo no que

disse!

Todos se entreolharam com medo de que a

resposta pudesse estar errada.

Depois de observar em cada detalhe a reação

daqueles que, para ela, eram insignificantes criaturas, a esfinge

deu uma estrondosa gargalhada, que abalou o solo:

– Adorei sua historinha! Agrada-me muito

saber que um simples mortal teve a boa vontade de tentar

entreter-me com um conto tão simpático, mas demasiadamente

falso e folclórico! Sua historinha não passou nem perto de ser

a resposta ao meu enigma.

Dizendo tais palavras, a esfinge lançou um raio

de fogo sobre o jovem que, em instantes, transformou-se em

cinzas, caindo por partes ao solo.

De maneira revoltada, um dos soldados saltou à

frente de todos. Ele era irmão do jovem que havia sido

destruído pela esfinge. Correu em direção à esfinge, tentando

feri-la com um golpe de espada. Obviamente, nada ocorreu,

mas a esfinge, indignada por estar sendo atacada, soltou-lhe

Page 53: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Adriana Matheus

60

outro raio de fogo. O jovem soldado tornou-se pó, que se

esvaiu com o vento do deserto.

Perseu olhou para Flávius e o interrogou:

– Desde quando existiam irmãos entre os

nossos?

– Confesso que para mim também foi uma

surpresa.

Um soldado que ouvia a conversa se interpôs,

dizendo:

– Eles se recrutaram com sobrenomes

diferentes. Eram poucos de nós que sabiam o grau de

parentesco entre os dois.

– Então, isso explica essa constrangedora

situação, pois só permitimos um homem de cada família entrar

para a guarda real. – disse Perseu, ainda surpreso com a

situação.

A esfinge gritou irada, fumegando de ódio e

assustando os homens que estavam inertes, sentidos pela morte

dos companheiros:

– Seus insolentes, eu os destruirei por tamanho

desrespeito a mim! Acham mesmo que podem me ferir com

suas armas insignificantes?

Dizendo isso, a esfinge rosnou como um leão

furioso, soltando fumaça pelas ventas. Levantou-se do chão e,

já no momento em que partiria para esmagar todos, Perseu

tomou a frente:

– Não, por favor, oh, magnânima criatura,

soberana de todas as esfinges! Perdoe-nos! Dê-nos outra

chance! Não se zangue com a gente por causa daquele jovem.

Ele é um soldado bom e só teve um desequilíbrio emocional

por causa da morte do irmão. Sei que nos dará outra chance,

pois a senhora é sábia e superior a todos nós, mortais. Com

Page 54: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Perseu – O Príncipe dos heróis

61

certeza nos dará o seu perdão, pois sua nobreza é maior que

qualquer desacato que venhamos a lhe fazer.

Dizendo tais palavras, Perseu conseguiu

comover a esfinge, mexendo com o seu ego. Porém, a

exuberante e gigantesca criatura respondeu:

– Amanhã, somente até amanhã, ao meio-dia: é

o tempo que lhes darei para que decifrem o enigma.

Perseu reverenciou-se diante da esfinge,

agradecendo-a pelo tempo estendido. Ele e os dois soldados

restantes armaram acampamento próximo do local onde se

encontrava a esfinge. Assim, passaram a noite inteira tentando

decifrar o enigma. Exaustos, os homens acabaram

adormecendo e todos durante a noite tiveram sonhos

enigmáticos, cuja resposta cada um guardou para si, para

tentarem individualmente responder à esfinge.

Na manhã seguinte, a esfinge acordou-os com

um estrondoso rugido. Os homens levantaram com a alma

pesarosa por saberem que aquele poderia ser o último dia de

suas vidas. Ela, no entanto, não parecia nem um pouco

preocupada com a resposta que lhe dariam aqueles que, para

ela, nada significavam. Ela bocejou calmamente e perguntou:

– Quem será o primeiro entre vocês que dará a

própria vida? –sorrindo cinicamente.

Flávius respondeu por todos:

– Eu, oh, magnânima criatura! Responderei por

mim e por meus companheiros. Creio já saber a sua resposta.

– Ato corajoso de sua parte, mas que fique bem

claro que não irei perdoá-los caso a resposta esteja errada.

Vendo que o amigo estava a ponto de cometer

um terrível engano, Perseu pulou na sua frente e disse:

– Não! Não posso deixar que se sacrifique por

nós. Deixe que eu responda ao enigma.

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Adriana Matheus

62

– De maneira nenhuma, meu senhor! É muito

nobre de sua parte, mas se o senhor morrer, estaremos

perdidos.

– E se você morrer, meu caro amigo, estaremos

perdidos de igual modo. Deixe-me responder ao enigma.

– Mas, senhor, tive um sonho muito revelador

esta noite e tenho a certeza de que é a resposta ao enigma.

Um dos soldados, percebendo a discussão entre

os amigos, interveio:

– Senhor, perdoe-me pela intromissão, mas

percebo que todos nós tivemos sonhos reveladores esta noite.

Perseu olhou para os demais, que concordaram

com a cabeça. Isso deu uma certeza ainda maior dentro dele,

que lhes disse:

– Então, meus caros, é óbvio que isso é uma

armadilha dos deuses. Deixe-me responder à esfinge. Tenho

certeza de que meu sonho é o que tem a resposta correta. Não

que eu esteja desmerecendo os sonhos de cada um, mas sei que

tem o dedo da deusa Tétis no meio disso tudo.

Todos se entreolharam e, a contragosto, deram

passagem a Perseu, que saiu em direção à esfinge. Ela disse, ao

vê-lo:

– Então, terei a honra de matar o filho de Zeus

em primeiro lugar?

– Tenho certeza, oh, magnânima criatura, de

que não será desta vez. Por favor, repita o enigma para mim,

para que eu responda!

Desconfiada, a esfinge repete novamente o

enigma:

– Dois irmãos não de sangue, mas de batalhas,

unidos não pelos laços sanguíneos, mas pela honra e pela

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Perseu – O Príncipe dos heróis

63

coragem. Destemidos, ambos vencem a morte, mas apenas um

retornará para os braços de sua amada.

– A resposta a esse enigma sou eu e meu amigo

Flávius.

Os homens entreolharam-se novamente,

apavorados, com medo de serem trucidados pela esfinge.

Porém, Perseu prosseguiu:

– Sim, eu e Flávius. Dois irmãos não de

sangue, mas de batalhas, unidos não pelos laços sanguíneos,

mas pela honra e pela coragem: assim como eu e Flávius, pois

não somos irmãos de sangue, mas nos consideramos como tal,

e não estamos unidos pelos laços de sangue, mas sim pela

nossa honra e pelas inúmeras batalhas que enfrentamos. Como

todos sabem, enfrentamos a morte inúmeras vezes e agora,

aqui, diante de sua magnitude e de seu poder, enfrentamo-la

novamente, pois sabemos que se não a respondermos

verdadeiramente, morreremos. E somente eu voltarei para os

braços de minha amada, pois meu amigo Flávius ainda não é

casado.

Ao ouvir a resposta de Perseu, corretíssima, a

esfinge urrou de ódio. Seu urro foi tamanho que estremeceu

toda a sua estrutura de pedra. Percebendo que os pedaços da

esfinge começaram a desmoronar, Perseu e seus amigos

atravessaram imediatamente o vale em meio aos destroços da

fera.

Por fim, chegaram do outro lado do deserto de

sangue, onde se viram em um vale coberto por montanhas

rochosas. Perseu e os amigos seguiram, temendo que algo pior

estivesse por vir. Caminharam por duas horas debaixo de um

calor sufocante e sem limites, até que ouviram um barulho

estranho... Então, Perseu e seus corajosos amigos voltaram-se

Page 57: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Adriana Matheus

64

para olhar o que poderia vir por trás deles. Porém, nada viram.

Até que a terra começou a tremer sob seus pés.

Os cinco homens juntaram-se, formando um

círculo, cada um cunhando suas espadas. Foi quando um dos

homens de Perseu avistou ao longe um pequeno sinal de poeira

que mal dava para se ver por causa da areia, que fazia uma

espécie de redemoinho em volta do vulto suspeito. A cada

proximidade do vulto, mais eminente o perigo ficava. Até que

o vulto finalmente tomou forma de três enormes escorpiões.

Eles haviam sidos enviados pela deusa Tétis

para exterminar aquele grupo de corajosos amigos. Perseu

olhou para Flávius, que lhe deu um sorriso de ironia. Os

homens, destemidamente, partiram para cima dos escorpiões,

mantendo por horas uma luta mortal entre eles e os animais

peçonhentos e gigantescos.

Um dos soldados conseguiu subir em um dos

escorpiões e arrancou o ferrão do gigantesco animal, cunhando

em seguida a espada em sua cabeça. Enquanto isso, Perseu e

Flávius travavam uma luta mortal com o maior e mais perigoso

dos três animais, conseguindo, por fim, cada um enfiar uma

espada em seu coração. O animal caiu por terra.

O último dos escorpiões prendeu uma das patas

na roupa de um dos soldados e, vendo-se encurralado por

Perseu e Flávius e os outros dois soldados, a criatura bestial

correu, arrastando o soldado. Os homens correram, tentando

socorrer o amigo, mas foi inútil: a criatura escorregou em um

precipício, caindo e levando consigo o pobre rapaz para morte.

Exaustos por mais um batalha vencida, os

quatro amigos seguiram viagem. Por fim, chegaram à frente de

uma imensa mata que surgiu no meio do nada. Era onde

Calibos escondia a alma de Andrômeda. Os amigos entraram

caminhando pela mata, que parecia ficar cada vez mais densa e

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Perseu – O Príncipe dos heróis

65

assustadora, pois inúmeros olhos pareciam vigiá-los. No meio

da mata, finalmente encontraram o pântano escuro. Perseu,

então, decidiu que entraria sozinho, pois não gostaria de perder

mais nenhum de seus companheiros. Os homens, no entanto,

opuseram-se a ele, dizendo-lhe que seguiriam junto e que isso

era uma escolha individual. Seguiram, mais uma vez juntos, os

bravos heróis...

Perseu, mais adiante, pediu a Flávius e aos dois

soldados que ficassem e esperassem que ele lhes desse um

sinal de ataque. Perseu colocou sobre a cabeça o elmo de

bronze, que tinha o poder da invisibilidade. Com isso, então,

entrou no covil de Calibos sem ser percebido pela besta e seus

monstros guardiões.

Foi no exato momento em que a grande fera dos

ares, o Klaus, entrou carregando uma gaiola de ouro, trazendo

dentro a alma da princesa Andrômeda. A princesa desceu

tristemente da gaiola, seguindo em direção a onde estava

sentado um animal com o rosto desfigurado, cujo corpo era

metade homem e metade cabra. Perseu aproximou-se da

amada sem ser percebido por ninguém e ouviu quando ela

disse com uma voz que mais parecia um sussurro:

– Por favor, meu senhor, liberte-me desse

sofrimento. Estou muito cansada e fraca.

– Nunca! Você me traiu, trocando-me pelo

filho de Zeus. Agora, ambos pagarão com o sofrimento e a

morte.

– Não é verdade! Fui-lhe fiel enquanto você e

eu éramos comprometidos, mas agora... Mediante... Por favor,

meu senhor, eu lhe imploro: liberte minha alma. Amo meu

esposo Perseu.

A besta, enfurecida, bateu com uma das patas

em Andrômeda, que caiu desfalecida ao chão. Diante daquele

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Adriana Matheus

66

ato de crueldade e covardia, Perseu partiu invisivelmente para

cima da criatura, que começou a dar socos pelo ar. Seus

soldados eram demônios e entreolharam-se, achando que seu

mestre havia ficado louco. Perseu, então, assoviou alto. Esse

foi o sinal para que seus homens entrassem e lutassem com os

demônios.

Perseu cravou a ponta de sua espada no coração

de Calibos, que urrou, chamando por sua mãe, a deusa Tétis.

Enquanto Klaus sobrevoava Perseu, tentando atacá-lo, ele

lançou sua espada nele. Klaus caiu estirado ao chão,

afundando pântano adentro e levando consigo a espada sagrada

de Perseu.

Os homens de Perseu conseguiram derrotar,

também, os demônios. Estes, ao verem que seu mestre havia

sido derrotado, fugiram para dentro do pântano sombrio e

musguento. Perseu correu para os braços de sua amada,

Andrômeda, que a cada instante ia desaparecendo. Ele tomou

sua alma nos braços e, percebendo que ela estava se findando e

sumindo a cada instante, chorou.

– O que farei sem o meu amor? – pergunta

Perseu a Flávius.

Todos se calaram mediante tamanho sofrimento

e dor.

Do outro lado, Calibos agonizava, clamando por

sua mãe. Tétis desceu do Olimpo em forma de uma nuvem de

gafanhotos e transformou-se em uma linda senhora diante dos

olhos de todos. A deusa, ao ver seu filho Calibos morrendo,

abraçou-o e consolou-o em seus últimos momentos de vida.

Calibos, ainda nos braços da deusa, voltou à sua forma humana

depois de morto, o que a enfureceu mais ainda. Com ódio

mortal de Perseu e seus amigos, a deusa disse:

Page 60: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Perseu – O Príncipe dos heróis

67

– Seus miseráveis, eu os destruirei um a um

pela morte de meu filho!

Dizendo isso, a deusa levantou-se e, no exato

momento em que iria destruir Perseu e seus homens, surgiu

Zeus em forma de trovão. Irado e indignado com a atitude da

deusa, ele esbravejou:

– Não, Tétis, você não vai ferir meu filho ou

quem quer que seja mais!

– Mas ele matou o meu filho!

– Seu filho pagou pelo preço da desobediência

e da crueldade que praticava. Seu filho era um monstro, e não

falo isso por causa da forma em que o coloquei, mas sim pela

forma como ele agia. Ele era intolerante e cruel, arrogante e

sem coração. Mereceu ter o fim que teve.

– Mas, meu senhor... Eles o mataram em uma

emboscada injusta! – esbravejou a deusa.

– Injusto é você não perceber a realidade à

frente dos seus olhos. Seu filho era a criatura mais cruel que já

habitou o planeta Terra. Não quero mais saber de argumentos!

Minha palavra é uma ordem.

Dizendo isso, o deus enviou a deusa de volta ao

Olimpo como que em um passe de mágicas. Perseu

permaneceu abraçado à alma de Andrômeda. Ao ver aquela

cena, Zeus disse:

– Por sua coragem e bravura, meu filho,

concederei a vida dessa mulher novamente. Que você e seus

bravos soldados retornem à cidade de Argos em segurança,

onde serão aclamados por todos. Quanto a você e à sua esposa,

meu filho, serão declamados em muitos versos e trovas por

muitos e muitos anos. Sua história será contada por todas as

gerações futuras. Quando os mortais olharem para os céus,

verão no meio das estrelas você e sua esposa, Andrômeda.

Page 61: PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

Adriana Matheus

68

Dizendo tais palavras, Zeus transportou Perseu

e seus soldados para seu palácio em segurança. Ao se perceber

no pátio do palácio, Perseu deixou seus homens com os

aplausos da vitória e correu para seus aposentos, onde

encontrou Andrômeda despertada de seu terrível sono de

morte. Os dois beijaram-se e Perseu começou a lhe contar tudo

o que se passara nos últimos dias... Andrômeda deixou rolar

uma lágrima dos olhos, e os dois olharam para os céus, onde

viram a constelação que Zeus havia mencionado – lugar onde

passariam seus dias de eternidade.

Como Zeus previra, a história de Perseu e

Andrômeda é contada por todas as gerações. Seus feitos jamais

foram esquecidos. Perseu tornou-se, então, o príncipe dos

heróis.

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Perseu – O Príncipe dos heróis

69

FIM

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Adriana Matheus

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Sobre a autora

Nascida em Juiz de Fora em 01/10/1970, onde

reside com seus dois filhos, a autora Adriana Matheus escreve

desde os 14 anos de idade. Já participou de diversos concursos

de literatura, inclusive de poesias, neste ganhou o prêmio de

melhor iniciante, em 1999. Já escreveu nove obras: O Segredo

dos Girassóis; Um Olhar Vale Mais que Mil Palavras (sendo

que esta obra é a finalista no concurso Lei Murilo Mendes

neste ano – 2012); Lendas Urbanas; O Segredo dos Orixás;

Perseu, o Príncipe dos Heróis; Memórias de um Psicopata; A

cigana e a Lua, Doriko; Mary Polask; sendo que O Segredo

dos Girassóis é a que mais se destaca por ser uma obra de fácil

entendimento e por envolver o leitor na leitura. O Segredo dos

Girassóis ganhou neste ano de 2012 (em julho) o selo de boa

escolha e o prêmio de excelência em literatura como

reconhecimento da editora BOKESS. A autora publica todas as

suas obras pela editora Ixtlan (http://www.editoraixtlan.com),

e neste ano recebeu o convite para publicar pela editora Chiado

http://www.chiadoeditora.com), editora de Portugal que quer

traduzir o livro Um Olhar Vale Mais que Mil Palavras para o

inglês; essa parceria será muito boa para a carreira literária da

autora, que já aceitou o convite e pretende publicar a obra

ainda no ano de 2012. A autora faz parte da Academia Luso

Brasileira de Letras da cidade de Juiz de Fora-MG e já

concorreu a vários prêmios de literatura, inclusive ao prêmio

da Lei Murilo Mendes dessa cidade em 2010. Esse prêmio dá

ao autor e à obra a chance de um grande reconhecimento nesse

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Perseu – O Príncipe dos heróis

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município. Atualmente, a autora faz parte da UBE (União

Brasileira de Escritores), também é membro participante do

Clube dos Novos Autores (site muito conhecido que permite

a divulgação dos autores e suas obras). Adriana Matheus é

espiritualista e quase todas as suas obras são ditadas pelo

espírito do padre Ângelo Wallejo Morales, que viveu no século

XVIII no Mosteiro de San Francisco, na Espanha. Adriana

Matheus segue a tradição da serpente (ou tradição da Lua) e

cumpre piamente os preceitos da religião Wicca.

Contatos da autora:

http://anairdameuslivros.blogspot.com