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Suplemento Cultural do Diário Oficial do Estado de PernambucoTRANSCRIPT
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E xpediente
EXPEDIENTE
SUMÁRIO
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EDITORIALO que Gabriel Garcia Márquez e Joaquim Cardozo têm em comum? E o
Democratas com o PSOL? Ou o Partido Humanista da Solidariedade - PHS - como PR? Em princípio, coisa alguma. Apenas siglas, e siglas, e siglas. Mas, vendobem, as coisas não são assim. Incrível: as distâncias os une. No conteúdo ou naforma, na paixão pela vida, pela literatura, pela política.
Por isso o Pernambuco trata da desarrumação estrutural do princípio doséculo a partir de matéria exemplar de Schneider Carpeggiani, que joga para oalto a pergunta incômoda: a literatura é a tribuna ideal para o debate político?Daí a aproximação do escritor colombiano com o pernambucano JoaquimCardozo, poeta cuja principal qualidade se apóia na forma. Garcia Márquez dizsim; Cardozo responde, não.
Passo seguinte, pergunta-se por que tanta movimentação de siglas nos par-tidos políticos brasileiros, abrindo espaço para inquietações? Mesmo sem umareforma política rigorosa, os partidos estão mudando de nomes, de siglas, em-bora o conteúdo continue o mesmo. Ou seja, muda a forma, mas não o con-teúdo. E se não muda o conteúdo, a forma seria apenas uma preocupantemaquiagem?
Em recente foto publicada em muitos jornais do mundo inteiro, o PrêmioNobel de Literatura venezuelano aparece justo ao lado de Fidel Castro, com opresidente cubano vivendo o seu emblemático outono político. Nada daquelehomem ousado, de ombros largos e olhos de fera, pronto para o combate. Nãoé um velho decadente - nada disso. É apenas um cidadão cuja agonia dobrouos ombros. Mas a foto insiste em colocar o dilema eterno em debate.
Assim, Fidel seria a imagem outonal de um mundo político que, a princípio,estaria em desordem na estrutura? Ou significa apenas aquela mudança de pelea que somos submetidos ao passar das gerações? Sem espanto, sem perplexi-dade, sem dor. A literatura e a política caminham juntas, mesmo com as dife-renças e as aproximações. O assunto se desdobra desde o corpo do Pernambucoaté o caderno Saber ++ Debate que é editado por Marilene Mendes e MarizaPontes, e onde o estudante ainda encontrará perguntas sobre a obra de JoaquimCardozo, que caem no vestibular da UPE. Tema para debate e discussão.
Daí vem depois a bela matéria de Samarone Lima abordando a �Descobertados Mundos�, através do fascínio da literatura, em diagramação criadora deJaíne Cintra, e que completa a missão libertadora da literatura, entre meninas emeninos. Quer briga? Leia a matéria de Artur A. de Ataíde sobre o críticoliterário. E é gol? Claro que é gol. Basta ler o conto de Nélson de Oliveira, quefecha o caderno do jornal.
A beleza, porém,não acaba aqui: basta acompanhar, página a página, oscartões postais que conduzem à matéria de Renata Amaral, completa e resplan-decente, num toque de criação da diagramadora.
Sem esquecer as inovações, o Pernambuco traz no Saber ++ a coluna de JoséCláudio, em sua série sobre o Amazonas, com uma crônica que enfeitiça, lem-brando, sobretudo, a figura mágica de Hermilo Borba Filho. O editorial decidiupelo encarte porque José Cláudio aparece em página dupla, e possibilita, entreoutras coisas, a companhia polêmica de escritores consagrados no Saber ++ alémda certeza de ser lido com facilidade e paixão.
Raimundo [email protected]
Entre nna bbriga - O Pernambuco abre espaço para os leitores a partir dopróximo número. Escreva dez linhas sobre �Trabalho e Escravidão no Brasil�,para debater com nossos colaboradores. Veja e-mail no editorial.
Segundas maldições - Por que os críticos derock implicam tanto com os segundos álbunsdas bandas?
Sou artista, quero o meu crachá - Estudo analisaas credenciais dos artistas plásticos
O que não é arte, não se discute -Artigo questiona legitimação dos críticosliterários
A geografia da solidão - Os 40 anos do clás-sico Cem anos de solidão e da sua políticamacondista
A descoberta dos mundos - Samarone Limacomenta sua oficina literária para jovens carentes
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GOVERNADOR DO ESTADO
EEdduuaarrddoo CCaammppooss
VICE-GOVERNADOR
JJooããoo LLyyrraa NNeettoo
SECRETÁRIO DA CASA CIVIL
RRiiccaarrddoo LLeeiittããoo
SECRETÁRIO GRÁFICO
GGiillbbeerrttoo SSiillvvaa
REVISÃO
GGiillssoonn OOlliivveeiirraa
EQUIPE DE PRODUÇÃO
DDeebboorraa LLoobboo,, EElliisseeuu BBaarrbboossaa,,JJoosseellmmaa FFiirrmmiinnoo,, LLííggiiaa RRééggiiss,,RRoobbeerrttoo BBaannddeeiirraa ee VViivviiaann PPiirreess
Circulação quinzenal. Parte integrante do Diário Oficial do Estado de Pernambuco. Distribuído exclusivamente pela
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EDIÇÃO DE ARTE
JJaaíínnee [email protected]
EDIÇÃO DE IMAGENS
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Gol? - Conto inédito de Nelson de Oliveira
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x2+ y - 2xy= televisão - Como a televisão colo-
ca em xeque o debate entre público e privadono Brasil
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Um passarinho me contou - O sitePost Secret traz a intimidade triste eengraçada dos internautas em for-mato de postais
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M úsica
itágoras foi um filósofo grego que viveu em algum intervalo entre os anos 580 e 496 antesde Cristo. Ele não deixou nada escrito e pouco se sabe sobre a sua vida. Dizia que o princí-
pio de todas as coisas do universo estava nos números, e chegou a esta conclusão ouvindo músi-ca - mais precisamente, a relação entre os sons tocados por um instrumento popular daquelaépoca, a lira de quatro cordas.
Para aquele pensador de Samos e seus seguidores, o Um era a unidade primordial, a totali-dade das coisas visíveis e invisíveis - e não o dois, o três ou o vinte e sete. De acordo com o inven-tor do teorema mais famoso de todos os tempos, o mundo se explica pela oposição entre osnúmeros ímpares e os pares. O problema todo estava nesses últimos, que representavam o inde-terminado, o divisível, o imperfeito.
A escola pitagórica foi muito influente à época, mas foi rapidamente superada pelo pensa-mento de Heráclito. Aos poucos, a partir do final da década de 50 do século XX, quando jovenscomeçaram a vestir jaquetas de couro, andar de moto, mexer a pelve e esculpir topetes de bri-lhantina no cabelo, o pensamento de Pitágoras foi retomado por uma nova classe emergente: oscríticos de rock.
Sim, porque só recorrendo a Pitágoras é que os críticos conseguiram explicar a Maldição doSegundo Álbum, um mal que afeta várias gerações de artistas de rock desde os primórdios dogênero. Nada mais parece justificar a dificuldade das bandas com o número dois. Já foi dito queas causas seriam as pressões das gravadoras e da mídia, a imaturidade dos artistas, ou mesmoque o problema está em quem ouve. Nada disso me convence, a não ser a explicação pitagóricade que o dois, como número par, é a imperfeição, e é necessário para manter o equilíbrio dascoisas. A relação entre o primeiro e o segundo álbum é semelhante à do alto para com o baixoou da claridade, para com a escuridão, e assim por diante.
O caso emblemático desta Maldição ocorreu em 1994 - não por acaso, um ano par - quan-do o Stone Roses, uma das bandas mais influentes dos últimos 20 anos, lançou Second Coming(algo como �segunda chegada�), um disco que não só era o segundo como se orgulhava disso.Menos de dois anos depois, a banda acabou, deixando milhares de fãs órfãos nos cinco conti-nentes.
O Stone Roses surgiu em meados dos anos 80 em Manchester, Inglaterra, e em 1989lançou um daqueles álbuns que não cansam de aparecer nas listas de dez melhores discospop já lançados. A obra leva o mesmo nome da banda, e foi lançada por um selo inde-pendente sem expressão na época, o Silverstone. Pouco tempo depois do seu lançamento,o quarteto mancuniano estava tocando no Top Of The Pops e encabeçando as paradas de
sucesso inglesas com um som que remetia tanto ao rock dos anos 60 quanto à então-recente cul-tura da dance music.
Eles então assinaram com uma grande gravadora, a Geffen, e levaram longos cinco anos parafazer um segundo álbum. Quando todos os holofotes estavam sobre a banda, eles colocam nomercado Second Coming. O disco foi um fiasco completo. A crítica o recebeu com desprezo; opúblico, com frieza. Ao invés dos refrões inspirados de antes, a banda assume um som que maisparece um pastiche do Led Zeppelin. Após uma apresentação desastrosa no festival de Reading,o Stone Roses acabou. Seus integrantes seguiram carreiras solo medíocres, ou se juntaram a ou-tros grupos. Estava eternizada a Maldição do Segundo Álbum. Desde então, o segundo disco pas-sou a ser uma espécie de prova dos nove das bandas de rock.
E elas continuam a falhar sistematicamente. Nos tempos recentes, várias bandas foramtomadas de assalto pela maldição pitagórica. Grupos que fizeram discos de estréia brilhantes,chamando a atenção da mídia musical pelo frescor e pela originalidade, têm lançado álbuns quenão conseguem ultrapassar a barreira do ordinário. É o caso do Bloc Party, que em 2005 surgiucom o elogiado Silent Alarm, onde juntava letras irônicas de cunho político a uma seçãorítmica musculosa e guitarras angulares. No segundo álbum, A Weekend In The City,lançado em fevereiro passado, a fonte de idéias dos músicos se esgotou e a ironiacom cunho político virou panfleto.
O mesmo aconteceu com tantas outras, recentemente, como Maxïmo Park,que transformou seu som despretensioso e inteligente num roquinho-goma-de-mascar, e Strokes, que parece seguir o mesmo caminho detrevas do Stone Roses. A Maldição do Segundo Álbum está no uni-verso, e enquanto as bandas não aprenderem a tirar proveitodela, vão continuar tropeçando. E pode ser para o bem delas.
Que venham os terceiros.
Haymone Neto
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Entenda as conspirações que derrubamos segundos álbuns das bandas maisbadaladas do pop e o que a teoria de umcerto pré-socrático têm a ver com isso
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A rtes plásticas
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que faz de alguém um artista plástico? A pergunta entra na questão da legitimação, tema que virou ensaiode nome sugestivo: Crachá - Aspectos da Legitimação do Artista. Produzido pela estudante de artes plásti-
cas Clarissa Diniz para o 46º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, o trabalho foi realizado durante um ano,por meio de consultas a jornais e periódicos locais publicados entre 1970 e 2000, e entrevistas com críticos, jor-nalistas, galeristas, curadores e artistas de Recife e Olinda.
Falar sobre legitimação é assunto recorrente em conversas entre todos os que fazem parte do chamado sis-tema de arte (artistas, curadores, instituições, crítica). Porém uma auto-reflexão é, por vezes, deixada de lado, poissuscita questionamento e autocrítica, tanto por parte dos que estão inseridos no sistema como pelos que estãoà margem.
Surge aí, de acordo com Clarissa, uma questão anterior à legitimação artística, mas inteiramente ligada a ela:existe uma �segregação social�, que seleciona uns em detrimento de outros? A resposta é não, ao menos para aautora, que prefere falar em discrepância entre membros de um mesmo sistema, que vêm não de condutaspropositais, mas derivam das dinâmicas sociais (quase sempre injustas) da arte e da sociedade em geral.
A explicação de Clarissa busca respaldo em coisas tão díspares quanto a economia, a biologia e o amor. Deum lado, a teoria econômica do capital social promove segurança, confiança e reciprocidade por meio da intera-ção social. Do mesmo lado, o biólogo Humberto Maturana, a quem a autora recorre, defende que as interaçõessociais só acontecem enquanto há amor. Segundo ele, sem amor, não existe sociabilidade. �Um trabalho fluimuito mais facilmente quando realizado com pessoas com quem existe identificação e confiança, tanto profis-sional quanto pessoal�.
Confiança que cresce a cada contato, gerando uma espécie de seleção natural por parte do sistema de arte,inserindo alguns e deixando outros de lado. Os marginais, porém, se são legitimados de alguma forma (e Clarissaacredita que sempre são), cedo ou tarde farão parte do sistema. Sim, pois se o artista não é mais visto como umgênio, uma figura distante do público, como foi em épocas renascentistas, é porque percebeu, mesmo incons-cientemente, que a arte não poderia estar distante do contexto social, pois faz parte dele. �Paulo Bruscki, porexemplo, ainda se diz um artista marginal, apesar de legitimado pelas instituições, atravésdas quais lançou catálogo recentemente. Pelo público ou pelo mercado, no entanto, elesó foi legitimado em 2006, quando vendeu seu primeiro quadro.�
Daí a necessidade natural, orgânica, inerente ao ser humano, de buscar legitimação.Clarissa identificou oito formas (autolegitimação, a legitimação pelos pares, pelas institu-ições, pelo mercado, pelos especialistas, pelo público, pelo ensino e pela mídia). Paraencontrá-las, a autora (não autolegitimada como artista, mas integrante de grupo cole-tivo de artes plásticas, o Branco do Olho - o que lhe dá legitimação pelos pares -, ondeé responsável pelos textos críticos) optou por não se ater a nenhuma linha teórica especí-fica, que lhe deu a liberdade necessária para deixar o trabalho completamente identi-ficável com a realidade local. Não são simples definições das legitimações, mas análisesde cada uma delas, devidamente conectadas. Ler é entender, de forma descomplicada,como funciona o sistema de arte.
A classificação pode parecer objetiva demais. Mas a autora explica que suasdefinições nunca serão definitivas, em vista da possibilidade de mudança a que estãonaturalmente sujeitas. �As mudanças ocorrem de acordo com os sistemas sociais,sendo perfeitamente possível usá-las como parâmetro para entender outras legiti-mações possíveis, mas universalizar seria uma atitude muito reducionista, já que crieias categorias a partir de algo muito específico, os 30 anos de artes plásticas em Recifee Olinda. É provável que, em séculos, sejam alteradas. Principalmente se pensarmosno Renascimento, quando então não existiam�.
Mudam as legitimações dentro de si mesmas, mudam também as formaspelas quais determinado artista é legitimado. �Quando o assunto é legiti-mação, nada é redundante, tudo é enfático. Se um artista expõe cinco vezesem um mesmo museu ou galeria, não deveria suscitar reações como �denovo esse artista aqui?!�, mas sim que ele é bom cinco vezes. Se estão sem-pre escrevendo livros sobre artistas já consagrados, quer dizer que há neces-sidade de renovação dessa legitimação�.
O Carol Botelho
Pesquisa debateas qualidades ereferênciasnecessárias paraque alguém sejaconsideradoartista plástico
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O que não é arte,não se discute
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ara muitas das pessoas que, a nossa volta, diariamente, levam adiante osmais variados afazeres, a expressão �crítico literário� não deve dizer, provavel-
mente, muita coisa. Para alguns, absolutamente nada. Talvez nomeie, para outros,alguma função extinta, exercida por alguém frustrado que publicava, há algo emtorno de meio século, opiniões próprias como veredictos irrevogáveis sobre tal ouqual obra. Já outros, mais próximos ao círculo em que, porventura, ainda possamsubsistir críticos, sabem que se trata de alguém que estudou seu assunto na uni-versidade; que se dedica a entender como certos textos, ditos literários, se rela-cionam entre si e com a sociedade em seus mais variados aspectos; e que discute,incansavelmente, as bases do pensamento por ele mesmo produzido. Essadescrição, na verdade, nos põe diante do teórico da literatura. A indistinção entreele e o crítico, inclusive, tornou-se algo comum, conforme podem dar testemunhoexpressões como�crítica universitária�. Diante da abstração indispensável à sua ativi-dade, e da indistinção entre ele e o crítico, nada mais previsível que o desinteressesobre o que seja a crítica, e justamente da parte daqueles,��que levam adiante, diari-amente, os mais variados afazeres�.
Teoria vs. prática - Alguns teóricos, apesar de sua contribuição inegável para opensamento sobre literatura, parecem ter incorrido em algumas reduções hoje ina-ceitáveis. Uma delas foi o uso do pensamento de Nietzsche para fundamentarsuas�desconstruções�, através das quais teriam demonstrado o quanto pode haverde enganador e autoritário sob valores centrais da cultura ocidental. De fato, aargumentação desenvolvida por Nietzsche em A genealogia da moral, por exem-plo, busca dar conta de como os conceitos de Bem e Mal, no decorrer da história,teriam se constituído a partir de contingências meramente culturais, sendo, por-tanto, realidades terrenas, nada divinas. Esse desmonte de valores, no entanto,compreende apenas metade do que há de mais característico no legado deNietzsche; a outra metade se deixa representar, por exemplo, pela exaltação dos va-lores do corpo, do prazer, do orgulho, da dança e da caça, e por aforismos comoaquele, segundo o qual grande autor é o que escreve�com o sangue�. É uma forçade convicção inconciliável com a apatia desconstrucionista. E é essa outra metadedo pensamento de Nietzsche que, salvo engano, tem mais a dizer aos tempos dehoje - e, principalmente, sobre a pertinência que a crítica literária ainda pode ter.
Seja ou não a cultura, apenas, ou em grande parte, um aglomerado de�simu-lacros�, uma coisa é certa: tais ficções, as pequenas e grandes verdades do nossocotidiano, revestem-se duma espécie prática de verdade na medida em que agimos;é por essas ficções que sofremos, é através delas que damos forma a desejos, é
sobre o chão comum que oferecem que podemos dialogar. Não sabemos�aVerdade�, mas vivemos as nossas verdades - ao levar adiante os nossos afazeres.Por isso a condição�pós-Nietzsche�, na verdade, faz da vivência em sociedade umparadoxo: por um lado, sem o mínimo de convicção não nos moveríamos, e mor-reria a história; por outro, sabemos que nossas convicções se apóiam em bases nãode todo confiáveis, e que precisamos de uma auto-crítica constante.
A literatura, por sua vez, não poderia extrair sua matéria-prima de outro lugar:o mesmo repertório de verdades provisórias. Cabe à literatura descobrir quais ner-vos, no corpo sempre exausto da cultura em movimento, ainda respondem a estí-mulos, ou mesmo elaborar, a partir de não se sabem quais despojos, alguma novacura, ou algum novo veneno. Mesmo a anestesia proposta pelo pós-modernismosó pode constituir-se dessa maneira. A leitura, portanto, de um bom texto literário,em última análise, é sempre um confronto com algo que, de tudo o que cultural-mente nos cerca, pode inaugurar ainda uma nova busca - ilusória ou não, comotodas as outras.
O convite de Faustino - Mas quem é, finalmente, que estaria autorizado a dizerse tal ou qual obra constitui, de fato, um exemplo de resposta eficiente à cultura deuma época? É verdade que a teoria possa aclarar, através de conceitos relativa-mente estáveis, muitos aspectos do que seja a literatura, mas esse é um dos quevão continuar dependendo, sempre, dos sujeitos que, agora, no tempo presente,vivem a cultura. Enquanto a questão essencial da teoria é�o que é a literatura?�, aquestão aqui é tentar captar�o que queremos hoje da literatura?�. E assim se defineo papel do crítico literário: olhar para a literatura não como objeto do saber, mas,sim, como um fenômeno da cultura, da cultura à sua volta. Mas, nem por isso,poderá se fazer passar por dono desta: cultura alguma tem dono. Mário Faustino,por exemplo, foi uma grande autoridade em poesia: isso não significa que tinha asrespostas para tudo, ou que suas opiniões eram veredictos. A sua intimidade coma poesia, na verdade, e com os instrumentos oferecidos pela teoria, obrigavam-nosomente a falar dela com a clareza que muitos outros não podiam ter, e esse é oparticular que fez de sua página de jornal não um tribunal que distribuía sentenças,mas o lugar a partir do qual, com bons argumentos, participava de uma grandediscussão. A regra do jogo não era, vale lembrar, simplesmente a�Razão�, mas asua versão algo distendida, como que para incluir as razoabilidades específicas daépoca. A essa sala, por fim, estavam convidados todos os contemporâneos, cadaqual munido das convicções que os movessem, como a caminho de qualquer afa-zer diário.
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Artur A. de Ataíde
Quem estaria autorizado adizer se tal ou qual obraconstitui um exemplo deresposta eficiente à culturade uma época?
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foto foi tirada em 12 de março de 2007. A imprensa, no entanto, só con-seguiu divulgá-la mais de uma semana depois. Com um imenso jardim ao
fundo, vemos Gabriel García Márquez de braços cruzados, sorridente, de óculosescuros, ao lado de Fidel Castro sorumbático, cabeça baixa. Pela primeira vez desdeque saiu do poder para se submeter a uma cirurgia de emergência no intestino,em julho de 2006, o ditador cubano aparecia fora do hospital. Ao final do encon-tro, o escritor colombiano explicou para a imprensa que seu amigo e companheiropolítico de décadas estaria �melhor que muita gente imaginava�.
A imagem de García Márquez procurando reiterar a saúde de um Fidel visivel-mente debilitado, assim como a permanência do programa político e ideológicodo ditador, era semelhante às páginas de um livro antigo sendo reescritas diantedos nossos olhos. Mais uma vez. Era O outono do patriarca em forma de cor-riqueira notícia de jornal. O sorriso emblemático de García Márquez diante de Fidelparecia o de um criador confiante na imanência da força da sua criatura. Da suaobra.
Para Stendhal, a política na literatura é um assunto/palavra que empaca a nar-rativa, atropela a atenção do leitor. A pedra no meio do caminho. Narrador dosmais ágeis, García Márquez faz essa pedra rolar pelo texto menos como um teóri-co que um grande contador de histórias. Assim seu O outono do patriarca podeser lido como um poemão sobre o poder como tragédia, e não apenas como acaricatura de um ditador, de todos os ditadores - passado e fantasma comum aocontinente latino-americano.
A criação mais emblemática do engajamento político de García Márquez foiMacondo, cidade fictícia que persegue os principais títulos do escritor, desde suaestréia com O enterro do diabo, passando por seu best-seller maior, Cem anos desolidão. O romance completa quatro décadas em 2007, ano de tantas datasredondas que deve estar deixando um tremendo supersticioso do quilate de �Gabo�de cabelos arrepiados - são quarenta anos de Cem anos de solidão; oitenta de nasci-mento; vinte e cinco do Prêmio Nobel; e sessenta do seu primeiro conto publicado.
A literatura hispano-americana tem por tradição grandes obras nacionalistas, quebuscam fincar a identidade própria das suas várias nações. Com Macondo, no entan-to, García Márquez segue pelo caminho oposto: cria uma cidade que são todas ascidades, todos os países latino-americanos, com o sonho utópico que o texto contee resgate (e salve?) a história de submissão política e social do continente.
Os colonizadores espanhóis chegaram ao Novo Mundo com a vista turva pelodesejo de encontrar um paraíso perdido. Os primeiros textos relatando as terrasdescobertas são repletos de expressões como �não sei como contar�, �nunca haviavisto algo parecido�. As palavras falham, o feitiço do exótico engole qualquer ten-tativa de objetividade.
Macondo é também assim descrita logo nas primeiras linhas de Cem anos desolidão - �O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nomes, e paramencioná-las era preciso desenhá-las com os dedos� A cidade ao longo doromance é construída, saqueada e destruída inúmeras vezes, assim como a própriaAmérica Latina.
Assim como Macondo retoma a origem da América Latina, a cidade resgata osanos de formação do autor. No primeiro volume da sua autobiografia, Viver paracontar, García Márquez relata seu primeiro encontro com a palavra Macondo. O livrocomeça com o enunciado �Minha mãe pediu que fosse com ela vender a casa�. Acasa só poderia ser uma: a dos avós maternos, em Aracataca, onde viveu até os oitoanos, território de lembranças e fantasmas que forraram Cem Anos de Solidão.
Durante a viagem de trem para a venda da casa, com a mãe agarrada a umrosário de três voltas, uma parada na frente da única fazenda com bananeira docaminho, que tinha seu nome escrito no portal, trazia a inscrição Macondo. Deacordo com o escritor, ele nunca a ouviu da boca de ninguém ou ao menos per-guntou a quem quer que fosse seu significado -�Já a tinha usado em três livroscomo nome de um povoado imaginário, quando soube, numa enciclopédia, queé uma árvore do trópico parecida à paineira, que não produz flores nem frutos, ecuja madeira esponjosa serve para fazer canoas e esculpir utensílios de cozinha.�Macondo é também tradicional jogo de azar colombiano, que fisga o destino dejogadores nada cautelosos.
Cem anos de solidão foi escrito por García Márquez durante um longo transede quase dois anos, com o autor trancafiado em casa, e com sua mulher tendoque tomar conta de todas as pendências financeiras da família. A feitura do livro,como o autor explicou na longa entrevista presente no livro Cheiro de goiaba,foi�feliz�, mas com longos momentos de tensão.
O autor chorava durante horas quando precisa matar seus personagens, quetomavam emprestadas características da sua família. O momento de maior tensãofoi quando García Márquez precisou colocar o ponto final na sua obra. Encerradoo romance, e com sua mulher fora de casa para resolver um problema domésticoqualquer, ele correu para encontrar um outro texto para escrever. Subterfúgio parase salvar da solidão que começava.
PPSS: No dia 22 de junho de 2006, a terra natal de Gabriel García Márquezviveu uma situação típica dos livros do escritor. Para ampliar o turismo local, oprefeito resolveu mudar o nome de Aracataca para Macondo, homenagem aoprincipal talento�aracataquense�. Na véspera da votação, ao perceber que suaidéia não estava pegando, o político subiu no teto de um carro repleto de auto-falantes e fez ele mesmo a propaganda de sua�causa�. Resultado? A propostaacabou vencida por abstenção. !!
Preencha sua cidade política
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Brigam palavras e idéias Uma longa guerra de idéias, sem vencidos nem vencedores, mas exaustiva. A literatura émesmo o campo propício para o debate político? Ou melhor: é no romance, no cinema, ou nas artes plásticas, por exemplo, quese definem os caminhos de um povo? Asseguro que o primeiro compromisso do escritor é com a estética, a beleza, a técnica.Insistindo no óbvio: sem artesanato não há obra de arte. Depois, seja feito o que for preciso. Vem de Gabriel Garcia Márquez a afir-mação: �Os bons romances devem ser uma transposição poética da realidade e o destino imediato da humanidade é o socialis-mo�.
Caso se defina que o romance - neste caso - é objeto de manifestações políticas ou diversionais - tendência que se revela maiscontundente nos últimos anos - então os escritores de histórias policiais têm razão: basta um bom enredo e disputa de sexos parase escrever um livro exemplar. Ou para se realizar um bom filme. E não é assim. Absolutamente. Aos romancistas policiais falta oartesanato, e aos estetas exige-se o conteúdo. Uma advertência grave: conteúdo não é uma simples menção ao comportamentohumano. Conteúdo, na obra de arte, é a defesa de idéias e ideologias.
É o caso de A náusea, de Jean-Paul Sartre, cuja finalidade é expor, na ficção, as bases do existencialismo, ou na Trilogia da liber-dade - A idade da razão, Sursis e Com a morte na alma - onde política e filosofia se entrecruzam. Assim: nesta trilogia Sartre defendesuas idéias e com isso pretende mobilizar os leitores. Basta ler a advertência da editora: �Romance que analisa os problemas políti-cos e sociais do homem, A idade da razão, 1º volume da trilogia Os Caminhos da liberdade, lançou na prática a chamada literaturaengajada�. Engajada em quê? Engajada na luta política. Mas, antes de tudo, é escrito seguindo a estética tradicional do romance,para não fugir à luta.
No Brasil, dois romances são claramente políticos, embora não a rigor engajados: Quarup e Bar esperança, de Antônio Callado.O primeiro é tão forte no seu compromisso com a realidade, que Franklin de Oliveira alerta: �É capaz de alterar fisicamente osleitores�. O segundo mostra em que sentido os ideais políticos podem se perder nas mesas de bares, entre aqueles antes chama-dos de festivos. Sem esquecer, é claro, o revolucionário Zero, de Ignácio Loyola Brandão. Pleno de conteúdo e de forma.
O embate entre romance e conteúdo, romance e forma, basicamente começa com Gustave Flaubert, nos meados do século XIX.De tempos em tempos parece uma luta exausta e finda. E recomeça, sempre recomeça. Em cartas a amantes e amigos, Flaubertreivindica o direito de escrever um romance sobre nada. Ou seja, umromance que não esteja atrelado a idéias, a conteúdos, a ideologias,mas ligado apenas às questões internas da estrutura ficcional.
Essa postura foi retomada mais tarde, de forma acadêmica, peloFormalismo Russo. Nada devia vir de fora, tudo estava na intimi-dade da obra literária: os ritmos, as palavras definitivas, a mon-tagem das cenas e dos cenários, dos diálogos, num sistema decoerência absoluta. Defendia-se a idéia de uma estética própria daarte literária, afastada mesmo da estética clássica e tradicional. Coma tomada do poder russo pelos comunistas, a guerra estava apenascomeçando: rejeitava-se o formalismo para que fosse proclamadoo império do conteúdo. A literatura serviria para mobilizar as mas-sas e não para agradar os estetas, nem para o prazer imóvel daburguesia. E hoje? Na proclamação da crítica, devemos nos pre-ocupar com o prazer. Sem formas ou conteúdos, mas festejand oo bacanal das palavras. RRaaiimmuunnddoo CCaarrrreerroo
Com sua exótica Macondo, Gabriel García Márquezrecriou a história das lutas políticas da América Latina,assim como retomou sua própria autobiografia
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Pedro disse logo nas primeiras aulas que não era muito chegado a livro. Achavaaquele negócio de ficar um tempo quieto, com um livro nas mãos, quase uma
perda de tempo. �Quando começava a ler, batia uma preguiça, dava sono, eu nãoseguia�, diz. O Herivelton, que é discipulário da Igreja Batista, lia a Bíblia e quase nadamais. �Tentei algumas vezes pegar outro livro e me submeter, mas não conseguia�. ComAldemir, a coisa era mais complicada. �Eu tinha um descaso geral, passava batido. Liapor ler. Não tinha essa relação que vivo hoje com os livros, feito marido e mulher�.
Pedro Henrique, dezoito anos, é morador do bairro de Tejipió. Atualmente está ter-minando de ler o volume II de Mitologia grega, de Junito de Souza Brandão, um ca-lhamaço de mais de 300 páginas. O volume I ele devorou em três semanas. Já leu tam-bém Olga, de Fernando Morais, As aventuras de Robinson Crusoé e está terminando Omais longo dos dias, de Cornelius Ryan. Recentemente descobriu uma biblioteca do avô,meio abandonada, e começou a resgatar livros para sua casa. Está montando suaprópria biblioteca.
Herivelton dos Santos Oliveira, vinte anos, mora nos Coelhos, está lendo ContosBrasileiros, volume III, daquela famosa coleção Para gostar de ler. Nos últimos meses,aprendeu a dividir a Bíblia com outros livros. Já leu Futebol ao sol e à sombra, douruguaio Eduardo Galeano, e se atreveu a mergulhar no mundo do Graciliano Ramos,com Vidas secas. �Quando chegava na sala de aula, os colegas falavam entusiasma-dos do que estavam lendo. Como eu não lia, ficava todo por fora�, lembra. �Me influ-enciou ver ao meu redor todo mundo lendo�, lembra.
Aldemir Félix, que gosta de ser chamado de Suco, o que vive uma relação de �mari-do e mulher� com os livros, tem dezenove anos e mora em Brasília Teimosa. Depois deler Pablo Neruda, descobriu que as coisas que tinha na poesia, e não conseguia colo-car para fora, se chamava poesia. �Comecei a escrever, a vomitar palavras. Tive crise deverme de palavras, diarréia de palavras. Está virando uma doença psicológica�, diz, como exagero dos poetas. Antes de dormir, escreve no celular, e no dia seguinte, passa parao papel. Atualmente, organiza os poemas para um livro, intitulado Poemas sujos paracorações limpos.
São três histórias que chamam a atenção,entre os oitenta jovens que freqüentam aEscola Kabum!, de Arte e Tecnologia, umprojeto da Oi Futuro, realizado pelaONG Auçuba, desde maio do anopassado. Três jovens que não liam,ou liam muito pouco (geralmentepor obrigação da escola), não davamimportância aos livros, e agora estãomergulhados neste universo. Esse caminhoda Literatura que, como todos sabem, é umapaixão sem volta.
Escrevo este texto, portanto, para compartilhar uma paixão. Eu, que leio e escrevohá muitos anos, estou agora, com meus quase quarenta anos, encarregado de trans-mitir não propriamente um conhecimento, mas uma paixão. Sou o educador daOficina da Palavra, uma das disciplinas oferecidas pela Kabum! Não venho trazer segre-dos milagrosos ou propostas pedagógicas, apenas compartilhar. Com alguma sorte,refletir sobre os projetos sociais que são desenvolvidos aos montes, em nosso País, econseguem deixar de fora os livros como fonte essencial para a construção do caráter,de inspiração para a alma, em tempos cada vez mais ásperos.
�Do que é que tu gosta?� - Não adianta chegar para jovens com a lista dos livrosdo Vestibular. Iracema, A moreninha, Memórias póstumas de Brás Cubas, Memóriasde um sargento de milícias, para você que lê o Suplemento cultural, pode ser bacanae animador, mas para quem ainda não entrou na floresta dos livros, é um saco, algoque dá sono, preguiça, dor de cabeça. A melhor coisa a fazer, para abrir caminhos, édescobrir o que os jovens gostam.
Descobri que Pedro adorava coisas relacionadas à Segunda Guerra. Fui à minhabiblioteca, encontrei O relatório de Buncheald, uma descrição detalhada de um campode concentração, com aquelas fotos tenebrosas. O livro é um tijolo. Pedro, o mesmo
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Quando fui chamado para ser o edu-cador da Oficina da Palavra, resolvi apostartodas as fichas em Literatura. Queria fazerum trabalho que despertasse não só ointeresse, mas a paixão pelos livros. A esco-la estava inaugurando, e os oitenta jovenseram os primeiros a fazer parte do projeto.
O primeiro problema: não tínhamosuma biblioteca, muito menos bibliotecas
no entorno, já que a Kabum! fica no Bairrodo Recife. Conseguimos articular a vindado projeto Bibliosesc, uma biblioteca den-tro de um caminhão-baú, que visita escolase comunidades. Foram locados, até marçodeste ano, mais de duzentos e cinqüentalivros. De Pequenos prazeres; mais de qua-trocentas maneiras de você agradar a simesma, a cem escovadas antes de ir para a
cama. De O alquimista, a Amar, verbointransitivo, chegando a Freud para prin-cipiantes.
Uma regra norteia todo o trabalho, quevai até outubro deste ano: �Não gostou,devolva imediatamente�. Leitura, paraquem não entrou nesta terra semeada,deve ser com prazer, com alegria, deve serfonte de vida, não de obrigação.
Aos poucos, trouxe muitos livros deminha biblioteca, e fui alugando aosjovens, sempre pensando no tipo de livroque cairia bem para cada pessoa. Suco, porexemplo, tem tudo a ver com o universo deCharles Bukowsky. Ele adorou. A porta deentrada de Pedro foi um calhamaço sobrecampos de concentração nazistas. Cássio,que não é muito de ler e não me parecia
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que achava leitura perda de tempo, ficou com os olhos brilhando. Levou para casa esimplesmente devorou o livro. �Na página 10, 15 de qualquer livro, eu deixava pralá�, conta.. �Hoje, quando tenho tempo, fico lendo�. Depois de um silêncio, ele expli-ca o que sente. �Parece que estou dentro da história�. Depois do Relatório, ele se agar-rou com Olga, e sem nenhuma preguiça, leu inteiro.
Herivelton, que gosta de futebol, gostou das pequenas histórias de EduardoGaleano. Quando algum jornalista ou escritor ía à escola, conversar com os jovens,prestava sempre muita atenção. �Essas visitas do pessoal da área ajudaram muito. Elescontando a paixão pelos livros, dá vontade de ler. Isso me ajudou muito a escrever eaté compor�, diz. Ele toca violão e faz suas músicas. �Hoje, procuro tempo para mededicar a isso�.
O caso de Suco chega a ser intrigante. Com ar e postura rebelde, no início ficavaarredio. Quando pegou Pablo Neruda, levou um choque poético. Como tem um jeitomuito irreverente e contestador, catei da minha biblioteca A imprensa livre de FaustoWolff, e O homem e seu algoz, livro de contos. Suco literalmente teve um surtoliterário.
Num desses domingos, estava lendo Fausto Wolff, quando sua namorada o inter-rompeu.
�Estás me traindo com os livros�, disse ela.Suco estava há quatro horas ininterruptas lendo, extasiado. Deu um belo carão na
namorada, que o estava atrapalhando, e só terminou depois de seis horas de leitura.�Fui vencido pela fome�, diz. Hoje, a namorada já não estranha sua quietude.
Projetos literários - Os não-leitores começam a colocar no papel suas idéias. Outrodia, Suco assistiu a um documentário sobre Poetas marginais do Recife, do jornalistaPedro Saldanha, e ficou atacado de inspiração. Na parada de ônibus, quis anotar umaidéia, mas o ônibus chegou.
�Me deu uma idéia, eu quis escrever, mas estava sem caneta. Fiquei todo ago-niado. Uma mulher ao lado me perguntou: 'Filho, você está se sentindo bem?'. Eu
disse para ela que estava com diarréia�, conta. Chegou à Kabum! com dor decabeça. �É que a idéia ficou espremida�, diz.
Lívia Damares é um dos poucos casos de jovens que chegaram à escola com umacarga boa de leitura. Tem 18 anos, mora na Bomba do Hemetério, e já tentouVestibular para Letras duas vezes, sem sucesso. Quando teve sua primeira paixão ado-lescente, escrevia cartas para o amado, buscava nos dicionários palavras bonitas, paraencantar. �Escrevia muito para ele, mas nunca mandei�. Nos momentos tristes, Líviatambém sempre escrevia. Na escola, uma professora de Literatura �fazia um auê� emtorno dos livros, e ela começou a freqüentar a biblioteca.
Depois, começou a freqüentar o Sesc Casa Amarela, que tem uma boa bibliote-ca, e os livros foram para sua casa, mesmo que apenas por uns dias. Lembra compaixão o primeiro livro que a emocionou: A marca de uma lágrima. Estava com 11anos e chorou muito.
Hoje, Lívia sente uma diferença. Descobriu a importância da poesia. Antes, elaacha que �escrevia bobagens da minha cabeça�. Consegue agora fazer uma pontedo que lê com os contos, crônicas, poemas que tem em mente. Fala coisas já cheiasde estilos, como �está sendo uma mudança muito grande na minha visão literária�.A mudança maior, no entanto, está relacionada com o ato de escrever. �Antes, eu sóescrevia quando estava triste. Agora, sempre tenho um papel e uma caneta à mão�.
Suco diz que seu mergulho no mundo da poesia, não tem nada de modinha oupaixão efêmera. �Quando eu escrevo, sinto liberdade. O homem só é livre quandoescreve e passa a dizer o que sente. Não tem mais patrão, chefe, nada. Tem liberdadee independência�.
Enquanto enche cadernos de poesias, coisas que estavam acumuladas em suacabeça há algum tempo, Suco filosofa. �Ninguém pode mandar em sua leitura. É aindependência de si próprio. A pessoa ganha asas para voar. Quando escrevo, que-bro a lei da gravidade�, diz.
Nada melhor que um poeta recém-nascido.
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Escritor e jornalista explica a saga de ensinar jovensde periferia a importância da literatura Samarone Lima
empolgado com minhas sugestões, voltousorrindo e mostrando Caça aos turistas, donorte-americano Carl Hiaassen.
�Li todinho. É muito bom�, comentou.O livro tem umas tresentas páginas. É umdaqueles romances divertidos para o sujeitoler e ficar rindo sozinho dentro do ônibus.Agora Cássio está com o Mário Quintanaem casa. Vamos ver.
Por último, chegou uma verba da esco-la para montarmos nossa própria bibliote-ca. Já compramos três lotes de livros, queforam catalogados e disponibilizados. Elestambém dão suas sugestões. Tive que merender ao Paulo Coelho, Código da Vinci eo famoso Harry Potter. Eu quero é que elesleiam, não precisa começar com umEuclides da Cunha.
A primeira meia-hora das aulas é somentepara atualização das fichas individuais quecriei. Cada um olha sua ficha, diz se terminouo livro que levou na semana anterior, se estágostando, se pretende levar outro. Vou acom-panhando, com a ajuda do meu monitor,Ailton Peste, do Alto José do Pinho. O grandesucesso do momento é Cabeça de porco, doM.V.Bill, e Abusado, do Caco Barcelos.
Outro dia, a Anna Cecília devolveu Vidassecas, do Graciliano Ramos. Perguntei se elatinha gostado e lido todo. Pedi para que elaresumisse a história para os colegas. Ela fezum relato detalhado da história, falou comternura da cachorra Baleia. Quando termi-nou de falar sobre o livro, havia um inte-resse geral por ele. Alguém pediu empresta-do na hora.
Alexandre Belém
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está largando o emprego hoje porque acha a vida curta demais para perdertempo sendo infeliz. B. finge saber francês porque a garota em que está inte-
ressado fala essa língua. C. disse para sua ex-namorada deprimida que não se impor-taria se ela pulasse da ponte - e foi o que ela fez. D. ama o marido porque ele foi oúnico homem que não a tratou com violência em toda a sua vida. Quando E. era umagarota de 11 anos, fez xixi na boca do seu irmão porque ele a irritou e nunca teve opor-tunidade de pedir desculpas pelo ato. Até hoje, culpa-se por essa memória da infân-cia. F. jura que até vegetarianos, como ela, pensam em carne de vez em quando. G.acha que todos os seus problemas evaporariam se ela não fosse gorda. H. não dá aminima para reciclagem - e nem pretende passar a ligar para isso. I. deixa poemas entreas páginas dos livros que pega emprestados na biblioteca. J., funcionário da rede decafeterias Starbucks, serve café descafeínado para os clientes que são grossos com ele.
Os nomes verdadeiros das pessoas acima não foram �trocados para preservar aidentidade dos entrevistados�, mas por um motivo mais prosaico: os donos dos seg-redos contados são realmente ilustres desconhecidos. Ilustres, sim, porque suashistórias estão no blog eleito como o melhor de 2007 na sétima edição do WeblogAwards, um tipo de Oscar dos blogs da Internet com votação pública. O PostSecret(www.postsecret.com) virou um dos mais populares graças à sua mistura de voyeuris-mo - aquele desejo incontrolável de saber dados obscuros da vida alheia, mesmo queseja de alguém que nunca se viu antes - e identificação. Quem, afinal, não tem umaconfissão a fazer? Os cartões coloridos enviados por internautas suprem essas duasnecessidades ao mesmo tempo.
A história do blog é daquelas que só a Internet pode tornar possível. Tudo começouem 2004, quando o pequeno empresário americano Frank Warren criou um projetode arte colaborativa que resultaria numa exposição em Germantown, sua cidade natal,no estado de Maryland. Para isso, distribuiu aleatoriamente 3 mil cartões postais embranco, com seu endereço no verso, e pediu que as pessoas contassem suas maioresconfidências, sem se identificar. Recebeu cem respostas, produziu a exposição e teve
então a idéia de criar o site para manter vivo o projeto, que se espalhou por meio doboca a boca, como costuma acontecer com segredos mal guardados. Arre-pendimentos, esperanças, fatos engraçados, fantasias, crenças, medos e desejos fazemparte do material enviado, geralmente incluindo fotos, colagens ou ilustrações parachamar a atenção do organizador e ser selecionado.
Warren recebe hoje cerca de 1 mil cartões por semana, de vários países, e já con-tabiliza mais de 100 mil no total. Cada participante pode mandar quantos quiser, des-de que esteja ciente da cessão dos direitos autorais para o dono do site, visto por 3milhões de pessoas por mês. A cada domingo, novos segredos vão ao ar. O númerofoi mais do que suficiente para resultar em três livros de histórias inéditas: �PostSecret:Extraordinary Confessions from Ordinary Lives� (2005), �My Secret: A PostSecret Book�(2006) e �The Secret Lives of Men and Women: A PostSecret Book� (2007). O segun-do freqüentou, durante semanas, a lista dos mais vendidos do jornal Los Angeles Ti-mes. Não por acaso, o PostSecret é hoje o maior blog livre de anúncios da web. �Olá,meu nome é Frank e eu coleciono segredos�, diz o perfil de Frank Warren na loja Amazon.
Apesar de ter formato de blog, em que geralmente comentários fazem parte doshow, o PostSecret possui baixa interatividade direta. Às vezes, o organizador publicaobservações de outros leitores - que recebe por e-mail - para deteminado cartão. Tudosempre anônimo, sem qualquer indicação de nome ou contato de quem escreveu,mas sem deixar de cumprir a função principal de empatia e compreensão para gentecomo K., que comeu a barra de chocolate que ficou presa na máquina de doces.Enquanto L. se sente um refém das decisões que tomou na vida, M. voltou a acredi-tar em Deus e N. pode garantir que nada cura mais um coração partido do que ver oex-namorado com um péssimo corte de cabelo. O. tem mais medo de envelhecer doque de morrer. P. ainda odeia a turma de 1977 da escola. Q. acha que tem câncer mastem medo de se examinar para confirmar o diagnóstico. Não importa quão bobo ousério seja o segredo aqui - o que conta é poder livrar-se dele, expô-lo ao mundo e,dessa catarse, receber de volta absolvição e esperança.
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v digital no ano passado. TV pública este ano. IpTV no ano que vem? Não impor-ta a nomenclatura, tampouco a data em que elas chegam à mesa de jantar da
sociedade brasileira a partir da pauta da hora. Importante, na verdade, é saber comoas famílias prostradas frente ao Brasil do Big Brother perceberão a televisão como algoalém de uma extensão de seu próprio corpo social. Em poucas décadas, a TV no Brasilse transformou em um anexo fisiológico do telespectador padrão, particularmente noque se refere àquela parte do cérebro que atua no modo de construir a realidade e,por tabela, da idéia em senso comum do que é a identidade nacional. Discutir TV dessamaneira é antes de tudo um exercício de automutilação. É um processo de autópsiados cyborgs em que nos tornamos.
O fato é que, ao contrário de outros adendos tecnológicos como o celular, o ra-dinho de pilha ou o aparelho de mp3, a televisão, por enquanto, é um corpo estáticoque costuma se sentir no ambiente domiciliar, justamente aquele em que se pressupõeuma esfera íntima de relacionamentos. É nesse ambiente familiar onde o brasileirorecebe as informações do que ele é dentro desse conjunto maior que é a sociedade.
Esse é um processo natural, de tal forma que quando surge o debate sobre TVpública no Brasil, costuma-se criar uma coerente argumentação crítica de que a dife-rença entre �público� e �privado�, ao menos na ponta de baixo do processo, é tão irre-levante quanto o sexo dos anjos. Se os relacionamentos íntimos do ambiente domici-liar, dada à sobrecarga de informações captadas por dia, se confundem com os rela-cionamentos virtuais de uma única nacionalidade, não é de se estranhar que a indis-tinção entre �público� e �privado� seja tão latente.
Em livro publicado há cinco anos, portanto ainda distante do debate sobre novastecnologias de transmissão, Luiz Costa Pereira Júnior reuniu uma série de textos sobretelevisão publicados no Estado de São Paulo em determinado período, e chegou aescrever na apresentação do mesmo que �a televisão entrou na corrente sanguínea dobrasileiro. Ele passa, em média, quase quatro horas diárias com os olhos vidrados natelevisão. Faz sentido. A TV não exige mobilidade (só controle remoto), nem alfabeti-zação e é hipnótica. É de supor que essa nação de telespectadores já esteja calejada osuficiente para desconfiar da própria dependência dessa indústria via satélite�.
Cinco anos depois do lançamento de A vida com a TV: o poder da televisão nocotidiano, os debates que surgem em função da pauta de governo sobre TV públicamostram que, ao contrário do que o otimista Pereira Júnior imaginava, a nação é tudomenos �calejada� quanto à sua subordinação diante da televisão. As pessoas contin-uam assistindo ao Big Brother, o Rio de Janeiro ainda são os olhos do país, os jogos daseleção brasileira seguem como o raro momento de orgulho e reunião nacional e a TV
pública, bem... anda como pode sem o dinheiro dos anunciantes que modificam osextratos bancários da sociedade inteira.
Debater TV é, portanto, debater sobre como o país se vê e, muitas vezes, como elesó existe porque a televisão o legitima. Costuma-se começar essa discussão com doispontos de partida que se cruzam: tecnologia e conteúdo. Neste último tópico entrarianaturalmente o exame da construção social da realidade, enquanto que no primeiroponto, o da tecnologia, surgiriam questões meramente técnicas cuja maior parte dapopulação só presta atenção para saber se essas mudanças custarão ao seu bolso.
É preciso inverter a ordem dessas associações. Se partirmos do pressuposto deMcLuhan de que �o meio é a mensagem�, tecnologia é conteúdo e conteúdo, claro,só existe com tecnologia. O modo como as pessoas irão assistir TV daqui por diantepode sim, finalmente, criar uma dissonância na bem regida composição da indústriatelevisiva �privada� de reflexão sobre ela mesma. E o instrumento estranho a essaorquestra não pode ser outro se não a tecnologia.
Se na mudança de paradigma do rádio para a TV os emissores de mensagens per-maneceram os mesmos, da TV para a internet existe ainda uma angústia quanto aopoder dos conglomerados que controlam hoje a comunicação. E a angústia se dáporque, mesmo sendo essas grandes empresas as mais lidas, vistas e ouvidas no ambi-ente web, elas estão muito mais vulneráveis ao humor de seus receptores pelo simplesfato de que eles podem tomar controle da situação. A tensão só não é maior porquea maior parte das pessoas que hoje visita a internet, bem como a maior parte dosbrasileiros que assiste à televisão, não têm idéia desse poder.
É nesse espaço de suspensão e dúvida que os mais afoitos devem agir, mesmo semsaber onde concentrar esforços. O You Tube e, em pouco tempo, o Joost (tecnologiade emissão de imagens via troca de arquivos entre usuários da internet), não deixamde ser laboratórios para a relação que as pessoas irão criar a partir de agora com a tele-visão. O IpTV (transmissão de dado via o Ip usado hoje na internet e não mais viasatélite) e a facilidade de produção de vídeo também colaboram para que as coisasentrem �fora da ordem�.
É provável que o Big Brother continue rendendo audiência, que o Rio de Janeirosiga espelhando todas as esferas sociais brasileiras e que a voz de Galvão Buenoinvoque cada vez mais a identidade coesa de Brasil. Mas é provável também que, coma maior facilidade de produção e transmissão de imagens, a idéia de uma TV públicaesteja mais próxima de uma idéia de construção social, do que de uma concessão feitaao país por caridade. E para que isso aconteça, é necessário extrair de nossas �correntessanguíneas� televisivas mais razão do que sangue.
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s eé
claro
o p
ênal
ti qu
e eu
bat
i na
trave
, na
saí
da d
o ve
stiá
rio o
sre
pórte
res
tent
aram
me
pega
r, pa
ssei
reto
, ord
ens
supe
riore
s, de
zm
inut
os a
trás
o Za
galo
me
torra
ndo
o sa
co, f
ica e
sper
to R
odrig
ose
não
você
vol
ta p
ro b
anco
, não
pre
cisav
a iss
o, a
mea
ça p
ra q
uê?,
eu m
e se
ntia
mui
to b
em,
reno
vado
, pr
onto
par
a re
cupe
rar
ote
mpo
per
dido
e a
pen
ca d
e bo
la fo
ra, a
gal
era
ia v
er só
, mal
soou
o ap
ito p
arti
pra
cima
do m
eia-
dire
ita d
eles
, ro
ubei
a p
elot
a na
man
ha, d
ois p
ra c
á do
is pr
a lá
, lan
cei p
ara
o Zi
co q
ue já
ent
rava
na
gran
de á
rea,
a m
ultid
ão v
ibro
u co
m o
pas
se p
erfe
ito, o
zag
ueiro
travo
u o
Zico
por
trás
e a
bol
a ro
lou
limpa
na
min
ha d
ireçã
o, v
i oA
ltair
se j
ogar
pra
cim
a do
lat
eral
só
pra
me
deixa
r liv
re,
não
titub
eei n
em p
edi p
ra fa
lar c
om o
ger
ente
, enf
iei o
pé
e o
tiro
saiu
certe
iro, n
o ân
gulo
, o g
olei
rão
aind
a te
ntou
mas
que
m d
isse
que
viu a
lgum
a co
isa?,
o b
alaç
o at
rave
ssou
a re
de, s
obre
voou
a to
rci-
da u
nifo
rmiz
ada,
as c
âmer
as d
e te
vê, t
irou
tinta
do
mas
tro n
o to
podo
est
ádio
e d
esap
arec
eu d
o ou
tro l
ado,
não
deu
nem
pra
com
emor
ar o
gol
, o s
ol b
em n
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ossa
s fu
ças,
Zico
e A
ltair
prot
e-ge
ram
os
olho
s co
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e p
rocu
rara
m n
os a
rredo
res,
Toni
co já
cheg
ou re
clam
ando
, cac
ete
que
mer
da, m
ais d
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lpen
dres
na
rua
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i cai
r ju
sto
no d
o O
nofre
, fiq
uei p
uto
da v
ida
porq
ue o
Zaga
lo ia
me
com
er a
alm
a, a
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os d
esan
imad
os a
té a
esq
uina
,o
asfa
lto d
erre
tido
frita
ndo
a so
la d
os p
és, n
ingu
ém s
e an
imav
a a
pula
r a m
uret
a, a
trave
ssar
o ja
rdim
e p
egar
a b
ola
que
tinha
caí
doqu
ase
em f
rent
e à
porta
, o Z
ico s
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u em
baixo
da
pain
eira
em
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o A
ltair
e o
Toni
co t
irara
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isa p
orqu
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r ta
va d
e
mat
ar e
dei
tara
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lçada
, dei
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m b
em r
ente
ao
mur
o pr
a ap
rove
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aso
mbr
a, e
u se
ntei
no
mei
o fio
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a en
tre o
s jo
elho
s, o
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o do
pess
oal f
oi c
hega
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aos p
ouco
s, ni
ngué
m ta
va n
em u
m p
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e to
car
a ca
mpa
inha
, bat
er p
alm
a, p
edir
a bo
la d
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lta, e
sse
velh
o é
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que
joel
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da n
o sa
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Dicã
o di
sse,
tod
o m
undo
tav
a de
aco
rdo
que
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chu
tou
abo
la n
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pend
re d
o ve
lho
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ue ir
até
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usca
r, eu
não
tire
i a c
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ado
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em q
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avia
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ndid
o, q
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, daí
a p
ouco
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no d
a ig
re-
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ia s
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eu é
cla
ro q
ue te
ria q
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a, p
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icicle
-ta
e ir
esp
erar
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ha ir
mã
na s
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da
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dita
bol
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eap
ront
ar e
ssa,
Zag
alo
deu
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nas
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has
cost
as e
me
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dou
irlo
go b
usca
r a p
elot
a po
rque
ain
da ti
nha
mui
to te
mpo
de
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pel
a fre
nte,
eu
não
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de
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ole,
coc
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i, di
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nte
das o
ut-
ras v
ezes
o p
ortã
o ta
va a
berto
, and
ei o
mai
s qui
eto
poss
ível,
pegu
ei a
bol
a qu
eta
va e
mba
ixo d
o ba
nco
de m
adei
ra b
em a
o la
do d
a po
rta, q
uand
o já
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sain
-do
de
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sinho
, bat
ata,
a p
orta
se
abriu
e o
vel
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apa
rece
u, q
uem
é?,
que
foi?
, par
ei n
o m
eio
do c
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ho p
uto
da v
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porq
ue to
da v
ez q
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íane
sse
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dito
alp
endr
e er
a se
mpr
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mes
ma
hist
ória
, so
u eu
seu
Ono
fre,
resp
ondi
ten
tand
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sfar
çar
o m
au h
umor
, Ro
drig
o, é
voc
ê?,
que
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houv
e?, a
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a, e
u di
sse
mos
trand
o a
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, ah
a bo
la, e
le g
emeu
end
ireita
ndo
os ó
culo
s en
gord
urad
os d
e ta
nto
que
ele
os a
jeita
va s
egur
ando
as
lent
es c
omas
dig
itais
mel
adas
, a b
ola,
voc
ês e
stão
joga
ndo?
, est
amos
, mas
já e
stá
quas
eno
fim
, ele
esc
anca
rou
a po
rta e
tro
uxe
seu
corp
ão p
reto
pra
per
to d
e m
im,
é?, e
que
m tá
gan
hand
o?, o
lhou
por
cim
a do
meu
om
bro
à pr
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a do
s out
-ro
s mol
eque
s, po
r enq
uant
o tá
um
a z
ero
pra
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e, p
asso
u po
r mim
sere
lepe
,um
a z
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mui
to b
om, m
uito
bom
, gol
de
quem
?, f
ui n
o se
u en
calço
, gol
meu
, seu
? qu
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arav
ilha,
pas
sei p
or e
le e
pel
o po
rtão
aber
to, a
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a em
baixo
do b
raço
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car
a de
�que
é q
ue e
u po
sso
faze
r?�
quan
do o
Dicã
o pô
s as m
ãos
na c
intu
ra, o
vel
hote
no
meu
enc
alço
, ué
cadê
as
trave
s? n
ão tô
ven
do n
ada
aqui
ond
e é
que
você
s es
tão
joga
ndo?
, Zag
alo
pego
u a
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de
mim
e f
oian
dand
o em
dire
ção
à es
quin
a, h
ein?
ond
e é
que
você
s est
ão jo
gand
o?, l
ogo
ali e
m fr
ente
à fa
rmác
ia, e
u re
spon
di, a
turm
a to
da já
tava
vol
tand
o pr
a lá
, eu
segu
ia lo
go a
trás,
seu
Ono
fre c
olad
o em
mim
, ten
tam
os re
com
eçar
a p
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adu
as v
ezes
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hou
ve c
erta
con
fusã
o, d
eu b
obei
ra g
eral
, tin
ha g
ente
que
ren-
do a
nula
r meu
gol
diz
endo
que
o c
hute
tinh
a sid
o al
to d
emai
s, o
forro
bodó
tava
arm
ado
porq
ue n
ingu
ém s
e le
mbr
ava
mai
s do
que
é q
ue ti
nha
acon
teci-
do a
ntes
da
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sum
ir, q
uand
o fin
alm
ente
fico
u ac
erta
do q
ue o
jogo
tava
um
a ze
ro p
ro n
osso
tim
e nó
s re
com
eçam
os, o
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ádio
mai
s um
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z se
enc
heu
de to
rced
ores
e a
s câ
mer
as d
e te
vê v
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ram
a tr
ansm
itir o
clá
ssico
pra
todo
opa
ís, se
u O
nofre
não
larg
ou d
o no
sso
pé, n
o in
ício
ficou
mei
o de
esc
ante
io, d
ola
do d
a la
ta d
e ól
eo q
ue s
ervia
de
trave
, qua
ndo
a pa
rtida
com
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a p
egar
fogo
seu
Ono
fre a
rrisc
ou m
eter
o b
ico n
uma
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sem
don
o qu
e so
brou
na
sua
frent
e, o
Zico
fez
cara
feia
mas
nin
guém
diss
e na
da, q
uem
é q
ue ia
ser f
ilho
da m
ãe d
e fa
lar u
m d
esaf
oro
que
foss
e ao
seu
Ono
fre?,
o te
mpo
esc
apav
a po
ren
tre a
s pe
rnas
e o
tim
e ad
vers
ário
que
ria m
esm
o er
a em
pata
r o jo
go e
leva
ra
disp
uta
pra
pror
roga
ção,
o c
alor
tava
cad
a ve
z pi
or e
seu
Ono
fre a
ndav
a de
lá p
ra c
á, ri
ndo
feito
cria
nça,
ent
reva
do a
té o
últi
mo
fio d
e ca
belo
e lo
uco
pra
que
um p
asse
erra
do a
caba
sse
nova
men
te n
os s
eus
pés,
a ge
nte
tom
ava
cuid
ado
pra
não
deixa
r que
isso
aco
ntec
esse
mas
já sa
bend
o de
ant
emão
que
era
só q
uest
ão d
e te
mpo
, lo
go l
ogo
o ve
lhot
e es
taria
aí
na l
ater
al d
ireita
,bu
fand
o fe
ito p
orco
, ou
lá n
o m
eio
do c
ampo
, pas
sand
o m
al m
as f
eliz
por
faze
r pap
el d
e bo
bo n
o m
eio
da m
enin
ada.
Nelson de OliveiraGol
?
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