pernambuco 17
Post on 22-Jul-2016
219 views
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Suplemento Cultural do Diário Oficial do Estado de PernambucoTRANSCRIPT
1Pernambuco_Out 07
Alex
andr
e Be
lm
Foto
: Ale
xand
re B
elm
/Con
cep
o: J
ane
Cin
tra
pernambuco17.indd 1 9/10/2007 14:36:22
2Pernambuco_Out 07
xpedienteE
rfos da elegncia pura - H 50 anos, a moda perdia o estilista Christian Dior
03
:D - Por que depois da internet nunca mais a nossa escrita foi a mesma? :*
04
Frgil - O patrimnio material dos escri-tores colocado em discusso
06
Romantismo/Romantism - Poetas ingle-ses romnticos ganham tradues com-petentes
10
Sobre o dis-creto charme do banal - In-tervenes do SPA das Artes mudam nossa paisagem ur-bana de cada dia
11
Qual a importncia das residncias dos escritores para a preservao da nossa cultura? A idia de fazer uma capa do Pernambuco a partir desse tema surgiu quando o estudante de letras Kleber de Oliveira Silva enviou artigo denunciando a derrubada da casa onde nasceu Osman Lins, em Vi-tria de Santo Anto, sua terra natal. Essa mesma cidade tem um centro de cultura com o nome do autor, que pouca ou nenhuma atividade cultural costuma realizar. A partir da denncia, a idia foi investigar em que p est a preservao desse nosso patrimnio material em tempos em que tanto se fala em patrimnio imaterial.
Nessa matria de capa, a reprter Marcella Sampaio chegou seguin-te concluso: No caso especfico dos escritores, h em Pernambuco um enorme potencial para que os espaos onde passaram parte da vida sejam explorados como ponto de partida para um mergulho na sua produo in-telectual. Seria o caso da materialidade invocar a imaterialidade e provocar sua permanncia. Gilberto Freyre, Hermilo Borba Filho, Osman Lins, Clarice Lispector e Manuel Bandeira so apenas alguns exemplos de autores cujo patrimnio material, ocupado em algum momento ou deixado por eles aos seus, chegou a ser transformado em local de visitao ou pesquisa.
Alm da importncia da preservao do patrimnio dos escritores, o Per-nambuco vem com assuntos dos mais diversos. Entre eles, o relanamento do lbum do grupo norte-americano Modern Lovers, que nos anos 70 foi contra a corrente do imaginrio do rocknroll da poca, com letras inteli-gentes falando do lado careta de ser e imprimindo os alicerces daquilo que, nas dcadas seguintes, seria conhecido como indie-rock. A anlise do Mo-dern Lovers ficou nas mos do jornalista e guitarrista do grupo Mellotrons, Haymone Neto, que vem nos ltimos meses colaborando com excelentes artigos sobre msica no Pernambuco.
A moda outro tema que essa edio no deixa de fora. O jornalista Dario Brito investigou os pressupostos daquilo que o estilista Christian Dior nos levou a entender como elegncia. A elegncia em seu conceito clssico, que une harmonia e leveza de formas, que acerta nas linhas, combinao e proporo das partes e movimentos e, acima de tudo, a elegncia intocvel, inquestionvel com relao ao carter de quem pode suportar, com uma pureza mpar, tais vestes, analisa Dario.
A professora do departamento de letras da UFPE, Nelly Carvalho, fala de como a internet tem mudado a nossa forma de escrever. E o pesquisador do romantismo, Andr de Sena, analisa as boas tradues que alguns dos grandes poetas romnticos ingleses tm recebido agora no Brasil.
Quando o Pernambuco estreou em janeiro, a poeta Micheliny Veruns-chk foi a primeira a publicar na nossa seo voltada a textos inditos. Ago-ra, ela est de volta, mas com um lado pouco conhecido do pblico, o de contista.
O grande destaque desta edio do Pernambuco, no entanto, so as mudanas que tm sofrido o caderno Saber +, que a cada edio fica mais gil, mais graficamente atraente. como se a cada nmero o Saber + fos-se um laboratrio de novas idias e propostas. Nesse nmero, uma longa entrevista de Marilene Mendes com Jacques Ribeboim discute a polmica lei que visa cota para os escritores pernambucanos nas livrarias. Outro destaque um texto de Samarone Lima sobre aquela que permanece como a livraria-arqutipo no imaginrio do recifense, a Livro 7.
Boa Leitura e at o prximo nmero,
Schneider Carpeggiani ([email protected])Editor Executivo
SUMRIO EDITORIAL
Entre na briga - O Pernambuco abre espao para os leitores. Escreva dez linhas sobre O futuro da televiso. Voc partici-par do debate com nossos colaboradores. Veja e-mail no editorial.
O Brasil em 26 horas - Paulo Srgio Scarpa analisa novas possibilidades de interpreta-o na maratona de Os sertes
05
Entre a ao e a conscincia social - Estria de Tropa de Elite coloca a discusso sobre o papel da polcia em foco
08
Caretice, esse obscuro objeto de desejo - Clssico do Modern Lovers ganha reedio09
Inditos - Micheliny Verunschk mostra seu lado contista
12
EXPEDIENTEGOVERNADOR DO ESTADOEduardo Campos
VICE-GOVERNADORJoo Lyra Neto
SECRETRIO DA CASA CIVILRicardo Leito
PRESIDENTEFlvio Chaves
DIRETOR DE GESTO Brulio Mendona Meneses
DIRETOR INDUSTRIAL Reginaldo Bezerra Duarte
GESTOR GRFICOJlio Gonalves
EQUIPE DE PRODUODbora Lobo, Eliseu Barbosa, Joselma Firmino, Lgia Rgis, Roberto Bandeira e Alusio Ricardo
Circulao quinzenal. Parte integrante do Dirio Oficial do Estado de Pernambuco.
Distribudo exclusivamente pela Companhia Editora de Pernam-buco - CEPE
Rua Coelho Leite, 530, Santo AmaroCEP 50100-140
EDITORRaimundo Carrero
EDITOR EXECUTIVOSchneider Carpeggiani
EDIO DE ARTEJane Cintra
TRATAMENTO DE IMAGEMSebastio Corra
SECRETRIO GRFICOMilito Marques
REVISOGilson Oliveira
CONSELHO EDITORIALFlvio Chaves (presidente), Jaci Bezerra, Paulo Bruscky, Nivaldo Arajo, Ivanildo Sampaio, Joo Monteiro e Lucila Nogueira
Fone: (81) 3217.2500 FAX: (81) 3222.5126
Interveno de Mauricio Silva. Foto: Marcelo Lyra/Olhonu/Divulgao
pernambuco17.indd 2 9/10/2007 14:36:47
3Pernambuco_Out 07
o mundo da moda, com tantas fascas e opinies divergentes, pelo menos uma unanimidade persiste inabalvel: Christian Dior sempre ser o pai da
elegncia. A elegncia em seu conceito clssico, que une harmonia e leveza de formas, que acerta nas linhas, combinao e proporo das partes e movimentos e, acima de tudo, a elegncia intocvel, inquestionvel com relao ao carter de quem pode suportar, com uma pureza mpar, tais vestes. H 50 anos, o mundo perdeu o norte desse tipo de bom gosto (Dior morreu repentinamente de um ataque cardaco em 24 de outubro de 1957). O paradoxo que atualmente basta ler qualquer semanrio de no-notcia, ligar a TV em qualquer programa de variedades ou acessar qualquer blog de moda para perceber que exmias re-presentantes da p virada como Nicole Richie, Gwen Stefani e Victoria Beckham podem, sim, parecer elegantes. Mas nunca como uma manifestao de garbo, de maneiras requintadas e virtude: nunca como algum que ousasse suportar com dignidade as supremas vestes de Dior nos anos 50.
Baixinho, gordinho, atarracado, tmido e, de certa forma, deslocado, Dior soube se impor como poucos enquanto passou como um meteoro na hora certa: em apenas uma dcada (sua primeira e retumbante coleo, Linha Corola, surgiu em 1947), ele transformou-se num estilista cujas criaes povoavam ao mesmo tempo os sonhos de mulheres das mais altas classes europias como tambm das donas-de-casa mais puerilmente provincianas de toda classe mdia ao redor do mundo. Vestir-se com uma criao do mestre era o ltimo grau do desejo, do campo onrico da elegncia. Por toda essa influncia sem prescedentes, Dior era recebido nos pases que visitava com honrarias dignas de um chefe de estado. E merecia isso.
ltimo grande estilista (de uma era que comeou com Charles Worth, ainda no sculo XIX), Dior revolucionou a moda ao lembrar as mulheres que elas po-diam ser novamente deslumbrantes e que a vida tambm era feita de elegncia. O estilista teve a nobre misso de reconstruir o bom gosto numa Europa ps-Se-gunda Guerra feita de migalhas e acostumada com o racionamento e a masculi-nizao. Mulheres, sobretudo as parisienses, que anos antes tinham que investir em criatividade e instinto de sobrevivncia para celebrar sua feminilidade at onde era possvel: transformando trajes masculinos em vestidos, toalhas de mesa em novas peas ou ainda, desesperadas, traando uma risca de carvo na parte de trs das pernas, imitando uma meia-cala, artigo de luxo naqueles tempos.
E eis que surge algum propondo vestidos que consumiam 25 ou 40 metros de tecido (contra os cinco metros castrativos durante o conflito), exibindo char-me, apostando em saias amplas que se abriam a partir de cinturas justssimas e corpetes armados com barbatanas. Um verdadeiro furaco capaz de sacudir e encantar as mulheres mais assustadas e traumatizadas com anos e anos de penrias. Tanta novidade nessa retomada da elegncia (Dior era f confesso das modelagens e criaes exuberantes do fim do sculo XIX, trazendo de volta alguns desses valores) que a coleo lanada em 1947 conseguiu arrancar da todo-poderosa e fascinada redatora da Harpers Bazaar, Carmel Snow, a clebre frase: This is a new look!.
Durante dcadas, o nmero 30 da Avenue Montaigne, em Paris, foi o prin-cipal reduto para norteamento da moda mundial, influenciando a esttica femi-nina e os estilistas, mesmo aps a morte de Dior, quando a marca passou a ter como diretores criativos nomes como Yves Saint Laurent, Marc Bohan e Gian-franco Ferr. Hoje, o templo est sob o comando do inquieto John Galliano, regi-do de perto pelos fortes pilares da Louis Vuitton Mot Henessy. Nesse endereo, o ateli de alta-costura de Dior fora criado inicialmente com financiamento do magnata do algodo Marcel Boussac. Era a oportunidade para Dior, filho de um abastado comerciante de fertilizantes e que sonhava em ser artista plstico, dar vazo ao seu poderio criativo, contrariando de certa forma a vontade dos pais que o haviam manda