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1 Pernambuco_Ago 07.2 Foto: Alexandre Belém/Concepção: Jaíne Cintra

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Suplemento Cultural do Diário Oficial do Estado de Pernambuco

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Page 1: Pernambuco 14

1Pernambuco_Ago 07.2 Foto: Alexandre Belém/Concepção: Jaíne Cintra

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Tic, tac - Os prazeres e angústia da espera03

No meio do caminho tinha um Carlos - O Brasil lembra os vinte anos da morte de Drummond04

Online, logo existo - Serão reais as relações do mundo virtual?

06

O gosto dos outros - Deixe que seu gosto musical seja decidido por especialistas11

Melhor amigo à procura - Que qualidades definem uma amizade no mundo real?

10

Inédito - Priscila Varjal revela sua qualidade em As rodas giraram vermelhas

12

Para os conservadores, uma expressão: o mundo enlouqueceu; para os desinformados, uma palavra: intimidade. É o que está acontecendo depois de mudanças tão drásticas e revolucionárias com o surgimento do compu-tador, algo que revela o mundo apenas com um leve movimento nas teclas, num impulso que gera informações das mais variadas e complexas.

O Pernambuco realiza neste número uma ampla matéria sobre os no-vos contatos e relacionamentos surgidos depois da internet, e que reúne jornalistas com visão do assunto: Carol Almeida, Luís Carlos Pinto e Marcella Sampaio. E não deixa de existir, nesses relacionamentos, uma espécie de achados e perdidos: quem sumiu volta e, quem voltou, some de novo.

Tudo isso lembrou a Jaíne Cintra, a nossa editora de arte, um jogo de dominó, também com seus encontros e desencontros, num jogo apaixo-nante e infinito, sob o olhar de Alexandre Belém, que resultou na capa e na montagem das páginas centrais, num trabalho de criação que só os artistas conhecem. Movimentos internos que geram e revelam o belo e o espiritual.

Numa palavra-síntese de Carol Almeida: “Maior exemplo dessa nova di-nâmica é o recém-criado Faceboook. Com a proposta de ser mais privado do que o orkut, o Facebook te oferece vários aplicativos, muitos deles são programas independentes, como o Last.FM e o Flixter – o primeiro é um rádio online em que tudo que você escuta pode ser compatível e facilmente linkado a um desconhecido do outro lado do mundo com semelhante pa-ladar musical, enquanto o segundo é uma ferramenta em que você pode compartilhar algumas críticas de filmes recém-lançados e, quem sabe, achar alguém com opiniões iguais”.

Ainda no terreno tecnológico, Daniela Arrais procura desvendar uma es-tranha e rentável profissão em ascensão: o personal ipodder, basicamente alguém que escolhe a trilha sonora do seu freguês. E o que acontece quando as preferências musicais de uma pessoa, algo tão subjetivo, são pautadas pelo gosto dos outros?

Deixando a tecnologia um pouco de lado, o Pernambuco também lem-bra os 20 anos da morte de Carlos Drummond de Andrade, poeta chave para se entender o Brasil. A discussão drummondiana também toma conta do Saber +, que destaca sempre o debate e a dicussão do tema enfocado.

A partir da matéria de Eduardo Costa, no corpo do Pernambuco, Renata Soriano retoma o nassunto e reflete sobre a ironia e a paródia, destacando a prosa do escritor mineiro. O nosso encarte vislumbra ainda o trabalho voltado ao meio ambiente realizado pela comunidade ribeirinha de Cabocó, em texto de Belisa Mendes.

Na última página um conto inédito de Priscila Varjal - “As rodam gira-ram vermelhas” -, explorando várias técnicas narrativas, de forma a alcançar maior efeito junto ao leitor.

É importante ressaltar o texto nesse Pernambuco de Adelaide Ivanova que trata de um tema muito caro: o limbo, aqueles momentos em que a vida pára, em que nada acontece. Como reagir a essas fases da vida e fazer a fila andar? É isso o que a nossa colaboradora procura responder nesta edição, cheia de bom humor. É isso! Boa Leitura e até o próximo número

.

Raimundo [email protected]

SUMÁRIO EDITORIAL

Entre na briga - O Pernambuco abre espaço para os leitores. Escreva dez linhas sobre “A importância do patrimônio histórico”. Você participará do debate com nossos colaboradores. Veja e-mail no editorial.

Afago em Celina de Holanda - As palavras essenciais que revelam o mundo poético da escritora pernambucana

05

EXPEDIENTEGOVERNADOR DO ESTADO

Eduardo CamposVICE-GOVERNADOR

João Lyra NetoSECRETÁRIO DA CASA CIVIL

Ricardo Leitão

PRESIDENTE

Flávio Chaves DIRETOR DE GESTÃO Bráulio Mendonça Meneses

DIRETOR INDUSTRIAL Reginaldo Bezerra Duarte

GESTOR GRÁFICO

Júlio Gonçalves

EQUIPE DE PRODUÇÃO

Débora Lobo, Eliseu Barbosa, Joselma Firmino, Lígia Régis, Roberto Bandeira e Aluísio Ricardo

Circulação quinzenal. Parte integrante do Diário Oficial do Estado de Pernambuco. Distribuído exclusivamente pela

Companhia Editora de Pernambuco - CEPERua Coelho Leite, 530, Santo AmaroCEP 50100-140

Fone: (81) 3217.2500– FAX: (81) 3222.5126

EDITOR

Raimundo CarreroEDITOR EXECUTIVO

Schneider Carpeggiani

EDIÇÃO DE ARTE

Jaíne Cintra

TRATAMENTO DE IMAGEM

Sebastião Corrêa SECRETÁRIO GRÁFICO

Militão Marques

REVISÃO

Gilson Oliveira

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u vi dois filmes muito importantes essa semana. E, como estou nessa frescura de novo ano astral, fiquei muito pensativa com os dois. O primeiro foi “Madagascar”.

Dei um pause no DVD, e fiquei bem perplexa, depois que a zebra se questionou: “Eu tenho tantos anos e ainda não sei se sou branca de listras pretas ou preta de listras bran-cas”. É assim que eu me sinto. Vinte e cinco anos, corpinho de vinte e cinco e cabeça de trezentos (ou seria de três?).

Não paro de pensar nas coisas que, aos vinte, pensava que já teria conquistado aos vinte e cinco (inclusive no quesito emocional). Claro que muitos planos mudaram pelo caminho, por escolha minha – mas outros, simplesmente, eu não consegui realizar. E a sensação de não conseguir fazer as coisas é a mesma de quando se está numa sala de espera bege, len-do várias “Caras” velhas, com a TV ligada no “Vídeo game”. Bem-vindo ao limbo.

Hoje eu fui ao salão, fui super pontual, mas a minha cabeleireira pediu para eu esperar um pouco que ela ainda ia preparar o tingimento da outra cliente. Quanto tempo a gente tem que esperar para que a tinta esteja pronta? Enquanto eu estava sentada lendo sobre como Siri está chateada com Alemão, o tempo da outra cliente passava e ia tomando do meu. O atraso da outra cliente acabou fazendo que minha pontualidade se tornasse inútil, impossibilitando que eu fosse ao MAM, que fecha às 18h. Não ter ido ao museu (que eu só tenho tempo de ir nos finais de semana) abortou uma produtiva conversa que eu teria com minha chefe, que foi quem me recomendou a visita a uma determinada exposição de fotografia. Um fato tão simples, um atraso de, sei lá, meia hora da outra cliente, impossibilitou uma coisa (a conversa) sobre a qual eu estava tão entusiasmada.

Isso é para eu pensar que as atitudes dos outros, sim, mudam nossa vida em muitas instâncias e, às vezes, de forma prolongada – e isso não é se fazer de vítima. Pode ser acaso, pode ser destino. Mas isso serve (mais importante ainda) para percebermos que também somos “os outros” na vida dos outros, e nossas atitudes afetam a vida da galera – para estragar ou para fazer o bem.

Pausa. Eu sou uma pessoa gananciosa e maquiavélica (observação: pessoas ganan-ciosas e maquiavélicas têm um belo talento para estragar a vida alheia). Meu sonho é ser rica e famosa – e, como toda pessoa inteligente que quer ter as delícias de uma vida com luxo, eu tracei um plano que sigo rigorosamente e que, entre outras estratégias, começa com o fato de que eu acordo cedo e trabalho um bocado, muito, fazendo coisas que nem sempre me dão prazer. Porque o luxo que eu quero ter é exatamente o contrário disso – ganhar dinheiro exercendo minha criatividade, em vez de executar a idéia criada por outros, que é isso que faço atualmente para pagar as contas.

Para pessoas como eu, é bem doloroso perceber aquele momento da vida em que as coisas dão uma freada, ficam em slow motion. É que nem os anos 30, é o período “entre guerras” da vida de cada um: uma coisa muito importante aconteceu e outra também muito importante está para acontecer, mas nesse meio tempo vem um vazio...

Você está na roça. E entre plantar o algodão e o algodão poder ser colhido, uh la lá, benzinho, vai ter que esperar. Você, agricultor de sua vida, tem que lutar para não se

deixar dominar pelo tédio – que, pior que o ócio, é a coisa mais aprisionante e impro-dutiva.

Deixa eu aconselhar, que eu sou mestra em limbo: esse momento é aquele que, aos diabos, vá fazer nada com propriedade! Seja sua própria semana de 22. Se não tem o que fazer, arrume algo que seja puramente hedonista. E me ligue. Não dá para pirar toda vez que você não está ao volante e, pior, está no banco do passageiro de um motorista que não dá ouvido às suas sugestões de itinerário.

E tem outra: a vida tem altos, baixos e “nadas”. Os baixos servem para mostrar como os altos têm que ser intensamente curtidos, os altos servem para fazer a vida valer a pena e os “nadas” servem para mostrar que a vida com altos e baixos é muito boa!

Eu mesma tenho consciência total dos meus issues em relação aos altos e baixos. Eu sou uma bipolar auto-diagnosticada, e não fico deprimida de ser doidinha – ficaria, isso sim, deprimida se não pudesse contar com minha cota de excentricidade. Até porque eu preciso de um bocado de doidice em minha cabeça para conseguir ter idéias.

Isso me lembra o outro filme importante da semana: “Lagerfeld confidential”, do-cumentário sobre Karl Lagerfeld, aquele cara responsável por ressuscitar a Chanel (que ficou bem caidinha depois que Coco morreu). Karl também é ganancioso, maquiavélico e, para piorar o panorama (não vou resistir a essa piada xenófoba), é alemão! Mas foi essa frieza germânica, talvez, que tenha feito o estilista enxergar sobrevivência e produti-vidade na sala de espera bege. Ele é um exemplo a ser seguido por quem não consegue dar um jeito na sua vida – ele conseguiu tomar as rédeas de sua cabeça, poderosa e fatal, para viver de bem com a própria personalidade enclausurante. Eu, tão obcecada por cantoras norte-americanas de 17 anos, tenho agora num alemão de 300 anos meu novo muso do “auto-ajude-me”.

Karl sofreu um bocado na vida, muito embora ele tente passar a idéia contrária. Ele foi amante de Yves Saint-Laurent antes de brigarem para sempre, até que o amor de sua vida (que não foi Yves) morreu. E Mr. Lagerfeld não se deixou, nunca mais, sair do “nada” – no conforto de seu limbo e de sua mansão ultra-bagunçada em Paris, ele vive sozinho, insone, numa rotina de intensa produção. Para ele não tem essa de esperar a inspiração baixar para criar um croqui: toda manhã ele senta na escrivaninha e desenha e desenha e desenha.

Na mansão de Karl, a cama em que ele dorme é de solteiro, sem luxo, postada no meio de um quarto entulhado de coisas, coleção de anéis, de ternos, de livros, de i-Pods. Tudo isso é um retrato simbólico de como organizar as coisas na nossa cabe-ça. Ela (a cabeça) pode até estar bem bagunçada, cheia de coisas por arrumar, mas no meio daquilo tudo, tem que se ter a noção do tamanho da cama que nos cabe, tem que se ter a sabedoria de aceitar a própria vida, sem se lamuriar, sem se iludir comprando uma cama de casal gigante que, na maioria das vezes, só é ocupada pelo nosso próprio corpo.

Conhecer suas necessidades é importante para sobreviver ao limbo – mesmo sabendo que o conforto de escangalhar as pernas num king-size não faz mal a ninguém. yy

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á vinte anos, um coração crescia dez metros e explodia. Não um coração qualquer: morria de problemas cardíacos, em agosto de 1987, aos 85 anos, o poeta Carlos Drummond de

Andrade, dias depois daquela que foi sua grande paixão, a filha Julieta, também deixar esse mundo (curiosamente, meses depois também de a Mangueira vencer o carnaval carioca com o enredo “O reino das palavras”, que o homenageava). O coração mineiro e as retinas fatigadas; e um certo cansaço da vida, que já não mais escondia; não suportaram a perda da filha. Perda maior que as cravadas em versos: “perdi o bonde e a esperança” (“Soneto da perdida esperança”) ou “ganhei (perdi) meu dia” (“Elegia”).

Dizer que Drummond foi o maior poeta brasileiro é desprezá-lo: aquela figura calada, cabis-baixa, de fala lenta, de óculos grossos, com uma careca obscenamente tímida, nunca quis ser maior que nada. Nem maior que o mundo, o “vasto mundo”, que cantara em um de seus textos mais famosos, o “Poema de sete faces”, primeiro do primeiro livro “Alguma poesia”, de 1930.

Drummond não foi maior que ninguém, antes ou depois: foi melhor, porque entendeu como é chato ser “eterno” e quis ser “moderno” como escreveu em “Eterno”. Nenhum outro poeta do século passado soube tão bem aliar tradição e modernidade. E em ordem inversa: começou moderníssimo, quando em 1928 (dois anos antes da estréia em livro, quatro depois do decisivo encontro com Mário de Andrade, em Belo Horizonte) publicou numa revista carioca o escanda-loso “No meio do caminho”.

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A monotonia desse poema (que hoje é expressão popular, verdadeiro sinônimo de situ-ação aporética, como tantas outras descritas por ele), sua fórmula ciclicamente repetitiva, mas embebida de tradição, pois remete ao “Canto I” de “O Inferno”, da comédia de Dante, levantou curiosidade sobre o que estava vindo detrás das montanhas. Ou daquela pedra.

Não demorou para que o poeta, nascido na cidadezinha de Itabira do Mato Dentro, ganhar destaque na poesia brasileira, sobretudo quando, em 1945 (ano do fim da Segunda Guerra Mundial, na Europa, e da ditadura estadonovista, no Brasil), publicou seu grande livro: “A rosa do povo”, um libelo pela liberdade. Um grito de estar-no-mundo. Livro que influenciou gerações posteriores, de João Cabral de Melo Neto e Ferreira Gullar aos roqueiros de protesto, na década de 1980. Não houve injustiça que não tivesse sido chorada ali. E em belíssimas formas poéticas. Não é à toa que lá também estão alguns de seus mais importan-tes metapoemas, como “O elefante” e “Procura da poesia”.

No esquema traçado pelo crítico e poeta Affonso Romano de Sant’Anna, Drummond, que começou se achando maior que o mundo, nos primeiros livros, igualou-se a ele, com “A rosa do povo”, entendendo (ou quase) seu papel social, ou algo próximo disso. Voltaria, porém, a mudar novamente a posição de seu ser poético, com “Claro enigma”, em 1951, livro lírico, clássico, com sonetos e tudo o mais para os quais os modernistas torciam seus narizes (com ou sem “ouros” dentro deles). Estava certo: era menor, bem menor que o mun-do; outro crítico, Luiz Costa Lima, viu a relação drummondiana com o seu redor como sendo uma questão de “corrosão”.

Essa posição de recuo e avanço constante diante do mundo (objeto amplo de desejo, já que poderia ser um enigma, uma mulher ou uma utopia política) fez de Drummond o mais lido e influente poeta do século anterior no país. E todo esse movimento refere-se à obra deixada por ele até a década de 1960!

Posteriormente, Drummond dedicaria-se à crônica, poética ou em prosa, e ao conto. Como jor-nalista (o que gostava de ser chamado), tornaria-se mais popular ainda, embora críticos vissem nisso uma certa falência poética. Para o grande público, contudo, metonimicamente, virou sinônimo de “ser poeta” (talvez maior ainda que aquele a quem definia como o “único que soube viver como poeta”, Vinicius de Moraes). Publicou até pouco antes de ir embora definitivamente para o “reino das palavras”, onde elas vivem em “estado de dicionário”. Mais: ainda deixaria bocas inquietamente abertas, quando, postumamente, publicou-se “O amor natural”, reunião de poemas eróticos para sua companheira pa-ralela de quase uma vida toda, Lygia Fernandes, sua amante por (pasme) 35 anos.

Hoje, poucos poetas se fazem tão presentes. Primeiro porque é fácil tentar imitar Drummond. Os versos livres (nem sempre), o “peso do mundo” nos ombros, são um pouco permitidos a mim e a você. Não se vê com tanta freqüência quem arrisque lapidar versos como os de Cabral. Duros. Nem tentar se meter nos limites da infantilidade lírica de Manuel Bandeira. A complexidade do simples é para poucos. Drummond, no entanto, é imitado, deglutido e vomitado por novas e novas gerações. Não por ser simples, mas por se deixar (re)ler de variadas e amplas formas, que é o que se espera, no fundo, de um clássico. Não quer dizer que novos Drummonds sejam possíveis, mas sim que isso pode ser tentado. Como uma piada do “homem do povo, Charlie Chaplin” ou mesmo uma rosa furando o asfalto. Ou, “sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan” (“Elegia 1938”).

Não faças versos sobre acontecimentos./Não há criação nem morte perante a poesia./Diante dela, a vida é um sol estático,/não aquece nem

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aniversários, os incidentes pessoais não contam./Não faças poesia com o corpo,/esse excelente, completo e co

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prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem./O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz./O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.

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O canto não é a natureza/nem os homens em sociedade./Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.

A poesia (não tires poesia das coisas)/elide sujeito e objeto./Não dramatizes, não invoques,/não indagues. Não percas

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é algo imprestável./Não recomponhas/tua sepultada e mer-

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dentrar no universo lírico de Celina de Holanda é celebrar a poesia em seu papel mais útil à humani-dade: união, solidariedade; aproximação de mundos às vezes tão distantes e incomunicáveis, como a

casa grande (lembrança de seu engenho-natal, Pantorra) e a imensidão dos desprestigiados socialmente: marginalizados, operários, camponeses e refugiados de guerra. “Afago e faca”, poema que dá nome a um livro homônimo de Celina de Holanda, são as duas palavras reveladoras de sua poesia. É um grito de revolta contra as pretensões imperialistas das nações desenvolvidas, que pregam a paz provinda incoerentemente da opressão, da guerra, num jogo de forças em que só os pobres saem perdendo: “Os seguidores de Rea-gan/ com fórmulas perversas/ e armas invisíveis/ negam ao povo/ o discurso indizível” (“O inocente”).

Sua obra caracteriza-se pelas temáticas de afetividade, amorosidade, valorização da família e dos ami-gos; esteticamente, pela precisão, economia de palavras, que significa o verso certo em cada lugar. Pois, como afirma Luzilá Gonçalves Ferreira (orelha de “Viagens gerais”), Celina nos ajuda a ler o mundo e a nós mesmos; seu olhar sobre as coisas, lúcido e crítico é, entretanto, pleno de simpatia e ternura humana. E José Mário Rodrigues: Cada palavra sua é uma estrutura firme, uma coluna mestra.

A poesia de Celina é líquida, fluída. Nela há inúmeras recorrências à palavra água e a seus derivados (rios, aquática, mar, entre outros). Certamente essa obsessão literária pela água venha de seu convívio com os rios de sua infância, no seio de sua família de usineiros; ou de sua íntima ligação com o Recife, cidade cortada por rios: “Este rio é meu./ Recebo-o nos meus/ braços estendidos/E o rio corre em mim”. (“O rio”); “Banho de rio/ banho na fonte/ das águas rasas,/ sombra de galhos” (“Fluvial”).

Essa observação das águas, porém, está dentro de uma proposta mais ampla: a de contemplação da natureza. Embora tenha passado grande parte da sua vida no Recife, os alicerces da poesia de Celina de Holanda estão fincados nos engenhos de sua família. A vida simples e tranqüila do campo e o convívio com os camponeses fizeram de Pantorra o que Pasárgada representou para Manuel Bandeira: “Este chão é pausa./ Dêem-me a infância/ para que eu retorne/ reencontre meu chão,/ seus verdes, seus marcos,/ seu barro plasmável/ (...) do tempo correndo/ brando como o rio/ carregando as roupas/ qual nuvens mais altas” (“Retorno”).

Para Celina, os amigos são mais importantes que o amado; ela os acolhe com toda cortesia: “Os amigos chegam, ponho a mesa./ Branca, estendida a esperança. /(...)os amigos chegam,/ venham de onde vierem, ponho a mesa” (“Os amigos”). Os seus versos celebram a amizade, o companheirismo dos colegas escrito-res. Vários são os homenageados em seus poemas: Marcelo Peixoto, Renato e Maximiano Campos, Maria do Carmo Barreto Campelo de Melo, Jaci Bezerra, Alberto da Cunha Melo. Com este último, mantém um diálogo sobre o processo literário, dedicando-lhe um poema e assumindo sem melindres a influência de outros autores em sua obra: “Meu amigo tem a palavra exata/ e corta todo excesso/ na poesia e na vida/ (...) Meu amigo é uma adaga/ de boa têmpora/ Quem melhor podará/ meus ramos secos” (“Adaga”).

Celina é uma autora que acredita que a poesia tem poder de transformar o mundo. Para ela, o escritor, o poeta, deve ser o porta-voz dos excluídos: “Ouço o povo numeroso de Deus./ Vem dos mangues, dos cárceres/ e morros./ O Recife pulsa/ (...) Ouço as portas./ e o clamor do povo de Deus, abrindo-as” (“Povo de Deus”) Apesar de sua origem aristocrática, assume uma visão assumidamente de esquerda (solidária mais que socialista), colocando-se ao lado das lavadeiras, dos operários, dos camponeses. Na sua humilda-de e despojamento, Celina chega a escrever um poema para elogiar a mulher pobre, pela sua coragem e esperança, não obstante as adversidades: “Eu te respeito/ pelo teu mundo aberto/ e por saberes no corpo/ tudo que sabes./ Pelo difícil acordo/ entre o possível/ e a incerteza/ que é teu filho./ Pela denúncia que és/ e a utopia/ (mal entendido sonho)/ essa tensão/ em teus olhos tombados/ sobre a mesa” (“Elogio da mulher pobre”). Celina é sinônimo de esperança. Caminhou em sua jornada lírica, até o seu encantamento, im-pulsionada pelos mais nobres sentimentos e emoções humanas. Sem medo de assumi-las, perfaz em seus versos a simplicidade e sabedoria que são o segredo de uma poesia universal: “Amei a casa dos simples/ com sua pobreza branca/ e vi, da carne morena,/ a chama viva apagada/ das águas negras do mangue” (“Interrogando”). Ou Sônia M. Prieto Brito, na mesma orelha: “(seu) fazer se revela um permanente refa-zer em busca da ‘expressão final’ – palavras essenciais, capazes de revelar a força ordenadora de todas as coisas. Vendo o verso com ‘os olhos do inimigo’, concebendo o fazer poético como reelaboração lúcida e crítica do real”.

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Palavras essenciais da poeta pernambucana revelam o segredo de sua obra elaborada

André Cervinskis

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omeça quem tem a peça mais alta, joga quem tem o mesmo número e termina quem primeiro se livra de tudo que tem na mão. Todas as regras de um jogo de dominó podem servir como paralelo para os movimentos de qualquer

relacionamento: começa quem tem mais coragem, joga quem encontra semelhanças e termina quem primeiro atirar tudo pra fora da janela (ou, quem sabe, tiver o menor número de “tolerâncias” na mão).

Mas dominó, para qualquer um que já o jogou, vai muito além dessas regras. É um jogo de desenhos que vão sendo formados, em um design que, ao unir números compatíveis, une também imagens. Podemos entender os números como mensagens que precisam se encaixar e se comunicam de um para um (de quina para quina, de quadra para quadra...). Já as imagens, podemos entendê-las como idéias que se combinam, mas não necessariamente conversam apenas com a peça vizinha. Cada uma dialoga com todas as outras, e cada uma só é notada em seu conjunto, nunca em sua unidade.

O artista plástico pernambucano José Patrício, em um de seus trabalhos mais conhecidos, usou dessas peças para criar imensos murais onde o plural dá sentido ao singular. Muito então se falou sobre o grafismo desse coletivo, a razão que ele dava às unidades do jogo e várias outras interferências em nome da estética. Usemos então essa estética do todo para falar da ética da parte. Talvez porque seja mais fácil partir de um dominó para falar dos vários outros joguinhos criados hoje em um ambiente online de rede (e, portanto, de junções), mais conhecido como internet.

Eis então alguns dos jogos dispostos sobre a mesa: Orkut, MySpace, Facebook, SecondLife, Last.FM, Flixter, iLike e vários outros nomes dos quais você possivelmente (ainda) não ouviu falar. Mais do que portais de relacionamento (cujo suporte é, algumas vezes, uma realidade paralela, caso do SecondLife), essas ferramentas são conseqüência – e não causa, como alguns apontam – de laços pessoais cada vez mais fundados não exatamente em compatibilidade de personalidade, mas em compatibilidade de consumo.

Todos os sites acima citados usam de recursos que ligam as pessoas às outras a partir daquilo que elas gostam de escutar, de ver no cinema, de assistir na TV, de comer, beber, ler, enfim, de tudo que possa ser compartilhado em uma esfera para além daquilo que cada um é. Afinal de contas, hoje você é o que você consome pelo prazer de consumir. Em outras palavras, você é aquilo que você excede. A moral do consumo, que do calvinismo para cá era um campo de pesqui-sa próprio e bem distinto de nossos preceitos éticos, parece cada vez mais assumir o lugar da moral dos relacionamentos – online e offline.

O fato é que o surgimento dessas conhecidas comunidades online só é possível em função da ética do consumo, uma vez que se reveste de uma identidade cada vez mais pessoal para criar um mural gigante de consumos em comum. Temos então a imagem daquilo que, um tanto preguiçosamente, Zygmunt Bauman chama de “modernidade líquida”, e do que, um tanto presunçosamente, Colin Campbell batiza de “o espírito do consumismo moderno”.

O primeiro reduz a sociedade em relacionamentos cuja durabilidade não vão muito além do tempo de vida de um copo descartável, e o segundo sustenta a idéia de uma sociedade que, a partir de um imaginário romântico (herdeiro direto da literatura romântica) conseguiu se desprender do puritanismo para abraçar o excesso e o hedonismo como elementos de uma moral própria.

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Nos concentremos em Campbell. O sociólogo inglês tenta buscar no período antes, durante e depois da Revolução Industrial os elementos que propiciaram a “procura”. E não, não foi a “oferta”. Revelando os equívocos das teorias que dão conta de uma sociedade do consumo que teria surgido em função de a) uma produção bem maior de bens ou b) um status quo mais próximo da aristocracia, Campbell vai atrás de algo mais profundo no comportamento da primeira geração de grandes consumidores: o romantismo.

No contra-fluxo do puritanismo, a literatura romântica fez a base de uma sociedade que começava a não temer por seus “sentimentos indisciplinados”, por seus excessos: fossem eles do coração ou do mercado de roupas. De uma etapa sentimentalista chegamos ao romantismo, à libertação do pensamento artístico e estes princípios rapidamente ensina-riam suas primeiras lições aos aprendizes da publicidade. A propaganda, a moda e a ficção idealizada, como se sabe, sempre andaram juntas.

A ética romântica de Campbell, em contraste com a ética protestante de Weber, é um campo que consegue explicar melhor aquilo que a ciência econômica e mesmo a sociologia propositalmente deixaram de lado: a origem do impulso pelo consumo. Em Campbell, essa gênese é observada com a cautela de um pesquisador que, claro, tenta esclarecer os processos entre o homem e a moral que o rege. Neste caso, entre o homem e as razões para seu comportamento con-sumista.

Mas e se os próprios relacionamentos humanos passam a surgir em função desse consumo? Ou seja, se a moral do consumo passar a ser o maior valor social das gerações MySpace, Facebook e adjacentes? Não se fala aqui do relaciona-mento entre pessoas que, uma vez conhecidas, passam a compartilhar gostos. Se fala de pessoas que, conhecidas ou não, se comunicam apenas em função desses gostos, dessas peças que se encaixam.

Maior exemplo dessa nova dinâmica social é o recém-criado Facebook. Com a proposta de ser mais “privado” do que o Orkut, o Facebook te oferece vários aplicativos, muitos deles são programas independentes, como o Last.FM e o Flixter – o primeiro é uma rádio online em que tudo que você escuta pode ser compatível e facilmente linkado a um desconheci-do do outro lado do mundo com semelhante paladar musical, enquanto o segundo é uma ferramenta em que você pode compartilhar algumas críticas de filmes recém-lançados e, quem sabe, achar alguém com opiniões iguais.

E tem mais: diariamente, você pode enviar “gifts” (presentes) aos seus “amigos”, alguns são apenas virtuais, outros, de fato, são comprados em cartão de crédito. Você pode ainda adicionar um aplicativo que indica o que você está beben-do no momento (ou que tipo de bebidas mais gosta) e a lista é infindável.

Como o já citado dominó, você vai encaixando seus números a outros iguais para formar o design de uma rede de relacionamentos. Lembrando que não é exatamente uma rede, mas sim o design dela. Não é precisamente você, mas sim um número, um objeto de consumo pré-determinado. A diferença é que, nesta partida, ganha quem, no fim de tudo, estiver com pelo menos duas peças na mão: o público alvo e a literatura romântica, hoje incorporadas também nesses sites de relacionamento. As grandes indústrias que detém essas peças ganham o jogo de “lá e lô”. E, no dominó, isso significa três vezes mais pontos.

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Especial de matérias do Pernambuco procura analisar como o meio virtual está mediando as relações humanas

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uita coisa já se disse sobre o Orkut. E, pelo andar da carruagem, muita coisa ainda será dita, tanto por quem pesquisa as rela-ções entre tecnologia e sociedade quanto por quem quer apenas emitir sua opinião comum. Tanto os pesquisadores quanto

o cidadão comum, em suas opiniões, levam em consideração de formas diferentes o seguinte: o Orkut proporciona o surgimento de redes sociais formadas por basicamente dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos) e suas conexões. A diferença é que esse meio de relacionamento é um software, um programa desenvolvido por um funcionário do Google que proporciona a interação mediada pelo computador, bem como o estabelecimento e manutenção das relações sociais através de seu sistema. Até aí nada demais.

O que é interessante observar é que o Orkut radicaliza um fato presente em muitos outros sistemas de comunicação mediados por computador: ele altera drasticamente a forma pela qual a pessoa se socializa, pois permite superar o paradigma do território e da presença, abrindo a possibilidade de que as relações sociais sejam mantidas à distância. Além disso, é possível “construir-se” no ciberespaço, uma vez que as características pessoais não são imediatamente dadas a conhecer.

Isso em parte explica o sucesso do serviço: é possível se desligar daquilo que, fisicamente situado, é empecilho à socialização: você pode construir um “eu” mais interessante, atraente, informado, culto, sexy, popular, escondendo ou anulando as características que impedem ou dificultam os relacionamentos sociais. No ambiente de interação do Orkut há recursos potenciais que estão presentes nas relações entre as pessoas. Esses recursos são principalmente as próprias relações sociais, que podem inclusive ser convertidos em capital econômico ou em capital cultural.

O Orkut é o território em que as pessoas procuram angariar mais desse capital social, na forma de relações sociais. A forma com que isso é feito envolve ações de cooperação e conflito, disputas de status e de popularidade, a procura para obter maior visibilida-de. Aliás, o mesmo pode ser dito na esfera das interações dos weblogs e dos fotologs. No caso específico do Orkut, ter um número razoável de amigos é uma forma de se diferenciar e comprovar popularidade, ser interessante, obter visibilidade. Da mesma forma, receber os recados públicos no mural que cada pessoa tem em sua página atribui mais força a esse argumento.

A mesma competitividade é verificada nas relações entre comunidades que se formam em torno de um tema comum. Nesse caso, a disputa se dá pelo número de participantes, pela intensidade das atividades promovidas etc. E há os casos de disputa pela comunidade, em que o gerenciamento da comunidade é “roubado”. É claro que nem tudo são espinhos. O Orkut também é o ter-reno em que a colaboração e a solidariedade se fazem presentes. Em que o mecanismo de busca ajuda a encontrar pessoas com as quais se perdeu contato há tempos.

E como se trata de um meio digital, a forma com que esses elementos se apresentam (aliás, presentes eles estão em qualquer estrutura de relacionamento entre pessoas) tem características próprias. O Orkut, como outras ferramentas, a exemplo dos fotologs e dos weblogs formam redes sociais. E os modelos de análises dessas redes hoje em dia, altamente debitárias das aplicações mate-máticas, falham por não levar em consideração as conexões sociais que elas implicam. A compreensão do Orkut, por exemplo, em termos de suas implicações e do que ele representa, precisa diferenciar o que nele é software, sistema de comunicação e as redes sociais que ele pode representar. Nesse sentido, como em outros exemplos de interações baseadas em computadores, ainda é ne-cessário desenvolver novas formas de análise e de estudos.

Enquanto isso, eu procuro ver o Orkut tal como uma cidade, com seus bairros chiques, seus bairros de compras, seus bairros de propaganda, com seus bairros em que se pode comprar drogas, prostituição e várias formas de prazer, em que se pode procurar ajuda e encontrá-la, ou encontrar o perigo e a ameaça; com suas pessoas nas ruas, mostrando mais do precisam e, às vezes, mais do que possuem, encarnando personagens, ou a si próprias, interagindo, trocando, comprando, inventando, aprendendo e informan-do, perdendo tempo, criando tempos, formando redes, criando enredos num palco de atores e suas conexões.

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O Orkut deixou explícito o quanto as nossas relaçõesatualmente são mediadas pelo computador

Luís Carlos Pinto

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As salas de aula prometem deixar de ser o que são, antes do que você imagina Marcella Sampaio

h40 do dia 20 de agosto de 2007. Quadro branco, professora em pé, cerca de 40 alunos atentos a uma aula expositiva sobre redação jornalística na Faculdade Maurício de Nassau. A professora, no caso, sou eu. Os meninos estão participativos, a des-

peito de uma ou outra conversa paralela. Pergunto a eles, parte do planejamento desta reportagem, o que acham sobre o ensino à distância – e o debate começa. “Fiz o meu supletivo à distância, e foi uma experiência positiva”, diz Beto Andrade, que, além de ser estudante de jornalismo, trabalha como radialista. “Acho que, caso haja também algumas aulas presenciais, pode dar certo”.

Já Sávia Barros, sua colega, vê a novidade com olhos desconfiados. “A sala de aula não é só aprendizado, é também um espaço de interação pessoal e formação de vínculos. Não estamos preparados para esse distanciamento”, acredita. Sávia acha que é preciso primeiro criar uma cultura que permita ao aluno interagir com o professor e com os colegas à distância. “É necessário mais maturi-dade e comprometimento por parte dos estudantes”.

Resistências à parte, parece que o tal EAD veio mesmo para ficar. A Universidade Federal de Pernambuco está com inscrições abertas, até o dia cinco de setembro, para o vestibular dos cursos de graduação à distância, que disponibilizam 200 vagas em Letras. Mesmo os cursos presenciais já podem se utilizar do ambiente virtual na UFPE, que desde 1998 exporta, através do Projeto Virtus, tecnologia para outras universidades e para a iniciativa privada. “Desenvolvemos recentemente, há cerca de um ano e meio, um novo software, chamado ‘ensinar’. A plataforma é simples e bastante flexível. O usuário cria um site próprio e utiliza os recursos que desejar, desde um simples chat até a videoconferência integrada”, afirma Ivanildo Aquino, que atua na área de desenvolvimento de software do Virtus. Ele se entusiasma ao falar da videoconferência, que simula uma aula tradicional quase perfeitamente. “O profes-sor marca a hora, os alunos entram no site e, com uma web can e um microfone todos se vêem, e conversam entre si”, explica, lem-brando que o controle de quem fala é feito pelo professor (ô beleza...). A ferramenta, para até 600 participantes (mais que isso só em planos especiais), pode ser usada gratuitamente pelos professores e alunos da Federal e de outras universidades conveniadas.

Ainda que a tecnologia seja fantástica, é fato que muita gente está com medo de ficar desempregado caso o EAD se torne mais presente nos cursos de graduação e pós-graduação. Um professor que não quis se identificar acredita que vai ser difícil se manter no mercado. “Minha faculdade planeja aumentar o número de alunos por turma, baixar bastante o valor da mensalidade e reduzir ao máximo as aulas presenciais”, comentou, classificando a novidade de “péssima”. “De qualquer forma, acho que o alunado ainda não está preparado para absorver esse novo formato de ensino, porque ele requer muito compromisso e disciplina”.

A professora de metodologia da pesquisa da Maurício de Nassau Conceição Torres, no entanto, desenvolveu estudo onde, segun-do ela, fica provado que o EAD é, sim, eficaz, e promove o aprendizado tanto quanto o antigo método socrático. “Esse estudo seria minha tese de doutorado, que não cheguei a defender por motivos de saúde. Durante o mestrado, que fiz em comunicação social na UFPE, tive uma experiência com EAD que foi muito interessante. A disciplina do professor Paulo Cunha era ministrada à distância, e foi a que mais exigiu de mim. Participávamos de listas de discussões e de um chat uma vez por semana, enviávamos trabalhos e recebíamos os textos que o professor passava via e-mail”, explica. Mesmo assim, ela diz que os encontros presenciais periódicos são necessários. “É fundamental. Sem isso, o resultado deixa a desejar”.

As relações interpessoais desenvolvidas em sala de aula são outro tema de discussões acaloradas quando se trata de EAD. O professor da UFPE e cartunista Clériston é um entusiasta do modelo de aprendizado que se faz a partir de perguntas e debates pre-senciais, mas está aberto a novos formatos. “Gosto de estimular o aluno respondendo a pergunta dele com outra pergunta. Acho que ajuda a pensar, e no fim, quase todos chegam a uma resposta satisfatória”, diz. “Sou otimista, e acho que a tecnologia não substitui o professor, que é um condutor do aprendizado. Sendo bem utilizado, o EAD pode render experiências positivas”. O estu-dante Ângelo Ranieri (um dos que participaram do debate descrito no início da matéria) discorda e diz que faz faculdade também para formar sua rede de contatos, pessoais e profissionais. “Acho difícil isso acontecer plenamente em ambiente virtual”.

Embora as certezas sobre os resultados do método ainda sejam escassas (até porque a maioria dessas turmas ainda não se for-mou nem enfrentou o mercado), o EAD vem tomando corpo nas faculdades Brasil afora. A Universidade Salgado Filho, que está presente em seis estados, já oferece, aqui no Recife, quatro cursos de graduação à distância: administração, letras, história e geogra-fia. Na Maurício de Nassau algumas disciplinas já começam a ser ministradas dessa forma, e há ainda um programa de recuperação da aprendizagem que é virtual. O caminho parece não ter volta, e talvez os próprios relacionamentos gerados a partir de um local de aprendizado comum mudem de configuração. O fato é que a cena do debate em frente ao quadro branco, ao menos com este cenário de fundo, está com os dias contados.

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inda nos tempos de escola, lembro-me como era fácil fazer um coleguinha de sala subir mais um degrau hierárquico e se tornar seu melhor amigo. Não precisava de muito. Os únicos pré-requisitos eram: ter a mesma aparência de menino

de prédio (normalmente de cor branca e pálida, dentes bem cuidados e uma barriga que ostente a falta de exercício físico); ter aversão aos esportes; gostar de street-figther, filmes de terror, comandos em ação; ser contra as idas familiares à igreja; achar Chuck Norris “o cara”, e ter como literatura predileta os quadrinhos da turma da Mônica. Quando a latência da puber-dade chega, os padrões que definem quem é seu melhor amigo mudam completamente. Ou melhor, ocorrem substituições de prioridades que acompanham cada faixa etária. Espinhas no rosto, óculos fundo de garrafa, música rock e cabelos des-grenhados são mais relevantes no quesito aptidão. Os esportes começam a parecer menos desinteressantes que outrora. O videogame continua. Chuck Norris ainda é o ídolo da geração. Mas o gosto por filmes agora deve fazer o gênero cabeça e a única Mônica que importa é a da capa da “Playboy”. Se o tempo muda, é de suma importância ter um grande camarada que se adeque às novas necessidades do mercado.

Os anos passam e você e aquele seu bróder entram em descompasso, seja pela escolha do curso universitário ou por qualquer outra decisão que a vida arbitrariamente o leva a fazer. Aquelas longas conversas sobre o sexo oposto, regadas de cerveja gelada, escondidinho de charque e uma partida de dominó no barzinho da esquina, cuja maior característica era a celebração da boêmia e a despreocupação pela vida mundana, não mais se encaixam no contexto atual. Aquele grande grupo de amigos, com quem você matava aula, puxava um cigarro escondido no muro da escola e discutia os segredos fe-mininos, hoje são irreconhecíveis pela cruel passagem do tempo. Eventualmente você os encontra andando a ermo pela rua. Dá um abraço apertado, relembra brevemente daqueles bons tempos, conhece a prole, diz que está apressado para alguma outra coisa, trocam os telefones e propõem mutuamente, em homenagem à amizade que nunca mais terão, a possibilidade remota de marcar pra tomar uma, apenas se tiver vontade.

Descobri que essa coisa de “melhor amigo” não pertence ao vocabulário adulto. Ou os laços eternos de amizade são feitos desde os primórdios ou será difícil se criar uns novos já depois dos vinte e poucos. Durante a transição de adolescente revoltado para pessoa madura e responsável, abri vagas à procura daquela fácil identificação dos tempos de menino num concurso público para os colegas de faculdade e do trabalho. O edital estava estampado no peito e as vagas eram ilimitadas. Selecionei alguns para determinadas áreas: musica, cinema, bate-papo e alcoolismo, mas todos levaram ponto de corte para o cargo máximo. Talvez até os selecionados também mudem quando todos estivermos fazendo coisas diferentes e com os nós atados. Então encerrei as inscrições. Estou quase me acostumando ao estilo impessoal do universo de gente grande. Prefiro a solidão a um frouxo aperto de mão sem sinceridade. Prefiro um carão honesto àquele velho e bem conveniente discurso “tudo vai ficar bem”.

Os bons amigos só são descobertos nos momentos de aperto. É aí que chega uma alma caridosa para restabelecer o seu ego que já de tão maltratado esquecíamos até que existia. As amizades que a gente colhe durante toda uma vida podem ser na verdade apenas figurinhas colecionáveis do Orkut, mas poucos são aqueles que merecem (e nos dão) toda a atenção. Por isso tento cultivar alguns amigos antigos, remanescentes do tempo de Chuck Norris, cujos números de telefone são postos com prioridade na agenda do celular. Porque amigos verdadeiros são aqueles que você pode contar em uma única mão, e ainda assim sobrarão dedos.

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Em tempos de amizades virtuais, as reais necessitam de uma hierarquia toda própria Gustavo Taribá

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omo trilha sonora para seu empreendimento de luxo em Brasília, o empresário Edu-ardo Nogueira quer um “cardápio” de estilos variados. Um pouco de bossa-nova

para a piscina, um “som mais dinâmico” para os almoços semanais de executivos, uma dose de romantismo para os jantares a dois. No total, 24 listas de músicas com cerca de quatro horas de duração cada – serviço devidamente pensado e executado por um “personal ipodder”.

Espécie de DJ particular ou organizador musical, o “personal ipodder” atende a de-mandas que vão de “quero conhecer a new wave novaiorquina” a “faz uma playlist para tocar na minha festa de aniversário”.

Serviço para gente preguiçosa? Pelo contrário, afirma o carioca Dodô Azevedo, 35, “personal ipodder”, jornalista, escritor, músico e DJ. “Preguiçosos não. Ocupados, sim. Burro, sem cérebro e preguiçoso é quem recheia seu iPod com base no que toca no rádio e ganha capa da [revista] Rolling Stone ou da Bizz. Meus clientes são uns curiosos”.

A curiosidade é tão ampla quanto a clientela, que vai do lingüista e ativista Noam Chomsky ao casal do vôlei Bernardinho e Fernanda Venturini, passando pelo cantor de indie rock Stephen Malkmus (ex-Pavement), pelo pintor Antônio Dias e pela atriz e apre-sentadora Danielle Suzuki.

Para Chomsky, o “personal ipodder” fez uma seleção de música serial – sistema musi-cal criado por Arnold Schoenberg baseado na série de 12 tons da escala ocidental. Para Malkmus, o trabalho foi mais simples: o melhor de João Gilberto.

Bernardinho e Fernanda, clientes assíduos, pedem seleções de rock. “O Bernardinho adora The Calling. Hoje, por orientação minha – paga, é claro – escuta XTC e Flaming Lips, bandas que ele não conheceria pelas [rádios] FMs”, diz Dodô. “Já a Fernanda gosta,

hoje, de ouvir ‘Songs for the Northern Britain’, do Teenage Fanclub enquanto corre na Lagoa Rodrigo de Freitas [no Rio de Janeiro]. Ela não quer saber se é indie, só quer saber que lhe apetece o coração”.

Como todo serviço vendido com o selo da exclusividade, ter o iPod recheado custa caro: se o cliente quer mil músicas, o serviço sai por cerca de R$ 3 mil. “Eu não baixo mú-sica e coloco dentro do iPod simplesmente. Isso é crime, é pirataria. Eu pego o dinheiro do cliente e compro música por música, em sites como iTunes e UOL”, detalha.

A mão-de-obra varia de acordo com o grau de dificuldade do trabalho. “Certas ópe-ras dão um trabalho de achar na internet. E música búlgara? E música do Piauí?”, diz Dodô, que diz ganhar de R$ 1 mil a R$ 3 mil por trabalho.

Dodô encara o serviço como um “favor” às lojas virtuais de música. “O serviço de ‘personal ipodder’ pode ser um paliativo para que elas não entrem em falência”.

Aproveitando a função, Dodô lançou este ano o livro “DJ Pessoal – Uma Áudio-Ajuda” (editora Rocco), em que ensina “como permear cada hora de nosso dia com a canção mais apropriada” – “Slowly”, de Stevie Wonder, serve para sobreviver a um engarrafamento; “Não Quero Dinheiro”, de Tim Maia, é para ser ouvida enquanto você aguarda sua vez no banco... E por aí vai.

“Na selva de informação musical em que vivemos, o serviço serve como um guia. É como chegar em um sebo de livros e pedir conselhos ao livreiro experiente. Ou então chegar em uma biblioteca e pedir ajuda ao bibliotecário”, diz o “personal ipodder”, com a experiência de quem fez parte da lendária banda Pelvs, foi engenheiro de som e produtor musical e ainda acompanhou, como jornalista, turnês de Kurt Cobain e Ma-donna.

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Para quê perder tempo definindo seu gosto musical quando você pode ter um personal ipodder? Daniela Arrais

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Pedro? E aí, vai jogar uma? – O que você acha? Já estou até enferrujando, preciso dar umas carreiras, quase seis meses que não chuto uma bola.Tira o calcanhar do chão segurando o guidom e passando uma tira nos cabelos finos, aloirados. Toma impulso, manda os

ombros na frente, sustenta o pedal, mais tarde jogaria uma – mesmo agora ainda podia ouvir –, fala puxando do bolso da bermuda um papel azul, se apressa.

Desceu o pedal sem olhar os lados – disseram os rapazes da rua. Isabel pára na saída do mercado, apertando o saco de compras ao peito – Meu Deus.– Pedro – sufoca o grito com a mão largando a sacola.Os olhos dele caíram junto aos lábios que pareciam rir ao sentir o asfalto lhe esquentando o pescoço. Alguma coisa fez a

bicicleta tombar. O freio.O motorista não viu. Não era acostumado a dirigir por aquelas bandas, disse à polícia. Veio rápido e não deu tempo de

nada, o rapaz passando na sua frente, mal conseguira frear, o choque tinha sido forte. Não podiam prendê-lo, nem era daqui, também não teve culpa, alegou.

Ela ouvia pessoas falando alto, gesticulando, indignadas. Braços lhe seguraram pelos ombros e desceram com ela até o chão. Mãos juntavam as compras e devolviam ao saco.

Essa imagem lhe vinha à mente todos os dias de sua vida. Ainda podia sentir as mãos frias que lhe suspenderam os braços antes do desmaio. Mas tudo aquilo passara há mais de trinta anos e só agora voltava àquela praça.

Os dedos encostaram na boca fina como se quisessem conter um soluço, os olhos pareciam enormemente pesados sobre as maçãs do rosto que já não suportavam, davam mostras de um cansaço doloroso e iam arriando sobre o pregueado dos lábios numa espécie de conformação.

Sufocava os batimentos, não queria mais lembrar daquilo. Mas tudo lhe vinha à mente, sem que para isso fizesse qualquer esforço. Fez cara de choro e baixou os olhos, os dentes brilharam.

Com muito cuidado, deu uns passos em direção ao lago, voltando-se devagar e se escorando nas grades que cercam a praça, uma moça quase cai ao tentar desviar de um dos braços que Isabel ergueu bruscamente numa espécie de continência em nenhuma direção – a moça explodiu num sorriso grande, muitíssimo simpática, dá um chauzinho animado se dirigindo a uma carroça de pipocas logo à frente e amarrando o avental, como se aquilo fosse muito curioso arregala os olhos parecendo divertir-se bem.

Esquece de retribuir a cara engraçada da mocinha. Lembrou-se de quando ele encostava as rodas no banco abrindo um sorriso de dentes longos. Deitava os olhos naquele sorriso. Ainda podia sentir o nariz afiado, os cílios fazendo cócegas que espantava com a mão.

Junta as lembranças, dando uma volta nos cabelos brancos, puxa da bolsa uma carta, a que escreveu logo depois do aci-dente, quando cheguei em casa, antes mesmo do velório.

E aqui está, depois de tantos anos:

Pedro,

Hoje mergulhei numa piscina. E ao entrar água no nariz, puxei o ar para os pulmões até sentir uma espécie de sufocamen-to e gosto de cloro. Fiz de propósito.

Tive que fazer. Sufocar nossa história, afogando-a bem, sem permitir que voltasse à superfície. Segurei-a com força. E como foi doloroso vê-la implorando para não morrer! Ela lembrava das nossas coisas e não entendia que você tinha ido embora, explicar isso a ela? Aquele carro e tudo? Eu não sabia como.

Disse que você não ia mais trazer flores amarelas nem tão pouco levar a gente na praça, que também não viria todos os dias na sua bicicleta rodando e rodando daquele jeito que adorávamos, aproveitei então para dizer também que não mais te veria nem tocaria, e ela chorou.

Priscila Varjal

néditoI– Voltou, hein,

ponto final.

As rodas giraram vermelhasNão se conformou, e ficou furiosa, ela não se preparou para tua ausência, nem eu, teu cheiro ainda tenho em minhas mãos...

não posso mais. Domingo, 27 de maio de 1968 Isabel V.

E tu acabavas de voltar das férias com teu pai e devias ter tantas aventuras para me contar. Só me restaram frases que nunca vou saber o sentido. Pedaços soltos do bilhete que me trazias no bolso encontrei nas mãos dos

teus amigos, que também queriam uma lembrança tua e talvez por isso é que muitas das palavras que procuro até hoje, e sei que as escrevestes, talvez até as mais bonitas, aquelas que falavam mais intimamente do nosso amor, não chegaram às minhas mãos.

E as que tenho, mudaram de lugar durante quarenta anos, umas até retirei, pareciam tão incertas.Tão emocionada eu estava e eis aqui tudo o que me resta de ti em frases que não querem me dizer nada, no teu pequeno

bilhete azul:

Isabel,

(...) te ver seria tão bom (...)Estou disposto (...) (...) até porque você não (...)(...) me sai da cabeça...Daria tudo por (...) (...) umas horas contigo...Voltei com (...)

S.. o P ..

Tem umas coisas que até hoje não posso entender, meu amor, e que gostaria de te perguntar. Tu estavas disposto a quê? Parece mesmo que vejo um ponto depois desta frase. Ou dois, o que muda tudo. Ouvi falar uns dias antes que tinhas pretensões

de estudar fora, e parece até que teu pai já havia autorizado, não sei, boatos. Isso de eu não sair da tua cabeça eu entendi por tanto tempo, mas agora tenho dúvidas. Essa frase estava partida e embora não

possa acreditar que tenha outro sentido tudo o que penso me parece ambíguo. Queria que me explicasses.E quanto àquilo que vem depois, daria tudo por (...) umas horas contigo? Certamente faltou alguma coisa, ou mesmo juntando

tudo eu tenha mudado algo porque desse jeito ficou tão efêmero o que tu sentias. Não quero que te aborreças comigo, mas tive que retirar (...) estou indo embora, porque tu não podias imaginar aquilo, esta

frase só pode ter sido escrita por algum dos meninos, por maldade, imitando tua letra, porque ninguém sabe dessas coisas. Juntei algumas palavras soltas numa última frase e tanto me alegra quando leio: Voltei com teu cheiro na alma, que bonito meu

amor, nunca ouvi algo assim. E não penses que não compreendo porque depois de alma tinha um ponto, que só pode ser o