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1 Permanência do sindicalismo de Estado na recomposição da ordem social autocrático burguesa * . Rodrigo Fernandes Ribeiro ** Resumo: Esse artigo buscará expor os fundamentos do controle social que o Estado (orientado pelas determinações da auto-reprodução do capital) impôs ao sindicalismo brasileiro, desde os anos de 1930, e a subordinação atual do movimento sindical organizado ao mesmo controle. O chamado “sindicalismo de Estado”, consubstanciado nas diretrizes da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), tem como tripé de controle, a investidura, a unicidade e as contribuições obrigatórias. A particularidade da formação social do capitalismo dependente e associado, aliado ao modelo de transição autocrático burguês de transformação capitalista, são dois elementos fundamentais para compreender a relação desse Estado com as classes trabalhadoras e os demais movimentos populares. A permanência e reforço da estrutura sindical serão analisados nos períodos históricos da irrupção da “contra-revolução preventiva” iniciada na década de 1960, na transição “lenta gradual e segura” que conviveu com o acirramento do “novo sindicalismo”, na ofensiva do capital e recomposição da autocracia burguesa da década de 1990 e no atual governo do Partido dos Trabalhadores (PT). Palavras-chave: sindicalismo de estado; capitalismo dependente e associado; autocracia burguesa; ofensiva do capital; sindicalismo no Brasil. Introdução As teses do fim do trabalho e do antagonismo de classes contagiaram inúmeros intelectuais da academia, e influenciaram inúmeros lutadores sociais. O ritmo das transformações pelo qual passou o mundo do trabalho, o Estado burguês e as classes sociais foi o suficiente para que os parâmetros anteriores passassem a ser negados, seja por uma precipitação de análises insuficiente e apressadas, seja pela intenção advinda das determinações da ofensiva de um capital em crise estrutural. Nesse processo até mesmo o movimento sindical estaria em uma crise terminal, retendo aos limites estreitos do marco regulatório do “mercado livre” as relações laborais. Entretanto, o Estado mínimo ao trabalho e máximo ao capital expôs as suas reais determinações. Do apelo ideológico às políticas regressivas, o antagonismo de classes aprofundou-se, o trabalho reestruturado prevaleceu enquanto produtor de mais-valor, e a ação sindical demonstrou-se ainda presente na realidade social. * Esse texto apresenta pesquisa parcial que compõe dissertação de mestrado em andamento no Programa de Pós- Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC, sob orientação do Prof. Dr. Ricardo Lara. ** Licenciado em Ciências Sociais; Mestrando em Serviço Social, Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Pesquisador do Núcleo de Estudos em Trabalho e Gênero NETeG. Email: [email protected]

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Page 1: Permanência do sindicalismo de Estado na recomposição da ... · burguesa; ofensiva do capital; sindicalismo no Brasil. ... outro lado a extração de “mais-valia relativa”,

1

Permanência do sindicalismo de Estado na recomposição da ordem social

autocrático burguesa*.

Rodrigo Fernandes Ribeiro**

Resumo: Esse artigo buscará expor os fundamentos do controle social que o Estado (orientado

pelas determinações da auto-reprodução do capital) impôs ao sindicalismo brasileiro, desde os

anos de 1930, e a subordinação atual do movimento sindical organizado ao mesmo controle. O

chamado “sindicalismo de Estado”, consubstanciado nas diretrizes da Consolidação das Leis do

Trabalho (CLT), tem como tripé de controle, a investidura, a unicidade e as contribuições

obrigatórias. A particularidade da formação social do capitalismo dependente e associado, aliado

ao modelo de transição autocrático burguês de transformação capitalista, são dois elementos

fundamentais para compreender a relação desse Estado com as classes trabalhadoras e os demais

movimentos populares. A permanência e reforço da estrutura sindical serão analisados nos

períodos históricos da irrupção da “contra-revolução preventiva” iniciada na década de 1960, na

transição “lenta gradual e segura” que conviveu com o acirramento do “novo sindicalismo”, na

ofensiva do capital e recomposição da autocracia burguesa da década de 1990 e no atual governo

do Partido dos Trabalhadores (PT).

Palavras-chave: sindicalismo de estado; capitalismo dependente e associado; autocracia

burguesa; ofensiva do capital; sindicalismo no Brasil.

Introdução

As teses do fim do trabalho e do antagonismo de classes contagiaram inúmeros

intelectuais da academia, e influenciaram inúmeros lutadores sociais. O ritmo das transformações

pelo qual passou o mundo do trabalho, o Estado burguês e as classes sociais foi o suficiente para

que os parâmetros anteriores passassem a ser negados, seja por uma precipitação de análises

insuficiente e apressadas, seja pela intenção advinda das determinações da ofensiva de um

capital em crise estrutural. Nesse processo até mesmo o movimento sindical estaria em uma crise

terminal, retendo aos limites estreitos do marco regulatório do “mercado livre” as relações

laborais. Entretanto, o Estado mínimo ao trabalho e máximo ao capital expôs as suas reais

determinações. Do apelo ideológico às políticas regressivas, o antagonismo de classes

aprofundou-se, o trabalho reestruturado prevaleceu enquanto produtor de mais-valor, e a ação

sindical demonstrou-se ainda presente na realidade social.

* Esse texto apresenta pesquisa parcial que compõe dissertação de mestrado em andamento no Programa de Pós-

Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, sob orientação do Prof. Dr.

Ricardo Lara. **

Licenciado em Ciências Sociais; Mestrando em Serviço Social, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

Pesquisador do Núcleo de Estudos em Trabalho e Gênero – NETeG. Email: [email protected]

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O movimento sindical está presente na totalidade sócio-metabólica do capital

mundializado, porém ele se rebate em particularidades diversas e apresenta as singularidades de

cada realidade social. No Brasil, o movimento sindical é constituído de forma tardia, assim como

o próprio capitalismo, desenvolve-se de acordo com a processualidade dependente e associada

dos países centrais e é composto segundo a dinâmica social de dominação autocrática burguesa.

Para tanto, a “estrutura sindical corporativa de Estado” apresenta-se enquanto necessidade

histórica específica da “transformação capitalista” aqui presente, e mantém-se em seus pilares

fundamentais.

Compreender essa dinâmica social que envolve as determinações recíprocas das

determinações externas e internas é objeto desse presente artigo. O fundamental passa por

desvelar as determinações ontogenéticas e a processualidade contraditória contida no movimento

sindical que se constitui com todos os seus limites e potencialidades.

Na primeira parte pretendemos indicar a gênese da classe trabalhadora e a particularidade

da formação social do capitalismo dependente no Brasil que constitui a estrutura sindical

corporativa de Estado. A seguir, indicar o fundamento da dominação de classe no “modelo de

Estado autocrático burguês”, e a sua versão tecnocrática cívico-militar que não só manteve o

sindicalismo de Estado, quanto proporcionou a renovação de um sindicalismo em busca de

liberdade e autonomia sindical. Na terceira, a ofensiva do capital e o refluxo da organização

sindical que empolgou a retomada da luta contra a autocracia, mas que na década de 1990 aceita

a opção de incorporar a ordem social. Na última, apontamentos sobre a permanência e reforço da

estrutura sindical pelo governo do Partido dos trabalhadores.

1. A formação do capitalismo dependente e associado: o controle do movimento sindical pelo

Estado.

Para identificar o controle e a relação de dominação que o Estado brasileiro e suas classes

dominantes constituíram sobre a classe trabalhadora, é necessário analisar o padrão de

desenvolvimento em que o capital em expansão emergiu nesse “novo mundo”. De imediato

podemos afirmar que a formação social do capitalismo no Brasil é tardia, responde aos padrões

impostos e dirigidos de fora, e soube aliar uma constituição sócio-metabólica que reúne traços da

velha condição colonial e atrasada, com uma modernização restringida. Assim constituíram-se as

classes sociais, o regime subordinado à acumulação de capital e o Estado Burguês, dependente e

associado aos ritmos e padrões orientados de fora.

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O processo de colonização é fundamental para o entendimento da formação histórica do

capitalismo dependente e associado no Brasil, onde essa constituição deu-se lentamente, de

forma gradual, e com as devidas tensões e conflitos que emergiram o regime de classes e o

Estado burguês. O “sentido da colonização” que Caio Prado Jr (IANNI, 2004, p. 77-101)

identificou em suas análises, a “via colonial” que José Chasin (ANTUNES, 1982, p. 47-48)

intermediou utilizando a análise desse modo de ser particular, o “sistema misto de servidão e de

trabalho assalariado” que Marini (2005, p. 160) salientou enquanto função social no ciclo de

produção e reprodução do capital internacional, colaboraram na tarefa de superar as análises

mecânicas da “via clássica” a ser revivida no Brasil. Desde a superação de categorias históricas

inexistentes no Brasil, como o feudalismo, até a superação de uma potencial revolução burguesa

clássica redentora de nosso atraso, temos muitos elementos, hoje, para identificar os

fundamentos e determinações complexas que se relacionaram nesse quadrante do planeta.

Com Florestan Fernandes temos uma análise enraizada nos agentes históricos, suas

relações de intercâmbio interno e sua dependência externa. Desde a apreensão da vida social dos

Tubinámbas, o folclore, o negro na sociedade de classes, os retirantes nordestinos, e a profusão

das categorias históricas que engendraram o sócio-metabolismo do capital em condição

dependente, e seus componentes fundamentais: o Estado, o capital e o trabalho assalariado1.

Desse caldo surgiram as particularidades representadas pelos padrões de dominação que

emergiram na América Latina, o colonialismo, o neocolonialismo e finalmente o capitalismo

dependente e associado ao imperialismo (FERNANDES, 1975). Deste último, as fases pela qual

a lentidão e o atraso edificaram o capitalismo: a ordem social moderna, competitiva e

monopolista (FERNANDES, 2005).

Os sujeitos históricos que teceram o regime de classes no Brasil estão presentes na ordem

estamental precedente, em que a aristocracia agrário-mercantil e os “trabalhadores escravizados”

(além dos imigrantes) representam as origens ontogenéticas do vir a ser realizado no capitalismo

dependente. Florestan Fernandes (2005, pg. 264) diz que é nesse sistema de produção

escravocrata que o Brasil se insere no mercado mundial, onde se constitui o modo de ser interno

tendo a cidade como eixo e que se produz o incremento de excedente para a inserção

subordinada e emergente. Para Marcelo Badaró de Mattos (2009),

Numa sociedade como a brasileira, marcada por quase quatro séculos de escravidão, não

seria possível pensar o surgimento da classe trabalhadora assalariada sem levar em conta

1 Que Mészáros (2002) identifica enquanto bases fundamentais do sistema do capital. Sem eliminar todas elas a

tendência é a restauração da ordem sócio-metabólica do capital.

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as lutas de classes – e os valores e referências – que se desenrolam entre os trabalhadores

escravizados e seus senhores (MATTOS, 2009, pg. 16-17).

O controle indireto das relações comerciais nessa fase de desagregação do

neocolonialismo e emergência da modernidade capitalista no Brasil fora substituído por outros

controles econômicos, mecanismos que necessitariam redimensionar a formação da sociedade de

classes no Brasil, e emergir o trabalho assalariado enquanto relação dominante. A necessidade de

modernização dessa relação não foi empenhada por outro agente, se não pela própria

aristocracia, de forma tardia e subordinada. Ou seja, diferente dos EUA em que uma guerra civil

foi necessária para romper com os traços arcaicos e impedidores de um desenvolvimento

capitalista autônomo, no Brasil o “desenvolvimento foi calibrado por pressões externas, não

superando a dependência (FERNANDES, 2005, p. 277)”, e o estamento dominante se

aburguesou. Segundo Fernandes (2005) essa dependência segue contendo aspectos do que ele

chama de “dupla articulação”, que seriam nada mais do que a conjunção de subdesenvolvimento

interno com dominação externa. E essa dominação se realiza tanto pela extração de excedentes

para a acumulação originária dos países centrais durante a etapa colonizadora, quanto pela

“dupla extração” no capitalismo dependente e associado, realizado pela burguesia interna e

externa.

Rui Mauro Marini (2005) irá identificar analogamente esse processo, detido de forma

mais resoluta no processo de circulação de capital. Segundo esse autor, a subordinação das

nações em formação da América Latina contribuiu para a “expansão quantitativa da produção

capitalista nos países industriais”, quanto para a superação dos “obstáculos que o caráter

contraditório da acumulação do capitalismo cria para essa expansão (MARINI, 2005, p. 148)”.

Para esse autor, o “segredo da troca desigual” estava contido na produção de meios de

subsistência no “novo mundo” que intensificavam a produção de trabalho excedente pelos

trabalhadores escravizados, a partir da “superexploração” dessa força de trabalho de uso limitado

apenas pelas condições físicas dos mesmos. Esses meios de subsistência eram necessários para o

rebaixamento do valor da força de trabalho industrial do “velho mundo”, intensificando por

outro lado a extração de “mais-valia relativa”, pela maior produtividade desses trabalhadores. No

desenvolvimento das forças produtivas subordinadas e na constituição da classe trabalhadora da

América Latina, Marini reconhece também o mecanismo que permanece e subordina os “de

baixo”, a superexploração inclusive com a universalização do trabalho assalariado livre, pois,

A difusão do progresso técnico na economia dependente seguirá, portanto, junto a uma

maior exploração do trabalhador, precisamente porque a acumulação continua

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dependendo fundamentalmente mais do aumento da massa de valor – e portanto de mais-

valia – do que da taxa de mais-valia (MARINI, 2005, p.177).

Momentos como a abolição da escravatura e a proclamação da república não revelam as

determinações do capital em expansão, em dinamizar as relações de produção no Brasil em

favorecimento central do imperialismo nascente, e da hegemonia interna do mercado cafeeiro. A

universalização do trabalho livre assalariado dinamiza as cidades (revolução urbana), emergindo

não só os primeiros contingentes operários, quanto as suas primeiras experiências de “coalizões

da classe operária”. Data já dos primeiros anos do século XX o primeiro Congresso Operário

Brasileiro em 1906, a Confederação Operária Brasileira (COB) enquanto primeira experiência de

central dos trabalhadores criada nesse primeiro congresso, e a força que predominaria até os anos

1920: o anarco-sindicalismo (MATTOS, 2009, p. 48-49).

O potencial reivindicativo e revolucionário desse movimento operário emergente tem lá

seus limites ancorados em diversos fatores. Em primeiro lugar, como dito antes, a grande massa

de trabalhadores assalariados estava no campo2, e os que estão na cidade pertenciam em sua

maioria ao ramo de serviços. Segundo, é debitado aos imigrantes praticamente toda a experiência

sindical tradicional, importada da Europa, das lutas sindicais como as greves e os próprios

congressos. Em terceiro, segundo Antunes (1982, p. 63-66), o crédito de “revolucionário” ao

movimento anarco-sindicalista não poderia ser feito, pois as suas lutas limitavam-se as pautas

econômicas, aproximando-se dos liberais, e não tinham projeto de organização e nem de poder

de Estado. Ou seja, não havia partido revolucionário organizado. Porém, o que identificamos

enquanto potencial a ser ressaltado já na década de 1920 (onde se tinha partido revolucionário,

classe operária mais numerosa e experiência acumulada de duas décadas) era que vigorava nesse

período a condição de “sindicatos livres”. Isso é, ação sindical com poucas ou raras

subordinações ao Estado em forma de lei3.

A década de 1920 representa um dos primeiros momentos em que a crise do poder

burguês, e a sua necessária transformação capitalista precisariam emergir no contexto sócio

histórico típico, porém não menos tenso e contraditório, das nações dependentes. Os extratos

médios da pequena burguesia e da classe média demonstravam amplamente a sua insatisfação

2 “A cifra de 293.673 operários manufatureiros e industriais no Brasil em 1920 é pouco significativa se comparada

aos 9.566.840 habitantes economicamente ativos do país, 66,7% dos quais estão no campo (MATTOS, 2009, pg.

37)”. 3 Antunes (1982, pg. 75) indica duas legislações regulamentadas na República Velha. A primeira de 1903 era

facultada à organização sindical dos setores agrícolas. Para o setor urbano em 1907, a regulamentação estendeu

direito de sindicalização, com mínimos requisitos para o reconhecimento legal dos sindicatos. O seu poder de

controle era muito limitado.

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com a política retrógrada e exclusivista da República Velha (tendo enquanto maior representante

o “tenentismo”), assim como as classes populares que promoviam rebeliões e revoltas em todo o

Brasil4. O movimento sindical e operário, empolgado com as vitórias e a revolução social

soviética, coloca em cena o movimento comunista e as lutas pela revolução, criando o Partido

Comunista do Brasil (PCB) em 1922. É sintomático que em 1917, no mesmo ano da Revolução

Russa, o movimento sindical imponha diversas greves e consolide as organizações sindicais, que

mesmo com a repressão passam a ser cada vez mais sido reconhecidas pela massa de

trabalhadores.

Desse período conturbado e perigoso para as forças de dominação burguesas, que tinham

enquanto principal pólo hegemônico os exportadores de café, é estabelecido um “reformismo

pelo alto” que manteve o controle dos “de baixo”, e a unidade necessária para uma dominação

burguesa mais estável. Para Antunes (1982, p. 66), o que acontece nesse período não é uma

revolução, pois “1930 marcou um momento de rearranjo do bloco de poder, rearranjo este feito

pelo alto, excluindo qualquer participação efetiva das classes subalternas, e tendo o componente

conciliador bastante nítido”. O irrompimento do período Vargas está mais colocado enquanto

uma necessidade histórica de aceleração das transformações no capitalismo, marcando o auge do

desenvolvimento do capitalismo competitivo, de vida curta e muito próxima a sua conversão

monopolista. Trata-se do período em que se necessitava transformar a vida social industrial e o

seu vinco estruturante: o Estado brasileiro.

Como dissemos antes, na década de 1920 o movimento sindical passa a ganhar um

estatuto de reconhecimento intra-classe, seja nas sindicalizações, seja na profusão de greves, que

poderia ser muito perigoso se a intenção era desenvolver o capitalismo brasileiro favorecendo a

produção industrial. É produto necessário, condição para desenvolvimento subordinado em

“condições ótimas” (ou seja, de acumulação capitalista industrial provinda da super-exploração

dos trabalhadores), que fossem controlados o movimento sindical e as greves, assim como

tutelados os instrumentos sociais organizados pela classe trabalhadora: os sindicatos. A era

Vargas também passa a ser reconhecida pela tutelagem ao movimento sindical, consubstanciado

4 “Somente no Rio de Janeiro, entre 1880 e 1904, pelo menos 5 grandes revoltas urbanas foram registradas...

(MATTOS, 2009, pg. 45). “Muitos padeciam a violência oligárquica, sob a forma estatal e privada: os seguidores de

Antônio Conselheiro, em Canudos, os seguidores de João Maria, no Contestado; colonos na fazenda de café, quando

realizavam greves protestando contra as condições de trabalho e remuneração; operários nas fábricas e oficinas, por

ocasião de assembléias e greves; seringueiros na Amazônia, quando tentavam escapar das malhas da escravização

organizada no sistema de aviamento, populares do Rio de Janeiro, em 1904, quando protestavam contra a vacina

obrigatória (IANNI, 2004, pg. 215).

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pela criação do “Sindicalismo de Estado”, a Estrutura sindical oficial e outorgadora de

representação. Para Antunes (1982),

Na verdade o traço fundamental naquele momento foi a exclusão das classes populares de

qualquer participação efetiva e a repressão política e ideológica desencadeada pelo

Estado, através da política sindical controladora e da legislação trabalhista manipulatória

(1982, pg. 73).

A estrutura sindical criada por Vargas continua a ser mantida e revigorada por todos os

demais governos (sejam eles “democráticos” ou “ditatoriais”), e é objeto de polêmica por

diversos autores que analisaram o movimento sindical brasileiro5. Seu ponto de partida foi a “Lei

de sindicalização” de 1931 (Decreto 19.770 de 19 de março de 1931), que busca regulamentar a

outorga da representação oficial, a tutelagem e determinação de atividades assistencialistas para

os sindicatos, a intervenção em assembléias, o controle das finanças, a proibição de organização

internacional e a limitação da participação de imigrantes estrangeiros (ANTUNES, 1982, p. 76-

77). Com a proposta de servir como “para-choques dessa tendência antagônica”, a resistência à

vinculação ao sindicato oficial esteve presente. Particularmente, no início ela só foi aceita em

regiões mais remotas, com pouca experiência e tradição em luta sindical. A constituição de 1934

incorpora uma abertura nessa tutela, abrindo a possibilidade para um pluralismo restrito

(permissão de até três sindicatos) de representação oficial. Mas é com a repressão mais ostensiva

a partir de 1935, com a Constituição de 1937, e a aprovação da CLT em 1943, que os

fundamentos da “Estrutura Sindical Corporativa de Estado”, sobre a atividade sindical, são

concretizados.

Entretanto, há divergências sobre o que seriam os fundamentos de controle da Estrutura

sindical. De acordo com o conjunto dessas análises, indicamos os apontamentos de Boito Jr.

(1991). Para ele, são três os pilares em que se assentam o “sindicalismo de Estado”. No centro

desse controle está a outorga do Estado que representa sua expressão máxima de submissão: a

investidura sindical. O Estado, que estava constituindo todas as suas estruturas e políticas em

direção às condições propícias ao desenvolvimento industrial periférico, que garantisse a “dupla

extração”, ou a “super-exploração” da força de trabalho emergente, seria o fiel da balança na

organização e prática sindical dos operários. Se o mesmo não estivesse de acordo com a palavra

de ordem “abolição do sistema de salários” – revolucionário -, ou mesmo com o lema “um

salário diário justo para um trabalho diário justo” –reformista –6, cabia a essa estrutura indicar a

5 Os livros de ANTUNES (1982) e BOITO Jr (1991), expõem as inúmeras controvérsias entre estudiosos e

militantes do movimento sindical sobre a estrutura sindical. 6 Potencialidades e limites da luta sindical, sintetizados por Marx em Salário Preço e Lucro (2008).

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representação e os limites das “coalizões operárias”7. Por isso, Boito Jr. (1991, p. 27) insiste que

“se fosse abolida a investidura, toda a estrutura sindical seria, obrigatória e simultaneamente,

extinto”.

De forma derivativa estão os outros dois pilares, que representam tanto o “monopólio

legal” de representação, quanto a dependência econômica. A unicidade sindical é a constituição

desse “monopólio legal” a partir da investidura oficial de um único sindicato. Ou seja, é a

garantia de que se possa direcionar, mediante o aceite legal das regras em jogo (estatuto,

funcionamento e demais trâmites), à apenas um instrumento o poder de representação. A

essência do sindicalismo é a organização da classe trabalhadora em coalizões unitárias,

dependentes apenas aos anseios dessa mesma classe, e responsável por apenas ela. A legitimação

tem de ser dada por essa massa, e não pelo Estado burguês, contra o qual alias, é que o

sindicalismo enquanto “escola de guerra” tem de enfrentar. O outro pilar derivativo, criado na

CLT em 1943, são as contribuições sindicais obrigatórias para todos os trabalhadores, sejam

sindicalizados ou não. Compõem-se tanto o imposto sindical criado com a CLT, quanto as taxas

assistenciais, criado na Ditadura Civil-Militar em 1966. O poder desse instrumento de cooptação

está em ser um dos potenciais desmobilizadores da luta sindical (pois não se depende mais da

sindicalização, com o convencimento militante dessa necessidade), além de potencializar o

amansamento de categorias até então rebeldes, já que o repasse é dependente do Estado. No geral

esses dois elementos derivativos não teriam eficácia alguma se não existisse a investidura

sindical de Estado, porém a investidura poderia permanecer com a ausência de qualquer um dos

dois, perdendo é claro, parte de sua eficácia.

As demais características que são evidenciadas no controle sindical, as destituições de

diretorias pelo Ministério do Trabalho, a tutela nas eleições sindicais, o “peleguismo”,

assistencialismo, ausência de organização nos locais de trabalho e fragmentação por categorias

são para Boito Jr (1991), nada mais do que os “efeitos necessários” de toda essa estrutura que

passou a ser internalizada pelo que o autor chama de “fetiche do Estado protetor”. Tanto uma

como outra foram utilizadas dependendo a necessidade do Estado Burguês, e sofreram uma ou

outra alteração durante o percurso de irrupção do capitalismo monopolista no Brasil com a

Ditadura Civil Militar de 1964, na “redemocratização” e Constituição de 1988, e nas últimas

duas décadas em que a ofensiva do capital reestruturou as forças produtivas, o Estado e o bloco

de poder dominante.

7 Foi o que aconteceu na prática com o próprio governo Vargas: desde a dissolução da ANL e de um movimento

comunista em ascensão, até mesmo no corte de salários durante os “esforços de guerra”.

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Por que essa estrutura sindical permanece intacta em seus pilares de sustentação, na

ocorrência de governos “ditatoriais” e “democráticos”? Por que somente no período de crise da

ditadura civil-militar (1978-1984) haveria novamente um movimento sindical que faria a crítica

a estrutura sindical? E deste mesmo movimento, o “novo sindicalismo” que constituiu a Central

Única dos Trabalhadores (CUT), como e em que sentido se realiza a sua integração ao bloco de

poder dominante hegemonizado pelo padrão mundializado do capitalismo monopolista mundial?

2. O “modelo autocrático burguês de transformação capitalista”: o “novo sindicalismo” na

luta pela liberdade e autonomia sindical.

Incorporamos outro elemento para entender esse controle restritivo à luta dos “de baixo”

que marcou a transição para o padrão de capitalismo dependente no Brasil. O período

“democrático” de 1945 à 1964 é marcado pela intensidade das transformações originadas no

período varguista, preservando aspectos essenciais dos controles sociais, econômicos e políticos

que marcaram a constituição dessa nação. A ilegalidade do Partido Comunista Brasileiro em

1947 e a permanência do “sindicalismo de Estado” são referências dessa realidade. Porém, o

dinamismo social que a industrialização passou na década de 1950, marca a reconstituição de um

movimento sindical e popular que passaria a exigir reformas estruturais democratizantes. A luta

pelas “Reformas de Base” marca toda uma geração e o fim da etapa do capitalismo competitivo,

exigindo controles mais fortes e substantivos no processo de “aceleração da transformação

capitalista” por parte da “dominação burguesa”.

A irrupção da Ditadura Civil-militar em 1964 é o marco da implementação acelerada do

capitalismo monopolista no Brasil, orientado pelo imperialismo e o capital financeiro em

expoente. O “modelo autocrático de transformação capitalista” é revelado de forma aberta e

configura-se em uma “contra-revolução preventiva”, tendo a versão tecnocrática e aberta dessa

ditadura os seus componentes de “desenvolvimento com segurança” 8. A autocracia burguesa

não foi somente “implementada” na ditadura civil-militar em 1964. Segundo Florestan

Fernandes (2005), ela é um complexo de políticas típicas dos países dependentes que

proporcionam a unidade da dominação burguesa pelo alto, e não permitem a inserção das classes

subalternizadas, ou os “de baixo”. Portanto, estamos aqui falando de um modelo de transição e

execução das políticas imperialistas que delimitaram os ritmos e o padrão de desenvolvimento

8 Ver principalmente o capítulo 7 de Revolução Burguesa no Brasil, “O modelo autocrático burguês de

transformação capitalista” (FENRNANDES, 2005).

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capitalista requerido pelo “imperialismo total” até chegar a sua configuração monopolista de

hoje. Entendemos que o “modelo autocrático burguês de transição capitalista” envolve o

complexo social da interação entre estrutura e consciência social que se notabilizou em todo o

processo de constituição histórica do capitalismo dependente e associado “no” Brasil. Processo

que não completou uma formação social totalmente burguesa, e que se mantém pela necessidade

da convivência entre o atraso e a modernização, em sua subordinação consequente. Como bem

exemplifica Fernandes (1975, pg. 92),

Portanto, o cenário não conta nem com o “burguês conquistador”, nem com o “camponês

inquieto” e o “operário rebelde”. Graças ao domínio autocrático das estruturas

econômicas, socioculturais, e políticas, nas origens mais remotas da ordem social

competitiva temos uma oligarquia que monopolizava o poder sem maiores riscos e que se

aburguesou sem compartilhar quaisquer de seus privilégios com a “ralé” ou o “populacho

(FERNANDES, 1975, pg. 92)”.

A estrutura sindical corporativa de Estado, ou mais sinteticamente o “sindicalismo de

Estado”, em nosso entendimento, é um dos elementos fundamentais desse controle autocrático.

Não só fora imposto por uma legalização da prática sindical, como fora internalizada mediante

métodos de cooptação e manipulação ideológica aos trabalhadores. Boito Jr (1991, p. 112) diz

que essa estrutura não poderia ser simplesmente aceita, sem uma ideologia superestrutural

indicativa, que para ele é parte de um populismo sindical, que representa um “fetiche do Estado

Protetor”. Questionamos essa separação entre estrutura de Estado e ideologia populista, pois

acreditamos que o sócio-metabolismo é uma unidade de interações complexas em que o atraso

cultural e político, aliado à centralidade da modernização estrangeira e subordinada, são

elementos fundamentais para um entendimento do modo de ser particular no capitalismo no

Brasil e sua relação recíproca com a totalidade social do capitalismo mundial9. A relação entre

estrutura e a consciência social correspondente das classes dominantes e das classes

trabalhadoras, fora constituída, segundo Fernandes (1975), pelas determinações que constituíram

a debilidade de autonomização da burguesia nativa, e pela debilidade da organização das classes

trabalhadoras. Portanto, o “sindicalismo de Estado” é uma necessidade histórica do modo de

produção e reprodução dependente do capitalismo no Brasil, e corresponde a singularidade de

todo o processo histórico em que o modelo autocrático burguês impôs pelo alto as

transformações requeridas.

O “capitalismo hipertardio” rompeu com as perspectivas de revolução democrático-

burguesa, e evidenciou as características centrais do poder de classe no Brasil, para além do 9 “A situação heteronômica é redefinida pela ação recíproca de fatores estruturais e dinâmicos, internos e externos

(FERNANDES, 1975, p. 26)”

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11

investimento em estruturas de formação monopolista: foram necessárias políticas de facilitação e

intensificação da superexploração da força de trabalho, principalmente nas relações trabalhistas.

A crise iminente do capital impunha novos padrões, sendo que o arrocho salarial, a retirada de

direitos como a estabilidade do setor privado e a criação do Fundo de Garantia por Tempo de

Serviço (FGTS), e demais políticas de compressão salarial em um período de crescimento da

riqueza produzida que registrou dois dígitos na década de 1970, foram fundamentais para a

dinamização da economia subordinada10

.

O reforço à estrutura sindical é elemento fundamental nesse processo. Por mais que fosse

marca registrada do trabalhismo, referenciados por alguns enquanto retrógrado, é importante

perceber dois movimentos com relação ao sindicalismo de Estado: a primeira é o seu uso no

sentido estrito da Lei consubstanciada na CLT, pois não fora necessária outra lei ordinária para

intervir em sindicatos e colocar interventores nos sindicatos oficiais. O segundo são as portarias

e decretos leis que vieram não para contrapor os mesmos, se não para reforçar a mesma estrutura

sindical. Nesse processo podemos citar a criação das taxas assistenciais, a “Portaria 3437 do

Ministério do Trabalho em 1974” que regulamentava as eleições sindicais a fim de dificultar a

participação e vitória das oposições sindicais, e o “Decreto-Lei nº 229 de 1967” que instituiu a

obrigatoriedade a contratação coletiva e o poder normativo da Estrutura (BOITO Jr, 1991, pgs.

34, 44-45, 47-48).

A crise da ditadura civil-militar representou não somente parte do desgaste da

inexistência de processos democráticos na cena política brasileira. A condição de vida da maioria

da classe trabalhadora não só havia sido rebaixada pelos arrochos salariais ditados da “autocracia

aberta”, como a repressão e o controle das atividades políticas e sindicais representaram uma

necessidade premente de negociação da taxa de exploração, já que a relação social entre

comprador e vendedor de força de trabalho também representa a relação de equivalente com

equivalente. Ou seja, a desigualdade social atingindo índices cada vez maiores, e a precarização

cada vez mais intensa das condições de vida de um povo que receberia cada vez menos para um

poder de consumo cada vez menor, refletiu na necessidade de organização, por fora da ordem, da

ação sindical combativa. As greves do ABC adentram a cena histórica, transformam-se em

10

“Em suma, na entrada dos anos 60, a dinâmica endógena do capitalismo no Brasil, alçando-se a um padrão

diferencial de acumulação, punha na ordem do dia a redefinição dos esquemas de acumulação (e logo fontes

alternativas de financiamento) e a iminência de uma crise. Se esta não aparecia como tal aos olhos dos estratos

industriais burgueses, a questão da acumulação mostrava-se óbvia” (NETTO, 1996, p. 20).

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12

exemplo para a completude dos movimentos sociais, e indicam minimamente uma classe

trabalhadora que começa a questionar a estrutura sindical novamente11

.

É representativo o número de greves do período de 1978-1989. Por dentro ou por fora do

sindicalismo de Estado oficial, são organizadas comissões de fábrica, paralizações espontâneas,

grandes greves em vários setores, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o partido dos

Trabalahdores (PT) e outros instrumentos que se apegam a estrutura sindical, que ora criticam os

efeitos das mesmas, e em outros momentos reivindicam o “sindicalismo livre” das amarras do

Estado. A CUT é a primeira experiência bem sucedida de constituição de central de

trabalhadores, sendo que as experiências das greves do ABC entre 1978 e 1980, dos funcionários

públicos (que constituíam parte importante do chamado “novo sindicalismo”), além do

movimento de oposições sindicais que conviveram com os “pelegos” indicados pela ditadura, e o

sindicalismo rural, foram os grupos dinamizadores do movimento que constitui o I Congresso

Nacional das Classes Trabalhadoras (CONCLAT) em 1983, e a fundação da central (TUMOLO,

2002, p. 112-113). A gênese desse movimento está estabelecida nas oposições que conviveram

com os “efeitos” da estrutura sindical, sendo fundamentais para a construção das primeiras

“palavras de ordem”, princípios e valores, táticas e estratégias, que colocaram o movimento

sindical na ponta de lança da crítica à estrutura autocrática de Estado12

. O percurso desse

movimento não escondeu contradições importantes. Em primeiro lugar, a década de 1980 foi

contemplada por quatro greves gerais de ampla participação, e de um número de greves anuais e

horas não trabalhadas que expõem uma ampla participação das bases nesse processo. Essa

década é registrada por uma crise econômica perversa, pela corrosão dos salários e do dragão da

inflação, e principalmente pelo não atendimento das pautas ofensivas da classe, sendo mais um

período em que os movimentos de greve e sindicalização, aliados com a proposta de

Constituinte, intensificarão a luta de classes e uma necessária recomposição do bloco de poder

dominante. Em segundo lugar, o acúmulo das lutas e da organização dos movimentos populares

e sindical, já sinalizou no III CONCUT a regressividade na organização das bases, e do

movimento político que reivindicava liberdade e autonomia sindical. Não só esse congresso foi

um marco na redução da democracia de base, com a redução dos delegados tirados em

assembléias de base, como nesse ano ficaram evidentes que o “discurso mistificador” de

liberdade e autonomia sindical não se dava com mesmo empenho na prática.

11

Sobre o “novo sindicalismo”, ver em TUMOLO (2002), ANTUNES (1995), BOITO (1991) e MATTOS (2009). 12

Boito Jr. (1991) questiona a intervenção prática contra a estrutura sindical pelo “novo sindicalismo”, entendendo o

mesmo mais como um “discurso mistificador” que criticava centralmente os “efeitos” e não a estrutura e seus pilares

fundamentais.

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O resultado final da Constituição de 1988 manteve a estrutura sindical em seus três

pilares, incorporando um artigo que expõem uma ambiguidade absoluta no restante dos artigos

da CLT restaurados em 1988: o inciso I do artigo 8, que veda “ao Poder Público a interferência e

a intervenção na organização sindical” (BOITO, 1991, p. 57). A prevalência dos pilares da

investidura, unicidade e imposto sindical nos 24 anos posteriores, inviabilizam na prática real

esse artigo. No processo de transição que já avistava a abertura política, ANTUNES (1986)

indica que havia uma “liberalização outorgada” dirigida pelos militares, que tendencionalmente

não encontraria solução para a construção de uma democracia social, econômica e política, pois,

[...] não poderá ser a alternativa esboçada por setores da oposição, que se contentam com

algumas simples mudanças na forma do regime e que se acomodariam com uma

Constituinte que, ao invés de selar o fim do regime e dos privilégios de uma minoria,

significaria um momento de auto-reforma do poder, mantendo intocável a estrutura

econômica concentracionista. (ANTUNES, 1986, p. 38).

Com a redenção do Estado Burguês e o “sindicalismo de Estado”, revestidos de novos

tempos “democráticos”, as transformações e a ofensiva do capital comporiam o regime de

classes e os processos de cooptação do movimento sindical.

3. A ofensiva do capital nos anos 1990: integração do movimento sindical na recomposição da

autocracia burguesa.

Não será nossa intenção afirmar que houvera uma virada na política e nos principais

objetivos do movimento sindical nos anos 1980 para anos 1990. Cabe a essa análise somente

apontar e relacionar as determinações essenciais que o sócio-metabolismo do capital

proporcionou para essa periferia específica, o Brasil, com a mudança de postura e política dos

dirigentes sindicais que se forjaram na luta contra a ditadura civil-militar e os efeitos e políticas

que ela proporcionou a organização dos trabalhadores no Brasil.

A vitória da ofensiva do capital (ou da ideologia e prática neoliberal13

) no Brasil pode ser

demarcada pela vitória eleitoral do candidato mais representativo dessa “ordem em mudança

para conservar”, Fernando Collor de Melo, sobre o candidato das forças sindicais e populares

13

A maioria dos autores citados nesse artigo identifica essa fase de reestruturação do capitalismo, enquanto

proveniente de uma ideologia específica, a ideologia neoliberal. Em nosso entendimento essa fase corresponde às

determinações de uma “ofensiva do capital” em direção à sua mundialização subordinada e a contenção da queda

tendencial da taxa de juros (sua crise estrutural). No decorrer do texto privilegiaremos essa expressão por

representar, a nosso ver, a determinação central (não exclusiva) dessa reestruturação geral da vida social enquistada

na subordinação do trabalho ao capital. Ver em “Crise do socialismo e ofensiva do capital” de José Paulo Netto

(1993) a relação entre crise estrutural do capital, o recuo das práticas democráticas e a regressividade dos direitos

sociais.

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14

que se destacaram na década de 1980, Luís Inácio Lula da Silva. Não que não houvesse

mudanças já indicativas dessa ofensiva no governo anterior de José Sarney, porém é com esse

primeiro governo e nos seguintes que a ofensiva do capital parte para as privatizações de setores

essenciais da economia nacional, as contrarreformas desestruturantes e regressivas dos direitos

sociais, a abertura radical da economia e do capital financeiro, que irromperam enquanto

políticas reais e concretas suavizadas pela manipulação ideológica perversa dos meios de

comunicação e do Estado (BOITO Jr., 1999a).

Não poderíamos deixar de dizer que essas condições reais também fazem parte de um

movimento geral do capital que nas décadas de 1970 e 1980 implementou a reestruturação

produtiva e o reordenamento político e econômico necessários para conter a tendência de queda

das taxas de lucro em seu plano mundial e que representa aspecto fulcral da crise estrutural do

capital. O que Mészaros (2002) chamou de derrocada das “linhas de menor resistência do

capital”, tanto o Estado de Bem estar social, quanto o chamado “socialismo real”, foram os

primeiros efeitos representativos dessa crise. A desestruturação do que se tinha de “proteção

social” América Latina14

, também representa esse movimento, e o Brasil, diferente de países

como o Chile, Argentina e Venezuela, aplicou as determinações dos órgãos de fiscalização do

imperialismo, como o Banco Mundial, de forma tardia. Sem dúvida toda a resistência e

organização popular desse período, como o “novo sindicalismo” dito aqui, foi fundamental para

essa contenção momentânea das políticas regressivas sobre os direitos sociais e o trabalho.

O que afirmarmos aqui é que o “modelo autocrático do Estado burguês” é reconfigurado

e recomposto após o embate com as forças sociais que exigiam a democratização da vida social

nos anos 1980. Após esse duro embate, em que o nascimento de certos instrumentos da classe

trabalhadora foram criados, foi não só vencido, quanto em certa forma, foram integrados a ordem

social nova e perfeitamente cabível para a acumulação capitalista. Segundo David Maciel (2007,

p. 8),

As reformas neoliberais iniciadas nos anos 90 e ainda hoje implantadas permitiram que a

autocracia burguesa atingisse uma forma ainda inédita no Brasil: a combinação entre a

democracia representativa e os mecanismos oligárquicos e fascistas sem a mediação do

populismo e/ou do coronelismo. Em outras palavras, desde que as massas urbanas

ascenderam à cena política, é a primeira vez que a dominação burguesa busca se

estabilizar sem recorrer à ditadura aberta, mas também sem fazer uso da concessão de

direitos sociais como meio de cooptação e manobra. (MACIEL, 2007, p. 8)

14

Que não podemos confundir com o Estado de Bem Estar que houve na Europa.

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15

As condições que permitiram “esterilizar a dissidência para baixo (FERNANDES, 2005,

p. 363)”, permitiram implementar essa democracia burguesa com a permanência da autocracia.

Diversos mecanismos de tipo fascista, fomentados durante a ditadura e a sua “transição

transada”, permaneceram nessa recomposição: a legislação eleitoral; a estrutura partidária; a

estrutura sindical; o estatuto legal dos militares, que lhes dá autonomia política e a condição de

aparelho repressivo e reserva estratégica de poder, e a supremacia do poder Executivo sobre o

Legislativo e o Judiciário, são alguns exemplos (MACIEL, 2007, p. 7-8).

A queda do “socialismo real” foi outro fator importante nessa ofensiva do capital. O

impacto ideológico e econômico foi sentido no mundo inteiro (principalmente nos países de

capitalismo avançado), compreendendo também um incremento na mudança de direção da CUT,

por exemplo. O pragmatismo toma conta de sua política, a aproximação com a social-democracia

européia e com as tendências católicas, foram fundamentais nesse processo. Por último, a

filiação a Confederação Internacional de Organizações Sindicais Livres (CIOLS) em 1991,

determinou a aliança mundial que essa central optara, e que era debate postergado nos primeiros

anos da CUT, entre as opções: Federação Sindical Mundial (FSM) de orientação marxista e

soviética, ou a CIOLS, de orientação social democrata e estadunidense (BOITO, 1999a, p. 217).

Para fazer frente a todo o poderia de mobilização que a CUT teve nos fins dos anos de

1980, o governo pró-capital, abertura externa e privatizações de Collor, auxiliou, financiou e

privilegiou a formação de uma nova central sindical que fizesse frente a CUT, e se apoiasse em

suas políticas. A criação da Força Sindical, com seu “sindicalismo de participação”, introduziu

pela primeira vez as cúpulas (não pela estrutura oficial ainda) nas negociações governamentais, e

principalmente no eixo da acumulação capitalista mundializada e financeirista. O apelo das

privatizações aos trabalhadores das empresas estatais foi exercido com a cooptação dos fundos

de participação organizados principalmente pela Força Sindical15

. A CUT sofreu os

rebatimentos dessa nova opção amplamente apoiada pelo governo: data-se do Congresso da CUT

de 1991, algumas das mudanças mais drásticas em sua política que são referencia até hoje de sua

transição para o “sindicalismo de proposição”.

No campo da política a CUT passou a defender os fóruns tripartites de conciliação, sendo

que esse debate permeou e agitou o conflito entre as correntes de esquerda e as moderadas. Suas

15

Em Boito (1999a) é demonstrado como fora realizado essa estratégia, e quanto ela só beneficiou as cúpulas que

incorporaram objetivamente esse bloco de poder. A criação de “fundos de investimento” pela Força Sindical

privilegiou setores dirigentes, em detrimento da maioria dos trabalhadores. As declarações do presidente na época,

Luiz Antonio de Medeiros, demonstra o grau de incorporação do discurso pró-mercado: “Nossa única exigência é

que se garanta ao trabalhador o direito de parcela nas empresas privatizadas” (BOITO, 1999a, p. 188).

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propostas sempre foram vencidas, pois diante dessa ofensiva do capital “não há espaço para

acordos” à classe trabalhadora. Mesmo assim, nessa década é presente a mudança de postura da

CUT, porém não se pode dizer que ela foi cooptada pelas políticas regressivas de direitos,

permanecendo na oposição mesmo que moderada. No geral esse processo notabiliza-se pela

aceitação passiva das determinações que a ofensiva do capital impôs ao movimento sindical. No

geral, Tumolo (2002) conclui que,

Partindo do pressuposto da vitória do capital no plano mundial, através da consolidação

do novo padrão de acumulação, cuja manifestação aparente são as metamorfoses do

mundo do trabalho, e tendo em vista o fracasso da construção do socialismo, a estratégia

tem sido, em linhas gerais, a de conviver com o capitalismo, buscando oferecer

alternativas por dentro dele, baseado na crença que é possível reforma-lo estruturalmente

e, dessa forma, arrancar, através da negociação, benefícios para os trabalhadores.

(TUMOLO, 2002, pg. 132).

Com relação à estrutura sindical, o movimento sindical não conseguira avançar no

combate aos pilares de sustentação. Pelo contrário, quando Collor anunciou a proposta de

reforma sindical em 1991, com a proposta de fim do imposto sindical e quebra da unicidade

sindical com a liberação de negociação com “comissões de empresa”, não só a Força Sindical foi

contra, como a própria CUT declarou a sua contrariedade (BOITO, 1999a, p. 195). Com FHC, a

aprovação do “contrato de trabalho por tempo determinado”, pauta apoiada pela CUT que se

rendeu aos apelos de luta contra o desemprego e a desindustrialização, a estrutura sindical ganha

um reforço importantíssimo, pois prevê que essa medida tenha a anuência do sindicato,

reforçando a unicidade sindical e o caráter de “monopólio legal” do sindicato oficial (BOITO,

1999a, p. 196).

A proposta de reforma sindical em 1998, PEC 623/98, enviada ao Congresso e que

indicaria o fim da unicidade sindical e do imposto sindical é sintomática. Diante dessa

possibilidade, Aldo Rebelo (1999) é decidido em defender a Estrutura Sindical como conquista

das classes trabalhadoras; em imputar a depuração dos pilares que sustentam o sindicalismo de

Estado ao “ultraconservador Oliveira Viana”, quando foi esse quem construiu as bases teóricas

para a sua implementação reivindicando a tutelagem dos trabalhadores; ao imputar a experiência

de unicidade sindical enquanto a mais “pluralista” e “vitoriosa”, diante de todo o recuo que a

CUT e os níveis de sindicalização tiveram nessa década, e por último considera que é uma

“hipocrisia inaceitável” negar ao sindicato a contribuição compulsória (não ao trabalhador) de

base (REBELO, 1999, p. 09-17). Nesse mesmo livro de debates sobre a Estrutura Sindical e o

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17

financiamento16

, Boito Jr (1999b), afirma que era preciso uma análise mais ampla, pois esse

mesmo governo que propunha o fim da unicidade sindical, havia a reforçado ao ter elaborado

uma série de leis de desregulamentação do trabalho (contrato de trabalho por tempo

determinado, banco de horas e contrato parcial) que aumentariam o poder e a necessidade do

sindicato oficial, ao promovê-las com a anuência dos sindicatos. Termina por dizer que não é

preciso ter medo da pulverização com o fim da unicidade, pois o “sindicalismo unitário” deve

“ser assegurado pela luta política e não por uma lei” (BOITO, 1999b, p. 87).

4. Elementos que indicam aprofundamento do atrelamento do movimento sindical ao Estado,

a partir dos governos do Partido dos Trabalhadores.

O período histórico em que o Partido dos Trabalhadores (PT) vive enquanto governo está

prestes há fazer 10 anos. A origem social desse partido, representada pelo próprio nome,

indicaria a realização de uma plataforma política que fora reivindicada durante os seus mais de

20 anos de oposição. Desde a luta contra a dívida externa à reforma agrária, temos um rol de

inúmeras bandeiras que deixaram de ser atendidas nesse período que já supera temporalmente o

partido antecessor e a sua “herança maldita”.

Os governos do PT proporcionam uma análise, ainda em constituição, que demonstra as

políticas de profunda subordinação ao capital financeiro e suas empresas monopolistas e

imperialistas. É desse período a política de superávit primário, de permanência dos juros altos,

das privatizações de poços de petróleo, estradas e agora aeroportos, e de contra-reformas

desestruturantes dos direitos sociais conquistados historicamente. Por outro lado, emergem

políticas sociais de reparações dos “rebatimentos da questão social”. As políticas

compensatórias17

desse período histórico foram, apesar de serem criticadas pelos mesmos no

governo anterior, redimensionadas em sua focalização cada vez mais abrangente, sucateando e

desestruturando todas as políticas sociais de caráter universal, que foram marca de conquistas da

Constituição de 1988. Saúde, educação e previdência social foram e estão em constantes ataques

e desestruturação, passando por privatizações que se travestiram de organizações sociais,

descentralizações que imputaram e imputam quase que absolutamente o ensino fundamental aos

16

Trata-se do livro organizado por Altamiro Borges (1999), Administração Sindical em Tempos de Crise, fruto de

um seminário organizado pelo Centro de Estudos Sindicais (CES) do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). 17

De acordo com Antunes o “governo Lula articulou as duas pontas da barbárie brasileira”, sendo uma que

remunerou como nenhum a burguesia e outra que ofereceu uma política assistencial aos setores mais desorganizados

dos “de baixo”, “sem tocar em nenhum dos pilares estruturantes da tragédia brasileira” (ANTUNES, 2011, pg. 146-

147).

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municípios e as sempre presentes críticas à previdência social deficitária e suas contrarreformas

regressivas (ANTUNES, 2011).

De sua base de sustentação histórica seria presumível que as medidas privilegiariam as

demandas requeridas pelos movimentos. Temos enquanto exemplo a União Nacional dos

Estudantes (UNE), que assimilou e integrou quase que efetivamente o programa de governo para

a educação, consubstanciada na contrarreforma universitária que fora implementada de forma

fatiada. De outro lado temos os movimentos organizados do campo, sendo a maior expressão o

Movimento dos Sem-Terra (MST), que se por um lado mantiveram durante a maior parte dos

governos do PT a postura radical e combativa que os destacaram nos anos 1990, por outro e

diante as políticas de financiamento dos assentamentos não romperam definitivamente com esse

governo que em 10 anos notabilizou-se pelo maior incentivo à agroindústria e ao menor número

de assentados da reforma agrária. No campo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), por

lidarem com setores da estrutura de estado já apontados nesse texto e com a força motriz da

acumulação capitalista, a força de trabalho superexplorada, os indicativos de intensificação da

subordinação são mais alarmantes.

São ainda tímidas, se não quase inexistentes, as análises sobre o desenvolvimento da

estrutura e do movimento sindical com o governo do PT. Assim como todos os outros setores, as

propostas de reformas trabalhista e sindical foram anunciadas, passaram por Fóruns e comissões

específicas, e tiveram durante esse período algumas transformações importantes. No campo das

relações trabalhistas foi e é presente as mudanças realizadas de forma fatiada durante esse

período: a contrarreforma de previdência de 2003, e medidas flexibilizantes como a “contratação

de prestadores de serviços na condição de empresas constituídas por uma única pessoa (a

chamada “pessoa jurídica”) e da lei do Super Simples, que possibilita a redução do pagamento de

alguns direitos trabalhistas para micro e pequenas empresas” (BOITO, MARCELINO,

GALVÃO, 2011, pg. 47)18

. Todas elas contemplaram a dubiedade e posições mistificadoras dos

dirigentes sindicais que, se faziam a crítica não mobilizavam as suas bases, e se apoiavam as

medidas ancoravam-se numa débil proposta de um novo-desenvolvimentismo19

.

18

Mais recentemente, em junho de 2011, foram aprovadas novas medidas de concessão do seguro-desemprego

(prevendo-se o desaquecimento da economia nesse ano) que obrigam a aceitação de “entrevistas de emprego” em

qualquer local para quem o estiver recebendo o seguro-desemprego, sendo que a recusa pode retirar esse direito. A

CUT desaprovou tal medida, porém não mobilizou os sindicatos contra ela. Ver em

http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/noticia/2011/06/cut-desaprova-novas-medidas-do-seguro-desemprego-

3353753.html . 16/06/2011. 19

Segundo Ana Elizabete Mota, essa seria uma ideologia fundada “no equilíbrio entre crescimento econômico e

desenvolvimento social”, indicando que o primeiro levaria “inexoravelmente” ao outro (MOTA, 2010, pg. 19). Nada

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19

Como o objeto desse trabalho são as relações laborais delimitadas na estrutura sindical

oficial, chamada aqui de “sindicalismo de Estado”, nos ateremos a quatro momentos de profunda

intensificação da estrutura sindical e subordinação dos dirigentes sindicais governistas. Em

primeiro lugar o que representou a contrarreforma da previdência de 2003, primeiro teste de

resistência que provocou rompimentos na CUT; em segundo lugar, o Fórum Nacional do

Trabalho e o aprofundamento da política de “cooperação entre as classes” nos fóruns tripartites –

trabalhadores, patrões e Estado -; a imersão dentro do governo de dirigentes sindicais, até ontem

“representantes da classe operária”; e por último, a incorporação das Centrais Sindicais dentro de

todo o aparato tutelado do Estado, composto por investidura e imposto sindical.

A contrarreforma da previdência de 2003 foi um marco no desmascaramento que se teve

desse primeiro governo Lula. As fricções que houveram no movimento sindical permitiu que,

diante dessa ofensiva do capital sobre os aposentados e pensionistas, já no primeiro ano de

governo, vários setores mais a esquerda da CUT rompessem com essa Central que havia apoiado

a medida. Esse golpe fora muito mais profundo do que as conciliações presentes já nos anos

1990 com relação às cooperações estabelecidas da CUT com governo e empresariado, pois

indicou um consenso ativo no desenvolvimento das contrerreformas estabelecidas por esse

governo, que antes de ser eleito indicou na “Carta aos brasileiros” que não estaria disposto a

transformações mais radicais na estrutura (ALMEIDA, 2007, pg. 55).

Outro passo que deu concomitantemente e que tem reflexo até hoje, foi o chamado Fórum

Nacional do Trabalho (FNT). Se na década anterior o “propositivismo” já estava presente na

agenda da CUT, é com a chegada do PT ao governo que ele se amplia. Já no primeiro ano de

governo são lançadas as bases para os fóruns tripartites (governo, patrões e centrais) que segundo

Ariovaldo Santos (2005) demonstra o quanto a agenda governamental se aproximava do período

varguista ao propor a “modernização das relações laborais” em um “ambiente propício à geração

de empregos”, identificando que esse discurso era “ironicamente um varguismo sem Vargas

(SANTOS, 2005, pgs. 44-45). Os primeiros resultados em 2004 mostram qual seriam as

principais preocupações implícitas nesse documento: evidenciar o “princípio de colaboração

entre classes”, a proposta de reconhecimento das Centrais Sindicais (aprovada em 2008), e a

prevenção de atos anti-sindicais. Nesse último ponto estaria o cerne das atitudes mais presentes

no controle de Estado dos dias de hoje: a limitação das greves pelo recurso amplamente usado de

“delimitação dos serviços essenciais”. Por mais que essa contrareforma não tenha sido aprovada,

mais do que o “discurso mistificador” que sempre fez parte de nossa história, defendendo a conciliação para um

“bem comum” que sempre beneficiou somente a burguesia interna e externa.

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é cada vez mais presente o poder normatizador da Justiça do Trabalho e dessa delimitação “à

revelia” de essencialidade nos serviços, atingindo principalmente o setor de serviços e os

funcionários públicos. Após uma análise das etapas de formulação, setores integrantes e

principais resultados concebidos, que se transformaram em Projeto de Lei em 2005, Gelson

Rozentino de Almeida conclui que, após todo o período de embate histórico que empreendeu, a

CUT e o PT,

teria formulado a proposta do FNT, acreditando nas teses de um desenvolvimentismo

nacional, tendo como interlocutores o Estado e organizações empresariais. As propostas

de reforma sindical e trabalhista já constavam dos programas da CUT e do PT ao longo

dos anos 90 e eram apresentadas como demandas históricas dos trabalhadores, sobretudo

dos setores 'modernos', sob influência liberal, e vista como conciliáveis com o capital. O

FNT representaria um pacto social na busca do desenvolvimento, entendido dentro dos

limites do crescimento econômico capitalista, representando este um 'consenso' para a

sociedade, como se fosse possível uma conciliação de interesses estratégicos de diferentes

classes e frações de classe. (ALMEIDA, 2007, pg. 64)

A integração dentro do governo pode ser visto já pela convocação de sindicalistas e ex-

sindicalistas aos quadros da Estrutura de governo. A problemática da “dupla militância”

(BOITO, MARCELINO, GALVÃO, 2009, pg. 46), pode ser detectada nesse duplo papel onde

militantes históricos como Jacques Wagner, Ricardo Berzoini, Luiz Gushiken e Luiz Marinho,

que foram quadros dirigentes dos principais sindicatos do Brasil e da direção da CUT, passaram

a dirigir Ministérios de peso, como o do Trabalho e da Previdência. Além desses vários outros

comporam escalões menores. O peso da proposta do novo-desenvolvimentisto ganha corpo

nesses dirigentes sindicais, fazendo com que na prática assumam todas as demandas que a

ofensiva do capital exige para a sua maior acumulação. E para tensionar ainda mais essa análise,

é emblemático que com o apoio da Força Sindical em 2006 ao governo federal, a incorporação

ao governo de Luiz Antonio Medeiros (fundador e primeiro presidente dessa central) na

Secretária de Relações de Trabalho em 2007. O problema central da participação desses

dirigentes sindicais não estaria em uma crítica conservadora de um chamado “Estado

sindicalista”. A problemática está contida na conivência ativa aos processos aqui relatados, e a

permanência da Estrutura sindical de Estado.

E por último, a integração das Centrais sindicais a Estrutura Sindical corporativa de

Estado, com anuência e apoio da CUT20

. Com a Lei 11.648/2008, que aprovou seu

20

“O movimento sindical ocupou a Câmara dos Deputados no dia 11 de março e acompanhou a votação e aprovação

do projeto de lei 1.990/07, enviado pelo presidente Lula, que reconhece as centrais sindicais de trabalhadores. O

projeto deu origem a Lei 11.648/2008, sancionada no dia 31 de março. O reconhecimento das centrais sindicais

atendeu a uma reivindicação tão antiga quanto à própria CUT.” Ver em

http://www.cut.org.br/institucional/68/cronologia-de-lutas Acesso em 05/10/2011.

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reconhecimento legal e pertencimento à estrutura, a pulverização e fragmentação de Centrais é

vista aos olhos. Se nas décadas de 1980 e 1990, período de “transição lenta, gradual e segura”

entre a crise da dominação pela ditadura civil-militar e recomposição do bloco de poder

autocrático burguês, havia, na maior parte do período, apenas uma central que reunia o setor

mais combativo e democrático (CUT) e outra que de início representava o resíduo dos pelegos

interventores21

(UGT) e depois a sua versão oficial da ofensiva do capital mundializado (Força

Sindical), percebemos o quanto a estrutura é potencialidora da dispersão da força de trabalho

organizada. Os ensaios do FNT que indicavam essa inserção foram impulso inicial para a criação

de mais centrais. Com a implementação da Lei é nítido a proliferação de centrais, diversificada

muitas vezes pelas forças partidárias. De um lado estão as Centrais que romperam com a CUT

por questões de críticas ao burocratismo crescente, e a seu consenso ativo com as políticas

regressivas de seu governo, dentre elas a CONLUTAS e as duas INTERSINDICAIS. De outro,

as centrais que por pragmatismo e de olho nos vultuosos montantes de recursos cedidos pelo

governo através da contribuição obrigatória do imposto sindical, sendo que algumas romperam

com a CUT, outras com a FS, ou que se aglutinaram para conter o mínimo requisitado para ser

reconhecida, hoje temos o seguinte quadro: a União Geral dos Trabalhadores (UGT), a Central

dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), e mais 8 centrais que surgiram desse

processo22

.

A relação umbilical do PT com a CUT, que transferiu seus diretores para funções na

mesma estrutura sindical, não impediu nem que essa “legalização das centrais” fosse corrompida

com a possibilidade de entrada no rateio do imposto sindical. Mesmo com a posição da CUT que

mantém o discurso mistificador da posição contrária ao imposto sindical, não somente a mesma

beneficiou-se dessa lei, como é a central que mais tem sindicatos vinculados, que incentiva

política de pulverização de suas bases, e que briga muito nas eleições sindicais para manter o

primeiro lugar no Ministério do Trabalho. Um retrato de tamanha disputa e pulverização dos

sindicatos é evidenciado pelo fato que essa “reforma sindical do governo Lula contribuiu

21

Que compunha inicialmente os partidos comunistas, PCB e PCdoB, mas que no fim da década de 1990 já

migravam para a CUT. 22

Para uma melhor descrição desse processo de pulverização das centrais, ver em ANTUNES, 2011, pg. 148-150, e

BOITO Jr., MARCELINO e GALVÃO, 2009, pgs. 47-49. O processo de criação é tão intenso que essas referências,

apesar de recentes, já estão desatualizadas. No site do MTE estão descritas as centrais sindicais “oficializadas” e o

número de sindicatos a ele filiados (Ver em

http://www3.mte.gov.br/sistemas/cnes/relatorios/painel/GraficoFiliadosCS.asp). Notem que são doze sindicatos que

já entraram com pedido de reconhecimento (entre eles a CONLUTAS), sendo que desses apenas 6 cumpriram os

requisitos mínimos de representação, como por exemplo ter em sua base um mínimo de 100 sindicatos, e

representação geral mínima de 7% dos sindicalizados no Brasil (Ver em Despachos de Divulgação Centrais

Sindicais 2011

http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C816A32B088220132D0117EC4184C/despacho_2011_0418.pdf ).

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poderosamente para o crescimento numérico das centrais sindicais, pois se em 2001 apenas 38%

dos sindicatos eram filiados a alguma central, em 2011 esta porcentagem subiu para 68,35%

(IBGE e MIRHAN, 2011)” (MACIEL, 2011, pg. 14).

Ainda no que tange ao imposto sindical, nesse mesmo período os sindicatos dos

funcionários públicos também passaram a recolher de suas bases (sindicalizadas ou não) o

imposto sindical, a partir da Instrução Normativa N° 01 de 2008 do MTE23

. Não bastassem todos

os ataques aos direitos sociais e econômicos que essa categoria conquistou, principalmente na

Constituição de 1988, a permanência do vigor reivindicativo e mobilizador nos anos 2000,

indicou a necessidade de abertura do arco de controle sindical que ainda não tinha se fechado

nesse setor. Como indicamos antes, a organização em associações livres da estrutura sindical

notabilizou destacadamente essas categorias dos trabalhadores assalariados do setor público, e

pela ausência de um movimento que combinasse a manutenção dessa condição, o Estado foi

gradualmente incorporando esses setores na Estrutura Sindical.

Considerações Finais

O caráter irreconciliável do trabalho com o capital é explosivo, produzindo e

reproduzindo a luta sindical, o movimento que busca retomar parte do valor não pago pelo

capitalista. Portanto, ele representa a antítese e o Estado o seu guardião da propriedade privada e

da relação estranhada. Essa relação contém a tendência conflituosa a se realizar na vida social

enquanto houver a antítese capital e trabalho, desfazendo qualquer mito de crise ou fim do

sindicalismo.

É sintomático que diante das piores crises, da percepção imediata de que uma relação se

naturalize, seja formado um senso comum sobre a acomodação e passividade da classe

trabalhadora no Brasil. Depois de mais de uma década da irrupção violenta da ditadura de classe

preventiva de 1964, a classe trabalhadora teve de se reerguer após um período de erosão de suas

bases sociais. Não só apresentou-se na cena histórica com as greves do ABC, quanto contagiou a

totalidade das massas. Os instrumentos de luta que se direcionavam para além da estrutura

sindical corporativa de Estado foram criados e tiveram efeito imediato e mobilizador. Na década

23

Em nota de esclarecimento o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), justificou a sua decisão: “Esta medida foi

tomada após criteriosa análise da Consultoria Jurídica do Ministério do Trabalho e Emprego amparada pelo artigo

610 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que regulamenta o pagamento da contribuição sindical, em

conjunto com o artigo 578, que prevê a contribuição também de servidores públicos de todo país,

independentemente do regime jurídico que estiverem submetidos tais trabalhadores” (MTE,

http://portal.mte.gov.br/imprensa/nota-de-esclarecimento-1.htm , em 09 de outubro de 2008).

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de 1980 tivemos a criação da primeira central sindical que vingou, de valorosas experiências de

comissões por local de trabalho e 4 greves gerais que mobilizaram milhões em todo o Brasil. Os

seus limites, as derrotas históricas que tiveram em suas pautas econômicas reivindicativas, são

apenas elementos que demonstram que o movimento sindical é uma “escola de guerra”, e que a

necessidade histórica de transcendência do capital somente se dará por um instrumento político

de patamar superior24

.

Hoje vivemos momento análogo na organização sindical. Por um lado os instrumentos da

classe trabalhadora burocratizam-se de maneira que ainda há espaço para uma integração mais

eficiente com o Estado e a ofensiva do capital. A legalização das centrais sindicais aqui

indicadas e os seus vínculos com os fundos de pensão e clubes de investimento das empresas

estatais privatizadas demonstram essa afirmação. Por outro, e apesar do apelo e consenso ativo

com as diretrizes do novo-desenvolvimentismo do governo pelas centrais sindicais, há um

crescimento constante das greves nos últimos anos. De acordo com a análise que Boito,

Marcelino e Galvão (2009) fizeram sobre os dados recolhidos do DIEESE sobre as greves no

Brasil, de 2004 à 2007, há um crescimento exponencial nas mesmas (em média 300 por ano), e

um aumento no índice de conquistas de aumento sobre a inflação nesses últimos anos (mais de

60% das greves conquistaram direitos e aumento de salários). É claro que essa situação é

conjuntural, pois o crescimento econômico e a diminuição do desemprego determinam o

aumento do valor da força de trabalho, que só as greves podem equiparar em seu valor. Porém, o

potencial da retomada das lutas sociais pela classe trabalhadora é um indício que os instrumentos

da classe trabalhadora são necessários que sejam retomados, e desvencilhados do controle do

Estado.

O complexo de determinações que compõem a crise estrutural do capital irá exigir

combatividade e unidade da classe trabalhadora no intuito de não sofrerem com as condições

regressivas da ofensiva do capital. Concluímos que somente quando os trabalhadores tomarem

em suas mãos os seus instrumentos históricos e a organização de sua luta sindical, poderão lograr

melhores condições de luta pela transformação da ordem social dependente e associada. Para

tanto, destruir o aparato autocrático que regula e outorga a representação dos trabalhadores é

condição essencial para essa investida.

24

As greves e o movimento sindical enquanto “escola de guerra” é uma categoria que Lênin retira de Engels

(LENIN, 1899). Em ALVES (2003) podemos encontrar as indicações de Marx e Engels sobre os limites e as

potencialidades do sindicalismo.

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