pergunta ao governo sobre o destino do chamado empréstimo da troika

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  ASSEMBLEIA DA REPÚBL ICA REQUERIMENTO Número / ( .ª) PERGUNTA Número / ( .ª) Publique - se Expeça - se O Secretário da Mesa  Assunto: Destinatário: Ex. ma Sr.ª Presidente da Assembleia da República Durante o início de 2011, o então Governo do PS liderado por José Sócrates, juntamente com o PSD e o CDS, “negociaram” com as instituições estrangeiras – FMI, BCE e UE – o chamado “memorando de entendimento” que o Partido Comunista Português caracterizou como um verdadeiro Pacto de Agressão contra os portugueses. A entrega de uma parte significativa da soberania nacional a instituições estrangeiras, através do referido memorando assinado pela troika  doméstica (PS, PSD e CDS) e a pela troika estrangeira (FMI, BCE e UE), foi realizada a pretexto de uma necessidade de liquidez e de dificuldades orçamentais. Contudo, o “memorando” ia muito além de um contrato de cedência de liquidez e de concessão de crédito e traduziu-se num verdadeiro programa político de subversão da Constituição da República Portuguesa e de reconfiguração do Estado e da estrutura de rendimentos em Portugal. No essencial, as diretrizes fixadas no “memorando” determinavam a retirada do interesse e da presença pública em praticamente todos os setores da economia, a fragilização dos vínculos laborais, direitos e salários dos trabalhadores, o incremento da rendibilidade do setor financeiro, a liberalização de praticamente todos os mercados, a privatização de serviços públicos e outras chamadas reformas que resultam numa alteração qualitativa da distribuição do rendimento nacional. Entre 2011 e 2014, os trabalhadores portugueses, os reformados e pensionistas, perderam entre 20 a 30% do seu poder de compra, enquanto os grandes grupos económicos aumentaram os seus lucros e a banca “limpou” imparidades que, de acordo com o Governador do Banco de Portugal, ascendiam a 30 mil milhões de euros. Durante as “negociações” do pacto assinado entre as troikas , e após a sua apresentação, PS, PSD e CDS afirmaram que o pacto previa três vetores de intervenção: orçamento e finanças públicas, reformas estruturais da Economia, estabilidade do sistema financeiro. Esses três vetores expressavam-se também na distribuição prevista para os 78 mil milhões de euros que PS, PSD e CDS contraíam como “empréstimo”, a pagar pelo povo português durante décadas, não só em capital e juros, mas também com direitos políticos, sociais, culturais e económicos. Desses 78 mil milhões, assim foi anunciado, 12 mil milhões estavam reservados para eventuais necessidades de recapitalização das instituições financeiras cujos rácios de capital se situassem X XII 4 Sobre os destinos de cada parcela do chamado empréstimo da troika Min. de Estado e das Finanças i u l

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Para onde foi o dinheiro da troika? Pergunta do PCP sobre os destinos do "empréstimo" da troika. Miguel Tiago

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  • ASSEMBLEIA DA REPBLICA

    REQUERIMENTO Nmero / ( .)

    PERGUNTA Nmero / ( .)

    Publique - se

    Expea - se

    O Secretrio da Mesa

    Assunto:

    Destinatrio:

    Ex. ma Sr. Presidente da Assembleia da Repblica

    Durante o incio de 2011, o ento Governo do PS liderado por Jos Scrates, juntamente com oPSD e o CDS, negociaram com as instituies estrangeiras FMI, BCE e UE o chamadomemorando de entendimento que o Partido Comunista Portugus caracterizou como umverdadeiro Pacto de Agresso contra os portugueses. A entrega de uma parte significativa dasoberania nacional a instituies estrangeiras, atravs do referido memorando assinado pelatroika domstica (PS, PSD e CDS) e a pela troika estrangeira (FMI, BCE e UE), foi realizada apretexto de uma necessidade de liquidez e de dificuldades oramentais.

    Contudo, o memorando ia muito alm de um contrato de cedncia de liquidez e de concessode crdito e traduziu-se num verdadeiro programa poltico de subverso da Constituio daRepblica Portuguesa e de reconfigurao do Estado e da estrutura de rendimentos emPortugal. No essencial, as diretrizes fixadas no memorando determinavam a retirada dointeresse e da presena pblica em praticamente todos os setores da economia, a fragilizaodos vnculos laborais, direitos e salrios dos trabalhadores, o incremento da rendibilidade dosetor financeiro, a liberalizao de praticamente todos os mercados, a privatizao de serviospblicos e outras chamadas reformas que resultam numa alterao qualitativa da distribuio dorendimento nacional. Entre 2011 e 2014, os trabalhadores portugueses, os reformados epensionistas, perderam entre 20 a 30% do seu poder de compra, enquanto os grandes gruposeconmicos aumentaram os seus lucros e a banca limpou imparidades que, de acordo com oGovernador do Banco de Portugal, ascendiam a 30 mil milhes de euros.

    Durante as negociaes do pacto assinado entre as troikas, e aps a sua apresentao, PS,PSD e CDS afirmaram que o pacto previa trs vetores de interveno: oramento e finanaspblicas, reformas estruturais da Economia, estabilidade do sistema financeiro. Esses trsvetores expressavam-se tambm na distribuio prevista para os 78 mil milhes de euros quePS, PSD e CDS contraam como emprstimo, a pagar pelo povo portugus durante dcadas,no s em capital e juros, mas tambm com direitos polticos, sociais, culturais e econmicos.Desses 78 mil milhes, assim foi anunciado, 12 mil milhes estavam reservados para eventuaisnecessidades de recapitalizao das instituies financeiras cujos rcios de capital se situassem

  • abaixo dos valores exigidos; 35 mil milhes estavam afetos a pagamentos de juros da dvida eos restantes 30 mil milhes seriam canalizados para a economia como forma de compensar anecessidade de diminuio dos rcios de transformao presentes na banca nacional.

    A diminuio dos rcios de transformao nos termos exigidos pelo memorando retiraria economia nacional 30 mil milhes de euros. Contudo, essa liquidez seria assegurada peloemprstimo. Assim foi anunciado. Assim foi discutido em algumas das reunies da ComissoEventual de Acompanhamento s Medidas do Programa de Assistncia Financeira a Portugal,criada na Assembleia da Repblica.

    Ora, sendo que o rendimento nacional diminui no conjunto dos 3 anos de vigncia domemorando, que o investimento caiu, o crdito diminuiu, os rcios de transformao da bancadiminuram sem que tal se devesse apenas ao aumento da poupana, no se compreende emque despesas e qual o destino dos 30 mil milhes de euros que supostamente serviriam aeconomia, particularmente as pequenas e mdias empresas. Curiosamente, o Governador doBanco de Portugal, ao anunciar que as imparidades da banca nacional em 2010 ascendiam a 30mil milhes de euros, anunciou simultaneamente que tais imparidades hoje estavam j abatidasdos balanos por provises. 30 mil milhes de euros um valor absolutamente incomportvelpara um sistema financeiro com a dimenso do portugus e revela uma total incapacidade dossupervisores ao longo do tempo. Ser fundamental compreender que fenmenos e processosconduziram a imparidades de crdito dessa dimenso e igualmente importante sercompreender a que capital foi abatido o provisionamento dessas imparidades, nomeadamente,com que contributo de dvida garantida pelo Estado e com que outras formas de recursospblicos, alm das disponveis no fundo de recapitalizao de 12 mil milhes de euros,constante no emprstimo.

    Ao mesmo tempo, a suposta necessidade e imposio de desalavancagem da economianacional, apenas se fez sentir nas famlias. De acordo com a McKinsey, entre 2007 e 2014, osetor pblico alavancou-se, tal como o setor privado e em especial o setor financeiro. Talsignifica que, apesar de ter diminudo os rcios de transformao, a banca portuguesa est hojemais endividada. S o conjunto das famlias tem hoje menos volume de crditos.

    Durante 2011 e 2014, e o mesmo se pode aplicar ao primeiro semestre de 2015, o investimentopblico caiu, a despesa social diminuiu, tal como a massa salarial dos trabalhadores da funopblica e, consequentemente, a despesa com salrios e encargos sociais do Estado. Duranteesses anos, os servios de sade, educao e cultura sofreram importantes cortes. Tais cortesjustificam as dvidas sobre os destinos do emprstimo da troika, que foi usado comojustificao para que os portugueses suportassem os mais violentos ataques sua dignidade edireitos de que h memria aps a Revoluo de 1974.

    Assim, ao abrigo das disposies regimentais e constitucionais aplicveis, o Grupo Parlamentardo Partido Comunista Portugus requer a V. Exa se digne solicitar ao Governo, atravs doMinistrio das Finanas, respostas s seguintes questes:

    Qual a composio do crdito concedido a Portugal pelas instituies estrangeiras? A quecredores corresponde cada componente do crdito? Qual a taxa de juro associada a cadauma dessas componentes?

    1.

    Que destinos teve cada parcela do emprstimo, alm do conhecido destino de 12 milmilhes de euros para o fundo de recapitalizao das instituies bancrias?

    2.

    Qual foi a utilizao dada ao valor de 30 mil milhes, ento anunciado como valor do apoio economia?

    3.

  • Que mecanismos foram utilizados para fazer chegar qualquer parte do emprstimo de 78mil milhes s empresas e s famlias?

    4.

    Qual o valor total de dvida garantida pelo Estado na banca nacional?5.

    Palcio de So Bento, quarta-feira, 1 de Julho de 2015

    Deputado(a)s

    MIGUEL TIAGO(PCP)

    BRUNO DIAS(PCP)

    JOO RAMOS(PCP)

    PAULO S(PCP)

    ____________________________________________________________________________________________________________________________Nos termos do Despacho n 2/XII, de 1 de Julho de 2011, da Presidente da Assembleia da Repblica, publicado no DAR, II S-E, n 2, de 6 de Julho de 2011,a competncia para dar seguimento aos requerimentos e perguntas dos Deputados, ao abrigo do artigo 4. do RAR, est delegada nos Vice-Presidentes daAssembleia da Repblica.

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    2015-07-01T15:00:49+0100Miguel Tiago (Assinatura)

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