CAMILA SILVA CAcircNDIDO

PERFIL SOCIOECONOcircMICO JURIacuteDICO E RELIGIOSO DO MENOR

INFRATOR EM ASSIS

FEMA ndash FUNDACcedilAtildeO EDUCACIONAL DO MUNICIacutePIO DE ASSIS

ASSIS

2014

2

CAMILA SILVA CAcircNDIDO

PERFIL SOCIOECONOcircMICO JURIacuteDICO E RELIGIOSO DO MENOR

INFRATOR EM ASSIS

Pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica apresentada ao

Departamento do Curso de Direito do Instituto Municipal de

Ensino Superior de Assis - IMESA e agrave Fundaccedilatildeo

Educacional do Municiacutepio de Assis ndash FEMA

Orientanda Camila Silva Cacircndido

Orientador Professor Me Claacuteudio Joseacute Palma Sanchez

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Ciecircncias Sociais e Aplicadas

FEMA ndash FUNDACcedilAtildeO EDUCACIONAL DO MUNICIacutePIO DE ASSIS

Assis

2014

3

FICHA CATALOGRAacuteFICA

CAcircNDIDO Camila Silva

Perfil socioeconocircmico juriacutedico e religioso do menor infrator em Assis Camila Silva

Cacircndido Fundaccedilatildeo Educacional do Municiacutepio de Assis-FEMA - Assis 2014

34 paacuteginas

Orientador Claacuteudio Joseacute Palma Sanchez

Pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ndash Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis ndash

IMESA

1 Adolescente 2 Infrator 3 Municiacutepio 4 Poliacuteticas Puacuteblicas

CDD 340

Biblioteca da FEMA

4

PERFIL SOCIOECONOcircMICO JURIacuteDICO E RELIGIOSO DO MENOR

INFRATOR EM ASSIS

CAMILA SILVA CAcircNDIDO

Pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica apresentada ao Instituto

Municipal de Ensino Superior de Assis - IMESA e a

Fundaccedilatildeo Educacional do Municiacutepio de Assis ndash FEMA

Orientador Prof Me Claacuteudio Joseacute Palma Sanchez _________________________

Analisador (a) ________________________________________

Assis

2014

5

Dedicatoacuteria

Aos meus familiares Adenir e Faacutetima por sempre

acreditarem neste projeto agrave minha irmatilde Laura

por sempre estar ao meu lado nos momentos

mais difiacuteceis Ao mestre e professor querido

Claacuteudio Sanchez pelo incentivo e por ensinar

com excelecircncia a ciecircncia do Direito Penal

6

ldquoTenho a impressatildeo de ter sido uma crianccedila brincando agrave

beira-mar divertindo-me em descobrir uma pedrinha

mais lisa ou uma concha mais bonita que as outras

enquanto o imenso oceano de verdade continua

misterioso diante dos meus olhosrdquo

Isaac Newton

A crianccedila eacute o elo mais fraco e exposto da cadeia social

Se um paiacutes eacute uma aacutervore a crianccedila eacute um fruto E estaacute

para o progresso social e econocircmico como a semente

para a plantaccedilatildeo Nenhuma naccedilatildeo conseguiu progredir

sem investir na educaccedilatildeo o que significa investir na

infacircncia E isto por um motivo bem simples ningueacutem

planta nada se natildeo tiver uma semente E aacutervores doentes

natildeo datildeo bons frutos A viagem pelo conhecimento da

infacircncia eacute a viagem pelas profundezas de uma naccedilatildeo

Gilberto Dimenstein

7

RESUMO

O presente trabalho aborda a questatildeo da estrutura social econocircmica juriacutedica e

religiosa do adolescente infrator principalmente relacionado agraves medidas e poliacuteticas

puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio visando combater os elevados iacutendices de

adolescentes reincidentes na medida de internaccedilatildeo e construir projetos de accedilatildeo

promovendo a inclusatildeo dos jovens

Palavras-chaves Adolescente Infrator Municiacutepio Poliacuteticas Puacuteblicas

8

ABSTRACT

This paper addresses the issue of social structure economic legal and religious

adolescent offender mainly related to public policies and measures adopted by the

municipality to combat the high levels of repeat adolescents in detention procedure

and build action projects promoting inclusion of young people

Keywords Adolescents Offender Municipio Public Policy

9

LISTA DE ABREVIATURAS E CIGLAS

ECA Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

MP Ministeacuterio Puacuteblico

P Paacutegina

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiccedila

10

LISTA DE TABELA

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo Jovem em Assis23

11

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO12

1 ndash O PROBLEMA DO MENOR INFRATOR NO BRASIL13

11 Aspectos Sociais13

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada15

13 Ato Infracional16

2 ndash ESTATUTO DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE17

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA18

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Socioeducativas 18

221 Medidas pertinentes aos Paisresponsaacuteveis21

3 ndash A APLICACcedilAtildeO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NA CIDADE DE

ASSIS22

31 Consideraccedilotildees Gerais22

32 Perfil Socioeconocircmico24

32 1 Perfil Juriacutedico25

322 Perfil Religioso26

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS27

REFEREcircNCIAS29

ANEXOS32

12

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho busca analisar a estrutura social econocircmica juriacutedica e religiosa

do adolescente infrator buscando identificar o padratildeo das relaccedilotildees familiares bem

como os atos infracionais praticados Nos termos de dispositivo constitucional (art

228 e regra geral de direito penal) os adolescentes infratores satildeo considerados

penalmente inimputaacuteveis

Facilmente se constata que satildeo adolescentes que pertencem a famiacutelias de baixa

renda desestruturadas e que dificilmente se ressocializam atraveacutes das medidas

socioeducativas que satildeo aplicadas gerando inuacutemeros debates acerca desta

situaccedilatildeo Neste sentido faz-se uma anaacutelise das medidas socioeducativas previstas

na legislaccedilatildeo especial vigente o chamado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

regulamentado pela Lei 80691990 diploma que visa garantir a proteccedilatildeo integral agrave

crianccedila e o adolescente regulando o preceito do artigo 227 da Constituiccedilatildeo Federal

Nessas condiccedilotildees o Estatuto assegura todas as oportunidades e facilidades para

um bom desenvolvimento fiacutesico mental moral e social dos menores e

posteriormente aplicando as medidas necessaacuterias para os que cometem atos

infracionais respeitando o previsto na legislaccedilatildeo

No entanto de uma forma ou de outra a delinquecircncia infanto-juvenil tem crescido

desmesuradamente em diversas cidades do Brasil ultrapassando seus limites

Assim os estudos sobre a violecircncia e o adolescente infrator tem o compromisso natildeo

soacute de transformar a ldquoconsciecircnciardquo em geral mas tambeacutem de orientar projetos de

accedilatildeo de forma a combater esse grave problema social Destarte considerando o

elevado iacutendice de adolescentes envolvidos com a criminalidade bem como a

complexidade acerca da delinquecircncia infanto-juvenil a pesquisa tem o objetivo de

tipificar o perfil do adolescente infrator em Assis propondo uma reflexatildeo acerca das

poliacuteticas puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio

13

1 ndash O Problema do Menor Infrator no Brasil

Neste primeiro capiacutetulo busca-se analisar a questatildeo do adolescente infrator no

Brasil Apresentando os aspectos sociais bem como a tutela jurisdicional

diferenciada que eacute aplicada e posteriormente viabilizando um panorama geral

acerca dos atos infracionais praticados

11 Aspectos Sociais

Nos primoacuterdios da sociedade as crianccedilas e os adolescentes natildeo possuiacuteam

garantia de direitos e proteccedilatildeo legal eram tratadas de forma lsquocruelrsquo sem dignidade e

respeito A palavra menor em seu sentido teacutecnico-juriacutedico no dicionaacuterio de Plaacutecido e

Silva (1982) ldquodesigna a pessoa que natildeo tenha atingido a maioridaderdquo ou ainda

aquele ldquoque natildeo atingiu a idade legal para que se considere maior e capazrdquo No

entanto ao longo do trabalho seraacute utilizada a expressatildeo adolescente infrator visto

que o termo ldquomenor infratorrdquo refere-se agrave expressatildeo pejorativa natildeo utilizada pelos

doutrinadores da aacuterea da infacircncia e juventude

Segundo Haim Grunspun (2000) ldquoas crianccedilas durante toda a histoacuteria humana

sempre trabalhavam junto agraves suas famiacutelias e tribos natildeo havendo distinccedilatildeo entre elas

e os adultos com quem conviviam praticando accedilotildees iguais aos adultos dentro de

suas capacidadesrdquo Neste sentido Minharro (2003 p 15) enfatiza que

ldquoEntre os egiacutepcios no periacuteodo das dinastias XII a XX todos os

cidadatildeos tinham a obrigaccedilatildeo do trabalho sem qualquer distinccedilatildeo ou

proteccedilatildeo especial estando assim os menores submetidos ao regime

aplicaacutevel a todos desde que jaacute possuiacutessem algum desenvolvimento

fiacutesico Em Roma e na Greacutecia antigas com a licitude da escravatura

os filhos dos escravos pertenciam aos amos ou senhores

trabalhando para estes sem qualquer remuneraccedilatildeo Por volta do

seacuteculo XVIII houve o crescimento da utilizaccedilatildeo da matildeo de obra

infantil onde as crianccedilas oacuterfatildes e de famiacutelias sem as miacutenimas

condiccedilotildees trabalhavam em troca de alimentaccedilatildeo Assim com o

surgimento das induacutestrias e avanccedilos da tecnologia tambeacutem surgiu a

problemaacutetica de crianccedilas envolvidas com a marginalidade decorrente

da maacute-distribuiccedilatildeo de renda da falta de emprego da falta de

14

assistecircncia familiar como o abandono maus-tratos e do proacuteprio

Estado pela ineficiecircncia das poliacuteticas adotadasrdquo

Logo verificou-se que os jovens encontravam-se desamparados sem direito agrave

educaccedilatildeo de qualidade sauacutede habitaccedilatildeo e seguranccedila expostos a realidade do

crime iniciavam diversas praacuteticas de atos infracionais

Manuel Augusto Vieira Neto (RT 181491 1949) em excelente dissertaccedilatildeo

estabelece que

A personalidade humana natildeo surge completa () a personalidade vai

num crescente desabrochar e a vida pode ser dividida em periacuteodos

mais ou menos definidos segundo os estaacutedios do desenvolvimento

fiacutesico e mental E foi ao seacuteculo XIX que se apresentou o problema dos

menores com redobradas dificuldades Vaacuterias causas concorriam o

notaacutevel desenvolvimento das induacutestrias a formaccedilatildeo das grandes

populaccedilotildees urbanas o trabalho fora do lar agrave competiccedilatildeo feminina o

afrouxamento dos laccedilos familiares e as consequecircncias dessas

mutaccedilotildees logo se fizeram sentir abandono fiacutesico e moral da infacircncia

e o corolaacuterio natural aumento de criminalidade

Neste aspecto Norberto Bobbio em seu livro A Era dos Direitos (1992 p 19)

afirma que ldquoo direito constitui-se de uma classe variaacutevel que se modifica e continua a

se modificar com a mudanccedila das condiccedilotildees histoacutericas O que parece fundamental

numa eacutepoca histoacuterica e numa determinada civilizaccedilatildeo natildeo eacute fundamental em outras

eacutepocas e em outras culturasrdquo Entretanto o grande problema atual natildeo eacute justificar os

direitos que um cidadatildeo possui mas sim o de protegecirc-los Destarte em 20 de

novembro de 1959 proclamou-se a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos da Crianccedila

estabelecendo proteccedilatildeo integral agrave crianccedila e o adolescente como sujeitos de direito

Ou seja a crianccedila deixou de ser vista como mero objeto de proteccedilatildeo para ser

alcanccedilada como sujeito de direitos

Por outro lado assegurar um desenvolvimento tranquilo para estes adolescentes

proporcionando condiccedilotildees para uma iacutentegra formaccedilatildeo moral e intelectual eacute uma

incumbecircncia difiacutecil diante do complexo quadro social brasileiro vivenciado

atualmente onde muacuteltiplas e graves causas vecircm sendo analisadas ao longo dos

uacuteltimos anos como a crise da famiacutelia a precariedade do sistema educacional o

15

ambiente social favorecendo a permissividade das condutas em todos os seus

aspectos e a falta de eacutetica em todos os seus aspectos (pessoal familiar social e

poliacutetico) Maria Garcia livre-docente pela PUC-SP (2008) afirma que ldquoas notiacutecias

demonstram que quer nas classes meacutedia e alta quer nas classes destituiacutedas a

delinquecircncia se demonstra ativa com idecircntico grau de violecircnciardquo Assim verifica-se

o papel primordial da famiacutelia visto que os pais mais perniciosos satildeo exatamente os

que associam os filhos a essa recusa de enfrentar a realidade isso porque assim

como a famiacutelia eacute o ponto de partida do crime a famiacutelia tambeacutem eacute o ponto de retorno

do infrator Destarte se a famiacutelia encontra-se desestruturada dificilmente o jovem iraacute

se ressocializar

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada

A jurisdiccedilatildeo consiste ainda numa atividade puacuteblica monopoacutelio do Poder Judiciaacuterio

Embora haja decisatildeo de contenciosos administrativos estas natildeo impedem a atuaccedilatildeo

ou exerciacutecio da atividade jurisdicional (art 5ordm XXXV CF88) Segundo Paulo Afonso

Garrido de Paula (2002 p 72)

A tutela jurisdicional consiste na proteccedilatildeo estatal aos direitos natildeo

reconhecidos espontaneamente esvaziados na sua eficaacutecia ou

dependentes de um aval Sua finalidade puacuteblica reitere-se eacute

assegurar a paz social impedindo a supremacia de forccedila ou a

constituiccedilatildeo de situaccedilotildees juriacutedicas em desacordo com a lei validando

as normas prescritivas do Estado Social definido na Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica

Com a Constituiccedilatildeo de 1988 atraveacutes do artigo 227 caput estabelecendo que

ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila

ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade o direito agrave vida

agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave

16

cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia familiar

e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a salvo de toda forma de

negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e

proteccedilatildeordquo

Reconheceu-se a possibilidade de crianccedilas e adolescentes participarem direta e

amplamente de relaccedilotildees juriacutedicas na qualidade de titulares de direitos capazes

para o exerciacutecio pessoal de direitos relacionados ao desenvolvimento saudaacutevel e de

garantias ligadas agrave integridade recebendo uma tutela jurisdicional diferenciada Ou

seja aplicando uma proteccedilatildeo amparo e auxiacutelio maior as crianccedilas e aos

adolescentes visto que trata-se de direitos especiais e especiacuteficos pela condiccedilatildeo de

pessoas em desenvolvimento Segundo Afonso Garrido (2002) ldquoo fundamento

objetivo da tutela jurisdicional diferenciada devida agrave crianccedila e ao adolescente reside

na existecircncia de um microssistema de distribuiccedilatildeo de justiccedila introduzido por lei

especialrdquo Neste sentido aborda que a tutela jurisdicional diferenciada ldquose revela

notadamente pela disciplina especial do acesso aacute justiccedila conjunto de regras que

compotildeem o Tiacutetulo VI do Livro II da Lei 806990 ou seja do Estatuto da Crianccedila e

do Adolescenterdquo

13 Ato Infracional

Conforme o artigo 103 do ECA ato infracional eacute a conduta descrita como crime ou

contravenccedilatildeo penal ou seja eacute a conduta que viola as normas previstas no

ordenamento juriacutedico Logo tem-se que o menor de 18 anos ndash inimputaacutevel natildeo

pratica infraccedilatildeo penal mas sim ato infracional Destarte por serem inimputaacuteveis

natildeo estatildeo sujeitos agrave responsabilidade penal devendo ser submetidos a medidas de

proteccedilatildeo (se forem crianccedilas) ou a medidas socioeducativas (se tratar-se de

adolescentes) Podendo ainda ser submetido aacutes duas no caso de adolescentes

Sob o aspecto conceitual considera-se crianccedila1 aquele que nasceu com vida ateacute

os doze anos de idade incompletos e o ECA protege a crianccedila conforme estabelece

o artigo 101 da lei especial onde estas jamais poderatildeo se submeter a Medidas 1 Conceito de Thales Taacutecito Cerqueira no livro Manual do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash

Teoria e Praacutetica Impetus 2010

17

Socioeducativas dispostas no artigo 112 O autor ainda estabelece o conceito de

adolescente como ldquoaquele que tem de doze anos completos ateacute dezoito

incompletos Destarte o ECA prevecirc a proteccedilatildeo e procedimento especial para esse

adolescente que pratica algum ato infracional conforme o disposto no artigo 112

Posteriormente o artigo 110 do mesmo Estatuto estabelece que ldquoNenhum

adolescente seraacute privado de sua liberdade sem o devido processo legalrdquo Logo somente

eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo de medidas mais incisivas em especial a internaccedilatildeo (artigo 112

inciso VI do ECA) quando haacute prova cabal firme completa induvidosa e tambeacutem

coerente Sendo que o regime de semiliberdade (artigo 112 inciso V do ECA) e da

liberdade assistida (artigo 112 inciso IV do ECA) podem ser recomendaacuteveis em muitas

hipoacuteteses na medida em que a segregaccedilatildeo (internaccedilatildeo) constitui exceccedilatildeo e deve ser

evitada a todo custo

II Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente trata-se de um conjunto de normas com a

finalidade de instituir a proteccedilatildeo integral ao adolescente em prioridade absoluta

(arts 227 caput da Constituiccedilatildeo Federal e 4deg do ECA) Consequentemente com a

finalidade de garantir o pleno desenvolvimento do adolescente nas questotildees morais

eacuteticas e religiosas

Segundo Afonso Garrido (2002 p 83)

Como as principais relaccedilotildees juriacutedicas entre o mundo infanto-juvenil e

o mundo adulto encontram-se disciplinadas em um microssistema

criado pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente a elas satildeo

aplicaacuteveis agraves normas do Coacutedigo Civil do Coacutedigo de Processo Civil

etc Quando houver lacuna no Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

e mesmo assim se natildeo forem incompatiacuteveis com os seus princiacutepios

fundamentais

18

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

2

CAMILA SILVA CAcircNDIDO

PERFIL SOCIOECONOcircMICO JURIacuteDICO E RELIGIOSO DO MENOR

INFRATOR EM ASSIS

Pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica apresentada ao

Departamento do Curso de Direito do Instituto Municipal de

Ensino Superior de Assis - IMESA e agrave Fundaccedilatildeo

Educacional do Municiacutepio de Assis ndash FEMA

Orientanda Camila Silva Cacircndido

Orientador Professor Me Claacuteudio Joseacute Palma Sanchez

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Ciecircncias Sociais e Aplicadas

FEMA ndash FUNDACcedilAtildeO EDUCACIONAL DO MUNICIacutePIO DE ASSIS

Assis

2014

3

FICHA CATALOGRAacuteFICA

CAcircNDIDO Camila Silva

Perfil socioeconocircmico juriacutedico e religioso do menor infrator em Assis Camila Silva

Cacircndido Fundaccedilatildeo Educacional do Municiacutepio de Assis-FEMA - Assis 2014

34 paacuteginas

Orientador Claacuteudio Joseacute Palma Sanchez

Pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ndash Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis ndash

IMESA

1 Adolescente 2 Infrator 3 Municiacutepio 4 Poliacuteticas Puacuteblicas

CDD 340

Biblioteca da FEMA

4

PERFIL SOCIOECONOcircMICO JURIacuteDICO E RELIGIOSO DO MENOR

INFRATOR EM ASSIS

CAMILA SILVA CAcircNDIDO

Pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica apresentada ao Instituto

Municipal de Ensino Superior de Assis - IMESA e a

Fundaccedilatildeo Educacional do Municiacutepio de Assis ndash FEMA

Orientador Prof Me Claacuteudio Joseacute Palma Sanchez _________________________

Analisador (a) ________________________________________

Assis

2014

5

Dedicatoacuteria

Aos meus familiares Adenir e Faacutetima por sempre

acreditarem neste projeto agrave minha irmatilde Laura

por sempre estar ao meu lado nos momentos

mais difiacuteceis Ao mestre e professor querido

Claacuteudio Sanchez pelo incentivo e por ensinar

com excelecircncia a ciecircncia do Direito Penal

6

ldquoTenho a impressatildeo de ter sido uma crianccedila brincando agrave

beira-mar divertindo-me em descobrir uma pedrinha

mais lisa ou uma concha mais bonita que as outras

enquanto o imenso oceano de verdade continua

misterioso diante dos meus olhosrdquo

Isaac Newton

A crianccedila eacute o elo mais fraco e exposto da cadeia social

Se um paiacutes eacute uma aacutervore a crianccedila eacute um fruto E estaacute

para o progresso social e econocircmico como a semente

para a plantaccedilatildeo Nenhuma naccedilatildeo conseguiu progredir

sem investir na educaccedilatildeo o que significa investir na

infacircncia E isto por um motivo bem simples ningueacutem

planta nada se natildeo tiver uma semente E aacutervores doentes

natildeo datildeo bons frutos A viagem pelo conhecimento da

infacircncia eacute a viagem pelas profundezas de uma naccedilatildeo

Gilberto Dimenstein

7

RESUMO

O presente trabalho aborda a questatildeo da estrutura social econocircmica juriacutedica e

religiosa do adolescente infrator principalmente relacionado agraves medidas e poliacuteticas

puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio visando combater os elevados iacutendices de

adolescentes reincidentes na medida de internaccedilatildeo e construir projetos de accedilatildeo

promovendo a inclusatildeo dos jovens

Palavras-chaves Adolescente Infrator Municiacutepio Poliacuteticas Puacuteblicas

8

ABSTRACT

This paper addresses the issue of social structure economic legal and religious

adolescent offender mainly related to public policies and measures adopted by the

municipality to combat the high levels of repeat adolescents in detention procedure

and build action projects promoting inclusion of young people

Keywords Adolescents Offender Municipio Public Policy

9

LISTA DE ABREVIATURAS E CIGLAS

ECA Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

MP Ministeacuterio Puacuteblico

P Paacutegina

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiccedila

10

LISTA DE TABELA

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo Jovem em Assis23

11

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO12

1 ndash O PROBLEMA DO MENOR INFRATOR NO BRASIL13

11 Aspectos Sociais13

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada15

13 Ato Infracional16

2 ndash ESTATUTO DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE17

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA18

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Socioeducativas 18

221 Medidas pertinentes aos Paisresponsaacuteveis21

3 ndash A APLICACcedilAtildeO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NA CIDADE DE

ASSIS22

31 Consideraccedilotildees Gerais22

32 Perfil Socioeconocircmico24

32 1 Perfil Juriacutedico25

322 Perfil Religioso26

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS27

REFEREcircNCIAS29

ANEXOS32

12

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho busca analisar a estrutura social econocircmica juriacutedica e religiosa

do adolescente infrator buscando identificar o padratildeo das relaccedilotildees familiares bem

como os atos infracionais praticados Nos termos de dispositivo constitucional (art

228 e regra geral de direito penal) os adolescentes infratores satildeo considerados

penalmente inimputaacuteveis

Facilmente se constata que satildeo adolescentes que pertencem a famiacutelias de baixa

renda desestruturadas e que dificilmente se ressocializam atraveacutes das medidas

socioeducativas que satildeo aplicadas gerando inuacutemeros debates acerca desta

situaccedilatildeo Neste sentido faz-se uma anaacutelise das medidas socioeducativas previstas

na legislaccedilatildeo especial vigente o chamado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

regulamentado pela Lei 80691990 diploma que visa garantir a proteccedilatildeo integral agrave

crianccedila e o adolescente regulando o preceito do artigo 227 da Constituiccedilatildeo Federal

Nessas condiccedilotildees o Estatuto assegura todas as oportunidades e facilidades para

um bom desenvolvimento fiacutesico mental moral e social dos menores e

posteriormente aplicando as medidas necessaacuterias para os que cometem atos

infracionais respeitando o previsto na legislaccedilatildeo

No entanto de uma forma ou de outra a delinquecircncia infanto-juvenil tem crescido

desmesuradamente em diversas cidades do Brasil ultrapassando seus limites

Assim os estudos sobre a violecircncia e o adolescente infrator tem o compromisso natildeo

soacute de transformar a ldquoconsciecircnciardquo em geral mas tambeacutem de orientar projetos de

accedilatildeo de forma a combater esse grave problema social Destarte considerando o

elevado iacutendice de adolescentes envolvidos com a criminalidade bem como a

complexidade acerca da delinquecircncia infanto-juvenil a pesquisa tem o objetivo de

tipificar o perfil do adolescente infrator em Assis propondo uma reflexatildeo acerca das

poliacuteticas puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio

13

1 ndash O Problema do Menor Infrator no Brasil

Neste primeiro capiacutetulo busca-se analisar a questatildeo do adolescente infrator no

Brasil Apresentando os aspectos sociais bem como a tutela jurisdicional

diferenciada que eacute aplicada e posteriormente viabilizando um panorama geral

acerca dos atos infracionais praticados

11 Aspectos Sociais

Nos primoacuterdios da sociedade as crianccedilas e os adolescentes natildeo possuiacuteam

garantia de direitos e proteccedilatildeo legal eram tratadas de forma lsquocruelrsquo sem dignidade e

respeito A palavra menor em seu sentido teacutecnico-juriacutedico no dicionaacuterio de Plaacutecido e

Silva (1982) ldquodesigna a pessoa que natildeo tenha atingido a maioridaderdquo ou ainda

aquele ldquoque natildeo atingiu a idade legal para que se considere maior e capazrdquo No

entanto ao longo do trabalho seraacute utilizada a expressatildeo adolescente infrator visto

que o termo ldquomenor infratorrdquo refere-se agrave expressatildeo pejorativa natildeo utilizada pelos

doutrinadores da aacuterea da infacircncia e juventude

Segundo Haim Grunspun (2000) ldquoas crianccedilas durante toda a histoacuteria humana

sempre trabalhavam junto agraves suas famiacutelias e tribos natildeo havendo distinccedilatildeo entre elas

e os adultos com quem conviviam praticando accedilotildees iguais aos adultos dentro de

suas capacidadesrdquo Neste sentido Minharro (2003 p 15) enfatiza que

ldquoEntre os egiacutepcios no periacuteodo das dinastias XII a XX todos os

cidadatildeos tinham a obrigaccedilatildeo do trabalho sem qualquer distinccedilatildeo ou

proteccedilatildeo especial estando assim os menores submetidos ao regime

aplicaacutevel a todos desde que jaacute possuiacutessem algum desenvolvimento

fiacutesico Em Roma e na Greacutecia antigas com a licitude da escravatura

os filhos dos escravos pertenciam aos amos ou senhores

trabalhando para estes sem qualquer remuneraccedilatildeo Por volta do

seacuteculo XVIII houve o crescimento da utilizaccedilatildeo da matildeo de obra

infantil onde as crianccedilas oacuterfatildes e de famiacutelias sem as miacutenimas

condiccedilotildees trabalhavam em troca de alimentaccedilatildeo Assim com o

surgimento das induacutestrias e avanccedilos da tecnologia tambeacutem surgiu a

problemaacutetica de crianccedilas envolvidas com a marginalidade decorrente

da maacute-distribuiccedilatildeo de renda da falta de emprego da falta de

14

assistecircncia familiar como o abandono maus-tratos e do proacuteprio

Estado pela ineficiecircncia das poliacuteticas adotadasrdquo

Logo verificou-se que os jovens encontravam-se desamparados sem direito agrave

educaccedilatildeo de qualidade sauacutede habitaccedilatildeo e seguranccedila expostos a realidade do

crime iniciavam diversas praacuteticas de atos infracionais

Manuel Augusto Vieira Neto (RT 181491 1949) em excelente dissertaccedilatildeo

estabelece que

A personalidade humana natildeo surge completa () a personalidade vai

num crescente desabrochar e a vida pode ser dividida em periacuteodos

mais ou menos definidos segundo os estaacutedios do desenvolvimento

fiacutesico e mental E foi ao seacuteculo XIX que se apresentou o problema dos

menores com redobradas dificuldades Vaacuterias causas concorriam o

notaacutevel desenvolvimento das induacutestrias a formaccedilatildeo das grandes

populaccedilotildees urbanas o trabalho fora do lar agrave competiccedilatildeo feminina o

afrouxamento dos laccedilos familiares e as consequecircncias dessas

mutaccedilotildees logo se fizeram sentir abandono fiacutesico e moral da infacircncia

e o corolaacuterio natural aumento de criminalidade

Neste aspecto Norberto Bobbio em seu livro A Era dos Direitos (1992 p 19)

afirma que ldquoo direito constitui-se de uma classe variaacutevel que se modifica e continua a

se modificar com a mudanccedila das condiccedilotildees histoacutericas O que parece fundamental

numa eacutepoca histoacuterica e numa determinada civilizaccedilatildeo natildeo eacute fundamental em outras

eacutepocas e em outras culturasrdquo Entretanto o grande problema atual natildeo eacute justificar os

direitos que um cidadatildeo possui mas sim o de protegecirc-los Destarte em 20 de

novembro de 1959 proclamou-se a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos da Crianccedila

estabelecendo proteccedilatildeo integral agrave crianccedila e o adolescente como sujeitos de direito

Ou seja a crianccedila deixou de ser vista como mero objeto de proteccedilatildeo para ser

alcanccedilada como sujeito de direitos

Por outro lado assegurar um desenvolvimento tranquilo para estes adolescentes

proporcionando condiccedilotildees para uma iacutentegra formaccedilatildeo moral e intelectual eacute uma

incumbecircncia difiacutecil diante do complexo quadro social brasileiro vivenciado

atualmente onde muacuteltiplas e graves causas vecircm sendo analisadas ao longo dos

uacuteltimos anos como a crise da famiacutelia a precariedade do sistema educacional o

15

ambiente social favorecendo a permissividade das condutas em todos os seus

aspectos e a falta de eacutetica em todos os seus aspectos (pessoal familiar social e

poliacutetico) Maria Garcia livre-docente pela PUC-SP (2008) afirma que ldquoas notiacutecias

demonstram que quer nas classes meacutedia e alta quer nas classes destituiacutedas a

delinquecircncia se demonstra ativa com idecircntico grau de violecircnciardquo Assim verifica-se

o papel primordial da famiacutelia visto que os pais mais perniciosos satildeo exatamente os

que associam os filhos a essa recusa de enfrentar a realidade isso porque assim

como a famiacutelia eacute o ponto de partida do crime a famiacutelia tambeacutem eacute o ponto de retorno

do infrator Destarte se a famiacutelia encontra-se desestruturada dificilmente o jovem iraacute

se ressocializar

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada

A jurisdiccedilatildeo consiste ainda numa atividade puacuteblica monopoacutelio do Poder Judiciaacuterio

Embora haja decisatildeo de contenciosos administrativos estas natildeo impedem a atuaccedilatildeo

ou exerciacutecio da atividade jurisdicional (art 5ordm XXXV CF88) Segundo Paulo Afonso

Garrido de Paula (2002 p 72)

A tutela jurisdicional consiste na proteccedilatildeo estatal aos direitos natildeo

reconhecidos espontaneamente esvaziados na sua eficaacutecia ou

dependentes de um aval Sua finalidade puacuteblica reitere-se eacute

assegurar a paz social impedindo a supremacia de forccedila ou a

constituiccedilatildeo de situaccedilotildees juriacutedicas em desacordo com a lei validando

as normas prescritivas do Estado Social definido na Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica

Com a Constituiccedilatildeo de 1988 atraveacutes do artigo 227 caput estabelecendo que

ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila

ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade o direito agrave vida

agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave

16

cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia familiar

e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a salvo de toda forma de

negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e

proteccedilatildeordquo

Reconheceu-se a possibilidade de crianccedilas e adolescentes participarem direta e

amplamente de relaccedilotildees juriacutedicas na qualidade de titulares de direitos capazes

para o exerciacutecio pessoal de direitos relacionados ao desenvolvimento saudaacutevel e de

garantias ligadas agrave integridade recebendo uma tutela jurisdicional diferenciada Ou

seja aplicando uma proteccedilatildeo amparo e auxiacutelio maior as crianccedilas e aos

adolescentes visto que trata-se de direitos especiais e especiacuteficos pela condiccedilatildeo de

pessoas em desenvolvimento Segundo Afonso Garrido (2002) ldquoo fundamento

objetivo da tutela jurisdicional diferenciada devida agrave crianccedila e ao adolescente reside

na existecircncia de um microssistema de distribuiccedilatildeo de justiccedila introduzido por lei

especialrdquo Neste sentido aborda que a tutela jurisdicional diferenciada ldquose revela

notadamente pela disciplina especial do acesso aacute justiccedila conjunto de regras que

compotildeem o Tiacutetulo VI do Livro II da Lei 806990 ou seja do Estatuto da Crianccedila e

do Adolescenterdquo

13 Ato Infracional

Conforme o artigo 103 do ECA ato infracional eacute a conduta descrita como crime ou

contravenccedilatildeo penal ou seja eacute a conduta que viola as normas previstas no

ordenamento juriacutedico Logo tem-se que o menor de 18 anos ndash inimputaacutevel natildeo

pratica infraccedilatildeo penal mas sim ato infracional Destarte por serem inimputaacuteveis

natildeo estatildeo sujeitos agrave responsabilidade penal devendo ser submetidos a medidas de

proteccedilatildeo (se forem crianccedilas) ou a medidas socioeducativas (se tratar-se de

adolescentes) Podendo ainda ser submetido aacutes duas no caso de adolescentes

Sob o aspecto conceitual considera-se crianccedila1 aquele que nasceu com vida ateacute

os doze anos de idade incompletos e o ECA protege a crianccedila conforme estabelece

o artigo 101 da lei especial onde estas jamais poderatildeo se submeter a Medidas 1 Conceito de Thales Taacutecito Cerqueira no livro Manual do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash

Teoria e Praacutetica Impetus 2010

17

Socioeducativas dispostas no artigo 112 O autor ainda estabelece o conceito de

adolescente como ldquoaquele que tem de doze anos completos ateacute dezoito

incompletos Destarte o ECA prevecirc a proteccedilatildeo e procedimento especial para esse

adolescente que pratica algum ato infracional conforme o disposto no artigo 112

Posteriormente o artigo 110 do mesmo Estatuto estabelece que ldquoNenhum

adolescente seraacute privado de sua liberdade sem o devido processo legalrdquo Logo somente

eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo de medidas mais incisivas em especial a internaccedilatildeo (artigo 112

inciso VI do ECA) quando haacute prova cabal firme completa induvidosa e tambeacutem

coerente Sendo que o regime de semiliberdade (artigo 112 inciso V do ECA) e da

liberdade assistida (artigo 112 inciso IV do ECA) podem ser recomendaacuteveis em muitas

hipoacuteteses na medida em que a segregaccedilatildeo (internaccedilatildeo) constitui exceccedilatildeo e deve ser

evitada a todo custo

II Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente trata-se de um conjunto de normas com a

finalidade de instituir a proteccedilatildeo integral ao adolescente em prioridade absoluta

(arts 227 caput da Constituiccedilatildeo Federal e 4deg do ECA) Consequentemente com a

finalidade de garantir o pleno desenvolvimento do adolescente nas questotildees morais

eacuteticas e religiosas

Segundo Afonso Garrido (2002 p 83)

Como as principais relaccedilotildees juriacutedicas entre o mundo infanto-juvenil e

o mundo adulto encontram-se disciplinadas em um microssistema

criado pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente a elas satildeo

aplicaacuteveis agraves normas do Coacutedigo Civil do Coacutedigo de Processo Civil

etc Quando houver lacuna no Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

e mesmo assim se natildeo forem incompatiacuteveis com os seus princiacutepios

fundamentais

18

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

3

FICHA CATALOGRAacuteFICA

CAcircNDIDO Camila Silva

Perfil socioeconocircmico juriacutedico e religioso do menor infrator em Assis Camila Silva

Cacircndido Fundaccedilatildeo Educacional do Municiacutepio de Assis-FEMA - Assis 2014

34 paacuteginas

Orientador Claacuteudio Joseacute Palma Sanchez

Pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ndash Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis ndash

IMESA

1 Adolescente 2 Infrator 3 Municiacutepio 4 Poliacuteticas Puacuteblicas

CDD 340

Biblioteca da FEMA

4

PERFIL SOCIOECONOcircMICO JURIacuteDICO E RELIGIOSO DO MENOR

INFRATOR EM ASSIS

CAMILA SILVA CAcircNDIDO

Pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica apresentada ao Instituto

Municipal de Ensino Superior de Assis - IMESA e a

Fundaccedilatildeo Educacional do Municiacutepio de Assis ndash FEMA

Orientador Prof Me Claacuteudio Joseacute Palma Sanchez _________________________

Analisador (a) ________________________________________

Assis

2014

5

Dedicatoacuteria

Aos meus familiares Adenir e Faacutetima por sempre

acreditarem neste projeto agrave minha irmatilde Laura

por sempre estar ao meu lado nos momentos

mais difiacuteceis Ao mestre e professor querido

Claacuteudio Sanchez pelo incentivo e por ensinar

com excelecircncia a ciecircncia do Direito Penal

6

ldquoTenho a impressatildeo de ter sido uma crianccedila brincando agrave

beira-mar divertindo-me em descobrir uma pedrinha

mais lisa ou uma concha mais bonita que as outras

enquanto o imenso oceano de verdade continua

misterioso diante dos meus olhosrdquo

Isaac Newton

A crianccedila eacute o elo mais fraco e exposto da cadeia social

Se um paiacutes eacute uma aacutervore a crianccedila eacute um fruto E estaacute

para o progresso social e econocircmico como a semente

para a plantaccedilatildeo Nenhuma naccedilatildeo conseguiu progredir

sem investir na educaccedilatildeo o que significa investir na

infacircncia E isto por um motivo bem simples ningueacutem

planta nada se natildeo tiver uma semente E aacutervores doentes

natildeo datildeo bons frutos A viagem pelo conhecimento da

infacircncia eacute a viagem pelas profundezas de uma naccedilatildeo

Gilberto Dimenstein

7

RESUMO

O presente trabalho aborda a questatildeo da estrutura social econocircmica juriacutedica e

religiosa do adolescente infrator principalmente relacionado agraves medidas e poliacuteticas

puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio visando combater os elevados iacutendices de

adolescentes reincidentes na medida de internaccedilatildeo e construir projetos de accedilatildeo

promovendo a inclusatildeo dos jovens

Palavras-chaves Adolescente Infrator Municiacutepio Poliacuteticas Puacuteblicas

8

ABSTRACT

This paper addresses the issue of social structure economic legal and religious

adolescent offender mainly related to public policies and measures adopted by the

municipality to combat the high levels of repeat adolescents in detention procedure

and build action projects promoting inclusion of young people

Keywords Adolescents Offender Municipio Public Policy

9

LISTA DE ABREVIATURAS E CIGLAS

ECA Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

MP Ministeacuterio Puacuteblico

P Paacutegina

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiccedila

10

LISTA DE TABELA

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo Jovem em Assis23

11

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO12

1 ndash O PROBLEMA DO MENOR INFRATOR NO BRASIL13

11 Aspectos Sociais13

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada15

13 Ato Infracional16

2 ndash ESTATUTO DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE17

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA18

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Socioeducativas 18

221 Medidas pertinentes aos Paisresponsaacuteveis21

3 ndash A APLICACcedilAtildeO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NA CIDADE DE

ASSIS22

31 Consideraccedilotildees Gerais22

32 Perfil Socioeconocircmico24

32 1 Perfil Juriacutedico25

322 Perfil Religioso26

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS27

REFEREcircNCIAS29

ANEXOS32

12

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho busca analisar a estrutura social econocircmica juriacutedica e religiosa

do adolescente infrator buscando identificar o padratildeo das relaccedilotildees familiares bem

como os atos infracionais praticados Nos termos de dispositivo constitucional (art

228 e regra geral de direito penal) os adolescentes infratores satildeo considerados

penalmente inimputaacuteveis

Facilmente se constata que satildeo adolescentes que pertencem a famiacutelias de baixa

renda desestruturadas e que dificilmente se ressocializam atraveacutes das medidas

socioeducativas que satildeo aplicadas gerando inuacutemeros debates acerca desta

situaccedilatildeo Neste sentido faz-se uma anaacutelise das medidas socioeducativas previstas

na legislaccedilatildeo especial vigente o chamado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

regulamentado pela Lei 80691990 diploma que visa garantir a proteccedilatildeo integral agrave

crianccedila e o adolescente regulando o preceito do artigo 227 da Constituiccedilatildeo Federal

Nessas condiccedilotildees o Estatuto assegura todas as oportunidades e facilidades para

um bom desenvolvimento fiacutesico mental moral e social dos menores e

posteriormente aplicando as medidas necessaacuterias para os que cometem atos

infracionais respeitando o previsto na legislaccedilatildeo

No entanto de uma forma ou de outra a delinquecircncia infanto-juvenil tem crescido

desmesuradamente em diversas cidades do Brasil ultrapassando seus limites

Assim os estudos sobre a violecircncia e o adolescente infrator tem o compromisso natildeo

soacute de transformar a ldquoconsciecircnciardquo em geral mas tambeacutem de orientar projetos de

accedilatildeo de forma a combater esse grave problema social Destarte considerando o

elevado iacutendice de adolescentes envolvidos com a criminalidade bem como a

complexidade acerca da delinquecircncia infanto-juvenil a pesquisa tem o objetivo de

tipificar o perfil do adolescente infrator em Assis propondo uma reflexatildeo acerca das

poliacuteticas puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio

13

1 ndash O Problema do Menor Infrator no Brasil

Neste primeiro capiacutetulo busca-se analisar a questatildeo do adolescente infrator no

Brasil Apresentando os aspectos sociais bem como a tutela jurisdicional

diferenciada que eacute aplicada e posteriormente viabilizando um panorama geral

acerca dos atos infracionais praticados

11 Aspectos Sociais

Nos primoacuterdios da sociedade as crianccedilas e os adolescentes natildeo possuiacuteam

garantia de direitos e proteccedilatildeo legal eram tratadas de forma lsquocruelrsquo sem dignidade e

respeito A palavra menor em seu sentido teacutecnico-juriacutedico no dicionaacuterio de Plaacutecido e

Silva (1982) ldquodesigna a pessoa que natildeo tenha atingido a maioridaderdquo ou ainda

aquele ldquoque natildeo atingiu a idade legal para que se considere maior e capazrdquo No

entanto ao longo do trabalho seraacute utilizada a expressatildeo adolescente infrator visto

que o termo ldquomenor infratorrdquo refere-se agrave expressatildeo pejorativa natildeo utilizada pelos

doutrinadores da aacuterea da infacircncia e juventude

Segundo Haim Grunspun (2000) ldquoas crianccedilas durante toda a histoacuteria humana

sempre trabalhavam junto agraves suas famiacutelias e tribos natildeo havendo distinccedilatildeo entre elas

e os adultos com quem conviviam praticando accedilotildees iguais aos adultos dentro de

suas capacidadesrdquo Neste sentido Minharro (2003 p 15) enfatiza que

ldquoEntre os egiacutepcios no periacuteodo das dinastias XII a XX todos os

cidadatildeos tinham a obrigaccedilatildeo do trabalho sem qualquer distinccedilatildeo ou

proteccedilatildeo especial estando assim os menores submetidos ao regime

aplicaacutevel a todos desde que jaacute possuiacutessem algum desenvolvimento

fiacutesico Em Roma e na Greacutecia antigas com a licitude da escravatura

os filhos dos escravos pertenciam aos amos ou senhores

trabalhando para estes sem qualquer remuneraccedilatildeo Por volta do

seacuteculo XVIII houve o crescimento da utilizaccedilatildeo da matildeo de obra

infantil onde as crianccedilas oacuterfatildes e de famiacutelias sem as miacutenimas

condiccedilotildees trabalhavam em troca de alimentaccedilatildeo Assim com o

surgimento das induacutestrias e avanccedilos da tecnologia tambeacutem surgiu a

problemaacutetica de crianccedilas envolvidas com a marginalidade decorrente

da maacute-distribuiccedilatildeo de renda da falta de emprego da falta de

14

assistecircncia familiar como o abandono maus-tratos e do proacuteprio

Estado pela ineficiecircncia das poliacuteticas adotadasrdquo

Logo verificou-se que os jovens encontravam-se desamparados sem direito agrave

educaccedilatildeo de qualidade sauacutede habitaccedilatildeo e seguranccedila expostos a realidade do

crime iniciavam diversas praacuteticas de atos infracionais

Manuel Augusto Vieira Neto (RT 181491 1949) em excelente dissertaccedilatildeo

estabelece que

A personalidade humana natildeo surge completa () a personalidade vai

num crescente desabrochar e a vida pode ser dividida em periacuteodos

mais ou menos definidos segundo os estaacutedios do desenvolvimento

fiacutesico e mental E foi ao seacuteculo XIX que se apresentou o problema dos

menores com redobradas dificuldades Vaacuterias causas concorriam o

notaacutevel desenvolvimento das induacutestrias a formaccedilatildeo das grandes

populaccedilotildees urbanas o trabalho fora do lar agrave competiccedilatildeo feminina o

afrouxamento dos laccedilos familiares e as consequecircncias dessas

mutaccedilotildees logo se fizeram sentir abandono fiacutesico e moral da infacircncia

e o corolaacuterio natural aumento de criminalidade

Neste aspecto Norberto Bobbio em seu livro A Era dos Direitos (1992 p 19)

afirma que ldquoo direito constitui-se de uma classe variaacutevel que se modifica e continua a

se modificar com a mudanccedila das condiccedilotildees histoacutericas O que parece fundamental

numa eacutepoca histoacuterica e numa determinada civilizaccedilatildeo natildeo eacute fundamental em outras

eacutepocas e em outras culturasrdquo Entretanto o grande problema atual natildeo eacute justificar os

direitos que um cidadatildeo possui mas sim o de protegecirc-los Destarte em 20 de

novembro de 1959 proclamou-se a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos da Crianccedila

estabelecendo proteccedilatildeo integral agrave crianccedila e o adolescente como sujeitos de direito

Ou seja a crianccedila deixou de ser vista como mero objeto de proteccedilatildeo para ser

alcanccedilada como sujeito de direitos

Por outro lado assegurar um desenvolvimento tranquilo para estes adolescentes

proporcionando condiccedilotildees para uma iacutentegra formaccedilatildeo moral e intelectual eacute uma

incumbecircncia difiacutecil diante do complexo quadro social brasileiro vivenciado

atualmente onde muacuteltiplas e graves causas vecircm sendo analisadas ao longo dos

uacuteltimos anos como a crise da famiacutelia a precariedade do sistema educacional o

15

ambiente social favorecendo a permissividade das condutas em todos os seus

aspectos e a falta de eacutetica em todos os seus aspectos (pessoal familiar social e

poliacutetico) Maria Garcia livre-docente pela PUC-SP (2008) afirma que ldquoas notiacutecias

demonstram que quer nas classes meacutedia e alta quer nas classes destituiacutedas a

delinquecircncia se demonstra ativa com idecircntico grau de violecircnciardquo Assim verifica-se

o papel primordial da famiacutelia visto que os pais mais perniciosos satildeo exatamente os

que associam os filhos a essa recusa de enfrentar a realidade isso porque assim

como a famiacutelia eacute o ponto de partida do crime a famiacutelia tambeacutem eacute o ponto de retorno

do infrator Destarte se a famiacutelia encontra-se desestruturada dificilmente o jovem iraacute

se ressocializar

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada

A jurisdiccedilatildeo consiste ainda numa atividade puacuteblica monopoacutelio do Poder Judiciaacuterio

Embora haja decisatildeo de contenciosos administrativos estas natildeo impedem a atuaccedilatildeo

ou exerciacutecio da atividade jurisdicional (art 5ordm XXXV CF88) Segundo Paulo Afonso

Garrido de Paula (2002 p 72)

A tutela jurisdicional consiste na proteccedilatildeo estatal aos direitos natildeo

reconhecidos espontaneamente esvaziados na sua eficaacutecia ou

dependentes de um aval Sua finalidade puacuteblica reitere-se eacute

assegurar a paz social impedindo a supremacia de forccedila ou a

constituiccedilatildeo de situaccedilotildees juriacutedicas em desacordo com a lei validando

as normas prescritivas do Estado Social definido na Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica

Com a Constituiccedilatildeo de 1988 atraveacutes do artigo 227 caput estabelecendo que

ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila

ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade o direito agrave vida

agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave

16

cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia familiar

e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a salvo de toda forma de

negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e

proteccedilatildeordquo

Reconheceu-se a possibilidade de crianccedilas e adolescentes participarem direta e

amplamente de relaccedilotildees juriacutedicas na qualidade de titulares de direitos capazes

para o exerciacutecio pessoal de direitos relacionados ao desenvolvimento saudaacutevel e de

garantias ligadas agrave integridade recebendo uma tutela jurisdicional diferenciada Ou

seja aplicando uma proteccedilatildeo amparo e auxiacutelio maior as crianccedilas e aos

adolescentes visto que trata-se de direitos especiais e especiacuteficos pela condiccedilatildeo de

pessoas em desenvolvimento Segundo Afonso Garrido (2002) ldquoo fundamento

objetivo da tutela jurisdicional diferenciada devida agrave crianccedila e ao adolescente reside

na existecircncia de um microssistema de distribuiccedilatildeo de justiccedila introduzido por lei

especialrdquo Neste sentido aborda que a tutela jurisdicional diferenciada ldquose revela

notadamente pela disciplina especial do acesso aacute justiccedila conjunto de regras que

compotildeem o Tiacutetulo VI do Livro II da Lei 806990 ou seja do Estatuto da Crianccedila e

do Adolescenterdquo

13 Ato Infracional

Conforme o artigo 103 do ECA ato infracional eacute a conduta descrita como crime ou

contravenccedilatildeo penal ou seja eacute a conduta que viola as normas previstas no

ordenamento juriacutedico Logo tem-se que o menor de 18 anos ndash inimputaacutevel natildeo

pratica infraccedilatildeo penal mas sim ato infracional Destarte por serem inimputaacuteveis

natildeo estatildeo sujeitos agrave responsabilidade penal devendo ser submetidos a medidas de

proteccedilatildeo (se forem crianccedilas) ou a medidas socioeducativas (se tratar-se de

adolescentes) Podendo ainda ser submetido aacutes duas no caso de adolescentes

Sob o aspecto conceitual considera-se crianccedila1 aquele que nasceu com vida ateacute

os doze anos de idade incompletos e o ECA protege a crianccedila conforme estabelece

o artigo 101 da lei especial onde estas jamais poderatildeo se submeter a Medidas 1 Conceito de Thales Taacutecito Cerqueira no livro Manual do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash

Teoria e Praacutetica Impetus 2010

17

Socioeducativas dispostas no artigo 112 O autor ainda estabelece o conceito de

adolescente como ldquoaquele que tem de doze anos completos ateacute dezoito

incompletos Destarte o ECA prevecirc a proteccedilatildeo e procedimento especial para esse

adolescente que pratica algum ato infracional conforme o disposto no artigo 112

Posteriormente o artigo 110 do mesmo Estatuto estabelece que ldquoNenhum

adolescente seraacute privado de sua liberdade sem o devido processo legalrdquo Logo somente

eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo de medidas mais incisivas em especial a internaccedilatildeo (artigo 112

inciso VI do ECA) quando haacute prova cabal firme completa induvidosa e tambeacutem

coerente Sendo que o regime de semiliberdade (artigo 112 inciso V do ECA) e da

liberdade assistida (artigo 112 inciso IV do ECA) podem ser recomendaacuteveis em muitas

hipoacuteteses na medida em que a segregaccedilatildeo (internaccedilatildeo) constitui exceccedilatildeo e deve ser

evitada a todo custo

II Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente trata-se de um conjunto de normas com a

finalidade de instituir a proteccedilatildeo integral ao adolescente em prioridade absoluta

(arts 227 caput da Constituiccedilatildeo Federal e 4deg do ECA) Consequentemente com a

finalidade de garantir o pleno desenvolvimento do adolescente nas questotildees morais

eacuteticas e religiosas

Segundo Afonso Garrido (2002 p 83)

Como as principais relaccedilotildees juriacutedicas entre o mundo infanto-juvenil e

o mundo adulto encontram-se disciplinadas em um microssistema

criado pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente a elas satildeo

aplicaacuteveis agraves normas do Coacutedigo Civil do Coacutedigo de Processo Civil

etc Quando houver lacuna no Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

e mesmo assim se natildeo forem incompatiacuteveis com os seus princiacutepios

fundamentais

18

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

4

PERFIL SOCIOECONOcircMICO JURIacuteDICO E RELIGIOSO DO MENOR

INFRATOR EM ASSIS

CAMILA SILVA CAcircNDIDO

Pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica apresentada ao Instituto

Municipal de Ensino Superior de Assis - IMESA e a

Fundaccedilatildeo Educacional do Municiacutepio de Assis ndash FEMA

Orientador Prof Me Claacuteudio Joseacute Palma Sanchez _________________________

Analisador (a) ________________________________________

Assis

2014

5

Dedicatoacuteria

Aos meus familiares Adenir e Faacutetima por sempre

acreditarem neste projeto agrave minha irmatilde Laura

por sempre estar ao meu lado nos momentos

mais difiacuteceis Ao mestre e professor querido

Claacuteudio Sanchez pelo incentivo e por ensinar

com excelecircncia a ciecircncia do Direito Penal

6

ldquoTenho a impressatildeo de ter sido uma crianccedila brincando agrave

beira-mar divertindo-me em descobrir uma pedrinha

mais lisa ou uma concha mais bonita que as outras

enquanto o imenso oceano de verdade continua

misterioso diante dos meus olhosrdquo

Isaac Newton

A crianccedila eacute o elo mais fraco e exposto da cadeia social

Se um paiacutes eacute uma aacutervore a crianccedila eacute um fruto E estaacute

para o progresso social e econocircmico como a semente

para a plantaccedilatildeo Nenhuma naccedilatildeo conseguiu progredir

sem investir na educaccedilatildeo o que significa investir na

infacircncia E isto por um motivo bem simples ningueacutem

planta nada se natildeo tiver uma semente E aacutervores doentes

natildeo datildeo bons frutos A viagem pelo conhecimento da

infacircncia eacute a viagem pelas profundezas de uma naccedilatildeo

Gilberto Dimenstein

7

RESUMO

O presente trabalho aborda a questatildeo da estrutura social econocircmica juriacutedica e

religiosa do adolescente infrator principalmente relacionado agraves medidas e poliacuteticas

puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio visando combater os elevados iacutendices de

adolescentes reincidentes na medida de internaccedilatildeo e construir projetos de accedilatildeo

promovendo a inclusatildeo dos jovens

Palavras-chaves Adolescente Infrator Municiacutepio Poliacuteticas Puacuteblicas

8

ABSTRACT

This paper addresses the issue of social structure economic legal and religious

adolescent offender mainly related to public policies and measures adopted by the

municipality to combat the high levels of repeat adolescents in detention procedure

and build action projects promoting inclusion of young people

Keywords Adolescents Offender Municipio Public Policy

9

LISTA DE ABREVIATURAS E CIGLAS

ECA Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

MP Ministeacuterio Puacuteblico

P Paacutegina

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiccedila

10

LISTA DE TABELA

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo Jovem em Assis23

11

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO12

1 ndash O PROBLEMA DO MENOR INFRATOR NO BRASIL13

11 Aspectos Sociais13

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada15

13 Ato Infracional16

2 ndash ESTATUTO DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE17

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA18

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Socioeducativas 18

221 Medidas pertinentes aos Paisresponsaacuteveis21

3 ndash A APLICACcedilAtildeO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NA CIDADE DE

ASSIS22

31 Consideraccedilotildees Gerais22

32 Perfil Socioeconocircmico24

32 1 Perfil Juriacutedico25

322 Perfil Religioso26

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS27

REFEREcircNCIAS29

ANEXOS32

12

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho busca analisar a estrutura social econocircmica juriacutedica e religiosa

do adolescente infrator buscando identificar o padratildeo das relaccedilotildees familiares bem

como os atos infracionais praticados Nos termos de dispositivo constitucional (art

228 e regra geral de direito penal) os adolescentes infratores satildeo considerados

penalmente inimputaacuteveis

Facilmente se constata que satildeo adolescentes que pertencem a famiacutelias de baixa

renda desestruturadas e que dificilmente se ressocializam atraveacutes das medidas

socioeducativas que satildeo aplicadas gerando inuacutemeros debates acerca desta

situaccedilatildeo Neste sentido faz-se uma anaacutelise das medidas socioeducativas previstas

na legislaccedilatildeo especial vigente o chamado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

regulamentado pela Lei 80691990 diploma que visa garantir a proteccedilatildeo integral agrave

crianccedila e o adolescente regulando o preceito do artigo 227 da Constituiccedilatildeo Federal

Nessas condiccedilotildees o Estatuto assegura todas as oportunidades e facilidades para

um bom desenvolvimento fiacutesico mental moral e social dos menores e

posteriormente aplicando as medidas necessaacuterias para os que cometem atos

infracionais respeitando o previsto na legislaccedilatildeo

No entanto de uma forma ou de outra a delinquecircncia infanto-juvenil tem crescido

desmesuradamente em diversas cidades do Brasil ultrapassando seus limites

Assim os estudos sobre a violecircncia e o adolescente infrator tem o compromisso natildeo

soacute de transformar a ldquoconsciecircnciardquo em geral mas tambeacutem de orientar projetos de

accedilatildeo de forma a combater esse grave problema social Destarte considerando o

elevado iacutendice de adolescentes envolvidos com a criminalidade bem como a

complexidade acerca da delinquecircncia infanto-juvenil a pesquisa tem o objetivo de

tipificar o perfil do adolescente infrator em Assis propondo uma reflexatildeo acerca das

poliacuteticas puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio

13

1 ndash O Problema do Menor Infrator no Brasil

Neste primeiro capiacutetulo busca-se analisar a questatildeo do adolescente infrator no

Brasil Apresentando os aspectos sociais bem como a tutela jurisdicional

diferenciada que eacute aplicada e posteriormente viabilizando um panorama geral

acerca dos atos infracionais praticados

11 Aspectos Sociais

Nos primoacuterdios da sociedade as crianccedilas e os adolescentes natildeo possuiacuteam

garantia de direitos e proteccedilatildeo legal eram tratadas de forma lsquocruelrsquo sem dignidade e

respeito A palavra menor em seu sentido teacutecnico-juriacutedico no dicionaacuterio de Plaacutecido e

Silva (1982) ldquodesigna a pessoa que natildeo tenha atingido a maioridaderdquo ou ainda

aquele ldquoque natildeo atingiu a idade legal para que se considere maior e capazrdquo No

entanto ao longo do trabalho seraacute utilizada a expressatildeo adolescente infrator visto

que o termo ldquomenor infratorrdquo refere-se agrave expressatildeo pejorativa natildeo utilizada pelos

doutrinadores da aacuterea da infacircncia e juventude

Segundo Haim Grunspun (2000) ldquoas crianccedilas durante toda a histoacuteria humana

sempre trabalhavam junto agraves suas famiacutelias e tribos natildeo havendo distinccedilatildeo entre elas

e os adultos com quem conviviam praticando accedilotildees iguais aos adultos dentro de

suas capacidadesrdquo Neste sentido Minharro (2003 p 15) enfatiza que

ldquoEntre os egiacutepcios no periacuteodo das dinastias XII a XX todos os

cidadatildeos tinham a obrigaccedilatildeo do trabalho sem qualquer distinccedilatildeo ou

proteccedilatildeo especial estando assim os menores submetidos ao regime

aplicaacutevel a todos desde que jaacute possuiacutessem algum desenvolvimento

fiacutesico Em Roma e na Greacutecia antigas com a licitude da escravatura

os filhos dos escravos pertenciam aos amos ou senhores

trabalhando para estes sem qualquer remuneraccedilatildeo Por volta do

seacuteculo XVIII houve o crescimento da utilizaccedilatildeo da matildeo de obra

infantil onde as crianccedilas oacuterfatildes e de famiacutelias sem as miacutenimas

condiccedilotildees trabalhavam em troca de alimentaccedilatildeo Assim com o

surgimento das induacutestrias e avanccedilos da tecnologia tambeacutem surgiu a

problemaacutetica de crianccedilas envolvidas com a marginalidade decorrente

da maacute-distribuiccedilatildeo de renda da falta de emprego da falta de

14

assistecircncia familiar como o abandono maus-tratos e do proacuteprio

Estado pela ineficiecircncia das poliacuteticas adotadasrdquo

Logo verificou-se que os jovens encontravam-se desamparados sem direito agrave

educaccedilatildeo de qualidade sauacutede habitaccedilatildeo e seguranccedila expostos a realidade do

crime iniciavam diversas praacuteticas de atos infracionais

Manuel Augusto Vieira Neto (RT 181491 1949) em excelente dissertaccedilatildeo

estabelece que

A personalidade humana natildeo surge completa () a personalidade vai

num crescente desabrochar e a vida pode ser dividida em periacuteodos

mais ou menos definidos segundo os estaacutedios do desenvolvimento

fiacutesico e mental E foi ao seacuteculo XIX que se apresentou o problema dos

menores com redobradas dificuldades Vaacuterias causas concorriam o

notaacutevel desenvolvimento das induacutestrias a formaccedilatildeo das grandes

populaccedilotildees urbanas o trabalho fora do lar agrave competiccedilatildeo feminina o

afrouxamento dos laccedilos familiares e as consequecircncias dessas

mutaccedilotildees logo se fizeram sentir abandono fiacutesico e moral da infacircncia

e o corolaacuterio natural aumento de criminalidade

Neste aspecto Norberto Bobbio em seu livro A Era dos Direitos (1992 p 19)

afirma que ldquoo direito constitui-se de uma classe variaacutevel que se modifica e continua a

se modificar com a mudanccedila das condiccedilotildees histoacutericas O que parece fundamental

numa eacutepoca histoacuterica e numa determinada civilizaccedilatildeo natildeo eacute fundamental em outras

eacutepocas e em outras culturasrdquo Entretanto o grande problema atual natildeo eacute justificar os

direitos que um cidadatildeo possui mas sim o de protegecirc-los Destarte em 20 de

novembro de 1959 proclamou-se a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos da Crianccedila

estabelecendo proteccedilatildeo integral agrave crianccedila e o adolescente como sujeitos de direito

Ou seja a crianccedila deixou de ser vista como mero objeto de proteccedilatildeo para ser

alcanccedilada como sujeito de direitos

Por outro lado assegurar um desenvolvimento tranquilo para estes adolescentes

proporcionando condiccedilotildees para uma iacutentegra formaccedilatildeo moral e intelectual eacute uma

incumbecircncia difiacutecil diante do complexo quadro social brasileiro vivenciado

atualmente onde muacuteltiplas e graves causas vecircm sendo analisadas ao longo dos

uacuteltimos anos como a crise da famiacutelia a precariedade do sistema educacional o

15

ambiente social favorecendo a permissividade das condutas em todos os seus

aspectos e a falta de eacutetica em todos os seus aspectos (pessoal familiar social e

poliacutetico) Maria Garcia livre-docente pela PUC-SP (2008) afirma que ldquoas notiacutecias

demonstram que quer nas classes meacutedia e alta quer nas classes destituiacutedas a

delinquecircncia se demonstra ativa com idecircntico grau de violecircnciardquo Assim verifica-se

o papel primordial da famiacutelia visto que os pais mais perniciosos satildeo exatamente os

que associam os filhos a essa recusa de enfrentar a realidade isso porque assim

como a famiacutelia eacute o ponto de partida do crime a famiacutelia tambeacutem eacute o ponto de retorno

do infrator Destarte se a famiacutelia encontra-se desestruturada dificilmente o jovem iraacute

se ressocializar

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada

A jurisdiccedilatildeo consiste ainda numa atividade puacuteblica monopoacutelio do Poder Judiciaacuterio

Embora haja decisatildeo de contenciosos administrativos estas natildeo impedem a atuaccedilatildeo

ou exerciacutecio da atividade jurisdicional (art 5ordm XXXV CF88) Segundo Paulo Afonso

Garrido de Paula (2002 p 72)

A tutela jurisdicional consiste na proteccedilatildeo estatal aos direitos natildeo

reconhecidos espontaneamente esvaziados na sua eficaacutecia ou

dependentes de um aval Sua finalidade puacuteblica reitere-se eacute

assegurar a paz social impedindo a supremacia de forccedila ou a

constituiccedilatildeo de situaccedilotildees juriacutedicas em desacordo com a lei validando

as normas prescritivas do Estado Social definido na Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica

Com a Constituiccedilatildeo de 1988 atraveacutes do artigo 227 caput estabelecendo que

ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila

ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade o direito agrave vida

agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave

16

cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia familiar

e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a salvo de toda forma de

negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e

proteccedilatildeordquo

Reconheceu-se a possibilidade de crianccedilas e adolescentes participarem direta e

amplamente de relaccedilotildees juriacutedicas na qualidade de titulares de direitos capazes

para o exerciacutecio pessoal de direitos relacionados ao desenvolvimento saudaacutevel e de

garantias ligadas agrave integridade recebendo uma tutela jurisdicional diferenciada Ou

seja aplicando uma proteccedilatildeo amparo e auxiacutelio maior as crianccedilas e aos

adolescentes visto que trata-se de direitos especiais e especiacuteficos pela condiccedilatildeo de

pessoas em desenvolvimento Segundo Afonso Garrido (2002) ldquoo fundamento

objetivo da tutela jurisdicional diferenciada devida agrave crianccedila e ao adolescente reside

na existecircncia de um microssistema de distribuiccedilatildeo de justiccedila introduzido por lei

especialrdquo Neste sentido aborda que a tutela jurisdicional diferenciada ldquose revela

notadamente pela disciplina especial do acesso aacute justiccedila conjunto de regras que

compotildeem o Tiacutetulo VI do Livro II da Lei 806990 ou seja do Estatuto da Crianccedila e

do Adolescenterdquo

13 Ato Infracional

Conforme o artigo 103 do ECA ato infracional eacute a conduta descrita como crime ou

contravenccedilatildeo penal ou seja eacute a conduta que viola as normas previstas no

ordenamento juriacutedico Logo tem-se que o menor de 18 anos ndash inimputaacutevel natildeo

pratica infraccedilatildeo penal mas sim ato infracional Destarte por serem inimputaacuteveis

natildeo estatildeo sujeitos agrave responsabilidade penal devendo ser submetidos a medidas de

proteccedilatildeo (se forem crianccedilas) ou a medidas socioeducativas (se tratar-se de

adolescentes) Podendo ainda ser submetido aacutes duas no caso de adolescentes

Sob o aspecto conceitual considera-se crianccedila1 aquele que nasceu com vida ateacute

os doze anos de idade incompletos e o ECA protege a crianccedila conforme estabelece

o artigo 101 da lei especial onde estas jamais poderatildeo se submeter a Medidas 1 Conceito de Thales Taacutecito Cerqueira no livro Manual do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash

Teoria e Praacutetica Impetus 2010

17

Socioeducativas dispostas no artigo 112 O autor ainda estabelece o conceito de

adolescente como ldquoaquele que tem de doze anos completos ateacute dezoito

incompletos Destarte o ECA prevecirc a proteccedilatildeo e procedimento especial para esse

adolescente que pratica algum ato infracional conforme o disposto no artigo 112

Posteriormente o artigo 110 do mesmo Estatuto estabelece que ldquoNenhum

adolescente seraacute privado de sua liberdade sem o devido processo legalrdquo Logo somente

eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo de medidas mais incisivas em especial a internaccedilatildeo (artigo 112

inciso VI do ECA) quando haacute prova cabal firme completa induvidosa e tambeacutem

coerente Sendo que o regime de semiliberdade (artigo 112 inciso V do ECA) e da

liberdade assistida (artigo 112 inciso IV do ECA) podem ser recomendaacuteveis em muitas

hipoacuteteses na medida em que a segregaccedilatildeo (internaccedilatildeo) constitui exceccedilatildeo e deve ser

evitada a todo custo

II Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente trata-se de um conjunto de normas com a

finalidade de instituir a proteccedilatildeo integral ao adolescente em prioridade absoluta

(arts 227 caput da Constituiccedilatildeo Federal e 4deg do ECA) Consequentemente com a

finalidade de garantir o pleno desenvolvimento do adolescente nas questotildees morais

eacuteticas e religiosas

Segundo Afonso Garrido (2002 p 83)

Como as principais relaccedilotildees juriacutedicas entre o mundo infanto-juvenil e

o mundo adulto encontram-se disciplinadas em um microssistema

criado pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente a elas satildeo

aplicaacuteveis agraves normas do Coacutedigo Civil do Coacutedigo de Processo Civil

etc Quando houver lacuna no Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

e mesmo assim se natildeo forem incompatiacuteveis com os seus princiacutepios

fundamentais

18

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

5

Dedicatoacuteria

Aos meus familiares Adenir e Faacutetima por sempre

acreditarem neste projeto agrave minha irmatilde Laura

por sempre estar ao meu lado nos momentos

mais difiacuteceis Ao mestre e professor querido

Claacuteudio Sanchez pelo incentivo e por ensinar

com excelecircncia a ciecircncia do Direito Penal

6

ldquoTenho a impressatildeo de ter sido uma crianccedila brincando agrave

beira-mar divertindo-me em descobrir uma pedrinha

mais lisa ou uma concha mais bonita que as outras

enquanto o imenso oceano de verdade continua

misterioso diante dos meus olhosrdquo

Isaac Newton

A crianccedila eacute o elo mais fraco e exposto da cadeia social

Se um paiacutes eacute uma aacutervore a crianccedila eacute um fruto E estaacute

para o progresso social e econocircmico como a semente

para a plantaccedilatildeo Nenhuma naccedilatildeo conseguiu progredir

sem investir na educaccedilatildeo o que significa investir na

infacircncia E isto por um motivo bem simples ningueacutem

planta nada se natildeo tiver uma semente E aacutervores doentes

natildeo datildeo bons frutos A viagem pelo conhecimento da

infacircncia eacute a viagem pelas profundezas de uma naccedilatildeo

Gilberto Dimenstein

7

RESUMO

O presente trabalho aborda a questatildeo da estrutura social econocircmica juriacutedica e

religiosa do adolescente infrator principalmente relacionado agraves medidas e poliacuteticas

puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio visando combater os elevados iacutendices de

adolescentes reincidentes na medida de internaccedilatildeo e construir projetos de accedilatildeo

promovendo a inclusatildeo dos jovens

Palavras-chaves Adolescente Infrator Municiacutepio Poliacuteticas Puacuteblicas

8

ABSTRACT

This paper addresses the issue of social structure economic legal and religious

adolescent offender mainly related to public policies and measures adopted by the

municipality to combat the high levels of repeat adolescents in detention procedure

and build action projects promoting inclusion of young people

Keywords Adolescents Offender Municipio Public Policy

9

LISTA DE ABREVIATURAS E CIGLAS

ECA Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

MP Ministeacuterio Puacuteblico

P Paacutegina

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiccedila

10

LISTA DE TABELA

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo Jovem em Assis23

11

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO12

1 ndash O PROBLEMA DO MENOR INFRATOR NO BRASIL13

11 Aspectos Sociais13

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada15

13 Ato Infracional16

2 ndash ESTATUTO DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE17

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA18

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Socioeducativas 18

221 Medidas pertinentes aos Paisresponsaacuteveis21

3 ndash A APLICACcedilAtildeO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NA CIDADE DE

ASSIS22

31 Consideraccedilotildees Gerais22

32 Perfil Socioeconocircmico24

32 1 Perfil Juriacutedico25

322 Perfil Religioso26

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS27

REFEREcircNCIAS29

ANEXOS32

12

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho busca analisar a estrutura social econocircmica juriacutedica e religiosa

do adolescente infrator buscando identificar o padratildeo das relaccedilotildees familiares bem

como os atos infracionais praticados Nos termos de dispositivo constitucional (art

228 e regra geral de direito penal) os adolescentes infratores satildeo considerados

penalmente inimputaacuteveis

Facilmente se constata que satildeo adolescentes que pertencem a famiacutelias de baixa

renda desestruturadas e que dificilmente se ressocializam atraveacutes das medidas

socioeducativas que satildeo aplicadas gerando inuacutemeros debates acerca desta

situaccedilatildeo Neste sentido faz-se uma anaacutelise das medidas socioeducativas previstas

na legislaccedilatildeo especial vigente o chamado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

regulamentado pela Lei 80691990 diploma que visa garantir a proteccedilatildeo integral agrave

crianccedila e o adolescente regulando o preceito do artigo 227 da Constituiccedilatildeo Federal

Nessas condiccedilotildees o Estatuto assegura todas as oportunidades e facilidades para

um bom desenvolvimento fiacutesico mental moral e social dos menores e

posteriormente aplicando as medidas necessaacuterias para os que cometem atos

infracionais respeitando o previsto na legislaccedilatildeo

No entanto de uma forma ou de outra a delinquecircncia infanto-juvenil tem crescido

desmesuradamente em diversas cidades do Brasil ultrapassando seus limites

Assim os estudos sobre a violecircncia e o adolescente infrator tem o compromisso natildeo

soacute de transformar a ldquoconsciecircnciardquo em geral mas tambeacutem de orientar projetos de

accedilatildeo de forma a combater esse grave problema social Destarte considerando o

elevado iacutendice de adolescentes envolvidos com a criminalidade bem como a

complexidade acerca da delinquecircncia infanto-juvenil a pesquisa tem o objetivo de

tipificar o perfil do adolescente infrator em Assis propondo uma reflexatildeo acerca das

poliacuteticas puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio

13

1 ndash O Problema do Menor Infrator no Brasil

Neste primeiro capiacutetulo busca-se analisar a questatildeo do adolescente infrator no

Brasil Apresentando os aspectos sociais bem como a tutela jurisdicional

diferenciada que eacute aplicada e posteriormente viabilizando um panorama geral

acerca dos atos infracionais praticados

11 Aspectos Sociais

Nos primoacuterdios da sociedade as crianccedilas e os adolescentes natildeo possuiacuteam

garantia de direitos e proteccedilatildeo legal eram tratadas de forma lsquocruelrsquo sem dignidade e

respeito A palavra menor em seu sentido teacutecnico-juriacutedico no dicionaacuterio de Plaacutecido e

Silva (1982) ldquodesigna a pessoa que natildeo tenha atingido a maioridaderdquo ou ainda

aquele ldquoque natildeo atingiu a idade legal para que se considere maior e capazrdquo No

entanto ao longo do trabalho seraacute utilizada a expressatildeo adolescente infrator visto

que o termo ldquomenor infratorrdquo refere-se agrave expressatildeo pejorativa natildeo utilizada pelos

doutrinadores da aacuterea da infacircncia e juventude

Segundo Haim Grunspun (2000) ldquoas crianccedilas durante toda a histoacuteria humana

sempre trabalhavam junto agraves suas famiacutelias e tribos natildeo havendo distinccedilatildeo entre elas

e os adultos com quem conviviam praticando accedilotildees iguais aos adultos dentro de

suas capacidadesrdquo Neste sentido Minharro (2003 p 15) enfatiza que

ldquoEntre os egiacutepcios no periacuteodo das dinastias XII a XX todos os

cidadatildeos tinham a obrigaccedilatildeo do trabalho sem qualquer distinccedilatildeo ou

proteccedilatildeo especial estando assim os menores submetidos ao regime

aplicaacutevel a todos desde que jaacute possuiacutessem algum desenvolvimento

fiacutesico Em Roma e na Greacutecia antigas com a licitude da escravatura

os filhos dos escravos pertenciam aos amos ou senhores

trabalhando para estes sem qualquer remuneraccedilatildeo Por volta do

seacuteculo XVIII houve o crescimento da utilizaccedilatildeo da matildeo de obra

infantil onde as crianccedilas oacuterfatildes e de famiacutelias sem as miacutenimas

condiccedilotildees trabalhavam em troca de alimentaccedilatildeo Assim com o

surgimento das induacutestrias e avanccedilos da tecnologia tambeacutem surgiu a

problemaacutetica de crianccedilas envolvidas com a marginalidade decorrente

da maacute-distribuiccedilatildeo de renda da falta de emprego da falta de

14

assistecircncia familiar como o abandono maus-tratos e do proacuteprio

Estado pela ineficiecircncia das poliacuteticas adotadasrdquo

Logo verificou-se que os jovens encontravam-se desamparados sem direito agrave

educaccedilatildeo de qualidade sauacutede habitaccedilatildeo e seguranccedila expostos a realidade do

crime iniciavam diversas praacuteticas de atos infracionais

Manuel Augusto Vieira Neto (RT 181491 1949) em excelente dissertaccedilatildeo

estabelece que

A personalidade humana natildeo surge completa () a personalidade vai

num crescente desabrochar e a vida pode ser dividida em periacuteodos

mais ou menos definidos segundo os estaacutedios do desenvolvimento

fiacutesico e mental E foi ao seacuteculo XIX que se apresentou o problema dos

menores com redobradas dificuldades Vaacuterias causas concorriam o

notaacutevel desenvolvimento das induacutestrias a formaccedilatildeo das grandes

populaccedilotildees urbanas o trabalho fora do lar agrave competiccedilatildeo feminina o

afrouxamento dos laccedilos familiares e as consequecircncias dessas

mutaccedilotildees logo se fizeram sentir abandono fiacutesico e moral da infacircncia

e o corolaacuterio natural aumento de criminalidade

Neste aspecto Norberto Bobbio em seu livro A Era dos Direitos (1992 p 19)

afirma que ldquoo direito constitui-se de uma classe variaacutevel que se modifica e continua a

se modificar com a mudanccedila das condiccedilotildees histoacutericas O que parece fundamental

numa eacutepoca histoacuterica e numa determinada civilizaccedilatildeo natildeo eacute fundamental em outras

eacutepocas e em outras culturasrdquo Entretanto o grande problema atual natildeo eacute justificar os

direitos que um cidadatildeo possui mas sim o de protegecirc-los Destarte em 20 de

novembro de 1959 proclamou-se a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos da Crianccedila

estabelecendo proteccedilatildeo integral agrave crianccedila e o adolescente como sujeitos de direito

Ou seja a crianccedila deixou de ser vista como mero objeto de proteccedilatildeo para ser

alcanccedilada como sujeito de direitos

Por outro lado assegurar um desenvolvimento tranquilo para estes adolescentes

proporcionando condiccedilotildees para uma iacutentegra formaccedilatildeo moral e intelectual eacute uma

incumbecircncia difiacutecil diante do complexo quadro social brasileiro vivenciado

atualmente onde muacuteltiplas e graves causas vecircm sendo analisadas ao longo dos

uacuteltimos anos como a crise da famiacutelia a precariedade do sistema educacional o

15

ambiente social favorecendo a permissividade das condutas em todos os seus

aspectos e a falta de eacutetica em todos os seus aspectos (pessoal familiar social e

poliacutetico) Maria Garcia livre-docente pela PUC-SP (2008) afirma que ldquoas notiacutecias

demonstram que quer nas classes meacutedia e alta quer nas classes destituiacutedas a

delinquecircncia se demonstra ativa com idecircntico grau de violecircnciardquo Assim verifica-se

o papel primordial da famiacutelia visto que os pais mais perniciosos satildeo exatamente os

que associam os filhos a essa recusa de enfrentar a realidade isso porque assim

como a famiacutelia eacute o ponto de partida do crime a famiacutelia tambeacutem eacute o ponto de retorno

do infrator Destarte se a famiacutelia encontra-se desestruturada dificilmente o jovem iraacute

se ressocializar

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada

A jurisdiccedilatildeo consiste ainda numa atividade puacuteblica monopoacutelio do Poder Judiciaacuterio

Embora haja decisatildeo de contenciosos administrativos estas natildeo impedem a atuaccedilatildeo

ou exerciacutecio da atividade jurisdicional (art 5ordm XXXV CF88) Segundo Paulo Afonso

Garrido de Paula (2002 p 72)

A tutela jurisdicional consiste na proteccedilatildeo estatal aos direitos natildeo

reconhecidos espontaneamente esvaziados na sua eficaacutecia ou

dependentes de um aval Sua finalidade puacuteblica reitere-se eacute

assegurar a paz social impedindo a supremacia de forccedila ou a

constituiccedilatildeo de situaccedilotildees juriacutedicas em desacordo com a lei validando

as normas prescritivas do Estado Social definido na Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica

Com a Constituiccedilatildeo de 1988 atraveacutes do artigo 227 caput estabelecendo que

ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila

ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade o direito agrave vida

agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave

16

cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia familiar

e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a salvo de toda forma de

negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e

proteccedilatildeordquo

Reconheceu-se a possibilidade de crianccedilas e adolescentes participarem direta e

amplamente de relaccedilotildees juriacutedicas na qualidade de titulares de direitos capazes

para o exerciacutecio pessoal de direitos relacionados ao desenvolvimento saudaacutevel e de

garantias ligadas agrave integridade recebendo uma tutela jurisdicional diferenciada Ou

seja aplicando uma proteccedilatildeo amparo e auxiacutelio maior as crianccedilas e aos

adolescentes visto que trata-se de direitos especiais e especiacuteficos pela condiccedilatildeo de

pessoas em desenvolvimento Segundo Afonso Garrido (2002) ldquoo fundamento

objetivo da tutela jurisdicional diferenciada devida agrave crianccedila e ao adolescente reside

na existecircncia de um microssistema de distribuiccedilatildeo de justiccedila introduzido por lei

especialrdquo Neste sentido aborda que a tutela jurisdicional diferenciada ldquose revela

notadamente pela disciplina especial do acesso aacute justiccedila conjunto de regras que

compotildeem o Tiacutetulo VI do Livro II da Lei 806990 ou seja do Estatuto da Crianccedila e

do Adolescenterdquo

13 Ato Infracional

Conforme o artigo 103 do ECA ato infracional eacute a conduta descrita como crime ou

contravenccedilatildeo penal ou seja eacute a conduta que viola as normas previstas no

ordenamento juriacutedico Logo tem-se que o menor de 18 anos ndash inimputaacutevel natildeo

pratica infraccedilatildeo penal mas sim ato infracional Destarte por serem inimputaacuteveis

natildeo estatildeo sujeitos agrave responsabilidade penal devendo ser submetidos a medidas de

proteccedilatildeo (se forem crianccedilas) ou a medidas socioeducativas (se tratar-se de

adolescentes) Podendo ainda ser submetido aacutes duas no caso de adolescentes

Sob o aspecto conceitual considera-se crianccedila1 aquele que nasceu com vida ateacute

os doze anos de idade incompletos e o ECA protege a crianccedila conforme estabelece

o artigo 101 da lei especial onde estas jamais poderatildeo se submeter a Medidas 1 Conceito de Thales Taacutecito Cerqueira no livro Manual do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash

Teoria e Praacutetica Impetus 2010

17

Socioeducativas dispostas no artigo 112 O autor ainda estabelece o conceito de

adolescente como ldquoaquele que tem de doze anos completos ateacute dezoito

incompletos Destarte o ECA prevecirc a proteccedilatildeo e procedimento especial para esse

adolescente que pratica algum ato infracional conforme o disposto no artigo 112

Posteriormente o artigo 110 do mesmo Estatuto estabelece que ldquoNenhum

adolescente seraacute privado de sua liberdade sem o devido processo legalrdquo Logo somente

eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo de medidas mais incisivas em especial a internaccedilatildeo (artigo 112

inciso VI do ECA) quando haacute prova cabal firme completa induvidosa e tambeacutem

coerente Sendo que o regime de semiliberdade (artigo 112 inciso V do ECA) e da

liberdade assistida (artigo 112 inciso IV do ECA) podem ser recomendaacuteveis em muitas

hipoacuteteses na medida em que a segregaccedilatildeo (internaccedilatildeo) constitui exceccedilatildeo e deve ser

evitada a todo custo

II Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente trata-se de um conjunto de normas com a

finalidade de instituir a proteccedilatildeo integral ao adolescente em prioridade absoluta

(arts 227 caput da Constituiccedilatildeo Federal e 4deg do ECA) Consequentemente com a

finalidade de garantir o pleno desenvolvimento do adolescente nas questotildees morais

eacuteticas e religiosas

Segundo Afonso Garrido (2002 p 83)

Como as principais relaccedilotildees juriacutedicas entre o mundo infanto-juvenil e

o mundo adulto encontram-se disciplinadas em um microssistema

criado pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente a elas satildeo

aplicaacuteveis agraves normas do Coacutedigo Civil do Coacutedigo de Processo Civil

etc Quando houver lacuna no Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

e mesmo assim se natildeo forem incompatiacuteveis com os seus princiacutepios

fundamentais

18

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

6

ldquoTenho a impressatildeo de ter sido uma crianccedila brincando agrave

beira-mar divertindo-me em descobrir uma pedrinha

mais lisa ou uma concha mais bonita que as outras

enquanto o imenso oceano de verdade continua

misterioso diante dos meus olhosrdquo

Isaac Newton

A crianccedila eacute o elo mais fraco e exposto da cadeia social

Se um paiacutes eacute uma aacutervore a crianccedila eacute um fruto E estaacute

para o progresso social e econocircmico como a semente

para a plantaccedilatildeo Nenhuma naccedilatildeo conseguiu progredir

sem investir na educaccedilatildeo o que significa investir na

infacircncia E isto por um motivo bem simples ningueacutem

planta nada se natildeo tiver uma semente E aacutervores doentes

natildeo datildeo bons frutos A viagem pelo conhecimento da

infacircncia eacute a viagem pelas profundezas de uma naccedilatildeo

Gilberto Dimenstein

7

RESUMO

O presente trabalho aborda a questatildeo da estrutura social econocircmica juriacutedica e

religiosa do adolescente infrator principalmente relacionado agraves medidas e poliacuteticas

puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio visando combater os elevados iacutendices de

adolescentes reincidentes na medida de internaccedilatildeo e construir projetos de accedilatildeo

promovendo a inclusatildeo dos jovens

Palavras-chaves Adolescente Infrator Municiacutepio Poliacuteticas Puacuteblicas

8

ABSTRACT

This paper addresses the issue of social structure economic legal and religious

adolescent offender mainly related to public policies and measures adopted by the

municipality to combat the high levels of repeat adolescents in detention procedure

and build action projects promoting inclusion of young people

Keywords Adolescents Offender Municipio Public Policy

9

LISTA DE ABREVIATURAS E CIGLAS

ECA Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

MP Ministeacuterio Puacuteblico

P Paacutegina

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiccedila

10

LISTA DE TABELA

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo Jovem em Assis23

11

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO12

1 ndash O PROBLEMA DO MENOR INFRATOR NO BRASIL13

11 Aspectos Sociais13

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada15

13 Ato Infracional16

2 ndash ESTATUTO DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE17

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA18

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Socioeducativas 18

221 Medidas pertinentes aos Paisresponsaacuteveis21

3 ndash A APLICACcedilAtildeO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NA CIDADE DE

ASSIS22

31 Consideraccedilotildees Gerais22

32 Perfil Socioeconocircmico24

32 1 Perfil Juriacutedico25

322 Perfil Religioso26

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS27

REFEREcircNCIAS29

ANEXOS32

12

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho busca analisar a estrutura social econocircmica juriacutedica e religiosa

do adolescente infrator buscando identificar o padratildeo das relaccedilotildees familiares bem

como os atos infracionais praticados Nos termos de dispositivo constitucional (art

228 e regra geral de direito penal) os adolescentes infratores satildeo considerados

penalmente inimputaacuteveis

Facilmente se constata que satildeo adolescentes que pertencem a famiacutelias de baixa

renda desestruturadas e que dificilmente se ressocializam atraveacutes das medidas

socioeducativas que satildeo aplicadas gerando inuacutemeros debates acerca desta

situaccedilatildeo Neste sentido faz-se uma anaacutelise das medidas socioeducativas previstas

na legislaccedilatildeo especial vigente o chamado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

regulamentado pela Lei 80691990 diploma que visa garantir a proteccedilatildeo integral agrave

crianccedila e o adolescente regulando o preceito do artigo 227 da Constituiccedilatildeo Federal

Nessas condiccedilotildees o Estatuto assegura todas as oportunidades e facilidades para

um bom desenvolvimento fiacutesico mental moral e social dos menores e

posteriormente aplicando as medidas necessaacuterias para os que cometem atos

infracionais respeitando o previsto na legislaccedilatildeo

No entanto de uma forma ou de outra a delinquecircncia infanto-juvenil tem crescido

desmesuradamente em diversas cidades do Brasil ultrapassando seus limites

Assim os estudos sobre a violecircncia e o adolescente infrator tem o compromisso natildeo

soacute de transformar a ldquoconsciecircnciardquo em geral mas tambeacutem de orientar projetos de

accedilatildeo de forma a combater esse grave problema social Destarte considerando o

elevado iacutendice de adolescentes envolvidos com a criminalidade bem como a

complexidade acerca da delinquecircncia infanto-juvenil a pesquisa tem o objetivo de

tipificar o perfil do adolescente infrator em Assis propondo uma reflexatildeo acerca das

poliacuteticas puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio

13

1 ndash O Problema do Menor Infrator no Brasil

Neste primeiro capiacutetulo busca-se analisar a questatildeo do adolescente infrator no

Brasil Apresentando os aspectos sociais bem como a tutela jurisdicional

diferenciada que eacute aplicada e posteriormente viabilizando um panorama geral

acerca dos atos infracionais praticados

11 Aspectos Sociais

Nos primoacuterdios da sociedade as crianccedilas e os adolescentes natildeo possuiacuteam

garantia de direitos e proteccedilatildeo legal eram tratadas de forma lsquocruelrsquo sem dignidade e

respeito A palavra menor em seu sentido teacutecnico-juriacutedico no dicionaacuterio de Plaacutecido e

Silva (1982) ldquodesigna a pessoa que natildeo tenha atingido a maioridaderdquo ou ainda

aquele ldquoque natildeo atingiu a idade legal para que se considere maior e capazrdquo No

entanto ao longo do trabalho seraacute utilizada a expressatildeo adolescente infrator visto

que o termo ldquomenor infratorrdquo refere-se agrave expressatildeo pejorativa natildeo utilizada pelos

doutrinadores da aacuterea da infacircncia e juventude

Segundo Haim Grunspun (2000) ldquoas crianccedilas durante toda a histoacuteria humana

sempre trabalhavam junto agraves suas famiacutelias e tribos natildeo havendo distinccedilatildeo entre elas

e os adultos com quem conviviam praticando accedilotildees iguais aos adultos dentro de

suas capacidadesrdquo Neste sentido Minharro (2003 p 15) enfatiza que

ldquoEntre os egiacutepcios no periacuteodo das dinastias XII a XX todos os

cidadatildeos tinham a obrigaccedilatildeo do trabalho sem qualquer distinccedilatildeo ou

proteccedilatildeo especial estando assim os menores submetidos ao regime

aplicaacutevel a todos desde que jaacute possuiacutessem algum desenvolvimento

fiacutesico Em Roma e na Greacutecia antigas com a licitude da escravatura

os filhos dos escravos pertenciam aos amos ou senhores

trabalhando para estes sem qualquer remuneraccedilatildeo Por volta do

seacuteculo XVIII houve o crescimento da utilizaccedilatildeo da matildeo de obra

infantil onde as crianccedilas oacuterfatildes e de famiacutelias sem as miacutenimas

condiccedilotildees trabalhavam em troca de alimentaccedilatildeo Assim com o

surgimento das induacutestrias e avanccedilos da tecnologia tambeacutem surgiu a

problemaacutetica de crianccedilas envolvidas com a marginalidade decorrente

da maacute-distribuiccedilatildeo de renda da falta de emprego da falta de

14

assistecircncia familiar como o abandono maus-tratos e do proacuteprio

Estado pela ineficiecircncia das poliacuteticas adotadasrdquo

Logo verificou-se que os jovens encontravam-se desamparados sem direito agrave

educaccedilatildeo de qualidade sauacutede habitaccedilatildeo e seguranccedila expostos a realidade do

crime iniciavam diversas praacuteticas de atos infracionais

Manuel Augusto Vieira Neto (RT 181491 1949) em excelente dissertaccedilatildeo

estabelece que

A personalidade humana natildeo surge completa () a personalidade vai

num crescente desabrochar e a vida pode ser dividida em periacuteodos

mais ou menos definidos segundo os estaacutedios do desenvolvimento

fiacutesico e mental E foi ao seacuteculo XIX que se apresentou o problema dos

menores com redobradas dificuldades Vaacuterias causas concorriam o

notaacutevel desenvolvimento das induacutestrias a formaccedilatildeo das grandes

populaccedilotildees urbanas o trabalho fora do lar agrave competiccedilatildeo feminina o

afrouxamento dos laccedilos familiares e as consequecircncias dessas

mutaccedilotildees logo se fizeram sentir abandono fiacutesico e moral da infacircncia

e o corolaacuterio natural aumento de criminalidade

Neste aspecto Norberto Bobbio em seu livro A Era dos Direitos (1992 p 19)

afirma que ldquoo direito constitui-se de uma classe variaacutevel que se modifica e continua a

se modificar com a mudanccedila das condiccedilotildees histoacutericas O que parece fundamental

numa eacutepoca histoacuterica e numa determinada civilizaccedilatildeo natildeo eacute fundamental em outras

eacutepocas e em outras culturasrdquo Entretanto o grande problema atual natildeo eacute justificar os

direitos que um cidadatildeo possui mas sim o de protegecirc-los Destarte em 20 de

novembro de 1959 proclamou-se a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos da Crianccedila

estabelecendo proteccedilatildeo integral agrave crianccedila e o adolescente como sujeitos de direito

Ou seja a crianccedila deixou de ser vista como mero objeto de proteccedilatildeo para ser

alcanccedilada como sujeito de direitos

Por outro lado assegurar um desenvolvimento tranquilo para estes adolescentes

proporcionando condiccedilotildees para uma iacutentegra formaccedilatildeo moral e intelectual eacute uma

incumbecircncia difiacutecil diante do complexo quadro social brasileiro vivenciado

atualmente onde muacuteltiplas e graves causas vecircm sendo analisadas ao longo dos

uacuteltimos anos como a crise da famiacutelia a precariedade do sistema educacional o

15

ambiente social favorecendo a permissividade das condutas em todos os seus

aspectos e a falta de eacutetica em todos os seus aspectos (pessoal familiar social e

poliacutetico) Maria Garcia livre-docente pela PUC-SP (2008) afirma que ldquoas notiacutecias

demonstram que quer nas classes meacutedia e alta quer nas classes destituiacutedas a

delinquecircncia se demonstra ativa com idecircntico grau de violecircnciardquo Assim verifica-se

o papel primordial da famiacutelia visto que os pais mais perniciosos satildeo exatamente os

que associam os filhos a essa recusa de enfrentar a realidade isso porque assim

como a famiacutelia eacute o ponto de partida do crime a famiacutelia tambeacutem eacute o ponto de retorno

do infrator Destarte se a famiacutelia encontra-se desestruturada dificilmente o jovem iraacute

se ressocializar

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada

A jurisdiccedilatildeo consiste ainda numa atividade puacuteblica monopoacutelio do Poder Judiciaacuterio

Embora haja decisatildeo de contenciosos administrativos estas natildeo impedem a atuaccedilatildeo

ou exerciacutecio da atividade jurisdicional (art 5ordm XXXV CF88) Segundo Paulo Afonso

Garrido de Paula (2002 p 72)

A tutela jurisdicional consiste na proteccedilatildeo estatal aos direitos natildeo

reconhecidos espontaneamente esvaziados na sua eficaacutecia ou

dependentes de um aval Sua finalidade puacuteblica reitere-se eacute

assegurar a paz social impedindo a supremacia de forccedila ou a

constituiccedilatildeo de situaccedilotildees juriacutedicas em desacordo com a lei validando

as normas prescritivas do Estado Social definido na Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica

Com a Constituiccedilatildeo de 1988 atraveacutes do artigo 227 caput estabelecendo que

ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila

ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade o direito agrave vida

agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave

16

cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia familiar

e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a salvo de toda forma de

negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e

proteccedilatildeordquo

Reconheceu-se a possibilidade de crianccedilas e adolescentes participarem direta e

amplamente de relaccedilotildees juriacutedicas na qualidade de titulares de direitos capazes

para o exerciacutecio pessoal de direitos relacionados ao desenvolvimento saudaacutevel e de

garantias ligadas agrave integridade recebendo uma tutela jurisdicional diferenciada Ou

seja aplicando uma proteccedilatildeo amparo e auxiacutelio maior as crianccedilas e aos

adolescentes visto que trata-se de direitos especiais e especiacuteficos pela condiccedilatildeo de

pessoas em desenvolvimento Segundo Afonso Garrido (2002) ldquoo fundamento

objetivo da tutela jurisdicional diferenciada devida agrave crianccedila e ao adolescente reside

na existecircncia de um microssistema de distribuiccedilatildeo de justiccedila introduzido por lei

especialrdquo Neste sentido aborda que a tutela jurisdicional diferenciada ldquose revela

notadamente pela disciplina especial do acesso aacute justiccedila conjunto de regras que

compotildeem o Tiacutetulo VI do Livro II da Lei 806990 ou seja do Estatuto da Crianccedila e

do Adolescenterdquo

13 Ato Infracional

Conforme o artigo 103 do ECA ato infracional eacute a conduta descrita como crime ou

contravenccedilatildeo penal ou seja eacute a conduta que viola as normas previstas no

ordenamento juriacutedico Logo tem-se que o menor de 18 anos ndash inimputaacutevel natildeo

pratica infraccedilatildeo penal mas sim ato infracional Destarte por serem inimputaacuteveis

natildeo estatildeo sujeitos agrave responsabilidade penal devendo ser submetidos a medidas de

proteccedilatildeo (se forem crianccedilas) ou a medidas socioeducativas (se tratar-se de

adolescentes) Podendo ainda ser submetido aacutes duas no caso de adolescentes

Sob o aspecto conceitual considera-se crianccedila1 aquele que nasceu com vida ateacute

os doze anos de idade incompletos e o ECA protege a crianccedila conforme estabelece

o artigo 101 da lei especial onde estas jamais poderatildeo se submeter a Medidas 1 Conceito de Thales Taacutecito Cerqueira no livro Manual do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash

Teoria e Praacutetica Impetus 2010

17

Socioeducativas dispostas no artigo 112 O autor ainda estabelece o conceito de

adolescente como ldquoaquele que tem de doze anos completos ateacute dezoito

incompletos Destarte o ECA prevecirc a proteccedilatildeo e procedimento especial para esse

adolescente que pratica algum ato infracional conforme o disposto no artigo 112

Posteriormente o artigo 110 do mesmo Estatuto estabelece que ldquoNenhum

adolescente seraacute privado de sua liberdade sem o devido processo legalrdquo Logo somente

eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo de medidas mais incisivas em especial a internaccedilatildeo (artigo 112

inciso VI do ECA) quando haacute prova cabal firme completa induvidosa e tambeacutem

coerente Sendo que o regime de semiliberdade (artigo 112 inciso V do ECA) e da

liberdade assistida (artigo 112 inciso IV do ECA) podem ser recomendaacuteveis em muitas

hipoacuteteses na medida em que a segregaccedilatildeo (internaccedilatildeo) constitui exceccedilatildeo e deve ser

evitada a todo custo

II Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente trata-se de um conjunto de normas com a

finalidade de instituir a proteccedilatildeo integral ao adolescente em prioridade absoluta

(arts 227 caput da Constituiccedilatildeo Federal e 4deg do ECA) Consequentemente com a

finalidade de garantir o pleno desenvolvimento do adolescente nas questotildees morais

eacuteticas e religiosas

Segundo Afonso Garrido (2002 p 83)

Como as principais relaccedilotildees juriacutedicas entre o mundo infanto-juvenil e

o mundo adulto encontram-se disciplinadas em um microssistema

criado pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente a elas satildeo

aplicaacuteveis agraves normas do Coacutedigo Civil do Coacutedigo de Processo Civil

etc Quando houver lacuna no Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

e mesmo assim se natildeo forem incompatiacuteveis com os seus princiacutepios

fundamentais

18

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

7

RESUMO

O presente trabalho aborda a questatildeo da estrutura social econocircmica juriacutedica e

religiosa do adolescente infrator principalmente relacionado agraves medidas e poliacuteticas

puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio visando combater os elevados iacutendices de

adolescentes reincidentes na medida de internaccedilatildeo e construir projetos de accedilatildeo

promovendo a inclusatildeo dos jovens

Palavras-chaves Adolescente Infrator Municiacutepio Poliacuteticas Puacuteblicas

8

ABSTRACT

This paper addresses the issue of social structure economic legal and religious

adolescent offender mainly related to public policies and measures adopted by the

municipality to combat the high levels of repeat adolescents in detention procedure

and build action projects promoting inclusion of young people

Keywords Adolescents Offender Municipio Public Policy

9

LISTA DE ABREVIATURAS E CIGLAS

ECA Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

MP Ministeacuterio Puacuteblico

P Paacutegina

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiccedila

10

LISTA DE TABELA

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo Jovem em Assis23

11

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO12

1 ndash O PROBLEMA DO MENOR INFRATOR NO BRASIL13

11 Aspectos Sociais13

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada15

13 Ato Infracional16

2 ndash ESTATUTO DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE17

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA18

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Socioeducativas 18

221 Medidas pertinentes aos Paisresponsaacuteveis21

3 ndash A APLICACcedilAtildeO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NA CIDADE DE

ASSIS22

31 Consideraccedilotildees Gerais22

32 Perfil Socioeconocircmico24

32 1 Perfil Juriacutedico25

322 Perfil Religioso26

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS27

REFEREcircNCIAS29

ANEXOS32

12

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho busca analisar a estrutura social econocircmica juriacutedica e religiosa

do adolescente infrator buscando identificar o padratildeo das relaccedilotildees familiares bem

como os atos infracionais praticados Nos termos de dispositivo constitucional (art

228 e regra geral de direito penal) os adolescentes infratores satildeo considerados

penalmente inimputaacuteveis

Facilmente se constata que satildeo adolescentes que pertencem a famiacutelias de baixa

renda desestruturadas e que dificilmente se ressocializam atraveacutes das medidas

socioeducativas que satildeo aplicadas gerando inuacutemeros debates acerca desta

situaccedilatildeo Neste sentido faz-se uma anaacutelise das medidas socioeducativas previstas

na legislaccedilatildeo especial vigente o chamado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

regulamentado pela Lei 80691990 diploma que visa garantir a proteccedilatildeo integral agrave

crianccedila e o adolescente regulando o preceito do artigo 227 da Constituiccedilatildeo Federal

Nessas condiccedilotildees o Estatuto assegura todas as oportunidades e facilidades para

um bom desenvolvimento fiacutesico mental moral e social dos menores e

posteriormente aplicando as medidas necessaacuterias para os que cometem atos

infracionais respeitando o previsto na legislaccedilatildeo

No entanto de uma forma ou de outra a delinquecircncia infanto-juvenil tem crescido

desmesuradamente em diversas cidades do Brasil ultrapassando seus limites

Assim os estudos sobre a violecircncia e o adolescente infrator tem o compromisso natildeo

soacute de transformar a ldquoconsciecircnciardquo em geral mas tambeacutem de orientar projetos de

accedilatildeo de forma a combater esse grave problema social Destarte considerando o

elevado iacutendice de adolescentes envolvidos com a criminalidade bem como a

complexidade acerca da delinquecircncia infanto-juvenil a pesquisa tem o objetivo de

tipificar o perfil do adolescente infrator em Assis propondo uma reflexatildeo acerca das

poliacuteticas puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio

13

1 ndash O Problema do Menor Infrator no Brasil

Neste primeiro capiacutetulo busca-se analisar a questatildeo do adolescente infrator no

Brasil Apresentando os aspectos sociais bem como a tutela jurisdicional

diferenciada que eacute aplicada e posteriormente viabilizando um panorama geral

acerca dos atos infracionais praticados

11 Aspectos Sociais

Nos primoacuterdios da sociedade as crianccedilas e os adolescentes natildeo possuiacuteam

garantia de direitos e proteccedilatildeo legal eram tratadas de forma lsquocruelrsquo sem dignidade e

respeito A palavra menor em seu sentido teacutecnico-juriacutedico no dicionaacuterio de Plaacutecido e

Silva (1982) ldquodesigna a pessoa que natildeo tenha atingido a maioridaderdquo ou ainda

aquele ldquoque natildeo atingiu a idade legal para que se considere maior e capazrdquo No

entanto ao longo do trabalho seraacute utilizada a expressatildeo adolescente infrator visto

que o termo ldquomenor infratorrdquo refere-se agrave expressatildeo pejorativa natildeo utilizada pelos

doutrinadores da aacuterea da infacircncia e juventude

Segundo Haim Grunspun (2000) ldquoas crianccedilas durante toda a histoacuteria humana

sempre trabalhavam junto agraves suas famiacutelias e tribos natildeo havendo distinccedilatildeo entre elas

e os adultos com quem conviviam praticando accedilotildees iguais aos adultos dentro de

suas capacidadesrdquo Neste sentido Minharro (2003 p 15) enfatiza que

ldquoEntre os egiacutepcios no periacuteodo das dinastias XII a XX todos os

cidadatildeos tinham a obrigaccedilatildeo do trabalho sem qualquer distinccedilatildeo ou

proteccedilatildeo especial estando assim os menores submetidos ao regime

aplicaacutevel a todos desde que jaacute possuiacutessem algum desenvolvimento

fiacutesico Em Roma e na Greacutecia antigas com a licitude da escravatura

os filhos dos escravos pertenciam aos amos ou senhores

trabalhando para estes sem qualquer remuneraccedilatildeo Por volta do

seacuteculo XVIII houve o crescimento da utilizaccedilatildeo da matildeo de obra

infantil onde as crianccedilas oacuterfatildes e de famiacutelias sem as miacutenimas

condiccedilotildees trabalhavam em troca de alimentaccedilatildeo Assim com o

surgimento das induacutestrias e avanccedilos da tecnologia tambeacutem surgiu a

problemaacutetica de crianccedilas envolvidas com a marginalidade decorrente

da maacute-distribuiccedilatildeo de renda da falta de emprego da falta de

14

assistecircncia familiar como o abandono maus-tratos e do proacuteprio

Estado pela ineficiecircncia das poliacuteticas adotadasrdquo

Logo verificou-se que os jovens encontravam-se desamparados sem direito agrave

educaccedilatildeo de qualidade sauacutede habitaccedilatildeo e seguranccedila expostos a realidade do

crime iniciavam diversas praacuteticas de atos infracionais

Manuel Augusto Vieira Neto (RT 181491 1949) em excelente dissertaccedilatildeo

estabelece que

A personalidade humana natildeo surge completa () a personalidade vai

num crescente desabrochar e a vida pode ser dividida em periacuteodos

mais ou menos definidos segundo os estaacutedios do desenvolvimento

fiacutesico e mental E foi ao seacuteculo XIX que se apresentou o problema dos

menores com redobradas dificuldades Vaacuterias causas concorriam o

notaacutevel desenvolvimento das induacutestrias a formaccedilatildeo das grandes

populaccedilotildees urbanas o trabalho fora do lar agrave competiccedilatildeo feminina o

afrouxamento dos laccedilos familiares e as consequecircncias dessas

mutaccedilotildees logo se fizeram sentir abandono fiacutesico e moral da infacircncia

e o corolaacuterio natural aumento de criminalidade

Neste aspecto Norberto Bobbio em seu livro A Era dos Direitos (1992 p 19)

afirma que ldquoo direito constitui-se de uma classe variaacutevel que se modifica e continua a

se modificar com a mudanccedila das condiccedilotildees histoacutericas O que parece fundamental

numa eacutepoca histoacuterica e numa determinada civilizaccedilatildeo natildeo eacute fundamental em outras

eacutepocas e em outras culturasrdquo Entretanto o grande problema atual natildeo eacute justificar os

direitos que um cidadatildeo possui mas sim o de protegecirc-los Destarte em 20 de

novembro de 1959 proclamou-se a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos da Crianccedila

estabelecendo proteccedilatildeo integral agrave crianccedila e o adolescente como sujeitos de direito

Ou seja a crianccedila deixou de ser vista como mero objeto de proteccedilatildeo para ser

alcanccedilada como sujeito de direitos

Por outro lado assegurar um desenvolvimento tranquilo para estes adolescentes

proporcionando condiccedilotildees para uma iacutentegra formaccedilatildeo moral e intelectual eacute uma

incumbecircncia difiacutecil diante do complexo quadro social brasileiro vivenciado

atualmente onde muacuteltiplas e graves causas vecircm sendo analisadas ao longo dos

uacuteltimos anos como a crise da famiacutelia a precariedade do sistema educacional o

15

ambiente social favorecendo a permissividade das condutas em todos os seus

aspectos e a falta de eacutetica em todos os seus aspectos (pessoal familiar social e

poliacutetico) Maria Garcia livre-docente pela PUC-SP (2008) afirma que ldquoas notiacutecias

demonstram que quer nas classes meacutedia e alta quer nas classes destituiacutedas a

delinquecircncia se demonstra ativa com idecircntico grau de violecircnciardquo Assim verifica-se

o papel primordial da famiacutelia visto que os pais mais perniciosos satildeo exatamente os

que associam os filhos a essa recusa de enfrentar a realidade isso porque assim

como a famiacutelia eacute o ponto de partida do crime a famiacutelia tambeacutem eacute o ponto de retorno

do infrator Destarte se a famiacutelia encontra-se desestruturada dificilmente o jovem iraacute

se ressocializar

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada

A jurisdiccedilatildeo consiste ainda numa atividade puacuteblica monopoacutelio do Poder Judiciaacuterio

Embora haja decisatildeo de contenciosos administrativos estas natildeo impedem a atuaccedilatildeo

ou exerciacutecio da atividade jurisdicional (art 5ordm XXXV CF88) Segundo Paulo Afonso

Garrido de Paula (2002 p 72)

A tutela jurisdicional consiste na proteccedilatildeo estatal aos direitos natildeo

reconhecidos espontaneamente esvaziados na sua eficaacutecia ou

dependentes de um aval Sua finalidade puacuteblica reitere-se eacute

assegurar a paz social impedindo a supremacia de forccedila ou a

constituiccedilatildeo de situaccedilotildees juriacutedicas em desacordo com a lei validando

as normas prescritivas do Estado Social definido na Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica

Com a Constituiccedilatildeo de 1988 atraveacutes do artigo 227 caput estabelecendo que

ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila

ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade o direito agrave vida

agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave

16

cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia familiar

e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a salvo de toda forma de

negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e

proteccedilatildeordquo

Reconheceu-se a possibilidade de crianccedilas e adolescentes participarem direta e

amplamente de relaccedilotildees juriacutedicas na qualidade de titulares de direitos capazes

para o exerciacutecio pessoal de direitos relacionados ao desenvolvimento saudaacutevel e de

garantias ligadas agrave integridade recebendo uma tutela jurisdicional diferenciada Ou

seja aplicando uma proteccedilatildeo amparo e auxiacutelio maior as crianccedilas e aos

adolescentes visto que trata-se de direitos especiais e especiacuteficos pela condiccedilatildeo de

pessoas em desenvolvimento Segundo Afonso Garrido (2002) ldquoo fundamento

objetivo da tutela jurisdicional diferenciada devida agrave crianccedila e ao adolescente reside

na existecircncia de um microssistema de distribuiccedilatildeo de justiccedila introduzido por lei

especialrdquo Neste sentido aborda que a tutela jurisdicional diferenciada ldquose revela

notadamente pela disciplina especial do acesso aacute justiccedila conjunto de regras que

compotildeem o Tiacutetulo VI do Livro II da Lei 806990 ou seja do Estatuto da Crianccedila e

do Adolescenterdquo

13 Ato Infracional

Conforme o artigo 103 do ECA ato infracional eacute a conduta descrita como crime ou

contravenccedilatildeo penal ou seja eacute a conduta que viola as normas previstas no

ordenamento juriacutedico Logo tem-se que o menor de 18 anos ndash inimputaacutevel natildeo

pratica infraccedilatildeo penal mas sim ato infracional Destarte por serem inimputaacuteveis

natildeo estatildeo sujeitos agrave responsabilidade penal devendo ser submetidos a medidas de

proteccedilatildeo (se forem crianccedilas) ou a medidas socioeducativas (se tratar-se de

adolescentes) Podendo ainda ser submetido aacutes duas no caso de adolescentes

Sob o aspecto conceitual considera-se crianccedila1 aquele que nasceu com vida ateacute

os doze anos de idade incompletos e o ECA protege a crianccedila conforme estabelece

o artigo 101 da lei especial onde estas jamais poderatildeo se submeter a Medidas 1 Conceito de Thales Taacutecito Cerqueira no livro Manual do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash

Teoria e Praacutetica Impetus 2010

17

Socioeducativas dispostas no artigo 112 O autor ainda estabelece o conceito de

adolescente como ldquoaquele que tem de doze anos completos ateacute dezoito

incompletos Destarte o ECA prevecirc a proteccedilatildeo e procedimento especial para esse

adolescente que pratica algum ato infracional conforme o disposto no artigo 112

Posteriormente o artigo 110 do mesmo Estatuto estabelece que ldquoNenhum

adolescente seraacute privado de sua liberdade sem o devido processo legalrdquo Logo somente

eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo de medidas mais incisivas em especial a internaccedilatildeo (artigo 112

inciso VI do ECA) quando haacute prova cabal firme completa induvidosa e tambeacutem

coerente Sendo que o regime de semiliberdade (artigo 112 inciso V do ECA) e da

liberdade assistida (artigo 112 inciso IV do ECA) podem ser recomendaacuteveis em muitas

hipoacuteteses na medida em que a segregaccedilatildeo (internaccedilatildeo) constitui exceccedilatildeo e deve ser

evitada a todo custo

II Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente trata-se de um conjunto de normas com a

finalidade de instituir a proteccedilatildeo integral ao adolescente em prioridade absoluta

(arts 227 caput da Constituiccedilatildeo Federal e 4deg do ECA) Consequentemente com a

finalidade de garantir o pleno desenvolvimento do adolescente nas questotildees morais

eacuteticas e religiosas

Segundo Afonso Garrido (2002 p 83)

Como as principais relaccedilotildees juriacutedicas entre o mundo infanto-juvenil e

o mundo adulto encontram-se disciplinadas em um microssistema

criado pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente a elas satildeo

aplicaacuteveis agraves normas do Coacutedigo Civil do Coacutedigo de Processo Civil

etc Quando houver lacuna no Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

e mesmo assim se natildeo forem incompatiacuteveis com os seus princiacutepios

fundamentais

18

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

8

ABSTRACT

This paper addresses the issue of social structure economic legal and religious

adolescent offender mainly related to public policies and measures adopted by the

municipality to combat the high levels of repeat adolescents in detention procedure

and build action projects promoting inclusion of young people

Keywords Adolescents Offender Municipio Public Policy

9

LISTA DE ABREVIATURAS E CIGLAS

ECA Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

MP Ministeacuterio Puacuteblico

P Paacutegina

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiccedila

10

LISTA DE TABELA

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo Jovem em Assis23

11

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO12

1 ndash O PROBLEMA DO MENOR INFRATOR NO BRASIL13

11 Aspectos Sociais13

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada15

13 Ato Infracional16

2 ndash ESTATUTO DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE17

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA18

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Socioeducativas 18

221 Medidas pertinentes aos Paisresponsaacuteveis21

3 ndash A APLICACcedilAtildeO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NA CIDADE DE

ASSIS22

31 Consideraccedilotildees Gerais22

32 Perfil Socioeconocircmico24

32 1 Perfil Juriacutedico25

322 Perfil Religioso26

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS27

REFEREcircNCIAS29

ANEXOS32

12

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho busca analisar a estrutura social econocircmica juriacutedica e religiosa

do adolescente infrator buscando identificar o padratildeo das relaccedilotildees familiares bem

como os atos infracionais praticados Nos termos de dispositivo constitucional (art

228 e regra geral de direito penal) os adolescentes infratores satildeo considerados

penalmente inimputaacuteveis

Facilmente se constata que satildeo adolescentes que pertencem a famiacutelias de baixa

renda desestruturadas e que dificilmente se ressocializam atraveacutes das medidas

socioeducativas que satildeo aplicadas gerando inuacutemeros debates acerca desta

situaccedilatildeo Neste sentido faz-se uma anaacutelise das medidas socioeducativas previstas

na legislaccedilatildeo especial vigente o chamado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

regulamentado pela Lei 80691990 diploma que visa garantir a proteccedilatildeo integral agrave

crianccedila e o adolescente regulando o preceito do artigo 227 da Constituiccedilatildeo Federal

Nessas condiccedilotildees o Estatuto assegura todas as oportunidades e facilidades para

um bom desenvolvimento fiacutesico mental moral e social dos menores e

posteriormente aplicando as medidas necessaacuterias para os que cometem atos

infracionais respeitando o previsto na legislaccedilatildeo

No entanto de uma forma ou de outra a delinquecircncia infanto-juvenil tem crescido

desmesuradamente em diversas cidades do Brasil ultrapassando seus limites

Assim os estudos sobre a violecircncia e o adolescente infrator tem o compromisso natildeo

soacute de transformar a ldquoconsciecircnciardquo em geral mas tambeacutem de orientar projetos de

accedilatildeo de forma a combater esse grave problema social Destarte considerando o

elevado iacutendice de adolescentes envolvidos com a criminalidade bem como a

complexidade acerca da delinquecircncia infanto-juvenil a pesquisa tem o objetivo de

tipificar o perfil do adolescente infrator em Assis propondo uma reflexatildeo acerca das

poliacuteticas puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio

13

1 ndash O Problema do Menor Infrator no Brasil

Neste primeiro capiacutetulo busca-se analisar a questatildeo do adolescente infrator no

Brasil Apresentando os aspectos sociais bem como a tutela jurisdicional

diferenciada que eacute aplicada e posteriormente viabilizando um panorama geral

acerca dos atos infracionais praticados

11 Aspectos Sociais

Nos primoacuterdios da sociedade as crianccedilas e os adolescentes natildeo possuiacuteam

garantia de direitos e proteccedilatildeo legal eram tratadas de forma lsquocruelrsquo sem dignidade e

respeito A palavra menor em seu sentido teacutecnico-juriacutedico no dicionaacuterio de Plaacutecido e

Silva (1982) ldquodesigna a pessoa que natildeo tenha atingido a maioridaderdquo ou ainda

aquele ldquoque natildeo atingiu a idade legal para que se considere maior e capazrdquo No

entanto ao longo do trabalho seraacute utilizada a expressatildeo adolescente infrator visto

que o termo ldquomenor infratorrdquo refere-se agrave expressatildeo pejorativa natildeo utilizada pelos

doutrinadores da aacuterea da infacircncia e juventude

Segundo Haim Grunspun (2000) ldquoas crianccedilas durante toda a histoacuteria humana

sempre trabalhavam junto agraves suas famiacutelias e tribos natildeo havendo distinccedilatildeo entre elas

e os adultos com quem conviviam praticando accedilotildees iguais aos adultos dentro de

suas capacidadesrdquo Neste sentido Minharro (2003 p 15) enfatiza que

ldquoEntre os egiacutepcios no periacuteodo das dinastias XII a XX todos os

cidadatildeos tinham a obrigaccedilatildeo do trabalho sem qualquer distinccedilatildeo ou

proteccedilatildeo especial estando assim os menores submetidos ao regime

aplicaacutevel a todos desde que jaacute possuiacutessem algum desenvolvimento

fiacutesico Em Roma e na Greacutecia antigas com a licitude da escravatura

os filhos dos escravos pertenciam aos amos ou senhores

trabalhando para estes sem qualquer remuneraccedilatildeo Por volta do

seacuteculo XVIII houve o crescimento da utilizaccedilatildeo da matildeo de obra

infantil onde as crianccedilas oacuterfatildes e de famiacutelias sem as miacutenimas

condiccedilotildees trabalhavam em troca de alimentaccedilatildeo Assim com o

surgimento das induacutestrias e avanccedilos da tecnologia tambeacutem surgiu a

problemaacutetica de crianccedilas envolvidas com a marginalidade decorrente

da maacute-distribuiccedilatildeo de renda da falta de emprego da falta de

14

assistecircncia familiar como o abandono maus-tratos e do proacuteprio

Estado pela ineficiecircncia das poliacuteticas adotadasrdquo

Logo verificou-se que os jovens encontravam-se desamparados sem direito agrave

educaccedilatildeo de qualidade sauacutede habitaccedilatildeo e seguranccedila expostos a realidade do

crime iniciavam diversas praacuteticas de atos infracionais

Manuel Augusto Vieira Neto (RT 181491 1949) em excelente dissertaccedilatildeo

estabelece que

A personalidade humana natildeo surge completa () a personalidade vai

num crescente desabrochar e a vida pode ser dividida em periacuteodos

mais ou menos definidos segundo os estaacutedios do desenvolvimento

fiacutesico e mental E foi ao seacuteculo XIX que se apresentou o problema dos

menores com redobradas dificuldades Vaacuterias causas concorriam o

notaacutevel desenvolvimento das induacutestrias a formaccedilatildeo das grandes

populaccedilotildees urbanas o trabalho fora do lar agrave competiccedilatildeo feminina o

afrouxamento dos laccedilos familiares e as consequecircncias dessas

mutaccedilotildees logo se fizeram sentir abandono fiacutesico e moral da infacircncia

e o corolaacuterio natural aumento de criminalidade

Neste aspecto Norberto Bobbio em seu livro A Era dos Direitos (1992 p 19)

afirma que ldquoo direito constitui-se de uma classe variaacutevel que se modifica e continua a

se modificar com a mudanccedila das condiccedilotildees histoacutericas O que parece fundamental

numa eacutepoca histoacuterica e numa determinada civilizaccedilatildeo natildeo eacute fundamental em outras

eacutepocas e em outras culturasrdquo Entretanto o grande problema atual natildeo eacute justificar os

direitos que um cidadatildeo possui mas sim o de protegecirc-los Destarte em 20 de

novembro de 1959 proclamou-se a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos da Crianccedila

estabelecendo proteccedilatildeo integral agrave crianccedila e o adolescente como sujeitos de direito

Ou seja a crianccedila deixou de ser vista como mero objeto de proteccedilatildeo para ser

alcanccedilada como sujeito de direitos

Por outro lado assegurar um desenvolvimento tranquilo para estes adolescentes

proporcionando condiccedilotildees para uma iacutentegra formaccedilatildeo moral e intelectual eacute uma

incumbecircncia difiacutecil diante do complexo quadro social brasileiro vivenciado

atualmente onde muacuteltiplas e graves causas vecircm sendo analisadas ao longo dos

uacuteltimos anos como a crise da famiacutelia a precariedade do sistema educacional o

15

ambiente social favorecendo a permissividade das condutas em todos os seus

aspectos e a falta de eacutetica em todos os seus aspectos (pessoal familiar social e

poliacutetico) Maria Garcia livre-docente pela PUC-SP (2008) afirma que ldquoas notiacutecias

demonstram que quer nas classes meacutedia e alta quer nas classes destituiacutedas a

delinquecircncia se demonstra ativa com idecircntico grau de violecircnciardquo Assim verifica-se

o papel primordial da famiacutelia visto que os pais mais perniciosos satildeo exatamente os

que associam os filhos a essa recusa de enfrentar a realidade isso porque assim

como a famiacutelia eacute o ponto de partida do crime a famiacutelia tambeacutem eacute o ponto de retorno

do infrator Destarte se a famiacutelia encontra-se desestruturada dificilmente o jovem iraacute

se ressocializar

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada

A jurisdiccedilatildeo consiste ainda numa atividade puacuteblica monopoacutelio do Poder Judiciaacuterio

Embora haja decisatildeo de contenciosos administrativos estas natildeo impedem a atuaccedilatildeo

ou exerciacutecio da atividade jurisdicional (art 5ordm XXXV CF88) Segundo Paulo Afonso

Garrido de Paula (2002 p 72)

A tutela jurisdicional consiste na proteccedilatildeo estatal aos direitos natildeo

reconhecidos espontaneamente esvaziados na sua eficaacutecia ou

dependentes de um aval Sua finalidade puacuteblica reitere-se eacute

assegurar a paz social impedindo a supremacia de forccedila ou a

constituiccedilatildeo de situaccedilotildees juriacutedicas em desacordo com a lei validando

as normas prescritivas do Estado Social definido na Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica

Com a Constituiccedilatildeo de 1988 atraveacutes do artigo 227 caput estabelecendo que

ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila

ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade o direito agrave vida

agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave

16

cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia familiar

e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a salvo de toda forma de

negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e

proteccedilatildeordquo

Reconheceu-se a possibilidade de crianccedilas e adolescentes participarem direta e

amplamente de relaccedilotildees juriacutedicas na qualidade de titulares de direitos capazes

para o exerciacutecio pessoal de direitos relacionados ao desenvolvimento saudaacutevel e de

garantias ligadas agrave integridade recebendo uma tutela jurisdicional diferenciada Ou

seja aplicando uma proteccedilatildeo amparo e auxiacutelio maior as crianccedilas e aos

adolescentes visto que trata-se de direitos especiais e especiacuteficos pela condiccedilatildeo de

pessoas em desenvolvimento Segundo Afonso Garrido (2002) ldquoo fundamento

objetivo da tutela jurisdicional diferenciada devida agrave crianccedila e ao adolescente reside

na existecircncia de um microssistema de distribuiccedilatildeo de justiccedila introduzido por lei

especialrdquo Neste sentido aborda que a tutela jurisdicional diferenciada ldquose revela

notadamente pela disciplina especial do acesso aacute justiccedila conjunto de regras que

compotildeem o Tiacutetulo VI do Livro II da Lei 806990 ou seja do Estatuto da Crianccedila e

do Adolescenterdquo

13 Ato Infracional

Conforme o artigo 103 do ECA ato infracional eacute a conduta descrita como crime ou

contravenccedilatildeo penal ou seja eacute a conduta que viola as normas previstas no

ordenamento juriacutedico Logo tem-se que o menor de 18 anos ndash inimputaacutevel natildeo

pratica infraccedilatildeo penal mas sim ato infracional Destarte por serem inimputaacuteveis

natildeo estatildeo sujeitos agrave responsabilidade penal devendo ser submetidos a medidas de

proteccedilatildeo (se forem crianccedilas) ou a medidas socioeducativas (se tratar-se de

adolescentes) Podendo ainda ser submetido aacutes duas no caso de adolescentes

Sob o aspecto conceitual considera-se crianccedila1 aquele que nasceu com vida ateacute

os doze anos de idade incompletos e o ECA protege a crianccedila conforme estabelece

o artigo 101 da lei especial onde estas jamais poderatildeo se submeter a Medidas 1 Conceito de Thales Taacutecito Cerqueira no livro Manual do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash

Teoria e Praacutetica Impetus 2010

17

Socioeducativas dispostas no artigo 112 O autor ainda estabelece o conceito de

adolescente como ldquoaquele que tem de doze anos completos ateacute dezoito

incompletos Destarte o ECA prevecirc a proteccedilatildeo e procedimento especial para esse

adolescente que pratica algum ato infracional conforme o disposto no artigo 112

Posteriormente o artigo 110 do mesmo Estatuto estabelece que ldquoNenhum

adolescente seraacute privado de sua liberdade sem o devido processo legalrdquo Logo somente

eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo de medidas mais incisivas em especial a internaccedilatildeo (artigo 112

inciso VI do ECA) quando haacute prova cabal firme completa induvidosa e tambeacutem

coerente Sendo que o regime de semiliberdade (artigo 112 inciso V do ECA) e da

liberdade assistida (artigo 112 inciso IV do ECA) podem ser recomendaacuteveis em muitas

hipoacuteteses na medida em que a segregaccedilatildeo (internaccedilatildeo) constitui exceccedilatildeo e deve ser

evitada a todo custo

II Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente trata-se de um conjunto de normas com a

finalidade de instituir a proteccedilatildeo integral ao adolescente em prioridade absoluta

(arts 227 caput da Constituiccedilatildeo Federal e 4deg do ECA) Consequentemente com a

finalidade de garantir o pleno desenvolvimento do adolescente nas questotildees morais

eacuteticas e religiosas

Segundo Afonso Garrido (2002 p 83)

Como as principais relaccedilotildees juriacutedicas entre o mundo infanto-juvenil e

o mundo adulto encontram-se disciplinadas em um microssistema

criado pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente a elas satildeo

aplicaacuteveis agraves normas do Coacutedigo Civil do Coacutedigo de Processo Civil

etc Quando houver lacuna no Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

e mesmo assim se natildeo forem incompatiacuteveis com os seus princiacutepios

fundamentais

18

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

9

LISTA DE ABREVIATURAS E CIGLAS

ECA Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

MP Ministeacuterio Puacuteblico

P Paacutegina

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiccedila

10

LISTA DE TABELA

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo Jovem em Assis23

11

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO12

1 ndash O PROBLEMA DO MENOR INFRATOR NO BRASIL13

11 Aspectos Sociais13

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada15

13 Ato Infracional16

2 ndash ESTATUTO DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE17

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA18

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Socioeducativas 18

221 Medidas pertinentes aos Paisresponsaacuteveis21

3 ndash A APLICACcedilAtildeO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NA CIDADE DE

ASSIS22

31 Consideraccedilotildees Gerais22

32 Perfil Socioeconocircmico24

32 1 Perfil Juriacutedico25

322 Perfil Religioso26

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS27

REFEREcircNCIAS29

ANEXOS32

12

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho busca analisar a estrutura social econocircmica juriacutedica e religiosa

do adolescente infrator buscando identificar o padratildeo das relaccedilotildees familiares bem

como os atos infracionais praticados Nos termos de dispositivo constitucional (art

228 e regra geral de direito penal) os adolescentes infratores satildeo considerados

penalmente inimputaacuteveis

Facilmente se constata que satildeo adolescentes que pertencem a famiacutelias de baixa

renda desestruturadas e que dificilmente se ressocializam atraveacutes das medidas

socioeducativas que satildeo aplicadas gerando inuacutemeros debates acerca desta

situaccedilatildeo Neste sentido faz-se uma anaacutelise das medidas socioeducativas previstas

na legislaccedilatildeo especial vigente o chamado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

regulamentado pela Lei 80691990 diploma que visa garantir a proteccedilatildeo integral agrave

crianccedila e o adolescente regulando o preceito do artigo 227 da Constituiccedilatildeo Federal

Nessas condiccedilotildees o Estatuto assegura todas as oportunidades e facilidades para

um bom desenvolvimento fiacutesico mental moral e social dos menores e

posteriormente aplicando as medidas necessaacuterias para os que cometem atos

infracionais respeitando o previsto na legislaccedilatildeo

No entanto de uma forma ou de outra a delinquecircncia infanto-juvenil tem crescido

desmesuradamente em diversas cidades do Brasil ultrapassando seus limites

Assim os estudos sobre a violecircncia e o adolescente infrator tem o compromisso natildeo

soacute de transformar a ldquoconsciecircnciardquo em geral mas tambeacutem de orientar projetos de

accedilatildeo de forma a combater esse grave problema social Destarte considerando o

elevado iacutendice de adolescentes envolvidos com a criminalidade bem como a

complexidade acerca da delinquecircncia infanto-juvenil a pesquisa tem o objetivo de

tipificar o perfil do adolescente infrator em Assis propondo uma reflexatildeo acerca das

poliacuteticas puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio

13

1 ndash O Problema do Menor Infrator no Brasil

Neste primeiro capiacutetulo busca-se analisar a questatildeo do adolescente infrator no

Brasil Apresentando os aspectos sociais bem como a tutela jurisdicional

diferenciada que eacute aplicada e posteriormente viabilizando um panorama geral

acerca dos atos infracionais praticados

11 Aspectos Sociais

Nos primoacuterdios da sociedade as crianccedilas e os adolescentes natildeo possuiacuteam

garantia de direitos e proteccedilatildeo legal eram tratadas de forma lsquocruelrsquo sem dignidade e

respeito A palavra menor em seu sentido teacutecnico-juriacutedico no dicionaacuterio de Plaacutecido e

Silva (1982) ldquodesigna a pessoa que natildeo tenha atingido a maioridaderdquo ou ainda

aquele ldquoque natildeo atingiu a idade legal para que se considere maior e capazrdquo No

entanto ao longo do trabalho seraacute utilizada a expressatildeo adolescente infrator visto

que o termo ldquomenor infratorrdquo refere-se agrave expressatildeo pejorativa natildeo utilizada pelos

doutrinadores da aacuterea da infacircncia e juventude

Segundo Haim Grunspun (2000) ldquoas crianccedilas durante toda a histoacuteria humana

sempre trabalhavam junto agraves suas famiacutelias e tribos natildeo havendo distinccedilatildeo entre elas

e os adultos com quem conviviam praticando accedilotildees iguais aos adultos dentro de

suas capacidadesrdquo Neste sentido Minharro (2003 p 15) enfatiza que

ldquoEntre os egiacutepcios no periacuteodo das dinastias XII a XX todos os

cidadatildeos tinham a obrigaccedilatildeo do trabalho sem qualquer distinccedilatildeo ou

proteccedilatildeo especial estando assim os menores submetidos ao regime

aplicaacutevel a todos desde que jaacute possuiacutessem algum desenvolvimento

fiacutesico Em Roma e na Greacutecia antigas com a licitude da escravatura

os filhos dos escravos pertenciam aos amos ou senhores

trabalhando para estes sem qualquer remuneraccedilatildeo Por volta do

seacuteculo XVIII houve o crescimento da utilizaccedilatildeo da matildeo de obra

infantil onde as crianccedilas oacuterfatildes e de famiacutelias sem as miacutenimas

condiccedilotildees trabalhavam em troca de alimentaccedilatildeo Assim com o

surgimento das induacutestrias e avanccedilos da tecnologia tambeacutem surgiu a

problemaacutetica de crianccedilas envolvidas com a marginalidade decorrente

da maacute-distribuiccedilatildeo de renda da falta de emprego da falta de

14

assistecircncia familiar como o abandono maus-tratos e do proacuteprio

Estado pela ineficiecircncia das poliacuteticas adotadasrdquo

Logo verificou-se que os jovens encontravam-se desamparados sem direito agrave

educaccedilatildeo de qualidade sauacutede habitaccedilatildeo e seguranccedila expostos a realidade do

crime iniciavam diversas praacuteticas de atos infracionais

Manuel Augusto Vieira Neto (RT 181491 1949) em excelente dissertaccedilatildeo

estabelece que

A personalidade humana natildeo surge completa () a personalidade vai

num crescente desabrochar e a vida pode ser dividida em periacuteodos

mais ou menos definidos segundo os estaacutedios do desenvolvimento

fiacutesico e mental E foi ao seacuteculo XIX que se apresentou o problema dos

menores com redobradas dificuldades Vaacuterias causas concorriam o

notaacutevel desenvolvimento das induacutestrias a formaccedilatildeo das grandes

populaccedilotildees urbanas o trabalho fora do lar agrave competiccedilatildeo feminina o

afrouxamento dos laccedilos familiares e as consequecircncias dessas

mutaccedilotildees logo se fizeram sentir abandono fiacutesico e moral da infacircncia

e o corolaacuterio natural aumento de criminalidade

Neste aspecto Norberto Bobbio em seu livro A Era dos Direitos (1992 p 19)

afirma que ldquoo direito constitui-se de uma classe variaacutevel que se modifica e continua a

se modificar com a mudanccedila das condiccedilotildees histoacutericas O que parece fundamental

numa eacutepoca histoacuterica e numa determinada civilizaccedilatildeo natildeo eacute fundamental em outras

eacutepocas e em outras culturasrdquo Entretanto o grande problema atual natildeo eacute justificar os

direitos que um cidadatildeo possui mas sim o de protegecirc-los Destarte em 20 de

novembro de 1959 proclamou-se a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos da Crianccedila

estabelecendo proteccedilatildeo integral agrave crianccedila e o adolescente como sujeitos de direito

Ou seja a crianccedila deixou de ser vista como mero objeto de proteccedilatildeo para ser

alcanccedilada como sujeito de direitos

Por outro lado assegurar um desenvolvimento tranquilo para estes adolescentes

proporcionando condiccedilotildees para uma iacutentegra formaccedilatildeo moral e intelectual eacute uma

incumbecircncia difiacutecil diante do complexo quadro social brasileiro vivenciado

atualmente onde muacuteltiplas e graves causas vecircm sendo analisadas ao longo dos

uacuteltimos anos como a crise da famiacutelia a precariedade do sistema educacional o

15

ambiente social favorecendo a permissividade das condutas em todos os seus

aspectos e a falta de eacutetica em todos os seus aspectos (pessoal familiar social e

poliacutetico) Maria Garcia livre-docente pela PUC-SP (2008) afirma que ldquoas notiacutecias

demonstram que quer nas classes meacutedia e alta quer nas classes destituiacutedas a

delinquecircncia se demonstra ativa com idecircntico grau de violecircnciardquo Assim verifica-se

o papel primordial da famiacutelia visto que os pais mais perniciosos satildeo exatamente os

que associam os filhos a essa recusa de enfrentar a realidade isso porque assim

como a famiacutelia eacute o ponto de partida do crime a famiacutelia tambeacutem eacute o ponto de retorno

do infrator Destarte se a famiacutelia encontra-se desestruturada dificilmente o jovem iraacute

se ressocializar

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada

A jurisdiccedilatildeo consiste ainda numa atividade puacuteblica monopoacutelio do Poder Judiciaacuterio

Embora haja decisatildeo de contenciosos administrativos estas natildeo impedem a atuaccedilatildeo

ou exerciacutecio da atividade jurisdicional (art 5ordm XXXV CF88) Segundo Paulo Afonso

Garrido de Paula (2002 p 72)

A tutela jurisdicional consiste na proteccedilatildeo estatal aos direitos natildeo

reconhecidos espontaneamente esvaziados na sua eficaacutecia ou

dependentes de um aval Sua finalidade puacuteblica reitere-se eacute

assegurar a paz social impedindo a supremacia de forccedila ou a

constituiccedilatildeo de situaccedilotildees juriacutedicas em desacordo com a lei validando

as normas prescritivas do Estado Social definido na Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica

Com a Constituiccedilatildeo de 1988 atraveacutes do artigo 227 caput estabelecendo que

ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila

ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade o direito agrave vida

agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave

16

cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia familiar

e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a salvo de toda forma de

negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e

proteccedilatildeordquo

Reconheceu-se a possibilidade de crianccedilas e adolescentes participarem direta e

amplamente de relaccedilotildees juriacutedicas na qualidade de titulares de direitos capazes

para o exerciacutecio pessoal de direitos relacionados ao desenvolvimento saudaacutevel e de

garantias ligadas agrave integridade recebendo uma tutela jurisdicional diferenciada Ou

seja aplicando uma proteccedilatildeo amparo e auxiacutelio maior as crianccedilas e aos

adolescentes visto que trata-se de direitos especiais e especiacuteficos pela condiccedilatildeo de

pessoas em desenvolvimento Segundo Afonso Garrido (2002) ldquoo fundamento

objetivo da tutela jurisdicional diferenciada devida agrave crianccedila e ao adolescente reside

na existecircncia de um microssistema de distribuiccedilatildeo de justiccedila introduzido por lei

especialrdquo Neste sentido aborda que a tutela jurisdicional diferenciada ldquose revela

notadamente pela disciplina especial do acesso aacute justiccedila conjunto de regras que

compotildeem o Tiacutetulo VI do Livro II da Lei 806990 ou seja do Estatuto da Crianccedila e

do Adolescenterdquo

13 Ato Infracional

Conforme o artigo 103 do ECA ato infracional eacute a conduta descrita como crime ou

contravenccedilatildeo penal ou seja eacute a conduta que viola as normas previstas no

ordenamento juriacutedico Logo tem-se que o menor de 18 anos ndash inimputaacutevel natildeo

pratica infraccedilatildeo penal mas sim ato infracional Destarte por serem inimputaacuteveis

natildeo estatildeo sujeitos agrave responsabilidade penal devendo ser submetidos a medidas de

proteccedilatildeo (se forem crianccedilas) ou a medidas socioeducativas (se tratar-se de

adolescentes) Podendo ainda ser submetido aacutes duas no caso de adolescentes

Sob o aspecto conceitual considera-se crianccedila1 aquele que nasceu com vida ateacute

os doze anos de idade incompletos e o ECA protege a crianccedila conforme estabelece

o artigo 101 da lei especial onde estas jamais poderatildeo se submeter a Medidas 1 Conceito de Thales Taacutecito Cerqueira no livro Manual do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash

Teoria e Praacutetica Impetus 2010

17

Socioeducativas dispostas no artigo 112 O autor ainda estabelece o conceito de

adolescente como ldquoaquele que tem de doze anos completos ateacute dezoito

incompletos Destarte o ECA prevecirc a proteccedilatildeo e procedimento especial para esse

adolescente que pratica algum ato infracional conforme o disposto no artigo 112

Posteriormente o artigo 110 do mesmo Estatuto estabelece que ldquoNenhum

adolescente seraacute privado de sua liberdade sem o devido processo legalrdquo Logo somente

eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo de medidas mais incisivas em especial a internaccedilatildeo (artigo 112

inciso VI do ECA) quando haacute prova cabal firme completa induvidosa e tambeacutem

coerente Sendo que o regime de semiliberdade (artigo 112 inciso V do ECA) e da

liberdade assistida (artigo 112 inciso IV do ECA) podem ser recomendaacuteveis em muitas

hipoacuteteses na medida em que a segregaccedilatildeo (internaccedilatildeo) constitui exceccedilatildeo e deve ser

evitada a todo custo

II Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente trata-se de um conjunto de normas com a

finalidade de instituir a proteccedilatildeo integral ao adolescente em prioridade absoluta

(arts 227 caput da Constituiccedilatildeo Federal e 4deg do ECA) Consequentemente com a

finalidade de garantir o pleno desenvolvimento do adolescente nas questotildees morais

eacuteticas e religiosas

Segundo Afonso Garrido (2002 p 83)

Como as principais relaccedilotildees juriacutedicas entre o mundo infanto-juvenil e

o mundo adulto encontram-se disciplinadas em um microssistema

criado pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente a elas satildeo

aplicaacuteveis agraves normas do Coacutedigo Civil do Coacutedigo de Processo Civil

etc Quando houver lacuna no Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

e mesmo assim se natildeo forem incompatiacuteveis com os seus princiacutepios

fundamentais

18

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

10

LISTA DE TABELA

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo Jovem em Assis23

11

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO12

1 ndash O PROBLEMA DO MENOR INFRATOR NO BRASIL13

11 Aspectos Sociais13

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada15

13 Ato Infracional16

2 ndash ESTATUTO DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE17

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA18

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Socioeducativas 18

221 Medidas pertinentes aos Paisresponsaacuteveis21

3 ndash A APLICACcedilAtildeO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NA CIDADE DE

ASSIS22

31 Consideraccedilotildees Gerais22

32 Perfil Socioeconocircmico24

32 1 Perfil Juriacutedico25

322 Perfil Religioso26

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS27

REFEREcircNCIAS29

ANEXOS32

12

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho busca analisar a estrutura social econocircmica juriacutedica e religiosa

do adolescente infrator buscando identificar o padratildeo das relaccedilotildees familiares bem

como os atos infracionais praticados Nos termos de dispositivo constitucional (art

228 e regra geral de direito penal) os adolescentes infratores satildeo considerados

penalmente inimputaacuteveis

Facilmente se constata que satildeo adolescentes que pertencem a famiacutelias de baixa

renda desestruturadas e que dificilmente se ressocializam atraveacutes das medidas

socioeducativas que satildeo aplicadas gerando inuacutemeros debates acerca desta

situaccedilatildeo Neste sentido faz-se uma anaacutelise das medidas socioeducativas previstas

na legislaccedilatildeo especial vigente o chamado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

regulamentado pela Lei 80691990 diploma que visa garantir a proteccedilatildeo integral agrave

crianccedila e o adolescente regulando o preceito do artigo 227 da Constituiccedilatildeo Federal

Nessas condiccedilotildees o Estatuto assegura todas as oportunidades e facilidades para

um bom desenvolvimento fiacutesico mental moral e social dos menores e

posteriormente aplicando as medidas necessaacuterias para os que cometem atos

infracionais respeitando o previsto na legislaccedilatildeo

No entanto de uma forma ou de outra a delinquecircncia infanto-juvenil tem crescido

desmesuradamente em diversas cidades do Brasil ultrapassando seus limites

Assim os estudos sobre a violecircncia e o adolescente infrator tem o compromisso natildeo

soacute de transformar a ldquoconsciecircnciardquo em geral mas tambeacutem de orientar projetos de

accedilatildeo de forma a combater esse grave problema social Destarte considerando o

elevado iacutendice de adolescentes envolvidos com a criminalidade bem como a

complexidade acerca da delinquecircncia infanto-juvenil a pesquisa tem o objetivo de

tipificar o perfil do adolescente infrator em Assis propondo uma reflexatildeo acerca das

poliacuteticas puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio

13

1 ndash O Problema do Menor Infrator no Brasil

Neste primeiro capiacutetulo busca-se analisar a questatildeo do adolescente infrator no

Brasil Apresentando os aspectos sociais bem como a tutela jurisdicional

diferenciada que eacute aplicada e posteriormente viabilizando um panorama geral

acerca dos atos infracionais praticados

11 Aspectos Sociais

Nos primoacuterdios da sociedade as crianccedilas e os adolescentes natildeo possuiacuteam

garantia de direitos e proteccedilatildeo legal eram tratadas de forma lsquocruelrsquo sem dignidade e

respeito A palavra menor em seu sentido teacutecnico-juriacutedico no dicionaacuterio de Plaacutecido e

Silva (1982) ldquodesigna a pessoa que natildeo tenha atingido a maioridaderdquo ou ainda

aquele ldquoque natildeo atingiu a idade legal para que se considere maior e capazrdquo No

entanto ao longo do trabalho seraacute utilizada a expressatildeo adolescente infrator visto

que o termo ldquomenor infratorrdquo refere-se agrave expressatildeo pejorativa natildeo utilizada pelos

doutrinadores da aacuterea da infacircncia e juventude

Segundo Haim Grunspun (2000) ldquoas crianccedilas durante toda a histoacuteria humana

sempre trabalhavam junto agraves suas famiacutelias e tribos natildeo havendo distinccedilatildeo entre elas

e os adultos com quem conviviam praticando accedilotildees iguais aos adultos dentro de

suas capacidadesrdquo Neste sentido Minharro (2003 p 15) enfatiza que

ldquoEntre os egiacutepcios no periacuteodo das dinastias XII a XX todos os

cidadatildeos tinham a obrigaccedilatildeo do trabalho sem qualquer distinccedilatildeo ou

proteccedilatildeo especial estando assim os menores submetidos ao regime

aplicaacutevel a todos desde que jaacute possuiacutessem algum desenvolvimento

fiacutesico Em Roma e na Greacutecia antigas com a licitude da escravatura

os filhos dos escravos pertenciam aos amos ou senhores

trabalhando para estes sem qualquer remuneraccedilatildeo Por volta do

seacuteculo XVIII houve o crescimento da utilizaccedilatildeo da matildeo de obra

infantil onde as crianccedilas oacuterfatildes e de famiacutelias sem as miacutenimas

condiccedilotildees trabalhavam em troca de alimentaccedilatildeo Assim com o

surgimento das induacutestrias e avanccedilos da tecnologia tambeacutem surgiu a

problemaacutetica de crianccedilas envolvidas com a marginalidade decorrente

da maacute-distribuiccedilatildeo de renda da falta de emprego da falta de

14

assistecircncia familiar como o abandono maus-tratos e do proacuteprio

Estado pela ineficiecircncia das poliacuteticas adotadasrdquo

Logo verificou-se que os jovens encontravam-se desamparados sem direito agrave

educaccedilatildeo de qualidade sauacutede habitaccedilatildeo e seguranccedila expostos a realidade do

crime iniciavam diversas praacuteticas de atos infracionais

Manuel Augusto Vieira Neto (RT 181491 1949) em excelente dissertaccedilatildeo

estabelece que

A personalidade humana natildeo surge completa () a personalidade vai

num crescente desabrochar e a vida pode ser dividida em periacuteodos

mais ou menos definidos segundo os estaacutedios do desenvolvimento

fiacutesico e mental E foi ao seacuteculo XIX que se apresentou o problema dos

menores com redobradas dificuldades Vaacuterias causas concorriam o

notaacutevel desenvolvimento das induacutestrias a formaccedilatildeo das grandes

populaccedilotildees urbanas o trabalho fora do lar agrave competiccedilatildeo feminina o

afrouxamento dos laccedilos familiares e as consequecircncias dessas

mutaccedilotildees logo se fizeram sentir abandono fiacutesico e moral da infacircncia

e o corolaacuterio natural aumento de criminalidade

Neste aspecto Norberto Bobbio em seu livro A Era dos Direitos (1992 p 19)

afirma que ldquoo direito constitui-se de uma classe variaacutevel que se modifica e continua a

se modificar com a mudanccedila das condiccedilotildees histoacutericas O que parece fundamental

numa eacutepoca histoacuterica e numa determinada civilizaccedilatildeo natildeo eacute fundamental em outras

eacutepocas e em outras culturasrdquo Entretanto o grande problema atual natildeo eacute justificar os

direitos que um cidadatildeo possui mas sim o de protegecirc-los Destarte em 20 de

novembro de 1959 proclamou-se a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos da Crianccedila

estabelecendo proteccedilatildeo integral agrave crianccedila e o adolescente como sujeitos de direito

Ou seja a crianccedila deixou de ser vista como mero objeto de proteccedilatildeo para ser

alcanccedilada como sujeito de direitos

Por outro lado assegurar um desenvolvimento tranquilo para estes adolescentes

proporcionando condiccedilotildees para uma iacutentegra formaccedilatildeo moral e intelectual eacute uma

incumbecircncia difiacutecil diante do complexo quadro social brasileiro vivenciado

atualmente onde muacuteltiplas e graves causas vecircm sendo analisadas ao longo dos

uacuteltimos anos como a crise da famiacutelia a precariedade do sistema educacional o

15

ambiente social favorecendo a permissividade das condutas em todos os seus

aspectos e a falta de eacutetica em todos os seus aspectos (pessoal familiar social e

poliacutetico) Maria Garcia livre-docente pela PUC-SP (2008) afirma que ldquoas notiacutecias

demonstram que quer nas classes meacutedia e alta quer nas classes destituiacutedas a

delinquecircncia se demonstra ativa com idecircntico grau de violecircnciardquo Assim verifica-se

o papel primordial da famiacutelia visto que os pais mais perniciosos satildeo exatamente os

que associam os filhos a essa recusa de enfrentar a realidade isso porque assim

como a famiacutelia eacute o ponto de partida do crime a famiacutelia tambeacutem eacute o ponto de retorno

do infrator Destarte se a famiacutelia encontra-se desestruturada dificilmente o jovem iraacute

se ressocializar

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada

A jurisdiccedilatildeo consiste ainda numa atividade puacuteblica monopoacutelio do Poder Judiciaacuterio

Embora haja decisatildeo de contenciosos administrativos estas natildeo impedem a atuaccedilatildeo

ou exerciacutecio da atividade jurisdicional (art 5ordm XXXV CF88) Segundo Paulo Afonso

Garrido de Paula (2002 p 72)

A tutela jurisdicional consiste na proteccedilatildeo estatal aos direitos natildeo

reconhecidos espontaneamente esvaziados na sua eficaacutecia ou

dependentes de um aval Sua finalidade puacuteblica reitere-se eacute

assegurar a paz social impedindo a supremacia de forccedila ou a

constituiccedilatildeo de situaccedilotildees juriacutedicas em desacordo com a lei validando

as normas prescritivas do Estado Social definido na Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica

Com a Constituiccedilatildeo de 1988 atraveacutes do artigo 227 caput estabelecendo que

ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila

ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade o direito agrave vida

agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave

16

cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia familiar

e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a salvo de toda forma de

negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e

proteccedilatildeordquo

Reconheceu-se a possibilidade de crianccedilas e adolescentes participarem direta e

amplamente de relaccedilotildees juriacutedicas na qualidade de titulares de direitos capazes

para o exerciacutecio pessoal de direitos relacionados ao desenvolvimento saudaacutevel e de

garantias ligadas agrave integridade recebendo uma tutela jurisdicional diferenciada Ou

seja aplicando uma proteccedilatildeo amparo e auxiacutelio maior as crianccedilas e aos

adolescentes visto que trata-se de direitos especiais e especiacuteficos pela condiccedilatildeo de

pessoas em desenvolvimento Segundo Afonso Garrido (2002) ldquoo fundamento

objetivo da tutela jurisdicional diferenciada devida agrave crianccedila e ao adolescente reside

na existecircncia de um microssistema de distribuiccedilatildeo de justiccedila introduzido por lei

especialrdquo Neste sentido aborda que a tutela jurisdicional diferenciada ldquose revela

notadamente pela disciplina especial do acesso aacute justiccedila conjunto de regras que

compotildeem o Tiacutetulo VI do Livro II da Lei 806990 ou seja do Estatuto da Crianccedila e

do Adolescenterdquo

13 Ato Infracional

Conforme o artigo 103 do ECA ato infracional eacute a conduta descrita como crime ou

contravenccedilatildeo penal ou seja eacute a conduta que viola as normas previstas no

ordenamento juriacutedico Logo tem-se que o menor de 18 anos ndash inimputaacutevel natildeo

pratica infraccedilatildeo penal mas sim ato infracional Destarte por serem inimputaacuteveis

natildeo estatildeo sujeitos agrave responsabilidade penal devendo ser submetidos a medidas de

proteccedilatildeo (se forem crianccedilas) ou a medidas socioeducativas (se tratar-se de

adolescentes) Podendo ainda ser submetido aacutes duas no caso de adolescentes

Sob o aspecto conceitual considera-se crianccedila1 aquele que nasceu com vida ateacute

os doze anos de idade incompletos e o ECA protege a crianccedila conforme estabelece

o artigo 101 da lei especial onde estas jamais poderatildeo se submeter a Medidas 1 Conceito de Thales Taacutecito Cerqueira no livro Manual do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash

Teoria e Praacutetica Impetus 2010

17

Socioeducativas dispostas no artigo 112 O autor ainda estabelece o conceito de

adolescente como ldquoaquele que tem de doze anos completos ateacute dezoito

incompletos Destarte o ECA prevecirc a proteccedilatildeo e procedimento especial para esse

adolescente que pratica algum ato infracional conforme o disposto no artigo 112

Posteriormente o artigo 110 do mesmo Estatuto estabelece que ldquoNenhum

adolescente seraacute privado de sua liberdade sem o devido processo legalrdquo Logo somente

eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo de medidas mais incisivas em especial a internaccedilatildeo (artigo 112

inciso VI do ECA) quando haacute prova cabal firme completa induvidosa e tambeacutem

coerente Sendo que o regime de semiliberdade (artigo 112 inciso V do ECA) e da

liberdade assistida (artigo 112 inciso IV do ECA) podem ser recomendaacuteveis em muitas

hipoacuteteses na medida em que a segregaccedilatildeo (internaccedilatildeo) constitui exceccedilatildeo e deve ser

evitada a todo custo

II Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente trata-se de um conjunto de normas com a

finalidade de instituir a proteccedilatildeo integral ao adolescente em prioridade absoluta

(arts 227 caput da Constituiccedilatildeo Federal e 4deg do ECA) Consequentemente com a

finalidade de garantir o pleno desenvolvimento do adolescente nas questotildees morais

eacuteticas e religiosas

Segundo Afonso Garrido (2002 p 83)

Como as principais relaccedilotildees juriacutedicas entre o mundo infanto-juvenil e

o mundo adulto encontram-se disciplinadas em um microssistema

criado pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente a elas satildeo

aplicaacuteveis agraves normas do Coacutedigo Civil do Coacutedigo de Processo Civil

etc Quando houver lacuna no Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

e mesmo assim se natildeo forem incompatiacuteveis com os seus princiacutepios

fundamentais

18

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

11

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO12

1 ndash O PROBLEMA DO MENOR INFRATOR NO BRASIL13

11 Aspectos Sociais13

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada15

13 Ato Infracional16

2 ndash ESTATUTO DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE17

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA18

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Socioeducativas 18

221 Medidas pertinentes aos Paisresponsaacuteveis21

3 ndash A APLICACcedilAtildeO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NA CIDADE DE

ASSIS22

31 Consideraccedilotildees Gerais22

32 Perfil Socioeconocircmico24

32 1 Perfil Juriacutedico25

322 Perfil Religioso26

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS27

REFEREcircNCIAS29

ANEXOS32

12

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho busca analisar a estrutura social econocircmica juriacutedica e religiosa

do adolescente infrator buscando identificar o padratildeo das relaccedilotildees familiares bem

como os atos infracionais praticados Nos termos de dispositivo constitucional (art

228 e regra geral de direito penal) os adolescentes infratores satildeo considerados

penalmente inimputaacuteveis

Facilmente se constata que satildeo adolescentes que pertencem a famiacutelias de baixa

renda desestruturadas e que dificilmente se ressocializam atraveacutes das medidas

socioeducativas que satildeo aplicadas gerando inuacutemeros debates acerca desta

situaccedilatildeo Neste sentido faz-se uma anaacutelise das medidas socioeducativas previstas

na legislaccedilatildeo especial vigente o chamado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

regulamentado pela Lei 80691990 diploma que visa garantir a proteccedilatildeo integral agrave

crianccedila e o adolescente regulando o preceito do artigo 227 da Constituiccedilatildeo Federal

Nessas condiccedilotildees o Estatuto assegura todas as oportunidades e facilidades para

um bom desenvolvimento fiacutesico mental moral e social dos menores e

posteriormente aplicando as medidas necessaacuterias para os que cometem atos

infracionais respeitando o previsto na legislaccedilatildeo

No entanto de uma forma ou de outra a delinquecircncia infanto-juvenil tem crescido

desmesuradamente em diversas cidades do Brasil ultrapassando seus limites

Assim os estudos sobre a violecircncia e o adolescente infrator tem o compromisso natildeo

soacute de transformar a ldquoconsciecircnciardquo em geral mas tambeacutem de orientar projetos de

accedilatildeo de forma a combater esse grave problema social Destarte considerando o

elevado iacutendice de adolescentes envolvidos com a criminalidade bem como a

complexidade acerca da delinquecircncia infanto-juvenil a pesquisa tem o objetivo de

tipificar o perfil do adolescente infrator em Assis propondo uma reflexatildeo acerca das

poliacuteticas puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio

13

1 ndash O Problema do Menor Infrator no Brasil

Neste primeiro capiacutetulo busca-se analisar a questatildeo do adolescente infrator no

Brasil Apresentando os aspectos sociais bem como a tutela jurisdicional

diferenciada que eacute aplicada e posteriormente viabilizando um panorama geral

acerca dos atos infracionais praticados

11 Aspectos Sociais

Nos primoacuterdios da sociedade as crianccedilas e os adolescentes natildeo possuiacuteam

garantia de direitos e proteccedilatildeo legal eram tratadas de forma lsquocruelrsquo sem dignidade e

respeito A palavra menor em seu sentido teacutecnico-juriacutedico no dicionaacuterio de Plaacutecido e

Silva (1982) ldquodesigna a pessoa que natildeo tenha atingido a maioridaderdquo ou ainda

aquele ldquoque natildeo atingiu a idade legal para que se considere maior e capazrdquo No

entanto ao longo do trabalho seraacute utilizada a expressatildeo adolescente infrator visto

que o termo ldquomenor infratorrdquo refere-se agrave expressatildeo pejorativa natildeo utilizada pelos

doutrinadores da aacuterea da infacircncia e juventude

Segundo Haim Grunspun (2000) ldquoas crianccedilas durante toda a histoacuteria humana

sempre trabalhavam junto agraves suas famiacutelias e tribos natildeo havendo distinccedilatildeo entre elas

e os adultos com quem conviviam praticando accedilotildees iguais aos adultos dentro de

suas capacidadesrdquo Neste sentido Minharro (2003 p 15) enfatiza que

ldquoEntre os egiacutepcios no periacuteodo das dinastias XII a XX todos os

cidadatildeos tinham a obrigaccedilatildeo do trabalho sem qualquer distinccedilatildeo ou

proteccedilatildeo especial estando assim os menores submetidos ao regime

aplicaacutevel a todos desde que jaacute possuiacutessem algum desenvolvimento

fiacutesico Em Roma e na Greacutecia antigas com a licitude da escravatura

os filhos dos escravos pertenciam aos amos ou senhores

trabalhando para estes sem qualquer remuneraccedilatildeo Por volta do

seacuteculo XVIII houve o crescimento da utilizaccedilatildeo da matildeo de obra

infantil onde as crianccedilas oacuterfatildes e de famiacutelias sem as miacutenimas

condiccedilotildees trabalhavam em troca de alimentaccedilatildeo Assim com o

surgimento das induacutestrias e avanccedilos da tecnologia tambeacutem surgiu a

problemaacutetica de crianccedilas envolvidas com a marginalidade decorrente

da maacute-distribuiccedilatildeo de renda da falta de emprego da falta de

14

assistecircncia familiar como o abandono maus-tratos e do proacuteprio

Estado pela ineficiecircncia das poliacuteticas adotadasrdquo

Logo verificou-se que os jovens encontravam-se desamparados sem direito agrave

educaccedilatildeo de qualidade sauacutede habitaccedilatildeo e seguranccedila expostos a realidade do

crime iniciavam diversas praacuteticas de atos infracionais

Manuel Augusto Vieira Neto (RT 181491 1949) em excelente dissertaccedilatildeo

estabelece que

A personalidade humana natildeo surge completa () a personalidade vai

num crescente desabrochar e a vida pode ser dividida em periacuteodos

mais ou menos definidos segundo os estaacutedios do desenvolvimento

fiacutesico e mental E foi ao seacuteculo XIX que se apresentou o problema dos

menores com redobradas dificuldades Vaacuterias causas concorriam o

notaacutevel desenvolvimento das induacutestrias a formaccedilatildeo das grandes

populaccedilotildees urbanas o trabalho fora do lar agrave competiccedilatildeo feminina o

afrouxamento dos laccedilos familiares e as consequecircncias dessas

mutaccedilotildees logo se fizeram sentir abandono fiacutesico e moral da infacircncia

e o corolaacuterio natural aumento de criminalidade

Neste aspecto Norberto Bobbio em seu livro A Era dos Direitos (1992 p 19)

afirma que ldquoo direito constitui-se de uma classe variaacutevel que se modifica e continua a

se modificar com a mudanccedila das condiccedilotildees histoacutericas O que parece fundamental

numa eacutepoca histoacuterica e numa determinada civilizaccedilatildeo natildeo eacute fundamental em outras

eacutepocas e em outras culturasrdquo Entretanto o grande problema atual natildeo eacute justificar os

direitos que um cidadatildeo possui mas sim o de protegecirc-los Destarte em 20 de

novembro de 1959 proclamou-se a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos da Crianccedila

estabelecendo proteccedilatildeo integral agrave crianccedila e o adolescente como sujeitos de direito

Ou seja a crianccedila deixou de ser vista como mero objeto de proteccedilatildeo para ser

alcanccedilada como sujeito de direitos

Por outro lado assegurar um desenvolvimento tranquilo para estes adolescentes

proporcionando condiccedilotildees para uma iacutentegra formaccedilatildeo moral e intelectual eacute uma

incumbecircncia difiacutecil diante do complexo quadro social brasileiro vivenciado

atualmente onde muacuteltiplas e graves causas vecircm sendo analisadas ao longo dos

uacuteltimos anos como a crise da famiacutelia a precariedade do sistema educacional o

15

ambiente social favorecendo a permissividade das condutas em todos os seus

aspectos e a falta de eacutetica em todos os seus aspectos (pessoal familiar social e

poliacutetico) Maria Garcia livre-docente pela PUC-SP (2008) afirma que ldquoas notiacutecias

demonstram que quer nas classes meacutedia e alta quer nas classes destituiacutedas a

delinquecircncia se demonstra ativa com idecircntico grau de violecircnciardquo Assim verifica-se

o papel primordial da famiacutelia visto que os pais mais perniciosos satildeo exatamente os

que associam os filhos a essa recusa de enfrentar a realidade isso porque assim

como a famiacutelia eacute o ponto de partida do crime a famiacutelia tambeacutem eacute o ponto de retorno

do infrator Destarte se a famiacutelia encontra-se desestruturada dificilmente o jovem iraacute

se ressocializar

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada

A jurisdiccedilatildeo consiste ainda numa atividade puacuteblica monopoacutelio do Poder Judiciaacuterio

Embora haja decisatildeo de contenciosos administrativos estas natildeo impedem a atuaccedilatildeo

ou exerciacutecio da atividade jurisdicional (art 5ordm XXXV CF88) Segundo Paulo Afonso

Garrido de Paula (2002 p 72)

A tutela jurisdicional consiste na proteccedilatildeo estatal aos direitos natildeo

reconhecidos espontaneamente esvaziados na sua eficaacutecia ou

dependentes de um aval Sua finalidade puacuteblica reitere-se eacute

assegurar a paz social impedindo a supremacia de forccedila ou a

constituiccedilatildeo de situaccedilotildees juriacutedicas em desacordo com a lei validando

as normas prescritivas do Estado Social definido na Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica

Com a Constituiccedilatildeo de 1988 atraveacutes do artigo 227 caput estabelecendo que

ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila

ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade o direito agrave vida

agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave

16

cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia familiar

e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a salvo de toda forma de

negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e

proteccedilatildeordquo

Reconheceu-se a possibilidade de crianccedilas e adolescentes participarem direta e

amplamente de relaccedilotildees juriacutedicas na qualidade de titulares de direitos capazes

para o exerciacutecio pessoal de direitos relacionados ao desenvolvimento saudaacutevel e de

garantias ligadas agrave integridade recebendo uma tutela jurisdicional diferenciada Ou

seja aplicando uma proteccedilatildeo amparo e auxiacutelio maior as crianccedilas e aos

adolescentes visto que trata-se de direitos especiais e especiacuteficos pela condiccedilatildeo de

pessoas em desenvolvimento Segundo Afonso Garrido (2002) ldquoo fundamento

objetivo da tutela jurisdicional diferenciada devida agrave crianccedila e ao adolescente reside

na existecircncia de um microssistema de distribuiccedilatildeo de justiccedila introduzido por lei

especialrdquo Neste sentido aborda que a tutela jurisdicional diferenciada ldquose revela

notadamente pela disciplina especial do acesso aacute justiccedila conjunto de regras que

compotildeem o Tiacutetulo VI do Livro II da Lei 806990 ou seja do Estatuto da Crianccedila e

do Adolescenterdquo

13 Ato Infracional

Conforme o artigo 103 do ECA ato infracional eacute a conduta descrita como crime ou

contravenccedilatildeo penal ou seja eacute a conduta que viola as normas previstas no

ordenamento juriacutedico Logo tem-se que o menor de 18 anos ndash inimputaacutevel natildeo

pratica infraccedilatildeo penal mas sim ato infracional Destarte por serem inimputaacuteveis

natildeo estatildeo sujeitos agrave responsabilidade penal devendo ser submetidos a medidas de

proteccedilatildeo (se forem crianccedilas) ou a medidas socioeducativas (se tratar-se de

adolescentes) Podendo ainda ser submetido aacutes duas no caso de adolescentes

Sob o aspecto conceitual considera-se crianccedila1 aquele que nasceu com vida ateacute

os doze anos de idade incompletos e o ECA protege a crianccedila conforme estabelece

o artigo 101 da lei especial onde estas jamais poderatildeo se submeter a Medidas 1 Conceito de Thales Taacutecito Cerqueira no livro Manual do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash

Teoria e Praacutetica Impetus 2010

17

Socioeducativas dispostas no artigo 112 O autor ainda estabelece o conceito de

adolescente como ldquoaquele que tem de doze anos completos ateacute dezoito

incompletos Destarte o ECA prevecirc a proteccedilatildeo e procedimento especial para esse

adolescente que pratica algum ato infracional conforme o disposto no artigo 112

Posteriormente o artigo 110 do mesmo Estatuto estabelece que ldquoNenhum

adolescente seraacute privado de sua liberdade sem o devido processo legalrdquo Logo somente

eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo de medidas mais incisivas em especial a internaccedilatildeo (artigo 112

inciso VI do ECA) quando haacute prova cabal firme completa induvidosa e tambeacutem

coerente Sendo que o regime de semiliberdade (artigo 112 inciso V do ECA) e da

liberdade assistida (artigo 112 inciso IV do ECA) podem ser recomendaacuteveis em muitas

hipoacuteteses na medida em que a segregaccedilatildeo (internaccedilatildeo) constitui exceccedilatildeo e deve ser

evitada a todo custo

II Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente trata-se de um conjunto de normas com a

finalidade de instituir a proteccedilatildeo integral ao adolescente em prioridade absoluta

(arts 227 caput da Constituiccedilatildeo Federal e 4deg do ECA) Consequentemente com a

finalidade de garantir o pleno desenvolvimento do adolescente nas questotildees morais

eacuteticas e religiosas

Segundo Afonso Garrido (2002 p 83)

Como as principais relaccedilotildees juriacutedicas entre o mundo infanto-juvenil e

o mundo adulto encontram-se disciplinadas em um microssistema

criado pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente a elas satildeo

aplicaacuteveis agraves normas do Coacutedigo Civil do Coacutedigo de Processo Civil

etc Quando houver lacuna no Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

e mesmo assim se natildeo forem incompatiacuteveis com os seus princiacutepios

fundamentais

18

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

12

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho busca analisar a estrutura social econocircmica juriacutedica e religiosa

do adolescente infrator buscando identificar o padratildeo das relaccedilotildees familiares bem

como os atos infracionais praticados Nos termos de dispositivo constitucional (art

228 e regra geral de direito penal) os adolescentes infratores satildeo considerados

penalmente inimputaacuteveis

Facilmente se constata que satildeo adolescentes que pertencem a famiacutelias de baixa

renda desestruturadas e que dificilmente se ressocializam atraveacutes das medidas

socioeducativas que satildeo aplicadas gerando inuacutemeros debates acerca desta

situaccedilatildeo Neste sentido faz-se uma anaacutelise das medidas socioeducativas previstas

na legislaccedilatildeo especial vigente o chamado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

regulamentado pela Lei 80691990 diploma que visa garantir a proteccedilatildeo integral agrave

crianccedila e o adolescente regulando o preceito do artigo 227 da Constituiccedilatildeo Federal

Nessas condiccedilotildees o Estatuto assegura todas as oportunidades e facilidades para

um bom desenvolvimento fiacutesico mental moral e social dos menores e

posteriormente aplicando as medidas necessaacuterias para os que cometem atos

infracionais respeitando o previsto na legislaccedilatildeo

No entanto de uma forma ou de outra a delinquecircncia infanto-juvenil tem crescido

desmesuradamente em diversas cidades do Brasil ultrapassando seus limites

Assim os estudos sobre a violecircncia e o adolescente infrator tem o compromisso natildeo

soacute de transformar a ldquoconsciecircnciardquo em geral mas tambeacutem de orientar projetos de

accedilatildeo de forma a combater esse grave problema social Destarte considerando o

elevado iacutendice de adolescentes envolvidos com a criminalidade bem como a

complexidade acerca da delinquecircncia infanto-juvenil a pesquisa tem o objetivo de

tipificar o perfil do adolescente infrator em Assis propondo uma reflexatildeo acerca das

poliacuteticas puacuteblicas adotadas pelo Municiacutepio

13

1 ndash O Problema do Menor Infrator no Brasil

Neste primeiro capiacutetulo busca-se analisar a questatildeo do adolescente infrator no

Brasil Apresentando os aspectos sociais bem como a tutela jurisdicional

diferenciada que eacute aplicada e posteriormente viabilizando um panorama geral

acerca dos atos infracionais praticados

11 Aspectos Sociais

Nos primoacuterdios da sociedade as crianccedilas e os adolescentes natildeo possuiacuteam

garantia de direitos e proteccedilatildeo legal eram tratadas de forma lsquocruelrsquo sem dignidade e

respeito A palavra menor em seu sentido teacutecnico-juriacutedico no dicionaacuterio de Plaacutecido e

Silva (1982) ldquodesigna a pessoa que natildeo tenha atingido a maioridaderdquo ou ainda

aquele ldquoque natildeo atingiu a idade legal para que se considere maior e capazrdquo No

entanto ao longo do trabalho seraacute utilizada a expressatildeo adolescente infrator visto

que o termo ldquomenor infratorrdquo refere-se agrave expressatildeo pejorativa natildeo utilizada pelos

doutrinadores da aacuterea da infacircncia e juventude

Segundo Haim Grunspun (2000) ldquoas crianccedilas durante toda a histoacuteria humana

sempre trabalhavam junto agraves suas famiacutelias e tribos natildeo havendo distinccedilatildeo entre elas

e os adultos com quem conviviam praticando accedilotildees iguais aos adultos dentro de

suas capacidadesrdquo Neste sentido Minharro (2003 p 15) enfatiza que

ldquoEntre os egiacutepcios no periacuteodo das dinastias XII a XX todos os

cidadatildeos tinham a obrigaccedilatildeo do trabalho sem qualquer distinccedilatildeo ou

proteccedilatildeo especial estando assim os menores submetidos ao regime

aplicaacutevel a todos desde que jaacute possuiacutessem algum desenvolvimento

fiacutesico Em Roma e na Greacutecia antigas com a licitude da escravatura

os filhos dos escravos pertenciam aos amos ou senhores

trabalhando para estes sem qualquer remuneraccedilatildeo Por volta do

seacuteculo XVIII houve o crescimento da utilizaccedilatildeo da matildeo de obra

infantil onde as crianccedilas oacuterfatildes e de famiacutelias sem as miacutenimas

condiccedilotildees trabalhavam em troca de alimentaccedilatildeo Assim com o

surgimento das induacutestrias e avanccedilos da tecnologia tambeacutem surgiu a

problemaacutetica de crianccedilas envolvidas com a marginalidade decorrente

da maacute-distribuiccedilatildeo de renda da falta de emprego da falta de

14

assistecircncia familiar como o abandono maus-tratos e do proacuteprio

Estado pela ineficiecircncia das poliacuteticas adotadasrdquo

Logo verificou-se que os jovens encontravam-se desamparados sem direito agrave

educaccedilatildeo de qualidade sauacutede habitaccedilatildeo e seguranccedila expostos a realidade do

crime iniciavam diversas praacuteticas de atos infracionais

Manuel Augusto Vieira Neto (RT 181491 1949) em excelente dissertaccedilatildeo

estabelece que

A personalidade humana natildeo surge completa () a personalidade vai

num crescente desabrochar e a vida pode ser dividida em periacuteodos

mais ou menos definidos segundo os estaacutedios do desenvolvimento

fiacutesico e mental E foi ao seacuteculo XIX que se apresentou o problema dos

menores com redobradas dificuldades Vaacuterias causas concorriam o

notaacutevel desenvolvimento das induacutestrias a formaccedilatildeo das grandes

populaccedilotildees urbanas o trabalho fora do lar agrave competiccedilatildeo feminina o

afrouxamento dos laccedilos familiares e as consequecircncias dessas

mutaccedilotildees logo se fizeram sentir abandono fiacutesico e moral da infacircncia

e o corolaacuterio natural aumento de criminalidade

Neste aspecto Norberto Bobbio em seu livro A Era dos Direitos (1992 p 19)

afirma que ldquoo direito constitui-se de uma classe variaacutevel que se modifica e continua a

se modificar com a mudanccedila das condiccedilotildees histoacutericas O que parece fundamental

numa eacutepoca histoacuterica e numa determinada civilizaccedilatildeo natildeo eacute fundamental em outras

eacutepocas e em outras culturasrdquo Entretanto o grande problema atual natildeo eacute justificar os

direitos que um cidadatildeo possui mas sim o de protegecirc-los Destarte em 20 de

novembro de 1959 proclamou-se a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos da Crianccedila

estabelecendo proteccedilatildeo integral agrave crianccedila e o adolescente como sujeitos de direito

Ou seja a crianccedila deixou de ser vista como mero objeto de proteccedilatildeo para ser

alcanccedilada como sujeito de direitos

Por outro lado assegurar um desenvolvimento tranquilo para estes adolescentes

proporcionando condiccedilotildees para uma iacutentegra formaccedilatildeo moral e intelectual eacute uma

incumbecircncia difiacutecil diante do complexo quadro social brasileiro vivenciado

atualmente onde muacuteltiplas e graves causas vecircm sendo analisadas ao longo dos

uacuteltimos anos como a crise da famiacutelia a precariedade do sistema educacional o

15

ambiente social favorecendo a permissividade das condutas em todos os seus

aspectos e a falta de eacutetica em todos os seus aspectos (pessoal familiar social e

poliacutetico) Maria Garcia livre-docente pela PUC-SP (2008) afirma que ldquoas notiacutecias

demonstram que quer nas classes meacutedia e alta quer nas classes destituiacutedas a

delinquecircncia se demonstra ativa com idecircntico grau de violecircnciardquo Assim verifica-se

o papel primordial da famiacutelia visto que os pais mais perniciosos satildeo exatamente os

que associam os filhos a essa recusa de enfrentar a realidade isso porque assim

como a famiacutelia eacute o ponto de partida do crime a famiacutelia tambeacutem eacute o ponto de retorno

do infrator Destarte se a famiacutelia encontra-se desestruturada dificilmente o jovem iraacute

se ressocializar

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada

A jurisdiccedilatildeo consiste ainda numa atividade puacuteblica monopoacutelio do Poder Judiciaacuterio

Embora haja decisatildeo de contenciosos administrativos estas natildeo impedem a atuaccedilatildeo

ou exerciacutecio da atividade jurisdicional (art 5ordm XXXV CF88) Segundo Paulo Afonso

Garrido de Paula (2002 p 72)

A tutela jurisdicional consiste na proteccedilatildeo estatal aos direitos natildeo

reconhecidos espontaneamente esvaziados na sua eficaacutecia ou

dependentes de um aval Sua finalidade puacuteblica reitere-se eacute

assegurar a paz social impedindo a supremacia de forccedila ou a

constituiccedilatildeo de situaccedilotildees juriacutedicas em desacordo com a lei validando

as normas prescritivas do Estado Social definido na Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica

Com a Constituiccedilatildeo de 1988 atraveacutes do artigo 227 caput estabelecendo que

ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila

ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade o direito agrave vida

agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave

16

cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia familiar

e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a salvo de toda forma de

negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e

proteccedilatildeordquo

Reconheceu-se a possibilidade de crianccedilas e adolescentes participarem direta e

amplamente de relaccedilotildees juriacutedicas na qualidade de titulares de direitos capazes

para o exerciacutecio pessoal de direitos relacionados ao desenvolvimento saudaacutevel e de

garantias ligadas agrave integridade recebendo uma tutela jurisdicional diferenciada Ou

seja aplicando uma proteccedilatildeo amparo e auxiacutelio maior as crianccedilas e aos

adolescentes visto que trata-se de direitos especiais e especiacuteficos pela condiccedilatildeo de

pessoas em desenvolvimento Segundo Afonso Garrido (2002) ldquoo fundamento

objetivo da tutela jurisdicional diferenciada devida agrave crianccedila e ao adolescente reside

na existecircncia de um microssistema de distribuiccedilatildeo de justiccedila introduzido por lei

especialrdquo Neste sentido aborda que a tutela jurisdicional diferenciada ldquose revela

notadamente pela disciplina especial do acesso aacute justiccedila conjunto de regras que

compotildeem o Tiacutetulo VI do Livro II da Lei 806990 ou seja do Estatuto da Crianccedila e

do Adolescenterdquo

13 Ato Infracional

Conforme o artigo 103 do ECA ato infracional eacute a conduta descrita como crime ou

contravenccedilatildeo penal ou seja eacute a conduta que viola as normas previstas no

ordenamento juriacutedico Logo tem-se que o menor de 18 anos ndash inimputaacutevel natildeo

pratica infraccedilatildeo penal mas sim ato infracional Destarte por serem inimputaacuteveis

natildeo estatildeo sujeitos agrave responsabilidade penal devendo ser submetidos a medidas de

proteccedilatildeo (se forem crianccedilas) ou a medidas socioeducativas (se tratar-se de

adolescentes) Podendo ainda ser submetido aacutes duas no caso de adolescentes

Sob o aspecto conceitual considera-se crianccedila1 aquele que nasceu com vida ateacute

os doze anos de idade incompletos e o ECA protege a crianccedila conforme estabelece

o artigo 101 da lei especial onde estas jamais poderatildeo se submeter a Medidas 1 Conceito de Thales Taacutecito Cerqueira no livro Manual do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash

Teoria e Praacutetica Impetus 2010

17

Socioeducativas dispostas no artigo 112 O autor ainda estabelece o conceito de

adolescente como ldquoaquele que tem de doze anos completos ateacute dezoito

incompletos Destarte o ECA prevecirc a proteccedilatildeo e procedimento especial para esse

adolescente que pratica algum ato infracional conforme o disposto no artigo 112

Posteriormente o artigo 110 do mesmo Estatuto estabelece que ldquoNenhum

adolescente seraacute privado de sua liberdade sem o devido processo legalrdquo Logo somente

eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo de medidas mais incisivas em especial a internaccedilatildeo (artigo 112

inciso VI do ECA) quando haacute prova cabal firme completa induvidosa e tambeacutem

coerente Sendo que o regime de semiliberdade (artigo 112 inciso V do ECA) e da

liberdade assistida (artigo 112 inciso IV do ECA) podem ser recomendaacuteveis em muitas

hipoacuteteses na medida em que a segregaccedilatildeo (internaccedilatildeo) constitui exceccedilatildeo e deve ser

evitada a todo custo

II Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente trata-se de um conjunto de normas com a

finalidade de instituir a proteccedilatildeo integral ao adolescente em prioridade absoluta

(arts 227 caput da Constituiccedilatildeo Federal e 4deg do ECA) Consequentemente com a

finalidade de garantir o pleno desenvolvimento do adolescente nas questotildees morais

eacuteticas e religiosas

Segundo Afonso Garrido (2002 p 83)

Como as principais relaccedilotildees juriacutedicas entre o mundo infanto-juvenil e

o mundo adulto encontram-se disciplinadas em um microssistema

criado pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente a elas satildeo

aplicaacuteveis agraves normas do Coacutedigo Civil do Coacutedigo de Processo Civil

etc Quando houver lacuna no Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

e mesmo assim se natildeo forem incompatiacuteveis com os seus princiacutepios

fundamentais

18

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

13

1 ndash O Problema do Menor Infrator no Brasil

Neste primeiro capiacutetulo busca-se analisar a questatildeo do adolescente infrator no

Brasil Apresentando os aspectos sociais bem como a tutela jurisdicional

diferenciada que eacute aplicada e posteriormente viabilizando um panorama geral

acerca dos atos infracionais praticados

11 Aspectos Sociais

Nos primoacuterdios da sociedade as crianccedilas e os adolescentes natildeo possuiacuteam

garantia de direitos e proteccedilatildeo legal eram tratadas de forma lsquocruelrsquo sem dignidade e

respeito A palavra menor em seu sentido teacutecnico-juriacutedico no dicionaacuterio de Plaacutecido e

Silva (1982) ldquodesigna a pessoa que natildeo tenha atingido a maioridaderdquo ou ainda

aquele ldquoque natildeo atingiu a idade legal para que se considere maior e capazrdquo No

entanto ao longo do trabalho seraacute utilizada a expressatildeo adolescente infrator visto

que o termo ldquomenor infratorrdquo refere-se agrave expressatildeo pejorativa natildeo utilizada pelos

doutrinadores da aacuterea da infacircncia e juventude

Segundo Haim Grunspun (2000) ldquoas crianccedilas durante toda a histoacuteria humana

sempre trabalhavam junto agraves suas famiacutelias e tribos natildeo havendo distinccedilatildeo entre elas

e os adultos com quem conviviam praticando accedilotildees iguais aos adultos dentro de

suas capacidadesrdquo Neste sentido Minharro (2003 p 15) enfatiza que

ldquoEntre os egiacutepcios no periacuteodo das dinastias XII a XX todos os

cidadatildeos tinham a obrigaccedilatildeo do trabalho sem qualquer distinccedilatildeo ou

proteccedilatildeo especial estando assim os menores submetidos ao regime

aplicaacutevel a todos desde que jaacute possuiacutessem algum desenvolvimento

fiacutesico Em Roma e na Greacutecia antigas com a licitude da escravatura

os filhos dos escravos pertenciam aos amos ou senhores

trabalhando para estes sem qualquer remuneraccedilatildeo Por volta do

seacuteculo XVIII houve o crescimento da utilizaccedilatildeo da matildeo de obra

infantil onde as crianccedilas oacuterfatildes e de famiacutelias sem as miacutenimas

condiccedilotildees trabalhavam em troca de alimentaccedilatildeo Assim com o

surgimento das induacutestrias e avanccedilos da tecnologia tambeacutem surgiu a

problemaacutetica de crianccedilas envolvidas com a marginalidade decorrente

da maacute-distribuiccedilatildeo de renda da falta de emprego da falta de

14

assistecircncia familiar como o abandono maus-tratos e do proacuteprio

Estado pela ineficiecircncia das poliacuteticas adotadasrdquo

Logo verificou-se que os jovens encontravam-se desamparados sem direito agrave

educaccedilatildeo de qualidade sauacutede habitaccedilatildeo e seguranccedila expostos a realidade do

crime iniciavam diversas praacuteticas de atos infracionais

Manuel Augusto Vieira Neto (RT 181491 1949) em excelente dissertaccedilatildeo

estabelece que

A personalidade humana natildeo surge completa () a personalidade vai

num crescente desabrochar e a vida pode ser dividida em periacuteodos

mais ou menos definidos segundo os estaacutedios do desenvolvimento

fiacutesico e mental E foi ao seacuteculo XIX que se apresentou o problema dos

menores com redobradas dificuldades Vaacuterias causas concorriam o

notaacutevel desenvolvimento das induacutestrias a formaccedilatildeo das grandes

populaccedilotildees urbanas o trabalho fora do lar agrave competiccedilatildeo feminina o

afrouxamento dos laccedilos familiares e as consequecircncias dessas

mutaccedilotildees logo se fizeram sentir abandono fiacutesico e moral da infacircncia

e o corolaacuterio natural aumento de criminalidade

Neste aspecto Norberto Bobbio em seu livro A Era dos Direitos (1992 p 19)

afirma que ldquoo direito constitui-se de uma classe variaacutevel que se modifica e continua a

se modificar com a mudanccedila das condiccedilotildees histoacutericas O que parece fundamental

numa eacutepoca histoacuterica e numa determinada civilizaccedilatildeo natildeo eacute fundamental em outras

eacutepocas e em outras culturasrdquo Entretanto o grande problema atual natildeo eacute justificar os

direitos que um cidadatildeo possui mas sim o de protegecirc-los Destarte em 20 de

novembro de 1959 proclamou-se a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos da Crianccedila

estabelecendo proteccedilatildeo integral agrave crianccedila e o adolescente como sujeitos de direito

Ou seja a crianccedila deixou de ser vista como mero objeto de proteccedilatildeo para ser

alcanccedilada como sujeito de direitos

Por outro lado assegurar um desenvolvimento tranquilo para estes adolescentes

proporcionando condiccedilotildees para uma iacutentegra formaccedilatildeo moral e intelectual eacute uma

incumbecircncia difiacutecil diante do complexo quadro social brasileiro vivenciado

atualmente onde muacuteltiplas e graves causas vecircm sendo analisadas ao longo dos

uacuteltimos anos como a crise da famiacutelia a precariedade do sistema educacional o

15

ambiente social favorecendo a permissividade das condutas em todos os seus

aspectos e a falta de eacutetica em todos os seus aspectos (pessoal familiar social e

poliacutetico) Maria Garcia livre-docente pela PUC-SP (2008) afirma que ldquoas notiacutecias

demonstram que quer nas classes meacutedia e alta quer nas classes destituiacutedas a

delinquecircncia se demonstra ativa com idecircntico grau de violecircnciardquo Assim verifica-se

o papel primordial da famiacutelia visto que os pais mais perniciosos satildeo exatamente os

que associam os filhos a essa recusa de enfrentar a realidade isso porque assim

como a famiacutelia eacute o ponto de partida do crime a famiacutelia tambeacutem eacute o ponto de retorno

do infrator Destarte se a famiacutelia encontra-se desestruturada dificilmente o jovem iraacute

se ressocializar

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada

A jurisdiccedilatildeo consiste ainda numa atividade puacuteblica monopoacutelio do Poder Judiciaacuterio

Embora haja decisatildeo de contenciosos administrativos estas natildeo impedem a atuaccedilatildeo

ou exerciacutecio da atividade jurisdicional (art 5ordm XXXV CF88) Segundo Paulo Afonso

Garrido de Paula (2002 p 72)

A tutela jurisdicional consiste na proteccedilatildeo estatal aos direitos natildeo

reconhecidos espontaneamente esvaziados na sua eficaacutecia ou

dependentes de um aval Sua finalidade puacuteblica reitere-se eacute

assegurar a paz social impedindo a supremacia de forccedila ou a

constituiccedilatildeo de situaccedilotildees juriacutedicas em desacordo com a lei validando

as normas prescritivas do Estado Social definido na Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica

Com a Constituiccedilatildeo de 1988 atraveacutes do artigo 227 caput estabelecendo que

ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila

ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade o direito agrave vida

agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave

16

cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia familiar

e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a salvo de toda forma de

negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e

proteccedilatildeordquo

Reconheceu-se a possibilidade de crianccedilas e adolescentes participarem direta e

amplamente de relaccedilotildees juriacutedicas na qualidade de titulares de direitos capazes

para o exerciacutecio pessoal de direitos relacionados ao desenvolvimento saudaacutevel e de

garantias ligadas agrave integridade recebendo uma tutela jurisdicional diferenciada Ou

seja aplicando uma proteccedilatildeo amparo e auxiacutelio maior as crianccedilas e aos

adolescentes visto que trata-se de direitos especiais e especiacuteficos pela condiccedilatildeo de

pessoas em desenvolvimento Segundo Afonso Garrido (2002) ldquoo fundamento

objetivo da tutela jurisdicional diferenciada devida agrave crianccedila e ao adolescente reside

na existecircncia de um microssistema de distribuiccedilatildeo de justiccedila introduzido por lei

especialrdquo Neste sentido aborda que a tutela jurisdicional diferenciada ldquose revela

notadamente pela disciplina especial do acesso aacute justiccedila conjunto de regras que

compotildeem o Tiacutetulo VI do Livro II da Lei 806990 ou seja do Estatuto da Crianccedila e

do Adolescenterdquo

13 Ato Infracional

Conforme o artigo 103 do ECA ato infracional eacute a conduta descrita como crime ou

contravenccedilatildeo penal ou seja eacute a conduta que viola as normas previstas no

ordenamento juriacutedico Logo tem-se que o menor de 18 anos ndash inimputaacutevel natildeo

pratica infraccedilatildeo penal mas sim ato infracional Destarte por serem inimputaacuteveis

natildeo estatildeo sujeitos agrave responsabilidade penal devendo ser submetidos a medidas de

proteccedilatildeo (se forem crianccedilas) ou a medidas socioeducativas (se tratar-se de

adolescentes) Podendo ainda ser submetido aacutes duas no caso de adolescentes

Sob o aspecto conceitual considera-se crianccedila1 aquele que nasceu com vida ateacute

os doze anos de idade incompletos e o ECA protege a crianccedila conforme estabelece

o artigo 101 da lei especial onde estas jamais poderatildeo se submeter a Medidas 1 Conceito de Thales Taacutecito Cerqueira no livro Manual do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash

Teoria e Praacutetica Impetus 2010

17

Socioeducativas dispostas no artigo 112 O autor ainda estabelece o conceito de

adolescente como ldquoaquele que tem de doze anos completos ateacute dezoito

incompletos Destarte o ECA prevecirc a proteccedilatildeo e procedimento especial para esse

adolescente que pratica algum ato infracional conforme o disposto no artigo 112

Posteriormente o artigo 110 do mesmo Estatuto estabelece que ldquoNenhum

adolescente seraacute privado de sua liberdade sem o devido processo legalrdquo Logo somente

eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo de medidas mais incisivas em especial a internaccedilatildeo (artigo 112

inciso VI do ECA) quando haacute prova cabal firme completa induvidosa e tambeacutem

coerente Sendo que o regime de semiliberdade (artigo 112 inciso V do ECA) e da

liberdade assistida (artigo 112 inciso IV do ECA) podem ser recomendaacuteveis em muitas

hipoacuteteses na medida em que a segregaccedilatildeo (internaccedilatildeo) constitui exceccedilatildeo e deve ser

evitada a todo custo

II Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente trata-se de um conjunto de normas com a

finalidade de instituir a proteccedilatildeo integral ao adolescente em prioridade absoluta

(arts 227 caput da Constituiccedilatildeo Federal e 4deg do ECA) Consequentemente com a

finalidade de garantir o pleno desenvolvimento do adolescente nas questotildees morais

eacuteticas e religiosas

Segundo Afonso Garrido (2002 p 83)

Como as principais relaccedilotildees juriacutedicas entre o mundo infanto-juvenil e

o mundo adulto encontram-se disciplinadas em um microssistema

criado pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente a elas satildeo

aplicaacuteveis agraves normas do Coacutedigo Civil do Coacutedigo de Processo Civil

etc Quando houver lacuna no Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

e mesmo assim se natildeo forem incompatiacuteveis com os seus princiacutepios

fundamentais

18

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

14

assistecircncia familiar como o abandono maus-tratos e do proacuteprio

Estado pela ineficiecircncia das poliacuteticas adotadasrdquo

Logo verificou-se que os jovens encontravam-se desamparados sem direito agrave

educaccedilatildeo de qualidade sauacutede habitaccedilatildeo e seguranccedila expostos a realidade do

crime iniciavam diversas praacuteticas de atos infracionais

Manuel Augusto Vieira Neto (RT 181491 1949) em excelente dissertaccedilatildeo

estabelece que

A personalidade humana natildeo surge completa () a personalidade vai

num crescente desabrochar e a vida pode ser dividida em periacuteodos

mais ou menos definidos segundo os estaacutedios do desenvolvimento

fiacutesico e mental E foi ao seacuteculo XIX que se apresentou o problema dos

menores com redobradas dificuldades Vaacuterias causas concorriam o

notaacutevel desenvolvimento das induacutestrias a formaccedilatildeo das grandes

populaccedilotildees urbanas o trabalho fora do lar agrave competiccedilatildeo feminina o

afrouxamento dos laccedilos familiares e as consequecircncias dessas

mutaccedilotildees logo se fizeram sentir abandono fiacutesico e moral da infacircncia

e o corolaacuterio natural aumento de criminalidade

Neste aspecto Norberto Bobbio em seu livro A Era dos Direitos (1992 p 19)

afirma que ldquoo direito constitui-se de uma classe variaacutevel que se modifica e continua a

se modificar com a mudanccedila das condiccedilotildees histoacutericas O que parece fundamental

numa eacutepoca histoacuterica e numa determinada civilizaccedilatildeo natildeo eacute fundamental em outras

eacutepocas e em outras culturasrdquo Entretanto o grande problema atual natildeo eacute justificar os

direitos que um cidadatildeo possui mas sim o de protegecirc-los Destarte em 20 de

novembro de 1959 proclamou-se a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos da Crianccedila

estabelecendo proteccedilatildeo integral agrave crianccedila e o adolescente como sujeitos de direito

Ou seja a crianccedila deixou de ser vista como mero objeto de proteccedilatildeo para ser

alcanccedilada como sujeito de direitos

Por outro lado assegurar um desenvolvimento tranquilo para estes adolescentes

proporcionando condiccedilotildees para uma iacutentegra formaccedilatildeo moral e intelectual eacute uma

incumbecircncia difiacutecil diante do complexo quadro social brasileiro vivenciado

atualmente onde muacuteltiplas e graves causas vecircm sendo analisadas ao longo dos

uacuteltimos anos como a crise da famiacutelia a precariedade do sistema educacional o

15

ambiente social favorecendo a permissividade das condutas em todos os seus

aspectos e a falta de eacutetica em todos os seus aspectos (pessoal familiar social e

poliacutetico) Maria Garcia livre-docente pela PUC-SP (2008) afirma que ldquoas notiacutecias

demonstram que quer nas classes meacutedia e alta quer nas classes destituiacutedas a

delinquecircncia se demonstra ativa com idecircntico grau de violecircnciardquo Assim verifica-se

o papel primordial da famiacutelia visto que os pais mais perniciosos satildeo exatamente os

que associam os filhos a essa recusa de enfrentar a realidade isso porque assim

como a famiacutelia eacute o ponto de partida do crime a famiacutelia tambeacutem eacute o ponto de retorno

do infrator Destarte se a famiacutelia encontra-se desestruturada dificilmente o jovem iraacute

se ressocializar

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada

A jurisdiccedilatildeo consiste ainda numa atividade puacuteblica monopoacutelio do Poder Judiciaacuterio

Embora haja decisatildeo de contenciosos administrativos estas natildeo impedem a atuaccedilatildeo

ou exerciacutecio da atividade jurisdicional (art 5ordm XXXV CF88) Segundo Paulo Afonso

Garrido de Paula (2002 p 72)

A tutela jurisdicional consiste na proteccedilatildeo estatal aos direitos natildeo

reconhecidos espontaneamente esvaziados na sua eficaacutecia ou

dependentes de um aval Sua finalidade puacuteblica reitere-se eacute

assegurar a paz social impedindo a supremacia de forccedila ou a

constituiccedilatildeo de situaccedilotildees juriacutedicas em desacordo com a lei validando

as normas prescritivas do Estado Social definido na Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica

Com a Constituiccedilatildeo de 1988 atraveacutes do artigo 227 caput estabelecendo que

ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila

ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade o direito agrave vida

agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave

16

cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia familiar

e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a salvo de toda forma de

negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e

proteccedilatildeordquo

Reconheceu-se a possibilidade de crianccedilas e adolescentes participarem direta e

amplamente de relaccedilotildees juriacutedicas na qualidade de titulares de direitos capazes

para o exerciacutecio pessoal de direitos relacionados ao desenvolvimento saudaacutevel e de

garantias ligadas agrave integridade recebendo uma tutela jurisdicional diferenciada Ou

seja aplicando uma proteccedilatildeo amparo e auxiacutelio maior as crianccedilas e aos

adolescentes visto que trata-se de direitos especiais e especiacuteficos pela condiccedilatildeo de

pessoas em desenvolvimento Segundo Afonso Garrido (2002) ldquoo fundamento

objetivo da tutela jurisdicional diferenciada devida agrave crianccedila e ao adolescente reside

na existecircncia de um microssistema de distribuiccedilatildeo de justiccedila introduzido por lei

especialrdquo Neste sentido aborda que a tutela jurisdicional diferenciada ldquose revela

notadamente pela disciplina especial do acesso aacute justiccedila conjunto de regras que

compotildeem o Tiacutetulo VI do Livro II da Lei 806990 ou seja do Estatuto da Crianccedila e

do Adolescenterdquo

13 Ato Infracional

Conforme o artigo 103 do ECA ato infracional eacute a conduta descrita como crime ou

contravenccedilatildeo penal ou seja eacute a conduta que viola as normas previstas no

ordenamento juriacutedico Logo tem-se que o menor de 18 anos ndash inimputaacutevel natildeo

pratica infraccedilatildeo penal mas sim ato infracional Destarte por serem inimputaacuteveis

natildeo estatildeo sujeitos agrave responsabilidade penal devendo ser submetidos a medidas de

proteccedilatildeo (se forem crianccedilas) ou a medidas socioeducativas (se tratar-se de

adolescentes) Podendo ainda ser submetido aacutes duas no caso de adolescentes

Sob o aspecto conceitual considera-se crianccedila1 aquele que nasceu com vida ateacute

os doze anos de idade incompletos e o ECA protege a crianccedila conforme estabelece

o artigo 101 da lei especial onde estas jamais poderatildeo se submeter a Medidas 1 Conceito de Thales Taacutecito Cerqueira no livro Manual do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash

Teoria e Praacutetica Impetus 2010

17

Socioeducativas dispostas no artigo 112 O autor ainda estabelece o conceito de

adolescente como ldquoaquele que tem de doze anos completos ateacute dezoito

incompletos Destarte o ECA prevecirc a proteccedilatildeo e procedimento especial para esse

adolescente que pratica algum ato infracional conforme o disposto no artigo 112

Posteriormente o artigo 110 do mesmo Estatuto estabelece que ldquoNenhum

adolescente seraacute privado de sua liberdade sem o devido processo legalrdquo Logo somente

eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo de medidas mais incisivas em especial a internaccedilatildeo (artigo 112

inciso VI do ECA) quando haacute prova cabal firme completa induvidosa e tambeacutem

coerente Sendo que o regime de semiliberdade (artigo 112 inciso V do ECA) e da

liberdade assistida (artigo 112 inciso IV do ECA) podem ser recomendaacuteveis em muitas

hipoacuteteses na medida em que a segregaccedilatildeo (internaccedilatildeo) constitui exceccedilatildeo e deve ser

evitada a todo custo

II Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente trata-se de um conjunto de normas com a

finalidade de instituir a proteccedilatildeo integral ao adolescente em prioridade absoluta

(arts 227 caput da Constituiccedilatildeo Federal e 4deg do ECA) Consequentemente com a

finalidade de garantir o pleno desenvolvimento do adolescente nas questotildees morais

eacuteticas e religiosas

Segundo Afonso Garrido (2002 p 83)

Como as principais relaccedilotildees juriacutedicas entre o mundo infanto-juvenil e

o mundo adulto encontram-se disciplinadas em um microssistema

criado pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente a elas satildeo

aplicaacuteveis agraves normas do Coacutedigo Civil do Coacutedigo de Processo Civil

etc Quando houver lacuna no Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

e mesmo assim se natildeo forem incompatiacuteveis com os seus princiacutepios

fundamentais

18

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

15

ambiente social favorecendo a permissividade das condutas em todos os seus

aspectos e a falta de eacutetica em todos os seus aspectos (pessoal familiar social e

poliacutetico) Maria Garcia livre-docente pela PUC-SP (2008) afirma que ldquoas notiacutecias

demonstram que quer nas classes meacutedia e alta quer nas classes destituiacutedas a

delinquecircncia se demonstra ativa com idecircntico grau de violecircnciardquo Assim verifica-se

o papel primordial da famiacutelia visto que os pais mais perniciosos satildeo exatamente os

que associam os filhos a essa recusa de enfrentar a realidade isso porque assim

como a famiacutelia eacute o ponto de partida do crime a famiacutelia tambeacutem eacute o ponto de retorno

do infrator Destarte se a famiacutelia encontra-se desestruturada dificilmente o jovem iraacute

se ressocializar

12 Jurisdiccedilatildeo e Tutela Jurisdicional Diferenciada

A jurisdiccedilatildeo consiste ainda numa atividade puacuteblica monopoacutelio do Poder Judiciaacuterio

Embora haja decisatildeo de contenciosos administrativos estas natildeo impedem a atuaccedilatildeo

ou exerciacutecio da atividade jurisdicional (art 5ordm XXXV CF88) Segundo Paulo Afonso

Garrido de Paula (2002 p 72)

A tutela jurisdicional consiste na proteccedilatildeo estatal aos direitos natildeo

reconhecidos espontaneamente esvaziados na sua eficaacutecia ou

dependentes de um aval Sua finalidade puacuteblica reitere-se eacute

assegurar a paz social impedindo a supremacia de forccedila ou a

constituiccedilatildeo de situaccedilotildees juriacutedicas em desacordo com a lei validando

as normas prescritivas do Estado Social definido na Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica

Com a Constituiccedilatildeo de 1988 atraveacutes do artigo 227 caput estabelecendo que

ldquoEacute dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila

ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade o direito agrave vida

agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave

16

cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia familiar

e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a salvo de toda forma de

negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e

proteccedilatildeordquo

Reconheceu-se a possibilidade de crianccedilas e adolescentes participarem direta e

amplamente de relaccedilotildees juriacutedicas na qualidade de titulares de direitos capazes

para o exerciacutecio pessoal de direitos relacionados ao desenvolvimento saudaacutevel e de

garantias ligadas agrave integridade recebendo uma tutela jurisdicional diferenciada Ou

seja aplicando uma proteccedilatildeo amparo e auxiacutelio maior as crianccedilas e aos

adolescentes visto que trata-se de direitos especiais e especiacuteficos pela condiccedilatildeo de

pessoas em desenvolvimento Segundo Afonso Garrido (2002) ldquoo fundamento

objetivo da tutela jurisdicional diferenciada devida agrave crianccedila e ao adolescente reside

na existecircncia de um microssistema de distribuiccedilatildeo de justiccedila introduzido por lei

especialrdquo Neste sentido aborda que a tutela jurisdicional diferenciada ldquose revela

notadamente pela disciplina especial do acesso aacute justiccedila conjunto de regras que

compotildeem o Tiacutetulo VI do Livro II da Lei 806990 ou seja do Estatuto da Crianccedila e

do Adolescenterdquo

13 Ato Infracional

Conforme o artigo 103 do ECA ato infracional eacute a conduta descrita como crime ou

contravenccedilatildeo penal ou seja eacute a conduta que viola as normas previstas no

ordenamento juriacutedico Logo tem-se que o menor de 18 anos ndash inimputaacutevel natildeo

pratica infraccedilatildeo penal mas sim ato infracional Destarte por serem inimputaacuteveis

natildeo estatildeo sujeitos agrave responsabilidade penal devendo ser submetidos a medidas de

proteccedilatildeo (se forem crianccedilas) ou a medidas socioeducativas (se tratar-se de

adolescentes) Podendo ainda ser submetido aacutes duas no caso de adolescentes

Sob o aspecto conceitual considera-se crianccedila1 aquele que nasceu com vida ateacute

os doze anos de idade incompletos e o ECA protege a crianccedila conforme estabelece

o artigo 101 da lei especial onde estas jamais poderatildeo se submeter a Medidas 1 Conceito de Thales Taacutecito Cerqueira no livro Manual do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash

Teoria e Praacutetica Impetus 2010

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Socioeducativas dispostas no artigo 112 O autor ainda estabelece o conceito de

adolescente como ldquoaquele que tem de doze anos completos ateacute dezoito

incompletos Destarte o ECA prevecirc a proteccedilatildeo e procedimento especial para esse

adolescente que pratica algum ato infracional conforme o disposto no artigo 112

Posteriormente o artigo 110 do mesmo Estatuto estabelece que ldquoNenhum

adolescente seraacute privado de sua liberdade sem o devido processo legalrdquo Logo somente

eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo de medidas mais incisivas em especial a internaccedilatildeo (artigo 112

inciso VI do ECA) quando haacute prova cabal firme completa induvidosa e tambeacutem

coerente Sendo que o regime de semiliberdade (artigo 112 inciso V do ECA) e da

liberdade assistida (artigo 112 inciso IV do ECA) podem ser recomendaacuteveis em muitas

hipoacuteteses na medida em que a segregaccedilatildeo (internaccedilatildeo) constitui exceccedilatildeo e deve ser

evitada a todo custo

II Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente trata-se de um conjunto de normas com a

finalidade de instituir a proteccedilatildeo integral ao adolescente em prioridade absoluta

(arts 227 caput da Constituiccedilatildeo Federal e 4deg do ECA) Consequentemente com a

finalidade de garantir o pleno desenvolvimento do adolescente nas questotildees morais

eacuteticas e religiosas

Segundo Afonso Garrido (2002 p 83)

Como as principais relaccedilotildees juriacutedicas entre o mundo infanto-juvenil e

o mundo adulto encontram-se disciplinadas em um microssistema

criado pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente a elas satildeo

aplicaacuteveis agraves normas do Coacutedigo Civil do Coacutedigo de Processo Civil

etc Quando houver lacuna no Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

e mesmo assim se natildeo forem incompatiacuteveis com os seus princiacutepios

fundamentais

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21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

16

cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia familiar

e comunitaacuteria aleacutem de colocaacute-los a salvo de toda forma de

negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e

proteccedilatildeordquo

Reconheceu-se a possibilidade de crianccedilas e adolescentes participarem direta e

amplamente de relaccedilotildees juriacutedicas na qualidade de titulares de direitos capazes

para o exerciacutecio pessoal de direitos relacionados ao desenvolvimento saudaacutevel e de

garantias ligadas agrave integridade recebendo uma tutela jurisdicional diferenciada Ou

seja aplicando uma proteccedilatildeo amparo e auxiacutelio maior as crianccedilas e aos

adolescentes visto que trata-se de direitos especiais e especiacuteficos pela condiccedilatildeo de

pessoas em desenvolvimento Segundo Afonso Garrido (2002) ldquoo fundamento

objetivo da tutela jurisdicional diferenciada devida agrave crianccedila e ao adolescente reside

na existecircncia de um microssistema de distribuiccedilatildeo de justiccedila introduzido por lei

especialrdquo Neste sentido aborda que a tutela jurisdicional diferenciada ldquose revela

notadamente pela disciplina especial do acesso aacute justiccedila conjunto de regras que

compotildeem o Tiacutetulo VI do Livro II da Lei 806990 ou seja do Estatuto da Crianccedila e

do Adolescenterdquo

13 Ato Infracional

Conforme o artigo 103 do ECA ato infracional eacute a conduta descrita como crime ou

contravenccedilatildeo penal ou seja eacute a conduta que viola as normas previstas no

ordenamento juriacutedico Logo tem-se que o menor de 18 anos ndash inimputaacutevel natildeo

pratica infraccedilatildeo penal mas sim ato infracional Destarte por serem inimputaacuteveis

natildeo estatildeo sujeitos agrave responsabilidade penal devendo ser submetidos a medidas de

proteccedilatildeo (se forem crianccedilas) ou a medidas socioeducativas (se tratar-se de

adolescentes) Podendo ainda ser submetido aacutes duas no caso de adolescentes

Sob o aspecto conceitual considera-se crianccedila1 aquele que nasceu com vida ateacute

os doze anos de idade incompletos e o ECA protege a crianccedila conforme estabelece

o artigo 101 da lei especial onde estas jamais poderatildeo se submeter a Medidas 1 Conceito de Thales Taacutecito Cerqueira no livro Manual do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash

Teoria e Praacutetica Impetus 2010

17

Socioeducativas dispostas no artigo 112 O autor ainda estabelece o conceito de

adolescente como ldquoaquele que tem de doze anos completos ateacute dezoito

incompletos Destarte o ECA prevecirc a proteccedilatildeo e procedimento especial para esse

adolescente que pratica algum ato infracional conforme o disposto no artigo 112

Posteriormente o artigo 110 do mesmo Estatuto estabelece que ldquoNenhum

adolescente seraacute privado de sua liberdade sem o devido processo legalrdquo Logo somente

eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo de medidas mais incisivas em especial a internaccedilatildeo (artigo 112

inciso VI do ECA) quando haacute prova cabal firme completa induvidosa e tambeacutem

coerente Sendo que o regime de semiliberdade (artigo 112 inciso V do ECA) e da

liberdade assistida (artigo 112 inciso IV do ECA) podem ser recomendaacuteveis em muitas

hipoacuteteses na medida em que a segregaccedilatildeo (internaccedilatildeo) constitui exceccedilatildeo e deve ser

evitada a todo custo

II Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente trata-se de um conjunto de normas com a

finalidade de instituir a proteccedilatildeo integral ao adolescente em prioridade absoluta

(arts 227 caput da Constituiccedilatildeo Federal e 4deg do ECA) Consequentemente com a

finalidade de garantir o pleno desenvolvimento do adolescente nas questotildees morais

eacuteticas e religiosas

Segundo Afonso Garrido (2002 p 83)

Como as principais relaccedilotildees juriacutedicas entre o mundo infanto-juvenil e

o mundo adulto encontram-se disciplinadas em um microssistema

criado pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente a elas satildeo

aplicaacuteveis agraves normas do Coacutedigo Civil do Coacutedigo de Processo Civil

etc Quando houver lacuna no Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

e mesmo assim se natildeo forem incompatiacuteveis com os seus princiacutepios

fundamentais

18

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

17

Socioeducativas dispostas no artigo 112 O autor ainda estabelece o conceito de

adolescente como ldquoaquele que tem de doze anos completos ateacute dezoito

incompletos Destarte o ECA prevecirc a proteccedilatildeo e procedimento especial para esse

adolescente que pratica algum ato infracional conforme o disposto no artigo 112

Posteriormente o artigo 110 do mesmo Estatuto estabelece que ldquoNenhum

adolescente seraacute privado de sua liberdade sem o devido processo legalrdquo Logo somente

eacute possiacutevel a aplicaccedilatildeo de medidas mais incisivas em especial a internaccedilatildeo (artigo 112

inciso VI do ECA) quando haacute prova cabal firme completa induvidosa e tambeacutem

coerente Sendo que o regime de semiliberdade (artigo 112 inciso V do ECA) e da

liberdade assistida (artigo 112 inciso IV do ECA) podem ser recomendaacuteveis em muitas

hipoacuteteses na medida em que a segregaccedilatildeo (internaccedilatildeo) constitui exceccedilatildeo e deve ser

evitada a todo custo

II Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente trata-se de um conjunto de normas com a

finalidade de instituir a proteccedilatildeo integral ao adolescente em prioridade absoluta

(arts 227 caput da Constituiccedilatildeo Federal e 4deg do ECA) Consequentemente com a

finalidade de garantir o pleno desenvolvimento do adolescente nas questotildees morais

eacuteticas e religiosas

Segundo Afonso Garrido (2002 p 83)

Como as principais relaccedilotildees juriacutedicas entre o mundo infanto-juvenil e

o mundo adulto encontram-se disciplinadas em um microssistema

criado pelo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente a elas satildeo

aplicaacuteveis agraves normas do Coacutedigo Civil do Coacutedigo de Processo Civil

etc Quando houver lacuna no Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

e mesmo assim se natildeo forem incompatiacuteveis com os seus princiacutepios

fundamentais

18

21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

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21 Regulamentaccedilatildeo do ECA

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 regulamentou a legislaccedilatildeo especial proposta

para crianccedilas e adolescentes denominado Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

constituindo-se por dois livros corresponde a parte geral e agrave parte especial Assim a

parte geral encontra-se dividida por trecircs tiacutetulos sendo Disposiccedilotildees preliminares

(tiacutetulo I) direitos fundamentais (tiacutetulo II) e formas de prevenccedilatildeo (tiacutetulo III) No que se

refere agrave parte especial esta conteacutem sete tiacutetulos dispondo sobre Poliacuteticas de

atendimento (tiacutetulo I) medidas de proteccedilatildeo (tiacutetulo II) praacutetica de ato infracional (tiacutetulo

III) medidas pertinentes aos pais ou responsaacutevel (tiacutetulo IV) conselho tutelar (tiacutetulo

V) acesso agrave justiccedila (tiacutetulo VI) e posteriormente crimes e infraccedilotildees administrativas

(tiacutetulo VII) Desta forma o Livro I cuida de mateacuterias de natureza civil das formas em

colocaccedilatildeo em famiacutelia natural entre outros temas jaacute o Livro II trata-se de mateacuterias

como acesso agrave justiccedila procedimentos apuraccedilatildeo de ato infracional e crimes

infraccedilotildees contra crianccedilas e adolescentes

22 Aplicabilidade do ECA e Medidas Soacutecio- educativas

Como jaacute abordado no primeiro capiacutetulo a crianccedila e o adolescente natildeo praticam

ato infracional estas se submetem a medida de proteccedilatildeo ou medidas

socioeducativas Entretanto apesar do Estatuto ter sido instituiacutedo com a finalidade

de disciplinar a situaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes excepcionalmente incidiraacute

sobre jovens com idade entre 18 e 21 anos (incompletos) relacionados agrave medida

socioeducativa de semiliberdade e de internaccedilatildeo (cujo cumprimento deveraacute findar-se

ateacute os 21 anos desse jovem natildeo ultrapassando o periacuteodo maacuteximo de trecircs anos)

Neste sentido leva-se em conta a idade do adolescente na data do fato (conduta)

ou seja incorporou-se neste caso a teoria da atividade (consagrada no art 4deg do

vigente Coacutedigo Penal) e natildeo a teoria do resultado Assim considera-se praticada a

infraccedilatildeo penal no momento da accedilatildeo ou omissatildeo (conduta) ainda que o resultado

seja em outro momento

O artigo 112 do referido Estatuto dispotildee

Art 112 Verificada a praacutetica de ato infracional a autoridade

competente poderaacute aplicar ao adolescente as seguintes medidas

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

19

I ndash advertecircncia

II ndash obrigaccedilatildeo de reparar o dano

III ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade

IV ndash liberdade assistida

V ndash inserccedilatildeo em regime de semiliberdade

VI ndash internaccedilatildeo em estabelecimento educacional

VII ndash qualquer uma das previstas no art 101 I a VI

sect1deg A medida aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua

capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a gravidade da

infraccedilatildeo

sect2deg Em hipoacutetese alguma e sob pretexto algum seraacute admitida a

prestaccedilatildeo de trabalho forccedilado

sect3deg Os adolescentes portadores de doenccedilas ou deficiecircncia mental

receberatildeo tratamento individual e especializado em local adequado

agraves suas condiccedilotildees

Desta forma somente o juiz poderaacute aplicar as medidas socioeducativas podendo

ser aplicada medidas como advertecircncia que consiste na medida mais branda se

comparada com as demais reservada para os casos de atos infracionais de

pequena gravidade consistindo em admoestaccedilatildeo verbal (que seraacute reduzida a termo

e assinada pelo juiz pelo representante do MP pelo adolescente e pelos pais ou

responsaacutevel) Para verificar sua incidecircncia basta a prova da materialidade e indiacutecios

suficientes de autoria

Por outro lado haacute possibilidade de aplicar a medida de operaccedilatildeo de reparar o

dano que se constitui no caso de atos infracionais com reflexos patrimoniais

podendo a autoridade determinar que o adolescente restitua a coisa (se for o caso)

promovendo o ressarcimento do dano ou compense o prejuiacutezo causado aacute viacutetima (art

116 do ECA) Jaacute a medida de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade consiste na

realizaccedilatildeo de tarefas gratuitas em prol de interesse geral desde que natildeo ultrapasse

o periacuteodo de seis meses junto a entidades assistenciais hospitais escolas entre

outros bem como em programas comunitaacuterios e governamentais (art 117 caput do

ECA)

Haacute tambeacutem prevista no referido Estatuto a medida de liberdade assistida que

entre as medidas socioeducativas em meio aberto eacute considerada a mais riacutegida

Onde o adolescente deveraacute permanecer na companhia da famiacutelia e inserido na

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

20

sociedade mas deve sujeitar-se a acompanhamento auxiacutelio e orientaccedilatildeo (art 118

do ECA) Sendo fixada pelo prazo miacutenimo de seis meses podendo a qualquer

tempo ser revogada prorrogada ou substituiacuteda por outra medida Contudo o ECA

tambeacutem estabelece medidas socioeducativas privativa de liberdade que situa-se

entre a internaccedilatildeo e as medidas de meio aberto A medida de semiliberdade (art

120 do ECA) permite ao adolescente a realizaccedilatildeo de atividades externas

independentemente de autorizaccedilatildeo judicial por tempo indeterminado Jaacute o artigo

121 do ECA estabelece a medida mais severa prevista no Estatuto a medida

socioeducativa de internaccedilatildeo

Art 121 A internaccedilatildeo constitui medida privativa de liberdade sujeita

aos princiacutepios de brevidade excepcionalidade e respeito agrave condiccedilatildeo

peculiar de pessoa em desenvolvimento

sect1deg Seraacute permitida a realizaccedilatildeo de atividades externas a criteacuterio da

equipe teacutecnica da entidade salvo expressa determinaccedilatildeo judicial em

contraacuterio

sect2deg A medida natildeo comporta prazo determinado devendo sua

manutenccedilatildeo ser reavaliada mediante decisatildeo fundamentada no

maacuteximo a cada seis meses

sect3deg Em nenhuma hipoacutetese o periacuteodo maacuteximo de internaccedilatildeo excederaacute

a trecircs anos

sect4deg Atingido o limite estabelecido no paraacutegrafo anterior o adolescente

deveraacute ser liberado colocado em regime de semiliberdade ou de

liberdade assistida

sect5deg A liberaccedilatildeo seraacute compulsoacuteria aos vinte e um anos de idade

sect6deg Em qualquer hipoacutetese a destinaccedilatildeo seraacute precedida de

autorizaccedilatildeo judicial ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Entretanto esta medida soacute seraacute aplicada no caso de ato infracional cometido

mediante violecircncia ou grave ameaccedila agrave pessoa Observando que crimes de traacutefico

de drogas e furto qualificado natildeo fazem parte deste rol Neste sentido o STJ editou

a suacutemula 492 consolidando esse entendimento ldquoo ato infracional anaacutelogo ao traacutefico

de drogas por si soacute natildeo conduz obrigatoriamente agrave imposiccedilatildeo de medida

socioeducativa de internaccedilatildeordquo Destarte o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

prevecirc dois grupos de medidas socioeducativas as medidas socioeducativas em

meio aberto natildeo privativas de liberdade (advertecircncia reparaccedilatildeo dos danos

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

21

prestaccedilotildees de serviccedilos agrave comunidade e liberdade assistida) e posteriormente as

medidas privativas de liberdade (que consiste em semiliberdade ou medida de

internaccedilatildeo)

221 Medidas pertinentes aos PaisResponsaacuteveis

O artigo 129 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente estabelece medidas

aplicaacuteveis aos pais ou responsaacuteveis

Art 129 Satildeo medidas aplicaacuteveis aos pais ou responsaacutevel

I ndash Encaminhamento a programa oficial ou comunitaacuterio de proteccedilatildeo agrave

famiacutelia

II ndash Inclusatildeo em programa oficial ou comunitaacuterio de auxiacutelio orientaccedilatildeo e

tratamento a alcooacutelatras e toxicocircmanos

III ndash Encaminhamento a tratamento psicoloacutegico ou psiquiaacutetrico

IV ndash Encaminhamento a cursos ou programas de orientaccedilatildeo

V ndash Obrigaccedilatildeo de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequecircncia e aproveitamento escolar

VI ndash Obrigaccedilatildeo de encaminhar a crianccedila ou adolescente a tratamento

especializado

VII ndash Advertecircncia

VII ndash Perda da guarda

IX ndash Destituiccedilatildeo da tutela

X ndash Suspensatildeo ou destituiccedilatildeo do paacutetrio-poder

Paraacutegrafo uacutenico Na aplicaccedilatildeo das medidas previstas nos incisos IX e X

deste artigo observar-se-aacute o disposto nos arts 23 e 24

Logo trata-se de medidas aplicadas aos pais ou responsaacuteveis quando os direitos

das crianccedilas e adolescentes forem violados em face do poder familiar Ou seja em

face a autoridade que estes exercem sobre a crianccedila e o adolescente Desta forma

os deveres inerentes ao poder familiar encontram-se previstos no artigo 22 da

legislaccedilatildeo especial vigente (ECA)

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

22

III A Aplicaccedilatildeo de Medidas Socioeducativas na cidade de Assis

A praacutetica de atos infracionais em niacuteveis cada vez mais elevado e constante tem

se tornado sinocircnimo de grandes preocupaccedilotildees acerca da eficaacutecia das medidas

aplicadas a esses adolescentes Conforme Nucci (2009) ldquoa lei penal criou uma

presunccedilatildeo absoluta de que o menor de 18 anos em face ao desenvolvimento mental

incompleto natildeo tem condiccedilotildees de compreender o caraacuteter iliacutecito do que faz ou

capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimentordquo Destarte ao

analisar o contexto atual de nosso Paiacutes nota-se que a crescente violecircncia a maacute

distribuiccedilatildeo de renda e a ineficaacutecia do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tecircm

influenciado o iacutendice de adolescentes na praacutetica de atos infracionais natildeo somente

nos grandes centros mas tambeacutem nos municiacutepios

O Desembargador Antocircnio Fernando do Amaral e Silva (2003) dispotildee em seus

presentes estudos que ldquoao analisar as causas da delinquecircncia juvenil e da

crescente violecircncia urbana destaca-se que o fenocircmeno decorre principalmente da

injusta distribuiccedilatildeo de renda da miseacuteria e da falecircncia das poliacuteticas sociais baacutesicasrdquo

Outros estudos no entanto fazem uma anaacutelise psiquiaacutetrica desses

comportamentos Neste sentido como explicou Assis (1999 p 12) ldquopara um

diagnoacutestico psiquiaacutetrico comportamentos anti-sociais satildeo aqueles caracterizados

por impulsividade inabilidade em lidar com o outro e de aprender com a proacutepria

experiecircncia de vida ausecircncia de culpa ou remorso por seus atos insensibilidade agrave

dor dos outros e transgressotildeesrdquo (1999 p 12) Logo verifica-se que estas

caracteriacutesticas da chamada personalidade anti-social seriam muito comuns entre

pessoas que cometem atos violentos

Neste sentido o municiacutepio de Assis tem-se encontrado com iacutendices elevados de

adolescentes envolvidos com a praacutetica de atos infracionais e posteriormente com

seacuterios problemas familiares

31 Consideraccedilotildees Gerais

Segundo Joseacute Roberto Oliveira Santos (2011 p 140141) no livro praacuteticas

sociais e abordagens teoacutericas no municiacutepio de Assis ldquoem 2003 foi firmado entre a

Fundaccedilatildeo Casa e a Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar atendendo a 160 jovens

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

23

em duas modalidades de medidas socioeducativas em um programa que recebe o

nome de lsquojovens em accedilatildeorsquo assistido por uma equipe multidisciplinar e

supervisionada por teacutecnicos da Fundaccedilatildeordquo Neste sentido o projeto realiza-se

acerca das medidas socioeducativas de liberdade assistida e prestaccedilatildeo de serviccedilos

agrave comunidade Neste sentido Santos (2011) ainda aborda que

Ao analisarmos os prontuaacuterios2 dos adolescentes atendidos em

cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e

prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade no periacuteodo de 2003 a junho de

2008 o primeiro dado foi agrave constataccedilatildeo no aumento do nuacutemero de

adolescentes que cometeram atos infracionais Em 2003 o Projeto

Jovens em Accedilatildeo atendia 40 adolescentes e jovens e em 2008 esse

nuacutemero estava em torno de 160 atendidos Proporcionalmente a

populaccedilatildeo juvenil da cidade natildeo teve um aumento significativo

Por outro lado a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do

Adolescente de Assis ndash Magda Teodoro de Arruda 3 atualmente encontra-se

inseridos no projeto cerca de 689 adolescentes Destarte verifica-se que ao inveacutes do

nuacutemero diminuir houve o aumento significativo acerca das medidas mais ldquobrandasrdquo

Posteriormente foi possiacutevel verificar o nuacutemero de jovens no municiacutepio sendo

Tabela 1 ndash Populaccedilatildeo jovem em Assis

Idade Populaccedilatildeo

0 - 3 4652

4 - 5 2223

6 1145

7 - 14 10173

15 - 17 4227

18 - 19 3147

Total 25567

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar do municiacutepio de Assis

2 O prontuaacuterio possui os seguintes relatoacuterios Interpretaccedilatildeo da medida relatoacuterio inicial relatoacuterio de

acompanhamento e relatoacuterio de encerramento Existe a possibilidade de enviar um relatoacuterio informativo a qualquer momento para a Vara da Infacircncia e Juventude com a finalidade de comunicar um fato relevante ocorrido durante o cumprimento da medida socioeducativa 3 Entrevista pessoal realizada pela autora com a Presidente do Conselho em 23 de marccedilo de 2014

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

24

Assim de uma populaccedilatildeo total de 95 mil e 144 habitantes4 constitui-se desse

nuacutemero o total de 25 mil e 567 crianccedilas e adolescentes residentes no municiacutepio

Neste sentido foi possiacutevel verificar tambeacutem que entre os anos de janeiro de 2012 a

dezembro de 2013 houve uma disparidade nas entradas de remoccedilatildeo sendo 129

adolescentes residentes no municiacutepio de Assis em 2012 e 217 adolescentes em

2013 Observando os nuacutemeros de outras regiotildees constata-se que em Mariacutelia foram

cerca de 67 adolescentes no ano de 2012 e 108 em 2013 jaacute em Presidente

Prudente houve 129 adolescentes com entradas de remoccedilatildeo em 2012 e 105 em

2013

No que se refere agrave reincidecircncia na medida de internaccedilatildeo houve o nuacutemero de 44

adolescentes do municiacutepio no ano de 2013 novamente ldquocontrariandordquo o previsto nos

municiacutepios de Mariacutelia e Presidente Prudente com nuacutemeros bem mais baixos Logo

em Presidente Prudente constatou-se cerca de 14 adolescentes com reincidecircncia na

medida de internaccedilatildeo contra 13 em Mariacutelia todos no mesmo periacuteodo Destarte

apoacutes a conclusatildeo das pesquisas acerca do adolescente infrator em Assis os

resultados obtidos podem ser visualizados nas subseccedilotildees abaixo

32 Perfil Socioeconocircmico

Acerca do perfil socioeconocircmico do adolescente infrator em Assis foi possiacutevel

verificar que a maioria trata-se de jovens provenientes de famiacutelias de baixa renda

dos bairros mais carentes da cidade como a Vila Maria Isabel e Vila Ribeiro

Destarte constata-se que cerca de 10 adolescentes infratores da cidade satildeo

residentes da Vila Maria Isabel contra 9 residentes na Vila Ribeiro Entretanto

embora natildeo demonstre nas pesquisas realizadas a Presidente do Conselho

Municipal da Crianccedila e do Adolescente afirmou que o bairro Colinas eacute o mais

ldquoproblemaacuteticordquo atualmente pois muitas crianccedilas e adolescentes deste bairro

encontram-se em evasatildeo escolar ou com grande atraso em relaccedilatildeo ao ano que

deveriam estar cursando na escola ou seja natildeo estatildeo na escola e tambeacutem natildeo

4 Censo Demograacutefico de 2010 Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=350400ampidtema=67ampsearch=sao-paulo|assis|censo-demografico-2010-resultados-do-universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios-

25

trabalham Logo acabam sendo inseridos e influenciados para a praacutetica de atos

infracionais principalmente relacionado agrave questatildeo do traacutefico de drogas

Neste sentido o Dr Thiago Baldani de Felippo5 afirma que

ldquoOs adolescentes diziam que natildeo usavam drogas (mas utilizavam

maconha) muitos natildeo frequentam a escola e se frequentam eacute com

atraso de dois trecircs anos ou seja haacute mal aproveitamento e evasatildeo

escolar Assim as escolas satildeo oficiadas para dizer quais os casos

mais complexos para o Juiz da Vara da Infacircncia e Juventude

juntamente com o Conselho Tutelar e outros oacutergatildeos que se referem

a crianccedila e o adolescente solucionar verificando o que cada um da

rede pode fazer com aquele aluno logo a escola se compromete a

enviar a frequecircncia bem como as notas e o Conselho em visitar

esse aluno pelo prazo de um ano e depois isto se encerra

independentemente de eficaacutecia ou natildeordquo

No que se refere agrave idade dos adolescentes procedentes de Assis a maioria

encontra-se com idade entre 16 e 17 anos constituindo-se em ambas as idades 19

adolescentes ou seja cerca de 38 adolescentes nesta idade Jaacute com relaccedilatildeo a

escolaridade de 57 adolescentes residentes no municiacutepio constatou-se que 16

estatildeo frequentando a 7ordf seacuterie8ordm ano e 8 frequentam a 6ordf seacuterie7ordm ano

321 Perfil Juriacutedico

Quanto ao perfil juriacutedico dos menores envolvidos neste estudo foi possiacutevel

verificar que o ato infracional mais praticado entre esses adolescentes de Assis

constitui-se no traacutefico de drogas bem como o roubo qualificado Destarte em um

nuacutemero de 56 adolescentes verificou-se que 43 adolescentes residentes no

municiacutepio estatildeo envolvidos com a praacutetica do traacutefico de drogas e 11 encontram-se

envolvidos no roubo qualificado

5 Dr Thiago Baldani de Felippo eacute Juiz de Direito da Vara da Infacircncia de Juventude do municiacutepio de Assis e

participou como palestrante no evento do I Simpoacutesio de Enfrentamento e Desafios ao uso de aacutelcool e outras drogas por crianccedilas e adolescentes realizado em 18 de novembro de 2014 na Cacircmara Municipal de Assis

26

322 Perfil Religioso

Para analisar o perfil religioso do adolescente infrator no municiacutepio foi necessaacuterio

buscar dados com pessoas envolvidas com estes adolescentes visto que os

processos e os dados relacionados agraves famiacutelias dos menores correm sob segredo de

justiccedila Destarte identificou-se a personalidade e os aspectos morais sociais e

religiosos atraveacutes de entrevista com a Presidente do Conselho Municipal dos Direitos

da Crianccedila e do Adolescente de Assis Segundo Magda Teodoro de Arruda a

maioria dos adolescentes procedentes de Assis natildeo possuem religiatildeo natildeo

frequentam nenhum tipo de igreja e a proacutepria famiacutelia natildeo incentiva este adolescente

a buscar novos caminhos

27

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A questatildeo dos adolescentes infratores vem sendo amplamente discutida em

diversos estados do Brasil Logo identificou-se dados alarmantes acerca das

estatiacutesticas levantadas na cidade de Assis Neste aspecto verificou-se que os

iacutendices de reincidentes na medida de internaccedilatildeo e outros aspectos encontram-se

elevados se comparados com outros municiacutepios Outrossim haacute grande discussatildeo

acerca das poliacuteticas puacuteblicas a serem adotadas natildeo soacute no Brasil mas no mundo

como um todo A violecircncia o traacutefico de drogas e o mal relacionamento familiar

contribui para que esses adolescentes busquem outros caminhos que muitas vezes

eacute perverso cruel e sem retorno Dessa forma apoacutes a realizaccedilatildeo desta pesquisa eacute

possiacutevel construir um breve perfil do adolescente infrator de Assis e posteriormente

subsidiar poliacuteticas puacuteblicas nos bairros mais carentes e violentos de nosso

municiacutepio

Neste sentido a maioria dos menores infratores de Assis tratam-se de adolescentes

com cerca de 17 anos do sexo masculino provenientes de famiacutelias de baixa renda e

residentes nos bairros mais pobres da cidade onde faltam poliacuteticas puacuteblicas

relacionados a cultura educaccedilatildeo sauacutede esporte Natildeo frequentam grupos religiosos

e haacute uma desestrutura familiar posteriormente foi possiacutevel identificar que muitos

estatildeo envolvidos com o traacutefico de drogas e encontram-se em evasatildeo escolar Logo

eacute possiacutevel verificar que muitos destes jovens natildeo possuem boas perspectivas para o

futuro As reclamaccedilotildees populares muitas vezes adquirem sentidos extremos como

a pena de morte ou ateacute mesmo a reduccedilatildeo da maioridade penal o que natildeo soluciona

efetivamente o problema Uma das medidas de enfrentamento do problema eacute

atraveacutes da socializaccedilatildeo da educaccedilatildeo e da vida familiar visto que em muitos casos

esses jovens encontram-se em um ambiente desestruturado desde a infacircncia

Destarte haacute necessidade de reavaliar as medidas estabelecidas no ECA bem como

o papel dos Estados e Municiacutepios diante dessas estatiacutesticas implementando e

investindo em um acesso a educaccedilatildeo cultura sauacutede e esportes dignos da

sociedade como um todo Enfim os adolescentes infratores precisam ser

reintegrados agrave sociedade atraveacutes de um bom trabalho para o seu desenvolvimento

como cidadatildeo e sua recuperaccedilatildeo Destarte considerando o crescente aumento de

adolescentes infratores no Brasil tem-se que Assis natildeo pode ficar alheio a esse

28

grave problema social e deve implementar medidas para diminuir essa triste

estatiacutestica

29

REFEREcircNCIAS

AMADO Jorge Capitatildees da Areia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2008

ASSIS S G Traccedilando caminhos numa sociedade violenta A vida dos jovens

infratores e seus irmatildeos Rio de Janeiro Brasiacutelia FIOCRUZ ndash CLAVES UNESCO

Departamento da Crianccedila e do Adolescente Secretaacuteria de Direitos Humanos

Ministeacuterio da Justiccedila 1999

BOBBIO Norberto A Era dos Direitos Rio de Janeiro Campus 1992

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

BrasiacuteliaDF Senado 1988

BRASIL Lei 806990 de 13 de julho de 1990 Publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo

em 16 de Junho de 1990

COSTA R T C Em dia com a psicanaacutelise De volta ao social Estado de Minas

Belo Horizonte 19 nov 2000 Espetaacuteculoopiniatildeo p 5

CUNHA Seacutergio Seacutervulo da Dicionaacuterio Compacto do Direito 3ordf Ediccedilatildeo Satildeo

Paulo Saraiva 2003

CURY Munir Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Anotado Editora Revista

dos Tribunais 2002

DIMENSTEIN Gilberto Cidadatildeo de papel Editora Aacutetica 1999

FILHO Marco Antocircnio da Silva ZANOTELLI Mauriacutecio Daniel Monccedilons Perfil do

Menor Infrator Universidade do Sul de Santa Catarina 2009

GARCIA Maria Juventude e violecircncia ndash A maioridade penal e a eacutetica da

responsabilidade Revista de Direito Constitucional e Internacional RDCI 62240

jan-mar 2008

LEAL Ceacutesar Barros A Delinquecircncia Juvenil seus Fatores Exoacutegenos e

Prevenccedilatildeo Rio de Janeiro Aide Editora 1983

LENZA Pedro Direito Constitucional Esquematizado 17 Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2013

LOPEZ I Em defesa do jovem Revista Problemas Brasileiros Disponiacutevel em

http20023124632sescrevistaspbindexhtm Acesso em 15 nov 2013

MARTINS J S (Coord) O massacre dos inocentes a infacircncia no Brasil Satildeo

Paulo Hucitec 1993 P 117- 153

MASSON Cleber Coacutedigo Penal Comentado Satildeo Paulo Meacutetodo 2013 p 188 ndash

189 e 402

26

322 Perfil Religioso

Para analisar o perfil religioso do adolescente infrator no municiacutepio foi necessaacuterio

buscar dados com pessoas envolvidas com estes adolescentes visto que os

processos e os dados relacionados agraves famiacutelias dos menores correm sob segredo de

justiccedila Destarte identificou-se a personalidade e os aspectos morais sociais e

religiosos atraveacutes de entrevista com a Presidente do Conselho Municipal dos Direitos

da Crianccedila e do Adolescente de Assis Segundo Magda Teodoro de Arruda a

maioria dos adolescentes procedentes de Assis natildeo possuem religiatildeo natildeo

frequentam nenhum tipo de igreja e a proacutepria famiacutelia natildeo incentiva este adolescente

a buscar novos caminhos

27

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A questatildeo dos adolescentes infratores vem sendo amplamente discutida em

diversos estados do Brasil Logo identificou-se dados alarmantes acerca das

estatiacutesticas levantadas na cidade de Assis Neste aspecto verificou-se que os

iacutendices de reincidentes na medida de internaccedilatildeo e outros aspectos encontram-se

elevados se comparados com outros municiacutepios Outrossim haacute grande discussatildeo

acerca das poliacuteticas puacuteblicas a serem adotadas natildeo soacute no Brasil mas no mundo

como um todo A violecircncia o traacutefico de drogas e o mal relacionamento familiar

contribui para que esses adolescentes busquem outros caminhos que muitas vezes

eacute perverso cruel e sem retorno Dessa forma apoacutes a realizaccedilatildeo desta pesquisa eacute

possiacutevel construir um breve perfil do adolescente infrator de Assis e posteriormente

subsidiar poliacuteticas puacuteblicas nos bairros mais carentes e violentos de nosso

municiacutepio

Neste sentido a maioria dos menores infratores de Assis tratam-se de adolescentes

com cerca de 17 anos do sexo masculino provenientes de famiacutelias de baixa renda e

residentes nos bairros mais pobres da cidade onde faltam poliacuteticas puacuteblicas

relacionados a cultura educaccedilatildeo sauacutede esporte Natildeo frequentam grupos religiosos

e haacute uma desestrutura familiar posteriormente foi possiacutevel identificar que muitos

estatildeo envolvidos com o traacutefico de drogas e encontram-se em evasatildeo escolar Logo

eacute possiacutevel verificar que muitos destes jovens natildeo possuem boas perspectivas para o

futuro As reclamaccedilotildees populares muitas vezes adquirem sentidos extremos como

a pena de morte ou ateacute mesmo a reduccedilatildeo da maioridade penal o que natildeo soluciona

efetivamente o problema Uma das medidas de enfrentamento do problema eacute

atraveacutes da socializaccedilatildeo da educaccedilatildeo e da vida familiar visto que em muitos casos

esses jovens encontram-se em um ambiente desestruturado desde a infacircncia

Destarte haacute necessidade de reavaliar as medidas estabelecidas no ECA bem como

o papel dos Estados e Municiacutepios diante dessas estatiacutesticas implementando e

investindo em um acesso a educaccedilatildeo cultura sauacutede e esportes dignos da

sociedade como um todo Enfim os adolescentes infratores precisam ser

reintegrados agrave sociedade atraveacutes de um bom trabalho para o seu desenvolvimento

como cidadatildeo e sua recuperaccedilatildeo Destarte considerando o crescente aumento de

adolescentes infratores no Brasil tem-se que Assis natildeo pode ficar alheio a esse

28

grave problema social e deve implementar medidas para diminuir essa triste

estatiacutestica

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REFEREcircNCIAS

AMADO Jorge Capitatildees da Areia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2008

ASSIS S G Traccedilando caminhos numa sociedade violenta A vida dos jovens

infratores e seus irmatildeos Rio de Janeiro Brasiacutelia FIOCRUZ ndash CLAVES UNESCO

Departamento da Crianccedila e do Adolescente Secretaacuteria de Direitos Humanos

Ministeacuterio da Justiccedila 1999

BOBBIO Norberto A Era dos Direitos Rio de Janeiro Campus 1992

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

BrasiacuteliaDF Senado 1988

BRASIL Lei 806990 de 13 de julho de 1990 Publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo

em 16 de Junho de 1990

COSTA R T C Em dia com a psicanaacutelise De volta ao social Estado de Minas

Belo Horizonte 19 nov 2000 Espetaacuteculoopiniatildeo p 5

CUNHA Seacutergio Seacutervulo da Dicionaacuterio Compacto do Direito 3ordf Ediccedilatildeo Satildeo

Paulo Saraiva 2003

CURY Munir Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Anotado Editora Revista

dos Tribunais 2002

DIMENSTEIN Gilberto Cidadatildeo de papel Editora Aacutetica 1999

FILHO Marco Antocircnio da Silva ZANOTELLI Mauriacutecio Daniel Monccedilons Perfil do

Menor Infrator Universidade do Sul de Santa Catarina 2009

GARCIA Maria Juventude e violecircncia ndash A maioridade penal e a eacutetica da

responsabilidade Revista de Direito Constitucional e Internacional RDCI 62240

jan-mar 2008

LEAL Ceacutesar Barros A Delinquecircncia Juvenil seus Fatores Exoacutegenos e

Prevenccedilatildeo Rio de Janeiro Aide Editora 1983

LENZA Pedro Direito Constitucional Esquematizado 17 Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2013

LOPEZ I Em defesa do jovem Revista Problemas Brasileiros Disponiacutevel em

http20023124632sescrevistaspbindexhtm Acesso em 15 nov 2013

MARTINS J S (Coord) O massacre dos inocentes a infacircncia no Brasil Satildeo

Paulo Hucitec 1993 P 117- 153

MASSON Cleber Coacutedigo Penal Comentado Satildeo Paulo Meacutetodo 2013 p 188 ndash

189 e 402

27

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A questatildeo dos adolescentes infratores vem sendo amplamente discutida em

diversos estados do Brasil Logo identificou-se dados alarmantes acerca das

estatiacutesticas levantadas na cidade de Assis Neste aspecto verificou-se que os

iacutendices de reincidentes na medida de internaccedilatildeo e outros aspectos encontram-se

elevados se comparados com outros municiacutepios Outrossim haacute grande discussatildeo

acerca das poliacuteticas puacuteblicas a serem adotadas natildeo soacute no Brasil mas no mundo

como um todo A violecircncia o traacutefico de drogas e o mal relacionamento familiar

contribui para que esses adolescentes busquem outros caminhos que muitas vezes

eacute perverso cruel e sem retorno Dessa forma apoacutes a realizaccedilatildeo desta pesquisa eacute

possiacutevel construir um breve perfil do adolescente infrator de Assis e posteriormente

subsidiar poliacuteticas puacuteblicas nos bairros mais carentes e violentos de nosso

municiacutepio

Neste sentido a maioria dos menores infratores de Assis tratam-se de adolescentes

com cerca de 17 anos do sexo masculino provenientes de famiacutelias de baixa renda e

residentes nos bairros mais pobres da cidade onde faltam poliacuteticas puacuteblicas

relacionados a cultura educaccedilatildeo sauacutede esporte Natildeo frequentam grupos religiosos

e haacute uma desestrutura familiar posteriormente foi possiacutevel identificar que muitos

estatildeo envolvidos com o traacutefico de drogas e encontram-se em evasatildeo escolar Logo

eacute possiacutevel verificar que muitos destes jovens natildeo possuem boas perspectivas para o

futuro As reclamaccedilotildees populares muitas vezes adquirem sentidos extremos como

a pena de morte ou ateacute mesmo a reduccedilatildeo da maioridade penal o que natildeo soluciona

efetivamente o problema Uma das medidas de enfrentamento do problema eacute

atraveacutes da socializaccedilatildeo da educaccedilatildeo e da vida familiar visto que em muitos casos

esses jovens encontram-se em um ambiente desestruturado desde a infacircncia

Destarte haacute necessidade de reavaliar as medidas estabelecidas no ECA bem como

o papel dos Estados e Municiacutepios diante dessas estatiacutesticas implementando e

investindo em um acesso a educaccedilatildeo cultura sauacutede e esportes dignos da

sociedade como um todo Enfim os adolescentes infratores precisam ser

reintegrados agrave sociedade atraveacutes de um bom trabalho para o seu desenvolvimento

como cidadatildeo e sua recuperaccedilatildeo Destarte considerando o crescente aumento de

adolescentes infratores no Brasil tem-se que Assis natildeo pode ficar alheio a esse

28

grave problema social e deve implementar medidas para diminuir essa triste

estatiacutestica

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Departamento da Crianccedila e do Adolescente Secretaacuteria de Direitos Humanos

Ministeacuterio da Justiccedila 1999

BOBBIO Norberto A Era dos Direitos Rio de Janeiro Campus 1992

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

BrasiacuteliaDF Senado 1988

BRASIL Lei 806990 de 13 de julho de 1990 Publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo

em 16 de Junho de 1990

COSTA R T C Em dia com a psicanaacutelise De volta ao social Estado de Minas

Belo Horizonte 19 nov 2000 Espetaacuteculoopiniatildeo p 5

CUNHA Seacutergio Seacutervulo da Dicionaacuterio Compacto do Direito 3ordf Ediccedilatildeo Satildeo

Paulo Saraiva 2003

CURY Munir Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Anotado Editora Revista

dos Tribunais 2002

DIMENSTEIN Gilberto Cidadatildeo de papel Editora Aacutetica 1999

FILHO Marco Antocircnio da Silva ZANOTELLI Mauriacutecio Daniel Monccedilons Perfil do

Menor Infrator Universidade do Sul de Santa Catarina 2009

GARCIA Maria Juventude e violecircncia ndash A maioridade penal e a eacutetica da

responsabilidade Revista de Direito Constitucional e Internacional RDCI 62240

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LEAL Ceacutesar Barros A Delinquecircncia Juvenil seus Fatores Exoacutegenos e

Prevenccedilatildeo Rio de Janeiro Aide Editora 1983

LENZA Pedro Direito Constitucional Esquematizado 17 Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2013

LOPEZ I Em defesa do jovem Revista Problemas Brasileiros Disponiacutevel em

http20023124632sescrevistaspbindexhtm Acesso em 15 nov 2013

MARTINS J S (Coord) O massacre dos inocentes a infacircncia no Brasil Satildeo

Paulo Hucitec 1993 P 117- 153

MASSON Cleber Coacutedigo Penal Comentado Satildeo Paulo Meacutetodo 2013 p 188 ndash

189 e 402

28

grave problema social e deve implementar medidas para diminuir essa triste

estatiacutestica

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ASSIS S G Traccedilando caminhos numa sociedade violenta A vida dos jovens

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Departamento da Crianccedila e do Adolescente Secretaacuteria de Direitos Humanos

Ministeacuterio da Justiccedila 1999

BOBBIO Norberto A Era dos Direitos Rio de Janeiro Campus 1992

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

BrasiacuteliaDF Senado 1988

BRASIL Lei 806990 de 13 de julho de 1990 Publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo

em 16 de Junho de 1990

COSTA R T C Em dia com a psicanaacutelise De volta ao social Estado de Minas

Belo Horizonte 19 nov 2000 Espetaacuteculoopiniatildeo p 5

CUNHA Seacutergio Seacutervulo da Dicionaacuterio Compacto do Direito 3ordf Ediccedilatildeo Satildeo

Paulo Saraiva 2003

CURY Munir Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Anotado Editora Revista

dos Tribunais 2002

DIMENSTEIN Gilberto Cidadatildeo de papel Editora Aacutetica 1999

FILHO Marco Antocircnio da Silva ZANOTELLI Mauriacutecio Daniel Monccedilons Perfil do

Menor Infrator Universidade do Sul de Santa Catarina 2009

GARCIA Maria Juventude e violecircncia ndash A maioridade penal e a eacutetica da

responsabilidade Revista de Direito Constitucional e Internacional RDCI 62240

jan-mar 2008

LEAL Ceacutesar Barros A Delinquecircncia Juvenil seus Fatores Exoacutegenos e

Prevenccedilatildeo Rio de Janeiro Aide Editora 1983

LENZA Pedro Direito Constitucional Esquematizado 17 Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2013

LOPEZ I Em defesa do jovem Revista Problemas Brasileiros Disponiacutevel em

http20023124632sescrevistaspbindexhtm Acesso em 15 nov 2013

MARTINS J S (Coord) O massacre dos inocentes a infacircncia no Brasil Satildeo

Paulo Hucitec 1993 P 117- 153

MASSON Cleber Coacutedigo Penal Comentado Satildeo Paulo Meacutetodo 2013 p 188 ndash

189 e 402

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REFEREcircNCIAS

AMADO Jorge Capitatildees da Areia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2008

ASSIS S G Traccedilando caminhos numa sociedade violenta A vida dos jovens

infratores e seus irmatildeos Rio de Janeiro Brasiacutelia FIOCRUZ ndash CLAVES UNESCO

Departamento da Crianccedila e do Adolescente Secretaacuteria de Direitos Humanos

Ministeacuterio da Justiccedila 1999

BOBBIO Norberto A Era dos Direitos Rio de Janeiro Campus 1992

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

BrasiacuteliaDF Senado 1988

BRASIL Lei 806990 de 13 de julho de 1990 Publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo

em 16 de Junho de 1990

COSTA R T C Em dia com a psicanaacutelise De volta ao social Estado de Minas

Belo Horizonte 19 nov 2000 Espetaacuteculoopiniatildeo p 5

CUNHA Seacutergio Seacutervulo da Dicionaacuterio Compacto do Direito 3ordf Ediccedilatildeo Satildeo

Paulo Saraiva 2003

CURY Munir Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Anotado Editora Revista

dos Tribunais 2002

DIMENSTEIN Gilberto Cidadatildeo de papel Editora Aacutetica 1999

FILHO Marco Antocircnio da Silva ZANOTELLI Mauriacutecio Daniel Monccedilons Perfil do

Menor Infrator Universidade do Sul de Santa Catarina 2009

GARCIA Maria Juventude e violecircncia ndash A maioridade penal e a eacutetica da

responsabilidade Revista de Direito Constitucional e Internacional RDCI 62240

jan-mar 2008

LEAL Ceacutesar Barros A Delinquecircncia Juvenil seus Fatores Exoacutegenos e

Prevenccedilatildeo Rio de Janeiro Aide Editora 1983

LENZA Pedro Direito Constitucional Esquematizado 17 Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2013

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http20023124632sescrevistaspbindexhtm Acesso em 15 nov 2013

MARTINS J S (Coord) O massacre dos inocentes a infacircncia no Brasil Satildeo

Paulo Hucitec 1993 P 117- 153

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189 e 402

30

NUCCI Guilherme de Souza Coacutedigo Penal Comentado 9ordf Ediccedilatildeo Editora Revista

dos Tribunais 2009

OLIVEIRA Aacuteurea Alice Campos COELHO France Maria Gontijo Pesquisa com

menores infratores e sua famiacutelia no municiacutepio de ViccedilosaMG Universidade

Federal de Viccedilosa 2000

OLIVEIRA Aacuteurea Alice Campos O menor infrator na comarca de Viccedilosa-MG

famiacutelia instituiccedilotildees e sociedade Universidade Federal de Viccedilosa 2000

PAULA Paulo Afonso Garrido de Paula Direito da crianccedila e do adolescente e

tutela jurisdicional diferenciada Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 2002

PERES A A juventude transviada Revista Claacuteudia P 18-23 1997

PINHEIRO Flaacutevio Cesar de Toledo Estudo sobre o Menor Infrator Disponiacutevel em

httpwwwoabsporgbrnoticias200611163931 Acesso em 15 nov 2013

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional

14ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Saraiva 2013

PIOVESAN Flaacutevia GARCIA Maria Doutrinas Essenciais Direitos Humanos ndash

Grupos Vulneraacuteveis V 04 Satildeo Paulo Editora Saraiva 2011

ROBERTI Maura O Menor Infrator e o descaso social Disponiacutevel em

httpwwwegovufscbrportalsitesdefaultfilesanexos30461-31809-1-PBpdf

Acesso em 20 nov 2014

SILVA Antocircnio Fernando do Amaral A crianccedila e o adolescente em conflito com a

Lei Disponiacutevel em httpwwwabmporgbrindexphp Acesso em 20 nov 2014

SILVA Plaacutecido e Vocabulaacuterio Juriacutedico Vol III 7ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Forense

1982 p 173

SOUZA Amanda Cristine de Violecircncia Menor Infrator e Poliacutetica de

Ressocializaccedilatildeo Projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica FEMA ndash AssisSP 2013

TALLI Renato Laeacutercio Reumanizaccedilatildeo do social questatildeo de consciecircncia Satildeo

Paulo Imprensa oficial do Estado 1996

TAVARES Joseacute de Farias Comentaacuterios ao Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente Editora Forense 2005

VEacuteRA Heloana Santos Infacircncia e Adolescecircncia O conflito com a Lei Disponiacutevel

em httpintertemasunitoledobrrevistaindexphpETICarticleviewFile24311955

Acesso em 23 nov 2014

31

WEBER L N D Algueacutem conhece esse criminoso Projeto Crianccedila Disponiacutevel

em Httpwwwbrasilterravistaptipanema2172alguemnacsecrininosohtml Acesso

em 23 nov 2014

XAVIER Ana Lucia Pintar Retratos da Infacircncia e Juventude Praacuteticas Sociais e

abordagens teoacutericas no municiacutepio de AssisSP Mariacutelia Fundepe 2011

32

ANEXOS

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar e Fundaccedilatildeo Casa

COMARCA SOLICITADA 2012 2013 COMARCA SOLICITADA 2012 2013

Satildeo Joseacute do Rio Preto 229 248 Santa Adeacutelia 5 11

Assis 129 217 Luceacutelia 9 10

Araccedilatuba 111 118 Santo Anastaacutecio 6 10

Barretos 115 118 Maracaiacute 7 9

Mariacutelia 67 108 Buritama 7 8

Presidente Prudente 129 105 Mirandoacutepolis 14 8

Catanduva 96 90 Panorama 7 8

Lins 92 82 Martinoacutepolis 3 6

Fernandoacutepolis 51 72 Osvaldo Cruz 8 6

Andradina 84 62 Pompeacuteia 2 6

Presidente Epitaacutecio 29 58 Tabapuatilde 5 6

Oliacutempia 61 57 Tupatilde 8 6

Biriguumli 34 56 Getulina 8 5

Paraguaccedilu Paulista 38 44 Guaiacutera 8 5

Votuporanga 44 42 Junqueiroacutepolis 1 5

Pirapozinho 47 39 Nova Granada 12 5

Garccedila 33 36 Quataacute 8 5

Penaacutepolis 42 35 Gaacutelia 1 4

Presidente Venceslau 25 31 Neves Paulista 2 4

Guararapes 13 30 Rosana 2 4

Palmital 39 30 Auriflama 2 3

Santa Feacute do Sul 21 28 Cardoso 6 3

Promissatildeo 21 26 Palestina 3

Adamantina 11 25 Potirendaba 2 3

Tanabi 19 24 Presidente Bernardes 7 3

Colina 26 23 Tupi Paulista 6 3

Morro Agudo 28 23 Bastos 3 2

Jales 24 19 Itajobi 4 2

Mirassol 23 19 Nhandeara 2 2

Pereira Barreto 15 19 Paulo de Faria 2 2

Dracena 11 18 Estrela Doeste 4 1

Pacaembu 13 16 Iepecirc 11 1

Valparaiacuteso 10 16 Mirante do Paranapanema 10 1

Bebedouro 10 15 Monte Apraziacutevel 11 1

Cafelacircndia 7 15 Palmeira Doeste 9 1

Ilha Solteira 18 15 Urupecircs 3 1

Novo Horizonte 8 14 General Salgado 3

Cacircndido Mota 11 13 Floacuterida Paulista 3

Regente Feijoacute 13 13 Uracircnia 2

Rancharia 10 12 Monte Azul Paulista 1

Teodoro Sampaio 6 12 Ouroeste 1

Joseacute Bonifaacutecio 24 11 Viradouro 13 1

SUB-TOTAL 1837 2054 Total Geral 2065 2218

ENTRADAS DE REMOCcedilAtildeO ( JANEIRO a DEZEMBRO 20122013 ) - MASCULINO

33

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar e Fundaccedilatildeo Casa

MUNICIacutePIOS 2013 MUNICIacutePIOS 2013

Satildeo Joseacute do Rio Preto 69 Santo Anastaacutecio 4

Assis 44 Teodoro Sampaio 4

Araccedilatuba 19 Valparaiacuteso 4

Andradina 17 Barretos 3

Lins 15 Floacuterida Paulista 3

Presidente Prudente 14 Lourdes 3

Paraguaccedilu Paulista 14 Pereira Barreto 3

Catanduva 14 Santa Feacute do Sul 3

Mariacutelia 13 Alvares Machado 2

Palmital 13 Brasilacircndia 2

Pirapozinho 13 Buritama 2

Rancharia 12 Campos Novos Paulista 2

Severiacutenea 11 Floriacutenea 2

Birigui 11 Ilha Solteira 2

Cacircndido Mota 10 Irapuru 2

Oliacutempia 10 Joseacute Bonifaacutecio 2

Penaacutepolis 10 Maracaiacute 2

Dracena 9 Nova Castilho 2

Tarumatilde 9 Nova Esperanccedila 2

Guararapes 8 Ourinhos 2

Pacaembu 8 Planalto 2

Promissatildeo 8 Presidente Epitaacutecio 2

Tanabi 8 Bastos 1

Valentim Gentil 8 Guaiccedilara 1

Adamantina 7 Guaimbe 1

Garccedila 6 Guaraci 1

Mirandoacutepolis 6 Guarantatilde 1

Votuporanga 6 Ibirarema 1

Barbosa 5 Iepecirc 1

Cafelacircndia 5 Luceacutelia 1

Avanhandava 4 Mirassol 1

Castilho 4 Paranapuatilde 1

Fernandoacutepolis 4 Presidente Venceslau 1

Jales 4 Tupatilde 1

Osvaldo Cruz 4 Tupi Paulista 1

SUB-TOTAL 422 TOTAL GERAL 490

REINCIDEcircNCIA NA MEDIDA DE INTERNACcedilAtildeO

34

Centro de Atendimento Total

CASA Mariacutelia 28

CASA Rio Dourado Lins 18

CASA Vitoacuteria Reacutegia Lins 8

CASA Irapuru 2 1

CASA S Joseacute Rio Preto 1

CASA Feminino C Cesar 1

CASA Topaacutezio Bras 1

TOTAL 58

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

Bairro de Residecircncia Total

Vila Maria Isabel 10

Vila Ribeiro 9

Vila Progresso 4

Colinas 4

Jardim Eldorado 3

Vila Marialves 3

Nova Assis 3

Jardim Paranaacute 2

Parque Universitaacuterio 2

Vila Prudenciana 2

Jardim das Flores 2

Vila Orestes 1

Vila Souza 1

Ameacuterica 1

Vila Nova Floriacutenea 1

Parque Santa Cruz 1

Assis III 1

Vila Rodrigues 1

Vila Palhares 1

Jardim Dois Irmatildeos 1

Vila Silvestre 1

Centro 1

Natildeo cadastrados 3

TOTAL 58

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

Escolaridade Total

4ordf seacuterie 5ordm ano 2

5ordf seacuterie 6ordm ano 5

6ordf seacuterie 7ordm ano 8

7ordf seacuterie 8ordm ano 16

8ordf seacuterie 9ordm ano 10

1ordf seacuterie do EM 8

2ordf seacuterie do EM 7

3ordf seacuterie do EM 1

TOTAL 57

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

Ato Infracional Total

Traacutefico de Drogas 43

Roubo Qualificado 11

Roubo Simples 1

Homiciacutedio Dol Tentado 1

TOTAL 56

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

Idade Total

13 1

15 5

16 19

17 19

18 11

19 3

TOTAL 58

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

32

ANEXOS

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar e Fundaccedilatildeo Casa

COMARCA SOLICITADA 2012 2013 COMARCA SOLICITADA 2012 2013

Satildeo Joseacute do Rio Preto 229 248 Santa Adeacutelia 5 11

Assis 129 217 Luceacutelia 9 10

Araccedilatuba 111 118 Santo Anastaacutecio 6 10

Barretos 115 118 Maracaiacute 7 9

Mariacutelia 67 108 Buritama 7 8

Presidente Prudente 129 105 Mirandoacutepolis 14 8

Catanduva 96 90 Panorama 7 8

Lins 92 82 Martinoacutepolis 3 6

Fernandoacutepolis 51 72 Osvaldo Cruz 8 6

Andradina 84 62 Pompeacuteia 2 6

Presidente Epitaacutecio 29 58 Tabapuatilde 5 6

Oliacutempia 61 57 Tupatilde 8 6

Biriguumli 34 56 Getulina 8 5

Paraguaccedilu Paulista 38 44 Guaiacutera 8 5

Votuporanga 44 42 Junqueiroacutepolis 1 5

Pirapozinho 47 39 Nova Granada 12 5

Garccedila 33 36 Quataacute 8 5

Penaacutepolis 42 35 Gaacutelia 1 4

Presidente Venceslau 25 31 Neves Paulista 2 4

Guararapes 13 30 Rosana 2 4

Palmital 39 30 Auriflama 2 3

Santa Feacute do Sul 21 28 Cardoso 6 3

Promissatildeo 21 26 Palestina 3

Adamantina 11 25 Potirendaba 2 3

Tanabi 19 24 Presidente Bernardes 7 3

Colina 26 23 Tupi Paulista 6 3

Morro Agudo 28 23 Bastos 3 2

Jales 24 19 Itajobi 4 2

Mirassol 23 19 Nhandeara 2 2

Pereira Barreto 15 19 Paulo de Faria 2 2

Dracena 11 18 Estrela Doeste 4 1

Pacaembu 13 16 Iepecirc 11 1

Valparaiacuteso 10 16 Mirante do Paranapanema 10 1

Bebedouro 10 15 Monte Apraziacutevel 11 1

Cafelacircndia 7 15 Palmeira Doeste 9 1

Ilha Solteira 18 15 Urupecircs 3 1

Novo Horizonte 8 14 General Salgado 3

Cacircndido Mota 11 13 Floacuterida Paulista 3

Regente Feijoacute 13 13 Uracircnia 2

Rancharia 10 12 Monte Azul Paulista 1

Teodoro Sampaio 6 12 Ouroeste 1

Joseacute Bonifaacutecio 24 11 Viradouro 13 1

SUB-TOTAL 1837 2054 Total Geral 2065 2218

ENTRADAS DE REMOCcedilAtildeO ( JANEIRO a DEZEMBRO 20122013 ) - MASCULINO

33

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar e Fundaccedilatildeo Casa

MUNICIacutePIOS 2013 MUNICIacutePIOS 2013

Satildeo Joseacute do Rio Preto 69 Santo Anastaacutecio 4

Assis 44 Teodoro Sampaio 4

Araccedilatuba 19 Valparaiacuteso 4

Andradina 17 Barretos 3

Lins 15 Floacuterida Paulista 3

Presidente Prudente 14 Lourdes 3

Paraguaccedilu Paulista 14 Pereira Barreto 3

Catanduva 14 Santa Feacute do Sul 3

Mariacutelia 13 Alvares Machado 2

Palmital 13 Brasilacircndia 2

Pirapozinho 13 Buritama 2

Rancharia 12 Campos Novos Paulista 2

Severiacutenea 11 Floriacutenea 2

Birigui 11 Ilha Solteira 2

Cacircndido Mota 10 Irapuru 2

Oliacutempia 10 Joseacute Bonifaacutecio 2

Penaacutepolis 10 Maracaiacute 2

Dracena 9 Nova Castilho 2

Tarumatilde 9 Nova Esperanccedila 2

Guararapes 8 Ourinhos 2

Pacaembu 8 Planalto 2

Promissatildeo 8 Presidente Epitaacutecio 2

Tanabi 8 Bastos 1

Valentim Gentil 8 Guaiccedilara 1

Adamantina 7 Guaimbe 1

Garccedila 6 Guaraci 1

Mirandoacutepolis 6 Guarantatilde 1

Votuporanga 6 Ibirarema 1

Barbosa 5 Iepecirc 1

Cafelacircndia 5 Luceacutelia 1

Avanhandava 4 Mirassol 1

Castilho 4 Paranapuatilde 1

Fernandoacutepolis 4 Presidente Venceslau 1

Jales 4 Tupatilde 1

Osvaldo Cruz 4 Tupi Paulista 1

SUB-TOTAL 422 TOTAL GERAL 490

REINCIDEcircNCIA NA MEDIDA DE INTERNACcedilAtildeO

34

Centro de Atendimento Total

CASA Mariacutelia 28

CASA Rio Dourado Lins 18

CASA Vitoacuteria Reacutegia Lins 8

CASA Irapuru 2 1

CASA S Joseacute Rio Preto 1

CASA Feminino C Cesar 1

CASA Topaacutezio Bras 1

TOTAL 58

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

Bairro de Residecircncia Total

Vila Maria Isabel 10

Vila Ribeiro 9

Vila Progresso 4

Colinas 4

Jardim Eldorado 3

Vila Marialves 3

Nova Assis 3

Jardim Paranaacute 2

Parque Universitaacuterio 2

Vila Prudenciana 2

Jardim das Flores 2

Vila Orestes 1

Vila Souza 1

Ameacuterica 1

Vila Nova Floriacutenea 1

Parque Santa Cruz 1

Assis III 1

Vila Rodrigues 1

Vila Palhares 1

Jardim Dois Irmatildeos 1

Vila Silvestre 1

Centro 1

Natildeo cadastrados 3

TOTAL 58

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

Escolaridade Total

4ordf seacuterie 5ordm ano 2

5ordf seacuterie 6ordm ano 5

6ordf seacuterie 7ordm ano 8

7ordf seacuterie 8ordm ano 16

8ordf seacuterie 9ordm ano 10

1ordf seacuterie do EM 8

2ordf seacuterie do EM 7

3ordf seacuterie do EM 1

TOTAL 57

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

Ato Infracional Total

Traacutefico de Drogas 43

Roubo Qualificado 11

Roubo Simples 1

Homiciacutedio Dol Tentado 1

TOTAL 56

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

Idade Total

13 1

15 5

16 19

17 19

18 11

19 3

TOTAL 58

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

33

Fonte Associaccedilatildeo Filantroacutepica Nosso Lar e Fundaccedilatildeo Casa

MUNICIacutePIOS 2013 MUNICIacutePIOS 2013

Satildeo Joseacute do Rio Preto 69 Santo Anastaacutecio 4

Assis 44 Teodoro Sampaio 4

Araccedilatuba 19 Valparaiacuteso 4

Andradina 17 Barretos 3

Lins 15 Floacuterida Paulista 3

Presidente Prudente 14 Lourdes 3

Paraguaccedilu Paulista 14 Pereira Barreto 3

Catanduva 14 Santa Feacute do Sul 3

Mariacutelia 13 Alvares Machado 2

Palmital 13 Brasilacircndia 2

Pirapozinho 13 Buritama 2

Rancharia 12 Campos Novos Paulista 2

Severiacutenea 11 Floriacutenea 2

Birigui 11 Ilha Solteira 2

Cacircndido Mota 10 Irapuru 2

Oliacutempia 10 Joseacute Bonifaacutecio 2

Penaacutepolis 10 Maracaiacute 2

Dracena 9 Nova Castilho 2

Tarumatilde 9 Nova Esperanccedila 2

Guararapes 8 Ourinhos 2

Pacaembu 8 Planalto 2

Promissatildeo 8 Presidente Epitaacutecio 2

Tanabi 8 Bastos 1

Valentim Gentil 8 Guaiccedilara 1

Adamantina 7 Guaimbe 1

Garccedila 6 Guaraci 1

Mirandoacutepolis 6 Guarantatilde 1

Votuporanga 6 Ibirarema 1

Barbosa 5 Iepecirc 1

Cafelacircndia 5 Luceacutelia 1

Avanhandava 4 Mirassol 1

Castilho 4 Paranapuatilde 1

Fernandoacutepolis 4 Presidente Venceslau 1

Jales 4 Tupatilde 1

Osvaldo Cruz 4 Tupi Paulista 1

SUB-TOTAL 422 TOTAL GERAL 490

REINCIDEcircNCIA NA MEDIDA DE INTERNACcedilAtildeO

34

Centro de Atendimento Total

CASA Mariacutelia 28

CASA Rio Dourado Lins 18

CASA Vitoacuteria Reacutegia Lins 8

CASA Irapuru 2 1

CASA S Joseacute Rio Preto 1

CASA Feminino C Cesar 1

CASA Topaacutezio Bras 1

TOTAL 58

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

Bairro de Residecircncia Total

Vila Maria Isabel 10

Vila Ribeiro 9

Vila Progresso 4

Colinas 4

Jardim Eldorado 3

Vila Marialves 3

Nova Assis 3

Jardim Paranaacute 2

Parque Universitaacuterio 2

Vila Prudenciana 2

Jardim das Flores 2

Vila Orestes 1

Vila Souza 1

Ameacuterica 1

Vila Nova Floriacutenea 1

Parque Santa Cruz 1

Assis III 1

Vila Rodrigues 1

Vila Palhares 1

Jardim Dois Irmatildeos 1

Vila Silvestre 1

Centro 1

Natildeo cadastrados 3

TOTAL 58

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

Escolaridade Total

4ordf seacuterie 5ordm ano 2

5ordf seacuterie 6ordm ano 5

6ordf seacuterie 7ordm ano 8

7ordf seacuterie 8ordm ano 16

8ordf seacuterie 9ordm ano 10

1ordf seacuterie do EM 8

2ordf seacuterie do EM 7

3ordf seacuterie do EM 1

TOTAL 57

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

Ato Infracional Total

Traacutefico de Drogas 43

Roubo Qualificado 11

Roubo Simples 1

Homiciacutedio Dol Tentado 1

TOTAL 56

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

Idade Total

13 1

15 5

16 19

17 19

18 11

19 3

TOTAL 58

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

34

Centro de Atendimento Total

CASA Mariacutelia 28

CASA Rio Dourado Lins 18

CASA Vitoacuteria Reacutegia Lins 8

CASA Irapuru 2 1

CASA S Joseacute Rio Preto 1

CASA Feminino C Cesar 1

CASA Topaacutezio Bras 1

TOTAL 58

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

Bairro de Residecircncia Total

Vila Maria Isabel 10

Vila Ribeiro 9

Vila Progresso 4

Colinas 4

Jardim Eldorado 3

Vila Marialves 3

Nova Assis 3

Jardim Paranaacute 2

Parque Universitaacuterio 2

Vila Prudenciana 2

Jardim das Flores 2

Vila Orestes 1

Vila Souza 1

Ameacuterica 1

Vila Nova Floriacutenea 1

Parque Santa Cruz 1

Assis III 1

Vila Rodrigues 1

Vila Palhares 1

Jardim Dois Irmatildeos 1

Vila Silvestre 1

Centro 1

Natildeo cadastrados 3

TOTAL 58

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

Escolaridade Total

4ordf seacuterie 5ordm ano 2

5ordf seacuterie 6ordm ano 5

6ordf seacuterie 7ordm ano 8

7ordf seacuterie 8ordm ano 16

8ordf seacuterie 9ordm ano 10

1ordf seacuterie do EM 8

2ordf seacuterie do EM 7

3ordf seacuterie do EM 1

TOTAL 57

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

Ato Infracional Total

Traacutefico de Drogas 43

Roubo Qualificado 11

Roubo Simples 1

Homiciacutedio Dol Tentado 1

TOTAL 56

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS

Idade Total

13 1

15 5

16 19

17 19

18 11

19 3

TOTAL 58

ADOLESCENTES PROCEDENTES DE ASSIS