perfil dos pacientes hiv/aids que abandonam o

63
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR HEITOR VIEIRA DOURADO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS ADESÃO AO TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAL EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV ATENDIDOS NO SERVIÇO DA FARMÁCIA DA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DOUTOR HEITOR VIEIRA DOURADO, MANAUS, AMAZONAS, ENTRE 2003 E 2013 JANAÍNA DA SILVA GONÇALVES MANAUS 2014

Upload: vuongquynh

Post on 10-Jan-2017

217 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR HEITOR VIEIRA DOURADO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS

ADESÃO AO TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAL EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV ATENDIDOS NO SERVIÇO DA FARMÁCIA DA

FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DOUTOR HEITOR VIEIRA DOURADO, MANAUS, AMAZONAS, ENTRE 2003 E 2013

JANAÍNA DA SILVA GONÇALVES

MANAUS 2014

Page 2: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

i

JANAÍNA DA SILVA GONÇALVES

ADESÃO AO TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAIS EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV ATENDIDOS NO SERVIÇO DA FARMÁCIA DA

FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DOUTOR HEITOR VIEIRA DOURADO, MANAUS, AMAZONAS, ENTRE 2003 E 2013

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em Convênio com a Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, para obtenção grau de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas.

Orientadora: Profª Dra. Maria das Graças Costa Alecrim

Co-orientadora: Profª Dra. Meritxell Sabidó

MANAUS 2014

Page 3: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

APRESENTAÇÃO:

Gonçalves, Janaina Silva

Adesão ao tratamento antirretrovirais em pacientes infectados pelo HIV atendidos no serviço da farmácia da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, Manaus, Amazonas, entre 2003 e 2013.

Dissertação de (Mestrado) – Universidade do Estado do Amazonas.

Programa de Pós-graduação em Doenças Tropicais e Infecciosas.

1.HIV/aids. 2. Terapia antirretroviral.3. Avaliação da adesão.4. Farmácia

Page 4: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

ii

FOLHA DE JULGAMENTO

ADESÃO AO TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAIS EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV ATENDIDOS NO SERVIÇO DA FARMÁCIA DA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DOUTOR HEITOR VIEIRA

DOURADO, MANAUS, AMAZONAS, ENTRE 2003 E 2013

JANAINA DA SILVA GONÇALVES

“Esta dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado”

Banca Julgadora:

Presidente

Membro

Membro

Page 5: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

ii

DEDICATÓRIA

Dedico esta dissertação primeiramente a Deus e a todos aqueles que me ajudaram, a família em especial ao meu esposo Waieser Bastos e o meu filho João Gabriel Gonçalves Bastos.

Page 6: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

ii

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por esta conquista e em especial a Dra. Meritxell Sabidó Espin pelo incentivo e contribuição neste estudo, Dra. Graça da Costa Alecrim, Marly Marques de Melo.

A Gerência de Informática por serem sempre prestativos.

Aos competentes funcionários da Comissão de Ética e Pesquisa (CEP) da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado – FMT-HVD pelo valioso serviço prestado á sociedade.

Fundação Paulo Feitoza (FPF).

UEA, FMT-HVD, FAPEAM através do Programa PECTI/AM Saúde.

A todos que, direta ou indiretamente, auxiliaram no desenvolvimento e na conclusão deste trabalho.

Page 7: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

ii

RESUMO

INTRODUÇÃO: Após o advento da terapia antirretroviral combinada, a aids deixou de ser um agravo com alta letalidade e passou a ser uma doença crônica potencialmente controlável. No entanto, a obtenção de sucesso terapêutico continua sendo um grande desafio devido, entre outros fatores, a necessidade de altos níveis de adesão ao tratamento. O principal objetivo deste estudo foi estimar a prevalência de adesão ao tratamento antirretrovirais – TARV e identificar fatores associados entre os pacientes HIV/aids atendidos no serviço da farmácia da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) num período de 2003 a 2013. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo retrospectivo observacional transversal. A população de estudo foi composta por indivíduos de 18 anos ou quando iniciaram TARV. As variáveis de exposições obtidas dos bancos foram agrupadas em: Características sociodemográficas: sexo, idade média, local de residência (capital, interior), Características do tratamento dispensado: dispensação de ARV por paciente, porcentagem de pacientes que tiveram seus esquemas terapêuticos trocados, duração do tratamento antirretrovirais em meses, quantidade de início do tratamento ARV por ano e número de pacientes que atrasaram na retirada dos medicamentos da farmácia. Os dados foram analisados com o STATA. Realizou-se uma análise descritiva por meio da distribuição de freqüência das variáveis categóricas e medidas de tendência central das variáveis contínuas. A adesão foi analisada como uma variável dicotômica, definida previamente como boa adesão ≥85% baseado em estudos prévios. RESULTADOS: 5.653 pacientes HIV positivos que receberam pelo menos uma dispensação de ARV foram incluídos no estudo, eram do gênero masculino 61,9% e 2.107, a média foi de 40.5 anos (desvio padrão de 10.3 anos), e o 90,5% residia em Manaus. No ponto de corte ≥ 85%, somente 22,7% dos pacientes apresentavam aderência aos ARV. A proporção de pacientes com adesão ≥ 85% era superior em homens (54,8%) jovens de Manaus (80,1%), pacientes que não trocaram esquema de ARV (74,1%), maior duração do ARV, sem atrasos nas retirada das dispensações (89,2%), e sem ter perdido o seguimento no primeiro meio ano de ARV. CONCLUSÕES: Os resultados do estudo apontam a desenvolver estratégias e políticas públicas de intervenções precoces, preservação da ação dos ARV e redução de custos do tratamento. Palavras Chaves: HIV/aids, Terapia antirretroviral, Avaliação da adesão, Farmácia

Page 8: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

ABSTRACT

BACKGROUND. After the advent of combination antiretroviral therapy, AIDS is no longer a grievance with high mortality and has become a potentially chronic manageable disease. However, achieving therapeutic success remains a major challenge because, among other factors, of the need for high levels of adherence to treatment in a sustained manner. The main objective of this study is to estimate the prevalence of adherence to antiretroviral therapy - ART and identify associated factors among HIV / AIDS patients seen at the service of the pharmacy of Tropical Medicine Foundation Doutor Heitor Vieira Dourado between 2003 to 2013. METHODS. This is a retrospective observational study. Data was collected from de FMT-HVD Electronic Medical Records System I-doctor between 2009 and 2013 and from the Internal Dispensing Medicines Unit (DMU) database between 2003 and 2009. Collected data was entered in an Excel database fully anonymized in which individuals were identified through a numerical code assigned automatically. The study population consisted of individuals at least 18 years old when ARV treatment was started, were followed-up at the FMT-HVD. Data to estimate adherence were collected for each dispensation. Variables exposures obtained from the same database were grouped into sociodemographic characteristics: gender, age, place of residence; Dispending characteristics: ARV dispensation (yes/no), dispensation of other treatments (yes/no), dispensation date, date of initiation of ARV treatment. The data were analyzed using STATA SE. A descriptive analysis using frequency distribution of categorical variables and measures of central tendency of continuous variables was performed. The adherence was analyzed as a dichotomous variable, previously defined as good adherence ≥ 85 % based on previous studies. RESULTS: 5,653 HIV positive patients who received at least one dispensing of ARV and were included in the study. Were male, 61.9% and 2.107, the average was 40.5 years (standard deviate of 10.3 years), and 90.5% lived in Manaus. At a cutoff ≥85%, only 22.7% of patients had adherence to ARV. The proportion of patients with adherence <85% was higher in men (54.8%), young people, Manaus (80.1%) patients who did not switch ARV regimen (74.1%), longer duration of ARV without delays dispensations (89.2%), and no lost to follow-up in the first half year of ARV.CONCLUSIONS: The results of the study point to develop strategies and policies for early interventions, preserving the action of ARVs and reduce cost.

Key Words: HIV/aids, antiretroviral therapy, Evaluation of compliance, pharmacy

Page 9: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Metanálise de taxas de não adesão de estudos selecionados, Brasil, 2004-2009 (32). ........................................................................................................... 7

Figura 2 - Fatores associados a não-adesão(32). .......................................................... 10

Page 10: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Fatores associados a diferentes eventos analisados por modelos multivariados, Projeto Atar (32). ................................................................................ 11

Tabela 2- Fatores associados a diferentes eventos analisados por modelos multivariados, Projeto Atar (32). ................................................................................ 12

Tabela 3 - Distribuição da dispensação de antirretrovirais por faixa etária segundo gênero, atendida na Unidade Dispensadora de Medicamentos, Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado em 2003. ....................................... 28

Tabela 4 - Distribuição da dispensação de antirretrovirais por gênero segundo procedência de origem, atendida na Unidade Dispensadora de Medicamentos, Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (2003 -2013). ........... 28

Tabela 5 - Avaliação das dispensações por gênero, realizadas pela Unidade Dispensadora de Medicamentos da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, 2003-2013. ...................................................................................... 29

Tabela 6 - Avaliação das dispensações por gênero, realizadas pela Unidade Dispensadora de Medicamentos da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, 2003-2013. ...................................................................................... 29

Tabela 7 - Avaliação das dispensações por gênero, segundo ano de início de tratamento com antirretroviral realizadas pela Unidade Dispensadora de Medicamentos da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, 2003-2013. ................................................................................................................ 30

Tabela 8 - Adesão ao tratamento Antirretroviral, segundo gênero e diferentes pontos de corte de adesão. ................................................................................................... 31

Tabela 9 - Comparação dos pacientes aderentes e não aderentes ao tratamento Antirretroviral, utilizando como ponto de corte. ......................................................... 32

Page 11: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

LISTA DE ABREVIATURAS, SÍMBOLOS E UNIDADES DE MEDIDAS

AIDS - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

ARV - Antirretroviral

ATAR - Adesão ao tratamento antirretroviral no Brasil

ABC - Abacavir

AZT - Zidovudina

CD4+ - Grupamento de diferenciação 4

CONEP - Comitê Nacional de Ética em Pesquisa

CV - Carga viral

DST - Doenças Sexualmente Transmissíveis

DNA - Ácido desoxiribonucleico

DDI - Didanosina

EFV - Efavirenz

ETV - Etravirina

FMT-HVD - Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado

HAART - Highly Active Antiretroviral Therapy

HIV - Vírus da Imunodeficiência Adquirida Humana

HSH - Homens que fazem sexo com homens

IC - Intervalo de Confiança

ITRN - Inibidor da Transcriptase Reversa análogo de Nucleosídeo

ITRNN - Inibidor da Transcriptase Reversa Não – análogo de Nucleosídeo

IP - Inibidor de Protease

LT - Linfócitos T

MS - Ministério da Saúde (Brasil)

NVP - Nevirapina

OMS - Organização Mundial da Saúde

OR - Odds ratio

PVHA - Pessoas Vivendo com HIV/aids

PN-HIV/aids – Programa Nacional de DST/aids e Hepatites Virais

RNA - Ácido ribonucléico

RAL - Raltegravir

SAE - Serviço de Atendimento Especializado

Page 12: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SRA - Síndrome Retoviral Aguda

SNC - Sistema Nervoso Central

SUS - Sistema Único de Saúde

TARV - Terapia Antiretroviral

TDF - Tenofovir

UDM - Unidade Dispensadora de Medicamento

UNAIDS - Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids

3TC - Lamivudina

% - Por cento

≤ - Menor ou igual

≥ - Maior igual

< - Menor

> - Maior

mm3 - Milímetro cúbico

Page 13: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

iii

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1

1.1 História Natural da aids ...................................................................................... 1 1.2 Epidemiologia HIV/aids ...................................................................................... 2

1.2.1 Mundial ........................................................................................................ 2 1.2.2 No Brasil ...................................................................................................... 2 1.2.3 Estado do Amazonas ................................................................................... 3

1.3 Tratamento antirretroviral – TARV ..................................................................... 5 1.4 A Importância da adesão aos antirretrovirais ..................................................... 5 1.5 Prevalência e incidência de adesão aos antirretrovirais .................................... 6 1.6 Estudos de adesão no Amazonas ...................................................................... 8 1.7 Estudos de adesão ao tratamento antirretroviral mediante uso de registros de dispensação da farmácia ......................................................................................... 8 1.8. Fatores relacionados com a não-adesão ........................................................ 10 1.9 Medicamentos antirretrovirais .......................................................................... 13

1.9.1 Inibidores da transcriptase reversa análogo de nucleosídeo e nucleotídeo ............................................................................................................................ 13 1.9.2 Inibidores da transcriptase reversa não-análogo de nucleosídeos ............ 14 1.9.3 Inibidores de protease ............................................................................... 15 1.9.4 Inibidores de CCR5 .................................................................................... 15 1.9.5 Inibidores de integrase ............................................................................... 16 1.9.6 Inibidores de fusão ..................................................................................... 16

1.10 Manejo da toxicidade antirretroviral ............................................................... 16 1.11Toxicidade mitocondrial .................................................................................. 17 1.12 Hepatoxicidade .............................................................................................. 17 1.13 O papel do serviço da farmácia na adesão a tratamento ARV ...................... 17

2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 20

2.1 Geral ................................................................................................................ 20 2.2. Específicos ...................................................................................................... 20

3 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 21

3.1 Tipos de Estudo ............................................................................................... 21 3.2 Lugar do estudo ............................................................................................... 21 3.3 População de estudo ....................................................................................... 21 3.4 Coleta de dados ............................................................................................... 22 3.5 Variáveis de exposição .................................................................................... 22 3.6 Medida de resultado ......................................................................................... 23 3.7 Análise estatística ............................................................................................ 24 3.8 Considerações éticas ....................................................................................... 25 3.9 Gerenciamento de dados ................................................................................. 25 3.10 Divulgação dos resultados ............................................................................. 26

4 RESULTADOS ....................................................................................................... 27

4.1 Características sócio-demográficas ................................................................. 27 4.2 Avaliação das dispensações ............................................................................ 28 4.3 Adesão ao tratamento ARV ............................................................................. 30

Page 14: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

iv

5 DISCUSSSÃO ........................................................................................................ 33 6 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 37 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 38 9 ANEXOS ............................................................................................................... 43

Page 15: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

1

1 INTRODUÇÃO

1.1 História Natural da aids

O vírus da imunodeficiência adquirida - HIV é um vírus RNA que se

caracteriza pela presença da enzima transcriptase reversa, que permite a transcrição

do RNA viral em DNA. O DNA viral é copiado em RNA mensageiro, que é transcrito

em proteínas virais. Ocorre, então, a montagem do vírus e, posteriormente, a

gemulação. As principais células infectadas são aquelas que apresentam uma

molécula CD4 em sua superfície, predominantemente linfócitos CD4 (linfócitos T4 ou

T-helper LT-CD4) e macrófagos. A molécula CD4 age como receptor do vírus,

mediando à invasão celular (1).

A infecção pelo HIV apresenta várias manifestações clínicas da sua fase

aguda até a fase avançada da doença. Em indivíduos que ainda não fazem

tratamento o tempo médio entre o contágio até o aparecimento da doença é em

torno de dez anos. A infecção aguda é definida como a primeira semana da infecção

pelo HIV, até o aparecimento dos anticorpos anti-HIV que é chamada de

soroconversão, momento no qual ocorre diariamente a multiplicação do vírus

alcançando a viremia plasmática na qual o indivíduo se torna altamente infectante.

Entre a primeira e terceira semana ocorre geralmente um conjunto de manifestações

clínicas denominadas de Síndrome Retroviral Aguda (SRA), sendo uma parte

significativa de pacientes (50% a 90%) apresenta esta síndrome. A próxima fase é

marcada pela forte interação entre os linfócitos CD4 e as constantes e rápidas

mutações do vírus que não enfraquece o organismo o suficiente para permitir novas

doenças, pois os vírus amadurecem e morrem de forma equilibrada. Esse período,

que pode durar muitos anos, é chamado de assintomático (2).

A aids é caracterizada como uma severa imunossupressão, permitindo com

isso o desenvolvimento de numerosas infecções (3). Enquanto a contagem de LT

CD4 permanece acima de 350 células/mm3 as infecções oportunistas geralmente

são bacterianas. A infecção progride e os sintomas (febre baixa, perda ponderal,

sudorese noturna e fadiga), diarréia crônica, alterações neurológicas nesta fase o LT

CD4 já se encontra entre 200 a 300 células/mm3. A candidíase oral é um marcador

clínico precoce de imunodepressão grave.

Page 16: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

2

O aparecimento das infecções oportunistas e neoplasia é o definidor da aids,

destacando-se a pneumocistose, neurotoxoplasmose, tuberculose pulmonar atípica

ou disseminada, meninginte criptocócica, e retinite por citomegalovírus. Com relação

às neoplasias mais comuns são: sarcoma de Kaposi, linfoma não Hodgkin, e em

mulheres jovens câncer de colo uterino quando ocorrem estas manifestações o LT

CD4 está abaixo de 200 cel/mm3 (2).

1.2 Epidemiologia HIV/aids

1.2.1 Mundial

A epidemia do HIV/aids mostra-se um dos mais sérios problemas de Saúde

Pública, apresentando alto grau de morbimortalidade e perspectivas de um contínuo

crescimento e propagação em todos os continentes. As possibilidades de controle

dessa epidemia parecem remotas, apesar do desenvolvimento de novas terapias e

do esforço mundial na busca de uma vacina eficaz contra a infecção. Segundo

estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Programa Conjunto das

Nações Unidas (UNAIDS), 34 milhões de pessoas viviam com o HIV no final de 2011

(prevalência), dos quais 1,4 milhões eram da América Latina. Embora globalmente o

número de pessoas infectadas com HIV continua a diminuir, 2,5 milhões de novos

casos (incidência) foram infectados em 2011, sendo 83.000 casos na América

Latina. Entre os adultos, quase a metade 47% das novas infecções são mulheres e

39% são jovens com idade 15-24 anos. O número anual de pessoas que morrem de

causas relacionadas à aids em todo o mundo vem diminuindo desde 2005, sendo

que em 2011 ocorreram 1,7 milhões de mortes relacionadas com a aids (4) .

1.2.2 No Brasil

De acordo com o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde -

MS, o Brasil tem 656.701 casos registrados de aids, totalizando um terço das

Pessoas Vivendo com HIV/aids (PVHA) da América Latina. Em 2011 foram

notificados 38.776 casos da doença. A incidência de casos de aids notificados

aumentou de 18,2 casos por 100.000 habitantes em 2003 para 20,0 casos em 2011,

Essa incidência varia de acordo com as regiões brasileiras (5).

Page 17: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

3

O país é classificado como tendo uma epidemia de HIV concentrada (isto é,

com prevalência em população de risco <5% e em população geral <1%),

principalmente transmitida por via sexual. Embora a prevalência de HIV em adultos

no Brasil se manteve em 0,6%, as taxas de infecção pelo HIV são substancialmente

mais elevadas em homens que fazem sexo com homens (HSH) (14,2%) (6),

profissionais do sexo (4,8%) (6) e usuários de drogas injetáveis (5,9%) (7, 8).

Os homens apresentam uma maior proporção no número de casos de HIV,

mas a taxa de infecção está aumentando entre as mulheres com 1,7 homens

infectados para cada mulher em 2011. No começo da década de 1990 houve um

aumento de casos entre homens heterossexuais, no entanto os HSH ainda

representam 29,2 % de todos os casos notificados de aids no Brasil. A faixa etária

mais afetada pela epidemia está entre 25-49 anos de idade. Desde 1998, dados

mostram que no grupo de jovens de 13-19 anos existem mais mulheres infectadas

do que homens (5).

Quase a metade (49%) dos casos novos de HIV/aids do ano 2011 tiveram

um diagnóstico de forma tardia, quando o nível de CD4 era menor a 350

células/mm3 (9)). A mortalidade tem diminuído progressivamente desde 6,3 casos de

morte por 100.000 habitantes em 2002 até 5,6 por 100.000 habitantes em 2011,

significando uma diminuição de 12%. Porém, novamente esta tendência varia por

região (10).

1.2.3 Estado do Amazonas

O primeiro caso de aids no estado do Amazonas foi em 1986 e, até 1996,

350 casos de aids e 46 mortes relacionadas com a aids foram notificados em 16

municípios. Nos primeiros 10 anos da epidemia de HIV/aids, duas mulheres foram

infectadas para cada cinco homens infectados e o 74,6% de casos de HIV/aids

foram no grupo entre 20-39 anos de idade. A principal via de transmissão foi sexual,

sendo a metade por transmissão homossexual (11).

Uma revisão sistemática da literatura que será publicada em fevereiro de

2015 inclui os dados reportados no sistema de vigilância epidemiológica do

Ministério da Saúde (MS) e os estudos sobre HIV/aids publicados no Amazonas

Page 18: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

4

realizados entre 2001 e 2012(12). A revisão mostra como o número total de casos

de aids notificados até 2012 no estado do Amazonas foi 6.255. Durante os últimos

11 anos indicou um aumento na incidência da doença, a partir de uma taxa de

incidência anual de 10,3 novos casos de aids por 100.000 habitantes em 2001 para

21,8 casos por 100,000 habitantes em 2012. A taxa de incidência de aids duplicou

em ambos os sexos ao longo do tempo. Nos homens essa taxa passou de 12,69 por

100.000 habitantes em 2001 para 30,33 em 2011, enquanto nas mulheres aumentou

de 6,80 por 100.000 habitantes em 2001 para 13,17 em 2011. A contagem média

de células de CD4 realizada na primeira consulta do paciente era de 257

células/mm3 (interquartil: 103-439), em 2011, indicando diagnóstico tardio (12). De

acordo com a Coordenação Estadual de DST/aids e Hepatites Virais do Amazonas

9.290 encontram-se em tratamento de AIDS entre as 12 UDMs (Unidades

Dispensadoras de Medicamentos) no Estado do Amazonas. Distribuídos por

município: 8.987 são acompanhados em Manaus, 93 Tabatinga, 78 Parintins, 55

Téfe, 39 Itacoatiara e 20 em Coari. Sendo 180 novos tratamentos em outubro de

2014(13).

Entre 2001 e 2012, tem-se observado um aumento do número de mortes

anuais por aids, de 102 mortes em 2001 para 216 em 2012. As taxas de incidência

de mortalidade também tem aumentado de 3,51 casos por 100.000 habitantes 2001

para 6,01 casos por 100.000 habitantes em 2012 (12). A mortalidade no Estado do

Amazonas continua em ascendência, segundo os registros do SIM (Sistema de

Informação de Mortalidade), a mortalidade em 2012 - 6,01 (216 óbitos) e 2013 -

6,98% (251 óbitos). Os motivos podem ser múltiplos como atraso no diagnóstico e

uma baixa adesão entre os pacientes em tratamento (12).

Em 2012, os homens representavam 70% de todos os casos de HIV/aids,

com uma razão homem-mulher de 2,3. Em 2001 PVHA com idade entre 20-34 anos

representavam a maior parcela (55%) de casos novos de aids seguidos pela faixa

etária de 35-49 anos (33%) e da faixa etária de 15-19 (3%). No geral, a distribuição

de casos de aids relacionados com a idade entre mulheres é semelhante aos

homens excetos nas pessoas mais jovens, grupo no qual predomina nas mulheres

(12).

Page 19: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

5

1.3 Tratamento antirretroviral – TARV

Em 1996 através da Lei Federal nº 9.313 o Ministério da Saúde (MS) faz um

compromisso de distribuição dos medicamentos antirretrovirais (ARV). Estas

conquistas entram em sintonia com princípios e diretrizes que regem o Sistema

Único de Saúde (SUS): equidade, integralidade e participação social. Isso foi um fato

importante, pois, nos primeiros anos após a distribuição dos medicamentos (1996-

2002) houve uma queda da letalidade de 70% e da morbidade associadas à

infecção pelo HIV (14, 15).

O tratamento iniciou-se com a terapia dupla como padrão terapêutico e, a

partir de 1996 com a terapia tríplice com a inclusão dos inibidores de protease - IP.

O advento da terapia combinada de alta potência (HAART de Highly Active

Antiretroviral Therapy) em 1996, também se mostrou decisiva no aumento da

sobrevida das PVHA. O estudo de Marins et al. (16) aponta que os pacientes

diagnosticados em 1996 após a implantação do acesso universal ao TARV no Brasil,

tiveram uma mediana de sobrevida três vezes maior (alcançando 58 meses) em

relação aos que foram diagnosticados em 1995 (mediana de sobrevida de 18

meses) (17-20).

As estratégias que promovem o diagnóstico precoce das pessoas infectadas

pelo HIV e o início do tratamento com a TARV nestes pacientes tem reduzido a

incidência de HIV em outros contextos (21). Neste sentido, no Brasil recentemente

adotou-se a estratégia de terapia como prevenção, passando a tratar todos os

indivíduos uma vez que conhece o estado sorológico, independentemente do valor

da contagem de LT-CD4 (22).

1.4 A Importância da adesão aos antirretrovirais

Segundo o Manual de adesão do MS, a definição de adesão no Brasil é

ampla e abrangente. A adesão é um processo dinâmico, complexo e multifatorial que

inclui uma negociação entre o profissional e o paciente para facilitar a aceitação e a

integração do regime terapêutico no cotidiano (16).

A adesão a TARV é um componente crítico para o sucesso da HAART. Há

evidência científica que a adesão ao tratamento se correlaciona fortemente com a

Page 20: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

6

resposta viral continuada (23), e prevê a falha terapêutica preservando as opções

futuras para novos regimes terapêuticos (24), além disso, melhora a qualidade de

vida do paciente (25). Uns dos desafios da TARV se referem ao nível elevado de

adesão exigido para que o tratamento seja efetivo. Um estudo com delineamento

prospectivo, seguiu 81 pacientes HIV positivos entre 3 e 15 meses. Oitenta e um por

cento (81%) dos pacientes com adesão igual ou superior a 95% das doses prescritas

dos IP conseguiram manter a carga viral indetectável (abaixo de 400 copias/mL) nas

avaliações subseqüentes (26). Porém, no caso dos Inibidores da Transcriptase

Reversa Não-Análogos – ITRNN a adesão podem ser menos rigorosa que para os

IP`s (27). Resultados de pesquisas apontam que a adesão insatisfatória pode estar

associada ao desenvolvimento de resistência viral aos medicamentos ARV (28),

(29).

1.5 Prevalência e incidência de adesão aos antirretrovirais

O trabalho de Bolono et al. (30), apresenta-se uma revisão da literatura

sobre aids e adesão a TARV abrangendo o período de 1999 a 2004. A revisão inclui

52 estudos que quantificaram a adesão e estabeleceram um ponto de corte que

variou de 80,0% a 100,0%. As medidas para estimar a adesão variaram entre os

estudos. Trinta dos estudos (61,5%) usaram medidas subjetivas (entrevistas ou

auto-relato) e oito estudos (7,7%) usaram medidas objetivas como a contagem de

pílulas, registro de dispensação da farmácia ou dispositivo eletrônico. Entre 43

artigos que apresentaram a incidência ou a prevalência da não adesão, a taxa média

de não adesão foi de 30,4%, sendo o limite mínimo de 5,0% e o limite máximo de

6,0%.

Rocha e colaboradores, pesquisadores do projeto ATAR, (Adesão ao

tratamento antirretroviral no Brasil) (31) deram continuidade nessa revisão

abrangendo o período de 2004 a 2009 (32). Amostra final inclui 176 estudos, 13 dos

quais foram realizados no Brasil. O ponto de corte usado para definir adesão variou

de 75,0% a 100,0%. Um terço dos estudos definiu esse ponto de corte em 100% e

outro terço em 95%. Quanto aos métodos para medir adesão adotada a maior parte

dos estudos utilizou o auto-relato (71,0%), seguido pelos registros de dispensação

em farmácia (17,1%). Dentre os 176 trabalhos analisados, a taxa média (incidência e

Page 21: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

7

prevalência) de não adesão foi de 34,5% (IC 95% 31,7%-37,2%). Entre os estudos

que mediram especificamente a incidência de não adesão (desenho com coorte

prospectivo e retrospectivo, n=101) a taxa média de não adesão foi de 35,7% (IC

95% 32.0%-39,5%). Já para os estudos que mediram a prevalência de não adesão

(n=75), a taxa média foi de 32,8% (IC 95% 28.7%-36.8%). Rocha e colaboradores

utilizaram técnicas de metanálise envolvendo apenas os estudos realizados em

território nacional gerando uma taxa síntese de não adesão de 34,4% (Figura 1)(31).

Figura 1 - Metanálise de taxas de não adesão de estudos selecionados, Brasil, 2004-2009 (32).

Os resultados das duas revisões da literatura indicaram que a não adesão

ocorre universalmente e suas taxas são comparáveis entre os países desenvolvidos

e em desenvolvimento. É importante salientar que nas duas revisões a não adesão

variou de acordo com: 1) o tipo de método de medida usada (auto-relato por

entrevista, registro diário, contagem de pílulas, registro de prontuário, dispensação

da farmácia, dispositivo eletrônico, ou combinação dos métodos); 2) o ponto de corte

para definir adesão, ou seja, porcentagem de adesão estabelecida. Atualmente o

Page 22: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

8

ponto de corte mais utilizado para definir adesão estabelece um critério de uso de

pelo menos 95% das doses prescritas de ARV (32) 3) o desenho do estudo

(retrospectivo ou prospectivo); 4) o momento em que se avalia a adesão: no início da

TARV, após o período de adaptação, ou tardiamente; 5) a duração do período de

avaliação: últimos três dias, quatro semanas, três meses, um ano, etc.

1.6 Estudos de adesão no Amazonas

Os dados relacionados com a adesão ao TARV no estado do Amazonas são

limitados. No Amazonas foram realizados apenas dois estudos sobre adesão ao

TARV realizados na Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado –

FMT/HVD.

Em 2008 foi realizado um primeiro estudo com 94 pacientes com HIV/aids.

O estudo foi apresentado como poster numa conferência nacional. Os dados foram

obtidos por meio de entrevistas realizadas na enfermaria e no ambulatório da

FMT/HVD e os pacientes auto-relatavam sobre o número de comprimidos ARV

tomados nos sete dias prévios. Oitenta e dois por cento (82%) dos pacientes

relataram ser aderentes ao TARV (33). No mesmo hospital, realizou-se um segundo

estudo em 2013, no qual 88% dos pacientes HIV/aids informaram ser aderentes ao

TARV. Porém os dados do estudo mostram que o tamanho amostral foi apenas 73

pacientes e limitou-se a pacientes internados, portanto com risco de incluir viés de

seleção por ser uma população não representativa de todos os pacientes HIV/aids

(34).

1.7 Estudos de adesão ao tratamento antirretroviral mediante uso de registros de dispensação da farmácia

Existem várias técnicas descritas e validadas para mensurar a adesão ao

TARV (35).

O uso dos registros de dispensação da farmácia para medir a adesão aos

ARV é possível onde o tratamento é distribuído por um único provedor. Quando

existem vários distribuidores a medição por estes métodos se torna difícil (35).

Page 23: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

9

A premissa que sustenta este método é que se o paciente não receber a

dispensação de forma pontual na farmácia, podemos assumir que ele não tem

disponibilidade do tratamento e está perdendo algumas doses ou não está tomando

os medicamentos. Adicionalmente, este método também precisa assumir o seguinte:

1) que o paciente não está obtendo os medicamentos de outros serviços de farmácia

ou de outros lugares alternativos; 2) e que o paciente que recebe o tratamento de

forma pontual vai seguir o regime terapêutico tal e como foi indicado pelo profissional

de saúde.

Estudos prévios têm avaliado a acurácia deste método medindo a

associação entre a adesão e resultados biológicos. Em vários estudos, a adesão ao

TARV mediante a medida dispensação da farmácia associa-se de forma

estatisticamente significativa a uma supressão da carga viral do HIV (36-40). Um

estudo mostrou uma tendência linear significativa de melhora da resposta virológica

relacionada com a melhora da adesão ao tratamento. Sendo assim, 84% dos

indivíduos com uma adesão a TARV ≥95% apresentaram carga viral do HIV

indetectável. No entanto, no grupo que apresentou uma adesão a ARV entre o 90%-

95%, só os 64% dos indivíduos conseguiram suprimir a carga viral, sendo esta

diferença estatisticamente significativa (p=0.001) (38). A dispensação da farmácia

para medir adesão tem mostrado uma maior confiabilidade do que o método de

auto-relato (35, 36). Um estudo utilizou dados de dispensação da farmácia para

examinar uma amostra de pacientes que tinha auto-relatado uma adesão a TARV de

100%. A adesão medida segundo a dispensação da farmácia revelou que apenas

60% dessa amostra era aderente (36).

Os benefícios da medição da adesão mediante os dados de dispensação da

farmácia são vários. Primeiro, o método não recebe influência pelo viés social de

conveniência e comunicação. Segundo, permite obter dados ao nível populacional.

Terceiro não sobrecarrega o paciente nem os profissionais de saúde com

entrevistas. A maior desvantagem são as escassas oportunidades de usar este

método de medida já que requer dados de dispensação do serviço da farmácia e

poucas vezes estão informatizadas ou disponíveis. Apesar destas limitações, os

dados de dispensação da farmácia podem ser considerados uma medida válida e de

utilidade para pesquisa sobre adesão a TARV (41).

Page 24: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

10

1.8. Fatores relacionados com a não-adesão

Segundo as recomendações para TARV os fatores que influenciam a não

adesão ao tratamento são múltiplos e podem estar relacionados entre si. Os fatores

mais relevantes mostram-se na figura 2 e tabela 2.

Vulnerabilidade: Idade (≤ 35 anos), escolaridade (≤ 8 anos), renda individual

mensal (≤ 1 salário mínimo), usuário de droga ilícita, consumo elevado de álcool,

grupos que sofrem discriminação (travestis e pessoas de exclusão social),

discriminação da família e no trabalho (31).

Tratamento e clínica: complexidade do regime terapêutico, efetividade do

regime prescrito, troca de esquema, número de reações adversas (lipodistrofia),

números de comprimidos ARV >7, interações medicamentosas, perda da motivação

no decorrer do tempo, falta de expectativa de término do tratamento ou necessidade

de restrição alimentar, presença de depressão e ansiedade, presença de seqüelas

de manifestações oportunistas (3).

PVHA: as percepções e interesses do paciente sobre seu tratamento e

doença (segredo do diagnóstico), o desconhecimento da importância do tratamento,

insuficiente compreensão da prescrição, pouca compreensão da farmacêutica, falta

de informação sobre as consequências da não adesão ao tratamento (31).

Serviço de Saúde: horários de consultas, dispensação de medicamentos,

ausência de intervenções para melhorar de adesão, falta de vínculo entre o usuário

e a equipe de saúde, tempo entre diagnóstico HIV e 1ª prescrição (≤ 113 m), e

tempo entre 1ª consulta e 1ª prescrição ARV (≤ 42m) (31).

Figura 2 - Fatores associados a não-adesão(32).

Page 25: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

11

Tabela 1 - Fatores associados a diferentes eventos analisados por modelos multivariados, Projeto Atar (32).

EVENTOS

Fatores associados In

ício

tárd

io

da T

AR

V

Sint

omas

de

ansi

edad

e/de

pres

são

Com

pree

nsã

o da

TA

RV

Difi

culd

ade

com

a T

AR

V D

ispe

nsaç

ão

irreg

ular

/A

band

ono

Não

ade

são

(aut

orre

lato

)

Rea

ções

ad

vers

as

Características socioeconômica e demográficas

Escolaridade x x Ocupação x x Renda no último mês x Arranjo domiciliar (vive sozinho?)

x

Plano de saúde x Fala com alguém próximo sobre ser HIV+

x x

Residência (capital/interior)

x

Sexo x x Características relacionada ao serviço de saúde

Motivo de realização do teste anti-HIV+

x

Número de consultas antes do início da TARV

x

Tempo entre a 1° consulta e o início de TARV

x

Dificuldade de procurar o serviço de saúde

X

Sentir-se constrangido no serviço de saúde

X

Acompanhamento psicológico

x x

Entendimento das orientações farmacêuticas

x

Entendimento das orientações médicas

x

Tempo entre o resultado do teste HIV e 1° prescrição de ARV

x

Page 26: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

12

Tabela 2- Fatores associados a diferentes eventos analisados por modelos multivariados, Projeto Atar (32).

EVENTOS

Fatores associados

Iníc

io

tárd

io

da T

AR

V

Sin

tom

as d

e an

sied

ade/

dep

ress

ão

Com

pree

nsã

o da

TA

RV

Difi

culd

ade

com

a T

AR

V D

ispe

nsaç

ão

irreg

ular

/A

band

ono

Não

ade

são

(aut

orre

lato

)

Rea

ções

ad

vers

as

Número de serviços de saúde utilizados

x

Comportamentais Parceiro sexual (último mês)

x

Uso de preservativo durante a vida (regular/irregular)

x

Uso de álcool (último mês) x

Categoria de exposição (UDI/HSH/transfusão)

x

Clínicos Carga viral na 1° prescrição de ARV

x

Classificação clínica (CDC 1992)

x x

Contagem de linfócitos TCD4+

x x

Grau de ansiedade x Esquema ARV x x x Número de pílulas ao dia x x x Uso de outra medicação x Reações adversas x x Troca de ARV no período x Conhecimento sobre a duração do tratamento com a ARV

x

Uso de ARV (regular/irregular)

x

Adesão à TARV (aderente/não aderente)

x

Classificação clínica inicial

x

Número de consultas com infectologista/clínico

x

Tempo entre consultas x

Page 27: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

13

1.9 Medicamentos antirretrovirais

Os medicamentos para tratamento da infecção pelo HIV são denominados

antirretrovirais (ARV) e são classificados de acordo com o seu mecanismo de ação.

Existem atualmente aprovados para o uso clínico medicamentos pertencentes a seis

classes diferentes de ARV que tem o alvo o bloqueio da maioria dos passos do ciclo

replicativo do HIV. Os primeiros medicamentos disponibilizados foi a partir de 1987,

pertencem à classe dos inibidores da transcriptase reversa análogos de

nucleosídeos (ITRN). Em 1995, foram aprovados os inibidores de protease – IP e os

inibidores da transcriptase reversa não análoga de nucleotídeo (ITRNN). Ao final de

2004 foi aprovado a enfurvitida da classe dos inibidores de fusão – IF e, mais

recentemente medicamentos de duas novas classes de ARV, os antagonistas dos

receptores da quimiocina CCR5 e inibidores da integrase (INI).

O tratamento antirretroviral (TARV) eficaz deve ser feito com a combinação

de medicamentos de diferentes classes, escolhidos de acordo com o histórico de

uso de ARV, existência de comorbidade, hábitos e estilos de vida de cada paciente.

De acordo com o novo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da

Infecção pelo HIV em adultos a terapia inicial deve sempre incluir combinações de

três antirretrovirais, sendo dois ITRN/ITRNt associados a um ITRNN seguindo na

primeira linha: Tenofovir 300 mg+Lamivudina 150 mg+Efavirenz 600 mg (42).

1.9.1 Inibidores da transcriptase reversa análogo de nucleosídeo e nucleotídeo

Os medicamentos desta classe são análogos dos nucleosídeos e

nucleotídeos existentes nas células humanas, nas quais penetram e sofrem tripla

fosforilação, gerando substratos sintéticos da enzima transcriptase reversa do HIV.

No processo citoplasmático de transcrição reversa, ocorre logo após a entrada do

HIV na célula e resulta em uma molécula de DNA complementar ao RNA viral, o

fármaco compete com os substratos naturais e ao ser incorporado, interrompe esta

etapa do ciclo replicativo do vírus. Os ITRNN disponíveis são: zidovudina (AZT),

didanosina (DDI), abacavir (ABC) , lamivudina (3TC) e o tenofovir (TDF).

Page 28: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

14

A zidovudina foi à primeira droga antirretroviral a ser liberada para uso

clínico. Nos primeiros dias pode surgir cefaléia, dificuldade de concentração,

náuseas e insônia, que desaparecem progressivamente no tempo de uma semana.

Os principais efeitos adversos são anemia, leucopenia e plaquetopenia. O uso

prolongado de AZT associa-se a toxicidade mitocondrial e a lipoatrofia periférica.

Didanosina (DDI) causa neuropatia periférica, pancreatite outras alterações

laboratoriais que podem ocorrer elevação assintomática do ácido úrico, aumento dos

triglicerídeos e da lípase e além de alterações da glicemia, que devem ser avaliados

periodicamente.

Lamivudina (3TC) possui baixa toxicidade, com descrição de casos raros de

exantemas, pancreatite e neuropatia associados ao seu uso.

Abacavir (ABC) é bem tolerado é uma droga potente, porém podem causar

reações de hipersensibilidade ao abacavir nas primeiras semanas de uso.

Tenofovir (TDF) pode ser utilizado uma vez ao dia sua eliminação é tanto por

filtração glomerular quanto por secreção tubular ativa e necessita correção de dose

se a função renal estiver reduzida. Leve declínio do clearence de creatinina pode

ocorrer em alguns pacientes, e raramente ocorrem acidose tubular aguda (síndrome

Fanconi) e nefropatia perdedora de potássio, cujo diagnóstico precoce é de extrema

importância, por serem reversíveis se a interrupção da droga se der em tempo hábil.

1.9.2 Inibidores da transcriptase reversa não-análogo de nucleosídeos

Embora inibam a mesma enzima que os análogos de nucleosídeos, agem

em sítio diferente. Portanto, não há resistência cruzada entre drogas das duas

classes, são potentes, que levam à queda da carga viral. No entanto, apenas uma

ou duas mutações são necessárias para o desenvolvimento de resistência de alto

grau. Os representantes desta classe são disponíveis são: nevirapina (NVP),

efavirenz (EFV) e etravirina (ETR).

Nevirapina (NVP) atravessa bem a placenta, é detectado no leite materno. A

nevirapina induz seu próprio metabolismo e se recomenda iniciar seu uso com

metade da dose diária normal (200 mg) por 14 dias, aumentando para 400 mg ao dia

Page 29: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

15

se nenhuma reação adversa tenha ocorrido. Exantema ocorrem em 16% pacientes e

na maioria casos regride sem interrupção do medicamento, sendo rara a Síndrome

de Stevens-johnson (0,3%).

Efavirenz (EFV) as toxicidades deste medicamento está relacionado com o

sistema nervoso central – SNC. Geralmente os sintomas ocorrem desde a primeira

dose do medicamento duram algumas horas, os mais graves se resolvem em cerca

de quatro semanas e incluem tonturas, comprometimento de concentração, disforia,

sonhos vividos e perturbadores, além de insônia.

Etravirina (ETR) é utilizado apenas para tratamentos de resgate, devendo

ser associado a um potente inibidor de protease (IP) potencializado com o ritonavir.

1.9.3 Inibidores de protease

Em 1995, a aprovação dos inibidores de protease - IP possibilitou a primeira

combinação de medicamentos de diferentes classes para o tratamento da infecção

pelo HIV que ficou conhecida como terapia antirretroviral altamente potente

chamada HAART, caracterizada por acentuada queda da morbimortalidade

associada a infecção pelo HIV transformando em doença crônica.

Os medicamentos desta classe atuam bloqueando o processo final de

clivagem da protease viral antes da saída do vírus da célula, resultando em

produção de vírus incompletos e incapazes de infectar novas células.

Os IP`s apresentam diferentes graus e tipos de interferência nas CYP

hepáticas e intestinais, sua depuração é feita principalmente por metabolismo

oxidativo hepático. A classe tem grande potencial de interação medicamentosa e de

causar alterações metabólicas (dislipidemias, lipodistrofia e diabetes). Os

representantes desta classe são: saquinavir, ritonavir, fosamprenavir, lopinavir,

atazanavir, darunavir.

1.9.4 Inibidores de CCR5

A entrada do HIV na célula requer a participação da molécula de CD4 e de

um co-receptor. Infecções primárias geralmente se dão por vírus com tropismo por

Page 30: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

16

macrófagos e que utilizam o co-receptor denominado CCR5. Seu representante é o

Maraviroc.

1.9.5 Inibidores de integrase

Os inibidores de integrase bloqueiam a atividade catalítica da integrase do

HIV, impedindo a integração do DNA viral com o cromossomo do hospedeiro. É

metabolizado primeiramente por glicuronidação e não é indutor, inibidor do substrato

conhecido do CYP450. A eliminação ocorre predominantemente via glicuronidação

pela UGT1A1. Os eventos adversos mais comuns são insônia, cefaléia, náusea,

astenia e fadiga. O medicamento que representa esta classe é o raltegravir (RAL).

1.9.6 Inibidores de fusão

A enfuvirtida é um peptídeo sintético composto por 36 aminoácidos, cuja

sequência é derivada de uma parte da gp41 do HIV-1, envolvida na fusão da

membrana viral com a membrana celular do hospedeiro, processo bloqueado pelo

medicamento. É aprovado para uso em resgate terapêutico de pacientes adultos e

de crianças acima dos seis anos de idade, associado a um inibidor de protease ativo

ou outro fármaco ativo da nova classe. É de uso parenteral (subcutâneo), sendo

necessárias duas doses diárias, fator que dificulta adesão. Os eventos adversos

mais comuns estão relacionados a reações no local da injeção, que ocorrem em

98% dos pacientes, mas causam interrupção do tratamento em apenas 4-5% deles.

1.10 Manejo da toxicidade antirretroviral

Com a terapia antirretroviral de alta potência – HAART apresentou reduções

nas taxas de morbidade e mortalidade. Porém estes benefícios tem-se associado a

múltiplos eventos adversos, que podem afetar todos os sistemas corpóreos e variam

de toxicidades graves a eventos desconfortáveis, mais manejáveis. Alguns efeitos

estão relacionados à antirretrovirais específicos e podem ser resolvidos com a

substituição do mesmo, quando possível, outros são relacionados com a classe dos

antirretrovirais (15).

Page 31: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

17

1.11Toxicidade mitocondrial

Os metabólitos ativos dos inibidores da transcriptase reversa análogo de

nucleosídeo agem como substrato para a DNA polimerases, incluindo a transcriptase

reversa viral, mas a DNA polimerases humanas podendo levar a serias toxicidades

celulares. A disfunção mitocondrial pode ser responsável por neuropatia periférica,

miopatia, lipoatrofia, esteatose hepática, hiperlipidemia, hiperglicemia, osteopenia,

hiperlactemia e acidose lática (15).

1.12 Hepatoxicidade

Todos os antirretrovirais podem levar a algum grau de hepatoxicidade,

definida como elevação de 3 a 5 vezes nos níveis basais de transaminases (TGO e

TGP) e gama –glutamiltransferase (GGT).

O mecanismo de hepatotoxicidade pode-se dar por lesão hepatocelular

direta, geralmente associada ao inibidor de protease, alteração hepática por reação

de hipersensibilidade. A depender do grau de toxicidade, os antirretrovirais devem

ser descontinuados até a normalização das provas hepáticas (15). Outra

complicação hepática é o dano decorrente da inibição da polimerase gama

mitocondrial dos hepatócitos, podendo levar a esteatose, acidose lática e até

falência hepática.

1.13 O papel do serviço da farmácia na adesão a tratamento ARV

Desde 1997, a OMS juntamente com a Federação Farmacêutica

Internacional tem reconhecido o papel relevante dos profissionais farmacêuticos na

luta contra a epidemia da aids, por promover o desenvolvimento de uma boa prática

de dispensação, aconselhamento individual, apoio no acompanhamento dos

pacientes, e na promoção da adesão (43). Além disso, diversos estudos têm

ressaltado a relevância da Assistência Farmacêutica na promoção da adesão a (44)

TARV melhorando a resposta dos pacientes infectados (45).

No Brasil, na 1ª Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência

Farmacêutica em 2003, foram apresentadas propostas para aplicabilidade da

Assistência Farmacêutica em áreas essenciais, como as doenças sexualmente

Page 32: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

18

transmissíveis - DST/aids, que por sua vez, apresentam impacto direto nos gastos

do MS com medicamentos. Nessa direção, a Atenção Farmacêutica além de ter

como meta o cuidado ao usuário, também pode ser uma estratégia na promoção do

uso racional dos medicamentos (46).

Os profissionais farmacêuticos devem possibilitar aos pacientes um cuidado

integral aberto não somente para abordagem relacionada ao tratamento, como

também oferecer apoio para aqueles que estão com baixa expectativa de adesão. A

educação em saúde deve ser realizada sempre ao longo do tratamento, com relação

ao seu regime e a orientação sobre a doença informando também sobre as

conseqüências do abandono do tratamento. Na FMT-HVD é realizado uma

orientação aos pacientes que iniciam o seu tratamento. É essencial que a equipe e a

instituição de saúde realizem um acolhimento adequado aos usuários dando-lhe

orientação, atenção, e quando precisar encaminhamento para outros serviços (46).

Os farmacêuticos têm um papel importante na abordagem multidisciplinar do

manejo da terapia antirretroviral de alta potência, informando, realizando

orientações, atenção farmacêutica e reforçando a adesão, monitorando a resposta a

TARV e identificando os eventos adversos.

Uma grande dificuldade de se obter uma adequada efetividade do TARV é o

de assegurar uma boa adesão do paciente ao esquema prescrito de ARV, evitando-

se assim a falência do tratamento. Ainda que com uma elevada adesão pode-se

desenvolver resistências, considera-se que, para manter a carga viral indetectável, é

necessário que 95% dos medicamentos ARV prescritos sejam efetivamente

ingeridos. A avaliação da qualidade da assistência ambulatorial e a identificação dos

possíveis fatores associados com a adesão do paciente a terapia tornam-se uma

prioridade para o controle da aids, doença atualmente em crescimento no estado do

Amazonas(12).

A medida de adesão baseada nos registros de dispensação da farmácia

tem-se mostrado como um indicador válido e confiável já que se associa com os

resultados virológicos e imunológicos, e também com a progressão clínica e a

mortalidade do paciente (47, 48).

Page 33: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

19

A relevância do estudo nos dá a possibilidade de, a partir da prevalência da

adesão a TARV e da identificação dos seus fatores associados, estabelecerem

intervenções adaptadas ao paciente e oferecidas na UDM.

Os resultados do estudo vão aportar informações que podem contribuir ao

desenvolvimento de estratégias e políticas públicas assim como de intervenções

precoces. Assim, vai se melhorar a preservação da ação dos ARV ao nível clínico e

se reduzirá o custo que se incorre ao passar a TARV de segunda linha (49).

Page 34: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

20

2 OBJETIVOS

2.1 Geral

Avaliar a adesão ao tratamento antirretroviral em pacientes infectados pelo

HIV atendidos no serviço da farmácia a Fundação de Medicina Tropical Doutor

Heitor Vieira Dourado, Manaus, Estado do Amazonas, entre 2003 e 2013.

2.2. Específicos

• Identificar os fatores sociodemográficos: gênero, faixa etária, município

de residência associados a adesão ao tratamento ARV.

• Identificar as características terapêuticas: duração do tratamento troca

de esquema de ARV e atraso na dispensação de ARV associadas à adesão ao

tratamento antirretroviral.

Page 35: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

21

3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Tipos de Estudo

Estudo retrospectivo observacional transversal.

3.2 Lugar do estudo

Foi realizado um levantamento de dados do Sistema de Prontuário

Eletrônico I`doctor da FMT-HVD no período 2009 até 2013 e do banco de dados

próprio da Unidade Dispensadora de Medicamentos (UDM) utilizados no período

2003 até 2009. O Sistema de Prontuário Eletrônico I`doctor da FMT-HVD começou a

ser utilizado em 2009, momento em que deixou de ser usado o banco de dados

próprio da UDM. Os dados utilizados foram coletados na rotina da farmácia da FMT-

HVD. Esta instituição é referência no Estado para o atendimento em HIV/aids,

atuando como Serviço de Atendimento Especializado (SAE) para as Pessoas

Vivendo com HIV/aids. Somente as farmácias dos SAE credenciados são

autorizadas a dispensar os medicamentos, sendo denominadas de Unidade

Dispensadora de Medicamentos (UDM). Este serviço garante as PVHA o direito de

receber gratuitamente, pelo SUS os medicamentos. Atualmente, estão em

seguimento médico 7.120 pacientes, sendo 6.729 (95%) PVHA que recebem

seguimento em Manaus e 391 (5%) PVHA recebem o seguimento no interior do

Estado. O sistema de dispensação dos antirretrovirais (ARV) segue normas

padronizadas pelo Programa Nacional de DST/aids e Hepatites Virais (PN-HIV/aids

e HIV). Os pacientes com indicação para iniciar TARV devem ser notificados no

Sistema Nacional de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e cadastrados

no sistema I`doctor um prontuário eletrônico utilizado pela instituição. Como regra

geral, a dispensação é feita mensalmente de acordo com a prescrição. Para os

pacientes do interior, a dispensação se faz para cobrir um período de dois meses.

3.3 População de estudo

A população de estudo foi composta pelos pacientes adultos HIV/aids que

iniciaram tratamento ARV no serviço da UDM entre 2003-2013. Os pacientes foram

incluídos de acordo com os seguintes critérios:

Page 36: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

22

• O seguimento médico do HIV/aids foi realizado na FMT-HVD.

• Recebeu o TARV só pelo serviço da UDM da FMT-HVD

• Ter 18 anos ou mais quando iniciaram o TARV.

• Não foi usado nenhum outro critério de exclusão para a população de

estudo.

3.4 Coleta de dados

Os dados de todas as dispensações de ARV registradas na farmácia assim

como as variáveis de exposição foram obtidos a partir de dois bancos de dados do

serviço da farmácia no referido período da pesquisa:

1. Banco de dados interno da farmácia: 2003-2009.

2. Sistema de Prontuário eletrônico I`doctor: 2009-2013.

Utilizamos os dois bancos para cobrir o período do estudo já que em 2009 o

banco de dados interno da farmácia foi substituído pelo Sistema de Prontuário

eletrônico I´doctor. Foi usado um banco de dados Excel (anexo 1) criado para a

coleta de dados. A Gerência de informática forneceu os bancos de dados mantendo

o sigilo dos nomes dos usuários a farmacêutica e pesquisadora principal introduziu

todos os dados dos prontuários de interesse, sendo estes dados foram codificados.

A unidade foi a dispensação de medicamento de cada paciente, que podiam ter

várias dispensações ao longo dos anos. Os dados foram totalmente anônimos e

identificados mediante um código numérico assinado de forma correlativa para cada

paciente.

Para cada dispensação foram obtidas informações sobre as datas da

primeira e as subsequentes dispensações, dispensação de ARV (sim, não) sem

especificar o esquema, dispensação de outros medicamentos (sim, não) sem

especificar o medicamento.

3.5 Variáveis de exposição

As variáveis de exposições obtidas dos bancos foram agrupadas em:

Page 37: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

23

• Características sociodemográficas: gênero, faixa etária, local de

residência (Manaus, outro).

• Características terapêuticas: data de início e fim do TARV para

calcular a duração do tratamento, data de início e fim de qualquer terapia para

calcular o tempo de seguimento.

3.6 Medida de resultado

A partir dos dados de dispensação da UDM a adesão foi medida usando a

seguinte fórmula: número de meses de terapia prescritos (excluindo a última

prescrição) dividida pelo número de meses entre a primeira prescrição de HAART e

a última prescrição e o resultado se multiplicará por 100 (cem).

A última prescrição pode ser devida a morte do paciente, abandono do

tratamento, abandono do programa o final do estudo (2013). A adesão vai se

expressar como uma porcentagem. Está fórmula para calcular a adesão tem

mostrado se correlacionar com a adesão auto-reportada em períodos prolongados

de tempo e é uma boa preditora da supressão viral quando atingir níveis ≥97% (50).

Também foi avaliada a sua predição da supervivência. Os níveis de adesão

superiores a 100% serão arredondados para 100% (48). Como os pacientes

tomaram regimes inteiros de ARV com cada prescrição, rastreamos todos os

regimes e não os medicamentos individuais. Foram excluídos do cálculo os

pacientes com apenas uma prescrição de ARV devido a que precisamos pelo menos

duas prescrições para aplicar esta fórmula.

Essa fórmula de adesão não leva em consideração os meses em que o

paciente deixou de tomar os medicamentos. Para medir as interrupções de

tratamento ARV foi incluída a medida da persistência expressada de forma

categórica: proporção de pacientes com interrupções no tratamento de 30 dias ou

Fórmula:

Número de meses de terapia prescritos (excluindo a última prescrição)

Número de meses entre a primeira prescrição e a última prescrição de HAART

X 100

Page 38: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

24

mais (para pacientes de Manaus) e de 60 dias ou mais (para pacientes do interior), e

de forma continua como a média de dias que os pacientes persistiram na terapia

sem interrupções de pelo menos 30 dias durante um ano.

3.7 Análise estatística

Não foi calculado nenhum tamanho amostral formal, pois foram elegíveis todos

os pacientes com pelo menos uma dispensação de ARV na farmácia da FMT-HVD

entre o ano 2003 e o ano 2013. Este tamanho corresponde a 7.200 pacientes com

HIV/aids em tratamento.

Para este método de cálculo de adesão é necessário:

• Que os pacientes que não adquirem os seus medicamentos não

podem ser aderentes já que os mesmos não podem adquirir os ARV em outras

UDM`s em Manaus.

• Que os pacientes que adquirem os medicamentos tomam os

medicamentos de forma consistentes tal como foram prescritos.

• Que os bancos de dados são completos, ou seja, todas as prescrições

dos pacientes estão incluídas até eles morreram ou forem perdidos do seguimento.

Os dados foram analisados com o STATA®. Foi realizada uma análise

descritiva por meio da distribuição de frequência das variáveis categóricas e

medidas de tendência central das variáveis contínuas. A adesão foi analisada como

uma variável dicotômica, definida previamente como boa adesão ≥85% baseado em

estudos prévios (26). Com base nas médias das variáveis contínuas, por exemplo,

faixa etária foi selecionada o ponto de corte a estas variáveis e foram analisadas

como categóricas. As diferenças de proporção entre os pacientes aderentes e não

aderentes foram avaliadas pelo teste do qui-quadrado como nível de significância de

0,05.

Procedemos a uma análise uni variada comparando indivíduos aderentes

com aqueles não aderentes. As magnitudes das associações foram estimadas pelo

odds ratio (OR) com intervalo de 95% de confiança (IC 95%).

Page 39: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

25

Foi realizada uma subanálise dos pacientes que ficaram sem ir à farmácia

durante os 180 primeiros dias de tratamento. A justificativa foi minimizar o viés

devido a pacientes que iniciam o tratamento quando a doença está em fase terminal

e tem mínima chance de responder ao tratamento. Entre estes pacientes a morte

não refere aos níveis de não adesão, sendo na verdade o diagnóstico tardio.

3.8 Considerações éticas

O protocolo do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da FMT/HVD,

(número: 807.577 ano 2014), sob numeração do CAAE: 35746914.7.0000.0005.

O principal risco do estudo foi à quebra do sigilo. No entanto, a quebra de

sigilo considera-se impossível já que o banco de dados foi anônimo, portanto, a

equipe da pesquisa não teve acesso a nenhum dado identificador dos pacientes e

não foi possível nem conhecê-los nem localizá-los durante o processo de análise e

divulgação dos resultados. Não foi possível estabelecer uma ligação entre o software

estatístico com o banco de dados Excel e os prontuários ou fichas clínicas nem entre

o banco de dados Excel com o banco de dados com STATA ®.

3.9 Gerenciamento de dados

Todos os dados gerados no estudo foram coletados pela pesquisadora

principal, do estudo, que também é a farmacêutica que atende na farmácia da FMT-

HVD. Os dados foram levantados dos prontuários eletrônicos do sistema I`doctor

2009-2013 e do banco próprio da farmácia 2003-2009 e foi ingressado em formato

eletrônico num banco Excel totalmente anônimo. Os pacientes foram identificados

mediante um código numérico correlativo. Esse banco é guardado no computador do

serviço de farmácia (UDM) da FMT-HVD, protegido sob senha. Somente a

pesquisadora principal do estudo teve acesso à senha ao banco. Os dados são

gerenciados pela pesquisadora principal do estudo.

O banco eletrônico já sem identificadores pessoais foi copiado em um pen-

drive criptografado pela pesquisadora principal e entregado para a co-pesquisadora

encarregada da análise estatística (pesquisadora visitante sênior). A pesquisadora

principal do estudo foi responsável pela geração de uma cópia dos dados eletrônicos

em um computador protegido por senha, de uso exclusivo para o estudo, localizado

Page 40: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

26

na FMT-HVD. Somente a pesquisadora principal do estudo tem acesso às senhas.

Outros membros da equipe da pesquisa somente têm acesso aos resultados do

estudo e não aos dados.

A análise estatística foi gerada no programa STATA®. O computador usado

na análise de dados foi protegido por senha. Em conformidade com a legislação

brasileira, os dados eletrônicos do estudo foram armazenados por cinco anos após a

conclusão do estudo com proteção a chave ou senha e, em seguida, irão ser

apagados/destruídos sob a responsabilidade do investigador principal do estudo.

3.10 Divulgação dos resultados

Os resultados deste estudo serão apresentados verbalmente aos diretores

clínicos da instituição e ao Departamento Estadual de DST/aids e Hepatites Virais e

na forma de um relatório escrito. A principal finalidade deste estudo foi o

aperfeiçoamento do programa público brasileiro de assistência e tratamento em

HIV/Aids, com intenção de beneficiar as PVHA, pois os resultados do estudo irão

contribuir a desenvolver estratégias e políticas públicas de intervenções precoces,

preservação da ação dos ARV de primeira linha e reduzir o custo do tratamento.

Vai ser realizada uma publicação científica para revista internacional ou

nacional.

Page 41: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

27

4 RESULTADOS

Entre 2003 a dezembro de 2013, na Unidade Dispensadora do Medicamento

- UDM da FMT-HVD foram dispensados 33.919 pacientes ≥ 18 anos de idade.

Destes, 5.653 foram HIV positivos que receberam pelo menos uma dispensação de

ARV e que foram incluídos no estudo. Dos quais foram excluídos da análise de

adesão 617 pacientes com um único registro de dispensação de ARV registrado no

banco de dados por não ser possível o cálculo de adesão com a fórmula proposta.

Portanto, incluímos 5.653 sujeitos para a análise dos pacientes HIV positivos que

receberam ARV e 5.036 para a análise da adesão por ser pacientes HIV positivos

com pelo menos duas dispensações de ARV.

4.1 Características sócio-demográficas

A Tabela 4 mostra as características sócio-demográficas dos 5.653

pacientes HIV positivos que receberam pelo menos uma dispensação de ARV na

UDM, segundo o sexo do paciente. Em relação às características sócio-

demográficas, 3.546 eram do gênero masculino (61,9%) e 2.107 eram do gênero

feminino (37,3%). A idade média foi de 40,5 anos (desvio padrão de 10.3 anos),

sendo similar em homens (idade média de 41.2 anos) que em mulheres (idade

média de 39.2 anos). Por grupos de idade, 31,3% se encontravam na faixa etária

entre 18-34 anos, 37% na faixa etária entre 35-44 anos, 21,8% na faixa etária entre

45-54 anos, 9,2% na faixa etária entre 55-70 anos e 0,7% na faixa etária de maiores

de 70 anos. A maioria (90,5%) residia em Manaus e o 9,5% restante no interior do

estado do Amazonas (Tabela 3).

Page 42: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

28

Tabela 3 - Distribuição da dispensação de antirretrovirais por faixa etária segundo gênero, atendida na Unidade Dispensadora de Medicamentos, Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado em 2003. Faixa Etária Gênero

Anos Feminino Masculino

n % n %

18-34 769 36,5 1.000 28,2

35-44 768 36,5 1.325 37,4

45-54 384 18,2 847 23,9

55-70 169 8,0 352 10,0

> 70 17 0,8 22 0,6

Total 2.107 37,3 3.546 62,7

Tabela 4 - Distribuição da dispensação de antirretrovirais por gênero segundo procedência de origem, atendida na Unidade Dispensadora de Medicamentos, Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (2003 -2013).

Gênero Procedência

Manaus Interior do estado TOTAL

n % n % n

Masculino 2.581 86,2 270 13,8 2.851

Feminino 1.369 89 220 11 1.589

4.440

4.2 Avaliação das dispensações

Em um total, os pacientes receberam 153.781 dispensações de ARV,

102.287 entre gênero masculino e 51.494 e gênero feminino (Tabela 5). 50% dos

pacientes receberam 15 dispensações de ARV, sendo à mediana ligeiramente

superior no gênero masculino (17 dispensações) que no gênero feminino (11

dispensações) (tabela 6). Logo na primeira dispensação, 36,1% dos pacientes já

tiveram seus esquemas terapêuticos trocados (tabela 6), ou seja, passaram a utilizar

os esquemas terapêuticos de segunda linha. A duração da terapia ARV em meses

Page 43: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

29

foi de 42,6 meses (três anos e meio), com a média sendo similar entre os gêneros.

Uns 16,5% do gênero masculino e uma quarta parte do gênero feminino (25,9%)

foram perdidos no seguimento nos primeiros 180 dias desde início da terapia ARV. A

maioria dos pacientes (72,2%) apresentou atrasos nas retiradas dos medicamentos

ARV, ou seja, mais de 30 dias sem retornar a farmácia para retirar seu esquema

terapêutico. A tabela 7 também mostra o ano de início de ARV, observando-se no

ano de 2003 foi o ano em que houve uma maior proporção de pacientes que teve

início de tratamento ARV, isso ocorreu devido à mudança do sistema interno da

farmácia para o sistema do I`doctor. Por último, o atraso na retirada dos

medicamentos de ARV foi importante no grupo de não aderentes em ≤ 85%.

Tabela 5 - Avaliação das dispensações por gênero, realizadas pela Unidade Dispensadora de Medicamentos da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, 2003-2013.

Gênero

N dispensações

ARV N

dispensação/paciente Duração do tratamento antirretroviral

em meses

n (%) Média SD n=25,9 (26,5)

Mediana IQR n=15 (4-42)

Intervalo n= 1-199

Média SD n=42,6 (32.9)

Mediana IQR n=34 (13-70)

Intervalo n= 1-107

Masculino 102.28 (62,7%) 27,8 (26,9) 17 (5-45) 1-127 43,3 (32,9) 35 (15-71) 34 (11-69) Feminino 51.49 (37,3%) 22,7 (25,6) 11 (2-37) 1-199 41,3 (33,1) 34 (11-69) 34 (11-69) Total 153.781

*Atraso: > 30 dias sem retirar os antirretrovirais para pacientes de Manaus o de 60 dias para pacientes do interior

Tabela 6 - Avaliação das dispensações por gênero, realizadas pela Unidade Dispensadora de Medicamentos da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, 2003-2013.

Gênero

n Dispensações

ARV Troca de Esquema

Terapêutico Atraso na retirada dos

medicamentos ARV

n (%)

Sim n =2.040 (36,1%)

Não n =3.613 (63,9%)

Sim n =587 (16,5%)

Não n =2.959 (83,5%)

Masculino 102.287 (62,7%)

1.258 (35,5%)

1.258 (35,5%)

545 (25,9%)

1.562 (74,1%)

Feminino 51.494 (37,3%)

782 (37,1%)

1.258 (35,5%)

587 (16,5%)

4.521 (83,5%)

Total 153.781

Page 44: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

30

Tabela 7 - Avaliação das dispensações por gênero, segundo ano de início de tratamento com antirretroviral realizadas pela Unidade Dispensadora de Medicamentos da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, 2003-2013.

Número de pacientes que iniciaram o tratamento antirretroviral Ano de início de Antirretroviral n (%)

Gênero Masculino (%) Feminino (%)

2003 1.100 (19,5%) 740 (20,9%) 360 (17,1%) 2004 547 (9,7%) 310 (8,7%) 237 (11,3%) 2005 440 (7,8%) 249 (7,0%) 191 (9,1%) 2006 473 (8,4%) 290 (8,2%) 193 (8,7%) 2007 577 (10,2%) 342 (9,6%) 235 (11,2%) 2008 691 (12,2%) 406 (11,5%) 285 (13,6%) 2009 654 (1,6%) 423 (11,9%) 231(11,0)%) 2010 788 (13,9%) 538 (15,2%) 250 (11,9%) 2011 383 (6,8%) 248 (7,0%) 135 (6,4%)

4.3 Adesão ao tratamento ARV

A tabela 8 apresenta a distribuição dos pacientes de acordo com o ponto de

corte para adesão ao tratamento ARV. A proporção de pacientes aderentes ao

tratamento diminui progressivamente, tanto para gênero masculino quanto para

feminino.

Para o ponto de corte de adesão ≥ 85%, globalmente 22,7% apresentam adesão.

Este ponto de corte foi usado para comparar os pacientes aderentes daqueles não

aderentes (Tabela 9).

Page 45: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

31

Tabela 8 - Adesão ao tratamento Antirretroviral, segundo gênero e diferentes pontos de corte de adesão.

Corte de Adesão

Gênero

Masculino (%) Feminino (%)

≥50% 4.019 (71,1%) 2.542 (71,2%) 1.477 (70,1%)

≥60% 3.080 (54,5%) 1.921 (54,2%) 1.159 (55,0%)

≥70% 2.164 (38,3%) 1.288 (36,3%) 876 (41,6%)

≥80% 1.507 (26,7%) 851 (24,0%) 656 (31,1%)

≥85% 1283 (22,7%) 703 (19,8%) 580 (27,5%)

≥90% 1.126 (19,9%) 606 (17,1%) 520 (24,7%)

≥95% 992 (17,6%) 530 (15,0%) 462 (21,9%)

100% 803 (14,2%) 409 (11,5%) 394 (18,7%)

n Total 5.653

Conforme os resultados da Tabela 9, que compara aqueles com adesão ≥

85% com aqueles com adesão <85%, observou-se a proporção do gênero masculino

com adesão ≥ 85% (54,8%) é maior que a proporção no gênero feminino com

adesão ≥ 85% (45,2%), sendo as diferenças por gênero estatisticamente

significativas. As faixas etárias mais jovens apresentam uma maior proporção de

adesão ≥ 85% do que as pessoas mais idosas, encontrando também diferenças

estatisticamente significativas. Os habitantes em Manaus e os que não trocaram

esquema reportam uma maior proporção de adesão ≥ 85% que aqueles que moram

no interior e que os que não trocaram ARV. Era esperado que a duração do

tratamento ARV em meses fosse muito superior em pacientes com adesão ≥ 85% e

que, da mesma forma, a perda de seguimento nos primeiros 180 dias de tratamento

ARV no grupo com adesão ≥ 85% fosse menor.

Page 46: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

32

Tabela 9 - Comparação dos pacientes aderentes e não aderentes ao tratamento Antirretroviral, utilizando como ponto de corte.

N° de paciente

CORTE P valor ≥85 (%) <85 (%)

2.107 (37,3) 3.546 (62,7) Gênero Masculino 703 (54.8) 2.843 (65.1)

<0.001 Feminino 580 (45.2) 1.527 (34.9) Faixa Etária Média, SD 39.0 (10,0) 40.9 (10,4)

<0.001

18-34 485 (37,8) 1.284 (29,4) 35-44 456 (35,5) 1.637 (37,50) 45-54 247 (19,3) 984 (22,5) 55-70 89 (6,9) 432 (9,9) >70 6 (0,5) 33 (0,8) Município Manaus 783 (80,1) 3.167 (91,5)

<0.001 Interior 194 (19,9) 296 (8,6) Troca de ARV Não 951 (74,1) 1.089 (24,9)

<0.001 Sim 332 (25,9) 3.281(75,1)

Duração do tratamento ARV em meses Média, SD 46.9 (32,3) 9.0 (19,0) <0.001 Perda de seguimento nos primeiros 180 dias de tratamento ARV Não 345 (26,9) 4.176 (95,6)

<0.001 Sim 194 (4,4) 938 (73,8)

Atraso na retirada dos ARV da farmácia Não 1.145 (89,2) 129 (2,9)

<0.001 Sim 138 (10,7) 4.241(97,1)

Page 47: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

33

5 DISCUSSSÃO

Os resultados desta análise indicam uma preocupante situação deste

serviço público de referência do Amazonas com relação à adesão aos ARV,

mostrando que aproximadamente 2 de cada 10 pacientes vai ser aderente ao

tratamento ARV com um ponto de corte de 85%. Outro estudo tem mostrado

resultados melhores de adesão, e taxas de interrupção da terapia entre 25-35%. (28)

Adicionalmente, há um problema de adesão relevante aos atrasos nas retiradas das

dispensações da Unidade Dispensadora de Medicamentos os resultados mostram

que 77,5% dos pacientes retiram os ARV após 30 dias e após 60 dias quando são

do interior do estado. O atraso nas retiradas tem se associado de forma

estatisticamente significativa com não adesão em vários estudos, e tem precedido a

falha virológica (51).

Outro resultado relevante é que o gênero feminino apresentou uma menor

adesão do que o masculino, igual ao observado em outros estudos(52) (53). Os

fatores que podem interferir na menor adesão entre o gênero feminino são múltiplos

(54), entre eles, esconder o fato de ser soropositiva para a comunidade, por medo

de serem abandonadas pelo parceiro (marido, namorado), menores possibilidades

socioeconômicas e maiores sobrecarga familiar, sendo a principal cuidadora dos

filhos que ao mesmo tempo podem ser HIV positivos. Outro fator seria a data de

retorno ao médico com datas diferentes das datas de retorno do médico dos seus

filhos.

Observamos que os pacientes do interior têm maiores problemas para uma

melhor adesão, o qual poderia explicar-se por barreiras geográficas, de

disponibilidade de transporte, tempo, e custo (55). Em resumo, barreiras logísticas

devido às peculiaridades do estado do Amazonas, caracterizado por grandes

distâncias e transporte primariamente fluvial.

Outro fator que pode ter interferido a baixa adesão do estudo está

relacionado com as características do serviço da farmácia da FMT-HVD, a qual

atende em média de 120 pacientes novos por semana desde 2013. Isto provoca

uma sobrecarga importante e como indicou um estudo multicêntrico brasileiro, os

serviços com menos 100 pacientes apresentavam melhor adesão ao tratamento

Page 48: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

34

ARV (56). A situação tem mudado recentemente desde que o Brasil adotou no final

do ano 2012 a estratégia “Treatment as Prevention”, na qual todos os pacientes

iniciam tratamento de forma imediata após o diagnóstico da infecção do HIV,

independentemente do nível de contagem de CD4 (42). Com esta medida, o número

de pacientes que precisam ARV no serviço da farmácia da FMT-HVD, assim como

no resto do Brasil aumenta de forma importante. Entre 2005 a 2013, o Ministério da

Saúde mais do que dobrou o total de brasileiros com acesso ao tratamento,

passando de 165 mil (2005) pra 400 mil 2014 (57). A descentralização dos serviços

de atenção aos pacientes HIV positivos assim como o tratamento ARV para o interior

do estado do Amazonas poderia diminuir a sobrecarga de Manaus e melhorar a

adesão aos ARV (58).

O estudo mostra como os registros de farmácia são adequados para

detectar os pacientes em risco de não tomar suas medicações (51). A medida de

adesão usada no estudo é simples e permite monitorar a adesão usando os dados

coletados de forma rotineira em cada visita dos pacientes, tal como recomenda a

OMS (59).

Como limitação do estudo não tem disponíveis variáveis clínicas e

relacionadas com os serviços de saúde como indicadores potencias de adesão.

Algumas delas são, de fato, consequências próprias do ARV, como a presença de

reações adversas, o número de comprimidos a serem tomadas por dia (30). Outras

são claramente associadas com o aceso aos serviços de saúde anteriormente ao

início da terapia, como o início tardio de tratamento, orientação médica e o tempo

entre o resultado do teste do HIV e a primeira visita médica e a primeira prescrição

de ARV (30). A respeito às variáveis sociodemograficas não dispomos de

informação sobre o nível de escolaridade, via de transmissão, nem situação de

emprego. A baixa escolaridade tem se associado com a adesão aos ARV em um

estudo prévio multicêntrico brasileiro (56), mas não em outro (52). Na literatura

internacional a associação entre a baixa escolaridade e a adesão aos ARV é grande

(60-65). A associação do desemprego com a adesão é controversa, mostrando-se

como fator de risco para não adesão um estudo prévio (66), mas não em outros (56).

Referente à via de transmissão, os usuários de drogas intravenosas são um grupo

de risco que tem mostrado baixa adesão aos ARV (67) numa metanálise que incluiu

Page 49: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

35

11.628 usuários de drogas HIV positivos. No entanto, a principal via de transmissão

no estado do Amazonas é a heterossexual(12).

Para melhorar a proporção de adesão encontrada, é necessário um

acolhimento e acompanhamento na farmácia com uma atenção integral. Isto é um

requisito essencial mais não suficiente. Um ensaio clínico randomizado realizado no

Sul do Brasil em 2012 avaliou a eficácia da orientação farmacêutica na adesão e na

supressão viral aos ARV na forma de auto-relato (68), comparado com a rotina na

qual consiste em apenas dispensar os ARV. Os resultados mostraram como o

aconselhamento não aumentou a proporção de pacientes aderentes ou com

supressão da carga viral. No entanto, os resultados sugerem que o aconselhamento

poderia ser efetivo entre pacientes que mostram uma baixa adesão aos ARV. Porém

em outros ensaios clínicos randomizados o aconselhamento sobre adesão permitiu

uma melhora da mesma quando foi oferecido pelo profissional de enfermagem ou

por profissional farmacêutico (69) (70). No contexto da Unidade Dispensadora de

Medicamento da FMT-HVD, com uma elevada proporção de pacientes com

problemas de adesão aos ARV, o aconselhamento oferecido pelo farmacêutico

deveria estar incluído na prática habitual, por ser uma intervenção simples e viável

de implementação. O aconselhamento sobre adesão teria que ser adaptado

segundo a escolaridade dos pacientes visto que se evidencia que a pessoas com

um nível de escolaridade baixo precisam de intervenções que usem ferramentas

especiais como pictogramas para guiar o aconselhamento (71). O aconselhamento

poderia ir acompanhado de texto impresso de forma simples que explique ao

paciente como e quando tomar a medicação, quais são os principais efeitos

adversos. Este material escrito pode servir para verificar se o paciente compreendeu

o conteúdo do aconselhamento.

Outras intervenções inovadoras, como as mensagens de texto mediante

telefone móbil, apresentam potencial para melhorar a adesão aos antirretrovirais. As

mensagens de texto ajudariam a reduzir uma das principais barreiras à adesão aos

ARV, a qual o paciente simplesmente esquece de tomar os comprimidos (49). Uma

revisão sistemática que incluiu dos ensaios clínicos randomizados, concluiu que

existe evidencia de elevada qualidade sobre a eficácia das mensagens de texto

semanais para melhorar a adesão aos ARV comparado com o atendimento padrão.

Page 50: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

36

Um dos ensaios incluídos mostrou de forma importante que as mensagens de texto

semanais ajudavam suprimir a carga viral do HIV. A implementação da intervenção

destas características requerem o envolvimento do Programa Nacional de DST, aids

e Hepatites Virais para testá-la e posteriormente implementá-la, já que iriam ser

necessários um forte investimento econômico e tecnológico.

Outro avanço promissor para melhorar a adesão aos ARV no estado do

Amazonas, assim como nos estados do Brasil, é o início da distribuição do

medicamento 3 em 1 para o tratamento de pacientes com HIV e aids a partir de

Janeiro 2015 (72). Uma metanálise de resultados virológicos em relação ao número

de comprimidos tomados pelo paciente indicou claramente uma associação

significativa entre um menor número de comprimidos e uma maior supressão da

carga virológica (73). A disponibilidade de um único comprimido para ser tomado

uma vez por dia está melhorando de forma importante a adesão aos ARV (49). Este

medicamento inclui a dose tripla combinada, composta pelos medicamentos

Tenofovir (300 mg), Lamivudina (300 mg) e Efavirenz (600 mg). O novo

medicamento é de fácil ingestão, e tem como principal vantagem a boa tolerância

pelo paciente, além de reduzir o número de medicamentos de três para apenas 1

comprimido, permitindo uma melhor da adesão (49).

Vai ser crucial desenvolver estratégias de intervenção sobre adesão que são

responsabilidade imediata dos serviços de saúde, em os seus níveis, compartilhando

pelos profissionais de saúde e pacientes. Tal e como não existe uma medida única

estandardizada na adesão aos ARV, também não existe uma única intervenção que

permita uma melhora da mesma (74). A FMT-HVD deve desenhar, pilotar e testar

com desenhos de estudos metodologicamente rigorosos e que apontem evidência

sólida, qual é a intervenção ou a combinação delas que permite melhorar a adesão

dos pacientes, tendo em conta o contexto do estado do Amazonas e as

características dos serviços de saúde públicos.

Page 51: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

37

6 CONCLUSÃO

A adesão entre os pacientes que recebem tratamento ARV no FMT-HVD

apresentam níveis baixos de adesão, especialmente em pacientes do interior, o que

revela a necessidade de adotar estratégias para reverter essa situação como a

disponibilidade de uma equipe para atender e orientar bem os pacientes, mostrando

aos pacientes a importância e a necessidade da adesão e as consequências do

abandono ao tratamento e para se obter sucesso terapêutico e qualidade de vida. É

essencial monitorar a adesão a TARV para identificar pacientes em risco de falha

terapêutica e oferecer intervenções sem mais demora. Como intervenções, a nossa

proposta de intervenções que são viáveis segundo as características da FMT-HVD e

do estado do Amazonas estão escolhidas a seguir.

Sugestões para melhoria da adesão:

• Descentralização do atendimento

• Oferecer o aconselhamento individual

• Atenção Farmacêutica e acompanhamento farmacoterapêutico.

• Reuniões entre a equipe multiprofissional: É necessário pensar no

trabalho interdisciplinar e multiprofissional como estratégia alcançável e desejável,

pois nenhum trabalhador sozinho consegue ter resolutividade suficiente para atender

às demandas de sujeitos que sofrem.

• Comunicação entre os profissionais de saúde e a Organização Não

Governamental.

Page 52: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

38

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. REVINTER, editor. Manual de HIV/AIDS. 9ª ed. Rio de Janeiro2008. 2. Brasil MdSd. Recomendações para Terapia Anti-retroviral em Adultos Infectados pelo HIV

In: Aids PNdDe, editor. Brasilia2008. 3. Colombrini MR, de I'opes M H, de Figueiredo RM. [Adherence to the antiretroviral therapy for HIV/AIDS]. Rev Esc Enferm USP. [Review]. 2006 Dec;40(4):576-81. 4. UNAIDS. Global report: UNAIDS report on the global AIDS epidemic 2013. . EUA2013. 5. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatitis Virais [Health Surveillance Department. Department of STIs, AIDs and Hepatitis] (Brazil). Boletim Epidemiológico aids e DST 2012 [Epidemiological Bulletin of AIDS and STIs 2012] [Internet]. Brasília: Ministerio da Saúde do Brasil, 2012. 28 p. [cited 2013 May 05]. Available from: http://www.aids.gov.br/publicacao/2011/boletim_epidemiologico_2012. Portuguese. 6. Kerr LR MR, Kendall C, Pinho A de A, Mello MB, Guimaraes MD, et al. HIV among MSM in a large middle-income country. Aids 2012. 2012;27(3):427-35. 7. Szwarcwald CL, de Souza Junior PR, Damacena GN, Junior AB, Kendall C. Analysis of data collected by RDS among sex workers in 10 Brazilian cities, 2009: estimation of the prevalence of HIV, variance, and design effect. J Acquir Immune Defic Syndr. [Research Support, Non-U.S. Gov't]. 2011 Aug;57 Suppl 3:S129-35. 8. Bastos FI MM, Albuquerque E, Hacker M, Bertoni N, Pinho A, et al. Taxas de infecção de HIV e sífilis e inventario de conhecimento, atitudes e práticas de risco relacionadas às infecçoões sexualmente transmissíveis entre usuários de drogas em 10 municípios brasileiros Rio de Janeiro2010 [updated 18.06.2013; cited 2013 18.06.2013]; Available from: http://sistemas.aids.gov.br/prevencao2010/sites/default/files/page/2010/18.06.2010/MR_%20ElisabethMaciel.pdf 9. AP A, editor. National workshop of the CD4 Laboratory Network; 2012; Florianópolis - SC. 10. Ministerio da Saúde do Brasil. Boletim Epidemiológico aids. In: Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de DST AeHV, editor. Brasilia2012. 11. Benzaken AS, Casado R. Aids no Amazonas: retrospectiva histórica e situaçao atual. Em: Espaço Doença. Um olhar sobre o Amazonas, 1998. 12. Oliveira R, Saraceni V, Benzaken AS, Sabidó M. HIV/AIDS epidemic in the state of Amazonas: characteristics and trends from 2001 to 2012. Rev Soc Bras Med Trop. 2015;46(suppl). 13. Sáude Md, Amazonas SdSd. Informe Epidemiológico. In: Virais CEdDaeH, editor. Manaus-AM2013. 14. Saúde Md. Diretrizes para o fortalecimento das ações de adesão ao tratamento para pessoas que vivem com HIV e AIDS. In: Aids PNdDe, editor. Brasília2007. p. 30. 15. Saúde Md. Protocolo de Assistência Farmacêutica em DST/HIV/AIDS - Recomendações do Grupo de Trabalho de Assistência Farmacêutica. In: Departamento de DST AeHV, editor. 1ª ed. Brasilia - DF2010. p. 223. 16. Saúde Md. Manual de adesão ao tratamento para pessoas com HIV e aids. In: Aids PNdDe, editor. 1º ed. Brasilia2008. 17. Catz SL, Kelly, J. A., et al. Patterns, correlates, and barriers to medical adherence among persons prescribed new treatments for HIV disease. . Health Psychol. 2000;19:124-33. 18. Marins JR, Jamalw, L. F., Chen, S, et al. Sobrevivência atual dos pacientes com AIDS no Brasil: Evidência dos resultados de um esforço nacional. In: Aids Bed, editor. Brasília - DF2002. p. p. 37-47. 19. Teixeira PR, Vitória, M. A., et al. Antiretroviral treatment in resource-poor setting: the Brasilian experience. In: AIDS, editor.2004. 20. WHO WHO. Global HIV/AIDS response: epidemic update and health sector progress towards universal access: progress report 2011. Geneva2011.

Page 53: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

39

21. Dieffenbach CW, Fauci AS. Universal voluntary testing and treatment for prevention of HIV transmission. Jama. 2009 Jun 10;301(22):2380-2. 22. B MdS. Consenso terapeutico HIV 2013. 2013. 23. Mannheimer S, Friedland G, Matts J, Child C, Chesney M. The consistency of adherence to antiretroviral therapy predicts biologic outcomes for human immunodeficiency virus-infected persons in clinical trials. Clin Infect Dis. [Clinical Trial

Randomized Controlled Trial

Research Support, U.S. Gov't, P.H.S.]. 2002 Apr 15;34(8):1115-21. 24. Perno CF, Ceccherini-Silberstein F, De Luca A, Cozzi-Lepri A, Gori C, Cingolani A, et al. Virologic correlates of adherence to antiretroviral medications and therapeutic failure. J Acquir Immune Defic Syndr. [Research Support, Non-U.S. Gov't

Review]. 2002 Dec 15;31 Suppl 3:S118-22. 25. Karon JM FP, Steketee RW, De Cock KM. HIV in the United States at the turn of the century: an epidemic in transition. American Journal of Public Health 2001;91(7):1060-8. 26. Paterson DL, Swindells S, Mohr J, Brester M, Vergis EN, Squier C, et al. Adherence to protease inhibitor therapy and outcomes in patients with HIV infection. Ann Intern Med. 2000 Jul 4;133(1):21-30. 27. Bangsberg DR, Moss AR, Deeks SG. Paradoxes of adherence and drug resistance to HIV antiretroviral therapy. J Antimicrob Chemother. [Research Support, Non-U.S. Gov't

Research Support, U.S. Gov't, P.H.S.

Review]. 2004 May;53(5):696-9. 28. Smith RJ. Adherence to antiretroviral HIV drugs: how many doses can you miss before resistance emerges? Proc Biol Sci. 2006 Mar 7;273(1586):617-24. 29. Chesney MA, Morin M, Sherr L. Adherence to HIV combination therapy. Soc Sci Med. [Review]. 2000 Jun;50(11):1599-605. 30. BONOLO PdF, GOMES, Raquel Regina de Freitas Magalhães and GUIMARAES, Mark Drew Crosland. Adherence to antiretroviral therapy (HIV/AIDS): factors associated and adherence strategies. Epidemiol Serv Saúde. Dec. 2007: p.267-78. 31. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST AeHV, editor. Adesão ao tratamento antirretroviral no Brasil : coletânea de estudos do Projeto Atar : Projeto Atar Brasilia: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais; 2010. 32. Rocha GMM, Carla Jorge; Acurcio, Francisco de Assis; Guimarães, Mark Drew Crosland. Monitoring adherence to antiretroviral treatment in Brazil: an urgent challenge. Cad Saúde Pública 2011: s67-s78. 33. R MdO. Adesão de pessoas vivendo com HIV/AIDS ao tratamento com antirretrovirais assistidas em Unidade de referência no Estado do Amazonas. 2011. 34. Campos MSC, E.C; Almeida, N. X. Adesão a terapia antirretroviral em pacientes portadores de HIV/aids internados na FMT/HVD. 2013. 35. Berg KM, Arnsten JH. Practical and conceptual challenges in measuring antiretroviral adherence. J Acquir Immune Defic Syndr. [Research Support, N.I.H., Extramural

Research Support, Non-U.S. Gov't

Review]. 2006 Dec 1;43 Suppl 1:S79-87. 36. Grossberg R, Zhang Y, Gross R. A time-to-prescription-refill measure of antiretroviral adherence predicted changes in viral load in HIV. J Clin Epidemiol. [Comparative Study

Research Support, Non-U.S. Gov't

Page 54: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

40

Research Support, U.S. Gov't, P.H.S.

Validation Studies]. 2004 Oct;57(10):1107-10. 37. Fairley CK, Permana A, Read TR. Long-term utility of measuring adherence by self-report compared with pharmacy record in a routine clinic setting. HIV Med. 2005 Sep;6(5):366-9. 38. Low-Beer S, Yip B, O'Shaughnessy MV, Hogg RS, Montaner JS. Adherence to triple therapy and viral load response. J Acquir Immune Defic Syndr. [Letter]. 2000 Apr 1;23(4):360-1. 39. Townsend ML, Jackson GL, Smith R, Wilson KH. Association between pharmacy medication refill-based adherence rates and cd4 count and viral-load responses: A retrospective analysis in treatment-experienced adults with HIV. Clin Ther. [Comparative Study]. 2007 Apr;29(4):711-6. 40. Bisson GP, Gross R, Bellamy S, Chittams J, Hislop M, Regensberg L, et al. Pharmacy refill adherence compared with CD4 count changes for monitoring HIV-infected adults on antiretroviral therapy. PLoS Med. [Research Support, N.I.H., Extramural

Research Support, Non-U.S. Gov't

Research Support, U.S. Gov't, P.H.S.]. 2008 May 20;5(5):e109. 41. Steiner JF PA. The assessment of refill compliance using pharmacy records: methods, validity, and applications. J Clin Epidemiol. 1997;50(1):105-16. 42. Ministério da Saúde SdVeS. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infecção pelo HIV em Adultos. In: Programa Nacional de DST AeHV, editor. Brasília, DF2013. 43. Castillo E, Palepu A, Beardsell A, Akagi L, Yip B, Montaner JS, et al. Outpatient pharmacy care and HIV viral load response among patients on HAART. AIDS Care. [Research Support, Non-U.S. Gov't]. 2004 May;16(4):446-57. 44. Hardy H. Adherence to antiretroviral therapy: the emerging role of HIV pharmacotherapy specialist. . Journal of Pharmacy Practice. 2005;18 n°04: 247-57 45. Castillo E PA, Beardsell A, Akagi L, Yip B, Montaner JS, Hogg RS. Outpatient pharmacy care and HIV viral load response among patients on HAART. AIDS Care. 2004:16(4):446-57. 46. Saude. Md. Assistência Farmacêutica. Brasil [cited 2013 15-09-2013]. 47. Andrade AS1 DR, A Celano S, Duarte NA, Marcotte TD, Umlauf A, Atkinson JH, McCutchan JA, Franklin D, Alexander TJ, McArthur JC, Marra C, Grant I, Collier AC. Relationships among neurocognitive status, medication adherence measured by pharmacy refill records, and virologic suppression in HIV-infected persons. J Acquir Immune Defic Syndr. 2013;Mar 1;62(3):282-92:282-92. 48. Nachega JB, Hislop M, Dowdy DW, Lo M, Omer SB, Regensberg L, et al. Adherence to highly active antiretroviral therapy assessed by pharmacy claims predicts survival in HIV-infected South African adults. J Acquir Immune Defic Syndr. [Research Support, N.I.H., Extramural]. 2006 Sep;43(1):78-84. 49. Conway B. The role of adherence to antiretroviral therapy in the management of HIV infection. J Acquir Immune Defic Syndr. [Review]. 2007 Jun 1;45 Suppl 1:S14-8. 50. Fairley CK PA, Read TR. Long-term utility of measuring adherence by self-report compared with pharmacy record in a routine clinic setting. HIV Med. 2005 Sep;6:366-9. 51. McMahon JH1 JM, Kelley K, Bertagnolio S, Hong SY, Wanke CA, Lewin SR, Elliott JH. . Pharmacy adherence measures to assess adherence to antiretroviral therapy: review of the literature and implications for treatment monitoring. Clin Infect Dis. 2011 Feb 15;52(4):493-506. 52. Nemes MIB CH, Souza MFM. Antiretroviral therapy aherence in Brazil. . 2004: S15-S20. 53. Howard AA AJ, Lo Y, Vlahov D, Rich JD, Schuman P, Stone VE, Smith DK, Schoenbaum EE; HER Study Group. A prospective study of adherence and viral load in a large multi-center cohort of HIV-infected women. AIDS. Aids. 2002 Nov 8;16(16)

2175-82. 54. Hodgson I1 PM, Konopka SN3, Colvin CJ4, Jonas E3, Albertini J5, Amzel A6, Fogg KP7. A systematic review of individual and contextual factors affecting ART initiation, adherence, and retention for HIV-infected pregnant and postpartum women. 2014 nov;5;9(11):111421.

Page 55: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

41

55. Sabidó M BA, de-Andrade-Rodrigues EJ, Mayaud P. Rapid point-of-care diagnostic test for syphilis in high-risk populations, Manaus, Brazil. Infect Dis. 2009 Apr;15(4):647-9. Apr, 2009;15(4):647-9. 56. Nemes MIB CH, Souza MFM. Antiretroviral therapy aherence in Brazil. AIDS Aids. 2004:S15-S20. 57. Ministerio da Saude SdVeS. Global AIDS Response. Progress reporting. In: Departamento de DST AeHV, editor. Brazil2014. 58. Duncombe C1 BA, Passarelli C, Hirnschall G. . Treatment 2.0: catalyzing the next phase of treatment, care and support. 2013;8(1):4-11. 59. Organisation. WH. Patient monitoring guidelines for HIV care and antiretroviral therapy. Geneva2006. 60. Osborn CY P-OM, Davis TC, Wolf MS. . Health literacy: an overlooked factor in understanding HIV health disparities. Am J Prev Med. 2007;33(5):374–8. 61. Waldrop-Valverde D JD, Jayaweera D, Gonzalez P, Romero J, Ownby RL. . Gender differences in medication management capacity in HIV infection: the role of health literacy and numeracy. AIDS Behav. 2008;13(1):46–52. 62. Kalichman SC, Ramachandran B, Catz S. Adherence to combination antiretroviral therapies in HIV patients of low health literacy. J Gen Intern Med. [Research Support, U.S. Gov't, P.H.S.]. 1999 May;14(5):267-73. 63. Davis TC, Wolf MS, Bass PF, 3rd, Middlebrooks M, Kennen E, Baker DW, et al. Low literacy impairs comprehension of prescription drug warning labels. J Gen Intern Med. [Comparative Study

Research Support, U.S. Gov't, P.H.S.]. 2006 Aug;21(8):847-51. 64. Davis TC, Wolf MS, Bass PF, 3rd, Thompson JA, Tilson HH, Neuberger M, et al. Literacy and misunderstanding prescription drug labels. Ann Intern Med. [Research Support, U.S. Gov't, P.H.S.]. 2006 Dec 19;145(12):887-94. 65. Paasche-Orlow MK, Cheng DM, Palepu A, Meli S, Faber V, Samet JH. Health literacy, antiretroviral adherence, and HIV-RNA suppression: a longitudinal perspective. J Gen Intern Med. [Comparative Study

Multicenter Study

Randomized Controlled Trial

Research Support, N.I.H., Extramural]. 2006 Aug;21(8):835-40. 66. Bonolo Pde F, Cesar CC, Acurcio FA, Ceccato M, de Padua CA, Alvares J, et al. Non-adherence among patients initiating antiretroviral therapy: a challenge for health professionals in Brazil. Aids. [Multicenter Study

Research Support, Non-U.S. Gov't]. 2005 Oct;19 Suppl 4:S5-13. 67. Malta M, Strathdee SA, Magnanini MM, Bastos FI. Adherence to antiretroviral therapy for human immunodeficiency virus/acquired immune deficiency syndrome among drug users: a systematic review. Addiction. [Review]. 2008 Aug;103(8):1242-57. 68. Silveira MP, Guttier MC, Page K, LB. M. Randomized controlled trial to evaluate the impact of pharmaceutical care on therapeutic success in HIV-infected patients in Southern Brazil. AIDS Behav. 2014;Suppl 1:S75-84. 69. Remien RH, Stirratt MJ, Dognin J, Day E, El-Bassel N, Warne P. Moving from theory to research to practice. Implementing an effective dyadic intervention to improve antiretroviral adherence for clinic patients. J Acquir Immune Defic Syndr. [Research Support, U.S. Gov't, P.H.S.]. 2006 Dec 1;43 Suppl 1:S69-78. 70. Mannheimer SB, Morse E, Matts JP, Andrews L, Child C, Schmetter B, et al. Sustained benefit from a long-term antiretroviral adherence intervention. Results of a large randomized clinical trial. J Acquir Immune Defic Syndr. [Randomized Controlled Trial

Page 56: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

42

Research Support, N.I.H., Extramural]. 2006 Dec 1;43 Suppl 1:S41-7. 71. Kalichman SC, Cherry C, Kalichman MO, Amaral C, White D, Grebler T, et al. Randomized clinical trial of HIV treatment adherence counseling interventions for people living with HIV and limited health literacy. J Acquir Immune Defic Syndr. [Randomized Controlled Trial

Research Support, N.I.H., Extramural

Research Support, U.S. Gov't, Non-P.H.S.]. 2013 May 1;63(1):42-50. 72. Brasil MdSd. Medicamento 3 em 1 começa a ser distribuído. Brasília, DF, 2014. In: Programa Nacional DST A, e Hepatitis Virais, editor. Brasilia2014. 73. Bartlett JA FM, Demasi R, Hermes A, Quinn J, Mondou E, Rousseau An updated systematic overview of triple combination therapy in antiretroviral-naive HIV-infected adults. . Aids. 2006:2051-64. 74. MA. C. The elusive gold standard. Future perspectives for HIV adherence assessment and intervention. J Acquir Immune Defic Syndr. 2006;S149-S154.

Page 57: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

43

9 ANEXOS

9.1 Anexo 1 Layout do banco de dados

Código paciente

Sexo 1. homem; 2: mulher

Idade (anos)

Município de residência

Dispensação na farmácia: 1. UDM; 2. hospitalar

Dispensação: 1. ARV; 2: outro medicamento Esquema

Data da dispensação

1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2

n

Page 58: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

44

Anexo 2: Equipe

NOME FUNÇÃO INSTITUIÇÃO Janaína da Silva Gonçalves

Mestranda

FMT-HVD

Maria das Graças Costa Alecrim

Coordenadora Geral Orientadora

FMT-HVD

Meritxell Sabidó Epidemiologista Co-orientadora Suporte estatístico

Universitat Autònoma de Barcelona, PVS FAPEAM

Page 59: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

Anexo 3: Parecer do Comitê de Ética

Page 60: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

3

Page 61: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

4

Page 62: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

5

Page 63: PERFIL DOS PACIENTES HIV/AIDS QUE ABANDONAM O

6