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PERFIL DO DISCLOSURE AMBIENTAL:

UMA INVESTIGAÇÃO NOS RELATÓRIOS ANUAIS E BALANÇO

SOCIAL E AMBIENTAL DA EMPRESA PETROBRAS

Fabricia Silva da Rosa (UFSC)

[email protected] Sandra Rolim Ensslin (UFSC)

[email protected]

Esta pesquisa, de caráter descritivo, tem como objetivo traçar o perfil do disclosure ambiental de empresas da empresa Petrobrás. O perfil é identificado a partir das evidenciações ambientais quanto ao nível de sustentabilidade (ISE/BOVESPAA, 2005), elementos (LINDSTAED, 2007), tipo (GUTHRIE e PETTY, 2000) e qualidade do disclosure (GRAY, KOUHY, e LAVERS, 1995b), por meio da técnica de análise de conteúdo das sentenças do relatório (RICHARDSON, 2008). A identificação se dá em dois momentos - antes e depois da inserção da empresa no ISE - para verificar se o perfil do disclosure ambiental da empresa se altera a partir da inserção no ISE. A pesquisa revela: (i) a partir do momento que integra o ISE melhora os níveis de disclosure ambiental; (ii) no Balanço Social e Ambiental o item mais evidenciado é “13” que refere-se as auditorias feitas na companhia, já em relação ao Relatório Anual o item mais evidencia é o “10”que refere-se aos investimentos; (iii) o tipo disclosure mais evidenciado em em 2004 tanto no Relatório Anual quanto no Balanço Social é “Declarativa”, e no ano de 2006, ano que passa a integrar o ISE, a companhia aumenta informacoes “Quantitativas/Monetárias” no Relatório Anual, e “Quantitativas” no Balanço Social e Ambiental; (iv) a qualidade do disclosure ambiental e obteve como resultado a constatação de que a classificação mais evidenciada foi a do tipo “Bom”. Palavras-chaves: Disclosure Ambiental, Índice de Sustentabilidade Empresarial, Sustentabilidade

XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

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1. INTRODUÇÃO

A preocupação com a divulgação/evidenciação das informações ambientais aos stakeholdes nos remete a pesquisa na área de Ciências Contábeis, cujo objetivo é fornecer informações sobre a situação econômico-financeira das empresas aos seus usuários por meio das demonstrações contábeis (IUDÍCIBUS, MARTINS e GELBCKE, 2007). As informações contidas nas demonstrações contábeis são complementadas pelas Notas Explicativas e pelo Relatório da Administração. Por intermédio destes relatórios os stakeholders podem avaliar tendências futuras das empresas bem como os investimentos na área social e ambiental. Neste contexto, a elaboração e publicação do Relatório da Administração (RA) pelas companhias é uma forma de transparência de suas gestões, pois este é um documento essencial complementar das Demonstrações Contábeis num determinado exercício, visando dar mais clareza para seus acionistas e usuários em geral (GALLON; ENSSLIN, 2007). Observe-se que as informações contidas nos relatórios que complementam as Demonstrações Contábeis configuram-se como evidenciações voluntárias.

Segundo Piacentini (2004, p. 51) as “evidenciações voluntárias são meios utilizados pelos investidores para analisar as estratégias e os fatores críticos de sucesso da companhia, tanto no ambiente em que as mesmas estão inseridas, como sob o aspecto competitivo do cenário econômico”. Assim, essas informações evidenciadas voluntariamente servem para a empresa demonstrar a seus usuários o que está sendo feito para a melhoria e manutenção do bem estar da comunidade.

Neste contexto de reconhecimento da necessidade de transparências por meio da divulgação das práticas sócio-ambientais, a Bovespa, em conjunto com várias instituições (ABRAPP, ANBID, APIMEC, IBGC, IFC, Instituto ETHOS e Ministério do Meio Ambiente), lançam, em 2005, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), com o objetivo de oferecer ao mercado um indicador para as ações de empresas comprometidas com responsabilidade social, sustentabilidade empresarial e promotoras das boas práticas de governança corporativa no Brasil.

Os autores da presente pesquisa acreditam que as empresas que participam do Índice de Sustentabilidade Empresarial da BOVESPA apresentam melhores níveis de disclosure ambiental, visto que apenas fazem parte deste segmento companhias comprometidas com a integridade do meio ambiente e com a adesão aos princípios da responsabilidade social.

No contexto da prestação de informações aos investidores quanto às práticas ambientais e na premissa de que uma maior evidenciação dessas informações pelas empresas pode vir a cativar mais investidores, emerge a pergunta de pesquisa que orienta este trabalho: Qual é o comportamento do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) em relação ao disclosure ambiental nos Relatórios Anuais e nos Balanços Sociais da Petrobras?

Observe-se que esta investigação fez um estudo de caso em uma única empresa. Este corte se justifica, pela importância econômica e social da Petrabras para o Brasil, é a única representante do setor que integra o ISE. O setor na qual a companhia faz parte é considerado de alto impacto, pela Lei no. 10.165/00 no Brasil. Adicionalmente, algumas pesquisas que analisaram os impactos gerados por esse setor demonstram a necessidade de disclosure ambiental para a tomada de decisões dos stackholders.

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Com vistas a responder à pergunta de pesquisa proposta pelos autores do trabalho, o objetivo geral da investigação pode ser definido como se segue: traçar o perfil do disclosure ambiental da Petrobrás que integra o Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE. Nesta pesquisa o perfil é representado pelas evidenciações ambientais quanto ao nível de Sustentabilidade (ISE/BOVESPA, 2005), elementos (LINDSTAED, 2007), tipo (GUTHRIE e PETTY, 2000) e qualidade do disclosure (GRAY, KOUHY, e LAVERS, 1995b), por meio da técnica de análise de conteúdo das sentenças do relatório (RICHARDSON, 2008). Tal perfil é identificado em dois momentos: antes e depois da participação da Petrobras ao ISE, com vistas a verificar se o perfil do disclosure ambiental da companhia se altera a partir de seu ingresso no ISE.

A pesquisa justifica-se por verificar o conteúdo do Relatório Anual e do Balanço Social de uma companhia aberta que segundo critérios definidos pelo ISE é considerada com boas práticas ambientais, com vistas a oferecer ao mercado informações quanto ao seu comprometimento com a responsabilidade social-ambiental. Este trabalho está estruturado em cinco seções. Após esta seção de caráter introdutório, a seção 2 apresenta considerações a respeito de seus dois eixos constitutivos (disclosure ambiental e ISE); a seção 3 apresenta a metodologia da pesquisa; a seção 4 apresenta os resultados do estudo por meio da “técnica de análise de conteúdo”; a seção 5 apresenta as conclusões finais sobre os resultados alcançados, bem como as recomendações para futuras pesquisas, e finalmente, são apresentadas as referências.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Esta pesquisa visa analisar o perfil do disclosure ambiental de empresas que integram o Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE; assim, esses são os dois eixos de conhecimento a serem apresentados como aporte teórico.

2.1. Disclosure ambiental

Lindstaed e Ott (2007) apontam que o agravamento dos problemas ecológicos, as legislações ambientais e a conscientização da sociedade em relação às responsabilidades das empresas na preservação do meio ambiente, ampliam as exigências relativas à transparência e a transformação de seus papéis na sociedade atual, em consonância com essa responsabilidade. Segundo Kosztrzepa (2004), a evidenciação das informações ambientais das empresas pode ser feita de diversas formas das quais, sem dúvida, irão se beneficiar empresas e os usuários das informações contábeis, ao tomarem decisões mais confiáveis e seguras sobre as organizações. Contudo, Campos e Leme (2007 apud ASPEN INSTITUTE, 1998) alertam que os analistas, gestores e investidores só estarão atentos à questão social e ambiental se ela for apresentada de forma conectada com indicadores de crescimento, mercado, margens e, principalmente, revelando qual é a contribuição direta desta questão para a sustentação dos resultados da companhia.

Neste sentido, Monteiro (2008) afirma que, ao longo das últimas décadas, a comunicação de caráter ambiental tem despertado o interesse não só dos stakeholders, que cada vez mais exigem informação dessa natureza para a tomada de decisão, mas também dos investidores na área de Contabilidade Social e Ambiental, em particular na linha de investigação de “Environmental disclosure”. Segundo Lins e Silva (2007 pg 03), em contabilidade, o termo disclosure é aplicado como sinônimo de evidenciação, abertura,

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divulgação de informações quantitativas e qualitativas: “Informações fornecidas como um anexo às demonstrações financeiras em notas explicativas ou em meios suplementares. Qualquer informação material deve ser evidenciada incluindo informações de natureza quantitativa e qualitativa que sejam úteis aos usuários das demonstrações financeiras”.

Para Lins e Silva (2007), o disclosure representa um importante meio de comunicação sobre o desempenho de uma empresa aos seus interessados: acionistas, credores, órgãos de supervisão e controle, governo, empregados. Por esse motivo, o disclosure possui papel essencial na redução da assimetria de informação entre os gestores e aqueles que possuem interesses na empresa, especialmente investidores. O disclosure ambiental pode estar presente em diversos relatórios de uma organização, tais como: Demonstrações contábeis e financeiras, Relatório de Administração, Relatórios específicos – Sustentabilidade e Balanço Social, bem como nas Notas Explicativas.

BENINCÁ e SCHULTHAIS (2007) analisando Relatórios da Petrobrás no triênio de 2003 a 2005 revelam que o disclosure ambiental acontece mais intensamente nos relatórios ambientais específicos e relatórios anuais, sendo pouco expressivo no relatório de Análise Financeira e Demonstrações Contábeis. Nesse contexto, esta pesquisa visa identificar o perfil do disclosure ambiental da Petrobrás que integra o Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE da Bolsa de Valores de São Paulo – BOVESPA.

Lindstaedt e Ott (2007) destacam a necessidade de aprofundamento de discussões das questões sobre disclosure ambiental pelos profissionais e pesquisadores de contabilidade, pois estudo comparativo sobre questões normativas do assunto revela que, no Brasil, itens como custos e receitas ambientais na Demonstração do Resultado do Exercício divergem das recomendações internacionais do ISAR/UNCTAD. Desta forma, verifica-se que pesquisas sobre a classificação disclosure ambiental têm sido desenvolvidas em dois parâmetros: normativos e desenvolvimento sustentável, apontando divergência na forma de análise do disclosure, conforme Quadro 1.

Parâmetro Órgão Autores Normativo Intergovernanmetal Working Group of Experts on

International Standarts of Accounting Adm. Reporting (ISAR/UNCTAD), Public Sector Committee (PSC), International Federation of Accountants (IFAC), Directriz Contabilistica (DI – Portugal), entre outros

Luiz e Santana (2004); Costa (2006); Lindstaed (2007); Rodrigues (2005); Nossa (2002); Rover, Alves e Borba (2007); Kosztrzepa (2004).

Desenvolvimento sustentável

Global Reporting Iniciative, IBASE, ISE/BOVESPA, Instituto Ethos, entre outros

Benincá e Simone Schulthais (2007); Lins e Silva (2007); Gallon e Ensslin (2007)

Quadro 1: Pesquisas sobre a classificação do disclosure ambiental Fonte: Os autores

Na pesquisa de BENINCÁ e SCHULTHAIS (2007) foram identificados os tipos e elementos de disclosure. Sendo que os elementos não seguiram padrão normativo, e sim, uma adaptação de estudos teóricos sobre sustentabilidade. Neste sentido, a presente pesquisa visa prosseguir com a investigação ao investigar quanto ao nível de Sustentabilidade (ISE/BOVESPA, 2005), elementos (LINDSTAED, 2007), tipo (GUTHRIE e PETTY, 2000) e qualidade do disclosure (GRAY, KOUHY, e LAVERS, 1995b).

Quanto ao Balanço Social, a pesquisa também investigou adequação aos princípios de sustentabilidade propostos pelo GRI (Global Report Initiative). E quanto a análise de

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conteúdo a presente pesquisa investiga a freqüência de relatos de fatos relacionados ao meio ambiente, e não apenas palavras ou expressões.

Portanto, esta pesquisa focaliza a Petrobrás participante do ISE, devido a atividade desenvolvida pela companhia ser considerada de alto impacto pela Lei no. 10.165/00 no Brasil e devido ao fato de que algumas pesquisas que analisaram os impactos gerados por essa companhia demonstraram a necessidade de disclosure ambiental na tomada de decisões de stackholders.

2.2. Índice de Sustentabilidade Empresarial - ISE

De acordo com Campos e Lemme (2007), “os gestores tradicionais de ativos financeiros buscam alternativas para a inclusão dos aspectos sociais e ambientais na seleção de carteiras de investimentos, incorporando os conceitos de Triple Bottom Line (TBL) e Investimento Socialmente Responsável (ISR)”. Investimentos Socialmente Responsáveis (ISR) consideram que empresas sustentáveis geram valor para o acionista no longo prazo, pois estão mais preparadas para enfrentar riscos econômicos, sociais e ambientais (BOVESPA, 2008). Os Investimentos socialmente responsáveis, portanto, são um processo de investimento que combina a análise de questões ambientais, sociais, econômicas e de governança coorporativa com o intuito de maximizar retorno ao acionista.

Diversos ISR vêem surgindo em nível internacional, tais como: FTSE4Good; Dow Jones Sustainability World Index; Ethibel Sustainability Index; Domini400 Social Index; KLD Select Social Index; Calvert Index; ASPI Index; Jantzi Social Index; JSE Index; Citizens Index. Buscando impulsionar o desenvolvimento sustentável no contexto empresarial, a Bovespa lançou, em 1º de dezembro de 2005, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), com o objetivo de oferecer ao mercado um indicador para as ações de empresas comprometidas com responsabilidade social, sustentabilidade empresarial e promotoras das boas práticas de governança corporativa no Brasil.

De acordo com a Bovespa (www.bovespa.com.br), entre os tópicos da missão do ISE está: ser composto por empresas que se destacam em responsabilidade social e com sustentabilidade no longo prazo e estimular práticas por parte das demais empresas. Entre as vantagens para a empresa, conforme a Bovespa estão: ser reconhecida pelo mercado como empresa que atua com responsabilidade social corporativa; ser reconhecida como empresa com sustentabilidade no longo prazo; e ser reconhecida como empresa preocupada com o impacto ambiental das suas atividades (GALLON, ENSSLIN, 2007). Surge também ISR no Brasil, tais como: Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE; Banco Real ABN AMRO; Banco Itaú; entre outros.

As empresas que participam de ISR são selecionadas segundo critérios que consideram a questão sócio-ambiental e fundamentos de ética e governança corporativa como itens de fundamental importância para a gestão empresarial. Neste sentido, o Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE – surge com o objetivo de oferecer ao mercado um indicador para as ações de empresas comprometidas com responsabilidade social, sustentabilidade empresarial e promotoras das boas práticas de governança corporativa no Brasil. A Bovespa lançou, em 1º de dezembro de 2005, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Este índice tem como pilares o relacionamento da empresa com empregados e fornecedores; o relacionamento com a comunidade; a governança corporativa;

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e, o impacto ambiental de suas atividades. BOVESPA (2008). O ISE tem por objetivo refletir o retorno de uma carteira composta por ações de empresas com reconhecido comprometimento com a responsabilidade social e a sustentabilidade empresarial, e também atuar como promotor das boas práticas no meio empresarial brasileiro.

Para Campos e Lemme (2007), existem dois caminhos principais para se chegar à composição das carteiras de Investimento Socialmente Responsável (ISR): screening (também chamado de screening negativo ou exclusionary screening) e best of. (class também chamado de screening positivo ou qualitative screening). O critério de seleção utilizado no ISE é best of class, sendo escolhidas empresas detentora de melhores práticas, entre as 150 mais líquidas da Bovespa. A escolha é baseada na análise de um questionário dividido em 06 dimensões (Geral, Natureza do produto, Governança Corporativa, Econômico-financeira, Ambiental e Social).

3. METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta seção se divide em três sub-seções, a saber: sub-seção 3.1 - Enquadramento Metodológico; sub-seção 3.2 – População e amostra; e, 3.3 – Procedimentos metodológicos para coleta e tratamento dos dados. Passa-se, a seguir, ao desenvolvimento de cada sub-seção.

3.1. Enquadramento metodológico

A presente pesquisa é classificada como descritiva quanto aos objetivos, uma vez que descreve algumas características da companhia Petrobras que integra o Índice de Sustentabilidade Empresa – ISE, quanto a quatro características: nível de Sustentabilidade (ISE/BOVESPA, 2005), descrição dos elementos (LINDSTAED, 2007), tipo (GUTHRIE e PETTY, 2000) e qualidade do disclosure ambiental (GRAY, KOUHY, e LAVERS, 1995b). A fonte de coleta de dados é de natureza secundária (RICHARDSON, 2008), uma vez que os dados foram coletados junto ao Relatório Anual e o Balanço Social da companhia selecionada. Para a coleta de dados utilizou-se da técnica de Análise de Conteúdo, que segundo Carney (1972), é uma técnica de pesquisa para objetivamente e sistematicamente identificar características específicas das mensagens com o objetivo de fazer inferências. Para Richardson (2008) é utilizada para compreender melhor um discurso, de aprofundar suas características (gramaticais, fonológicas, cognitivas, ideológicas etc.) e extrair os momentos mais importantes. A análise de conteúdo desta pesquisa é feita por meio de leitura e interpretação das mensagens dos textos, e prosseguem-se de forma quantitativa, a partir da codificação e quantificação (contagem da freqüência) de cada nível de sustentabilidade, elemento, tipo e qualidade de evidenciação observado.

3.2. População e amostra

O período analisado compreende o triênio 2004 a 2006, ou seja, um ano antes (2004), o ano do lançamento do ISE no mercado acionário (2005), e um ano depois (2006) da presença do ISE. O ano de 2007 não é analisado por não terem sido os Relatórios Anuais disponibilizado pelas companhia. A Petrobras passa a compor o ISE em 2006, portanto, nesta pesquisa será verificada a evolução do triênio, buscando identificar qual o disclosure ambiental da companhia até o ano de sua integração. Quanto à amostra, é pesquisada a empresa Petrobras, que foi selecionada de forma intencional, visando analisar empresa relevante para economia nacional e que seja considerada de alto impacto ambiental pela Lei 10.165/2000. Esse procedimento está consonância com o pensamento de Griffin e Mahon (1997), que consideram importante escolher empresas de um único setor para identificar

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relações entre Responsabilidade Social (na qual está incluída a questão ambiental) e desempenho financeiro; o olhar direcionado a múltiplos setores pode confundir os resultados do relacionamento.

3.3. Procedimentos metodológicos para coleta e tratamento dos dados

Conforme já sinalizado na introdução deste artigo, a fonte de coleta dos dados é constituída pelos Relatórios Anuais e Balanços Sociais e Ambientais de 2004 a 2006, da Petrobras; a coleta dos dados deu-se por meio da técnica de análise de conteúdo para identificar e classificar sentenças que revelem disclosure ambiental, em termos das características: nível de sustentabilidade, elementos, tipo e qualidade. O tratamento dos dados foi informado pelas classificações do disclosure ambiental quanto: ao nível de sustentabilidade, elementos, tipo e qualidade do disclosure ambiental. Os dados encontrados nos Relatórios Anuais e nos Balanços Sociais da Petrobras gera o perfil de disclosure ambiental, interpretado por meio de análise longitudinal – os anos de 2004 e 2006. Essa análise longitudinal tem por finalidade verificar se existe variação no disclosure ambiental da companhia após ingresso ao ISE, conforme Quadro 2.

Quadro 2: Descrição do disclosure ambiental

Nível de sustentabilidade (BOVESPA/2005): (REF) Relacionamento com Empregados e Fornecedores; (RC) Relacionamento com a Comunidade; (GC) Governança Coorporativa; (IA) Impacto Ambiental. Elementos de disclosure (Lindstaed 2007): (1) Escopo do relatório; (2) Política ambiental da empresa; (3) Extensão da aderência às normas estabelecidas em nível mundial; (4) Questões-ambientais-chave; (5) Descrição dos sistemas de gerenciamento ambiental e padrões internacionais; (6) Dados de desempenho segmentado: uso de energia, água, material; emissão de poluentes, destinação de resíduos, etc; (7) Dados do setor específicos, incluindo indicadores de desempenho ambiental; (8) Dados financeiros de custos ambientais; (9) Dados financeiros de passivos/provisões ambientais; (10) Investimentos ambientais (de capital), de recuperação do meio ambiente, em educação ambiental e projetos ambientais; (11) Quantidade de processos ambientais administrativos ou judiciais; (12) Estimativas de recursos econômicos e benefícios decorrentes dos esforços com o meio ambiente; (13) Verificação dos auditores contábeis/relatório de auditoria ambiental independente. Tipo de disclosure (Guthrie e Petty 2000): (D) Declarativa: quando a informação qualitativa é descrita e expressa em termos exclusivamente descritivos; (Q) Quantitativa não monetária: quando a informação quantitativa é descrita e expressa em números de natureza não financeira; (M) Quantitativa Monetária: quando a informação quantitativa é descrita e expressa em números de natureza financeira; (Q/M) Quantitativa Monetária e Não-monetária: quando a informação quantitativa é descrita e expressa tanto em números de natureza financeira, quanto de natureza não financeira. Qualidade do disclosure (Gray (1995b - Tradução Nossa (2002) (N) Neutra: declaração de política ou pretensão dentro do mínimo estatutário sem detalhes do que ou como; declaração de fatos cujo crédito/descrédito para a companhia não é óbvio; (B) Boa: declaração além do mínimo que inclui (por exemplo) detalhes específicos em que estes têm um reflexo respeitável ou neutro na companhia; quaisquer declarações que reflitam crédito para a companhia; análise/discussão/declaração otimista; (R)Ruim: qualquer declaração que reflita ou possa refletir descrédito para a companhia. Inclui, por exemplo, funcionários demitidos (...) e qualquer aumento em acidentes.

Fonte: Os autores

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Na seqüência, são apresentadas as análises feitas quanto: (i) freqüência, (ii) nível de sustentabilidade; (iii) elementos, (iv) tipo, (v) qualidade do disclosure ambiental da Petrobrás e (vi) análise do Balanço Social.

4.1. Análise do Disclosure Ambiental quanto à freqüência das evidenciações

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A análise da freqüência das evidenciaçoes permite verificar dois aspectos: (i) o disclosure ambiental aumentou no ano que a companhia passa a integra o ISE; (ii) as informações concentram-se cada vez mais no Balanço Social da companhia passando de 75% em 2004 para 86% em 2006, conforme Tabela 1.

Tabela 1: Freqüência do disclosure ambiental Ano do

Relatório Relatório

Anual Balanço Social e

Ambiental

Total de sentenças

2004 83 239 322 2005 52 255 307 2006 58 359 417

Fonte: Os autores

4.2. Análise do Disclosure Ambiental quanto ao nível de sustentabilidade

A análise sobre o nível de sustentabilidade utilizou os critérios de avaliação definidos pelo Índice de Sustentabilidade Empresarial e levou em consideração informações referentes ao relacionamento da companhia com o meio ambiente. Neste sentido, percebe-se a maioria das informações relacionadas ao IA, porém, percebe-se a preocupação da companhia em envolver empregados, fornecedores, comunidade, investidores e governo das questões relacionados ao meio ambiente, já que os indicadores REF e RC representam 10% (17) das sentenças evidenciadas em todo o período analisado (2004 a 2006).

Em relação aos itens relacionados ao Governança coorporativa estiveram presentes no ano de 2004 no Relatório Anual e no ano 2005 no Balanço Social e Ambiental, sendo que no ano que a companhia passa a fazer parte do ISE este item é evidenciado apenas 2 vezes no Balanço Social. As evidenciações neste itens referiram-se a abordagem sobre a transparência das ações ambientais da companhia aos seus stackeholders. Conforme Tabela 2.

Tabela 2: Nível de Sustentabilidade Ano do

Relatório Relatório Anual Balanço Social e Ambiental

REF RC GC IA REF RC GC IA 2004 5 8 6 64 3 6 0 230 2005 1 2 1 48 7 12 9 227 2006 1 1 0 56 4 18 2 335

Fonte: Os autores

4.3. Análise do Disclosure Ambiental quanto aos Elementos

Os resultados relacionados aos elementos de disclosure ambiental revelam que o Balanço Social e Ambiental de 2006 é o instrumento mais utilizado para evidenciar aspectos do relacionamento da companhia com o meio ambiental, sendo superado pelo Balanço Social e Ambiental de 2005 quanto ao item 2 (Política ambiental da empresa), pelo Relatório Anual de 2004 no item 4 (Questões ambientais-chave), e pelo item 7 (Dados do setor específico) que foi evidenciado apenas no Balanço Social de 2005. Revela também que os Balanços Sociais apresentam maior diversificação de informações que os relatórios anuais, assim, informações que revelam dados do setor específico (item 7), dados financeiros de custos ambientais (item 8), dados financeiros de passivos-provisões (item 9), dados sobre a quantidade de processos ambientais administrativos e judiciais (item 11) e dados sobre a verificação de auditores (item 13) são encontrados apenas nesses relatórios, conforme Gráfico 1.

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Gráfico 1: Elementos do disclosure

0

20

40

60

80

100

120

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

Elementos

Freq

uenc

ia

BS - 2004 BS - 2005 BS - 2006 RA - 2004 RA - 2005 RA - 2006

Fonte: Os autores

Os itens de evidenciação mais expressivos são 13 e 10, conforme Gráfico 1. Sendo que o item 13, que refere-se a verificação de auditores contábeis, neste sentido a companhia apresenta um grande número de informações, pois apresenta matriz de indicadores no Balanço Patrimonial na qual são listados os itens auditados e revisados por auditores. Esta matriz é uma consolidação dos modelos de relatórios e indicadores social e ambiental (GRI, DJSI, IBS, ETH, IND ETH, CBD). Em 2004 foram listados 45 itens que compõe o Balanço Social sendo que foram revisados pelos auditores 38 itens e 7 itens configuram-se como informações não auditadas ou revisadas. No ano que a companhia passa a fazer parte do ISE (2006) a companhia passa a evidenciar 90 informações listadas na matriz de indicadores, sendo 82 revisadas pelos auditores, 4 não auditadas e 8 auditadas e revisadas.

4.4. Análise do Disclosure Ambiental quanto aos Tipos

A análise do tipo de evidenciação revela que no Balanço Anual de 2004 as informações eram mais do tipo Declarativa (66%) e Quantitativa (22%), já no ano de 2006 a companhia passa a fornecer um maior número de informações do tipo quantitativa/monetária, demonstrando uma maior transparência das atividades relacionadas ao meio ambiente e seu reflexo financeiro para a companhia, de tal maneira que as Informações Declarativas passam a representar 62%, Quantitativas 7% e Quantitativas Monetária 26%, sendo que as informações do tipo Monetária tem pouca expressão neste relatório. Percebe-se, porém, que apesar do Relatório Social e Ambiental também são predominar informações do tipo Declarativas, as informações Monetárias são mais representativas no Balanço Social, principalmente no ano de 2004 e no ano de 2005 são as informações do Tipo: Quantitativa, aparecem com maior freqüência, demonstrando que o Tipo de disclosure diverge nos relatórios, conforme Tabela 3.

Fonte: Os autores

Ano do Relatório

Relatório Anual Balanço Social e Ambiental D Q M Q/M D Q M Q/M

2004 55 18 4 6 184 9 32 14 2005 29 18 2 3 209 36 3 7 2006 36 3 4 15 294 50 14 1

Tabela 3: Tipo de disclosure

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4.5. Análise do Disclosure Ambiental quanto à qualidade

Verifica-se quanto ao conteúdo da evidenciação que a tanto no Relatório Anual quanto no Balanço Social e Ambiental a maioria das informações prestadas são do tipo “Bom”, revelando que a companhia busca evidenciar detalhes específicos em que estes têm um reflexo respeitável ou neutro na companhia. Porém as informações do Tipo: Neutra, aquelas que não revelam detalhes sobre créditos ou descréditos da companhia, vem reduzindo, migrando para informações do Tipo Ruim e Boa no Relatório Social e Ambiental, passando de 9% em 2004 para 6% no ano que a companhia passa a integrar o ISE (ano de 2006), conforme Tabela 4.

Fonte: Os autores Ano do

Relatório Relatório Anual Balanço Social e Ambiental

N B R N B R 2004 22 57 4 22 202 15 2005 12 36 4 10 238 7 2006 7 48 3 20 322 17

Tabela 4: Qualidade do disclosure

Todavia, destaca-se que por meio da análise de conteúdo foi possível perceber que na maioria das vezes que é evidenciado uma informação do Tipo Ruim, nas seqüências posteriores ao anúncio, é informada medidas mitigadoras ou preditivas do tipo Bom.

4.6. Análise do Disclosure Ambiental quanto ao Balanço Social

Por fim, a análise de conteúdo permitiu intensificar a investigação sobre Balanço Social e Ambiental. Esta investigação deve-se ao fato da relevância dada a este relatório pela Companhia para fornecer as informações sobre disclosure ambiental.

Para a Petrobrás o Balanço Social é a prestação de contas da companhia à sociedade sobre sua atuação social e ambiental no Brasil e nos países onde desenvolve atividade. A companhia é signatária desde 2003 do Pacto Global (PG) da Organização das Nações Unidas (ONU), desta forma o relatório está estruturado conforme os 10 Princípios PG. Desses 10 princípios 04 referem-se ao relacionamento da companhia com o meio ambiente, e nos demais a companhia também fornece informações sobre gestão ambiental, porém de forma secundária.

Os relatórios analisados (2004 a 2005) demonstram diversificação de elementos evidenciados, conforme demonstrando no item 4.3., demonstram também que a companhia preocupa-se com padrões internacionais quanto aos seus sistemas de gestão ambiental.

No ano de 2004 todas as unidades no Brasil e no exterior foram certificadas pela ISO14001, OHSAS 18001/BS 8800, em 2005 a companhia possuiu a maioria das unidades certificadas e começa a fazer parte do Comitê Espelho Brasileiro que discute a criação da ISO 26.000. Em 2006 a companhia inicia o processo de articulação para aderir ao World Business Council for Sustainble (WBCSD), confirma sua presença nas discussões sobre a ISO 26.000,

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e obtém certificação ISO 14001 em todas as unidades internacionais e 84% das unidades nacionais. Também é certificada pela OHSAS 18001.

Em 2006, o Balanço Social e Ambiental foi avaliado pelos dirigentes do Pacto Global como uma comunicação notável e um exemplo a ser seguido por outras empresas. A companhia também destaca que o ano de 2006 demonstra o fortalecimento do relatório como ferramenta de gestão. A companhia passa a integrar o Índice de Sustentabilidade Empresarial.

Conforme Petrobras (2006) com foco na objetividade e no dialogo com as diversas partes interessadas, o Balanço Social e Ambiental da Petrobras consolida ao longo dos anos sua Matriz de indicadores, que integra diversos modelos e orientações para a resposta e divulgação de temas referentes à responsabilidade social e ambiental. Neste sentido, constata-se que vários itens que compõe o relatório são revisados e auditados, em 2004 foram 48 itens auditados, em 2005 – 88, e em 2006 – 97.

Porém, quanto ao desempenho na utilização de recursos como água, energia, e quanto ao desempenho na emissão de efluentes e resíduos sólidos, no ano de 2004 o Balanço Social e Ambiental apresenta limitações, quanto ao comparativo de consumo de recursos ou geração de impactos com níveis internacionais e com o histórico da própria companhia. Porém a companhia apresenta os investimentos na área, engajamento com iniciativas globais (como por exemplo, Pacto Global e Créditos de Carbono), estratégias, programas, sistemas de gestão e políticas da companhia em relação a estes itens. Como apresentado no item 4 (Indicadores ambientais) do Balanço Social, em 2004 a companhia não possui metas anuais para minimizar resíduos, consumo geral na produção/operação e aumentar a eficácia na utilização de recursos naturais.

Já nos anos de 2005 e 2006 é demonstrado no item 4 (Indicadores ambientais) do Balanço Social, que a companhia cumpre de 76% a 100% das metas para minimizar resíduos, consumo e melhorar eficiência. Porém, no corpo dos Relatórios, para os aspectos de consumo de recursos naturais e geração de impacto, os parâmetros internacionais de comparação ainda encontram-se ausentes, constando em grande maioria dos dados, o histórico da própria companhia.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo aqui relatado inseriu-se na área de gestão sustentável das organizações, no contexto do reconhecimento da necessidade de transparências das práticas sócio-ambientais, tendo focalizado o disclosure ambiental. A revisão da literatura no contexto da prestação de informações aos investidores quanto às práticas ambientais e quanto ao fórum onde essas informações são demandadas fez com que fosse investigado o seguinte objetivo: buscou traçar o perfil do disclosure ambiental da Petrobrás que participa do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). O perfil foi identificado a partir das evidenciações ambientais quanto ao nível de sustentabilidade (IBOVESPA, 2005), elementos (LINDSTAED, 2007), tipo (GUTHRIE e PETTY, 2000) e qualidade do disclosure (GRAY, KOUHY e LAVERS, 1995b), por meio da técnica de análise de conteúdo das sentenças do Relatório Anual e do Balanço Social e Ambiental (RICHARDSON, 2008). A identificação ocorreu em dois momentos - antes e depois da inserção da companhia no ISE – para verificar se o perfil do disclosure ambiental da Petrobras se alterou a partir da inserção no ISE.

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Os resultados obtidos quanto à freqüência das sentenças evidenciadas revelaram aumento na evidencia, o que confirma a premissa dos autores de que empresas que participam do ISE apresentam melhores níveis de disclosure ambiental.

Sobre os elementos de disclosure ambiental, verificou-se que o elemento mais evidenciado é o item no Balanço Social e Ambiental é “13” que refere-se as auditorias feitas na companhia, já em relação ao Relatório Anual o item mais evidencia é o “10”que refere-se aos investimentos.

Quanto ao tipo de disclosure, constatou-se que em 2004 tanto no Relatório Anual quanto no Balanço Social a companhia evidenciava principalmente “Declarativas”, e no ano de 2006, ano que passa a integrar o ISE, a companhia aumenta informacoes “Quantitativas/Monetárias” no Relatório Anual, e “Quantitativas” no Balanço Social e Ambiental. Acredita-se que essa mudança no perfil do tipo de disclosure está relacionado à preocupação das companhia em informar aos stakeholder os investimentos que alocou para a manutenção e/ou aumento das práticas sócio-ambientais.

A última característica investigada por essa pesquisa buscou analisar a qualidade do disclosure ambiental e obteve como resultado a constatação de que a classificação mais evidenciada foi a do tipo “Bom”, o que reflete a prática de ações positivas frente às questões referentes ao relacionamento da companhia com o meio ambiente. Porém, no ano de 2006 a companhia diminui informações do tipo “Neutro” e aumenta informações do tipo “Ruim”, sendo que ao prestar informações deste tipo, a companhia busca evidenciar medidas mitigadoras ou preditivas.

Adicionalmente, os autores procederam à leitura dos resultados gerados, apresentados em termos da interpretação à luz do arcabouço metodológico selecionado (em função de ter sido o mais utilizado na literatura investigada) neste artigo. A leitura aponta a existência de necessidade de reflexão no aspecto da qualidade do disclosure ambiental por admitir apenas três estágios de classificação: “Neutro”, “Bom” e “Ruim”. Nesta visão, a divulgação de investimentos ambientais vultuosos de uma determinada organização, por exemplo, estarão classificados como “Bom”, e intenções de melhoria de processo ou de projetos de educação que não despendam de tanto recursos ou que não representam o mesmo benefício ambiental, recebem a mesma classificação. Acontecendo de maneira semelhante para aspectos ruins, que, por exemplo, vão classificar com o mesmo peso uma divulgação sobre desastre ambiental que acarreta contingência de milhões de reais, com uma notícia de um possível processo administrativo que pode não ocorrer e, caso ocorra, os prejuízos financeiros e ambientais serão infinitamente menores.

A relevância da pesquisa pode ser argumentada em termos das (i) contribuições teóricas – propiciar conhecimento quanto à investigação do perfil de disclosure ambiental a partir do framework metodológico selecionado; e (ii) gerenciais – oferecer informações reais aos stakeholders quando à postura da Petrobras voltada à questão sócio-ambiental e aos fundamentos de ética e governança corporativa. Conclui-se que existem outros fatores que explicam a maior preocupação da companhia quando ao disclosure ambiental, além de seu ingresso no ISE; entretanto, os autores reconhecem que empresas que participam do ISE, como a Petrobrás, consideram tal prática de fundamental importância para sua gestão sustentável empresarial.

Embora os autores reconheçam que seus objetivos tenham sido atingidos, as mesmas reforçam a necessidade de se continuar pesquisando sobre o assunto. Para tanto, recomendam-

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se: (i) verificar quais fatores que explicam e que influenciam as divergências de informações sobre o Tipo de disclosure ambiental entre o Relatório Anual e o Balanço Social e Ambiental; (ii) promover analise de evolução do Balanço Social apresentado no modelo IBASE; e (iii)análise dos fatores que influenciam o disclosure e que são influenciados pelo disclosure.

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