pereira, k. tecnologia na educação: projeto jornal na escola

43
1 SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – SEED/MEC UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE PROGRAMA DE FORMAÇÃO CONTINUADA EM MÍDIAS NA EDUCAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MÍDIAS NA EDUCAÇÃO KELEN CRISTINA PEREIRA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO: PROJETO JORNAL NA ESCOLA UMA VISÃO INTERDISCIPLINAR LAGES 2010

Upload: vutu

Post on 07-Jan-2017

225 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

1

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – SEED/MEC

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE

PROGRAMA DE FORMAÇÃO CONTINUADA EM MÍDIAS NA EDUCAÇÃO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MÍDIAS NA EDUCAÇÃO

KELEN CRISTINA PEREIRA

TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO: PROJETO JORNAL NA ESCOLA

UMA VISÃO INTERDISCIPLINAR

LAGES

2010

Page 2: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

2

KELEN CRISTINA PEREIRA

TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO: PROJETO JORNAL NA ESCOLA

UMA VISÃO INTERDISCIPLINAR

Monografia apresentada à Universidade do Rio Grande – URG, Programa de Formação Continuada em Mídias na Educação – como requisito para a obtenção do título de Especialização em Mídias na Educação.

Orientador: Prof. Dr. Décio Bittencourt Dolci.

LAGES

2010

Page 3: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

3

AGRADECIMENTO

A Deus,

Ao meu esposo

Aos meus pais,

A minha filha Yasmin

À Prof Dr Décio Bittencourt Dolci

A todos os professores do curso de especialização em Mídias da Educação.

Aos componentes de minha banca examinadora, por aceitarem colaborar e lançar outros

olhares sobre este trabalho, em especial à Mª Simone Ostrowski pela disponibilidade, pelo

bom senso, seriedade, pelas pontuações e observações que enriqueceram o trabalho.

Agradeço a todas sujeitos dessa pesquisa, fonte inesgotável de aprendizados múltiplos, pela

confiança e por acreditarem neste trabalho.

À Instituição

Aos colegas de trabalho, pelo estímulo e solidariedade, sempre.

A todos que, mesmo não citados aqui, foram importantes e, de uma ou outra forma,

indispensáveis para a conclusão deste trabalho.

Page 4: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

4

A informação é o primeiro passo para o conhecimento.

Conhecer é relacionar, integrar, fazer nosso o que vem de fora.

Conhecer é saber, é desvendar, é ir além da superfície, do

previsível, da exterioridade.

Conhecer é aprofundar os níveis de descoberta, é penetrar mais

fundo nas coisas, na realidade, no interior.

Conhecer é conseguir chegar a um nível da sabedoria, da

integração total, da percepção da grande síntese, que se consegue

ao comunicar-se com uma nova visão do mundo, das pessoas e

com o mergulho profundo no nosso eu. O conhecimento se dá no

processo rico de interação externo e interno.

Pela comunicação aberta e confiante desenvolvemos contínuos e

inesgotáveis processo de aprofundamento dos níveis de

conhecimento pessoal, comunitário e social.

(MORAN, 2006, p. 25)

Page 5: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

5

RESUMO

A demanda do uso da informática está se expandindo rapidamente a ponto de representar um

dos maiores acontecimentos da época. A integração do computador ao processo educacional

depende da atuação do professor e do Projeto Pedagógico da escola. Neste sentido,

desenvolveu-se o presente trabalho de pesquisa, partindo do pressuposto de que a introdução

muito rápida do computador na escola sem uma profunda reflexão sobre sua finalidade, sem a

aquisição de um bom domínio do instrumento pelo professor acaba por provocar um efeito

contrário ao esperado (incompreensão e sobrecarga). Assim, primeiramente, realizou-se um

estudo teórico a respeito das contribuições que o computador pode trazer a prática educativa

de modo geral. Após, desenvolveu-se uma prática usando o laboratório de informática da

Escola Municipal de Educação Básica Mutirão, a elaboração de um jornal na Escola. A

abordagem de diversos conteúdos curriculares para a elaboração do jornal no laboratório de

informática revelou alguns aspectos que devem ser observados para que o computador

realmente se torne um instrumento pedagógico que possibilite ao professor mudar sua

maneira de lecionar no sentido de tornar as aulas mais agradáveis e garantir a efetivação da

aprendizagem.

Palavras-chave: Educação. Laboratório de informática. Jornal. Aprendizagem.

Page 6: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

6

ABSTRACT

Demand for information technology is expanding rapidly enough to represent one of the

biggest events of the era. The integration of the computer to the educational process depends

on the teacher's pedagogical project and school. In this sense on the assumption that the

introduction of very fast computers at school without a deep reflection on its purpose, without

acquiring a good command of the instrument by the teacher eventually cause an effect

opposite to that expected (incomprehension and overhead) through this monograph intends to

conduct a study about the contributions that the computer can bring to educational practice in

general and in the sequence, we report a practice developed in the computer lab of the School

of Basic Education Effort. In this sense, by addressing various curricula for the preparation of

a newspaper in the computer lab was possible to highlight some aspects that must be observed

so that the teacher to change their way of teaching in order to make lessons more enjoyable

and to ensure effective learning.

Key words: Education. Computer lab. Journal. Learning.

Page 7: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 08

1.1 Problemática 08

1.2 Objetivos da Pesquisa 10

1.3 Estrutura do trabalho 10

2REFERENCIAL TEÓRICO 11

2.1 A Tecnologia na Educação 11

2.2 Vantagem do computador e da internet em relação a outros recursos 19

3METODOLOGIA 24

3.1 Conhecendo o campo de Intervenção 25

3.1.1 Histórico 26

3.1.2 Realidade da escola no contexto social 26

3.1.3 Plano de ação da EMEB Mutirão 27

3.2 Sujeitos que participaram do projeto jornal 27

3.3 O Projeto Explorer da rede pública municipal de ensino de Lages/SC 28

4 RESULTADOS 30

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 40

REFERÊNCIAS 42

Page 8: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

8

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, são muitas as discussões acerca do tema TECNOLOGIAS e

EDUCAÇÃO. Neste contexto, a escola torna-se muito importante para a ampliação, revisão e

reformulação das noções dos processos de construção da aprendizagem dos sujeitos que estão

inseridos em uma sociedade em que o principal eixo norteador vem sendo a informação

tecnológica. É neste enredo que suscita-se a necessidade de compreender as tecnologias e a

ação humana sobre esta, assim como Dowbor (2000) descreve o relato de uma humanidade

despreparada para as tecnologias:

Terminada a última guerra mundial foi encontrada, num campo de concentração nazista, a seguinte mensagem dirigida aos professores: Prezado Professor, Sou sobrevivente de um campo de concentração. Meus olhos viram o que nenhum homem deveria ver. Câmaras de gás construídas por engenheiros formados. Crianças envenenadas por médicos diplomados. Recém-nascidos mortos por enfermeiras treinadas. Mulheres e bebês fuzilados e queimados por graduados de colégio e universidades. Assim, tenho minhas suspeitas sobre a Educação. Meu pedido é ajude seus alunos a tornarem-se humanos. Seus esforços nunca deverão produzir monstros treinados ou psicopatas hábeis. Ler, escrever e aritmética só são importantes para fazer nossas crianças mais humanas. As tecnologias são importantes, mas apenas se soubermos utilizá-las. E saber utilizá-las não é apenas um problema técnico. (DOWBOR,2000,P,45)

Contudo é necessário considerar que a sociedade está vivenciando um momento

histórico em que o ser humano descobre outras formas de interação. Essas interações têm-se

manifestado também pelo uso das tecnologias, em especial o uso do computador nas escolas,

sejam elas privadas ou públicas.

1.1 Problemática

Sabe-se que os textos escritos não são apenas o que o escritor quer dizer, mas

também a atribuição de significados por parte de quem lê. Conforme Haetinger (1998,P,23)

Page 9: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

9

“A modernização do mundo nos últimos 30 anos superou as mudanças ocorridas ao longo dos

milênios. A revolução da informação e o fenômeno da globalização tornaram-nos, realmente,

índios da mesma aldeia global”. Nossos alunos têm um volume cada vez maior de

informações à sua disposição, através da televisão, rádio, internet, vídeo, etc. Essas

informações são acompanhadas por uma tecnologia capaz de transmitir simultaneamente para

todo o mundo civilizado. Claro que nessa realidade, o professor muitas vezes não tem tempo

para acompanhar esse rápido desenvolvimento. Em alguns momentos, corre-se o risco de

estar falando outra língua na sala de aula.

Neste sentido, como na prática se constata que atualmente um dos grandes

problemas encontrados pelos professores é a falta de planejamento para o uso das tecnologias

da informação na sua prática pedagógica, questiona-se: como é utilizado o computador na

escola? os professores utilizam o computador no desenvolvimento das ? Como os professores

desenvolvem conteúdos curriculares utilizando o computador e a internet como ferramentas

pedagógicas?

No intuito de encontrar respostas para estes questionamentos, não se tem a pretensão

de contemplar todas as questões, trata-se de uma pesquisa concisa sobre o assunto. A idéia de

desenvolver o projeto jornal na escola surgiu da observação por parte de alguns professores ao

constatar a dificuldade de vários alunos na produção e reestruturação de textos, bem como na

leitura e escrita como sendo base fundamental para um bom desempenho na aprendizagem,

onde se verificou um baixo rendimento escolar. Trocou-se muitas idéias entre os professores;

e o projeto que estava no papel surgiu com força total, assim, a partir da necessidade na

elaboração de textos em diversos temas, através da realização deste projeto procurou-se

oportunizar momentos de produção e reestruturação textual em todas as disciplinas.

Percebeu-se que o cenário perfeito para atrair, estimular, motivar os alunos dentro do

contexto escolar foi as aulas de informática, onde este projeto pode se concretizar. Sabe-se

que os meios de comunicação estão ganhando espaços cada vez maiores em nossa sociedade,

é ai que entra o papel fundamental da educação: trabalhar essas novas tecnologias a favor do

aprendizado dos alunos sempre procurando atualizações que garantindo um bom desempenho

na elaboração e realização das aulas, oportunize uma aprendizagem significativa.

Diante desse conjunto de percepções, definiram-se os objetivos da pesquisa,

apresentados a seguir.

Page 10: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

10

1.2 Objetivos da Pesquisa

Apresenta-se como objetivo geral da presente pesquisa: analisar a inserção do jornal

na escola como meio de obter a interdisciplinaridade. No sentido de atingir o objetivo geral,

traçaram-se alguns objetivos específicos com vistas a ajudar a conclusão desse estudo:

• Conhecer aspectos do projeto desenvolvido na escola com a utilização do

jornal.

• Produzir trabalhos e textos interdisciplinares a partir das aulas de informática

• Identificar trabalhos propiciados pelo jornal.

• Analisar práticas vivenciadas no laboratório de informática.

1.3 Estrutura do trabalho

O estudo está estruturado em quatro capítulos, a saber: no primeiro, apresenta-se a

delimitação do tema e os objetivos; no segundo, desenvolve-se um aprofundamento teórico a

respeito da presença das tecnologias na educação destacando as contribuições da utilização do

computador e da internet como recursos didático pedagógico; no terceiro, descrevem-se

aspectos metodológicos da pesquisa; no quarto, têm-se os resultados, abordando o

desenvolvimento da produção do jornal durante as aulas de informática em parceria com as

atividades desenvolvidas na sala de aula e no quinto e último capítulo, faz-se a conclusão que

os conhecimentos adquiridos durante a pesquisa bibliográfica e as firmações obtidas através

da vivencia do projeto de produção do jornal permitiram chegar.

Page 11: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

11

2 REFERENCIAL TEÓRICO

No intuito de aprofundar os conhecimentos para fundamentar a execução do projeto

jornal na Escola Municipal de Educação Básica Mutirão, neste capítulo apresenta-se o estudo

teórico realizado a respeito das contribuições que as tecnologias de informação podem trazer a

prática educativa escolar, para que se tornem um instrumento pedagógico que possibilite ao

professor mudar sua maneira de lecionar no sentido de tornar as aulas mais agradáveis e

garantir a efetivação da aprendizagem.

2.1 A Tecnologia na Educação

As mudanças no processo educacional, não só no Brasil, mas em todo mundo, são

imperativas. Os processos utilizados já não atendem mais às condições de aprendizagem do

homem moderno, caracterizada pela necessidade de independência na busca de informações e

construção do conhecimento, imposta pelas rápidas mudanças sócio-culturais e tecnológicas a

que está submetido.

Não se trata de pensar o ensino da informática, mas como fazer uso do mesmo, na

educação. Na verdade todos aqueles que trabalham em educação tem opinião sobre as

conveniências ou sobre o absurdo político econômico que sua implantação traz. Muitos têm

dúvidas. Nem imaginam o que se pode fazer com o computador dentro da escola. E entre

alguns destes, estão os profissionais sem opinião formada, não questionam o que um aluno

fará com este objeto de ampla modernidade tecnológica.

De várias maneiras, a informática está reencenando a revolução causada pela tecnologia primordial da imprensa, que teve um efeito profundo nas sociedades humanas. Ser capaz de ler e escrever mudou o modo como as pessoas eram capazes de pensar sobre as coisas, já que a palavra escrita pode ser usada repetidas vezes e pode comunicar muito tempo após ter sido produzida. Não é apenas uma questão de adquirir a habilidade de ler e escrever. Dominar a tecnologia da escrita traz uma nova mentalidade, uma nova maneira de considerar algo (ARMSTRONG & CASEMENT, 2001, p. 22).

Page 12: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

12

É de fundamental importância, no caminho da formação da competência do

professor, a busca do conhecimento do que já se produz em outros países nesta área para se

analisar criticamente seus resultados, não correndo nos erros e sim considerar e aproveitar

seus acertos.

A Proposta Curricular de Santa Catarina (1998) leva o professor e a escola a uma

responsabilidade que supera as barreiras da escola, não é somente um Projeto Político

Pedagógico, que modifica o sistema de ensino, mas toda uma infra-estrutura que necessita de

investimentos e projetos elaborados para instruir os educadores.

De acordo com Almeida (1988, p. 35):

O ingresso da educação na informática não se deve apenas à boa vontade deste ou daquele educador ou do caráter progressista de determinado governo. Desde uma ótica mais abrangente, sua utilização na educação, como nos demais setores da sociedade, se deve a um projeto organizativo de uma classe social, sua proprietária. É dela todo o aparato tecnológico da informática e é dela todo o domínio de sua tecnologia.

Na verdade, a introdução da informática segundo a proposta de mudança pedagógica,

como consta no programa brasileiro, exige uma formação bastante ampla e profunda do

professor.

Quando as crianças aprendem a usar o computador, elas não estão apenas aprendendo uma técnica, e sim mudando suas próprias relações com o mundo ao seu redor. A maneira como as informações são acessadas, a maneira como são apresentadas, os modos pelos quais podem ser manipuladas, todos alteram as percepções que as crianças têm a respeito do saber e do fazer. O uso dos computadores altera a percepção de uma forma radicalmente diferente da escrita, pois é, de várias maneiras, diametralmente oposto aos seus efeitos. Diferentemente da escrita, que encoraja a reflexão e uma consideração cuidadosa de vários pontos de vista, os programas de computador exigem ação imediata (ARMSTRONG & CASEMENT, 2001, p.22-23).

Com o uso do computador pode-se desenvolver um conjunto de atividades com

interesse didático – pedagógico, onde exigirá uma nova postura do professor, que poderá fazer

“coisas” e pedagogicamente importantes que não se pode realizar de outras maneiras. E a

escola passa a ser um lugar mais interessante. O ensino já avançou muito em relação a anos

Page 13: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

13

passados, mas ainda existe restrição ao citarmos a educação paralela com a informática

principalmente nas séries iniciais do Ensino Fundamental, porque na maioria dos

estabelecimentos de ensino público não há laboratórios de informática e os que têm não

sabem usufruir dessa tecnologia que esta ocupando lugar na sociedade. O governo não

especializa os professores para trabalharem com seus alunos, ao mesmo tempo, esses

professores ficam acomodados sem exigir das autoridades essa tecnologia que ajudaria muito

no aprendizado do aluno.

O uso da informática, de forma positiva dentro de um ambiente educacional, irá variar de acordo com a proposta que está sendo utilizada em cada caso e com a dedicação dos profissionais envolvidos, ..., os alunos ganham autonomia nos trabalhos, podendo desenvolver boa parte das atividades sozinhos, de acordo com suas características pessoais, atendendo de forma mais nítida ao aprendizado individualizado (TAJRA, 2000, p. 45).

A incorporação do computador no contexto educacional de forma positiva oferece

vantagens sobre os demais instrumentos, porque ele é um recurso audiovisual, atraindo a

atenção do aluno, repete também a mesma explicação quantas vezes o aluno desejar, isso faz

com que ele se sinta motivado a usar este instrumento. Muitos conceitos curriculares tornam-

se mais visíveis quando o aluno observa na tela do computador e muito mais efetivo pela

rapidez com que o feedback é fornecido ao aluno. O computador pode ser programado para

apresentar situações cada vez mais difíceis aos alunos, isso de acordo com a capacidade dos

mesmos, sendo que muitas vezes eles mesmos conseguem descobrir novos meios de resolver

situações propostas pelo programa, e com isso se tornar uma máquina didática muito útil ao

professor, que como destaca Lévy (1997, p. 56), difere de muitos outros recursos didáticos

pelas seguintes características:

A informática não intervém apenas na ecologia cognitiva, mas também nos processos de subjetivação individuais e coletivos (...). Há toda uma dimensão estética ou artística na concepção das máquinas ou dos programas, aquela que suscita o envolvimento emocional, estimula o desejo de explorar novos territórios existenciais e cognitivos, conecta o computador a movimentos culturais, revoltas, sonhos.

Portanto, o computador é uma máquina cotidiana, útil, apropriada e porque não dizer

motivadora? O professor deve deixar de lado seus anseios, angustias em relação ao

Page 14: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

14

computador, porque ele e seus programas são essenciais para a educação, na medida em que

pode contribuir no sentido de tornar o processo educativo mais atraente e produtivo para

alunos de todas as idades. Seus horizontes intelectuais não mais estarão limitados aos recursos

da escola ou ao conhecimento de seus professores, e na medida em que o computador oferecer

subsídios para o aluno pensar para chegar a determinado resultado, o professor perceberá que

o uso do computador é um grande recurso para o desenvolvimento da aprendizagem do aluno.

Pois, a evolução tecnológica que culminou com o surgimento dos computadores e da Rede

Mundial de Computadores – Internet, assim como toda a tecnologia da informação, veio

acelerar o processo de globalização envolvendo o aprendizado. A cultura de outros países

entra na sociedade brasileira de forma rápida, da mesma forma, é possível divulgar nossa

cultura, nossa produção educacional e intelectual mais facilmente. É neste contexto, que os

educadores precisam discutir qual a importância, o impacto, e como este meio globalizado

pode influenciar e ser aproveitado na educação, onde vem ajudar a sanar as dificuldades de

aprendizagem do aluno em sala de aula e também na sociedade. Por outro lado, essa mesma

troca de informações deve acontecer entre países, permitindo saber que a informática está

sendo usada em escolas do mundo todo, o que evidenciando seus possíveis benefícios para a

educação.

Com a utilização do computador nesta sociedade da informação, é necessária a

inclusão das tecnologias educacionais no cotidiano escolar. De acordo com Litto (1993, p. 9-

10):

O computador tem um papel importante no armazenamento das informações, já que estamos em uma sociedade onde é preciso sobreviver com a informação sendo o bem mais importante e nem sempre ao alcance das mãos. A escola deve ensinar o estudante como pensar claramente, como se expressar, (seja no papel ou no computador), como procurar as informações corretamente e como tomar decisões inteligentemente, ou seja, saber que já acumulou informações suficientes para tal.

A partir desta compreensão, o aprendizado da máquina ou de softwares específicos

deve ser feito ao mesmo tempo em que trabalha-se processos de raciocínio e os conteúdos no

software. Por exemplo, como ensinar alguém a obter um gráfico de barras na planilha

eletrônica, se ele não tem idéia do que seja um gráfico de freqüência como é o de barras? O

aluno estará aprendendo apenas o algoritmo de como obter o gráfico, como apertar botões,

que ele não conhece.

Page 15: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

15

Seria mais interessante, do ponto de vista educacional, se ele compreendesse o que é

um gráfico de freqüência, ao mesmo tempo em que ele aprendesse a usar a planilha. O uso da

informática como instrumento pedagógico, parece-nos uma discussão mais importante,

porque antes de nos colocarmos contra ou a favor do uso de algum material didático-

tecnológico na educação, é preciso ter noção do seu potencial, assim como dos possíveis usos

como recurso pedagógico.

Quando decidimos que a tecnologia informativa vai ser incorporada em nossa prática, temos que, necessariamente, rever a relevância da utilização de tudo o mais que se encontra disponível. Certamente, ao fazermos nossas opções, corremos o risco de deixar de lado certas coisas que julgávamos importante. Mas, aqui, novamente, é preciso considerar qual é o objetivo da atividade que queremos realizar e saber se ela não pode ser desenvolvida com maior qualidade pelo uso, por exemplo, de um software específico. Não significa que vamos abandonar as outras mídias, mas temos que refletir sobre sua adequação (BORBA & PENTEADO, 2001, p. 62).

Um sentimento comum de que é preciso resolver primeiro os problemas básicos para

depois cuidar da informatização. Este pensamento perde sua validade quando se observa na

prática que dois dos maiores projetos do governo federal desenvolvidos nas últimas décadas

para a educação envolvem tecnologias da informação: Vídeo com antena parabólica em todas

as escolas, onde já foram investidos grandes recursos, e um programa ainda mais caro de

informática na Educação (Mec/Seed-1996). Alunos com três horas de atividade por semana

com computadores (alunos ativos em um grupo pequeno e ambiente confortável) podem ter

qualitativamente muito mais impacto do que períodos de tempo maiores em situação precária

de sala de aula comum.

É importante dar-se conta de que na sociedade moderna, "a pedagogia das certezas está sendo substituída por uma pedagogia do problema", onde o saber pré-fixado cede lugar à busca da informação para a construção contínua do conhecimento. É nesse contexto que o computador deve ser inserido na Educação. Uma ferramenta da sociedade tecnológica que pode ser usada para auxiliar a condução do aluno na busca prazerosa da descoberta. E o novo papel do professor é mostrar ao aluno que ele pode descobrir. O objeto de aprendizagem é um instrumento que trás novas possibilidades no desenvolvimento de material a ser usado na educação a distância. A aplicação dos conceitos de modularização e reutilização, tornam mais fáceis a atualização de conteúdos de materiais didáticos, reduzindo tempo e custo de desenvolvimento, testes, documentação e manutenção. MEC (2007).

Alguns entusiasmados defensores da Informática Educativa parecem esquecer que

Page 16: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

16

Educação será sempre o substantivo e informática apenas um dos seus adjetivos, tornando-se

transparente, um elemento de fundo, que não parece muito quando funciona bem. É

importante sublinhar que as expectativas e teorias feitas no primeiro mundo, embora ensinem

algumas lições, nem sempre são bons guias para a situação da escola pública brasileira, com

necessidades, história, características culturais, econômicas e sociais bem diversas. Num país

onde muitos professores ainda possuem uma visão limitada a ponto de comparar a mídia dos

computadores como máquinas “pensantes”, com inteligência artificial, lembra as visões

ingênuas que se tinha a tempos atrás, na era inicial do cinema em que as platéias tinham medo

dos filmes de trens que se aproximavam. Mas felizmente, com o passar do tempo os mitos vão

se desfazendo e as perspectivas e horizontes se consolidando.

O computador, embora nascido de uma dada civilização e para solucionar dados problemas, hoje é um patrimônio transcultural. A absorção crítica de sua utilização na educação deve ser procedida de análises das questões mais radicais que afligem esta dimensão da cultura brasileira. Como tarefa dos educadores, cumpre desenvolver uma pedagogia do uso crítico da informática na educação. Um desafio. (ALMEIDA, 1988, p. 52).

É nesse sentido que a discussão sobre informática na educação deve ser

compreendida. O acesso à informática deve ser visto como um direito e, portanto, nas escolas

públicas e particulares o estudante deve poder usufruir de uma educação que no momento

atual inclua, no mínimo, uma “alfabetização tecnológica”. Tal alfabetização deve ser não

como um curso de informática, mas, sim, como se aprende a ler, escrever, compreender

textos, entender gráficos, contar, desenvolver noções espaciais etc. E, nesse sentido, a

informática na escola passa a ser parte da resposta a questões ligadas à cidadania.

Enfatizam ainda Borba & Penteado:

... o acesso à informática na educação deve ser visto não apenas como um direito, mas como parte de um projeto coletivo que prevê a democratização de acessos a tecnologias desenvolvidas por essa mesma sociedade. É dessas duas formas que a informática na educação deve ser justificada: alfabetização tecnológica e direito ao acesso. (BORBA & PENTEADO. 2001, p.17)

A prática pedagógica estimula a utilização de problemas abertos, que incentivam um

processo de investigação por parte de alunos e, muitas vezes, do próprio professor. Dessa

Page 17: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

17

forma, busca-se superar práticas antigas com a chegada desse novo ator informático. Tal

prática está também em harmonia com uma visão de construção de conhecimento que

privilegia o processo e não o produto-resultado em sala de aula, e com uma postura onde a

solução sempre depende do sujeito.

De acordo com Marques, Mattos e Taille (1986), Piaget buscou compreender os

mecanismos de aquisição de conhecimentos, que ocorrem diante toda a vida. Foi a partir de

suas reflexões e de suas experiências com crianças que chegou a conclusão de que o ser

humano constrói seu conhecimento. Ou seja, o conhecimento se dá devido a uma interação de

indivíduo com o meio físico e social. Ele só acontece na medida em que o sujeito age sobre o

objeto de conhecimento (que pode ser uma coisa, uma idéia ou uma pessoa) e sofre uma ação

deste objeto, ação esta que pode ser na forma uma resistência do objeto à ação do sujeito. Esta

ação é, no caso da criança pequena, a ação prática de mexer com objetos. Já em crianças

maiores, adolescentes e adultos, esta ação passa a ser também o fato de raciocinar, duvidar,

comparar. Trata-se, neste caso, de ações mentais. E tem mais. O conhecimento objetivo só

acontece quando o sujeito enfrentar várias situações diferenciadas de interação com o seu

meio, não somente com o objeto que ele quer conhecer.

O uso de repositórios de objetos de aprendizagem, devidamente identificados e catalogados, disponibiliza recursos didáticos, que podem ser compartilhados em qualquer parte do mundo que tenha acesso à Internet, usados em mais de uma situação e para objetivos diversos, e tornam o desenvolvimento de cursos, tutoriais e outras opções de ensino-aprendizagem, mais dinâmicos e mais simples de serem mantidos atualizados. Mas todas essas vantagens dependem de um adequado uso dos instrumentos em questão.

MEC (2007).

Quando o professor passa a ter esta compreensão do ato de conhecer do aluno, sua

postura diante do fato educativo passa a ser completamente diferente, isto é, sua postura ao

currículo, à avaliação aos erros cometidos pelos alunos, às metodologias e aos recursos

empregados como auxílio na aprendizagem.

As crianças parecem, ser aprendizes inatos. Bem antes de irem à Escola elas já

apresentam uma vasta gama de conhecimentos que foram adquiridos por um processo

“aprendizado sem ensino”. Por exemplo, aprender a falar, aprendera geometria intuitiva

necessária para se deslocar no espaço, e aprender lógica e retórica suficiente para conviver

com os pais – tudo isso sem terem “assinados”.

Page 18: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

18

Marques, Mattos e Taille (1986) vêem a sala de aula como um ambiente de

aprendizado artificial e ineficiente que a sociedade foi forçada a inventar, porque este

ambiente informal de aprendizado mostra-se inadequado para a aprendizagem de domínio

importante do conhecimento, como a escrita, gramática ou matemática escolar. Ele acredita

que a presença do computador permitirá mudar, o ambiente de aprendizagem de tal forma que

todo o programa que as escolas tentam atualmente ensinar com grandes dificuldades, despesas

e limitado sucesso, será aprendido como a criança aprende a falar, menos dolorosamente, com

êxito e sem instrução organizada.

A adoção do computador como mais um instrumento na metodologia de ensino implicará, certamente, algumas modificações neste ensino. O conteúdo das disciplinas não será mais transmitido apenas pelo método tradicional (entendendo tradicional como o que se fazia até então) e algumas atividades serão transferidas ou substituídas por outras no computador. (MARQUES, MATTOS e TAILLE, 1986, p. 40).

Isso implica, obviamente, que escolas como as que conhecemos hoje, não terão lugar

no futuro. Entretanto, se as escolas se adaptarão transformando-se em algo novo ou se

simplesmente decairão e serão substituídas, é uma questão em aberto.

A utilização do computador como enfoque social provoca um desconhecimento por parte dos alunos em relacionar as ferramentas tecnológicas aprendidas com suas atividades cotidianas. Por exemplo: um aluno aprende a utilizar o sistema operacional, editor de texto, planilha eletrônica ou outro aplicativo, entretanto não consegue relacionar essas ferramentas com a sua vida; eles não conseguem visualizar o computador como um aliado para suas atividades básicas e rotineiras (TAJRA, 2000, p. 44).

As vantagens do uso do computador como recurso na aprendizagem estão vinculadas

á forma como o mesmo é utilizado. No entanto, esta utilização é determinada em grande parte

pela filosofia de educação dos educadores que vão empregá-lo como um instrumento didático

no processo ensino-aprendizagem.

A prática indicada é a conciliação dos enfoques pedagógicos e social; portanto, ao elaborar o plano de curso com a utilização da informática, deverá ser previsto um momento em que sejam repassadas algumas

Page 19: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

19

orientações tecnológicas básicas associadas às orientações pedagógicas (TAJRA, 2000, p. 44).

O uso do computador como instrumento de ensino traz a vantagem de possibilitar a

introdução de praticamente qualquer área do currículo, em qualquer momento do processo

ensino-aprendizagem. Além disto, o computador, por características que lhe são próprias,

apresenta algumas vantagens sobre outros instrumentos didáticos em muitas situações de

ensino, e, em cada etapa do processo ensino-aprendizagem.

2.2 Vantagem do computador e da internet em relação a outros recursos

“A revolução audiovisual foi perdida, não percamos a da Informática” (VINCENT,

1991, p. 821).

De fato, o audiovisual foi percebido inicialmente como um novo modo de ensino,

permitindo uma transmissão mais atrativa de um saber. Rapidamente, ele se tornou uma “tela

tecnológica” entre o professor e seus alunos. Por melhores que sejam as qualidades

pedagógicas do orador, um curso televisionado não pode ser interrompido para se fazer

perguntas. Claro que domínio do audiovisual não se limita a isto, mas o material utilizado é,

antes de tudo, um meio de comunicação em sentido único, salvo talvez para os cursos de

línguas.

Existe uma diferença fundamental entre informática e audiovisual. O audiovisual

mostra ao indivíduo uma dimensão do mundo que ele já conhece. O material por si só não é

autônomo. Filmar é olhar o mundo através de uma câmara, deslocando-se com ela. Praticar a

informática obriga o indivíduo a se projetar ao exterior, a imaginar.

O ganho do computador em relação aos demais recursos tecnológicos, no âmbito educacional, está relacionado à sua característica de interatividade, à sua grande possibilidade de ser um instrumento que pode ser utilizado para facilitar a aprendizagem individualizada, visto que ele só executa o que ordenamos; portanto, limita-se aos nossos potenciais e anseios. (TAJRA, 2000, p. 33).

A utilização do computador num processo de aprendizagem se caracteriza pela

Page 20: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

20

expressão “praticar a pedagogia informática”, na qual a palavra informática é apenas adjetivo.

A escolha de um sistema informático depende dos objetivos, dos alvos do professor,

e, da população que vai utilizá-lo.

Os usos do computador, precedentemente definidos em relação á palavra pedagogia,

podem ser catalogados também em função da palavra informática, distinguindo a

aprendizagem PELA e a aprendizagem DA informática.

PELA prática da informática, o aluno (o grupo) adquire métodos e técnicas que pode

transpor para outras disciplinas. PELA utilização de um sistema informático, o aluno adquire

ou verifica modelos de pensamento, num contexto de resolução de problemas, ou de

comunicação, produzida pela presença de um sistema informático motivador.

O computador é o melhor instrumento para se praticar a aprendizagem, pois o aluno

não é um utilizador passivo, ele se tornou um construtor ativo.

O computador é uma máquina que possibilita a interatividade em tempo real. O conceito básico de diferenciação dessa máquina em ralação às demais, também, se dá por conta do seu próprio sistema de funcionamento: entrada, processamento e saída de informações – sistema do qual nenhuma outra máquina dispõe (TAJRA, 2000, p. 34).

Entre as características do computador que lhe conferem vantagens sobre os demais

instrumentos, Marques, Mattos e Taille (1986, p. 35-36) citam as seguintes:

- é um recurso audiovisual superior por ser interativo. Neste sentido, pode solicitar e

responder às intervenções do aluno, evitando que este permaneça passivo e,

conseqüentemente, que se disperse para outros aspectos não relevantes da situação;

- além de ser um recurso audiovisual interativo, o computador possui a vantagem de

poder obedecer ao ritmo próprio de cada aluno, por exemplo, repetindo uma mesma

explicação o número de vezes que o aluno desejar, ou, esperando o tempo que for necessário

por uma resposta do aluno;

- permite um ensino individualizado, ou seja, leva em consideração o fato de que as

crianças são todas diferentes uma das outras e apresentam características próprias: grau de

inteligência, manifestação de temperamento e outros;

- o aluno é autônomo, o que significa que o indivíduo é a fonte e a sede de resolução

Page 21: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

21

de problemas de seus próprios problemas;

- outro ponto positivo a ser ressaltado é a prontidão com que o aluno recebe o

feedback às suas intervenções. Desta forma, ao trabalhar com um determinado conteúdo,

digamos, por exemplo, fixação da ortografia de determinadas palavras, o aluno tem uma

avaliação imediata sobre aquelas que precisa exercitar mais para um completo domínio do

assunto.

Estas características que fazem do computador um interlocutor totalmente diverso

daqueles com os quais o aluno se relaciona habitualmente, podem talvez ser responsabilizados

pelo alto grau de motivação, por parte dos alunos, em usar o instrumento sempre que possível.

Isto porque, mesmo já tendo tido algum contato com o computador, os alunos continuam

predispostos a novos contatos. A motivação é extremamente importante para qualquer

aprendizagem, pois, sem ela, é pouco provável que a atenção do indivíduo esteja voltada para

o que deve aprender. Portanto, a motivação aliada a outros pontos positivos do computador,

pode contribuir significativamente para o processo ensino-aprendizagem.

O computador pode ser um instrumento auxiliar extremamente útil ao professor nas duas primeiras etapas da aprendizagem: perceber e conceituar. Isto porque, o computador pode ser concebido como um instrumento audiovisual. Portanto, presta-se a simulação em um sentido amplo, não limitada a fenômenos da física e da química, sobre os quais o aluno pode atuar alterando fórmulas ou parâmetros. Conceitos lingüísticos, matemáticos, geográficos e muitos outros podem tornar-se mais “perceptíveis” quando são explorados estes atributos do recurso (MARQUES, MATTOS e TAILLE, 1986, p. 36).

Em relação à generalização da aprendizagem e sua ampliação, verifica-se que o

computador oferece vantagens sobre os recursos tradicionais, pois pode ser programado para

apresentar situações cada vez mais complexas para o aluno, após ter se certificado do

conhecimento necessário por parte deste, através de questões com dificuldades específicas

sobre a matéria.

Neste sentido, quanto o recurso utilizado é a internet, já não é mais possível pensar

no ensino nos moldes tradicionais, sem correr o risco de se estar desatualizado e oferecer

“receitas” que já não funcionam. De acordo com Valente (1993, p. 41),

... a análise dos resultados do paradigma instrucionista são desoladores:

Page 22: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

22

provocamos o êxodo do aluno da escola ou produzimos um educando obsoleto. Os que abandonam a escola, engordam a fileira dos fracassados, dos que não conseguem aprender. Os obsoletos não conseguem acompanhar o desenvolvimento atual da sociedade, mais especificamente não estão preparados para trabalhar no novo sistema de produção de bens e serviços.

O computador pode ser utilizado, então, como uma ferramenta versátil, que poderá

ser convertida naquela que o aprendiz precisa, em função de suas necessidades e

características do conteúdo que deseja construir. Pode-se usar desde processador de textos a

planilhas eletrônicas, de bancos de dados a linguagens de programação.

Um dos objetivos do uso do computador no ensino é o de ser um agente de

transformação na educação, e o professor deve descobrir o lugar didático desta tecnologia.

Pode-se afirmar que o computador por si só não melhora o ensino, apenas por estar ali

presente na sala de aula, a informatização da escola só será eficiente e com bons resultados se

for conduzida por professores preparados e que saibam quais os objetivos pretendem alcançar.

Além disso, Tajra (2000, p. 31) complementa que:

Para incorporar a tecnologia no contexto escolar, é necessário: • Verificar quais são os pontos de vista dos docentes em relação aos

impactos das tecnologias na educação.• Discutir com os alunos quais são os impactos que as tecnologias

provocam em suas vidas cotidianas. Como eles se dão com os diversos instrumentos tecnológicos.

• Integrar os recursos tecnológicos de forma significativa como cotidiano educacional.

Com a informatização da escola veio também a Internet, que é a rede global de

computadores que já tem mais de 60 milhões de usuários conectados em todo o mundo. Com

a Internet, há comunicação com qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. Com este

avanço, pode-se fazer uma pesquisa, sem saber, de onde está surgindo essa informação, e

quem a escreveu de bancos de dados a linguagens de programação.

Ensinar utilizando a Internet exige muita atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação torna-se mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar=se com as imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência, mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem (SALTO PARA O FUTURO, 1998, p. 85-86).

Page 23: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

23

Diante desse contexto, a presença e a atitude do professor no processo são

fundamentais. Com certezas mais importantes e cruciais do que em nossas salas de aula

tradicionais.

Com a Internet começa-se a ter que modificar a forma de ensinar, pois facilita a vida

dos cursos presenciais, como nos de educação continuada, à distância. Portanto, vem

introduzindo novas maneiras de se adquirir conhecimentos.

Com a Internet, estamos começando a ter de modificar a forma de ensinar e de aprender, tanto nos cursos presenciais quanto nos de Educação continuada a distância. Só vale a pena estarmos juntos fisicamente quando acontece algo significativo, quando aprendemos mais estando juntos do que pesquisando isoladamente nas nossas casas. Muitas formas de dar aula hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente. Tanto professores quanto alunos temos a clara sensação de que em muitas aulas convencionais perdemos muito tempo (SALTO PARA O FUTURO, 1998, p. 81-82).

A quebra da seqüencialidade linear é interessante, pois pode-se fazer uma

comparação entre o livro e a Internet. Quando se tem um livro, mesmo sabendo que a teoria

de um determinado autor ainda não está acabada, a idéia que temos é que se trata de uma obra

já acabada. Têm-se os conceitos de início, meio e fim, ou introdução, desenvolvimento e

conclusão.

Já na Internet a mesma obra já não se tem a mesma idéia, pois na mesma, com a

velocidade com que as coisas acontecem prevalece a noção do inacabado, pois ao se colocar a

mesma teoria do mesmo autor, dar-se-á então o início da interatividade na rede, e o poderá se

ter então, não dependerá de uma seqüencialidade linear, dependendo do início, meio e fim.

Outra dimensão que a Internet oferece é em relação ao tempo. “Na dimensão tempo,

à medida que evoluem as tecnologias de transmissão de dados, os sujeitos interagem de forma

síncrona sem a necessidade de compartilhar o mesmo espaço físico próximo” (FAGUNDES,

1997, p. 38).

A próxima dimensão diz respeita ao espaço. “Na dimensão espaço assume relevância

a superação de fronteiras. A interação é possível tanto em espaços muito próximos quanto em

espaços muito distantes...” (FAGUNDES, 1997, p. 39).

Page 24: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

24

Hoje, através da Internet é possível sair do individualismo e propor um ensino

cooperativo, onde a navegação através de endereços eletrônicos mantenha vivo o espírito da

pesquisa científica, com base em questões problematizadoras, onde professores e alunos

possam interpretar e fazer releituras do conhecimento estabelecido e alargar horizontes

mediante fórum virtual de discussões.

O domínio das novas tecnologias, especialmente do computador, é visto como pressuposto para um futuro melhor. A motivação quando o computador é utilizado no processo de ensino-aprendizagem não se explica apenas pelo interesse no trabalho futuro, mas o uso dessa ferramenta desperta curiosidade, melhora a concentração e permite a descontração, tornando a tarefa de aprender mais divertida. Em síntese, a informática encontra-se presente em nossa vida cotidiana e, incluí-la no processo ensino-aprendizagem, significa preparar os estudantes para o mundo tecnológico e científico, inserindo a escola nesse mundo real. MEC (2007).

3METODOLOGIA

Ao optar por um estudo de caso, na perspectiva da pesquisa qualitativa, tomou-se por

base Minayo (2001, p. 22), segundo a qual:

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.[...] A diferença entre qualitativo e quantitativo é de natureza. Enquanto cientistas sociais que trabalham com estatística apreendem dos fenômenos apenas a região ‘visível, ecológica, morfológica, e concreta’, a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas.

Partindo desta compreensão sobre as tecnologias na educação, propôs-se na pesquisa,

temáticas que envolvessem a realidade de cada educando para que a aprendizagem

acontecesse de forma significativa. Contudo, trabalhou-se em busca de construir um ambiente

interativo sobre o contexto sócio-cultural do educando.

Page 25: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

25

Para que o projeto viesse de encontro com a realidade em que ia ser desenvolvido,

colocaram-se na balança todos os itens de abrangência bem como pontos positivos e

negativos, fatores estruturais e financeiros, em Mídia escrita e letramento: jornais e revistas na

sala de aula temos uma série de reflexões e aprofundamentos teórico-práticos realizados pela

equipe de professores da Escola Municipal Mutirão (e apoiada pela Secretaria Municipal de

Educação do Município Lages) sobre leitura e escrita e sobretudo em termos do acesso à

informação, por professores e alunos, no contexto escolar.

Apresentam-se nesta pesquisa, experiências realizadas com alunos em ambientes de

Informática pedagógica e em sala de aula, que exemplificam o acima exposto, alicerçados na

teoria histórico-cultural que contemplam a dimensão sócio-cognitiva e emocional.

As atividades foram sistematizadas e adequadas de acordo com a série, garantindo a

máxima circulação de informações promovendo leituras e pesquisas on-line que

contemplaram diversos assuntos sobre os temas pesquisados.

Estando este estudo embasado dentro de uma perspectiva histórico-cultural na

sociedade atual na qual estamos inseridos para tal buscou-se leituras que afirmassem teorias

observadas e vivenciadas no dia-a-dia do desenvolvimento deste projeto, dentro de

expectativas e análises reais.

3.1 Conhecendo o campo de Intervenção

No intuito de deixar o leitor deste estudo mais familiarizado com o local onde se

desenvolveu o projeto jornal, apresenta-se na seqüência algumas características da Escola

Municipal de Educação Básica Mutirão.

Descrevem-se o histórico desta unidade de ensino, sua realidade no contexto social

no ano em que se desenvolveu o projeto (2008), seu plano de ação para atingir o objetivo

maior das unidades de ensino da rede pública municipal de Lages/SC, ou seja, oportunizar

uma educação de qualidade a todos, delimitar os sujeitos envolvidos no projeto e descrever os

fundamentos que deram origem ao projeto Explorer, espaço onde os alunos encontrar os

subsídios necessários para a produção dos jornais.

Page 26: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

26

3.1.1 Histórico

A Escola Municipal de Educação Básica Mutirão foi fundada em 18 de março de

1981, na administração do Prefeito Dirceu Carneiro. A escola iniciou com a população escolar

de 463 alunos, em um espaço físico que comportaria seis salas de aula, uma cozinha, dois

banheiros. Tendo em seu corpo docente 14 professores regentes, dois professores de educação

física e duas merendeiras. Atuando como diretora Ângela Maria Dall Molin Neto.

A escola tem na sua história fatos peculiares, sua construção foi feita pela

comunidade através de mutirão, contando com a participação dos pais, lideranças

comunitárias, refletindo a própria história da comunidade do Bairro Habitação, que nasceu da

necessidade de moradia da população ribeirinha da cidade de Lages.

3.1.2 Realidade da escola no contexto social

Situada na Avenida dos Pessegueiros, s/n, Bairro Habitação. A Escola Municipal de

Educação Básica Mutirão oferece ensino fundamental do 1º ano ao 9º ano.Num total de 1108

alunos.

Para compor este grupo discente, além de atender os alunos do bairro Habitação, a

escola também recebe alunos provenientes dos Bairros:Popular, Várzea, Universitário, Caça e

Tiro, Bom Jesus. Contando deste modo com uma comunidade escolar que apresenta as

seguintes características:

• As famílias destes alunos são na minoria semi-analfabetos,

grande maioria com ensino médio e poucos com curso superior.

• Alguns vivem dos programas sociais como por exemplo: PETI,

Bolsa Família etc.

• Constante mudança de residência para outros bairros da cidade,

capital do estado e Rio Grande do Sul ,em busca de melhores oportunidades,

havendo retorno constante.

• Grande desestrutura familiar.

Page 27: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

27

• Poucas opções de lazer, a maioria fica em casa assistindo

televisão ou sai passear nos vizinhos ou parentes.

• Alguns são religiosos freqüentando regularmente as igrejas ou

templos.

A EMEB Mutirão, possui uma área territorial de 11.309,73m2. A área construída da

escola corresponde a 2.018,55 e do CEIM 328,63m2.

3.1.3 Plano de ação da EMEB Mutirão

A Escola Municipal de Educação Básica Mutirão apostando sempre num trabalho de

parceria entre escola, família e comunidade, busca a cada dia melhorar o desempenho

acadêmico de seus alunos, respeitando as diferenças e investindo no potencial de cada ser

humano.

Deste modo, no que se refere ao ano letivo de 2008, no Projeto Político Pedagógico

da escola destacam-se algumas metas, entre elas:

*Elevar o índice de aprovação nas disciplinas críticas;

*Elevar o índice de aprovação nas disciplinas de matemática, geografia e língua

portuguesa;

*Melhorar as práticas efetivas em sala de aula;

*Envolver os pais na aprendizagem dos alunos e ampliar a participação do colegiado.

No intuito de contribuir na concretização destas metas, que desenvolveu-se o projeto

do jornal.

3.2 Sujeitos que participaram do projeto jornal

O desenvolvimento do projeto de intervenção nas aulas de informática foram os

alunos do 4º e 5º anos do ensino fundamental. Também se envolveram neste projeto os

professores regentes das referidas turmas orientando os alunos no sentido de identificarem o

conteúdo curricular relacionado a cada tema pesquisado.

Page 28: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

28

3.3 O Projeto Explorer da rede pública municipal de ensino de Lages/SC

A equipe administrativa da Secretaria da Educação do município de Lages/SC que

assumiu os trabalhos em 2001 verificou que os laboratórios de informática não estavam

integrados ao processo ensino-aprendizagem. Diante dessa realidade, visando trazer essa

ferramenta – tão versátil e tão pouco utilizada – para dentro do cotidiano escolar no sentido

envolver os alunos da rede pública municipal de ensino da cidade de Lages/SC nos avanços

tecnológicos da atualidade desenvolveu o Projeto Explorer – Explorando a Informática como

Ferramenta Pedagógica.

Tendo como objetivo apresentar um modelo de informática como ferramenta

pedagógica para subsidiar o processo de ensino-aprendizagem, tendo como público alvo

alunos da Educação Infantil (pré-escolar) e do Ensino Fundamental (1a a 9º ano) da rede

pública municipal de Lages/SC, para dar início a esse projeto num primeiro momento das

cinqüenta e oito unidades escolares do município foram escolhidas oito para implantação do

Projeto Explorer, onde foram ministradas aulas de reforço e apoio pedagógico a princípio só

aos alunos do pré-escolar e das séries iniciais (1a a 4a série) do ensino fundamental.

Para o desenvolvimento desse projeto foi criado o SETE (Setor Tecnológico

Educacional). Este se constitui numa estrutura que subsidia e implementa a proposta de

integração de novas ferramentas no contexto educativo e estava fundamentado nas SETE

ações propostas por Ostrowski (2002, p. 47):

• Capacitar os professores que serão os multiplicadores na escola.• Levar as escolas a refletirem criticamente sobre a inserção das NTCIs na prática

pedagógica.• Produzir softwares customizados para os professores.• Produzir softwares educativos em parceria com entidades afins.• Acompanhar as ações desenvolvidas nas escolas.• Contribuir para o desenvolvimento de projetos interdisciplinares.• Buscar assistir os professores em suas dificuldades com o manuseio e apropriação

das NTCIs.

A equipe “do SETE” como era denominado o grupo de trabalho desse projeto na

Page 29: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

29

Secretaria de Educação do Município de Lages, além de promover o desenvolvimento do

processo de formação continuada com os professores coodenadores, assistia os mesmos

através da elaboração dos roteiros, que são os temas e/ou conteúdos trabalhados em sala de

aula, solicitados pelo professor regente, transformados em softwares para que os alunos

possam interagir e trabalhar com o assunto que o professor está discorrendo em sala de aula.

Como as turmas são grandes, e o número de máquinas bastante limitado (apenas 10

por escola), houve a necessidade de fazer a divisão das turmas para que os alunos usassem o

laboratório. Enquanto uma parte de alunos realiza atividades com a tutora na biblioteca ou na

própria sala de aula, a outra parte dos alunos vai para o laboratório com a professora para

realizar as atividades, assim sendo, todos têm garantido seu acesso ao laboratório de

informática pedagógica.

A sistematização dos trabalhos ficava a critério de cada professor, cabendo a

coordenadora do laboratório orientar os alunos quanto à execução do trabalho no computador,

escolhendo o programa a ser utilizado para elaboração do projeto. O mesmo procedimento de

divisão de turmas é adotado também hoje no trabalho com os alunos do Ensino Fundamental

de 6º a 9º ano.

O projeto é sinônimo de planejamento e projeção. Requer registro do trabalho, organização das ações e definição de critérios de avaliação. No caso do professor, visa valorizar a clareza do planejamento e de seus objetivos. No caso do aluno, intenciona criar momentos de auto organização e participação ativa, durante a interação com o saber científico e prático, integração da teoria e prática, e uma real cooperação entre os participantes. (OSTROWSKI, 2002, p. 47).

Como resultado, com a implantação do Projeto Explorer, a Secretaria de Educação

do Município de Lages deu um passo significativo no que se refere a dinamização do processo

ensino-aprendizagem, através da inovação das aulas ministradas nos laboratórios,

complementando e enriquecendo os conteúdos ministrados em sala de aula.

A concretização destes objetivos puderam ser vivenciadas no desenvolvimento deste

estudo monográfico através da realização do projeto jornal.

Page 30: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

30

4 RESULTADOS

Com o intuito de colocar em prática uma nova abordagem da incorporação das

tecnologias da informação no contexto escolar, propôs-se o desafio de elaboração de um

jornal em um ambiente tecnológico para observar a construção, ou o desenvolvimento

cognitivo - emocional dos alunos, no romper do paradigma de compreensão da sociedade

informacional. Nesse sentido:

A aprendizagem é organizada "sob medida" para cada aluno; isto é, o

aluno é responsável por muitas das decisões que envolvem sua própria

educação e a instituição maximiza o atendimento individual. MEC

(2007).

Ao apresentar os resultados obtidos com esta pesquisa, inicia-se com os relacionados

ao primeiro objetivo específico da pesquisa, que é conhecer aspectos do projeto desenvolvido

na escola com a utilização do jornal.

Outro aprendizado importante que essa nova forma de pensar traz em seu bojo é o

fato de que as experiências foram bem-sucedidas de integração incentivaram a disposição

para buscar relações de complementaridade e estabelecer parcerias. A convivência com o

outro, por sua vez, obrigatoriamente impõe a necessidade de administrar os conflitos e

desentendimentos provocados pelas diferenças; de compreender a importância de considerar

todas as colaborações possíveis; de respeitar e valorizar todos os campos de conhecimento,

apesar das divergências. Nesse sentido, não é exagerado dizer que a convivência das

disciplinas pode ser uma estratégia para desenvolver a noção de tolerância, para Raylene

(2003),... a visão parcelada do conhecimento é um obstáculo para o sujeito alcançar uma

integração interna, porque não o instrumentaliza para ver o todo.

Fazendo o caminho contrário, podemos afirmar que um ensino que conciliasse

diferentes conceitos, de diferentes áreas; que integrasse as várias disciplinas e fosse capaz de

substituir a fragmentação pela interação, daria ao sujeito a oportunidade de aprender a

relacionar conceitos e, conseqüentemente, de construir novos conhecimentos, com muito mais

autonomia e criatividade. Mais autonomia, porque ele teria aprendido a considerar fatores de

diferentes ordens na realização de seus objetivos, inclusive de aprendizagem. Mais

Page 31: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

31

criatividade, porque a prática de relacionar implica também a arte de encontrar combinações

inéditas, ousadas, saídas novas para velhos problemas. Esse seria um ganho inestimável do

processo de ensino no novo milênio.

No desenvolvimento deste trabalho, abordou-se temáticas de interesse dos

estudantes, pela significância deste processo na realidade dos mesmos. Neste processo,

constrói-se coletivamente uma caminhada de aprendizagem em um novo ambiente.

Para tanto, as aulas de informática tiveram o objetivo e foram trabalhadas de forma

paralela com a professora regente, então procurando estabelecer um roteiro com temas que

interagissem entre si, principalmente de forma interdisciplinar, dando ênfase para a

elaboração do jornal, cada um dos assuntos pesquisados foram trabalhados, e depois digitados

em forma de textos e armazenados numa pasta para a diagramação do jornal.

Assim, na magia de viajar por um momento de representação em que todos eram

sujeitos dessa história, os alunos e professores caminharam juntos por este mundo virtual, por

pedras reais e palavras vividas. É no olhar pela máquina que percebeu-se “coisas” que nunca

esperou-se saber. Então, é na viagem entre a realidade e o virtual que os alunos expressam

palavras e sentimentos que os educadores devem compreender. É necessário olhar com outros

olhos estes alunos, como descreve Alves (2002, p. 07,08):

Não cobiço nem disputo os teus olhos. Não estou sequer à espera que me deixes ver através dos teus olhos. Nem sei tampouco se quero ver o que vêem e do modo como vêem os teus olhos. Nada do que possas ver me levará a ver e a pensar contigo. Se eu não for capaz de aprender a ver pelos meus olhos e a pensar comigo. Não me digas como se caminha e por onde é o caminho. Deixa-me simplesmente acompanhar-te quando eu quiser

Se o caminho dos teus passos estiver iluminado. Pela mais cintilante das estrelas que espreitam as noites e os dias. Mesmo que tu me percas e eu te perca. [...] não me prendas as mãos. [...] deixe-me arriscar o barro talvez impróprio e não obrigues a ler os livros que ainda não adivinhei nem queiras que eu saiba o que ainda não sou capaz de interrogar. Protege-me das incursões obrigatórias que sufocam o prazer da descoberta. E com o silêncio (intimamente sábio) das tuas palavras e dos teus gestos. Ajuda-me serenamente a ler e a escrever a minha própria vida.

Assim, contribuindo para a construção de uma aprendizagem significativa,

fundamentado nas orientações do Currículo do Programa de Desenvolvimento Infantil (1998,

p.34), quando afirma que “para que a educação tenha um significado pessoal e social para os

sujeitos nela envolvidos é imprescindível que o educador conheça o educando com o qual vai

Page 32: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

32

trabalhar,sendo sempre o objetivo maior reinventar o saber,em parceria com sua família”,

propôs-se entender e dialogar com temáticas sobre as vivências dos alunos, sua realidade de

forma concreta e participativa , relacionando os conteúdos curriculares com o relacionamento

família e escola.

Deste modo, para a elaboração do jornal da escola durante as aulas de informática,

foram trabalhadas diversas atividades, abordando diversos conteúdos curriculares, nos casos

que vamos analisar, os componentes distintivos das disciplinas (a produção de textos, a

variedade lingüística, a noção de coesão) serviram ao objetivo comum de diminuir os erros de

ortografia,reforçou a leitura em geral como fator determinante, para construção de uma

aprendizagem positiva, com resultados reais de uma integração que repercutiu em toda a

comunidade de uma forma elucidativa,consciente dentro do contexto social deles,onde os

alunos elaboraram fontes de conhecimento,onde a percepção tornou-se mais emocional, mais

afetiva, à medida que vem relatada por quem a experimentou na pele. Nesse caso, a entrevista

foi uma ótima escolha de gênero, porque promoveu contato direto com a forma de expressão

oral desse grupo. O reconhecimento da importância e dignidade dos escravos é reforçado,

pelos estudo dos níveis de linguagem pela compreensão de que as variações lingüísticas não

constituem erros, mas resultados de processos sociais e históricos. Assim, Geografia e Língua

Portuguesa convergem para um ponto que as ultrapassa, mas também as une: a valorização de

um grupo social que ainda hoje sofre as marcas da violência impostas nos séculos anteriores,

estendidas, hoje, em preconceito e desigualdade social. E se a área de História assinala essa

relação, suscitando a comparação entre passado e presente, a Economia Solidária oferece a

produção coletiva como uma saída renovadora para um velho padrão de violência.

Nenhuma das disciplinas citadas conseguiria, sozinha, alcançar esse resultado. Ele só foi

possível pela integração e cooperação.

Na seqüência, apresenta-se uma lista de atividades com vistas a mostrar os

resultados obtidos que se referem aos objetivos específicos: produzir trabalhos e textos

interdisciplinares a partir das aulas de informática e identificar trabalhos propiciados pelo

jornal.

DESAFIOSdentro da disciplina de matemática os alunos montavam desafios

aritméticos que trocavam entre si nas aulas,procurando resolve-los e num consenso os mais

criativos eram escolhidos para publicação no jornal.(sempre envolvendo as 4 operações) partir

daí já trabalhávamos a produção de textos escrito e digitados.

Page 33: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

33

DATAS COMEMORATIVAS foram pesquisadas informações sobre as datas

comemorativas locais, regionais e nacionais, procurando fazer sempre um quadro

comparativo de semelhanças e diferenças de costumes e tradições, os próprios alunos

pesquisavam e registravam sua pesquisa e faziam as comparações,com a mediação de

perguntas da professora. Para o jornal era registrado as datas relacionadas do mês trabalhado e

seu significado.

METEOROLOGIA as diferenças entre o clima e o tempo foram observadas a

partir da pesquisa na internet, jornais, TV. Assim para saber sobre o clima das diferentes

regiões brasileiras, observando no mapa cada um dos estados do Brasil, trabalhou-se

paralelamente a localização, fazendo um comparativo sobre o clima, a localização e a

vegetação dos estados, municípios. Para o jornal foi elaborado textos com a meteorologia

provável para o mês.

CADEIA ALIMENTAR E EQUILIBRIO ECOLÓGICO produções de textos com

este tema, foram feitas a partir de observações e pesquisas em sites e livros na biblioteca.

CAMPANHA CONTRA O CIGARRO os alunos trouxeram suas pesquisas sobre

o assunto e foi feito um debate, a quantidade de fumantes em casa, parentes, conhecidos, no

computador foi elaborada legendas e cartazes contra o tabagismo.

IMPORTÂNCIA DA ÁGUA pesquisa sobre o abastecimento de água no

município, quantos habitantes, concurso sobre a frase mais criativa, a frase foi ”A água é o

nosso bem maior, fonte de vida, alegria, sabedoria é cuidar e saber preservar,agradecer e saber

viver.” (Felipe,12 anos).

TRADUZINDO PALAVRAS EM INGLÊS palavras sorteadas na aula eram

pesquisadas em dicionários e sites específicos e sempre 4 palavras eram escolhidas para o

jornal.

TIPOS DE POLUIÇÃO a partir da realidade dos alunos pediu-se que observassem

durante um dia sobre os tipos de poluição no trajeto de casa à escola, seus registros foram

expostos, debatidos e elucidados com explicações e mais pesquisas, buscou-se uma

conscientização e sugestões para solucionar.

PESQUISANDO A HISTÓRIA DA MINHA COMUNIDADE Pesquisando a

historia do bairro, foi resgatado o significado do nome das ruas locais. Na realização do

levantamento sobre o comércio no bairro, observou-se que o bairro da Habitação onde está

localizada a EMEB Mutirão possui 6 mercearias, 2 salões de beleza, 3 escolas municipais, 5

Page 34: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

34

creches. No jornal foi publicado o horário de funcionamento de cada um destes

estabelecimentos, bem como dicas de beleza obtidas através da realização de uma entrevista

no salão com a cabeleireira.Pesquisou-se também sobre árvore genealógica de algumas

famílias,descendência negra e seus preconceitos.

GRAMÁTICO CERTO OU ERRADO pesquisa em vários meios escritos de

informações diversas, pediu-se para os alunos observassem possíveis erros onde os mesmos

destacavam as palavras e posteriormente a professora inseria algumas regras gramaticais.

NARRAÇÃO/DESCRIÇÃO foi realizada a montagem de historia em quadrinhos

no Word, através da produção dos alunos para esta atividade, a escola ganhou a melhor capa

no Programa Lendo e Relendo do Jornal Correio Lageano, que dedicou um espaço para relatar

o trabalho que vinha sendo desenvolvido na escola e ilustrar com a historia em quadrinhos.

ESTRUTURAÇÃO E REESTRUTURAÇÃO TEXTUAL temas variáveis,

exercitando a digitação na produção dos textos dando ênfase para a estruturação e

reestruturação dos textos.

FICHÁRIO PESSOAL constituído de fichas com dados considerados importantes

pela pessoa que faz a pesquisa. (aniversariantes do mês, professores,funcionários e alunos).

As fichas mais freqüentes são as bibliográficas, que trazem o nome do autor, título do livro ou

do artigo de jornal ou de revista com indicação do nome da editora, ano e local em que foi

publicado. Pode-se fazer um pequeno resumo do conteúdo do livro, comentários a respeito

dos personagens, época e estilo, além de acrescentar citações temáticas, ou seja, frases

chamativas de autores transcritas em uma epígrafe temática. Pelo fato destes dados também

poderem ser armazenados num computador, foi feito um fichário pessoal por cada um dos

alunos no entanto somente alguns foram escolhidos para a publicação, os demais foram

expostos nos murais da escola.

GALEIRA DE FOTOS DE ARTE foi trabalhado murais todos os murais feitos na

escola era tirado fotos para a publicação, os próprios alunos tiravam as fotos (maquina da

escola,auxiliados por professora regente ou por mim)eles escolhiam num consenso entre a

turma, em outra aula foi criado na sala de informática em Power point uma galeria de fotos

dos alunos registrados na hora da pausa,e no final do ano foi apresentado a toda a comunidade

escolar em movie maker como registro do projeto.

AGENDA MENSAL os alunos fizeram levantamento de todos os acontecimentos

do mês na escola, bairro, cidade, registrando todo os eventos realizados como por exemplo

Page 35: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

35

festa do pinhão, teatro sobre a preservação do meio ambiente, visitantes, família na escola, na

agenda mensal do jornal.

OLIMPIADAS 2008 com o intuito de despertar o interesse dos alunos pelas

práticas esportivas a partir do tema em evidência na época “olimpíadas” foi pesquisada as

características presentes em cada uma das modalidades esportivas participantes das

olimpíadas destacando as curiosidades, origem destes esportes, bem como a realização de

uma olimpíada na escola, na qual foi noticiada no jornal através do registro (fotos) de sua

abertura , acompanhada de dicas de saúde e sugestão de atividades esportivas que podem ser

realizadas pelos alunos.

ORIGEM DOS NÚMEROS pesquisa, observação no contexto da escola, na

realidade dos alunos, exposição da pesquisa realizada por eles sobre o quanto dos números no

dia-a-dia.

No entender de Hernadez (2003, p.45):

(...) estamos imersos numa avalanche de imagens que é preciso aprender a ler e interpretar para compreender e dar sentido ao mundo em que vivemos. Assim, crianças e adolescentes serão capazes de analisar os significados da imagem, os motivos que levaram a sua realização (...)

Assim, pensando no objetivo através das atividades descritas, apresentou-se um

trabalho de temáticas que suprissem as defasagens sobre o conhecimento sócio-cognitivo e

emocional desses jovens e das interações por eles engendradas, tornando o processo

pedagógico mais significativo para o educando e sua história. Ao se realizar a análise dessas

práticas vivenciadas no laboratório de informática, atingiu-se o quarto e último objetivo

específico da presente pesquisa,onde aconteceu a junção de várias disciplinas Português,

Matemática, História, Geografia...Nós geralmente vemos nos exames vestibulares, nas

coleções lançadas anualmente pelas editoras, nas grades curriculares das escolas, nos cadernos

dos alunos, organizados com divisões “por matéria”, estamos acostumados a encontrar as

diferentes disciplinas sempre separadas, isoladas em compartimentos, organizadas em espaços

bem definidos nos horários e ministradas por diferentes professores.

Essa falta de comunicação entre as áreas, essa fragmentação do conhecimento – reflexo de um

complexo processo social e histórico desencadeado pela revolução industrial, que exigia mão-

de-obra especializada – têm deixado seqüelas profundas em nosso modo de pesquisar, de

Page 36: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

36

ensinar e, sobretudo, de pensar e ver o mundo.Enfim, parece correto concluir que, tanto

quanto a vivência da comparti mentalização incentiva o que é sectário e isolado, ou seja, a

base do individualismo, a comunhão de áreas, de conceitos, de professores pode ser uma

mensagem eloqüente sobre os benefícios da composição, da articulação de forças, da

cooperação, que são a base da postura solidária. Considerando o tamanho dos problemas

econômicos e ambientais que já enfrentamos, é de grande valia sonhar com um ensino que

parte da integração e ensina os alunos a usufruírem melhor dos conhecimentos recebidos na

escola.

Se os alunos, durante toda sua escolaridade e processo de aprendizagem, tomam contato com

as disciplinas sempre divididas em segmentos que nunca dialogam, forçosamente

desenvolvem uma percepção igualmente fragmentada dos conhecimentos de cada área. Isso,

sem dúvida, acabou moldando uma forma de pensar que dificilmente incluirá a síntese, o que

é compreensível, considerando que essa habilidade só é adquirida quando se aprende a buscar

a visão global dos fatos.

A utilização de aparelhos audiovisuais, a imagem, o fictício, dialogaram entre a

fantasia e a realidade fazendo com que o educando refletisse sobre sua própria realidade

propondo um olhar mais atento, mais crítico, voltado para sua convivência familiar.

Segundo Eisner (2003, p.45): “o ensino se torna mais abrangente quando utiliza

representações visuais, pois elas permitem a aprendizagem (...) ganham nome de cultura

visual (...)”. A representação visual se deu através de um filme que transportou o educando

para dentro de sua casa, intervindo em sua auto-análise familiar, o que em alguns casos trouxe

desconforto e dor, em outros conforto e alegria. Sentimentos estes, produzidos por ações de

rejeição, menosprezo, raiva, como também ações de carinho, afeto e valorização apresentados

no filme.

Para que o ser humano possa se relacionar é necessário o autoconhecimento e

também o conhecimento dos demais que compõe seu ambiente de convivência. Para tanto,

trabalhar o comunicar-se e ao mesmo tempo a descoberta e a compreensão do outro, através

de diálogos ou mesmo na sala de bate-papo (sala virtual) na internet, é um processo de

interação que pode ser utilizado como um modo de mediação entre a transmissão de

conhecimento e a aquisição e construção efetiva deste processo através da significação sendo

este um objetivo de conclusão da aprendizagem uma condição real. Neste sentido, já

afirmava Lévy (2001, p.21):

Page 37: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

37

Seria a transmissão de informações a primeira função da comunicação? (...) o ato de comunicação define a situação que vai dar sentido às mensagens trocada (...). Através de seus atos, seu comportamento, suas palavras, cada pessoa que participa de uma situação estabiliza ou reorienta a representação que fazem de outros protagonistas. Sob este aspecto, ação e comunicação são quase sinônimos.

Sendo assim, no ambiente convencional da sala de aula, o educando foi instigado a

um diálogo, numa relação de aprendizagem, tendo liberdade para expressar-se, o que tornou o

momento algo sério. No início, notou-se o receio dos alunos em se manifestar e a necessidade

de aguçá-los, a interpelar sobre sua família, o que levou a alguns apontamentos por parte do

grupo, com intuito de atingir os mesmos em relação a sua convivência familiar. Viu-se então

que era preciso impor normas para o bom andamento do diálogo.

Ostetto (2000, p.97), ao referenciar-se sobre espaços de aprendizagem, afirma:

A organização do espaço torna-se um importante aspecto a ser pensado e previsto na rotina. O espaço exerce influência no comportamento das pessoas que nele habitam, facilitando certas atividades ou inibindo outras, influenciando as interações entre criança- criança, criança- adulto, criança- objeto, possibilitando ou não a autonomia da criança em escolher as atividade que quer realizar. (...) A sala é marcada por diferentes espaços. Muitos deles são coletivos, do grupo. Mas para construir coletividade é preciso individualidade.

Nos diálogos, observou-se que o educando transportava-se para o personagem e

explicitava como queria que fosse sua família. Nestas relações interpessoais, o educando foi

levado a tomar conhecimento do outro, sensibilizado a compreendê-lo.

Neste sentido, já dizia Freire apontado por Saltini (2002, p.55): “A validação de toda

educação, de todo ato educativo, deve necessariamente estar precedido de uma reflexão sobre

o homem”. Esse ato educativo aconteceu através dos diálogos, das relações interpessoais, do

conhecimento sobre si e o outro, o que notou-se através de comentários como:

A família cuida dos filhos, na falta do pai e da mãe;Minha mãe mora na esquina, mas moro com minha tia;Meus pais estão se separando, ficarei com meu pai;Minha irmã não mora junto, porque minha mãe não pode cuidar de todos os filhos. (Depoimento de um aluno).

Page 38: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

38

A interferência deu-se através de um processo de construção tanto individual quanto

coletivo, ficou nítida a sensibilização do educando ao escutarem os relatos dos colegas, o

olhar de compreensão e afeto, a emoção de cada um ao falar sobre a sua família.

Ao desenrolar do mesmo tema, agora na sala virtual, pôde-se observar que os alunos

foram mais partícipes, numa conversa mais aberta, entre brincadeira e comentários sérios.

Significando os processos de aprendizagem, também através das atividades

desenvolvidas no decorrer da intervenção nesta unidade escolar, buscou-se a valorização da

identidade sócio-cultural e emocional de cada educando. Para tanto, produziu-se junto com os

alunos crachás de identificação. Chamou à atenção a manifestação da educadora ao interpelar

sobre a condição da escrita dos deles, porém, se é um processo de construção,

conseqüentemente deve haver a valorização da produção dos mesmos, no desenvolvimento de

sua própria identidade enquanto sujeitos naquela estrutura social. Assim Hemilewski (2000,

p.16):

O texto escrito é expressão de idéias, sentimentos e experiências internalizadas. Dizemos que a escrita manifesta o conteúdo que está na mente da pessoa, ou seja, dá forma às idéias, torna-as visíveis (...) mesmo que os alunos não dominem a mecânica da escrita, ou não conheçam nem saibam traçar as letras, ainda assim é possível trabalhar a linguagem escrita.

Diante da importância da utilização desta, construiu-se uma dinâmica com o texto da

música "Estudo Errado"(Gabriel ,O Pensador), que fez os alunos refletirem sobre seu

cotidiano escolar e sua realidade. Para Filé (2002, p. 141): “(...) a linguagem audiovisual não

pressupõe nenhuma habilidade, nenhum pré-requisito para ser acessado, enquanto que as

escolas estão fortemente baseada na cultura letrada, na qual é preciso que domine um código

para que se tenha acesso ao saber”.

Com o intuito de transcender a visão do educando frente às situações escolares

vivenciadas, ou até mesmo aqueles que se omitem, oportunizou a vinda de um personagem

para interpretar as vivências dos alunos em um monólogo intitulado – Hoje sou ninguém. Em

seguida, formou-se grupos que integraram a plenária da atividade, a sala de aula neste

momento, passa a ser caracterizada pelos mesmos como atores de um Júri, apontando

situações-problemas do cotidiano escolar.

Page 39: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

39

Eles em seus fóruns discutiram e apresentaram algumas prerrogativas de suma

importância. Neste processo, o educador é o mediador da interação que se engendra, de modo

que o educando se sinta seguro e a vontade para expressar-se.

Após um complexo debate considerou-se que a escola não é culpada, pois a escola

não se constrói sozinha, mas sim sofre influencias por toda comunidade que deve contribuir

para o desenvolvimento e conseqüentemente o de todos os sujeitos que fazem parte da escola.

A síntese do desenvolvimento deste júri foi publicada no jornal, servindo o resultado

da sentença como matéria de capa de uma das edições desta produção que com certeza trouxe

uma nova cara não só para as aulas de informática, mas, para o processo ensino-aprendizagem

da escola como um todo.

Da síntese das atividades descritas, percebe-se que diante de um conjunto de

demandas tecnológicas, sócias e culturais colocadas apenas para a escola, é relevante

considerar uma transformação da sociedade, já que a educação não pode fazer tal

transformação sozinha. Neste sentido, através da elaboração do jornal, os alunos tiveram a

oportunidade de interagir em mais um meio de comunicação junto a escola, uma interação

com parcerias entre alunos, professores e comunidade em geral, foram trabalhados temas

variados e atuais na divulgação e conscientização dos mesmos.

Tinha uma idéia do que seria trabalhar com a interdisciplinaridade, pois em

Informática temos este viés para desenvolver vários tipos de projetos dentro das disciplinas

trabalhadas. No entanto, somente ao pesquisar profundamente este assunto, foi possível

perceber o quanto este tema está em nosso dia-a-dia nos softwares educativos, nas aulas

produzidas em PowerPoint.

Trabalhando desta forma buscando inovação, motivação tanto para quem ensina,

quanto para quem aprende, concretizou-se o projeto sobre jornal na escola utilizando o

laboratório de informática para a realização das pesquisas e digitação do jornal

Page 40: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

40

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final do desenvolvimento deste estudo monográfico, diante da análise da proposta

trabalhada, notou-se o grau de complexidade frente a quebra do paradigma imposto sobre o

ambiente da informática nos meios educacionais. As tecnologias estão restritas a um mero

instrumento de reforço pedagógico, engessando assim, as possibilidades das relações humanas

(interações). As questões sobre a tecnologia na educação, nesta sociedade informacional,

estão restritas ao possuí-la e não torná-la tecnologia educacional. Nesta sociedade, a educação

defronta-se com uma cultura tecnológica – cibercultura - modificando, transformando os

modos de comunicação, agindo diretamente sobre o sujeito que está aprendendo. Desta

maneira, a educação deve desafiar-se a ser sujeito ativo na construção desta cibercultura. É

impossível negar a viabilidade dos fios entrelaçados de conhecimento neste novo espaço, o

qual faz com que o educando construa e reconstrua seu processo de aprendizagem.

Ponderou-se a existência desta cultura que se faz necessária para compreender e

instigar o sujeito complexo, sócio-cognitivo e emocional que está inserido na mesma,

traçando no sistema educacional, vias de acesso entre a tecnologia e o educando como sujeito

desse processo.

Considerou-se nesta pesquisa, os aspectos relevantes sobre as relações humanas e sua

possível significância junto às tecnologias educacionais, fazendo uso de um diferente

ambiente de aprendizagem - ciberespaço, no qual se conceitua e refletem-se os processos de

aprendizagem a cerca da realidade dos alunos, buscando na concepção histórico-cultural bases

para alicerçar a construção individual e coletiva dos alunos sobre sua própria aprendizagem.

Enfatiza-se que tal processo é negligenciado por alguns professores, rompendo com o

desenvolvimento do sujeito autônomo e crítico de acordo com a concepção que fundamenta o

Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal de Educação Básica Mutirão.

Há uma dicotomia entre as teorias expostas e as práticas desenvolvidas, entre os

planejamentos e as ações pedagógicas, o que salientou a importância do diálogo do educador

x educando, educando x educando, bem como as interações construídas entre esses sujeitos

frente às novas tecnologias.

Page 41: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

41

Diante de toda a problemática e pressupostos levantados no desenvolver desta

pesquisa, observou-se através dos resultados pedagógicos conquistados com a elaboração do

jornal no laboratório de informática, a contribuição do computador para suscitar preocupações

que até então não tinham a devida relevância nos processos educacionais, sendo estas, objeto

de análise do comportamento humano frente à máquina, utilizando-a como uma ferramenta

educacional, auxiliando na descoberta e prevenção de distúrbios e situações conflitantes no

ambiente escolar.

Investigou-se o processo sócio-cognitivo e emocional de cada educando na rede

telemática, através de temáticas que fazem parte do contexto histórico dos mesmos, tornando-

os sujeitos ativos e participantes no processo de construção da sua aprendizagem.

Nos dados aferidos e analisados constatou-se a viabilidade das relações humanas na

rede telemática, onde o sistema educacional pode fazer o uso da mesma para minimizar ou

mesmo auxiliar novas práxis educacionais em que o sujeito será compreendido pela sua

história, sua cognicência e por seus aspectos emocionais, fazendo da máquina uma ponte entre

situações vivenciadas pelo educando em sua história x seu desenvolvimento educacional.

Em suma, o aumento do rendimento escolar observado pelos professores a partir da

confecção do jornal nas aulas de informática, permitiu concluir que no ambiente telemático, o

educando se sente desprendido para dialogar sobre seus conflitos internos e com isso, a partir

do auto-conhecimento, superar muitas de suas dificuldades de aprendizagem. São resultados

como estes que permitem evidenciar os pontos positivos da incorporação das tecnologias da

informação no contexto escolar. Permitindo, deste modo, afirmar que se o professor utilizar

propostas inovadoras de incorporação do computador e das demais tecnologias da informação

no processo ensino aprendizagem, muito ele poderá avançar na melhoria da qualidade do

processo educativo e conseqüentemente na efetivação de uma aprendizagem significativa.

No entanto esta conclusão não deve ser vista como uma verdade única, pois não

houve, neste estudo, nenhuma pretensão de esgotar o tema. Pretendeu-se, unicamente, na

condução deste trabalho, contribuir para evidenciar os aspectos positivos da incorporação do

computador como recurso pedagógico em todas as áreas, e ao mesmo tempo destacar a

necessidade de haver parcerias concretas, para que o resultado seja a soma integrada em

aprender de um jeito construtivo, motivador e prazeroso.

Page 42: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

42

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Fernando José de. Educação e informática: os computadores na escola. 2ed. São Paulo: Cortez, 1988.

ALVES, Rubem. A escola com que sempre sonhei - sem imaginar que pudesse existir. 3.ed. Campinas: Papirus, 2002.

ARMSTRONG, Alison & CASEMENT, Charles. A criança e a máquina: como os computadores colocam a educação de nossos filhos em risco. Porto Alegre: ARtmed, 2001.

BORBA, Marcelo de Carvalho e PENTEADO, Miriam Godoy. Informática e educação matemática. 2ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

DOWBOR, Ladislau. Tecnologias do Conhecimento - os desafios da educação. Petrópolis - RJ: Vozes, 2001.

EISNER. Elliot. Um mundo de imagens para Ler. In: Revista Nova Escola. São Paulo: Abril, 2003.

HEMILEWSKI, A. da M. Metodologia da Leitura e da Escrita. São Paulo: Cortez, 2000.

HÉRNANDEZ, Fernando. Um mundo de imagens para Ler. In: Revista Nova Escola. São Paulo: Abril, 2003.

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1997.

______. A conexão planetária: o mercado, o ciberespaço, a consciência. São Paulo: Ed. 34, 2001.

______. Cibercultura. 2.ed. São Paulo: Ed.34, 2001.

LITTO, Frederic. A Escola do Futuro já é realidade em São Paulo. Rio de Janeiro: Revista Enfoque nº 08, Fev. 1993.

MEC, Programa de Formação continuada Mídias na Educação.Módulo Introdutório Integração de Mídias na Educação. Manaus: compact disc,2007. CD-ROM

MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

OSTETTO, L. E. (org). Encontros e Encantamentos na Educação Infantil: Partilhando experiências de estágios. São Paulo: Papirus, 2000.

OSTROWSKI, Simone Andréa de Oliveira França. Proposta de modelo de informática

Page 43: PEREIRA, K. Tecnologia na Educação: Projeto Jornal na Escola

43

como ferramenta pedagógica. Florianópolis: UFSC, 2002. (dissertação de mestrado).

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA EMEB Mutirão, 2080.

Raylene Rêgo Braz Andrade Oliveira.2003-Pedagoga pela UPE, especialista em Interdisciplinaridade na Educação Básica e Magistério Superior pela FACINTER. Consultora pedagógica e Orientadora Educacional do CEJA e Assessora Pedagógica do Colégio Máster Junior-Juazeiro-BA-Contatos:[email protected] e http://www.raylenerego.blogspot.com/

SANTA CATARINA, Secretaria de Estado da Educação e do Desporto. Proposta Curricular de Santa Catarina: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio: Disciplinas Curriculares. Florianópolis: COGEN, 1998.

TAJRA, S. F. Informática na Educação: novas ferramentas pedagógicas para o professor da atualidade. 2.ed. São Paulo: Erica, 2000.

TAILLE, Yves de La; OLIVEIRA, Marta Kohl e DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

VALENTE, Jose A. Questão do software: parâmetros para o desenvolvimento de software educativo. Campinas: NIED-Unicamp, 1989.