perdas de água

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PERDAS EM SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA: DIAGNÓSTICO, POTENCIAL DE GANHOS COM SUA REDUÇÃO E PROPOSTAS DE MEDIDAS PARA O EFETIVO COMBATE ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental Setembro de 2013

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perdas de água

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  • PERDAS EM SISTEMAS DE

    ABASTECIMENTO DE GUA:

    DIAGNSTICO, POTENCIAL DE

    GANHOS COM SUA REDUO E

    PROPOSTAS DE MEDIDAS PARA O

    EFETIVO COMBATE

    ABES Associao Brasileira de Engenharia Sanitria e Ambiental Setembro de 2013

  • 2

    Um dos principais indicadores de eficincia da operao dos sistemas de

    abastecimento de gua o ndice de perdas.

    Com valores mdios que beiram os 40% no Brasil, decrescendo, verdade, mas a

    uma velocidade extremamente baixa, o combate s perdas de gua transformou-se em

    um grande desafio dos operadores brasileiros pblicos e privados.

    No momento de tentativa de retomada dos investimentos do setor de saneamento,

    percebe-se claramente que grande parte de nossos operadores pblicos, principalmente,

    apresentam condies insuficientes do ponto de vista de gesto para planejar e

    implementar as aes necessrias para enfrentar o problema.

    O PLANSAB, Plano Nacional de Saneamento Bsico, ainda no aprovado pelo

    Governo Federal, prev metas e recursos financeiros, cuja origem no est definida,

    para a diminuio dos ndices de perdas.

    O presente texto traz os conceitos, impactos, resultados de operadores estaduais,

    municipais e privados, apresenta exemplos de sucesso no enfrentamento do problema e

    enfatiza a necessidade de se melhorar a gesto dos operadores nacionais.

    Tem por objetivo, alm de contextualizar o problema, levar o tema discusso no

    27 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitria e Ambiental, em Goinia e,

    atendendo misso da ABES, encaminhar propostas s autoridades competentes.

    Elaborado pela ABES Nacional e ABES So Paulo, atravs de contratao da GO

    Associados, este trabalho dirigido aos gestores, tcnicos, polticos e estudantes que, de

    uma ou de outra maneira, estejam envolvidos na questo para que possam discuti-lo e

    critic-lo.

    Aps a incorporao das sugestes advindas do Congresso, estar disposio da

    sociedade brasileira para que possa acompanhar a evoluo dos indicadores e da

    prestao de servios.

  • 3

    SUMRIO

    1 INTRODUO .............................................................................................................................................. 7

    2 BREVE DIAGNSTICO SOBRE AS PERDAS NOS SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE

    GUA E EFICINCIA ENERGTICA DAS OPERADORAS DE SANEAMENTO

    BRASILEIRAS ............................................................................................................................................... 8

    2.1 PERDAS REAIS E PERDAS APARENTES: O BALANO HDRICO .................................................................. 8

    2.2 LIMITES ECONMICOS E LIMITES TCNICOS DO CONTROLE DE PERDAS ................................................. 10

    2.3 O PADRO INTERNACIONAL ................................................................................................................. 11

    2.4 PERDAS DE GUA NO BRASIL ............................................................................................................... 13

    2.5 AS METAS DO PLANSAB .................................................................................................................... 16

    3 POTENCIAL DE GANHOS COM MEDIDAS DE REDUO DE PERDAS NOS SISTEMAS

    DE ABASTECIMENTO DE GUA. .......................................................................................................... 17

    3.1 CUSTOS E BENEFCIOS DA REDUO DE PERDAS FSICAS DE GUA ....................................................... 17

    3.2 ESTIMATIVA DO POTENCIAL DE GANHO ADVINDO DE MEDIDAS DE REDUO DE PERDAS DE

    GUA. 20

    4 SITUAO ATUAL DOS PRESTADORES DE SERVIOS ................................................................. 23

    4.1 BAIXA CAPACIDADE DE FINANCIAMENTO ............................................................................................. 23

    4.2 RIGIDEZ ORAMENTRIA ..................................................................................................................... 24

    4.3 AUSNCIA DE COORDENAO CENTRAL ............................................................................................... 24

    5 CONTROLE DAS PERDAS ....................................................................................................................... 26

    6 FORMULAO DE ESTRATGIAS E ABORDAGENS PARA A REDUO DE PERDAS

    DE GUA ..................................................................................................................................................... 28

  • 4

    6.1 AES ESTRUTURANTES: A GESTO DOS ATIVOS ................................................................................. 28

    6.2 AES ESTRUTURAIS: EXECUO DE UMA ESTRATGIA DE REDUO DE PERDAS ................................ 31

    7 EXEMPLOS DE CASOS PRTICOS ....................................................................................................... 35

    7.1 GUAS DE NITERI APLICAO DO MASPP NA SOLUO DE PROBLEMAS DE PERDAS D

    GUA 35

    7.2 SANEPAR REGIO METROPOLITANA DE CURITIBA IMPLANTAO DO MASPP .............................. 35

    7.3 SABESP UNIDADE DE GERENCIAMENTO REGIONAL SANTO AMARO IMPLANTAO DA

    METODOLOGIA MASPP II OU SIX SIGMA ......................................................................................................... 36

    7.4 RIO BRANCO IMPLANTAO DO MASPP .......................................................................................... 36

    7.5 SABESP CONTRATO DE PERFORMANCE PARA REDUO DE PERDAS REAIS DO SETOR VILA DO

    ENCONTRO MUNICPIO DE SO PAULO ........................................................................................................... 37

    7.6 PROGRAMA REGUA. ........................................................................................................................... 38

    7.7 PARCERIAS PBLICO-PBLICO: HISTRICO DO PROJETO CASAL-SABESP ............................................ 40

    8 CONCLUSES: AS PROPOSTAS DA ABES .......................................................................................... 42

    9 REFERNCIAS ........................................................................................................................................... 44

  • 5

    SUMRIO DE QUADROS

    QUADRO 1: PARCELAS DAS PERDAS DE GUA (REAIS E APARENTES) EM RELAO AO VOLUME QUE ENTRA

    NO SISTEMA ......................................................................................................................................... 9

    QUADRO 2: CARACTERSTICAS PRINCIPAIS DE PERDAS REAIS E PERDAS APARENTES. .................................... 9

    QUADRO 3: CUSTO TOTAL DECORRENTE DE PERDAS DE GUA. .................................................................... 11

    QUADRO 4: CENRIO DE PERDAS DE GUA DAS OPERADORAS DE GUA ..................................................... 12

    QUADRO 5: BANCO MUNDIAL: BANDAS DE REFERNCIA PARA REDUO DE PERDAS................................. 13

    QUADRO 6: EVOLUO HISTRICA DO INDICADOR DE PERDAS NA DISTRIBUIO (%) ............................... 14

    QUADRO 7: SNIS 2011: PERDAS SOBRE O FATURAMENTO PARA EMPRESAS ESTADUAIS (%)....................... 15

    QUADRO 8: SNIS 2011: PERDAS SOBRE O FATURAMENTO PARA EMPRESAS MUNICIPAIS ............................ 16

    QUADRO 9: BENEFCIOS DA REDUO DAS PERDAS .................................................................................... 19

    QUADRO 10: SINERGIAS ENTRE REDUO DAS PERDAS DE GUA E EFICINCIA ENERGTICA ...................... 20

    QUADRO 11: ESTIMATIVAS DE GANHOS BRUTOS COM REDUO DE PERDAS DE GUA ................................ 22

    QUADRO 12: CICLO VICIOSO GESTO DAS OPERADORAS DE SANEAMENTO .............................................. 24

    QUADRO 13: SNTESE DAS AES PARA O CONTROLE E A REDUO DE PERDAS REAIS ............................... 26

    QUADRO 14: SNTESE DAS AES PARA O CONTROLE E A REDUO DE PERDAS APARENTES ...................... 27

    QUADRO 15: FASES SEQUENCIAIS DO MASPP: O CICLO DE CONTROLE.......................................................... 30

    QUADRO 16: COMPARAO ENTRE CONTRATAO TRADICIONAL E CONTRATO DE PERFORMANCE ............ 33

    QUADRO 17: FASES DO CONTRATO DE PERFORMANCE SABESP VILA DO ENCONTRO .................................. 38

  • 6

  • 7

    1 INTRODUO1

    O objetivo deste texto subsidiar a discusso sobre reduo de perdas nos sistemas

    de abastecimento de gua pelos operadores de saneamento bsico. O texto est dividido

    em quatro sees, alm desta primeira seo de introduo.

    A Seo 2 apresenta um diagnstico das perdas no Brasil, incluindo a anlise do

    nvel de perdas das operadoras brasileiras. O cenrio brasileiro de perdas de gua no

    setor de saneamento bastante problemtico. A mdia brasileira de perdas de gua de

    aproximadamente 40% (incluindo perdas reais e aparentes), mas em algumas empresas

    de saneamento essas perdas superam 60%. O elevado ndice de perdas de gua reduz o

    faturamento das empresas e, consequentemente, sua capacidade de investir e obter

    financiamentos. Alm disso, gera danos ao meio ambiente na medida em que obriga as

    empresas de saneamento a buscarem novos mananciais.

    A Seo 3 estima o potencial de ganhos, monetrios, advindos da reduo de perdas

    de gua. Segundo estimativas, o ganho lquido, j descontado o investimento para

    implementar os programas de reduo de perdas dgua, podem atingir quase R$ 15

    bilhes em 17 anos. A Seo 4 enumera medidas para reduo de perdas de gua em

    empresas de saneamento, recomendando aes que visem a eficincia operacional das

    operadoras.

    Por fim, a Seo 5 apresenta exemplos da aplicao das medidas propostas na seo

    anterior, envolvendo, entre outras, empresas de saneamento bsico como Sabesp (So

    Paulo), Sanepar (Paran), Casal (Alagoas) e guas de Niteri (Rio de Janeiro). A Seo

    6 sintetiza as principais concluses do texto.

    1 O presente texto contou com a colaborao de consultores especializados. Particularmente, devem ser

    registradas as preciosas contribuies de Mrio Baggio (Hoperaes), Alceu Galvo (Agncia

    Regulatria de Servios Pblicos Delegados do Estado do Cear ARCE), Carlos Alberto Rosito (Saint Gobain Canalizao Ltda), Jairo Tardelli (Sabesp) e Marcos Ajzenberg (coordenador do Programa

    Regua durante sua implementao). Partes relevantes do texto foram extradas de Tardelli Filho (2006).

  • 8

    2 BREVE DIAGNSTICO SOBRE AS PERDAS NOS SISTEMAS

    DE ABASTECIMENTO DE GUA E EFICINCIA

    ENERGTICA DAS OPERADORAS DE SANEAMENTO

    BRASILEIRAS

    Um dos principais desafios das operadoras de gua em pases em desenvolvimento

    reduzir as perdas de gua em todas as etapas do processo de seu fornecimento.

    2.1 Perdas reais e perdas aparentes: o Balano Hdrico

    O conceito de perdas nos sistemas de abastecimento de gua inclui duas categorias:

    A perda de gua fsica ou real, quando o volume de gua disponibilizado

    no sistema de distribuio pelas operadoras de gua no utilizado pelos

    clientes, sendo desperdiado antes de chegar s unidades de consumo, e

    A perda de gua comercial ou aparente quando o volume utilizado no

    devidamente computado nas unidades de consumo, sendo cobrado de forma

    inadequada.

    At alguns anos atrs, a avaliao das perdas era distinta em cada pas, ou mesmo

    em cada companhia de saneamento em um mesmo pas. A International Water

    Association (IWA) procurou padronizar o entendimento dos componentes dos usos da

    gua em um sistema de abastecimento atravs de uma matriz que representa o Balano

    Hdrico, onde se inserem os dois tipos de perdas relatados. O conjunto de perdas fsicas

    ou reais e de perdas de faturamento ou aparentes chamado de gua No Faturada

    Non-Revenue Water.

    O Quadro 1 apresenta Balano Hdrico, desenvolvido pela IWA, que esquematiza os

    processos pelos quais a gua pode passar desde o momento em que entra no sistema.

  • 9

    QUADRO 1: PARCELAS DAS PERDAS DE GUA (REAIS E APARENTES) EM RELAO AO

    VOLUME QUE ENTRA NO SISTEMA

    gua que entra

    no sistema (inclui

    gua importada)

    Consumo autorizado

    Consumo autorizado faturado

    Consumo faturado medido (inclui gua exportada)

    gua faturada Consumo faturado no medido

    (estimados)

    Consumo autorizado no

    faturado

    Consumo no faturado medido (usos prprios, caminho pipa, etc)

    gua no faturada

    Consumo no faturado no medido (combate a incndios, favelas, etc)

    Perdas de gua

    Perdas aparentes

    Uso no autorizado (fraudes e falhas de cadastro)

    Erros de medio (macro e micromedio)

    Perdas reais

    Perdas reais nas tubulaes de gua bruta e no tratamento (quando

    aplicvel)

    Vazamentos nas adutoras e/ou redes de distribuio

    Vazamentos e extravasamentos nos reservatrios de aduo e/ou

    distribuio

    Vazamentos nos ramais (a montante do ponto de medio)

    Fonte: Public Private Infrastructure Advisory Facility (traduo livre)

    A abordagem econmica para cada tipo de perda diferente. Sobre as perdas reais

    recaem os custos de produo e distribuio da gua, e sobre as perdas aparentes, os

    custos de venda da gua no varejo, acrescidos dos eventuais custos da coleta de esgotos.

    QUADRO 2: CARACTERSTICAS PRINCIPAIS DE PERDAS REAIS E PERDAS APARENTES.

    Itens

    Caractersticas Principais

    Perdas Reais Perdas Aparentes

    Tipo de ocorrncia mais comum Vazamento Erro de Medio

    Custos associados aos volumes de gua perdidos

    Custo de produo Tarifa

    Efeitos no Meio Ambiente - Desperdcio do Recurso Hdrico. - Necessidades de ampliaes de mananciais.

    -

    Efeitos na Sade Pblica Risco de contaminao -

    Empresarial Perda do Produto Perda de receita

    Consumidor - Imagem negativa (ineficincia e desperdcio)

    -

    Efeitos no Consumidor - Repasse para tarifa - Desincentivo ao uso racional

    - Repasse para tarifa - Incitamento a roubos e fraudes

    No caso do Brasil, deve-se destacar o consumo no faturado e no medido ocorrido

    em favelas. Trata-se de volume significativo nas metrpoles brasileiras, cuja

  • 10

    regularizao e urbanizao dependem de uma ao de gesto integrada entre o poder

    concedente e a operadora. Seu custo geralmente arcado pela companhia de

    saneamento, nem sempre considerado adequadamente na composio das tarifas.

    2.2 Limites econmicos e limites tcnicos do controle de

    perdas

    Outra importante contribuio da IWA foi a de definir dois limites para os volumes

    das perdas em um sistema:

    Um limite econmico, a partir do qual se gasta mais para reduzir as perdas do

    que o valor intrnseco dos volumes recuperados (varia de cidade para cidade,

    em funo das disponibilidades hdricas, custos de produo, etc.);

    Um limite tcnico ("perdas inevitveis"), mnimo, definido pelo alcance das

    tecnologias atuais dos materiais, ferramentas, equipamentos e logsticos, ou,

    em outras palavras, nunca haver perda zero, sempre teremos de conviver

    com algum volume perdido, por mais bem implantado e operado que seja um

    sistema de abastecimento.

    O Quadro 3 mostra tanto o nvel econmico timo de vazamentos quanto o nvel

    mnimo de vazamentos.

  • 11

    QUADRO 3: CUSTO TOTAL DECORRENTE DE PERDAS DE GUA.

    Cu

    sto

    ($

    /co

    nex

    o/a

    no

    )

    Vazamentos (litros/ligao/hora)

    Nvel mnimo de Vazamentos

    Nvel econmico de vazamentos

    Fonte: Control and mitigation of drinking water losses in distribution systems (United

    States Environmental Protection Agency)

    Assim, no economicamente vivel eliminar completamente toda a perda de gua

    fsica e comercial. Entretanto, devido s significativas perdas de gua nos pases em

    desenvolvimento, razovel prever que a quantidade de perda de gua nestes pases

    pode ser reduzida pela metade pelo menos nos prximos dez anos.

    2.3 O padro internacional

    O Banco Mundial, no livro Parmetros Internacionais para Redes de Operadoras de

    Saneamento (International Benchmarking Network for Water and Sanitation Utilities

    IBNET), realizou estudo para estimar o desempenho das operadoras de gua no que

    tange perda de gua. Nas operadoras cobertas pelo IBNET, a mdia de perdas de gua

    constatada foi de 35%.

    Entretanto, como grandes pases em desenvolvimento ainda no so cobertos pelo

    IBNET e as estatsticas desses pases no so confiveis2, mais provvel que o nvel

    mdio de perdas de gua em pases em desenvolvimento gire em torno de 40-50%.

    2 A porcentagem de perda de gua das operadoras de gua nos pases em desenvolvimento no estimada

    com confiana. Muitas operadoras no possuem sistemas de informao e controle adequados para inferir

  • 12

    QUADRO 4: CENRIO DE PERDAS DE GUA DAS OPERADORAS DE GUA

    0%

    5%

    10%

    15%

    20%

    25%

    30%

    35%

    50%Pe

    rce

    ntu

    al d

    e o

    pe

    rad

    ora

    s d

    e

    gua

    em

    cad

    a n

    ve

    l de

    pe

    rda

    de

    gu

    a

    Nvel de Perda de gua

    Fonte: IBNET

    O Banco Mundial tambm definiu indicadores de perdas fsicas (Infrastructure

    Leakages Index ILI3) associados a bandas em que as empresas devero se balizar na

    busca da reduo das perdas (em Litros/ligao.dia), considerando aspectos

    operacionais do sistema (presses) e estgio econmico do pas, conforme o Quadro 5.

    Pases em desenvolvimento, com uso muito ineficientes de recursos e presso muito

    elevada podem economizar mais de 1000 litros por ligao.dia.

    estes dados e mesmo as que conseguem auferir a porcentagem de perda de gua, optam por no divulg-la

    por ser alta demais. As empresas que divulgam estas informaes geralmente so as que possuem o

    percentual de perdas de gua reduzido.

    3 O ndice ILI um indicador de performance de perdas reais (fsicas) no rede do sistema de distribuio

    de gua nas condies de presso existente. O ndice ILI calculado por meio da expresso:

    ILI =CARL/ UARL

    onde: ILI = infrastructure leakage index um nmero adimensional; CARL= current annual real losses,

    ou o volume anual de perdas reais/Nc quando a rede est pressurizada. empregado geralmente nas

    unidades Litros/ligao x dia; Nc = nmero de conexes ou ligaes de gua e UARL= unnavoidable

    annual real losses ou o volume anual de perdas reais que no podem ser evitadas em Litros/ligao x dia,

    isto , na mesma unidade de TIRL. Maiores detalhes em:

    http://www.thesustainabilitysociety.org.nz/conference/2008/papers/Taylor.R.pdf (ltimo acesso

    15/08/2013)

  • 13

    QUADRO 5: BANCO MUNDIAL: BANDAS DE REFERNCIA PARA REDUO DE PERDAS

    Fonte: Banco Mundial

    2.4 Perdas de gua no Brasil

    No Brasil, a situao est longe do observado em pases desenvolvidos e a situao

    de perdas muito desigual quando se comparam unidades da federao, operadores

    pblicos e privados de saneamento bsico.

    Os indicadores de perda de gua das operadoras de saneamento no Brasil mostram

    que ainda h muita ineficincia na produo da gua. A seguir, so mostrados

    indicadores de perdas de gua e eficincia energtica, atualizados com dados do

    Ministrio das Cidades (SNIS, 2011).

  • 14

    2.4.1 Evoluo do nvel de perdas de gua no Brasil

    As perdas de gua so muito elevadas no Brasil e tm se mantido em nveis

    prximos a 40% nos ltimos doze anos, ainda que seja possvel notar uma leve

    tendncia de queda nos ltimos anos. O Quadro 6 mostra a trajetria das perdas na

    distribuio4 nos anos recentes.

    O nvel de perdas no Brasil passou de 45,6% em 2004 para 38,8% em 2011, uma

    queda de 6,8 pontos percentuais no perodo. O quadro ainda mais preocupante porque

    a maior parte das empresas no mede suas perdas de gua de maneira consistente.

    QUADRO 6: EVOLUO HISTRICA DO INDICADOR DE PERDAS NA DISTRIBUIO (%)

    45,6 45,6 44,4 43,541,6 42,6

    38,8 38,8

    2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

    Fonte: SNIS, vrios anos.

    Quando se compara o Brasil com pases desenvolvidos, notvel o grande espao

    para mudanas. Cidades da Alemanha e do Japo possuem 11% e Austrlia possui 16%.

    Sendo assim, espera-se que o Brasil consiga reduzir seus nveis de perda em, no

    4 Perdas na distribuio correspondem participao do volume de perdas (Volume total de gua Volume de gua consumido) no Volume total de gua.

  • 15

    mnimo, dez pontos percentuais antes que possa atingir os nveis de perdas associados

    aos pases desenvolvidos. 5

    2.4.2 Comparao de perdas entre operadores estaduais e municipais de

    saneamento bsico

    O Quadro 7 e o Quadro 8 mostram do ponto de vista das perdas de gua, a situao

    de diversas empresas estaduais6 e municipais7 de saneamento no Brasil. Os quadros

    mostram os nveis de perdas sobre o faturamento para as 52 maiores empresas

    brasileiras em termos de populao atendida, considerando dados do SNIS 2011.

    QUADRO 7: SNIS 2011: PERDAS SOBRE O FATURAMENTO PARA EMPRESAS ESTADUAIS (%)

    Fonte: SNIS 2011

    A CAESA (Amap) e a SANEPAR (Paran) so, respectivamente, as empresas

    estaduais menos e mais eficientes em termos de perdas de gua no Brasil com 75,0% e

    21,1% de perdas sobre o faturamento. A mdia de perdas para essas empresas de

    40,7%.

    5 Deve-se registrar, entretanto, que a IWA chama a ateno para o fato de que indicadores percentuais de

    perdas, a despeito do fcil entendimento por todos, so frgeis para comparaes sobre perdas entre

    empresas ou cidades.

    6 No grupo das empresas estaduais h uma empresa privada que a Saneatins (Foz do Brasil).

    7 No grupo das empresas municipais foram consideradas autarquias e empresas privadas.

  • 16

    QUADRO 8: SNIS 2011: PERDAS SOBRE O FATURAMENTO PARA EMPRESAS MUNICIPAIS

    Fonte: SNIS 2011

    Para as empresas municipais, a SAERB (Rio Branco) e a SANEP (Pelotas) so,

    respectivamente, a menos e mais eficiente em termos de perdas sobre o faturamento,

    apresentando ndices de 69,3% e 6,7%. A mdia de perdas para essas empresas de

    36,6%.

    2.5 As metas do PLANSAB

    A Tabela 1 mostra as metas do Plano Nacional de Saneamento para o indicador

    Porcentagem do ndice de perdas na distribuio de gua (A6) definidas em junho de

    2013. Tomando-se as metas para o Brasil (primeira coluna), o ndice de perdas tem que

    cair de 39% em 2010 para 31% em 2033.

    TABELA 1: METAS DO PLANO NACIONAL DE SANEAMENTO BSICO

    INDICADOR ANO BRASIL N NE SE S CO

    A6. % do ndice de perdas na distribuio de gua

    2010 39 51 51 51 35 34

    2018 36 45 44 44 33 32

    2023 34 41 41 41 32 31

    2033 31 33 33 33 29 29

    Fonte: Ministrio as Cidades

  • 17

    3 POTENCIAL DE GANHOS COM MEDIDAS DE REDUO DE

    PERDAS NOS SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE GUA

    Nesta seo so abordados os custos e benefcios da reduo de perdas de gua e a

    estimativa dos potenciais ganhos monetrios advindos da implementao de programas

    de reduo de perdas de gua.

    3.1 Custos e benefcios da reduo de perdas fsicas de gua

    A anlise econmica para programas de reduo de perdas fsicas de gua requer a

    avaliao sobre os benefcios e os custos envolvidos, que dizem respeito s atividades

    previstas no referido programa.

    3.1.1 Custos envolvidos na reduo de perdas fsicas de gua

    Os custos podem ser divididos em custos fixos, que ocorrem durante perodo

    especfico de implantao do projeto, e custos variveis, que ocorrem ao longo de todo

    o projeto.

    Os custos dos projetos e servios de reduo de perdas podem ser elencados em:

    Equipamentos e instalaes, como tubulaes, vlvulas, bombas, motores,

    acessrios, peas de conexo, macromedidores, hidrmetros, elementos de

    controle e automao, equipamentos eltricos, subestao;

    Obras civis, como zoneamento piezomtrico, reservatrios, substituio de

    ramais e redes. Os custos indiretos incluem os gastos com projetos,

    gerenciamento e fiscalizao de obras, servios de consultoria, entre outros.

    Aes operacionais e de manuteno, como pesquisa acstica para a

    deteco de vazamentos no visveis, reparo de vazamentos, combate a

    fraudes.

    Aes tecnolgicas, como desenvolvimento de materiais e equipamentos. A

    esse respeito, o setor de saneamento precisa de hidrmetros

    tecnologicamente adequados existncia de caixas dgua domiciliares, as

  • 18

    quais potencializam a submedio; e tubulaes que no vazam, sem juntas,

    (de polietileno de alta densidade PEAD com juntas soldadas)

    Mo de obra, responsvel pela gesto, execuo, controle e gerao de

    relatrios, tanto terceirizada como prpria.

    Qualificao profissional, incluindo treinamento da mo de obra e

    certificao profissional.

    3.1.2 Benefcios envolvidos na reduo de perdas fsicas de gua.

    Os benefcios de um projeto de reduo de perdas so diversos. Com a reduo das

    perdas fsicas, a empresa pode produzir uma quantidade menor de gua para abastecer a

    mesma quantidade de pessoas. Ao produzir uma quantidade menor de gua, a operadora

    de saneamento reduz os custos com diversos itens, tais como:

    Produtos qumicos;

    Energia eltrica;

    Compra de gua bruta (nos casos em que h cobrana pelo uso da gua);

    Mo de obra

    Com a reduo das perdas aparentes, decorrentes de fraudes nas ligaes, consumo

    no faturado, falta de hidrmetros, problemas de medio, dentre outros, a principal

    consequncia o aumento do volume faturado e, consequentemente, da receita.

    Alm disso, a empresa pode postergar investimentos necessrios para atender ao

    aumento da demanda decorrente do crescimento populacional. Entre aumentar a

    capacidade de produo de gua e diminuir as perdas de gua, a segunda alternativa

    ser, em muitos casos, a mais adequada do ponto de vista econmico-financeiro e

    tambm ambiental. Com o aumento da eficincia na produo e distribuio de gua, a

    mesma quantidade produzida atende mais pessoas.

    Os ganhos com reduo de perdas de gua podem ter impactos em termos de

    receitas, custos e investimentos. Tais ganhos so sintetizados no Quadro 9.

  • 19

    QUADRO 9: BENEFCIOS DA REDUO DAS PERDAS

    Perdas Perdas aparentes Perdas reais

    Ganhos Aumento da receita Reduo de custos Postergao de investimentos

    Tipos de benefcios Aumento do consumo medido e faturado

    Menores custos com produtos qumicos, energia e outros insumos. Diminuio da produo de gua com o atendimento do mesmo nmero de pessoas. Atendimento de maior nmero de pessoas com a mesma quantidade produzida.

    Aes envolvidas

    Troca de hidrmetros e medidores; Corte nas ligaes fraudulentas; Medio efetiva de todas as economias (domiciliares, comercial e pblicas); Melhora no cadastro

    Melhora do controle da presso na rede; Melhora no controle e deteco de vazamentos; Melhoria e troca de tubulaes, ligaes, vlvulas. Qualificao da mo de obra e melhoria dos materiais

    Fonte: elaborao prpria

    Alm dos ganhos indicados no Quadro 9 h um benefcio intangvel associado ao ganho

    de imagem de uma operadora focada em eficincia e preservao dos recursos naturais.

    difcil imaginar algo mais incoerente com a misso empresarial de prestar servios

    ambientais de uma operadora do que o registro de elevadas perdas de gua em qualquer

    etapa do processo de disponibilizao ou uso dos sistemas.

    Destaque-se ainda que h sinergias nas aes de reduo de perdas de gua e

    eficincia energtica. A reduo do ndice de perdas leva diminuio na necessidade

    de produo de gua que, por sua vez, faz com que a energia consumida na produo de

    gua caia e assim ocorra uma reduo nos custos de energia, como destacado no Quadro

    10.

  • 20

    QUADRO 10: SINERGIAS ENTRE REDUO DAS PERDAS DE GUA E EFICINCIA

    ENERGTICA

    Fonte: Elaborao GO Associados

    Os benefcios diretos das medidas de eficincia energtica so refletidos na reduo

    dos gastos com energia. Alm disso, possvel apontar benefcios indiretos. Por

    exemplo, os gastos investidos em conservao diminuem a necessidade de ampliao da

    gerao de energia. De acordo com ABES (2005), cada R$ 1 gasto em conservao de

    energia, evita R$ 8 em investimento em gerao. Alm disso, aumento de eficincia

    permite que as empresas tenham mais recursos para investir na expanso dos sistemas

    de gua e esgoto.

    3.2 Estimativa do potencial de ganho advindo de medidas de

    reduo de perdas de gua.

    Os programas para reduo de perdas de gua devem considerar sempre a relao

    entre o valor gerado pelo volume de gua economizado (que no ser perdido) e o valor

    do investimento tanto em infraestrutura quanto em gesto comercial realizado para

    lograr a reduo de perdas. A partir de certo nvel de perda de gua muito reduzido, o

    custo para a reduo da perda de gua se torna cada vez maior, pois a economia de gua

    gerada por investimento realizado cada vez menor.

    No caso das perdas aparentes, a literatura aponta que programas de reduo de perda

    de gua comercial so financeiramente atraentes, pois geram um retorno financeiro

    rpido. J os programas de reduo de perda de gua fsica so financeiramente

    atraentes no inicio da sua execuo principalmente nos pases em desenvolvimento que

    possuem altos nveis de perda de gua. Entretanto, aps uma significativa reduo do

  • 21

    nvel de perda de gua, os investimentos em programas de reduo de perda de gua

    fsica deixam de se tornar atraentes.

    Carlos Alberto Rosito8 estimou o potencial de ganhos brutos, em termos monetrios,

    da reduo de perdas de gua. Para tanto, considerou o volume de gua faturado no

    Brasil em 2007 (de aproximadamente 8,035 bilhes de m3), o consumo autorizado

    (aproximadamente 433,3 milhes de m3 de gua), as perdas aparentes (1,633 bilho de

    m3) e as perdas reais (3,927 bilhes de m3 de gua).

    As perdas aparentes foram valoradas com base na tarifa mdia de gua no mesmo

    ano de 2007, de R$ 1,87/m3, resultando em R$ 3,052 bilhes. J as perdas fsicas ou

    reais foram valoradas com base no custo marginal da gua no mesmo ano de 2007, de

    R$ 1,07/m3, resultando em R$ 4,055 bilhes. Por fim, foi includo tambm o consumo

    autorizado no faturado, que tambm foi valorado pelo custo marginal, resultando em

    R$ 0,464 bilho. No total, o custo das perdas em 2007 somou aproximadamente R$ 7,6

    bilhes.

    A partir desses parmetros, desenhou trs cenrios. O primeiro cenrio, otimista,

    apresentava reduo de 50% das perdas ao longo de 17 anos (de 2009 a 2025). Nessa

    hiptese, as perdas se reduziriam para 18,75%, com ganho potencial acumulado at

    2025 de R$ 37,27 bilhes.

    No cenrio base, as perdas se reduziriam em 38%, resultando em ganho potencial

    acumulado at 2025 de R$ 29,93 bilhes. Finalmente, o cenrio conservador

    considera reduo de perdas de 25%, com ganho potencial acumulado, no mesmo

    perodo, de 20,91 bilhes. Os nmeros esto no Quadro 11.

    8 da Saint Gobain Canalizao Ltda

  • 22

    QUADRO 11: ESTIMATIVAS DE GANHOS BRUTOS COM REDUO DE PERDAS DE GUA

    Perdas (2009)

    Perdas (2025)

    Reduo (%)

    Ganhos potenciais (R$ Bilhes)

    Cenrio 1 Otimista 37,4% 18,7% 50% 37,27

    Cenrio 2 Base 37,4% 23,2% 38% 29,93

    Cenrio 3 - Conservador 37,4% 27,9% 25% 20,91

    Fonte: adaptado de apresentao de Carlos Rosito no mbito do Grupo de Economia da

    Infraestrutura & Solues Ambientais.

    Se for considerado, no cenrio base, que 50% desse total ser reinvestido para

    implementar e manter os programas de reduo de perdas de gua9, o ganho lquido

    estimado de uma queda de 38% nos nveis de perda de gua do Brasil seria de R$ 14,97

    bilhes em 17 anos, uma mdia de R$ 880 milhes por ano. Este montante representa

    aproximadamente 12% do que foi investido no setor de gua e esgoto no Brasil no ano

    de 2011 (R$ 7 bilhes).

    A atualizao dessa estimativa a partir do SNIS de 2010 resultou em ganhos

    potenciais brutos de R$ 36 bilhes, ou R$ 20 bilhes lquidos.

    H, portanto, um caminho promissor a ser percorrido pelas empresas brasileiras de

    saneamento para elevar sua eficincia operacional. Note-se, entretanto, que solues

    para o problema das perdas em grandes cidades demandam planejamento, conhecimento

    e persistncia das aes; resultados rpidos podem ser obtidos, mas o verdadeiro

    equacionamento de longo prazo.

    9 Esta porcentagem est baseada no programa de reduo de perdas de gua da Sabesp.

  • 23

    4 SITUAO ATUAL DOS PRESTADORES DE SERVIOS

    A situao atual dos prestadores de servio no favorece os investimentos em reduo

    de perdas. Parte importante dos operadores no possui quadro de profissionais em

    quantidade suficiente e, mesmo quando o tem, no est suficientemente treinado e

    capacitado para gerenciar os sistemas de modo a manter baixos e sob controle os ndices

    de perdas. Outro fator que agrava o problema a precria condio fsica dos sistemas

    de abastecimento de gua, com redes antigas, escassez de equipamentos e instrumentos,

    e at mesmo de cadastros tcnicos e comerciais. Em outras palavras, h prestadores que

    desconhecem as principais caratersticas do sistema que operam.

    4.1 Baixa capacidade de financiamento

    Um dos principais problemas associados aos baixos ndices de investimento no setor de

    saneamento brasileiro a baixa capacidade dos operadores de se financiar.

    Levantamento do Fundo de Investimentos do FGTS indica que das 26 empresas

    estaduais de saneamento, somente 7 tm condies adequadas para captao de

    financiamentos10.

    Essa limitao est relacionada s formas como o Governo Federal disponibiliza

    recursos para o setor e s condies econmico-financeiras ainda precrias dos

    operadores, que, por sua vez, se justificam em funo da baixa eficincia operacional e

    de gesto. Ou seja, os altos custos dessas empresas (quadro de pessoal mal

    dimensionado, ineficincia nas compras, alto consumo de energia eltrica, altos ndices

    de perdas de gua) e a baixa capacidade de gerao de receitas (gesto comercial

    deficiente, no aproveitamento de oportunidades na rea de saneamento industrial e

    privado, baixa agressividade comercial) diminuem a capacidade das operadoras de obter

    recursos financeiros, que seriam destinados ao seu plano de investimentos e, tambm, a

    aes de melhoria operacional, como programas de reduo de perdas de gua.

    10 Disponvel em: http://www.fgts.gov.br/trabalhador/fi_fgts.asp

  • 24

    Conforme indicado no Quadro 12, trata-se de um ciclo vicioso, em que a baixa

    capacidade operacional reduz a capacidade de financiamento, que por sua vez prejudica

    a capacidade de investimento e, consequentemente, a melhora operacional.

    QUADRO 12: CICLO VICIOSO GESTO DAS OPERADORAS DE SANEAMENTO

    Fonte: Manual sobre contratos de performance e eficincia para empresas de saneamento

    (IFC, 2012)

    4.2 Rigidez oramentria

    A reduo de perdas fsicas e de perdas aparentes envolve uma srie de atividades que

    precisam ser desenvolvidas de forma integrada e que normalmente dificulta a estimativa

    precisa de todas as aes necessrias identificao e reduo das perdas nos sistemas

    de abastecimento de gua. Essa caracterstica requer alguma flexibilidade das

    operadoras de saneamento para alterar seus oramentos ao longo da implantao de

    programas para reduo de perda de gua.

    A rigidez oramentria, isto , a ausncia de flexibilidade nos oramentos, constitui

    assim um problema para a implantao de programas de reduo de perdas nos sistemas

    de abastecimento de gua.

    4.3 Ausncia de coordenao central

    comum empresas de saneamento implantarem programa de substituio de

    hidrmetros (reduzindo as perdas aparentes), mas no investirem na renovao de suas

    redes de distribuio de gua que podem ter elevadas perdas fsicas.

  • 25

    Uma das razes para esse tipo de prtica est associada a no indicao de um setor ou

    departamento como responsvel pela implantao de um programa de reduo de

    perdas. Como as aes para reduzir perdas envolvem diversos departamentos de uma

    operadora de saneamento (como os setores de compras, obras, manuteno, cobrana,

    marketing, entre outros), a ausncia de uma unidade focada na estruturao e

    acompanhamento de um programa de reduo de perdas e eficincia energtica dispersa

    esforos e causa descoordenao.

    Isso se reflete tambm no momento da oramentao, pois se no houver oramento

    dedicado a todas as aes necessrias implantao de um programa de reduo de

    perdas e eficincia a tendncia que, por falta de recursos, no seja possvel implantar

    todas as aes necessrias ao sucesso do programa.

    Essa falta de coordenao central, porm, se justifica muitas vezes, como anteriormente

    citado, pela ausncia de capacitao tcnica das operadoras de saneamento para

    estruturarem um programa adequado de reduo de perdas e eficincia. H falta de

    conhecimento tcnico para montagem de projetos bsicos, estruturao de editais,

    precificao dos servios e definio das melhores solues tcnicas e tecnolgicas.

  • 26

    5 CONTROLE DAS PERDAS

    O Quadro 13 apresenta uma sntese das aes para o controle e a reduo de perdas

    reais. H trs tipos de vazamentos; para cada tipo de vazamento correspondem algumas

    aes possveis para o controle e a reduo de perdas:

    Vazamentos no visveis, de baixa vazo, no aflorantes e no detectveis por

    mtodos acsticos de pesquisa. Nestes casos, deve-se observar a qualidade da

    mo de obra e dos materiais utilizados, e, eventualmente, reduzir a presso da

    rede.

    Vazamentos no visveis, no aflorantes, mas detectveis por mtodos acsticos

    de pesquisa: nesses casos, alm das aes anteriores, deve-se aumentar a

    pesquisa de vazamentos.

    Vazamentos visveis, aflorantes ou ocorrentes nos cavaletes; extravazamentos

    nos reservatrios. Nesses casos, alm as aes anteriores, deve-se tambm

    controlar o nvel dos reservatrios.

    QUADRO 13: SNTESE DAS AES PARA O CONTROLE E A REDUO DE PERDAS REAIS

    Fonte: TARDELLI FILHO, J. Controle e Reduo de Perdas. In TSUTIYA, M. T.

    Abastecimento de gua. 2006.

  • 27

    J o Quadro 14 apresenta a sntese das principais aes para o controle e a reduo

    das perdas aparentes. No mbito da macromedio, as aes adequadas so a instalao

    adequada de macromedidores e a calibrao dos medidores de vazo. No mbito da

    gesto comercial, as aes incluem o controle de ligaes inativas e clandestinas. No

    que concerne micromedio, as aes abrangem a instalao adequada e a substituio

    peridica dos hidrmetros.

    QUADRO 14: SNTESE DAS AES PARA O CONTROLE E A REDUO DE PERDAS

    APARENTES

    Fonte: TARDELLI FILHO, J. Controle e Reduo de Perdas. In TSUTIYA, M. T.

    Abastecimento de gua. 2006.

  • 28

    6 FORMULAO DE ESTRATGIAS E ABORDAGENS PARA

    A REDUO DE PERDAS DE GUA

    O problema do elevado nvel de perdas preocupa as lideranas de organizaes de

    saneamento (concessionrias pblicas e privadas, autarquias e departamentos) pelo

    menos a partir do incio dos anos 2000, especialmente por causa da escassez hdrica que

    estas organizaes enfrentam e pelos altos valores das perdas, gerando demanda

    adicional num sistema de abastecimento de gua j bastante exigido pelo

    desenvolvimento urbano das cidades brasileiras.

    O Plano Nacional de Saneamento Bsico (PLANSAB), em discusso no Brasil,

    separa o foco de atuao no setor de saneamento, em aes estruturais (com foco na

    ampliao e melhoria do ativo) e aes estruturantes (cujo foco a gesto de ativos). O

    ataque s causas das perdas, pela via de aes estruturais, deve ser antecedido por aes

    estruturantes, partindo-se de uma estratgia bem formulada, levando em considerao

    conceitos de gesto.

    Cabe aos operadores, independentemente da estratgia que adotem para o combate

    s perdas, o pleno conhecimento dos sistemas que operam. As estratgias que podem ser

    adotadas, algumas das quais descritas a seguir, jamais podem perder de foco que o

    ponto de partida para enfrentar o problema das perdas de gua o estabelecimento, por

    parte dos operadores, de um mnimo de profissionais destacados para o desafio.

    Os profissionais designados devero ser treinados e capacitados nos conceitos e

    aes que envolvem a operao de gua, hidrometria e aspectos comerciais como

    combate a fraudes, por exemplo. O conhecimento de conceitos de gesto e estratgia

    necessrio para as pessoas que lideram equipes e processos.

    6.1 Aes estruturantes: a gesto dos ativos

    Reduzir perdas sem considerar prticas de gesto tem se demonstrado incuo, pois

    no se consegue dar sustentabilidade ao Programa de Reduo e Controle de Perdas.

    O gerenciamento do controle de perdas envolve o acompanhamento de diversas

    aes especializadas, integradas e sequenciais, avaliando o andamento e medindo os

  • 29

    resultados. Com esses resultados sero definidas as prximas estratgias e etapas de um

    Programa de Controle de Perdas em uma companhia de saneamento.

    Trata-se da incorporao de ferramentas de qualidade nos processos operacionais

    envolvidos no controle e reduo de perdas em sistemas de abastecimento de gua. As

    decises devem ser tomadas baseadas em indicadores e anlises criteriosas dos

    resultados, deixando de lado o predomnio da experincia dos operadores do sistema.

    Essa bagagem de conhecimentos, que no deve e no pode ser desprezada, merece ser

    utilizada juntamente com ferramentas e mtodos que traduzam uma maior otimizao

    dos recursos disponveis e uma elevada eficcia dos resultados.

    De forma resumida, um programa deve conter minimamente as seguintes etapas:

    Diagnstico;

    Definio de Metas;

    Indicadores de Controle;

    Planos de Ao;

    Estruturao e Priorizao;

    Acompanhamento das Aes e Avaliao de Resultados.

    O sucesso do programa est diretamente ligado ao conhecimento e participao de

    todos os agentes responsveis, em quaisquer nveis hierrquicos dentro da organizao

    na companhia de saneamento.

    A realizao de atividades de capacitao tcnica, palestras, discusses de resultados

    e cobrana de responsabilidades, bem como a utilizao de meios de comunicao

    internos empresa disponveis, so medidas passveis de serem adotadas.

    O envolvimento acima citado deve ser passado e cobrado tambm no caso da

    terceirizao dos servios.

    Portanto, a associao das aes de engenharia, com Gesto de Pessoas e de

    Processos, constitui o trip de aes que garantem sustentabilidade aos Programas de

    Reduo e Controle de Perdas.

  • 30

    Existem vrias ferramentas de gesto para programas de reduo de perdas. Entre

    eles, destaca-se o MASPP Mtodo de Anlise e Soluo de Problemas de Perdas D

    gua e de Faturamento. O MASPP tem sido a Ferramenta da Qualidade empregada em

    vrios operadores.

    O MASPP pode ser entendido como uma adaptao do Ciclo de Deming, tambm

    conhecido como Ciclo do PDCA (Plan-Do-Check-Act) para programas de reduo de

    perdas. Suas oito fases sequenciais esto ilustradas no Quadro 15:

    QUADRO 15: FASES SEQUENCIAIS DO MASPP: O CICLO DE CONTROLE

    Fonte: apud Baggio, 2009

    De acordo com os princpios do MASPP, o principal objetivo reduzir o ndice de

    perda de gua na distribuio, a partir da reduo do VD (Volume Disponibilizado) e da

    elevao do VU (Volume Utilizado).

    A caracterstica desse mtodo passa a ser ento a criao de um desafio comum a

    todos, desde a direo at o cho de fbrica.

    A gesto de programas de reduo de perdas deve incluir:

    Padres de Trabalho de Controle de volume de gua disponibilizado, abrangendo:

    - Planejamento e Controle de reservatrios;

    - Planejamento e Controle de bombeamentos;

    - Planejamento e Controle de VRPs;

    - Planejamento e Controle de Redes de Distribuio;

  • 31

    - Planejamento e Controle de combate a vazamentos;

    - Planejamento e Controle de manobras; e outros...;

    Padres de Trabalho de Controle de volume de gua utilizado e ligaes ativas,

    abrangendo:

    - Planejamento e Controle de Cadastro de Consumidores;

    - Planejamento e Controle da Micromedio tanto para rol comum como para

    cliente especial;

    - Planejamento e Controle de combate a fraudes e clandestinas;

    - Planejamento e Controle das Margens de Erro da Macro e Micromedio;

    - Planejamento e Controle de Ataque a Inativas; e outros...

    6.2 Aes estruturais: execuo de uma estratgia de reduo

    de perdas

    As abordagens tradicionais para reduo de perda fsica de gua nos pases em

    desenvolvimento consistem na celebrao de contratos de assistncia tcnica e na

    terceirizao de partes do projeto de reduo de perdas de gua.

    Como contraponto abordagem tradicional tanto em relao perda de gua fsica

    quanto em relao perda de gua comercial, a literatura prope de forma unnime, o

    modelo de contrato de performance. Neste, diferentemente da abordagem tradicional,

    todas as atividades relacionadas reduo de perda de gua so transferidas ao parceiro

    privado.

    Por fim, h a alternativa de parcerias pblico-pblico, como exemplificado pela

    parceria entre duas empresas pblicas de saneamento bsico, a Sabesp (So Paulo) e a

    Casal, (Alagoas).

    As prximas sees analisam essas trs abordagens para a reduo de perda fsica de

    gua.

    6.2.1 Contratos de Assistncia Tcnica

    Os contratos de assistncia tcnica consistem na contratao de consultorias

    privadas especializadas que desenvolvem projetos estratgicos para reduo de perdas

  • 32

    de gua. Estas consultorias apenas estruturam um projeto que executado com o

    oramento da operadora de gua destinado a este propsito assim como com o quadro

    de funcionrios pr-existente contratado pela operadora de gua.

    Esta abordagem apresenta, em muitas situaes, deficincias. A principal delas

    reside no fato da remunerao da contratada ser fixa e no relacionada ao sucesso do

    programa de reduo de perdas. Alm disso, muitas empresas de saneamento carecem

    de know-how e conhecimento para implantar os programas de reduo de perdas

    formatados, o que reduz a utilidade da assistncia tcnica contratada.

    6.2.2 Terceirizao de partes dos servios dos projetos para reduo de

    perdas de gua

    J a terceirizao de partes dos servios dos projetos para reduo de perdas de gua

    tem sido utilizada para trabalhos de campo como deteco de vazamentos no sistema de

    distribuio de gua, troca de hidrmetros, atualizao de cadastros dos consumidores

    finais e identificao de fraudes. Esta abordagem apresenta algumas vantagens em

    relao aos contratos de assistncia tcnica, quais sejam, a reduo dos custos de

    prestao do servio atravs de processo licitatrio, maior flexibilidade para trabalho

    noturno e maior flexibilidade na captao de recursos adicionais.

    6.2.3 Contratos de performance

    Os contratos de performance oferecem uma nova abordagem para o desafio de

    reduo das perdas de gua. A essncia dos contratos de performance o agente privado

    no ser remunerado apenas pela entrega dos servios, como ocorreria na terceirizao,

    mas tambm pelo cumprimento das metas estabelecidas no contrato.

    O contrato de performance baseado na ideia de remunerar o setor privado pela

    entrega de resultados e no apenas pela execuo de uma srie de tarefas . Em

    contrapartida aos riscos assumidos, conferido ao agente privado flexibilidade

    necessria para executar as suas tarefas conforme julgar ser o melhor de acordo com a

    sua experincia na rea.

  • 33

    A aplicao prtica dos contratos de performance depende do nvel de risco que o

    agente privado est disposto a aceitar o que est atrelado, de forma indireta, ao cenrio

    poltico-econmico do pas, s condies especificas das operadoras de gua e s

    especificidades de cada contrato.

    Programas de reduo de perdas em empresas de saneamento na maioria das vezes

    no so implantados atravs de contratos de eficincia. De fato, os contratos de

    performance no so uma panaceia e no constituem o nico modelo para reduzir

    perdas de gua.

    Entretanto, os contratos de eficincia oferecem solues mais apropriadas para

    superar determinados entraves comumente enfrentados por operadores brasileiros de

    saneamento. De forma geral, possvel agrupar esses entraves e solues em quatro

    grupos: (i) capacidade de financiamento; (ii) know-how na estruturao de programas;

    (iii) reduo de custos de transao; e (iv) aumento de incentivos positivos ao

    contratado privado.

    QUADRO 16: COMPARAO ENTRE CONTRATAO TRADICIONAL E CONTRATO DE

    PERFORMANCE

    Item Contratao Tradicional Contrato de Performance

    Investimentos e despesas de implantao

    Realizados pela operadora de saneamento

    Realizados pela contratada

    Necessidade de capital preciso ter disponibilidade de capital para realizar o investimento

    No preciso ter disponibilidade de capital para realizar o investimento

    Remunerao da contratada Definida na licitao. Depende de medies de obra e no do alcance efetivo das metas

    Depende de desempenho. Se a contratada no alcana as metas, penalizada com remunerao menor.

    Risco Assumido pela operadora de saneamento

    Assumido pela contratada

    Tecnologia Empresa deve possuir know-how para desenhar as aes necessrias de maneira detalhada

    Tecnologia pode ser trazida pela empresa contratada.

    Fonte: Manual sobre contratos de performance e eficincia para empresas de saneamento

    (IFC, 2012)

    6.2.4 Parceria pblico-pblico

    O modelo de parceria entre duas empresas pblicas para implantao de um

    programa de reduo de perdas de gua pouco difundido no Brasil. Dois motivos

    podem explicar essa situao.

  • 34

    - Poucas empresas estaduais de saneamento tm condies de prestar servios fora do

    seu Estado (seja por restries legais, seja por falta de capacidade financeira).

    - Poucas empresas que tem condies e esto autorizadas por lei a desenvolver

    atividades fora do seu Estado e no exterior encontram, ainda, muitas resistncias,

    pois so constantemente cobradas para investir recursos e esforos na reduo dos

    dficits de cobertura de servios em seus Estados.

    A nacionalizao e internacionalizao geralmente vista como uma segunda

    etapa da estratgia empresarial da Companhia, aps a completa universalizao dos

    servios na sua base operada.

    Esse entendimento, porm, apresenta algumas inconsistncias. Na realidade, a

    atuao de empresas pblicas fora de seu Estado e mesmo a nvel internacional

    representa importante instrumento de melhoria da gesto da Companhia e gerao

    adicional de receita.

    Melhoria na gesto, pois expe os funcionrios da companhia concorrncia

    com outras empresas e exige desenvolvimento de novas habilidades. A companhia passa

    atuar em um mercado competitivo e no mais monopolista, permitindo, tambm, a

    realizao de exerccios de benchmark.

    Do ponto de vista econmico, a deciso da empresa em atuar fora de seu Estado

    permite o engajamento em projetos com maior rentabilidade e retorno mais rpido. Isto

    porque, a empresa no precisa cumprir com sua funo pblica de saneamento integral

    de sua base operada, ainda que essas aes representem retornos mais modestos.

    Os recursos adicionais gerados fora do Estado auxiliam a financiar o plano de

    investimentos da Companhia, alm de prepar-la para enfrentar a competio de grupos

    privados em seu prprio Estado.

  • 35

    7 EXEMPLOS DE CASOS PRTICOS

    7.1 guas de Niteri Aplicao do MASPP na Soluo de

    Problemas de Perdas D gua

    A concessionria guas de Niteri, dentro do que estabelecia seu Planejamento

    Estratgico, iniciou em 2005 a implantao do PROGRAMA PRODUZA (Produzir e

    Utilizar gua de maneira eficiente), com o objetivo de atingir metas de reduo de

    perdas, atravs da reduo do volume disponibilizado e do aumento do volume

    utilizado.

    Assim, deflagraram-se importantes aes na Gesto dos Processos Operao e

    Comercializao, aes estas consubstanciadas no Mtodo MASPP Mtodo de

    Anlise e Soluo de Problemas de Perdas D gua e de Faturamento. Aps dois anos

    de ao o PRODUZA ostenta importantes melhorias, pois proporcionou pela via da

    reduo do volume macromedido (comprado junto CEDAE) e pela via do aumento do

    volume micromedido (vendido cidade de Niteri) ganhos expressivos em

    rentabilidade, alm de importantssima preservao no uso de recursos naturais, j que

    se utiliza hoje para abastecer populao maior, 1,5 bilhes de litros a menor.

    Entre os principais resultados alcanados, destaca-se a economia no volume

    comprado em 1.296.000 m no ano de 2006, representando 0,30% no volume comprado

    junto CEDAE;

    7.2 Sanepar Regio Metropolitana de Curitiba Implantao

    do MASPP

    O planejamento estratgico da Sanepar estabeleceu metas audaciosas de reduo de

    perdas, ensejando Alta Administrao da Sanepar a busca de metodologias que,

    somadas s aes em curso, permitissem a consecuo de resultados esperados pelos

    acionistas da Sanepar e todas as demais partes interessadas (cliente, vizinhana,

    fornecedores, empregados, titular).

  • 36

    Entre os principais resultados alcanados, destacam-se a reduo de 2% no volume

    produzido e de 0,4% no volume micromedido.

    7.3 Sabesp Unidade de Gerenciamento Regional Santo

    Amaro Implantao da Metodologia MASPP II ou Six

    Sigma

    A metodologia Seis Sigma ou Six Sigma (em ingls) um conjunto de prticas

    originalmente desenvolvidas pela Motorola para melhorar sistematicamente os

    processos ao eliminar defeitos.

    Considerando ser inovadora a aplicao do Six Sigma na operao de sistemas de

    gua, estudaram-se todos os mais de cem (100) setores de abastecimento da Unidade de

    Negcio Sul da Sabesp Metropolitana, tendo-se recado a escolha num determinado

    setor de abastecimento piloto, o Setor Americanpolis Zona Baixa 1.

    Aps a implementao do Six, o indicador de perdas por ligao foi reduzido em

    mais de 30%, mantendo-se controlado, assegurado pela Central de Controle que realiza

    o controle estatstico dos processos de distribuio e de medio de consumos.

    7.4 Rio Branco Implantao do MASPP

    A implantao do MASPP no SAERB desde 2008 apresentou entre outros

    resultados, a reduo das Perdas Fsicas de gua de 1600 l/lig/dia para 1.100 l/lig/dia de

    junho 2008 at julho de 2010, o aumento do volume micromedido, a reduo do volume

    produzidor, o aumento do faturamento e o aumento da arrecadao.

  • 37

    7.5 Sabesp Contrato de performance para reduo de perdas

    reais do Setor Vila do Encontro Municpio de So Paulo

    O escopo deste contrato a prestao de servios tcnicos para elaborao de

    estudos, projetos e implantao de planos de trabalho para otimizao do

    abastecimento de gua do Setor Vila do Encontro, visando a reduo de perdas

    reais11.

    O objetivo do contrato de performance promover uma economia de gua

    distribuda no setor de abastecimento igual ou superior a 112.852 m/ms. O valor

    considerado como baseline foi de 1.010.618 m/ms compreendido pela mdia de

    jul/08 a jun/09 e o objetivo reduzir esse montante para 897.766 m/ms, uma

    reduo de 11,2%.

    A licitao foi do tipo tcnica e preo, sendo 70% da pontuao para a proposta

    tcnica e 30% para a proposta comercial. A proposta comercial teve como base o

    volume de economia de gua proposto (VEAP). Assim, quanto maior a economia de

    gua proposta, mais pontos para a proponente. Neste caso, o VEAP da empresa

    vencedora da licitao foi de 115.938 m/ms.

    O contrato tem durao de quatro anos (mar/2010 a fev/2014) e trs fases: i) pr-

    operao (18 meses); ii) apurao da performance (6 meses); e iii) remunerao fixa (24

    meses). O Quadro 17 mostra as caractersticas de cada uma das trs fases. Na fase 1

    (pr-operao) so realizadas todas as aes para reduo de perdas previstas na

    proposta tcnica. Como em qualquer contrato de performance, os gastos para a

    realizao desses investimentos ficam a cargo da empresa contratada. Nesta fase, a

    remunerao ocorre somente se o Volume Distribudo (VD) ficar abaixo do baseline, ou

    seja, a empresa s recebe se efetivamente propiciar a reduo de perdas de gua. A fase

    2 (apurao da performance) fica restrita ao gerenciamento do setor de abastecimento.

    11 Para maiores detalhes ver o Edital desse contrato, que o 41788/09.

  • 38

    A remunerao ocorre de acordo com o resultado do perodo anterior. A fase 3

    (remunerao fixa) aquela em que a operao passa para a Sabesp. Neste caso, a

    remunerao ser realizada pela mdia do VD obtido na fase 2.

    QUADRO 17: FASES DO CONTRATO DE PERFORMANCE SABESP VILA DO ENCONTRO

    Fase Pr-operao Apurao de performance Remunerao Fixa

    Atividade Implantao do escopo

    proposto Gerenciamento do setor de

    abastecimento Operao Sabesp

    Perodo 18 meses 6 meses 24 meses

    Remunerao Parcial Varivel Fixa

    Condies para a remunerao

    VD abaixo do baseline condio necessria para

    a remunerao.

    Remunerao conforme o perodo anterior, mas a mdia do resultado destes 6 meses

    ser a base de clculo para as remuneraes fixas.

    Remunerao fixa em funo da mdia do VD

    obtido no perodo anterior

    Fonte: BERENHAUSER (2012)

    Entre os principais resultados da implantao das aes para reduo de perdas reais

    de gua no contrato de performance realizado pela Sabesp no Setor Vila do Encontro,

    destacam-se:

    O volume de perdas passou de cerca de pouco mais de 900 litros por ligao

    dia em julho de 2008 para menos de 400 em janeiro de 2012.

    J ndice de perdas, medido em termos percentuais passou de cerca de 51%

    em julho de 2008 para menos de 30% em janeiro de 2012.

    7.6 Programa Regua.

    O Programa REGUA (Programa de Apoio Recuperao de gua no Estado de

    So Paulo), desenvolvido pelo Banco Mundial e pela Secretaria de Saneamento e

    Energia (SSE)12 do Estado de So Paulo, objetiva aumentar, quantitativa e

    qualitativamente, a disponibilidade de gua em bacias crticas do Estado de So Paulo,

    12 Atual Secretaria de Saneamento e Recursos Hdricos do Estado de So Paulo.

  • 39

    atravs da aplicao de cerca de US$ 107 milhes, recursos do Banco Mundial e de

    contrapartida do Governo do Estado de So Paulo.

    No quesito quantidade, o Programa foca em trs componentes: controle e reduo de

    perdas reais; uso racional da gua; e reuso de efluentes tratados. No quesito qualidade, o

    Programa foca igualmente em trs componentes: coleta, transporte e tratamento de

    esgotos.

    Alm disso, o Programa Regua reservou parte dos recursos pra aplicao

    institucional, tendo em vista principalmente o incremento da capacitao tcnica das

    dezenas de Companhias Municipais do Estado de So Paulo.

    Para definir os componentes do Programa, a SSE promoveu uma seleo de

    projetos: atravs de chamada no Dirio Oficial, as Companhias de Saneamento estadual

    e municipais foram convocadas a apresentar projetos enquadrveis nos componentes

    acima citados.

    Os projetos apresentados foram pontuados com relao sua viabilidade e

    qualidade. Aps a seleo, o Quadro do Programa Regua ficou composto da seguinte

    forma:

    6 projetos de Controle e Reduo de Perdas

    2 projetos de Uso Racional da gua

    2 projetos de Reuso de Efluentes Tratados

    21 projetos de Coleta, Transporte e Tratamento de Esgotos

    No total, 31 projetos distribudos em 27 municpios do Estado de So Paulo.

    A grande inovao do Programa Regua que tais projetos sero remunerados a

    partir dos objetivos e resultados alcanados, independentemente do custo das obras

    previstas.

    Para tanto, como j ocorrera no Programa Despoluio de Bacias Hidrogrficas

    (PRODES) da Agncia Nacional de guas (ANA), a Secretaria montou, para cada

    componente do Programa REGUA, tabelas de valores de resultados que seriam

  • 40

    repassados aos operadores. A remunerao do operador se daria pelo atingimento de

    metas contratadas de volume de gua recuperada. Esse volume seria multiplicado por

    valores monetrios por metro cbico de gua recuperada, variveis de acordo com o

    grau de dificuldade para a reduo de perdas. O grau de dificuldade foi estabelecido

    conforme as cinco categorias definidas nas bandas de referncia para reduo de perdas

    do Banco Mundial, conforme o Quadro 5, da pgina 13.

    O Programa Regua , portanto, uma experincia pioneira do Banco Mundial em

    contratos de performance (OBD Output Based Disbursement) 13.

    7.7 Parcerias Pblico-Pblico: Histrico do Projeto Casal-

    Sabesp

    O contrato entre a Sabesp e a CASAL Companhia de Saneamento de Alagoas,

    trouxe grandes inovaes, principalmente na questo da remunerao por risco, alm da

    estratgia de ataques a perdas reais, aparentes e a implantao do MASPP para a

    reduo e controle das perdas de gua no municpio de Macei.

    As partes concordaram que o contrato teria um perodo de intervenes de 18 meses

    (at maio de 2011), sendo os investimentos totais da Sabesp previstos da ordem de R$

    20.000.000,00. A Sabesp subcontratou uma srie de servios, permanecendo, porm,

    responsvel perante a Casal pelo sucesso do programa e pela transferncia de

    tecnologia. Dois profissionais da Sabesp foram transferidos para Macei para coordenar

    as aes do contrato.

    A remunerao da Sabesp foi calculada com base no efetivo aumento de receitas

    experimentado pela Casal durante o perodo do contrato.

    A Sabesp fazia jus, nos trs primeiros anos de contrato, a uma remunerao de 55%

    do acrscimo de receita e de 45% nos dois ltimos anos de contrato, at que sua

    13 Veja: Velez e Tierney, 2010 (disponvel em:

    http://siteresources.worldbank.org/INTLAC/Resources/257803-1269390034020/EnBreve_160_Web.pdf

  • 41

    remunerao acumulada e reajustada chegasse ao valor total de R$ 25.008.392,00 (vinte

    e cinco milhes, oito mil e trezentos e noventa e dois reais) (Valor Total Inicial). A

    partir de ento a Sabesp faria jus a 20% do acrscimo de receita at que sua

    remunerao acumulada reajustada chegasse ao Valor Total Inicial do Contrato

    acrescido de 20%.

    O contrato trouxe importantes resultados, dentre eles a regularizao do

    abastecimento no Bairro de Benedito Bentes (rea carente de Macei) que, devido aos

    altos ndices de perdas, impedia que mais gua fosse distribuda para a orla, onde esto

    concentrados os grandes consumidores (p.ex. hotis e restaurantes).

    A partir do momento em que foi possvel disponibilizar um maior volume de gua

    para a orla, a Casal pode atender os grandes consumidores, aumentando, assim seu

    faturamento. Alm disso, esses consumidores abandonaram o fornecimento de gua por

    caminho pipa, cuja qualidade no controlada e pode gerar riscos sade da

    populao.

  • 42

    8 CONCLUSES: AS PROPOSTAS DA ABES

    O objetivo desta seo resumir os principais pontos abordados.

    O cenrio brasileiro de perdas de gua no setor de saneamento bastante

    problemtico.

    - A mdia brasileira de perdas nos sistemas de abastecimento de gua de

    aproximadamente 40%, incluindo as perdas reais e aparentes.

    Cabe aos operadores, independentemente da estratgia que adotem para o

    combate s perdas, o pleno conhecimento dos sistemas que operam.

    As estratgias brasileiras para reduo de perdas de gua devem combinar aes

    estruturantes (de gesto de ativos) e aes estruturais (de ampliao e melhoria

    dos ativos).

    - No caso das aes estruturantes, este texto destaca a importncia de

    estratgias de gesto integradas para os programas de reduo e controle

    de perdas. H vrias ferramentas de gesto disponveis, entre elas o

    MASPP.

    No caso das aes estruturais, h tambm opes de contratao de servios,

    entre elas:

    - Contratos de Assistncia Tcnica;

    - Terceirizao de partes dos servios dos projetos para reduo de perdas

    de gua;

    - Contratos de performance e

    - Parceria pblico-pblico.

    Os contratos de performance oferecem uma nova abordagem para o desafio de

    reduo das perdas de gua

    fundamental para o enfrentamento do problema a clara necessidade de

    adequao e capacitao dos recursos humanos que sero alocados na atividade,

    por parte dos operadores.

    Portanto, outro desafio que se soma ao da reduo de perdas e, ao mesmo tempo,

    deve ser considerada parte integrante da soluo, a formulao de propostas que,

  • 43

    incorporadas ao PLANSAB e com recursos financeiros definidos, significaro

    importante passo para a melhoria do saneamento brasileiro.

  • 44

    9 REFERNCIAS

    BERENHAUSER, C. Viabilidade de contratos de risco: apresentao In: Grupo de

    Economia do Saneamento, Energia & Solues Ambientais, 2012, So Paulo.

    COSTA, A. J. M. Casal desafios na teoria e na prtica: apresentao. In: Grupo de Economia do Saneamento, Energia & Solues Ambientais, 2012, So Paulo.

    FILHO, M. J. Comentrios lei de licitaes e contratos administrativos. 11 Edio,

    So Paulo: Dialtica, 2005.

    GOMES, H. P. Eficincia hidrulica e energtica em saneamento: Anlise econmica de

    projetos. 2 edio. 145 pp. Editora Universitria: Joo Pessoa, 2009.

    JUNIOR, J. T. P. Comentrios lei de licitaes e contrataes da administrao

    pblica. 8 Edio, Rio de Janeiro: Renovar, 2009.

    KINGDOM, B.; LIEMBERGER, R.; MARIN, P. The challenge of reducing Non-

    Revenue Water (NRW) in developing countries. How the private sector can help: A

    look at performance-based service contracting. Water supply and sanitation sector board

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    VELEZ, CARLOS E. e TIERNEY, JULIA: Innovative Results-Based Approach to

    Tackling Water Scarcity in So Paulo. En Breve, August 2010, n. 160. Disponvel em:

  • 45

    http://siteresources.worldbank.org/INTLAC/Resources/257803-

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    WORLD BANK; PPIAF. Approaches to private participation in water services: a

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