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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaçãoXIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Vila Velha - ES – 22 a 24/05/2014

Percy Jackson e Os Olimpianos:relações entre mitologia grega e ciência1

Rosana Marques de SOUZA2

Luís Paulo PIASSI3

Universidade de São Paulo, São Paulo, SP

RESUMO

Neste trabalho tratamos da literatura juvenil como instrumento midiático capaz detransmitir ideias e valores que permitem diversas discussões e reflexões tantoeducacionais como culturais. A partir destas possibilidades, analisamos o livro “Oladrão de raios”, da série “Percy Jackson e os Olimpianos” do escritor Rick Riordan. Nodecorrer da análise, observamos como a ciência está representada, assim como o papeldesempenhado pela mesma. Neste livro, assim como os demais livros que constituem asérie, o autor retrata a mitologia grega neste século, fazendo parte do dia a dia daspessoas, sem ser percebida pelos seres humanos, mas como a força suprema da naturezagraças à ação dos deuses do Olimpo.

PALAVRAS-CHAVE: literatura juvenil; educação científica; mitologia grega.

INTRODUÇÃO

Geralmente os livros de literatura infantil e juvenil são voltados para a educação,

contribuindo para a alfabetização e familiarização da criança e do jovem com o

universo da cultura. Além de, como uma forma de mídia, passar valores sociais.

Todavia, as obras literárias juvenis atuais são uma forma comercial de cultura e, com

uma visão lucrativa, estão sendo elaboradas com o intuito de prender o jovem leitor,

como ocorre com o rádio e a televisão, precisam ter audiência, e isto significa grandes

vendas. Além disso, está passando valores que são consideráveis para o contexto desta

época.

De acordo com Kellner (2001, p.27) a cultura veiculada pela mídia transformou-se

numa forma dominante de socialização, a ponto de influenciar e substituir a família, a

1 Trabalho apresentado no DT 6 – Interfaces Comunicacionais do XIX Congresso de Ciências da Comunicação naRegião Sudeste, realizado de 22 a 24 de maio de 2014.

2 Mestranda em Educação pela FE-USP, email: [email protected].

3 Orientador do trabalho. Docente de graduação e pós graduação na EACH-USP, FE-USP e IF-USP, email:[email protected]

Financiamento: Capes, CNPq e PRCEU - USP

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escola e a igreja produzindo novos modelos de identificação como estilos, moda e

comportamento.

A literatura juvenil possui séries que fazem sucesso no mundo todo a ponto de serem

adaptadas para o cinema, como no caso da série Harry Potter de J.K. Rowling. Tais

séries atraem seus leitores devido à familiaridade encontrada com as personagens. Esta

familiaridade é o que podemos chamar de identificação, ou seja, o jovem leitor percebe

nas personagens características e atitudes bem semelhantes a que vivencia,

principalmente nesta fase da vida em que a personalidade do jovem ainda está em

formação. Ward & Young (2007, p. 71) afirmam que os leitores esperam um enredo

claro no qual os problemas que surgirem são resolvidos de forma satisfatória, ou seja, o

leitor identifica conflitos vividos pelas personagens e durante a leitura observa as

atitudes, as aventuras e os riscos que as personagens sofrem para resolver os problemas

da melhor forma, além disso, os assuntos inacabados durante a história, é uma forma de

prender os leitores e envolvê-los com os próximos livros da série. É importante ressaltar

também as expectativas culturais, pois, a literatura juvenil é uma forma de mídia, muitos

valores são transmitidos, por este motivo que Kellner afirma que devemos considerar o

contexto social que influenciou de certa forma o desenvolvimento de obras da literatura

juvenil:

No entanto, não devemos nos deter nos confins da intertextualidade, masdevemos nos mover do texto para seu contexto, para a cultura e a sociedade queconstituem o texto e nas quais ele deve ser lido e interpretado (KELLNER, p.42, 2001).

Atualmente existe uma preocupação em educar as crianças e os jovens cientificamente,

para que estes possam se tornar cidadãos críticos e capazes de refletir sobre situações

que envolvem o cotidiano e a vida social (BRASIL, 1997). Neste sentido, os livros

produzidos para o público jovem poderão ser um dos meios de estudo para a observação

de valores implícitos e explícitos de acordo com o contexto social e cultural em que as

obras foram escritas. Além disso, é possível observar como a ciência e a tecnologia são

apresentadas, e como influenciam o desenvolvimento da história e beneficiam os

personagens, através de uma linguagem atrativa e compreensiva para os jovens leitores.

Sabemos que nem toda obra infantil ou juvenil, possui um viés didático, mas

considerando a obra literária como uma mídia cultural, escrita em um determinado

contexto, e as preferências do leitor para determinadas obras, há uma possibilidade de

estudo não apenas nos conteúdos de determinadas disciplinas, como já fizemos em

outras pesquisas, onde o foco foi o ensino de ciências.

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Pensando na literatura juvenil e suas implicações educacionais, este trabalho pretende

analisar essas obras podem contribuir para a educação científica ou a compreensão do

papel da ciência na sociedade contemporânea.

Sabemos das inúmeras dificuldades e limitações que esta suposição traz, e a princípio

reconhecemos que para ter o hábito de leitura é necessário tempo, interesse e iniciativa.

Mas diante dessas limitações decidimos nos focar no que prende o jovem leitor, naquilo

que o interessa e o faz ler. Parece ser algo simples, mas no contexto cultural em que

vivemos, outras atividades acabam se tornando mais interessantes. Com o

desenvolvimento da tecnologia, os diversos meios de entretenimento se ampliaram, por

exemplo, a internet, videogames, a TV por assinatura, cinema, músicas entre outros.

Será que o livro ainda é um meio de entretenimento? Podemos dizer que sim, mas

devemos considerar que a leitura considerada de entretenimento para os jovens não é a

mesma tão incentivada pelo meio escolar. Os jovens são amplamente influenciados pela

cultura de consumo e seus livros favoritos são os conhecidos mundialmente como best-

sellers. Por mais que muitos destes livros sejam criticados e considerados sem valor

literário, devemos levar em conta que esses campeões em vendas são estimuladores de

leitura por despertarem a imaginação do leitor.

Sendo assim, a escolha voluntária de uma obra literária indica que há certo interesse

sobre a obra escolhida. Este interesse pode ter surgido através das ilustrações da capa,

título, algum comentário que se tenha ouvido, ou o fato de ser uma obra que tenha

inspirado o cinema, entre outros. Quando a obra é selecionada voluntariamente, é o

leitor que decide o que deseja ler, logo a leitura é por livre escolha e pode ser vista

como uma prática de lazer. De acordo com Camargo, (2008) se tudo na vida é fonte de

conhecimento, de informação e de aprendizagem, logo a leitura também pode ser

considerada como uma atividade intelectual de lazer, que é visto como “um tempo

precioso para o exercício do conhecimento e satisfação da curiosidade intelectual [...]”

(CAMARGO, 2008, p. 25).

Portanto, o lazer está muito relacionado à satisfação, descanso, alegria e outros

benefícios que nos dias de hoje é muito buscado pelas pessoas. Em seu livro “A alegria

na escola”, Georges Snyders (1988) enfatiza que a alegria buscada pelos estudantes

atuais é muito relacionada à cultura, ou seja, os jovens ou mesmo qualquer pessoa,

busca satisfação naquilo que lhe faz sentido. Para isto é necessária uma valorização da

cultura em questão, este fato se relaciona com as ideias propostas por Kellner (2001)

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sobre a consideração do contexto cultural. Este pode ser um dos motivos de alguns

livros de literatura fazer tanto sucesso entre o público no geral, provavelmente por

despertar o interesse pela relação com a cultura ou com o próprio indivíduo.

Neste trabalho analisamos a série “Percy Jackson e os Olimpianos”, que foi escrita pelo

estadunidense Rick Riordan, e é composta por cinco livros que retratam através da

aventura e fantasia a mitologia grega no século XXI.

Percy Jackson e os Olimpianos

A série Percy Jackson e os Olimpianos é uma série de cinco livros juvenis de aventura,

escrita pelo escritor norte-americano Rick Riordan. Retratam a história de Percy

Jackson, um garoto metade humano e metade deus, filho do deus do mar Poseidon e

uma humana. A série é baseada na mitologia grega e envolve o contexto do século XXI.

Os cinco livros da série já venderam mais de 10 milhões de exemplares pelo mundo, e

possuem os seguintes títulos:

1) O Ladrão de Raios

2) O Mar de Monstros

3) A Maldição do Titã

4) A Batalha do Labirinto

5) O Último Olimpiano

Em 2010 o primeiro livro da série foi adaptado para o cinema com no título Percy

Jackson e os Olimpianos: O ladrão de raios. E em 2013 o segundo livro da série também

chegou as telas do cinema com o título Percy Jackson: O mar de monstros.

É interessante considerar que a adaptação ao cinema surge após o sucesso da série pelo

mundo.

Personagens

Percy Jackson é um garoto de cabelos negros e olhos verdes, tem doze anos e sofre de

dislexia e transtorno do déficit de atenção, portanto suas notas na escola sempre eram

péssimas. Por este motivo chegou a mudar de escola 6 vezes em 6 anos. É um garoto

estressado que não controla seus impulsos quando está nervoso.

Não possui muitos amigos, na escola seu único amigo era Grover. Porém no decorrer da

série Percy faz novas amizades com jovens como ele.

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Estes problemas de Percy é pelo fato dele não ser um garoto humano comum, ele é um

semideus ou meio sangue, filho de uma humana com um deus. Percy foi criado por sua

mãe e nunca conheceu o pai, o deus do mar Poseidon.

Muitos fatos misteriosos aconteciam com o garoto pelo fato de ser filho de um dos Três

Grandes deuses. Desde bebe, Percy foi perseguido por monstros e criaturas do

submundo. Sua mãe, Sally Jackson, tentou protegê-lo de todas as formas, chegando até

a se casar com Gabe Ugliano, um homem folgado e extremamente fedorento, por este

motivo Percy o chamava de Gabe Cheiroso: “O cara fedia a pizza de alho embolorada

num calção de ginástica” (RIORDAN, 2009, p.38). O relacionamento de Percy com

Gabe não era agradável, eles discutiam muito e o garoto não se conformava em ver sua

bela mãe, uma mulher doce e honesta casada com um preguiçoso, que só a tratava mal e

se aproveitava de seu dinheiro.

Percy amava profundamente sua mãe, ele a considerava a melhor pessoa do mundo, e

em meios a tantas dificuldades, o garoto sentia paz em tê-la por perto, e aparentemente

era a única que o compreendia:

A simples entrada da minha mãe no quarto já consegue me fazer sentir bem.[...]Quando me olha, é como se estivesse vendo todas as coisas boas em mim,nenhuma das ruins (RIORDAN, 2009, p. 41).

Por ser um semideus, Percy lia com dificuldades, como se as letras saltassem dos livros.

A única aula que o interessava era de latim, pois o professor da disciplina, o Sr.

Brunner, era o único que o respeitava e acreditava em seu potencial. Contudo, Percy não

sabia que era semideus e nem acreditava em deuses. Porém, os acontecimentos nos

últimos dias na escola deixavam o garoto confuso, achando que estava tendo

alucinações. Mas o grande fato era que estava sendo perseguido e corria sério risco de

vida. Seus amigos também possuíam características bizarras, Grover Underwood o

melhor amigo de Percy, é um sátiro, metade bode metade garoto. Estava na escola com

a função de proteger Percy. Para disfarçar sua metade bode, Grover usava pés falsos e

andava com dificuldades e por este motivo era considerado manco. Por ser um sátiro,

envelhece o dobro dos seres humanos, não morre, mas é transformado em alguma coisa

da natureza. Já Annabeth é filha da deusa Atena. Também sofria de déficit de atenção e

dislexia, assim como os demais semideuses. Ela tem cabelos cacheados e loiros e os

olhos cinzentos como os demais filhos de Atena, além de uma aparência atlética

(RIORDAN, 2009, p.72).

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E é uma garota inteligente e sempre possui planos inesperados e úteis, principalmente

em situações de perigo, onde é necessário pensar rápido para escapar da morte. Tem um

boné que a deixa invisível, e que muitas vezes foi utilizado em situações que não era

para ser vista.

REFERENCIAL DE ANÁLISE

A semiótica proposta por Greimas estuda a significação (geração do sentido). Para a

construção de um sentido no texto, a semiótica assume o plano do conteúdo sob a forma

de percurso gerativo do sentido, que vai do mais simples e abstrato ao mais complexo e

concreto. O percurso é dividido em três níveis: o nível discursivo, narrativo e

fundamental (BARROS, 2005, p. 13; FIORIN, 2009, p.22).

O nível discursivo é o mais complexo e concreto. O sujeito da narrativa é analisado e

alguns fatores são observados, tais como, o espaço e o tempo em que se passam a

narrativa.

O nível narrativo está organizado do ponto de vista de um sujeito que está em busca de

um objeto de valor, ou seja, algo desejável, que pode ser material ou sentimental,

podendo ser bom ou mau. Para a compreensão deste nível existem as modalidades, que

visam facilitar a compreensão da narrativa (TATIT, 2005, p.191): a) O destinador

manipulador determina os valores que serão visados pelo sujeito e proporciona

condições necessárias à execução da ação. b) O destinatário sujeito é aquele que recebe

um valor ou ameaça do destinador, e começa a agir em busca deste valor ou contra a

ameaça. c) Objeto de valor é o que o destinatário sujeito deseja ter ou sentir (alvo). d)

Objetos modais são as condições ou ferramentas necessárias para que o destinatário

sujeito consiga o objeto de valor. e) Coadjuvante do sujeito é alguém ou algo que

contribui ativamente para o sucesso do destinatário sujeito. f) O antissujeito é algo ou

alguém que visa atrapalhar o destinatário sujeito de alcançar seu objeto de valor.

O nível fundamental é o percurso mais simples e abstrato, onde o texto é analisado a

partir de oposições entre valores semânticos contrários (PIETROFORTE, 2004, p. 12).

Com as etapas da análise semiótica, será possível evidenciar como a narrativa da obra

permite a discussão sobre aspectos culturais e sociais da ciência, mesmo que tais

aspectos estejam presentes na obra de forma implícita, principalmente ao identificarmos

o destinador manipulador, o espaço, o tempo, os objetos de valor e modais.

ANÁLISE DA OBRA

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Com base nos referenciais de análise, percebemos que no nível discursivo Percy

Jackson é o herói da série, apesar de suas limitações como a dislexia e o transtorno do

déficit de atenção. Como é o personagem principal, todo o enredo centraliza nele, que

irá utilizar suas habilidades de semideus para encontrar o verdadeiro ladrão do raio

mestre de Zeus e salvar sua mãe.

O enredo ocorre em diversos lugares do mundo, e se desenvolve entre os aspectos da

realidade e da fantasia. Na história, os deuses olimpianos estão nos Estados Unidos, e o

símbolo do país é a águia de Zeus. As influências dos deuses estão em toda parte, e

onde for a potência do ocidente, lá eles estarão. O local exato do Monte Olimpo,

morada dos deuses é no Edifício Empire State, no aparentemente inexistente 600º andar,

na cidade de Nova Iorque. O Monte Olimpo não é percebido pelos seres humanos,

assim como toda presença sobrenatural é vista pelos humanos como se fosse uma névoa

ou confusão. Nos aspectos da realidade percebemos como espaço a cidade de Nova

Iorque e em relação aos aspectos relacionados a fantasia, percebemos a influência dos

deuses de modo a ultrapassar os limites das profundezas da Terra, conhecido como

submundo ou local de domínio do deus Hades, o mar, domínio de Poseidon e os céus,

morada de Zeus.

Os semideuses geralmente ficam em treinamento no “Acampamento Meio-Sangue”,

localizado na costa norte de Long Island, Nova Iorque. Este acampamento é somente

para semideuses e possui elementos de um acampamento normal e ao mesmo tempo

criaturas e elementos fantasiosos pela interferência dos deuses.

Em relação ao tempo, podemos dizer que se trata do tempo presente, pois a relação com

fatos do século XXI ficam evidentes, como elementos da cultura atual e o estilo de vida

das pessoas. Um exemplo a mencionar, é o fato de Grover tocar em sua flauta de

bambu, melodias semelhantes a de Hilary Duff, e também quando durante a missão,

Percy e seus amigos tiveram a impressão de estar num restaurante fast-food por

sentirem o cheiro de comida frita e gordurosa (RIORDAN, 2009, p.178).

Sobre o nível narrativo, as modalidades didáticas ajudam a entender o papel de cada

personagem.

O destinador manipulador é a acusação de roubo. O raio mestre de Zeus, símbolo de seu

poder, foi roubado por alguém com más intenções. Este raio é um cilindro de bronze

celestial de alto grau, com sessenta centímetros de comprimento. Se o raio mestre não

for encontrado antes do solstício de verão, haverá guerra entre os deuses, e esta guerra

se reflete na natureza, através de catástrofes e consequentemente a civilização ocidental

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transformada num campo de batalha com milhões de mortos (RIORDAN, 2009, p.

146). Por causa das brigas e rivalidades entre Zeus e Poseidon, Percy Jackson foi

acusado em roubar o raio mestre a pedido de seu pai. Para provar sua inocência, Percy

aceita a missão profetizada pelo Oráculo.

O destinatário sujeito é Percy Jackson, pois é o acusado de roubar o raio mestre de Zeus

e quem se dispõe a ir em uma missão, a procura do verdadeiro responsável pelo roubo.

O objeto de valor do destinatário do sujeito é o desejo de salvar sua mãe Sally, que foi

atacada abduzida misteriosamente por um Minotauro, ao tentar proteger Percy:

[…] A verdade era que eu não me importava em recuperar o relâmpago de Zeus,em salvar o mundo ou mesmo em ajudar meu pai a sair da encrenca.Eu só me preocupava com minha mãe . Hades a levara injustamente, e Hadesiriadevolvê-la [...] (RIORDAN, 2009, p.168).

Além de tentar salvar a mãe, Percy também pretende provar sua inocência, pois perde

sua paz ao ser perseguido por criaturas mitológicas e monstros, e esta perseguição se dá

pelo fato de o considerarem o ladrão do raio.

Os objetos modais adquiridos pelo destinatário sujeito são os objetos mitológicos que o

auxiliam durante sua missão. Um destes objetos, a espada poderosa chamada

Anaklusmos, ou Contracorrente, que está disfarçada como uma caneta, Percy usou para

matar a Sra. Dodds (um monstro conhecido como Fúria, disfarçada de professora). A

espada era usada somente para matar monstros e qualquer criatura do Mundo Inferior,

além disso era uma arma encantada:

[…] Encostei a tampa da caneta na ponta da espada e instantaneamenteContracorrente encolheu e se transformou de novo em uma esferográfica.Enfiei-a no bolso um pouco nervoso, porque na escola tinha a fama de perdercanetas. Não há risco – disse Quíron. De quê? De perder a caneta – disse ele. - É encantada. Sempre vai reaparecer noseu bolso. Experimente. […] (RIORDAN, 2009, p.162).

Os coadjuvantes do sujeito são Annabeth Chaise, filha da deusa Atena, e o sátiro Grover

Underwood. Ambos decidem ajudar Percy na missão e ao mesmo tempo conseguir seus

objetivos.

Os coadjuvantes do sujeito também possuíam objetos modais. Annabeth possuía um

boné mágico dos Yankees que a tornava invisível. Este boné também foi utilizado por

Percy durante a missão e o ajudou a escapar de monstros que o perseguiam a procura

do raio.

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Grover e Percy também fazem uso de um par de tênis mágico com asas que o ajudaram

a escapar de situações arriscadas.

Poseidon demonstra nunca ter abandonado Percy e envia um ser conhecido como

Nereida (um espírito do mar) para aconselhá-lo e também dar-lhe três pérolas brancas,

para serem usadas em momentos de apuro (RIORDAN, 2009, p. 280).

Outro artifício mitológico são os dracmas de ouro, o dinheiro dos deuses, usado para

diversos fins tais como enviar objetos aos deuses. Percy fez questão de enviar ao

Olimpo a cabeça da Medusa, a taxa de envio foram os dracmas. Para se comunicarem

com Quíron durante a missão, Annabeth usou dracmas para enviar uma Mensagem de

Íris, que é uma mensagem instantânea através do arco-íris (RIORDAN, 2009, p. 228).

Se existe sujeito, obviamente haverá antissujeito, que neste livro da série são os

monstros a serviço de Hades. Desde o início Percy Jackson é perseguido por criaturas

mitológicas como por exemplo, as Fúrias, que são as torturadoras de Hades, mais

conhecidas como Benevolentes; a Medusa, que transforma as pessoas em pedra com seu

olhar; cães infernais do tamanho de um rinoceronte e presas que pareciam punhais; a

mãe dos monstros Equidna; o Cérbero, o cão de três cabeças e guardião do portão de

Hades e o assustador Minotauro, um dos primeiros monstros a colocarem a vida de

Percy em perigo.

Em relação ao nível fundamental, percebemos que as oposições estão relacionadas

diretamente com o destinatário sujeito. As principais oposições observadas são em

relação ao objeto de valor, que é ao mesmo tempo salvar sua mãe do Mundo Inferior e

dos perigos dos monstros e também o desejo de alcançar justiça e heroísmo, mostrando

aos deuses do Olimpo que ele não era o ladrão do raio mestre de Zeus.

Percy as vezes deixava claro que sua prioridade era salvar a mãe, pois era o mínimo que

poderia fazer por tudo o que ela havia feito por ele. Mas também tinha muita raiva de

seu pai, por tê-lo abandonado ainda bebê, e de certa forma queria mostrar sua coragem

ao cumprir a missão e surpreendê-lo. Os sentimentos entram em contradição, pois

apesar de toda a mágoa e orgulho, Percy se sentiu feliz em ser reconhecido como filho

por Poseidon e queria deixá-lo orgulhoso.

Outra oposição encontrada é em relação aos seres presentes na série. Os deuses do

Olimpo são os controladores do mundo e das suas riquezas. Os semideuses, filhos de

deuses com um ser humano, possuíam características do deus progenitor, mas eram

frágeis a ponto de serem feridos por armas humanas e mitológicas. Esta oposição

poderia ser denominada de PODER versus FRAGILIDADE, pois o poder representa

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toda soberania dos deuses e a fragilidade representa os semideuses, os seres humanos e

as demais criaturas mitológica.

Com esta análise, percebemos que os deuses representam o poder e o domínio, pois tudo

que acontece no mundo está diretamente relacionado com as interferências dos deuses.

A ciência está representada de maneira explícita quando é evidenciada através dos

fenômenos naturais, ao passo que se torna uma ciência implícita por não ser tratada

como ciência na narrativa, e sim como ação direta dos deuses. Deste modo, se nesta

obra, a ciência está representada através da sabedoria e influência dos deuses, que são as

formas dominadoras deste mundo, o papel desempenhado pela ciência neste caso, é de

poder, domínio, autoridade e controle.

Como é uma narrativa que representa o tempo presente, é possível fazer uma relação

com a influência da ciência e da tecnologia nos dias atuais. Por exemplo,

independentemente do desenvolvimento científico e tecnológico de um país, as

catástrofes naturais conseguem destruir em questão de segundos muitas das conquistas e

construções humanas. Também devemos considerar os grandes avanços da medicina,

transportes, conforto e entretenimento, pois a ciência e a tecnologia se encontram

presentes em praticamente tudo em nosso cotidiano. Sendo assim, é difícil imaginar o

que seria de nós, se de repente tudo isso se perdesse, mas devemos considerar que de

certa forma a ciência e a tecnologia representam o poder, domínio, autoridade e

controle, porém sem nenhum sentido se não fossem manipuladas pelo homem. É neste

sentido que a narrativa da obra permite a discussão sobre aspectos culturais e sociais da

ciência, e percebemos tais fatos durante a análise da obra, através das etapas da

semiótica, principalmente após a identificação do destinador manipulador, o espaço, o

tempo, os objetos de valor e modais.

Mitologia grega e ciência

Esse livro possui muitas histórias da mitologia grega, e detalha a função de muitos

deuses e seus poderes sobre o universo. A civilização ocidental não é vista apenas como

um conceito abstrato, mas uma força viva regida pela consciência coletiva dos deuses.

O domínio dos deuses foi bem presenciado na Grécia e depois se expandiu para a Roma.

Esses deuses são vistos como forças, com nomes diferentes: Júpiter em vez de Zeus,

Vênus em vez de Afrodite, e assim por diante.

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Os deuses se mudaram para diversas regiões do mundo, onde havia mais popularidade,

fama, sucesso e domínio da civilização, lá eles ficavam:

[...] Em todos os lugares onde reinaram, nos últimos três mil anos, você podeve-los em pinturas, em estátuas, nos prédios mais importantes (RIORDAN,2009, p. 81).

Os deuses do Olimpo são diferentes dos deuses tradicionais, pois não são oniscientes. O

deus retratado como santo, onisciente, onipresente e onipotente em nossa cultura é

muito diferente dos deuses da mitologia grega. Os deuses do Olimpo são diferentes dos

deuses tradicionais, pois não são oniscientes, ou seja, não sabem todas as coisas. A

história de Percy Jackson se baseia no fato dele ser acusado de ser ladrão do raio mestre

de Zeus, deste modo, se Zeus fosse onisciente ele saberia que Percy não é o ladrão.

Outro fato a considerar é em relação a santidade, pois os deuses do Olimpo possuem

filhos, e muitos destes filhos são frutos de uma paixão com um humano. Percy é filho

do deus Poseidon e a humana Sally, e Annabeth é filha da deusa Atena com um

professor.

A princípio, Percy não sabia que era um semideus, filho de Poseidon, e para ele, a

mitologia servia para explicar os fenômenos, antes desconhecidos para a ciência:

[...] –Mas são histórias – disse eu. – São...mitos, para explicar os relâmpagos,as estações do ano e tudo o mais. Era nisso que as pessoas acreditavam antes desurgir a ciência (RIORDAN, 2009, p.76).

As explicações científicas para os fenômenos da natureza são reações dos deuses, que

podem estar satisfeitos ou furiosos. Hades é o deus do mundo inferior e senhor dos

mortos, o mundo inferior representa o interior do planeta Terra, logo, Hades é

responsável pelos movimentos sísmicos da terra e tem domínio sobre os minerais e

metais preciosos. Em uma situação, o deus fica extremamente furioso, pois achava que

Percy era o ladrão do raio mestre e de seu elmo das trevas, sua fúria foi tão grande a

ponto de provocar um terremoto em Los Angeles:

[...]Hades gritou com tamanha raiva que a fortaleza inteira se sacudiu e eusoube que aquea não seria uma noite tranquila em Los Angeles.[...]Tinha havido um terremoto sem dúvida, e a culpa era de Hades(RIORDAN, 2009, p. 328).

Além disso, alguns deuses são responsáveis por diversos fenômenos naturais. A época

da frutificação era determinada pela presença do deus Dioniso, deus do vinho, e por

isso ele exerce um grande feito sobre as vinhas e plantas frutíferas.

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A deusa da agricultura Deméter, (mãe de Perséfone, que é esposa de Hades é

responsável pelas estações do ano: “[...]Suas visitas, e não a inclinação do planeta ,

criavam as estações” (RIORDAN, 2009, p.319).

Neste trecho percebemos que os conceitos científicos para explicar o fenômeno das

estações do ano, é apenas um disfarce, para a explicação real, que no caso é a presença

dos deuses. No decorrer da série, as batalhas entre os seres sobrenaturais como

monstros, semideuses e a própria magia dos deuses, são vistas pelos seres humanos

como tragédias e desastres naturais, e mesmo quando não havia uma explicação

coerente para a situação, sempre os humanos adequava cada caso, chegando até a

modificar fatos: “É gozado como os seres humanos são capazes de enrolar a sua mente

em volta das coisas e encaixá-las na sua versão de realidade” (RIORDAN, 2009, p.344).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com esta obra, acreditamos que seja possível incentivar os jovens ao hábito de leitura,

principalmente por ser uma obra famosa e por ter a influência do cinema para atrair os

leitores, permitindo que a leitura seja um hábito prazeroso, de satisfação e lazer, e não

apenas uma obrigação escolar. Além disso, é possível que através das explicações

mitológicas para os fenômenos naturais, os jovens possam, mesmo que individualmente,

fazer uma comparação com os conteúdos científicos aprendidos no ambiente escolar e

perceber como a cultura vivencia os fenômenos naturais nos dias de hoje. A mitologia

grega também é apresentada de uma forma atrativa em toda a série, e acreditamos que o

jovem leitor que não conheça esta forma de cultura, possa se interessar pelos mitos

gregos e aprender mais sobre o assunto. Deste modo, não é apenas os conteúdos

científicos que poderão ser estudados ou percebidos através da leitura da série, mas

também o papel que a ciência e a tecnologia desempenham na nossa cultura e o modo

que o conhecimento científico foi construído, pois a própria mitologia grega é uma

destas construções de conhecimento. Na sala de aula, a obra poderá ser usada para

possíveis debates sobre estes e outros assuntos, assim como ser utilizada em atividades

diferenciadas.

As demais possibilidades desta série juvenil, assim como outras, estão sendo analisadas

no decorrer da atual pesquisa de mestrado.

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaçãoXIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Vila Velha - ES – 22 a 24/05/2014

REFERÊNCIAS

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BRASIL, Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. CiênciasNaturais / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.

CAMARGO, L.O.C. O que é lazer. 3ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2008.

FIORIN, J. L. Elementos de análise do discurso. 14ª ed. São Paulo: Contexto, 2009.

KELLNER, D. A cultura da mídia. Bauru: Edusc, 2001.

PIETROFORTE, A. V. Semiótica visual: os percursos do olhar. São Paulo: Contexto, 2004.

RIORDAN, R. O ladrão de raios. 2ª ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2009.

SNYDERS, G. A alegria na Escola. São Paulo: Editora Manole, 1988.

TATIT, L. Abordagem do texto. In: Introdução à Linguística. Volume I: Objetos Teóricos. 4ªedição. São Paulo: Contexto: 2005.

WARD, B. A. & YOUNG, T. A. What’s New in Children’s Literature? Engaging Readersthrough Series Books. Reading Horizons . v.48, 2007.

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