perception of legend devagar: a study of usability · nessa pesquisa comparou-se a percepção dos...
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PERCEPÇÃO DA LEGENDA “DEVAGAR”: UM ESTUDO DE
USABILIDADE.
PERCEPTION OF LEGEND "DEVAGAR": A STUDY OF USABILITY
Claudemilson dos Santos1, Ms.
Galdenoro Botura Júnior2, Dr.
José Carlos Plácido da Silva3, Dr.
Luis Carlos Paschoarelli4, Dr.
(1) FCT- UNESP Presidente Prudente
e-mail: [email protected]
(2) FAAC – UNESP Bauru
e-mail: [email protected]
(3) FAAC – UNESP Bauru
e-mail: [email protected]
(4) FAAC – UNESP Bauru
e-mail: [email protected]
Palavras-chave: anamorfose, sinalização de trânsito horizontal, usabilidade. Consiste em verificar se a sinalização de trânsito horizontal é melhor percebida se aplicada a anamorfose. Estudos
anteriores detectaram baixo índice de percepção da sinalização padrão. Nessa pesquisa comparou-se a percepção dos
dois tipos de sinalização que resultaram em melhora na percepção da legenda “DEVAGAR” quando se utiliza
anamorfose.
Key-words: anamorphosis, horizontal traffic signaling, usability. Consists in verifying whether the horizontal traffic signs is better perceived if applied to anamorphic. Previous
studies have detected low levels of perceived standard signaling. In this research compared the perceptions of two
types of signaling that resulted in improvement in the perception of the legend “DEVAGAR” when using
anamorphosis.
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1. Introdução
A condução de veículos é uma tarefa complexa,
que envolve os cinco sentidos do organismo e
requer habilidades específicas do motorista. De
todos, o sentido da visão é o mais requisitado,
uma vez que, além de observar os instrumentos do
painel, o condutor deve estar atento em elementos
como: o espelho retrovisor; o caminho a ser
percorrido; a sinalização; os obstáculos; os demais
veículos; os pedestres e os imprevistos que
possam cruzar seu trajeto.
Existe ainda, uma gama de mensagens
publicitárias, painéis eletrônicos e imilares que
competem pela atenção do motorista. Nesse
contexto é que se pretende investigar a percepção
dos motoristas no âmbito da ergonomia cognitiva.
Este projeto trata mais especificamente da
visibilidade da sinalização de trânsito horizontal
pelos motoristas.
A sinalização horizontal de trânsito é aquela que
se utiliza da pista de rolagem como suporte.
Possui uma posição privilegiada no campo de
visão do condutor, pois este não precisa desviar o
olhar da pista para a leitura. Por esta razão, possui
a função de orientar e regular o fluxo de veículos,
emitir alertas de atenção, entre outros, como
complemento à sinalização vertical. A sinalização
horizontal é um subsistema da sinalização viária
composta de marcas, símbolos e legendas, apostos
sobre o pavimento da pista de rolamento.
Tem a finalidade de fornecer informações que
permitam aos usuários das vias adotarem
comportamentos adequados, de modo a aumentar
a segurança e fluidez do transito, ordenar o fluxo
de trafego, canalizar e orientar os usuários da via.
Tem ainda a propriedade de transmitir mensagens
aos condutores e pedestres, possibilitando sua
percepção e entendimento, sem desviar a atenção
do leito da via. Em face do seu forte poder de
comunicação, a sinalização deve ser reconhecida e
compreendida por todo usuário,
independentemente de sua origem ou da
frequência com que utiliza a via. (CONTRAN,
2007, p. 3)
Contudo, há evidências de que a sinalização não
desempenha satisfatoriamente o requisito de ser
compreendida por todo usuário. Em um estudo
realizado no município de São Paulo, sobre a
percepção da legenda “DEVAGAR” pelos
motoristas (CUCCI NETO, 1992) demonstrou que
apenas 4% dos motoristas entrevistados
recordavam tê-la visto segundos após ter passado
pela sinalização em questão. A partir desse fato,
Cucci Neto elabora uma série de questões sobre
os motivos que levam a essa baixa percepção:
seria o uso excessivo de legendas por toda a
cidade? Seriam os motoristas pouco perceptivos
para esse tipo de sinalização? O uso de critérios
técnicos mais bem definidos poderia melhorar o
desempenho desse tipo de sinalização?
Uma das conjecturas que tentam explicar o porquê
do baixo índice de lembrança da legenda
“DEVAGAR” é o fenômeno da visão seletiva.
Quando um observador está preocupado com
algum detalhe específico no seu campo visual, os
outros detalhes que não oferecem risco imediato
ou que não colaboram para estabelecer
significado, simplesmente são descartados.
Embora sua imagem seja projetada na retina; não
chega a ser registrada pela mente consciente,
portanto, não entra para a memória permanente,
nem mesmo para a de curto prazo.
O mesmo não ocorre com um obstáculo na pista,
pois a visão seletiva emite um alerta que dispensa
uma análise racional da “ameaça”; provocando a
reação instintiva de reduzir a velocidade. Um
usuário freqüente de um trecho, pode percorrê-lo
diariamente e mesmo assim, ignorar a existência
deste sinal. Mas se for colocado um novo e
desconhecido obstáculo interpretado pela mente
como uma forma tridimensional, a atenção será
despertada.
Esse aspecto poderia ser aproveitado para se
redesenhar a legenda, transmitindo a ilusão de que
se trata de algum tipo de objeto tridimensional. A
proposta de pesquisa consiste em testar a técnica
de perspectiva denominada “ANAMORFOSE”
para aperfeiçoar a usabilidade do sistema de
sinalização horizontal, aprimorando os índices de
percepção e memória, por provocar no observador
uma reação que atrai a atenção instintivamente.
1.1 Acidentalidade A segurança viária é um problema sério em todo o
Brasil, que possui níveis de mortalidade no
trânsito considerado muito elevados. Esta
pesquisa pode colaborar com a redução destes
índices em áreas urbanas. É muito difícil estudar a
segurança viária a partir da análise dos acidentes,
pois estes não podem ser observados, ocorrem
sem aviso e em quantidade insuficiente para
análise. Costuma-se recorrer aos Boletins de
Ocorrência, porém frequentemente faltam dados,
ou são imprecisos, na determinação do
comportametno que gerou o acidente. "Diversos
estudos apontam para uma forte correspondência
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entre conflitos de tráfego (quase acidentes) e os
acidentes, tanto em gênese (fatores de risco)
como em número, pois uma parte dos conflitos
resulta em acidentes". (FERRAZ, 2008).
A análise de um problema em um local específico
pode resultar em maior eficiência nas soluções.
Uma estratégia de pesquisa para reduzir a
acidentalidade, é verificar a eficiência de cada
elemento regulador do trânsito. O comportamento
do motorista não é o único fator que causa o
acidente, mas é decisivo para evitá-lo. Mesmo
assim, os regulamentos destinados à melhoria da
segurança dos mesmos são descumpridos
rotineiramente. Sabe-se que esta atitude tem raízes
culturais e varia de um país para outro, mas esta
não deve ser a única explicação.
O desconhecimento dos dispositivos de segurança
e da regulamentação específica e a incorreta
percepção dos elementos do trânsito também
devem ser considerados na avaliação do potencial
de risco no ambiente urbano. A princípio, a
sinalização e os demais dispositivos de segurança
devem ser percebidos para que cumpram sua
finalidade, independentemente da intenção de
cumpri-los ou não.
2. Fundamentação teórica
2.1 Percepção visual da forma A percepção humana possui muitas variáveis, não
é constante e está sujeita a influências de diversos
fatores físicos e psicológicos. FANG (2007)
aponta pelo menos cinco fatores que influenciam
na compreensão da sinalização e portanto, na
segurança da condução de veículos. Os fatores
incluem as características físicas da sinalização, o
ângulo do campo de visão, a quantidade de
informação, as características mentais do condutor
e as características fisiológicas do condutor,
portanto, apenas um fator apontado por Fang é
externo, os demais dizem respeito à fatores
humanos.
De acordo com Noriega (2004) a informação
visual é a principal fonte que os motoristas
utilizam para embasar suas decisões na condução
de veículos. Assim, é indispensável conhecer
como operam os condutores em função daquilo
que visualizam, com o intuito de melhorar a
visibilidade da sinalização.
A percepção visual é, simultaneamente, um
processo que se constrói com base nas
expectativas e conhecimentos do indivíduo, mas
também tem outra componente de processamento
automático em que a informação proveniente do
meio guia diretamente a ação com quase ausência
de uma mediação cognitiva. Num meio dinâmico
como o rodoviário, onde os lapsos de tempo
muitas vezes não permitem a correção do erro,
conhecer as pistas visuais que guiam o
comportamento é uma contribuição para uma
melhor concepção do meio. (NORIEGA, 2004,
p.).
2.2 Percepção de símbolos e a cultura
Fatores culturais podem interferir no significado
dos símbolos, além dos fatores sociais e
educacionais. O ser humano não pensa nem se
comunica apenas por palavras, usa sim, uma
infinidade de outros signos que dão sentido às
imagens, sons, cheiros, gestos e símbolos. Os
sinais de trânsito se enquadram em um tipo de
comunicação não verbal.
O mecanismo deste processo, segundo
BONSIEPE (1997), compõe-se de um usuário,
uma tarefa e uma ferramenta, que funciona da
seguinte maneira: um usuário quer realizar uma
tarefa e para tanto necessita de uma ferramenta. O
acoplamento entre estes campos ocorre através de
uma interface que age como uma espécie de
tradutor, entre o idealizador da comunicação
visual e o receptor (usuário), tornando-se uma
relação semântica, caracterizada por significado e
expressão.
Para haver sucesso no processo de comunicação,
deve existir consonância entre o que foi
pretendido pelo autor da mensagem e o que foi
percebido pelo receptor, o que só pode ser
alcançado pelo uso uma linguagem que possibilite
a comunicação. O processo só se efetiva quando o
receptor constrói o significado da mensagem que
apreende. Dessa forma, é o receptor quem
estabelece a realidade da mensagem, por meio da
interpretação que faz dos signos percebidos.
As bases teóricas referentes à paisagem urbana e a
percepção visual serão baseadas em LANDIM
(2004), LINCH (2007), VASCONCELOS (2001),
LEAL (2002). Boa parte da problemática atual é
consequência da priorização do automóvel na
configuração do desenho urbano a partir de
meados do século XX. Também se encontra a
base teórica em relação à percepção espacial e os
princípios de cidadania em MACEDO (2000),
SOULÉ (1997), TUAN (1980) e SAMMARCO
(2005).
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Em LÖBACH (2000), encontra-se a definição do
profissional de design como agente habilitado a
propor soluções para questões que envolvem
design urbano e percepção visual, influenciando
projetos na esfera pública. No entanto, os aspectos
cognitivos da percepção humana encontram
respaldo nas teorias da Gestalt, desenvolvidas por
Köhler e Koffka por volta de 1930
(GUILLAUME, 1966), que explicam como a
mente processa as imagens em busca de
significado e a importância da clareza da
mensagem na percepção, denominado como
princípio de pregnância da forma.
As questões da relação da paisagem urbana com o
comportamento humano, baseados em tais
princípios de percepção não esgotam o assunto.
Novas abordagens surgem a todo o momento, por
exemplo, o conceito de paternalismo libertário
fundado por THALER, (2008), denominado como
“Nudge – o empurrãozinho na direção certa”,
pode ser usado para influenciar o comportamento
humano no trânsito de modo a diminuir os
problemas enfrentados na atualidade e constitui
uma parte importante do embasamento teórico do
funcionamento da sinalização anamórfica.
2.3 O comportamento humano
Em contrapartida, para se compreender os fatores
que determinam o comportamento humano em
determinadas situações, deve-se recorrer ao que se
sabe sobre o assunto na ciência da psicologia
comportamental, ou behaviorista.
Basicamente, todo comportamento humano tem
sua raiz nos estímulos sensoriais. Reagimos à luz,
ao som, ao movimento, ao calor, enfim, à todo
estímulo percebido pelos sentidos; e com a
experiência acumulada construímos os
significados e nossas concepções de espaço e
forma. A realidade é portanto, uma construção
mental processada pela inteligência visual.
HOFFMAN (2001) afirma que a inteligência
visual relaciona-se com outros aspectos da nossa
inteligência, mas assume um papel preponderante
no processo de construção mental.
A inteligência visual ocupa quase metade do
córtex do seu cérebro. Normalmente, está
intimamente ligada à sua inteligência emocional e
à sua inteligência racional. Ela constrói as
realidades visuais elaboradas em que você vive,
movimenta-se e interage. Ela transmite essas
construções ás suas inteligências emocional e
racional, que as utilizam como matérias-primas de
construções posteriores. O mundo emocional que
você habita é, como seu mundo visual, produto de
seu próprio gênio construtivo. (...) Se
percentagem de córtex é medida de algo, então a
inteligência visual é uma faceta principal de quem
somos como espécie, e a sua compreensão é uma
chave para o que podemos nos
tornar.(HOFFMAN, 2001. pág. 193).
A mudança de comportamento a partir da
manipulação das construções visuais da realidade
podem ser observadas no uso das diversas mídias
visuais, às quais estamos todos sujeitos. Hoffman
descreve esta faceta da seguinte maneira:
Considere (...) o marketing e a publicidade, que
manipulam diariamente nossos hábitos aquisitivos
com imagens sofisticadas. As corporações gastam
milhões, anualmente, em outdoors, embalagens,
anúncios em revistas e comerciais de televisão.
(...) Se você pretende vender algo, é, sem dúvida,
essencial entender a inteligência visual, para o
planejamento visual efetivo. (...) Talvez a
conclusão mais surpreendente resultante da
pesquisa sobre a visão seja a seguinte: a visão não
é meramente um produto da perceção passiva, ela
é um processo inteligente de construção ativa.
(HOFFMAN, 2001. pág.).
2.4 Elementos do trânsito Basicamente, a segurança no trânsito apóia-se em
três elementos: homem, veículo e via. O fator
humano pode desencadear a seqüência de fatos
que leva ao acidente, tanto como vítima quanto
como causador, estando na condição de pedestre,
condutor ou passageiro. Todos os problemas
relacionados ao comportamento no trânsito
enquadram-se nesses quesitos. (ROZESTRATEN,
1988).
Os veículos são todos os equipamentos mecânicos
utilizados nos deslocamentos. Pode ser
classificados pela propulsão ou pela finalidade:
veículos de propulsão muscular, como bicicleta;
veículos a motor, como automóveis e
motocicletas. Veículos de passeio, transporte
público ou de carga são classificações quanto à
finalidade.As vias, ou fatores ambientais, são
todos os elementos estruturais destinados aos
deslocamentos: calçadas, ruas, avenidas, incluindo
os obstáculos, sistema de sinalização, mobiliário
urbano, etc.
2.5 sinalização anamórfica
A proposta de design testada nessa pesquisa,
utiliza a perspectiva do motorista para o projeto
de implantação de sinalização horizontal. Este
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procedimento nada mais é do que a aplicação da
técnica de perspectiva conhecida como
Anamorfose. Esta técnica já é conhecida desde o
Renascimento e vem sendo utilizada pelos mais
diversos tipos de artistas. Recentemente, a
publicidade também adotou esta técnica em
painéis localizados em campos de futebol ao lado
do gol, posicionados de modo a causar a ilusão
tridimensional a partir do ponto de vista da
câmera de TV. (SOTTO, 2009)
Pretende-se utilizar esta mesma técnica para a
representação de legendas e símbolos horizontais.
As figuras a seguir (fig. 01, 02, 03, 04)
demonstram como funciona o método anamórfico
comparado ao método tradicional. Na figura 01
pode-se observar a legenda projetada de acordo
com a regulamentação vigente. Nota-se que as
letras são ligeiramente esticadas. A proporção em
que se realiza essa distorção varia de acordo com
a velocidade regulamentar da via.
Figura 01: projeto de acordo com o método
tradicional
Fonte: autoria própria
A figura 02 representa a visão do motorista. Nota-
se que a perspectiva deforma a legenda, como se
ela fosse contida em um trapézio.
Figura 02: visualização da legenda tradicional pelo
motorista
Fonte: autoria própria
A figura 03 abaixo, apresenta a aplicação da
legenda segundo a técnica da Anamorfose. A
legenda sofre a deformação que corrige a
perspectiva do motorista, aumentando a largura da
legenda na parte superior. O resultado do ponto de
vista do motorista cria o mesmo tipo de ilusão 3D
vista nas propagandas dos estádios de futebol
citadas acima.
Figura 03: projeção anamórfica da legenda
Fonte: autoria própria
A figura 04 mostra como seria a visualização
aproximada dessa anamorfose.
Figura 04: visualização da sinalização anamórfica
Fonte: autoria própria
A metodologia de projeto da sinalização
anamórfica necessita dos dados apresentados na
figura 05. A dimensão “x” refere-se à distância do
ponto exato da ilusão tridimensional. Deve ser
dimensionada de acordo com a velocidade da
faixa, devendo aumentar proporcionalmente à
velocidade. Não deve ser tão próxima a ponto de
provocar manobra de desvio.
Figura 05: dimensionamento da sinalização anamórfica
Fonte: autoria própria
A dimensão “”y” deve ser determinada de acordo
com a média de altura dos veículos de passeio,
para os estudos de percepção. As dimensões “a” e
“b” e “c” configuram o trapézio resultante em que
a imagem da sinalização deverá ser encaixada,
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deformando-se o retângulo original de dimensões
“a” - “h”. Em uma configuração estática, basta
seguir o processo geométrico acima para
encontrar o trapézio resultante que produzirá o
efeito tridimensional na sinalização desejada. A
dimensão “x” deve ser grande o suficiente para
que o efeito da velocidade seja minimizado.
2.6 Aspectos legais O Código Brasileiro de Trânsito (CBT), instituído
através da Lei no 9503 de 23.09.1997, foi criado
para ser um instrumento que proporcione
condições para que o processo de circulação de
bens e pessoas, através de espaços físicos, rurais
ou urbanos, se desenvolva dentro de padrões
aceitáveis. Este código, que garante direitos e
responsabilidades, atinge toda a população
brasileira, quer seja condutor ou pedestre.
No cotidiano do motorista existem atividades
básicas sob sua responsabilidade, que devem ser
postas em prática. A principal delas é interpretar
os sinais de trânsito de maneira correta e ajustar
seu comportamento ao sistema. É preciso ter em
mente as conseqüências da falta de respeito à
sinalização, o que nem sempre acontece.
A sinalização de trânsito, que engloba um
conjunto racional de sinais, é a forma pela qual se
regula, adverte, orienta, informa, controla a
circulação de veículos e pedestres nas vias
terrestres. Sempre que forem necessários os sinais
serão colocados ao longo da via, como previsto no
Código de Trânsito ou em legislação
complementar. O Código de Trânsito Brasileiro
(CTB), possui 341 artigos e dois anexos, que
proporcionam instrumentos e condições para que
o processo de circulação de bens e pessoas se
desenvolva em condições de segurança, conforto e
eficiência através do território brasileiro, tanto nos
espaços rurais como urbanos.
A sinalização horizontal tem poder de
regulamentação em casos específicos. É de
responsabilidade dos órgãos ou entidades de
trânsito a implantação da sinalização horizontal,
conforme estabelecido no artigo 90 do CTB
(Código Brasileiro de Trânsito), em vigor desde
11 de maio de 2007, conforme aprovado pela
Resolução do CONTRAN n° 236. O volume IV
do Manual de Sinalização estabelece as normas
para sinalização horizontal. (CONTRAN, 2007).
3. Objetivos Verificar se a aplicação da Sinalização
Anamórfica pode aumentar a percepção da
legenda DEVAGAR.
4. Materiais e métodos
4.1 Materiais A pesquisa consiste em aplicar um teste de
percepção de elementos visuais através da
exibição de imagens para dois grupos de
observadores. Para captura das imagens foi
utilizada uma câmera digital de alta definição,
com lente grande angular semelhante ao campo
visual humano instalada em um veículo
exatamente no ponto de vista do motorista.
A exibição das imagens se deu através de uma
apresentação de slides programada para exibir
cada imagem durante 5 segundos. Após visualizar
as imagens os sujeitos receberam um questionário
de múltipla escolha com as perguntas da pesquisa.
4.1.2 Sujeitos Participaram da pesquisa 68 estudantes
universitários com média de idade de 21 anos,
divididos em duas turmas diferentes, turma A (31
sujeitos) e turma B (37 sujeitos).
4.2 Métodos Para testar a percepção da legenda DEVAGAR
foram utilizadas imagens que simularam as
condições de percepção visual dos motoristas.
Para a turma A foram exibidas 05 imagens
diferentes, uma delas contendo a legenda
DEVAGAR inscrita no padrão vigente (figura
06). Para a turma B foi exibido o mesmo conjunto
de imagens, porém a legenda DEVAGAR foi
inscrita com a técnica Anamórfica (figura 07).
Figura 06 – legenda DEVAGAR padrão
Fonte: autoria própria
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Figura 07 – legenda DEVAGAR Anamórfica
Fonte: autoria própria
Os sujeitos não sabiam que o objetivo era
verificar a percepção da legenda DEVAGAR. Ao
invés disso, foi dada a tarefa de contar o número
de vezes em que um retângulo vermelho aparecia
nas imagens. O objetivo desse procedimento foi
de desviar a atenção do contexto.
Se não fosse dada nenhuma tarefa, os sujeitos
observariam as cenas de uma maneira passiva e
não varreriam a imagem como um todo. Por outro
lado, se fossem alertados sobre a legenda
DEVAGAR, provavelmente todos a localizariam
nos dois grupos. Após a exibição foi estipulado
um minuto para responder três questões. A
primeira era a quantidade de retângulos
vermelhos, conforme solicitado.
A segunda questão consistiu em relatar a
lembrança de algumas placas de sinalização,
algumas inexistentes nas imagens para verificar a
confiabilidade das respostas.Do mesmo modo a
última, verificou-se a lembrança de alguma
sinalização horizontal, entre elas a legenda
DEVAGAR.
5. Resultados e discussão
O resultado principal que se pretende avaliar é a
diferença de percepção da legenda DEVAGAR
entre os dois grupos. O Grupo A obteve 29% de
sujeitos que disseram se lembrar de ter visto a
legenda DEVAGAR; e no grupo B, tal índice foi
de 32%. A diferença é muito pequena para afirmar
que o uso da técnica Anamórfica melhora a
percepção da sinalização horizontal, embora tenha
sido 3% maior. Entretanto, a quantidade de
sujeitos que afirmaram terem visto algumas placas
e legendas inexistentes foi muito superior no
grupo A, o que leva a crer que um número
considerável de participantes – 25% em média -
responderam afirmativamente sem ter certeza do
que viram.
Já no grupo B, esse número foi muito inferior –
9% em média. Ao se descontar a porcentagem de
questionários com número elevado de respostas
falsas nos dois grupos, a diferença de visualização
entre a legenda padrão e a anamórfica cresce
significativamente. O grupo A obtém um índice
de percepção de 5%, contra 23% do grupo B.
Assim, a percepção da legenda Anamórfica foi
18% superior à legenda padrão.
6. Conclusão
Embora os resultados apontem para a maior
percepção da sinalização Anamórfica, como se
esperava, algumas ressalvas devem ser feitas
sobre o método. A imagens estáticas são mera
aproximação da realidade e serão necessários
novos estudos utilizando imagens em movimento,
de forma qualitativa, aproximando cada vez mais
a experiência com a situação real.
A forma como os resultados foram coletados não
garante absoluto sucesso nesse tipo de sinalização,
porém, apresentam evidências suficientes para
continuar sendo investigada.
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