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Percepção Neonatal na Transição para a Maternidade: Estudos Psicométricos do Inventário de Percepção Neonatal Numa Amostra de Mães da População Portuguesa Neonatal Perception in the Transition to Motherhood: Psychometric Studies of the Neonatal Perception Inventory in a Sample of Mothers of the Portuguese Population. HELENA MOREIRA 1 , SÓNIA SILVA 2 , CÉLIA OLIVEIRA 3 , ANABELA ARAÚJO PEDROSA 4 , MARIA CRISTINA CANAVARRO 5 , LUÍSA BARROS 6 RESUMO A percepção que a mãe tem sobre o comportamento do bebé é um factor de- terminante na qualidade da relação entre ambos: percepções e interpretações maternas negativas e disfuncionais podem conduzir a dificuldades no estabele- cimento da sincronização da relação entre a mãe e o bebé, podendo o inverso tornar-se um factor facilitador da relação. 81 RIDEP · Nº 28 · Vol. 2 · 2009 · 81 - 104 1 Aluna de Doutoramento em Psicologia (FCT - SFRH/BD/29132/2006), Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, PORTUGAL. Contactos do autor responsável pela correspondência: Rua Figueira da Foz, Nº13ª, 2º andar, 3000-184 Coimbra. Telm: 91 8811714. E-mail: [email protected] 2 Aluna de Doutoramento em Psicologia (FCT - SFRH/BD/27704/2006), Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, PORTUGAL. 3 Mestre em Psicologia; Psicóloga Clínica na Maternidade Alfredo da Costa, PORTUGAL. 4 Psicóloga Clínica da Unidade de Intervenção Psicológica (UnIP) da Maternidade Daniel de Matos dos Hospitais da Universidade de Coimbra(HUC); Aluna de Doutoramento em Psicologia, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, PORTUGAL. 5 Doutorada em Psicologia. Professora Agregada, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, PORTUGAL; Coordenadora da Unidade de Intervenção Psicológica (UnIP) da Maternidade Daniel de Matos dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), PORTUGAL. 6 Professora Catedrática, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, PORTUGAL.

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Percepção Neonatal na Transição para a Maternidade:Estudos Psicométricos do Inventário de PercepçãoNeonatal Numa Amostra de Mães da PopulaçãoPortuguesa

Neonatal Perception in the Transition to Motherhood:Psychometric Studies of the Neonatal Perception Inventoryin a Sample of Mothers of the Portuguese Population.

HELENA MOREIRA1, SÓNIA SILVA2, CÉLIA OLIVEIRA3, ANABELA ARAÚJO PEDROSA4, MARIA CRISTINA CANAVARRO5, LUÍSA BARROS6

RESUMO

A percepção que a mãe tem sobre o comportamento do bebé é um factor de-terminante na qualidade da relação entre ambos: percepções e interpretaçõesmaternas negativas e disfuncionais podem conduzir a dificuldades no estabele-cimento da sincronização da relação entre a mãe e o bebé, podendo o inversotornar-se um factor facilitador da relação.

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1 Aluna de Doutoramento em Psicologia (FCT - SFRH/BD/29132/2006), Faculdade de Psicologia eCiências da Educação da Universidade de Coimbra, PORTUGAL. Contactos do autor responsávelpela correspondência: Rua Figueira da Foz, Nº13ª, 2º andar, 3000-184 Coimbra. Telm: 91 8811714.E-mail: [email protected] 2 Aluna de Doutoramento em Psicologia (FCT - SFRH/BD/27704/2006), Faculdade de Psicologia eCiências da Educação da Universidade de Coimbra, PORTUGAL.3 Mestre em Psicologia; Psicóloga Clínica na Maternidade Alfredo da Costa, PORTUGAL. 4 Psicóloga Clínica da Unidade de Intervenção Psicológica (UnIP) da Maternidade Daniel de Matosdos Hospitais da Universidade de Coimbra(HUC); Aluna de Doutoramento em Psicologia,Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, PORTUGAL. 5 Doutorada em Psicologia. Professora Agregada, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação daUniversidade de Coimbra, PORTUGAL; Coordenadora da Unidade de Intervenção Psicológica (UnIP)da Maternidade Daniel de Matos dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), PORTUGAL. 6 Professora Catedrática, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade deLisboa, PORTUGAL.

Para avaliar a percepção que a mãe tem do seu bebé, foi desenvolvido oNeonatal Perception Inventory (NPI; Broussard, 1963), questionário de auto-resposta que explora seis dimensões comportamentais típicas dos bebés, emdois momentos distintos do período de transição para a maternidade (o NPI-I éaplicado entre um a quatro dias após o parto; o NPI-II entre quatro a seis sema-nas após o parto) e que permite classificar como positiva ou negativa a percep-ção neonatal da mãe relativamente ao seu bebé.

O presente trabalho teve como objectivo analisar as características psicomé-tricas da versão portuguesa do NPI. Os resultados dos estudos de fidelidade evalidade permitem-nos concluir pela existência de boas características psico-métricas desta escala, tornando-a indicada para utilização em contexto clínico ede investigação.

Palavras chave: Percepção neonatal, Inventário de Percepção Neonatal, NPI,transição para a maternidade, estudos psicométricos.

ABSTRACT

The mother’s perception of the baby’s behaviour is a determinant factor ofthe quality of the relationship between them: negative and dysfunctionalmaternal perceptions may lead to difficulties in establishing the synchronizationof the relationship between mother and baby, as well as the reverse mayfacilitate the relationship. To assess the perception that the mother has of herbaby, the Neonatal Perception Inventory (NPI; Broussard, 1963) was developed.It is a self-response questionnaire that addresses six typical behaviourdimensions of babies in two distinct moments of the transition period tomotherhood (NPI-I is used one or four days after delivery; NPI-II about four orsix weeks after delivery) and that qualify the mother’s neonatal perception oftheir baby as positive or negative. The aim of the present work was to analysethe psychometric characteristics of the Portuguese version of NPI. The resultsof the reliability and validity studies allow us to conclude that the scale has goodpsychometric characteristics, and that it is suitable for use in the clinical contextand research.

Key words: neonatal perception, Neonatal Perception Inventory, NPI, transi-tion to motherhood, psychometric studies.

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A transição para a maternidade po-de ser conceptualizada como umacontecimento de vida normativo,acompanhado por mudanças signifi-cativas ao nível individual, familiar,social e profissional. Estas, podemacarretar condições de risco de psico-patologia mas, simultaneamente,constituir uma oportunidade de desen-volvimento pessoal (Rutter, 1990;Teissier, Piche, Tarabulsy & Mucke,1992). A adaptação materna a esta fa-se desenvolvimental é influenciadapor diversos factores, nomeadamentea percepção que a mãe tem sobre ocomportamento do seu bebé, sendoeste um importante factor mediadorda qualidade da sincronização da rela-ção entre a mãe e o bebé (Broussard &Hartner, 1971).

De acordo com o modelo transac-cional do desenvolvimento humano(Sameroff & Chandler, 1975), a rela-ção que se estabelece entre a mãe e obebé desenvolve-se como um sistemade natureza transaccional, em que cadaelemento tem o potencial de influen-ciar o outro. Efectivamente, a evidên-cia dos processos transaccionais é umexemplo da natureza multidetermina-da, quer do comportamento materno,quer do comportamento da criança.Assim, se o comportamento da criançaé, em grande medida, influenciado pe-lo comportamento materno, moldatambém, simultaneamente, as transac-ções que ocorrem no sistema relacionalmãe-bebé. De facto, a criança, logoapós o nascimento, evidencia a capaci-

dade de iniciar a regulação das suasinteracções com o ambiente, tendo umpapel determinante e activo nas suaspróprias experiências (Sameroff, 1993).

Neste sistema cíclico transaccional,a mãe, através da sua sensibilidade eresponsividade perante as necessidadesdo bebé, deve proporcionar à criançaum ambiente favorável para o seu des-envolvimento (Bowlby, 1969; Cassidy,1999; George & Solomon, 1999;Soares, 2000, 2007). A forma como amãe se relaciona com a criança é in-fluenciada por vários factores, nomea-damente a percepção e significação queatribui à aparência e ao comportamentodo bebé (Broussard & Hartner, 1971).De facto, o que mais parece determinara qualidade do comportamento interac-tivo da mãe, não é tanto o comporta-mento efectivo do bebé, mas aspercepções que constrói a esse respeito(Figueiredo, 2001). As mães que têmuma percepção negativa dos seus bebéspodem ter dificuldade em responder àsnecessidades da criança, podendo des-encadear-se um fracasso interactivo.Este pode, por sua vez, conduzir a difi-culdades no estabelecimento da sincro-nização entre a criança e a mãe,comprometendo o desenvolvimento fu-turo da criança (Broussard & Hartner,1971; Broussard, 1978, 1980, 1995).

Broussard e Hartner (1971) defen-dem que a percepção que a mãe temdo seu bebé parece ser mais influen-ciada por factores intrínsecos a si pró-pria e pelas suas preocupações, do quepelo comportamento efectivo do bebé.

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Após o nascimento, as mães revelam-se essencialmente preocupadas comos problemas relacionados com as ac-tividades básicas da criança, como osono, a alimentação ou o choro, assimcomo com a previsibilidade destescomportamentos. Estas importantesáreas de preocupação materna sãotambém áreas cruciais do comporta-mento do bebé, reflectindo o funcio-namento da unidade mãe-criançadurante o período neonatal.

Para avaliar a percepção que a mãetem do seu bebé, Broussard construiu,em 1963, o Neonatal PerceptionInventory (NPI). Partindo da sua expe-riência clínica com jovens mães, a au-tora seleccionou os diferentes itens queconstituem o instrumento, tendo comobase as preocupações maternas referen-tes ao bebé durante o período neonatal.Trata-se de um questionário de auto-resposta que explora seis dimensõescomportamentais típicas dos bebés(choro, alimentação, vómitos, sono,funcionamento dos intestinos/sistemadigestivo e rotinas de alimentação e desono) que reflectem, segundo a autora,o estado de funcionamento da unidademãe-criança. Este instrumento pode seraplicado em dois momentos distintosdo período pós-parto (o NPI-I é usadoum a quatro dias após o parto e o NPI-II cerca de quatro a seis semanas após oparto) e permite classificar, como posi-tiva ou negativa, a percepção neonatalda mãe relativamente ao seu bebé. Esteinstrumento pretende constituir-se, porum lado, como um instrumento de

diagnóstico para identificar as mãesque beneficiariam de um acompanha-mento adicional dos serviços de saúdee, por outro, como uma medida do po-tencial adaptativo da unidade mãe-criança durante o primeiro mês de vida(Broussard & Hartner, 1971).

Deste modo, uma percepção positi-va pode funcionar como um indicadorde que a unidade mãe-criança tem opotencial de funcionar satisfatoria-mente no primeiro mês de vida.Contudo, diversas variáveis podem, aolongo do tempo, influenciar e pertur-bar o funcionamento desta unidade,pelo que a presença de uma percepçãopositiva inicial não garante que a mes-ma mantenha um funcionamento posi-tivo e adaptativo indeterminadamente.Por sua vez, uma percepção negativadeve servir como indicação de que amãe poderá estar a experienciar algu-mas dificuldades na sua relação com acriança, devendo, por isso, proceder-se a uma avaliação mais cuidadosa e,se necessário, intervir junto da mesma(Broussard, 1978).

De acordo com Broussard (1978), apercepção que a mãe tem do seu bebépoderá estar relacionada com dificul-dades posteriores da criança, comoperturbações do comportamento, difi-culdades de aprendizagem, perturbaçõ-es desenvolvimentais e emocionais ounegligência e abuso infantil. Foi já pa-ra testar esta hipótese, que Broussard ea sua equipa iniciaram, em 1963, umestudo longitudinal1 no qual foramavaliadas 318 mães primíparas (de be-

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bés de termo e saudáveis). Na primeiraetapa deste estudo foi avaliada a per-cepção neonatal no primeiro ou segun-do dias após o parto, utilizando oNPI-I, e cerca de um mês depois domesmo, com o NPI-II. A partir dos re-sultados deste instrumento, verificou-se que a percepção materna noprimeiro momento de avaliação não seencontrava correlacionada com proble-mas comportamentais da criança noprimeiro mês de idade, ao contrário dapercepção materna avaliada no segun-do momento, que se correlacionavasignificativamente com problemascomportamentais observados nessamesma altura. Em ambos os momen-tos, a presença de problemas compor-tamentais nas crianças foi avaliadaatravés do Degree of Bother Inventory(DBI; Broussard & Hartner, 1971), ins-trumento que pretende avaliar o graucom que as mães se sentem perturba-das com o comportamento do bebé nasmesmas seis dimensões comportamen-tais avaliadas pelo NPI. Estes dados,juntamente com o facto de aproxima-damente 40% das mães, no segundomomento de avaliação, apresentaremuma percepção negativa, levouBroussard e Hartner (1971) a conside-rarem a hipótese de que a percepçãomaterna no primeiro mês de vida dobebé pode servir como um instrumentopreditivo capaz de identificar um gru-po de primíparas cujos bebés apresen-tam um elevado risco de desenvolverproblemas emocionais posteriormente.As mães com uma percepção negativa

do seu bebé eram, então, categorizadaspelas autoras como mães de alto riscoou, referindo-se ao sistema mãe-bebé,díades de alto risco.

Com o objectivo de testar esta hipó-tese e verificar se, de facto, a percep-ção neonatal se relacionava com odesenvolvimento psicossocial poste-rior da criança, 120 crianças da amos-tra inicial foram avaliadas aos quatroanos e meio de idade por dois pedopsi-quiatras, que não tinham conhecimen-to prévio dos resultados do NPI-II.Constatou-se, assim, que as criançasclassificadas através deste instrumentocomo estando em maior risco de des-envolver problemas psicossociais eramavaliadas, efectivamente, como tendomaiores dificuldades emocionais aosquatro anos e meio de idade, relativa-mente àquelas que indiciavam baixorisco. Posteriormente, 104 destascrianças foram novamente avaliadaspor volta dos dez ou onze anos de ida-de, tendo-se verificado que a percep-ção da mãe no primeiro mês de idadedo bebé permanecia associada aos pro-blemas psicossociais apresentados pelacriança nesta idade. Duas explicaçõesforam avançadas para este fenómeno:ou certas características genéticas dosbebés são detectadas desde muito cedopelas mães, representando as suas pon-tuações uma avaliação adequada docomportamento da criança; ou as ex-pectativas das mães tornam-se profe-cias que se auto-cumprem, passando ainfluenciar o seu comportamento rela-tivamente ao bebé, o qual influencia,

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por sua vez, o comportamento deste(Broussard, 1980).

Os resultados deste estudo longitu-dinal indicam, então, que a associaçãoentre a percepção materna avaliadapelo NPI-II e o desenvolvimento psi-cossocial posterior da criança persisteao longo do tempo, sendo a percepçãonegativa preditora de perturbaçãoemocional aos quatro, cinco, dez e on-ze anos de idade da criança. A percep-ção que as mães têm do seu bebéconstitui-se, assim, como um determi-nante crítico da necessidade de inter-venção precoce junto das crianças,alguns anos mais tarde.

Paralelamente, através de entrevis-tas efectuadas às mães cerca de ummês após o nascimento do bebé,Broussard (1980) verificou que asmães com percepção negativa do bebé,tal como avaliada pelo NPI-II, quandocomparadas com as mães com percep-ção positiva: a) evidenciavam menorauto-estima e ausência de confiança re-lativamente ao seu papel materno e re-velavam-se mais dependentes darealidade externa, tendo, no entanto,dificuldade em usufruir da ajuda exter-na oferecida; b) percepcionavam a redede suporte social como sendo menoseficaz (faziam mais referências à au-sência de ajuda por parte dos profissio-nais de saúde); c) referiam ter maiordificuldade nos cuidados do bebé; e, d)pareciam frequentemente deprimidas eansiosas. Do mesmo modo, estas mãesreferiam maior dificuldade em tolerar a

proximidade requerida em interacçõestípicas mãe-bebé, tais como em situa-ções de alimentação, higiene do bebéou quando o mantinham ao seu colo.Algumas diferenças entre as mães comuma percepção negativa e positiva pa-reciam evidenciar-se também na suacapacidade para: (1) antecipar ou satis-fazer as necessidades da criança; (2)antecipar ameaças ou perigos para acriança; (3) estabelecer limites apro-priados; (4) envolver-se em activida-des mútuas satisfatórias; e (5) oferecerà criança um “espelho” verbal positivo.

Com efeito, alguns estudos empíri-cos têm evidenciado que o comporta-mento interactivo da mãe condiciona odesenvolvimento de problemas com-portamentais por parte da criança,constituindo-se como uma circunstân-cia de risco para os mesmos (Hagekull& Bohlim, 1986; Figueiredo, 2001).Os pais podem, por conseguinte, serajudados a encontrar as respostas maisadequadas às suas dificuldades nainteracção com o bebé que resultamdas características específicas deste e,assim, a estabelecer comportamentosque possibilitem uma interacção demaior qualidade. Deste modo, pareceexistir a necessidade de estabeleceremgrelhas para o diagnóstico das situaçõ-es em que o fracasso interactivo se po-de associar a circunstâncias de riscodesenvolvimental da criança, de modoa promover a adopção de medidas pre-ventivas no que respeita à interacçãomãe-bebé. Nesta relação, uma variável

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mediadora importante, e que deve sersempre considerada, parece ser a per-cepção que a mãe tem do comporta-mento e do temperamento do seu bebé.

Deste modo, o Inventário dePercepção Neonatal (NPI) podeconstituir-se como um instrumentode grande utilidade para despistar opotencial adaptativo de um determi-nado sistema mãe-criança. Ainda as-sim, é necessário ter em conta querepresenta apenas uma estratégia deavaliação preliminar, não excluindo,por isso, a necessidade de uma ava-liação clínica mais alargada e cuida-dosa, com o objectivo de determinara natureza das percepções negativas,tendo em conta a especificidade decada sistema relacional mãe-bebé.

Tendo em conta a relevância e utili-dade deste instrumento, o presente tra-balho teve como objectivo adaptar eavaliar o comportamento psicométricodo Neonatal Perception Inventory(NPI; Broussard, 1964) numa amostrade mães da população portuguesa, porforma a verificar se a versão portugue-sa deste instrumento possui caracterís-ticas psicométricas que permitam asua utilização, tanto na prática clínicacomo na investigação.

MÉTODO

Participantes

No primeiro momento de avalia-ção, correspondente ao segundo dia

pós-parto, participaram 150 mães.Destas, 94 participaram também nosegundo momento de avaliação, res-pondendo ao NPI-II.

No Quadro 1 encontra-se a análisedetalhada da composição da amostranos dois momentos de avaliação, ten-do em conta a sua distribuição porgrupo etário, estado civil, nível so-cioeconómico, escolaridade, situaçãoprofissional e experiência prévia dematernidade.

Podemos verificar no Quadro 1que as mães que constituem a amos-tra têm idades compreendidas entreos 18 e os 45 anos de idade, distri-buindo-se maioritariamente pelosgrupos etários “26-30” anos e “31-35” anos. Na grande maioria, são ca-sadas ou vivem em situação de uniãode facto; têm um grau de instruçãosecundário ou superior; encontram-se empregadas; e situam-se nos ní-veis socioeconómicos baixo e médio,de acordo com a classificação deSimões (1994). No que diz respeito àexperiência prévia de gravidez e ma-ternidade, verifica-se uma distribui-ção equilibrada por ambas assituações, nos dois momentos deavaliação.

O Quadro 2 apresenta a distribui-ção dos bebés pelas categorias devariáveis relativas ao nascimento.Além do género e da idade gestacio-nal, considerámos o peso do bebé ànascença e o índice Apgar (1º e 5ºminuto).

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Segundo dia pós-parto(N = 150)

Seis semanas pós-parto(N = 94)

Grupo Etário n % n %

18-25 21 14.0% 14 14.9%

26-30 56 37.3% 35 37.2%

31-35 52 34.7% 33 35.1%

36-40 16 10.7% 9 9.6%

45 5 3.3% 3 3.2%

Média (DP) 30.45 (4.94) 30.30 (4.78)

Estado Civil

Solteira 13 8.7% 7 7.4%

Casada/União de Facto 133 88.7% 84 89.4%

Separada/Divorciada 4 2.7% 3 3.2%

Nível Socioeconómico

Baixo 66 44.0% 42 44.7%

Médio 76 50.7% 44 46.8%

Superior 8 5.3% 8 8.5%

Escolaridade

1º e 2º ciclos do ensino básico 24 16.0% 11 11.7%

3º ciclo do ensino básico 19 12.7% 13 13.8%

Ensino secundário 51 34.0% 34 36.2%

Ensino superior 56 37.3% 36 38.3%

Situação Profissional

Empregada 126 84.0% 78 83.0%

Desempregada 15 10.0% 10 10.6%

Doméstica 9 6.0% 6 6.4%

Experiência Prévia

Primíparas 76 50.7% 46 48.9%

Multíparas 74 49.3% 48 51.1%

Quadro 1. Características gerais da amostra

Instrumentos

Percepção Neonatal

A percepção neonatal materna foiavaliada através do Inventário dePercepção Neonatal (NeonatalPerception Inventory – NPI; Broussard,1964; Versão Portuguesa: Moreira, Silva,Oliveira, Araújo-Pedrosa, Canavarro eBarros, 2004), instrumento destinado aavaliar a percepção que a mãe tem do

comportamento do seu bebé, por compa-ração com a maioria dos bebés ou do be-bé típico. Trata-se de um questionário deauto-resposta que explora seis dimensõescomportamentais típicas dos bebés: cho-ro, alimentação, vómitos, sono, funcio-namento dos intestinos/sistema digestivoe rotinas/ritmos de alimentação e sono.

O NPI é constituído por duas versõ-es: o NPI-I, preenchido entre o primei-ro e o quarto dia após o nascimento dobebé e o NPI-II, preenchido cerca de

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Quadro 2. Distribuição dos bebés em função das variáveis relativas ao nascimento

Momento 1

Idade Gestacional N %

37 semanas 19 12.7%

38 semanas 31 20.7%

39 semanas 38 25.3%

40 semanas 41 27.3%

41 semanas 18 12.0%

42 semanas 1 0.7%

Género

Feminino 69 46%

Masculino 81 54%

Peso

<= 3000 34 22.7%

3000-3700 79 52.7%

>= 3700 37 24.7%

Índice de Apgar 1º minuto

< 9 22 14.7%

> 9 128 85.3%

Índice de Apgar 5º minuto

< 9 0 0.0%

> 9 150 100%

quatro a seis semanas depois do parto.Cada versão é composta por duas es-calas diferentes, que devem ser utiliza-das em simultâneo, e que sãoconstituídas por um conjunto de seisitens, correspondentes a seis dimensõ-es do comportamento dos bebés. A pri-meira escala diz respeito ao que a mãepensa acerca da maioria dos bebés (as-sume a designação de O Bebé Típico),enquanto que a segunda refere-se àsexpectativas da mãe relativamente aocomportamento do seu bebé (tem a de-signação de O Seu Bebé). Segundo aautora, o NPI deve ser consideradouma medida projectiva na qual a mãeé confrontada com estímulos ambí-guos relativamente ao seu bebé e aobebé típico.

Assim, o NPI-I refere-se à avalia-ção, realizada pela mãe, das diferentesdimensões comportamentais do seubebé nos primeiros dias após o nasci-mento (e.g.: “Na sua opinião, quantovai chorar o seu bebé?”), por compa-ração com a estimativa do comporta-mento da maioria dos bebés ou dobebé típico (e.g.: “Na sua opinião,quanto chora, em geral, um bebé?”).O NPI-II refere-se à experiência damãe relativamente ao comportamentodo seu bebé durante as primeiras seissemanas de vida deste (e.g.: “Quantotem chorado o seu bebé?”), por com-paração com a percepção do compor-tamento da maioria dos bebés ou dobebé típico (ex.: “Na sua opinião,quanto chora, em geral, um bebé?”).

Cada item avalia uma dimensão

comportamental distinta e as respostassão avaliadas a partir de uma escala deLikert de cinco pontos, que vai desde1 (nada) a 5 (muito). Note-se que osvalores mais baixos representam oscomportamentos mais desejáveis. Aclassificação final do instrumento, nasduas versões, resulta da discrepânciaentre as duas escalas, ou seja, é obtidasubtraindo ao total da escala BebéTípico (soma dos itens de 1 a 6) o to-tal da escala Seu Bebé (soma dos itens7 a 12). Um valor de NPI positivo sig-nifica que a mãe tem uma percepçãofavorável do comportamento do seufilho, na medida em que o avalia comotendo menos problemas comporta-mentais do que a maioria dos bebés.Um valor de NPI igual a zero ou nega-tivo, significa que a mãe tem uma per-cepção desfavorável do seu bebé, namedida em que o avalia como tendo osmesmos ou mais problemas comporta-mentais que a maioria dos bebés.

Para a elaboração da versãoPortuguesa, começou por se procederà tradução das duas versões que cons-tituem o NPI, tendo-se obtido umaprimeira versão do instrumento emPortuguês. No sentido de verificar apreservação do sentido dos itens, foirealizada uma retroversão indepen-dente. Esta retroversão foi submetidaà apreciação da autora do instrumentooriginal. Assim, as diferentes versõesdo instrumento (original, tradução eretroversão) foram comparadas, ten-do-se procedido à análise das diver-gências encontradas. Da análise

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realizada por Broussard resultarampequenas alterações em alguns itens,de forma a que a versão portuguesa,não obstante as diferenças linguísti-cas, se aproximasse o mais possívelda versão original. Foi assim obtida aversão final da tradução portuguesadeste instrumento.

Psicopatologia materna.

Foi utilizado o Inventário deSintomas Psicopatológicos (BriefSymptom Inventory, BSI; Derogatis,1982; Versão Portuguesa: Canavarro,1999) para avaliar a presença de sinto-matologia psicopatológica materna.Este instrumento consiste na versãoabreviada do SCL-90 e é constituídopor 53 itens, em que o indivíduo deve-rá classificar o grau em que determina-do problema o afectou durante a últimasemana, numa escala de tipo Likert,com cinco possibilidades de respostaque oscilam entre 0 (nunca) a 4 (mui-tíssimas vezes). Os sintomas psicopato-lógicos são avaliados em termos denove dimensões de sintomatologia(Somatização, Obsessões-Compulsões,Sensibilidade Interpessoal, Depressão,Ansiedade, Hostilidade, AnsiedadeFóbica, Ideação Paranóide ePsicoticismo) e três índices globais (Índi-ce Geral de Sintomas, Total de SintomasPositivos e Índice de SintomasPositivos). A versão Portuguesa desteinstrumento apresenta boas característi-cas psicométricas (os valores de consis-tência interna para as nove escalas

variam entre .62 e .80 e os coeficientesteste-reteste entre .63 e .81).

Procedimento

A recolha da amostra realizou-se naMaternidade Doutor Daniel de Matos,do Departamento de Medicina Materno-Fetal, Genética e Reprodução Humana,dos Hospitais da Universidade deCoimbra, entre Janeiro e Julho de 2006.

Preencheram o protocolo mulherescuja gravidez decorreu na ausência decondições consideradas de risco e cu-jo parto se realizou a partir das 37 se-manas de gestação, inclusive. Foramconsiderados os seguintes critérios deexclusão: parto pré-termo (anterior às37 semanas de gestação), gravidezmúltipla, mães com história de psico-patologia prévia, mães com históriade toxicodependência ou alcoolismo,mães de recém-nascidos com proble-mas médicos ou desenvolvimentais(e.g.: cardiopatias, outras malforma-ções, Síndroma de Down, etc.), mãescom outros filhos (que não o recém-nascido) portadores de deficiênciacognitiva ou física, e gravidez comcomplicações médicas relativas à mãeou ao bebé.

As mães que constituem a amostraforam contactadas individualmentedurante o período de internamento namaternidade, no segundo dia após oparto. Depois de esclarecidas acercada natureza e objectivos do estudo ede obtido o respectivo consentimentoinformado para a sua participação, foi-

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lhes solicitado o preenchimento de umprotocolo de avaliação constituído pelaprimeira versão do Inventário dePercepção Neonatal (NPI-I) e peloInventário de Sintomas Psicopatológicos(BSI). Na mesma altura, procedeu-se tam-bém ao preenchimento da ficha de carac-terização sociodemográfica e da ficha deinformações médicas do recém-nascido.Seis semanas após o nascimento do bebé,a segunda versão do inventário (NPI-II),juntamente com o BSI, foi enviada porcorreio para a residência das mães, jun-tamente com um envelope selado, para aposterior devolução dos questionários.

Análises Estatísticas

Para o tratamento estatístico dosdados, foi o utilizado o pacote esta-tístico SPSS - versão 14.0. Atravésdesta ferramenta de cálculo, foramdeterminadas as frequências, médiase os desvios-padrão no que respeitaàs características sociodemográficasda amostra (mães e bebés) e às va-riáveis contínuas em estudo. Foramcalculados os alphas de Cronbachpara cada escala do NPI-I e NPI-II,assim como as correlações dePearson entre entre os itens e as su-bescalas, incluindo e excluindo oitem. Para a análise da estabilidadetemporal foram realizadas correlaçõ-es de Pearson entre as duas escalasdas duas versões do NPI, administra-das nos dois momentos de avaliação:no pós-parto e quatro a seis semanasdepois do parto. Foram ainda analisa-

das as correlações de Pearson entre asdimensões e índices gerais do BSI e ca-da escala do NPI, considerando a cate-gorização da percepção neonatal comopositiva ou negativa. Com o objectivode testar se as escalas do NPI são bonspreditores das dimensões e índices ge-rais de psicopatologia avaliadas peloBSI, foram efectuadas regressões linea-res múltiplas (método enter).Finalmente, para analisar as diferençasentre as mães primíparas e multíparasrelativamente a ambas as escalas do ins-trumento, utilizámos o teste t de Student.

RESULTADOS

Percepção neonatal ao longo do tempo

À semelhança dos estudos origi-nais desenvolvidos por Broussard(1980), procurámos analisar a evolu-ção da percepção neonatal materna aolongo de tempo que medeia o primei-ro e segundo momentos de avaliação.Para tal, foram tidos em conta o nú-mero de mães com uma percepção po-sitiva ou negativa nos dois momentosde avaliação e o número das que mu-daram ou mantiveram a percepçãoinicial do seu bebé.

No Quadro 3 são apresentados os re-sultados relativos à qualidade da percep-ção neonatal medida pelas duas versõesdo NPI, correspondentes aos dois mo-mentos de avaliação. Note-se que nestaanálise apenas foram consideradas asmães que participaram em ambos osmomentos de avaliação (n = 94).

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Como se depreende pela análisedos dados, a grande maioria das mãestem uma percepção positiva do seubebé, tendência que se verifica tantoapós o parto (72.34%, n = 68), comoseis semanas depois do nascimento doseu bebé (73.40%, n = 69). Do mesmomodo, verifica-se que, ao longo dotempo, o número de bebés percepcio-nados como tendo mais problemascomportamentais que a média, isto é,a proporção de mães com uma per-cepção negativa do seu bebé, se man-tém muito semelhante, passando de27.66% (n = 26) no primeiro momen-to, para 26.60% (n = 25) no segundo.

Constatámos também que, da tota-lidade das mães avaliadas nos doismomentos, 69.15% mantêm o sentidoda qualidade da percepção neonatal,sendo que destas, apenas 11 revela-ram ter uma percepção negativa do

seu bebé nos dois momentos de ava-liação (Cf. Quadro 3 e 4).Relativamente às restantes 29 mães(30.85%) que participaram em ambosos momentos, verificou-se uma altera-ção de sentido da sua percepção neo-natal: o grupo de mães que ao longodo tempo revelou uma mudança posi-tiva, isto é, que após o parto percep-cionava o seu bebé como tendo maisproblemas do que a média (percepçãonegativa) e seis semanas após o nasci-mento apresentava uma percepçãomais favorável (percepção positiva)correspondeu a 15.96% dos casos;contrariamente, o grupo de mães querevelou uma mudança negativa, isto é,que percepcionava de forma positivao seu bebé num primeiro momento ede forma negativa seis semanas apóso seu nascimento, representou14.89% dos casos.

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Quadro 3. Qualidade da percepção neonatal avaliada pelo NPI-I e NPI-II(número absoluto e percentagem de mães)

NPI - II

PercepçãoPositiva

PercepçãoNegativa

Totais

NPI - I

Percepção Positiva 54 (57.45%) 14 (14.89%) 68 (72.34%)

Percepção Negativa 15 (15.96%) 11 (11.70) 26 (27.66%)

Totais 69 (73.40%) 25 (26.60%) 94 (100%)

A escala Seu Bebé pertencente aoNPI-I e ambas as escalas do NPI-IIapresentam uma consistência internarazoável. Apenas o valor de alpha daescala Bebé Típico do NPI-I se situaligeiramente abaixo do valor habitual-mente indicado como desejável pordiferentes autores.

No Quadro 6 são apresentadas ascaracterísticas dos itens (média e des-

vio-padrão), assim como a correlaçãodo item com o total da escala a quepertence, a correlação item-totalquando este não é incluído e o alphade Cronbach excluindo o item. Maisuma vez, e pelas mesmas razões men-cionadas anteriormente, os índices fo-ram calculados em relação à escala aque pertencem e não à totalidade doinstrumento.

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Quadro 4. Mudança no sentido da qualidade da percepção neonatal

Quadro 5. Consistência interna - Alpha de Cronbach

n (%)

Sem alteração de sentido 65 (69.15%)

Positiva - Negativa 14 (14.89%)

Negativa - Positiva 15 (15.96%)

NPI-I Alpha de Cronbach

Percepção do Bebé Típico .607

Percepção do Seu Bebé .715

NPI-II

Percepção do Bebé Típico .738

Percepção do Seu Bebé .792

Fidelidade

Para avaliar a fidelidade deste ins-trumento analisámos a sua consistên-cia interna, através da determinaçãodos valores de alpha de Cronbach, e asua estabilidade temporal.

Tendo em consideração que cada ver-são do NPI é constituída por duas escalasdiferentes (Seu Bebé e Bebé Típico), pro-cedeu-se à determinação da consistênciainterna para cada escala do instrumento,não se tendo obtido um valor de alpha re-lativo ao total de cada versão (Quadro 5).

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Quadro 6. Estudo dos itens: NPI-I e NPI-II

Item MédiaDesvioPadrão

R/Item-Total

corrigido

R/Item-Total

AlphaCronbach(s/item)

NPI-IEscala Bebé Típico

1 (choro)2 (alimentação)3 (vómito)4 (sono) 5 (problemas intestinais)6 (rotina de alimentação e sono)

3.353.052.992.803.393.28

0.660.890.720.810.870.83

.41

.24

.32

.33

.31

.46

.60**

.53**

.54**

.58**

.57**

.68**

.540

.607

.570

.565

.578

.509

Total 18.86 2.79Escala Seu Bebé

7 (choro)8 (alimentação)9 (vómito)10 (sono)11 (problemas intestinais)12 (rotina de alimentação e sono)

2.952.692.812.562.862.87

0.720.870.730.810.880.83

.46

.39

.34

.49

.43

.59

.63**

.61**

.53**

.67**

.65**

.75**

.674

.695

.707

.664

.681

.628

Total 16.74 3.12NPI-IIEscala Bebé Típico

1 (choro)2 (alimentação)3 (vómito)4 (sono) 5 (problemas intestinais)6 (rotina de alimentação e sono)

3.122.692.892.843.413.17

0.720.660.730.780.810.85

.61

.40

.23

.45

.56

.61

.76**

.57**

.45**

.68**

.74**

.76**

.663

.721

.764

.707

.674

.657

Total 18.13 2.99Escala Seu Bebé

7 (choro)8 (alimentação)9 (vómito)10 (sono) 11 (problemas intestinais)12 (rotina de alimentação e sono)

2.682.022.472.572.992.64

0.740.800.840.901.110.90

.59

.47

.38

.69

.48

.72

.73**

.62**

.58**

.82**

.70**

.84**

.753

.777

.798

.724

.784

.715

Total 15.37 3.74

**p<.001

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Todas as correlações item-totalcorrigidas apresentam um valor mo-derado, situando-se acima de .20, in-dicando uma boa homogeneidadedas escalas (Streiner & Norman,1995). Verificou-se também que,com excepção do item 3 em ambasas escalas do NPI-II, o valor de al-pha de cada escala sem o item ésempre inferior ao alpha global daescala, indicando que os itens contri-buem positivamente para a consis-tência interna das duas escalas doinstrumento.

Para testar a estabilidade temporaldo instrumento, foram utilizadas asduas versões do NPI (NPI-I e NPI-II),administradas com cerca de seis se-manas de intervalo. Estas duas versõ-es do instrumento pretendem ambasavaliar a percepção que a mãe tem doseu bebé e, embora, semelhantes noconteúdo de todas as questões, refe-rem-se a dois momentos distintos doperíodo neonatal, apresentando comoúnica diferença o tempo verbal dositens que constituem a escala SeuBebé (cf. Instrumentos). Não obstanteesta diferença, considerou-se tratar-sedo mesmo instrumento e, como tal, aspontuações de cada escala do NPI-I e

NPI-II foram correlacionadas paratestar a sua estabilidade temporal. Osíndices de correlação de Pearson en-contrados entre os valores obtidos pa-ra cada escala entre as duas versões doinstrumento foram positivos e estatis-ticamente significativos (Escala SeuBebé: r = .34, p < .01; escala BebéTípico: r = .40, p < .01). Apesar de es-tatisticamente significativas, as corre-lações encontradas são baixas, o que écoerente com os pressupostos teóricosenunciados por Broussard, que consi-dera provável a modificação da per-cepção do bebé típico e do seu bebé, àmedida que aumenta o tempo de con-vivência da mãe com o bebé e a inter-acção entre ambos se desenvolve.

Validade

No âmbito dos estudos de validade,procedeu-se à comparação dos resul-tados do NPI com um critério externoválido. Assim, analisámos as correla-ções entre os resultados das duas es-calas do NPI-I e NPI-II, tendo emconsideração a avaliação global dapercepção neonatal (positiva ou nega-tiva), e os resultados das diferentes di-mensões do BSI.

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Relativamente às associações veri-ficadas no primeiro momento de ava-liação, quando a percepção neonatalda mãe é positiva, embora não se ti-vessem encontrado correlações esta-tisticamente significativas entre aescala Bebé Típico e nenhuma das su-bescalas do BSI, verificaram-se asso-ciações significativas entre apercepção do Seu Bebé e as dimensõ-es Somatização (r = .25; p < .01),Ansiedade (r = .26; p < .01) e Total de

Sintomas Positivos (r = .21; p < .05).Estes resultados indicam que um au-mento nas pontuações da escala SeuBebé e, portanto, uma percepção maisdesfavorável dos comportamentos dobebé, se encontra associada a umamaior somatização e ansiedade e a ummaior número de sintomas positivos,avaliados pelo BSI. Ainda no mesmomomento, mas quando a percepção damãe é negativa, não foram de igualmodo encontradas associações signi-

Quadro 7. Correlações entre o NPI-I e NPI-II e o BSI

NPI-I NPI-II

PercepçãoPositivan = 108

PercepçãoNegativan = 42

PercepçãoPositivan = 69

PercepçãoNegativan = 25

BSIBebé

TípicoSeu

BebéBebé

TípicoSeu

BebéBebé

TípicoSeu

BebéBebé

TípicoSeu

Bebé

Somatização .12 .25** .25 .38* .97 .13 .12 .12

Obsessões-Compulsões

-.03 .15 .12 .21 .03 .02 .23 .19

SensibilidadeInterpessoal

.00 .11 .06 .21 .02 .09 .09 .03

Depressão -.06 .09 .15 .29 .10 .15 .17 .16

Ansiedade .15 .26** .23 .33* .24 .22 .32 .03

Hostilidade -.01 .09 .20 .27 .07 .13 .27 .29

AnsiedadeFóbica

.10 .17 .15 .26 -.04 -.04 .08 .07

IdeaçãoParanóide

-.03 .13 .12 .25 -.06 -.02 .17 .13

Psicoticismo -.04 .05 .01 .15 .03 .05 .05 .02

IGS .03 .19 .16 .3 .06 .09 .19 .18

TSP .06 .21* .17 .28 -.01 .04 .23 .20

ISP -.02 .11 .19 .31* .21 .16 .46* .46*

*p<.05; **p<.01

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ficativas entre a escala Bebé Típico eas dimensões de psicopatologia ava-liadas pelo BSI. Já no que respeita àescala Seu Bebé, verificaram-se co-rrelações significativas com as su-bescalas Somatização (r = .38, p <.05), Ansiedade (r = .33, p < .05) ecom o Índice de Sintomas Positivos(r = .31, p < .05). Deste modo, à me-dida que existe uma maior percepçãode comportamentos desfavoráveispor parte do bebé, verifica-se tam-bém um aumento da somatização eda ansiedade maternas, bem como,de uma forma geral, maior sintoma-tologia psicopatológica.

No que diz respeito à percepção ne-onatal da mãe cerca de seis semanasapós o parto, apenas se encontraramassociações significativas entre o Índi-ce de Sintomas Positivos e as escalasBebé típico (r = .46, p < .05) e SeuBebé (r = .46, p < .05), embora apenasquando a percepção da mãe é negativa.

A ausência de correlações elevadase significativas na maioria das subes-calas do BSI, atesta o facto destes doisinstrumentos medirem, efectivamen-te, constructos diferentes.

A percepção neonatal como preditorada psicopatologia materna

Com o objectivo de complemen-tar os resultados encontrados ante-

riormente e, igualmente, de explorara aplicabilidade do instrumento napredição da psicopatologia materna,procurámos testar se as escalas SeuBebé e Bebé Típico são bons predi-tores dessa variável em cada mo-mento. Para tal, foram utilizadasregressões lineares múltiplas em re-lação a cada uma das dimensões doBSI. Apenas as dimensões que se co-rrelacionavam significativamentecom as escalas do NPI foram utiliza-das como variáveis dependentes. Osresultados desta análise, descritos noQuadro 8, evidenciam que apenas apercepção do Seu Bebé no momentopós-parto (NPI-I) parece ser um bompreditor das dimensões de psicopato-logia assinaladas. Assim, maiores ní-veis de somatização e ansiedade,bem como maiores níveis de psico-patologia avaliados pelos índices ge-rais IGS e TSP, parecem estarassociados e serem preditos por umamaior percepção de comportamentosnão desejados por parte do recém-nascido na altura do seu nascimento.As restantes dimensões do BSI pare-cem não ser explicadas pela percep-ção neonatal da mãe.

Cerca de seis semanas após o partoverificámos que nenhuma das escalasdo NPI-II conseguia ser um preditorsignificativo do Índice de SintomasPositivos.

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Primiparidade vs. multiparidade

Foi também averiguada a existên-cia de diferenças na percepção neona-tal, em ambas as escalas doinstrumento e nos dois momentos deavaliação, entre as mães primíparas eas mães multíparas.

Tal como se pode observar noQuadro 9, apenas foram encontradasdiferenças significativas na percepçãoneonatal do Bebé Típico e do SeuBebé, entre primíparas e multíparas,no período imediatamente pós-parto,avaliada pelo NPI-I. O nascimento do

primeiro filho parece estar associadoà percepção de um maior número decomportamentos não desejados porparte do recém-nascido e também dosbebés de uma forma geral, o que se re-flecte em pontuações médias maiselevadas na percepção neonatal doBebé Típico e do Seu Bebé nas mãesprimíparas relativamente às multípa-ras. Já quando se compararam as mãesprimíparas e multíparas quatro a seissemanas depois do parto, não se veri-ficam diferenças significativas entreambas no que diz respeito à percepçãoneonatal avaliada pelas duas escalas.

Quadro 8. Percepção do bebé típico e do seu bebé como preditores de psicopatologia no momento pós-parto

BSI Preditores ββ p Modelo

SomatizaçãoBebé Típico -.083 .414

r2 = .092; p = .001Seu Bebé .348 .001

AnsiedadeBebé Típico .001 .992

r2 = .068; p = .006Seu Bebé .259 .012

IGSBebé Típico -.135 .197

r2 = .059; p = .013Seu Bebé .304 .004

TSPBebé Típico -.123 .233

r2 = .065; p = .007Seu Bebé .313 .003

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DISCUSSÃO

O NPI constitui-se como um inven-tário de grande utilidade e facilidadede administração, permitindo avaliar,com precisão e rapidez, a percepçãoque as mães têm do seu bebé e tam-bém dos bebés de uma forma geral.Os resultados obtidos com a aplicaçãodo NPI numa amostra de mães da po-pulação portuguesa parecem permitir-nos concluir pela existência de boascaracterísticas psicométricas desta es-cala, tornando indicada a sua utiliza-ção em contexto clínico e deinvestigação.

De acordo com Broussard (1980),as mães que logo após o parto pon-tuam os seus bebés mais desfavora-velmente do que a média, poderãoexperienciar uma dissonância entre assuas expectativas relativamente aoBebé Típico e à percepção do SeuBebé, esforçando-se para reduzir adissonância. As mães que são bem su-cedidas nesta tentativa não apresen-

tam, algumas semanas depois, umapercepção negativa do seu bebé. Poroutro lado, se as mães não forem bemsucedidas nas suas tentativas para re-duzir a dissonância, ou se experien-ciarem um aumento dessa mesmadissonância, espera-se a manutençãoou o aumento da percepção negativado seu bebé, quando avaliadas peloNPI-II. Os resultados obtidos no pre-sente trabalho permitiram-nos verifi-car que a grande maioria das mãesapresenta uma percepção positiva doseu bebé, tanto no momento pós-parto(72.34%), como algumas semanas de-pois do mesmo (73.40%). Estes resul-tados distanciam-se dos encontradospor Broussard (1980), já que, no seuestudo, 53.50% das mães apresenta-vam uma percepção negativa do seubebé no momento pós-parto, contra-riamente aos 27.66% encontrados nopresente trabalho. Já no segundo mo-mento, apenas 38.80% das mães ava-liadas por Broussard demonstravamter uma percepção negativa dos seus

Quadro 9. Primiparidade e multiparidade na percepção neonatal

NPI-IPrimíparas

n = 76Multíparas

n = 74t p

Seu Bebé 17.28 (3.31) 16.19 (2.83) 2.156 .03

Bebé Típico 19.34 (2.61) 18.36 (2.89) 2.175 .03

NPI-IIPrimíparas

n = 46Multíparas

n = 48t p

Seu Bebé 16.26 (3.48) 14.70 (4.03) 1.915 .06

Bebé Típico 18.52 (2.83) 17.95 (3.20) 0.871 .39

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bebés, facto que revela uma tendênciapara a melhoria da percepção do bebépor parte da mãe, à medida que au-menta a interacção entre ambos. Nanossa amostra, apenas 26.59% dasmães apresentam uma percepção neo-natal negativa no segundo momento,percentagem esta muito semelhante àencontrada no primeiro momento.

No que diz respeito à interpreta-ção dos índices de fidelidade do NPI,é necessário ter em consideração al-gumas características particularesdeste instrumento, nomeadamente, ofacto de o NPI ser constituído porduas escalas, cada uma constituídapor apenas seis itens, corresponden-tes a seis dimensões comportamen-tais distintas. Deste modo, osresultados relativos à consistência in-terna desta escala encontram-se condi-cionados pelas referidas características,não possibilitando, nem sendo de espe-rar, valores tão elevados quanto os quehabitualmente são indicados como des-ejáveis. Paralelamente, a correlaçãoapenas moderada entre as duas aplica-ções do instrumento, a propósito doestabelecimento da estabilidade tem-poral, é expectável na medida emque é bastante provável que a per-cepção que a mãe tem do seu bebé edos bebés de uma forma geral mudeao longo do tempo, à medida que ainteracção mãe-bebé se vai desen-volvendo, tal como é sugerido porBroussard (1980) e como foi encon-trado em outro estudo realizado pornós (Oliveira, 2006).

As correlações encontradas no perí-odo que imediatamente sucede o parto,entre a escala Seu Bebé e as dimensõ-es do BSI Somatização e Ansiedade edois dos índices gerais de psicopatolo-gia, tanto quando a percepção neonatalé positiva como quando é negativa,apontam para uma maior vulnerabili-dade materna nesta fase particular, as-sociada à expectativa de um maiornúmero de comportamentos negativosdo bebé. Ou seja, quanto maior for apercepção da mãe de comportamentosnão desejados por parte do seu bebé,independentemente da sua percepçãoglobal ser positiva ou negativa, maio-res são os seus índices de somatizaçãoe de ansiedade, bem como de psicos-sintomatologia geral. Efectivamente, onascimento de um bebé representa umconjunto de novos desafios para ospais, sendo por isso expectável que es-ta fase se associe a maiores níveis deansiedade e à necessidade acrescida dereajustamento, especialmente quandoo comportamento do bebé, em váriasou em alguma área particular, é per-cepcionado mais desfavoravelmente.Importante será notar que cerca de ummês depois do nascimento do bebé, es-tas associações já não se verificam,facto que possivelmente está relaciona-do com uma maior adaptação maternae conhecimento da criança. Contudo,observa-se uma correlação significati-va entre o Índice de Sintomas Positivosdo BSI e as duas escalas do NPI-II,mas apenas quando a percepção damãe é negativa. Este resultado indica

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que, provavelmente, as mães que nestafase têm uma percepção desfavoráveldo seu bebé continuam a apresentar al-guma sintomatologia psicopatológica,devendo por isso ser alvo de umamaior avaliação e, possivelmente, in-tervenção psicológica, de acordo comBroussard (1980).

Procurámos, igualmente, analisarse as duas escalas que constituem esteinstrumento são bons preditores dapsicopatologia materna. Os resultadosmostram que apenas a escala SeuBebé do NPI-I constitui um bom pre-ditor das dimensões Somatização eAnsiedade e dos índices gerais IGS eTSP do BSI. Assim, a percepção ma-terna de determinados problemascomportamentais do bebé, aquando oseu nascimento, parece ser um factorrelevante para a explicação da sinto-matologia psicopatológica, nomeada-mente ansiosa e de somatização, quese verifica nesta fase. Desta forma, es-tes resultados chamam também aatenção para a necessidade de se ava-liar precocemente a percepção que amãe tem relativamente ao seu bebé e,desta forma, implementar estratégiasque a ajudem a efectuar uma mudançade sentido na sua percepção. Cerca deum mês após o parto, a percepção ne-onatal (do Bebé Típico e do SeuBebé) deixa de conseguir predizer apsicossintomatologia materna, talvezporque nesta altura outros factores, re-lativos à mãe, ao bebé e à interacçãoentre ambos, concorram para explicare predizer a sua adaptação.

Os resultados deste estudo mos-tram ainda que o nascimento do pri-meiro filho se encontra associado auma maior expectativa e percepção decomportamentos negativos do recém-nascido e dos bebés de uma forma ge-ral, por oposição ao nascimento deoutros filhos que não o primeiro. Noentanto, é importante sublinhar que,cerca de um mês após o parto, as mãesprimíparas e multíparas já não se dis-tinguem relativamente à percepçãoneonatal, apresentando valores mé-dios muito semelhantes. Nesta fase,ao conhecerem melhor o seu bebé,conseguem, provavelmente, anteciparcom maior exactidão os seus compor-tamentos, não apresentando, por isso,expectativas tão negativas relativa-mente ao seu comportamento.

CONCLUSÃO

Em suma, o NPI deve ser conside-rado como uma medida do potencialadaptativo de um determinado siste-ma mãe-criança. Não permitindo pre-dizer a natureza da possívelperturbação psicossocial, dada a com-plexidade do desenvolvimento huma-no, o NPI pode, todavia, ajudar aidentificar os bebés que, com cerca deum mês de idade, podem correr algumrisco desenvolvimental, alertando pa-ra o estabelecimento de programas deprevenção primária. Este instrumentorepresenta apenas o primeiro passopara a condução de uma avaliação clí-nica cuidada do potencial adaptativo

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de cada sistema relacional e para o es-tabelecimento das necessidades e dosobjectivos específicos da intervenção.Assim, o índice da discrepância entreos valores da escala do Bebé Típico eos valores da escala do Seu Bebé nãodeve ser utilizado de forma isoladapara diagnosticar a necessidade de in-tervenção no sistema mãe-bebé.Contudo, conjugado com uma cuida-dosa avaliação clínica, poderá ser bas-tante útil para determinar a naturezadas percepções negativas, dada a es-pecificidade de cada sistema relacio-nal mãe-criança. Este instrumento

deverá constituir-se como um impor-tante ponto de partida para o planea-mento e para a implementação deintervenções dirigidas às necessidadesespecíficas de cada sistema relacionalmãe-bebé.

AGRADECIMENTO

Os autores agradecem à ProfessoraDoutora Elsie R. Broussard, daUniversidade de Pittsburgh, peloacompanhamento disponibilizado aolongo das diversas etapas do processode validação do NPI para Portugal.

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Notas de rodapé

1. Este estudo é frequentemente designado como o “estudo de Pittsburgh”.

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RIDEP · Nº 28 · Vol. 2 · 2009