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Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010.

PERCEPÇÃO DE GESTANTES QUANTO O ÁCIDO FÓLICO E SULFATO FERROSO DURANTE O PRÉ-NATAL

PERCEPTION OF PREGNANT WOMEN FOR FOLIC ACID AND FERROUS SULFATE DURING THE PRENATAL

Gedeon Alves Ferreira Graduado em enfermagem pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG. [email protected] Fernanda Nunes Gama Enfermeira. Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade. Pós-graduada em Administração Hospitalar e Gestão de Projetos de Investimentos em Saúde. Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG. [email protected] RESUMO O ácido fólico e o sulfato ferroso são medicamentos essenciais durante o período gestacional. Eles atuam no desenvolvimento embrionário e na saúde da gestante. Realizou-se uma pesquisa com abordagem qualitativa de caráter descritivo a fim de analisar a percepção das gestantes quanto ao uso de ácido fólico e sulfato ferroso durante o atendimento de pré-natal no serviço público de saúde no município de Coronel Fabriciano, MG, identificando, junto às gestantes, quais as ações educativas dos enfermeiros para que as mesmas fizessem uso desses medicamentos. Os dados foram coletados mediante um roteiro de entrevista entre os dias 11 de dezembro de 2009 a 31 de janeiro 2010 e submetidos à análise de conteúdo. Verificou-se que o desconhecimento sobre os medicamentos essenciais utilizados durante a gestação, principalmente a respeito do ácido fólico, é significante e que existe uma falha no processo educativo das gestantes durante o pré-natal. PALAVRAS-CHAVE: Ácido Fólico. Sulfato Ferroso. Cuidado Pré-natal. Gestante. Enfermagem. ABSTRACT Folic acid and ferrous sulfate are essential drugs during pregnancy. They act in embryonic development and health of pregnant women. We carried out a survey with a qualitative and descriptive in order to analyze the perception of women regarding the use of folic acid and ferrous sulfate in the treatment of antenatal care in public health service in the city of Coronel Fabriciano, MG, identifying with the women, which the educational activities of nurses so that they make use of these drugs. Data were collected through a structured interview days between December 11, 2009 to 31 January 2010 and submitted to content analysis. It was found that the lack of essential drugs used during pregnancy, especially about the folic acid is significant and there is a gap in the education of pregnant women during prenatal care. KEY WORDS: Folic Acid. Ferrous Sulfate. Prenatal Care. Pregnant Women. Nursing.

INTRODUÇÃO

O ácido fólico e o sulfato ferroso são complementos vitamínico-alimentares importantes na prevenção de doenças carenciais, na formação de tecidos essenciais na gestação - onde ocorre o aumento de produção de hemácias por parte materna

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e nos tecidos que vão constituir o feto (THAME et al., 1998). A falta ou o uso irregular desses complementos por gestantes durante processo gestacional, e os efeitos que a insuficiência desses proporciona ao feto, é algo que vem sendo discutido por vários especialistas de saúde. A presença de manifestações de alterações congênitas relacionada à carência desses complementos durante a gestação tem sido alvo de preocupações (FONSECA; FONSECA; BERGSTEN-MENDES, 2002).

Em 2002 o Ministério da Saúde definiu que esses complementos são considerados medicamentos essenciais durante o pré-natal (BRASIL, 2002).

Pode-se definir o ácido fólico como uma vitamina do complexo B, também conhecida como folato. Essa vitamina é indispensável para o indivíduo em qualquer idade e/ou faixa etária, porém a carência desta vitamina torna-se maior em mulheres em idade fértil (BRASIL, 2002).

A deficiência alimentar de ácido fólico é mais frequente em mulheres grávidas. Considera-se que mais de um terço de mulheres no mundo são deficientes de ácido fólico. A concentração de ácido fólico diminui durante a gravidez devido a expansão do volume plasmático. O ácido fólico tem como principal função prevenir a malformação do tubo neural (TN) no feto. Essas malformações do TN são caracterizadas por deformações como anencefália1, espinha bífida2 e meningocele3. Tais anomalias podem causar a morte, paralisia dos membros inferiores e, em alguns casos, retardo mental (BRASIL, 2002; NOGUEIRA; PARENTE; COZZOLINO, 2003).

Malformações congênitas predominam entre os óbitos, devido uma ineficácia prévia de medidas promocionais a saúde. A maior taxa de mortalidade perinatal está associada à ausência de assistência pré-natal (LORENZI, 1999).

As ações do Enfermeiro no acompanhamento pré-natal trazem benefícios contínuos para a saúde das gestantes, dos recém-nascidos, redução significativa da mortalidade materna, baixo peso ao nascer e mortalidade perinatal (COSTA; GUILHERM; TELLES, 2005; GAMA et al., 2004).

Os profissionais da saúde possuem papel importante na orientação das mulheres e na prescrição do ácido fólico periconcepcional, visando resultados preventivos. Observa-se ainda que no Brasil, o baixo nível educacional e socioeconômico, a menor idade materna, a ausência de um parceiro e a falta de planejamento na gestação, são fatores preditores do uso reduzido de ácido fólico durante o período periconcepcional (MEZZOMO et al., 2007).

Em relação à necessidade da suplementação do sulfato ferroso durante a gestação, se faz importante, pois reconhece-se que a deficiência de ferro e a anemia ferropriva é o problema mais comum durante esse período, porém sua prevalência é desconhecida (SANTOS, 2007). O sulfato ferroso, em sua composição, contém 20% de ferro elementar, sendo o restante constituído de sais hidratados. É indicado para prevenir e corrigir as deficiências de ferro, por exemplo, as anemias ferroprivas etiológicas ou idiopáticas (FERREIRA et al., 2003).

1 Malformação caracterizada pela ausência parcial do encéfalo e da calota craniana. 2 Anormalidade congênita do sistema nervoso. Ocorre um fechamento incompleto da coluna vertebral. 3 Protusão congênita ou adquirida das meninges, desacompanhadas de tecido neural, devido a um defeito ósseo no crânio ou na coluna vertebral.

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Segundo Silva, Silva e Viana (2009, p. 117), a anemia ferropriva:

é uma anemia causada em decorrência da deficiência de ingestão ou de absorção de ferro, caracterizada por diminuição da concentração copuslar média de hemoglobina e do ferro sérico. Ocorre quando o fornecimento de ferro é insuficiente para atingir as necessidades de diferentes tecidos, incluindo a formação das hemoglobinas e dos glóbulos vermelhos.

Segundo a OMS (1972 apud FERREIRA, 2003), a deficiência de ferro está

associada à restrição alimentar do mineral, tanto quantitativa como qualitativamente, bem como aos elevados requerimentos dos grupos biológicos mais suscetíveis à anemia, como os menores de cinco anos e as mulheres no período gestacional. Fujimore et al. (2000) acrescenta que, a ausência de sulfato ferroso no organismo promove a redução da capacidade física, resistência às infecções, além da anemia nutricional. A anemia durante o período gestacional acarreta problemas no crescimento do feto, ocasionando um bebê, ao nascer, de pequena estatura e de baixo peso.

A anemia nutricional por carência de ferro já vem sendo debatida por todo o mundo. No Brasil, 30% das gestantes são acometidas pela anemia nutricional devido a carência de ferro. Nas gestantes, essa anemia está relacionada com baixo peso da criança ao nascer e as ocorrências da mortalidade perinatal. No entanto, com projetos de prevenção da anemia ferropriva, o Ministério da Saúde criou em 2005 a Portaria Ministerial nº. 730 que regulamenta o Programa Nacional de Suplementação de Ferro, onde se trata os cuidados às gestantes a partir da 20ª semana gestacional e mulheres até os três primeiros meses pós-parto (BRASIL, 2005).

Em dados recentes da Organização Mundial de Saúde, que envolveu 93 países, inclusive o Brasil, concluiu-se que 1,6 bilhões de pessoas – 24,8% da população mundial - são acometidas pela anemia, sendo de maior prevalência, respectivamente, no continente africano e asiático. Neste estudo a anemia no Brasil foi apresentada como um caso de saúde pública de intensidade moderada a grave para gestantes (VITOLO, 2008).

O desenvolvimento desta pesquisa possibilitará identificar o conhecimento que as gestantes possuem sobre a importância do ácido fólico e do sulfato ferroso durante o processo gestacional. Possibilitando assim aos Enfermeiros compreender a necessidade de instruir um processo educacional quanto à utilização desses medicamentos. Visto que possa haver um uso irregular, ou até mesmo o desuso do mesmo por falta de conhecimento.

O objetivo principal dessa pesquisa foi analisar a percepção das gestantes quanto ao uso de ácido fólico e sulfato ferroso durante o pré-natal no serviço público de saúde no município de Coronel Fabriciano, MG, identificando, junto às mesmas, as ações educativas abordadas pelos Enfermeiros para que fizessem uso desses medicamentos. METODOLOGIA

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A pesquisa teve uma abordagem qualitativa de caráter descritivo. A abordagem qualitativa foi desenvolvida nesta pesquisa por fundamentar possibilidades pertinentes e adequadas para a interpretação dos aspectos complexos do ser humano.

Segundo Ludke e André (2001), a pesquisa qualitativa se forma de uma situação natural, enriquecida em tópicos descritivos, possui uma estratégia de pesquisa aberta e flexível, focalizando a realidade de forma contextualizada e complexa. Conforme Minayo (2004), a pesquisa qualitativa abrange de forma concentrada vários aspectos sociais incorporados nos aspectos individuais de cada amostra. Não se configura em números e nem variáveis, mas em atos, relações e estruturas sociais.

A população do estudo foi constituída por 29 gestantes sendo que a amostra foi constituída de 21 gestantes que tiveram desejo para responder ao instrumento de coleta de dados. Para critério de inclusão foram selecionadas todas as gestantes regularmente cadastradas no SIS-Pré-natal na Unidade de Atenção Primária à Saúde (UAPS) do bairro Floresta em Coronel Fabriciano/MG no mês de dezembro de 2009 e que estavam no 3º trimestre gestacional.

O município de Coronel Fabriciano situa-se na microrregião do Vale do Aço ao leste do estado de Minas Gerais, possui cerca de 110.000 habitantes. A rede de saúde do município é garantida por meio de 12 Unidades Básicas de Saúde, três Equipes de Saúde da Família e uma equipe de Programa de Agentes Comunitários de Saúde. Possui um Serviço de Fisioterapia, um Centro Psicossocial, um Laboratório de Análises Clínicas, um Centro de Especialidades Médicas e Programas de Saúde, um Centro de Especialidades Odontológicas e uma Farmácia Popular do Brasil. O nível terciário é garantido por meio de convênio com hospital da rede privada, com 88 leitos para internação credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O instrumento utilizado para a coleta de dados foi uma entrevista estruturada, individual, orientada por um roteiro com perguntas abertas com caracterização dos aspectos descritivos dos sujeitos envolvidos. Foi utilizado um MP5 PLAYER da marca Ilkon® com a finalidade de gravar as respostas.

A entrevista estruturada, segundo Marconi e Lakatos (2005), também conhecida como controlada e planejada. É um tipo de pesquisa que utiliza instrumento para a coleta de dados. Atua de forma controlada para a fim de responder os objetivos previamente planejados. Neste tipo de entrevista o pesquisador sabe o que busca e o que é importante, delimitando o seu campo usando de instrumentos próprios que lhe é necessário.

A coleta de dados foi realizada no período de 11 dezembro de 2009 a 31 de janeiro de 2010, onde o pesquisador dirigiu-se as residências das pesquisadas para abordagem - endereço no qual foi adquirido através dos cadastros da UAPS - e aplicação das entrevistas para aquelas que aceitaram participar. Cada entrevista teve duração de aproximadamente 15 minutos.

Para análise dos dados foi realizado um método de análise de categorias que correspondeu a um conjunto de técnicas de análise de comunicação, onde permitiu a interferência de conhecimentos relativos às condições de confecção das mensagens com base em literaturas cientificas. Para preservar o anonimato das participantes, utilizou-se nomes de pedras preciosas para identificá-las.

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O projeto da pesquisa foi aprovado pelo Secretário Municipal de Saúde de Coronel de Fabriciano mediante a assinatura do Termo de Autorização para realização da pesquisa. As participantes que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As participantes menores de 18 anos tiveram seu TCLE assinado pelos pais e/ou responsáveis.

A pesquisa foi desenvolvida de acordo com a Resolução 196/96, que descreve os padrões éticos e morais de pesquisa envolvendo seres humanos, garantindo os direitos dos sujeitos da pesquisa e deveres da comunidade científica (BRASIL, 1996). RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com a intenção de favorecer a caracterização dos sujeitos de pesquisa, os dados foram apresentados distribuídos por freqüência e percentagem, sendo idade, estado civil, número de filhos e escolaridade, de acordo com a TAB.1. TABELA 1 Distribuição dos participantes por faixa etária e estado civil, número de filhos e escolaridade.

Identificadores

Frequência

Percentagem Faixa Etária

< 18 anos 4 19,05

18 a 29 anos 13 61,90

> 29 anos 4 19,05 Estado Cívil Solteiro 8 38,10 Casada/unida 12 57,14 Divorciada/separada 1 4,76 Número de Filhos 1 a 2 14 66,67 > 2 2 9,52 Sem filhos 5 23,81 Escolaridade Ensino fundamental incompleto 7 33,33 Ensino fundamental completo 7 33,33 Ensino médio incompleto 3 14,29 Ensino médio completo 4 19,05

Com os dados apresentados na TAB.1, verifica-se que 61,9% das gestantes

possuem idade entre 18 e 29 anos, 57,14% delas são casadas ou vivem em união estável, 66,67% já tiveram um ou dois filhos(as) e 66,67% não ingressaram no ensino médio.

Segundo Vitolo, Boscaini e Bortolini (2006) é importante obter características tais como escolaridade materna, idade e quantidades de pessoas no domicílio, englobando filhos e conjugues, pois essas condições podem influenciar diretamente no entendimento quanto ao uso dos medicamentos essenciais durante a gestação. As mulheres de baixa escolaridade revelam desconhecimento quanto aos benefícios destes medicamentos; as de maior idade não vêem necessidade para o uso dos

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mesmos, buscando tão somente fontes alimentares para ingestão de seus suplementos; já a convivência familiar, assim como o número de componentes na família pode interferir de forma indireta ao uso dos mesmos.

Na intenção de analisar a percepção das gestantes quanto ao ácido fólico foram realizadas perguntas pertinentes ao mesmo. Quando perguntadas sobre os benefícios que o ácido fólico proporciona ao feto durante a gestação, foram obtidas as seguintes respostas:

Num tenho conhecimento do que acontece com o bebê não. Eu sei que o médico pede pra gente tomar, o, os comprimidos e mais explicação assim do que acontece, do que pode vir acontecer com a criança, não fala não. Turqueza, 27 anos. Olha! Eu não sei te dizer, que eu não fiz o uso né! Na minha gravidez eu só usei a vitamina, que é uma preta! Um comprimidão! Ágata, 35 anos. Sabe que eu não sei? Rubi, 32 anos. Ah! Eu tô bem lembrada não. Você pode me falar sobre ele? Ou não? Topázio, 22 anos. Não sei! Não faço a mínima idéia. Quatzo, 22 anos. [...] pra não vomitar [...] Berilo, 19 anos.

Das entrevistadas, verificou-se que 15 (71,43%) gestantes desconheciam a real função do ácido fólico durante a gestação e que seis (28,57%) tinham um conhecimento parcial quanto aos benefícios do uso do ácido fólico, citando em seus relatos somente a formação dos ossos do feto.

Em um estudo realizado no Brasil em 2005, em uma universidade federal do estado de São Paulo, observou-se a falta de informação das gestantes quanto ao uso dessa vitamina, a importância e a sua distribuição na rede pública. A 53% das gestantes nunca tinha ouvido falar da vitamina, não sabendo sua importância e nem sua distribuição. Das mulheres que pretendiam engravidar, mais da metade não foi orientada pelo profissional de saúde a tomar o medicamento (NASSER et al., 2005)

Borrelli et al. (2005), em sua análise sobre a incidência de malformações no tubo neural, constatou que há falta de informação no pré-natal associado ao desconhecimento da importância da suplementação de ácido fólico por parte das gestantes, fazendo assim o desuso dessa vitamina. Das 100 mulheres entrevistadas, 91% delas desconheciam os benefícios dessa vitamina.

Segundo Nasser et al. (2005), é necessário que políticas públicas intervenham em programas sociais levando informações a respeito das consequências da carência dessa vitamina em gestantes, informações essas que não atinjam só as mulheres, mas também familiares e profissionais que prestam atendimento, e que atuam das Unidades de Saúde. De acordo com Trevisan et al. (2002), a falta de informação a cerca da importância do uso desses medicamentos essenciais está associada à falta de qualidade da assistência pré-natal e à falta de desenvolvimento de atividades educativas por parte das equipes de saúde responsáveis pela atenção pré-natal.

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Ao serem questionadas a respeito dos benefícios do sulfato ferroso, verificou-se que mesmo com as dificuldades de expressão, 18 (80,95%) gestantes foram concisas nas respostas e demonstraram algum conhecimento.

Para anemia né? Não deixar nascer com anemia. Nascer saudável. Granada, 29 anos. Pra num dá anemia [pausa] pra fortalecer também. Espinélio, 17 anos. Num deixa ter anemia né? A gestante ter anemia, né? Citrino, 20 anos. Ah! [pausa] Eh! [pausa] Eu acho que é por causa da anemia. Esmeralda, 28 anos. Ah! Num ter anemia? Alguma coisa assim? Opala, 20 anos. Pra mim durante a gestação? Pra não dá anemia. Isso que eles fala. Pro bebe eu não sei. Rubi, 32 anos. Principalmente para dar saúde pra mulher, o médico me deu ele, porque eu tive anemia. Topázio, 22 anos.

Das entrevistadas, apenas três (14,29%) não souberam relatar à importância do sulfato ferroso, sendo que uma delas usou o silêncio como forma de resposta, demonstrando total desconhecimento ao mesmo.

Mesmo reconhecendo que todas as gestantes devem receber suplementação com ferro e consequentemente saber da importância do mesmo, outras fatores devem ser priorizados no intuito de se alcançar patamares de paises desenvolvidos quanto à anemia ferropriva, entre tudo à melhoria de processos educativos. No Brasil houve um avanço radical na prevenção da anemia ferropriva, sendo estabelecida em políticas de saúde a fortificação da farinha de trigo com ferro e ácido fólico (VITOLO; BOSCAINI; BORTOLINI, 2006).

As outras duas entrevistadas (9,52%) que não souberam relatar nenhum beneficio do sulfato ferroso, demonstraram-se confusas confundindo o ácido fólico com o sulfato ferroso, não sabendo distinguir cada um deles, respondendo de forma incerta a entrevista, como pode ser demonstrado nas falas:

... pra mim eles falaram que é para fortalecer os ossos da criança... Pérola, 35 anos. Pros ossos, né? Para o crescimento do bebê. Ágata, 34 anos.

Conhecer os medicamentos utilizados durante a gravidez conduz ao planejamento e a aceitação aos propósitos designados, garantindo um processo saudável mediante a utilização dos medicamentos essenciais durante o pré-natal (FONSECA; FONSECA; BERGSTEN-MENDES, 2002).

A Lei nº. 7.498/86 regulamenta o exercício de enfermagem, cabendo ao enfermeiro se responsabilizar pela consulta de enfermagem e a prescrição da assistência de enfermagem. Cabe ainda a este profissional, como membro da equipe de saúde prescrever os medicamentos, desde que esses sejam aprovados pela Instituição de Saúde e estabelecidos em Protocolos dos Programas de Saúde

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Pública. De acordo com o Decreto n.º 94.406/87 desta mesma lei, o pré-natal de baixo risco pode ser realizado pelo Enfermeiro, bem como a prescrição de medicamentos e solicitação de exames (COFEN, 2002).

As gestantes quando foram perguntadas sobre as orientações repassadas pelo enfermeiro(a), durante o pré-natal, quanto o uso do ácido fólico e o sulfato ferroso, obtive-se os seguintes resultados: três (14,29%) gestantes receberam orientações, uma (4,76%) não se lembrava e 17 (80,95%) alegaram que não receberam nenhuma orientação do(a) enfermeiro(a).

Este fato pode esta associado a um conhecimento ineficaz do profissional sobre o uso destes medicamentos e aos benefícios dos mesmos, viabilizando uma necessidade de orientações e capacitação desses profissionais

Das gestantes que receberam as orientações, obtiveram-se os seguintes depoimentos:

Ela falô assim: que tinha que tomar porque é uma vitamina tanto para mim quanto para o neném. Esmeralda, 28 anos. Que era pra mim tomar direitinho. Ta sempre tomando direito, porque pode prejudicar o bebê e eu. Eu até fiz exames pra vê se eu precisava tomar uma quantidade maior. Espinélio, 17 anos. Eles falaram [pausa] só sim! Explicaram pra tomar direitinho antes das refeições. Outro a noite e o resto não me lembro mais. Diamante, 23 anos.

O diálogo entre a equipe de enfermagem e a gestante, além de contribuir para que a gestante enfrente esse período com mais tranqüilidade, torna-a capaz de lidar com diversas situações do seu dia-a-dia. As ações educativas ministrada por essa equipe incluem orientações de diversos temas, inclusive as formas de lidar com medicamentos, uma forma preventiva de validar a promoção da saúde e a prevenção de doenças (SHIMIZU; LIMA, 2009). CONSIDERAÇÕES FINAIS

Baseado em um conjunto de análises verificou-se que, a partir dos relatos das gestantes, o desconhecimento sobre os medicamentos essenciais utilizados durante a gestação, principalmente a respeito do ácido fólico, é significante. Mediante essa situação observa-se que há extrema necessidade de conduzir uma ampliação nos esforços para realização continua de uma assistência educativa, objetivando a melhoria continua de ações de saúde durante o pré-natal, sendo ele em caráter individual e coletivo.

Constatou-se que existe uma falha no processo educativo das gestantes durante o pré-natal. Processo no qual o enfermeiro deve se incumbir de realizar, visando uma função preventiva relacionada a possíveis doenças ocasionadas por uso irregular, e até mesmo o desuso, do ácido fólico e do sulfato ferroso. O desconhecimento leva a gestante a não se importar com a funcionalidade do medicamento, abrindo mão da necessidade da utilização dos mesmos, levando consigo os riscos carenciais desses medicamentos.

A visão mecanicista deve ser revertida no processo de enfermagem e a forma dialogada deve ser incluída nesse processo, pois a troca de informações essenciais

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e práticas entre o enfermeiro e a gestante geram maior conhecimento entre as partes.

Atividades que possam produzir melhorias nas ações educativas durante o pré-natal devem ser implantadas por enfermeiros continuamente. Mas para isso deve haver intervenção de uma equipe comprometida e capacitada com a saúde da gestante. Uma equipe que desempenha seu verdadeiro papel: o cuidar. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 196 de 10 de Outubro de 1996. Aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa com seres humanos. Diário Oficial da União. Brasília, 16 de outubro de 1996. ______.Ministério da Saúde. Secretária de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programadas e Estratégicas. Assistência pré-natal e puerpério atenção qualificada e humanizada: manual técnico. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno5_saude _mulher.pdf>. Acesso em: 20 de out. 2009. ______.Ministério da Saúde. Secretária de Atenção à Saúde. Secretária de Políticas da Saúde. Relação Nacional de Medicamentos essenciais: RENAME. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relacao_nac_med_essenciais.pdf>. Acesso em: 12 out. 2009. BORRELLI, Milton et al. Prevenção de defeitos de fechamento do tubo neural pela administração de ácido fólico- desafio da saúde pública. Arquivo de Medicina do ABC, São Paulo, v. 30, n. 1, p. 44-7, jan./jun. 2005. Disponível em: <http://www.fmabc.br/admin/files/revistas/30amabc044.pdf>. Acesso em: 03 fev. 2010. COFEN. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução n. 271, de 12 de julho de 2002. Dispõe sobre a regulamentação das ações dos enfermeiros na consulta, prescrição de medicamentos e requisição de exames. Rio de Janeiro. Legislação e normas. Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais, 2005. COSTA, Ana Maria; GUILHEM, Dirce; WALTER, Maria Inêz Machado Telles. Atendimento a gestantes no Sistema Único de Saúde. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 39, n. 5, p. 768-74, out. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102005000500011 &lng=p t&nrm=iso>. Acesso em: 12 out. 2009. FERREIRA, Maria Lúcia Matias et al. Efetividade da aplicação do sulfato ferroso em doses semanais no Programa Saúde da Família em Caruaru, Pernambuco, Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, p. 375-81, abr. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2003000200004 &lng= pt&nrm=iso>. Acesso em: 06 out. 2009.

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