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PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS FREQUENTADORES DAS PRAIAS DO OLHO D’ ÁGUA E ARAÇAGI, ILHA DO MARANHÃO-MA TELES, THIAGO SOUSA¹- [email protected]: NEPA/GEOTEC/UFMA CUTRIM JUNIOR, VALDIR¹- [email protected]: NEPA/GEOTEC/UFMA SILVA, GLECIELES¹- [email protected]: GEOTEC/UFMA SANTOS, JORGE HAMILTON SOUZA DOS²- [email protected]: DEGEO/UFMA RESUMO Os estudos de percepção vêm ganhando ênfase nas últimas décadas, sobretudo nos estudos ambientais realizados pelos geógrafos. Estes estudos buscam observar os significados, valores, atitudes, sentimentos e experiências dos indivíduos com o seu meio. Segundo Seabra (1997, p.71), a Geografia da Percepção “preocupa-se em mostrar o mundo contemporâneo a partir da experiência vivida de cada um e seu nível de consciência, bem como suas idéias e sentimentos em relação ao espaço geográfico”. Nesta perspectiva, buscou- se analisar a percepção ambiental dos freqüentadores quanto às problemáticas ambientais das praias do Olho D’Água e Araçagi situadas na faixa litorânea norte da Ilha do Maranhão, respectivamente nos municípios de São Luís e Paço do Lumiar, realizado no segundo semestre de 2008. Na realização da pesquisa utilizou-se a abordagem fenomenológica, por meio de entrevistas, registros fotográficos e levantamentos bibliográficos. Após análise das informações e tabulação dos dados, encontraram-se os seguintes resultados: No Olho D’Água, os frequentadores encontrados possuem um baixo poder aquisitivo e citaram como problemas ambientais a poluição sonora, os esgotos residenciais, presença de lixo e trafego de veículos na praia, a distribuição desordenada dos bares, a falta de consciência ambiental, entre outros. No Araçagi os frequentadores, de maior poder aquisitivo e melhores níveis de instrução escolar, identificaram os mesmos problemas citados anteriomente, mas relataram frequentar esta praia por ser menos poluída. Os dois grupos apesar das divergências socioeconômicas revelam que os ambientes necessitam de políticas de manejo e infra-estrutura que visem à qualidade ambiental e a sustentabilidade. Portanto, os resultados encontrados são de fundamental importância, pois servem como base as intervenções necessárias para uma gestão ambiental participativa e eficaz, observando as vivências dos homens com seu meio. Palavras-chave: percepção ambiental, praias, frequentadores. ABSTRACT Studies of perception have been gaining attention in recent decades, especially in environmental studies realized by geography. These studies seek to observe the meanings, values, attitudes, feelings and experiences of individuals with their environment. According Seabra (1997, p.71), the Geography of Perception "is concerned to show the contemporary world from the experience of each and their level of consciousness, and their ideas and feelings in relation to geographical area." Accordingly, we tried to analyze the environmental awareness of visitors about the environmental problems of the beaches of Olho D'Água Araçagi and located in coastal strip north of the island of Maranhão, respectively in the municipalities of São Luis and Paço do Lumiar held in the second half 2008. In conducting research using the phenomenological approach, through interviews, photographs and bibliographic records. After analyzing the information and tabulation of data, we found the following results: In Olho D'Água, the visitors have found a low purchasing power and cited as the environmental noise, the residential sewage, garbage and presence of traffic of vehicles on the beach, the disordered distribution of the bars, the lack of environmental awareness among others. In Araçagi the visitors, more purchasing power and higher levels of education, identified the same problems cited earlier, but relatively frequent this beach to be less polluted. The two groups despite differences socioeconomic environments show that the need for management policies and infrastructure aimed at environmental quality and sustainability. Therefore, the results are of fundamental importance because it serves as a basis for the interventions necessary and effective participatory environmental management, noting the experiences of men with their environment. Keywords: environmental perception, beaches, visitors. __________________________________________________________________________________ ¹ Estudante do Curso de Geografia da UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO ² Professor/ Doutor do Departamento de Geociências da UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

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PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS FREQUENTADORES DAS PRAIAS DO OLHO D’ ÁGUA E ARAÇAGI, ILHA DO MARANHÃO-MA

TELES, THIAGO SOUSA¹- [email protected]: NEPA/GEOTEC/UFMA CUTRIM JUNIOR, VALDIR¹- [email protected]: NEPA/GEOTEC/UFMA

SILVA, GLECIELES¹- [email protected]: GEOTEC/UFMA SANTOS, JORGE HAMILTON SOUZA DOS²- [email protected]: DEGEO/UFMA

RESUMO Os estudos de percepção vêm ganhando ênfase nas últimas décadas, sobretudo nos estudos ambientais realizados pelos geógrafos. Estes estudos buscam observar os significados, valores, atitudes, sentimentos e experiências dos indivíduos com o seu meio. Segundo Seabra (1997, p.71), a Geografia da Percepção “preocupa-se em mostrar o mundo contemporâneo a partir da experiência vivida de cada um e seu nível de consciência, bem como suas idéias e sentimentos em relação ao espaço geográfico”. Nesta perspectiva, buscou-se analisar a percepção ambiental dos freqüentadores quanto às problemáticas ambientais das praias do Olho D’Água e Araçagi situadas na faixa litorânea norte da Ilha do Maranhão, respectivamente nos municípios de São Luís e Paço do Lumiar, realizado no segundo semestre de 2008. Na realização da pesquisa utilizou-se a abordagem fenomenológica, por meio de entrevistas, registros fotográficos e levantamentos bibliográficos. Após análise das informações e tabulação dos dados, encontraram-se os seguintes resultados: No Olho D’Água, os frequentadores encontrados possuem um baixo poder aquisitivo e citaram como problemas ambientais a poluição sonora, os esgotos residenciais, presença de lixo e trafego de veículos na praia, a distribuição desordenada dos bares, a falta de consciência ambiental, entre outros. No Araçagi os frequentadores, de maior poder aquisitivo e melhores níveis de instrução escolar, identificaram os mesmos problemas citados anteriomente, mas relataram frequentar esta praia por ser menos poluída. Os dois grupos apesar das divergências socioeconômicas revelam que os ambientes necessitam de políticas de manejo e infra-estrutura que visem à qualidade ambiental e a sustentabilidade. Portanto, os resultados encontrados são de fundamental importância, pois servem como base as intervenções necessárias para uma gestão ambiental participativa e eficaz, observando as vivências dos homens com seu meio. Palavras-chave: percepção ambiental, praias, frequentadores.

ABSTRACT

Studies of perception have been gaining attention in recent decades, especially in environmental studies realized by geography. These studies seek to observe the meanings, values, attitudes, feelings and experiences of individuals with their environment. According Seabra (1997, p.71), the Geography of Perception "is concerned to show the contemporary world from the experience of each and their level of consciousness, and their ideas and feelings in relation to geographical area." Accordingly, we tried to analyze the environmental awareness of visitors about the environmental problems of the beaches of Olho D'Água Araçagi and located in coastal strip north of the island of Maranhão, respectively in the municipalities of São Luis and Paço do Lumiar held in the second half 2008. In conducting research using the phenomenological approach, through interviews, photographs and bibliographic records. After analyzing the information and tabulation of data, we found the following results: In Olho D'Água, the visitors have found a low purchasing power and cited as the environmental noise, the residential sewage, garbage and presence of traffic of vehicles on the beach, the disordered distribution of the bars, the lack of environmental awareness among others. In Araçagi the visitors, more purchasing power and higher levels of education, identified the same problems cited earlier, but relatively frequent this beach to be less polluted. The two groups despite differences socioeconomic environments show that the need for management policies and infrastructure aimed at environmental quality and sustainability. Therefore, the results are of fundamental importance because it serves as a basis for the interventions necessary and effective participatory environmental management, noting the experiences of men with their environment. Keywords: environmental perception, beaches, visitors. __________________________________________________________________________________ ¹ Estudante do Curso de Geografia da UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO ² Professor/ Doutor do Departamento de Geociências da UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

1. INTRODUÇÃO

Os estudos de percepção vêm ganhando ênfase nas últimas décadas, sobretudo nos estudos

ambientais realizados pelos geógrafos. Estes estudos buscam observar os significados, valores,

atitudes, sentimentos e experiências dos indivíduos com o seu meio.

Segundo Seabra (1997, p.71 apud PEREIRA 2007, p.36), a Geografia da Percepção

“preocupa-se em mostrar o mundo contemporâneo a partir da experiência vivida de cada um e seu

nível de consciência, bem como suas idéias e sentimentos em relação ao espaço geográfico”.

Estes estudos são de fundamental importância, pois buscam compreender os sentimentos e

ações do homem no ambiente, haja vista o espaço geográfico é (re)produzido conforme esta relação

das sociedades com seus aspectos culturais e o meio geográfico.

Nesta perspectiva, buscou-se analisar a percepção ambiental dos freqüentadores quanto às

problemáticas ambientais das praias do Olho D’Água e Araçagi, situadas na faixa litorânea norte da

Ilha do Maranhão-MA. Devido à degradação existente, faz-se necessário compreender esta realidade a

partir daqueles que frequentam a área, observando suas vivencias, comportamentos e opiniões,

servindo de subsidio as discussões sobre as intervenções necessárias para uma gestão ambiental

participativa e eficaz.

Nas duas últimas décadas houve um crescimento urbano acentuado em todos os municípios

da Ilha do maranhão em decorrência, sobretudo “dos grandes projetos industriais” instalados nos anos

80 (SANTOS, 1996.), ocasionando o agravamento dos problemas ambientais na franja costeira.

A crescente degradação dos ecossistemas existentes na ilha vem assumindo, nos últimos

anos, proporções alarmantes, devido às múltiplas atividades econômicas desenvolvidas e pelo aumento

da concentração populacional na franja costeira.

Em virtude das significativas alterações ambientais na referida orla marítima, faz-se

premente a realização de planejamentos que contemplem as diversas potencialidades e limitações

locais dessa faixa, visando-se o uso racional do ambiente. Nesta perspectiva, o referido estudo analisa

a percepção ambiental dos freqüentadores e moradores das praias do Olho d’Água e Araçagi

objetivando subsidiar através da informações obtidas futuros projetos, planos e/ou programas que

venham a ser implementados nas áreas estudadas.

2. METODOLOGIA

Para a realização deste estudo de percepção ambiental, tomou-se como base metodológica a

abordagem fenomenológica. Para Chistofoletti (2000, p.22) A fenomenologia preocupa-se em analisar os aspectos essenciais dos objetos da consciência, através da supressão de todos os preconceitos que um indivíduo possa ter sobre a natureza dos objetos, como os provenientes das perspectivas cientificas, naturalistas e do senso comum.

Preocupando-se em verificar a apreensão das essências, pela percepção e intuição das pessoas, a fenomenologia utiliza como fundamental a experiência vivida e adquirida pelo individuo.

Para concretização desta pesquisa, foram realizados oito trabalhos de campo, sendo quatro

em cada praia. Inicialmente foi feito o reconhecimento da área para posterior aplicação dos

formulários e a realização das entrevistas. Foram aplicados 100 formulários em cada praia (Olho

d’Água e Araçagi). Os mesmos eram compostos de perguntas abertas e fechadas, para obter uma visão

mais ampla da percepção dos freqüentadores. Durante a atividade de campo foi realizado um

levantamento fotográfico no intuito de registrar as principais características ambientais das referidas

praias. Após a tabulação dos dados realizou-se a análise e discussão das informações obtidas pela

pesquisa.

3. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A ilha do Maranhão localiza-se na parte central do Golfão Maranhense, mais precisamente,

Microrregião do Aglomerado Urbano de São Luis (IBGE, 2001). Possui uma área territorial de

1,453km², dividida em quatro municípios: São Luis, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa.

As praias em estudo situam-se no setor norte da Ilha. Sendo que a praia do Olho d’água

localiza-se no município de São Luís, entre as coordenadas 2° 28’ 43.25’’S e 44° 13’ 45.69’’W e a

praia do Araçagi, situa-se no município de Paço do Lumiar, entre as coordenadas de 2° 27’ 53.65’’S e

44° 11’ 50.99’’W.(Figura 1)

FIGURA 1:Localização das praias do Olho d’água e Araçagi. FONTE: Adaptado IBGE.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Ocupações, territorialização e condições socioeconômicas dos frequentadores do Olho

D’Água e Araçagi.

Assim como nas demais cidades costeiras, as praias da Ilha do Maranhão também são

utilizadas para a ocupação, lazer da população e como fonte de renda.

A praia do Olho d’água (Figura 2) é uma das mais tradicionais de São Luís e foi

considerada durante muito tempo referencia de lazer na capital até o inicio da década de noventa, foi a

mais freqüentada da cidade, principalmente nos finais de semana e períodos de férias escolares, por ser

a opção mais acessível de lazer; tradicionalmente por sua festa de passagem de ano, culto a Yemanjá e

pelos acampamentos de jovens que instalavam barracas ao final de cada ano... É a maior praia da

cidade estendendo-se da ponta do Jaguarema até a foz do riacho Pimenta (RIBEIRO, 1996)

Figura 2: Vista da praia do Olho d’água. Fonte: Dados da pesquisa

Segundo Ribeiro (1996), devido às transformações sociais ocorridas na cidade de São Luís

entre 1980 e 1990 com a implantação do Programa Grande Carajás e a instalação de indústrias, entre

as quais, a ALUMAR, pôde-se observar uma alteração na distribuição espacial da população a qual

também foi responsável pela modificação da paisagem da orla marítima em quase toda ilha.

A praia é a opção de lazer mais acessível e relativamente mais “barata” em São Luís,

devido a isso, as populações dos bairros periféricos começaram a reivindicar o aumento do numero de

linhas de ônibus nos finais de semana e feriados para a praia do Olho d’Água. Desta forma, nas ultimas

décadas surgiram às linhas da Cidade Operaria - Olho d’Água, Maiobão - Olho d’Água, São Cristovão

- Olho d’Água, dentre outras (Ribeiro, 1996).

Ao final da década de 90, surgiram grandes áreas de ocupação na gleba do Turu, a

exemplo da Divinéia, Vila Nova Divinéia, Vila Litorânea, Sol e Mar, Vila Luizão. Todas estas

comunidades estão localizadas muito próximas ao bairro do Olho d’Água o que facilita o

deslocamento em direção a praia.

Conforme Ribeiro (1996), em virtude disso, a praia do Olho D`Água passou a sofrer uma

redução de parte dos seus freqüentadores de poder aquisitiva mais elevado. Sendo assim pode-se

descrever três grupos em sub-espaços que haviam na orla do Olho D’água: o 1° popularmente

conhecido como Curubal, que normalmente era freqüentada por uma clientela de poder aquisitivo mais

baixo e na maioria das vezes oriunda de bairros de crescimento espontâneos. Este sub-espaço localiza-

se entre a entrada tradicional da praia estendendo-se desde o rio pimenta até as proximidades da praça

de Yemajá. O 2° sub-espaço populamente conhecido como cuca-legal, que era normalmente

freqüentado por uma clientela de poder aquisitivo maior que do 1° e, normalmente, moradores de

conjuntos habitacionais. Este grupo localizava-se nos limites do 1° sub-espaço e estendia-se até as

proximidades da Associação dos Magistrados. O 3°sub-espaço popularmente conhecido como Cudosal

era normalmente freqüentado por uma clientela de poder aquisitivo mais elevado e normalmente

provenientes de áreas nobres. Este sub-espaço localizava-se nos limites do 2°e se estendia ate as

barreiras da praia do Olho D`Água.

Em busca de uma nova territorialidade, os freqüentadores do 2º e 3° sub-espaço da praia do

Olho D`Água começaram a migrar principalmente para nas praias da Calhau e São Marcos com

conclusão da Avenida Litorânea e para o trecho da praia do Araçagi compreendido entre a foz do

riacho Jaguarema e a descida do Araçagi Praia Clube, estendendo-se depois a uma maior extensão da

praia. Esse movimento provocou uma maior ocupação daquele espaço ainda pouco povoado e de

difícil acesso. Levando novos freqüentadores da praia do Araçagi (Figura 3) a construírem uma nova

territorialidade, incomodados com a presença dos freqüentadores “recém-chegados” da praia do Olho

D’Água.

Figura 3: Vista da praia do Araçagi. Fonte: Dados da pesquisa

Este processo territorial descrito por Ribeiro (1996) foi facilmente observado na pesquisa

quando foi analisado o perfil socioeconômico dos freqüentadores das duas praias. No Olho D’Água,

grande parte dos entrevistados possui um baixo nível escolar em relação aos do Araçagi. Constata-se

que 60% dos freqüentadores da primeira praia têm o ensino fundamental e médio completo. Já na praia

do Araçagi 56% dos entrevistados concluíram o ensino médio e 31% o ensino superior (Gráfico1).

Gráfico 1: Escolaridade dos frequentadores. Fonte: Dados da pesquisa

No que se refere a renda familiar ficou constatado que 87% dos entrevistados da praia do

Olho d’Água recebem entre 1 e 4 salários mínimos por mês, enquanto 53% das pessoas entrevistadas

no Araçagi ganham de 5 a mais de 8 salários mínimos mensais (Gráfico 2).

Gráfico 2: Renda familiar dos frequentadores Fonte: Dados da pesquisa

No tocante ao meio de transporte utilizado a grande maioria das pessoas que freqüentam a

praia do Araçagi (80%), usa automóveis para o seu deslocamento, diferentemente dos entrevistados na

praia do Olho d’Água, que utilizam o transporte coletivo (gráfico 3). Tal resultado caracteriza

condições sócio-econômicas consideravelmente diferentes.

Grafico 3: Meios de transporte utilizados pelos frequentadores Fonte: Dados da pesquisa.

4.2 Percepção Ambiental dos freqüentadores.

Com base nos estudos de percepção buscou-se compreender como se dá a relação entre os

freqüentadores e os ambientes freqüentados (as praias do Olho D’água e Araçagi), como os mesmos

percebem, agem e opinam sobre estas áreas.

Para tanto foi necessário verificarmos a priori a freqüência com que os mesmos vão a estes

ambientes. Com base nos dados obtidos (Tabela 1), constata-se que as pessoas que entrevistadas na

primeira praia não vão à mesma com muita regularidade. Já os freqüentadores do Araçagi, podem ser

encontrados semanalmente ou pelo menos uma vez ao mês na referida praia.

TABELA 1: Freqüência nas praias estudadas

Freqüência Olho D’Água Araçagi

% %

Diariamente 5 3

Semanalmente 20 23

Mensalmente 12 30

Semestralmente 8 4

Anualmente 9 4

Às vezes 42 35

Turista 4 1

Total 100 100

Fonte: Dados da pesquisa

Foi verificado ainda quais são as atividades (de lazer) que os freqüentadores costumam

realizar nas praias estudadas. Sendo assim,constatou-se que no Olho d’água as principais atividades

realizadas foram: banho (47%) e bronzeamento (32%). No Araçagi as principais atividades foram:

banho (42%) e a utilização dos bares (45% ).

As pessoas que disseram freqüentar o bar demonstram melhores condições

socioeconômicas, conforme analisado neste estudo. As atividades menos praticadas foram a pratica de

esportes (19% e 14%), no Olho D’Água e no Araçagi respectivamente geralmente atrelado ao futebol

praticado entre amigos na área de estirâncio na baixa mar. E uma pessoa relatou no Olho d’água, como

opção não sugerida, olhar a paisagem na praia. (Gráfico 4).

Gráfico 4: Atividades praticadas pelos frequentadores Fonte: Dados da pesquisa

Ao ser analisada a infra-estrutura da praia foi questionado se as mesmas ofereciam

condições básicas para atender os freqüentadores, tais como: segurança, locais adequados para

disposição do lixo, boas opções de lazer, atendimento medico e salva vidas, banheiros adequados, bom

atendimento aos freqüentadores. O gráfico 5 demonstra os aspectos positivos e negativos destacados

pelos entrevistados. Em relação aos aspectos negativos a maioria das pessoas destacava a precária

condições no que se refere a disponibilidade de banheiros com as condições de higiene mínimas

necessárias, ausência de locais adequados e de lixeiras para disposição dos resíduos sólidos, bem como

a precária fiscalização por parte da policia ao longo das praias. Em relação aos pontos positivos

constatou-se uma significativa satisfação dos usuários pelos serviços médicos e de salva vidas na praia

do Olho D’Água (39%), devido provavelmente a presença destes, ao longo da praia no momento do

preenchimento dos formulários pelos freqüentadores. Todavia, segundo Wertson (29 anos)

freqüentador do Olho D’Água, “às vezes têm Salva Vidas, às vezes não. É preciso mais

policiamento...”Outra opção em destaque nas duas praias, foi relacionada ao bom atendimento aos

clientes dispensado pelos donos de bares e garçons.

Gráfico 5: Condições estruturais Fonte: Dados da pesquisa

Quanto aos motivos responsáveis pela escolha das duas praias ao invés das demais

existentes na Ilha do Maranhão a maioria dos entrevistados da praia do Olho D’Água (64%), disseram

que a acessibilidade foi o principal motivo da escolha. Na praia do Araçagi, a opção com maior

número de indicações, foi devido a menor poluição da praia (32%), embora esta resposta não consta-se

do rol de opções nos formulários aplicados. Tal resultado obtido apenas no Araçagi demonstra o grau

de exigência destes freqüentadores em relação aos aspectos paisagísticos e de prevenção de doenças de

veiculação hídrica. (Tabela 2)

Tabela 2: Motivo que leva as pessoas a frequentarem as praias estudadas.

Motivos Olho D’Água Araçagi

% %

Infra-estrutura 14 30

Acessibilidade 64 6

Paisagem natural 10 26

Preço dos bares 10 26

Sentimento pelo lugar 4 2

Calma 0 2

Menos Poluida 0 32

Fonte: Dados da pesquisa

Este resultado reflete outro questionamento feito: Você acha esta praia poluída? No Araçagi

60% das pessoas não a consideravam poluída, e relatavam as pesquisas realizadas e divulgadas nos

meios de comunicação (escrito e televisionado), acerca da menor quantidade de coliformes fecais em

relação às outras praias. Já no Olho D’Água 84% dos freqüentadores consideravam-na poluída. É

importante frisar, que apesar da maioria destes freqüentadores mesmo considerando a praia poluída,

continuavam banhando em suas águas.

Ao serem questionadas sobre os tipos de poluição detectada por eles no ambiente costeiro,

geralmente as opções mais comuns nas duas praias eram: presença de esgotos a céu aberto, escorrendo

em direção ao mar; a grande quantidade de lixo disposta na areia da praia e da pós-praia, a poluição

sonora, oriunda dos bares e carros estacionados ao longo da praia e a poluição visual, dentre outros.

Indagou-se também aos entrevistados sobre o destino final do lixo produzido por eles

durante sua permanência na praia. De acordo com os dados obtidos (Gráfico 6), a maioria das

respostas demonstrou “atitudes ecologicamente corretas” dos freqüentadores, mas infelizmente ao

longo da orla tem-se uma grande quantidade de resíduos sólidos sobre as areias da praia, fato este

observado em conjunto com os entrevistados. A predominância de respostas ecologicamente corretas

(90%) pelas pessoas que escolheram a praia do Araçagi, deve-se certamente ao maior nível

educacional apresentado pelas mesmas, como já constatado nesta pesquisa.

Gráfico 6: Destino dos resíduos sólidos (lixo) dado pelos frequentadores Fonte: Dados da pesquisa

Ainda em relação à poluição foi questionado quem os freqüentadores “culpavam” por esta

situação. Foram-lhes sugeridas as seguintes opções: o governo, os navios e indústrias, os

freqüentadores e/ou os comerciantes. Foi verificado que tanto no Olho D’Água, quanto no Araçagi, os

freqüentadores eram os maiores responsabilizados, principalmente por deixarem lixo na orla. Em

seguida o governo, pois segundo eles o mesmo não garantia infra-estrutura, limpeza e saneamento

adequado nestes ambientes litorâneos (Gráfico 7). Devido à presença de lixo próximo aos bares os

comerciantes também foram considerados responsáveis pela poluição na franja costeira em estudo.

Gráfico 7: Os responsabilizados pela poluiçao das praias segundo frequentadores Fonte: Dados da pesquisa

A poluição de modo geral também foi citada ao ser questionado sobre a ocorrência dos

principais problemas ambientais existentes nas praias estudadas. Mas além dela, foram citados outros,

demonstrando um certo entendimento dos freqüentadores no que se refere aos diversos problemas

socioambientais existentes nestas praias, tais como:

“Olha... o principal problema é o lixo... eles vão jogando pro mato... é na

areia...” (José Roberto, 40 anos. Araçagi)

“Hoje existe o risco de vazamento de óleo. E nós não estamos preparados para

um desastre ambiental de óleo... é um grande risco!” (Luís Guterres, 42 anos. Araçagi)

“a falta de conscientização dos freqüentadores”(José de Fátima, 55anos. Olho

D’Água)

“Não há segurança... os salva vidas não salvam ninguém... eles tão é tudo

gordo”(Edimilson, 42 anos.Olho D’Água)

“É muita poluição... mal organizada... o atendimento é péssimo...” (MACIA,

34anos. Olho D’Água)

“falta higiene e saneamento básico...” (Fabiane, 24 anos. Araçagi)

“hum!..falta lixeiras e banheiros adequados...”(Sonia, 36 anos. Araçagi)

“... a presença dos carros... agente não pode nem ficar em paz... é toda hora

passando... as crianças não podem nem brincar...”(Maria 30 anos. Olho D’Água)

Como visto, os entrevistados discorreram sobre diferentes problemas ambientais (Figuras 4

e 5 ) que eles observavam nestas praias. Relataram com certa indignação a ausência de políticas

publicas voltada para a melhoria e conservação destes ambientes, que além de servirem como espaço

público, destinados ao lazer de uma grande parte da sociedade, eles também constituem local de

trabalho, com geração de renda para uma significativa parcela da população. Um relato de indignação

neste sentido foi externado por Claudio Alberto (31 anos. Olho D’Água) quando disse: “Estes políticos

ai... que estão querendo agora se eleger... Deveriam olhar mais pra cá... resolver esses problemas

daqui...”.

Figura 4: Esgoto e lixo na entrada do Olho D’Água Fonte: Dados da pesquisa

Figura 5: Presença de carros, barracas e banhistas na praia do Araçagi Fonte: Dados da pesquisa

Foi questionada ainda a opinião das pessoas sobre o que poderia ser feito para minimizar ou

resolver os problemas ambientais destas praias. As inúmeras respostas dadas estavam relacionadas a

sensibilização e/ou conscientização dos freqüentadores e comerciantes, bem como a uma melhor

atuação governamental através de uma melhor administração do espaço geográfico e conservação dos

recursos naturais. Dentre outras opiniões relatadas pelos entrevistados, têm-se as seguintes:

“Acho que em primeiro lugar... tinha que ter conscientização dos

freqüentadores... E o governo deveria investir na infra-estrutura com lixeiras, banheiros,

parques...”(Autair, 50 anos. Araçagi)

“Tem que ser feito muita coisa... Organização, tem que ter muita! ... tem que ser

limpa... a gente vem se divertir e sai daqui é quase doente... de tanta coisinha...”(Síria, 28 anos.

Olho D’Água)

“tem que começar desde as barracas... com barracas apropriadas e mais longe da

praia, para não atrapalhar os banhistas...”(José, 40 anos. Olho D’Água)

“Deveria ter um projeto urbanístico... mais infra-estrutura...” (José de Fátima, 55

anos. Olho D’Água)

“os veículos teria que ter um local reservado só pra eles... um estacionamento...

tinha que ser proibido aqui...” (Fernandes, 47 anos. Olho D’Água)

“tratamento de esgoto... A prefeitura tinha que botar pessoas para cuidar da

limpeza...” (Werton, 29 anos. Olho D’Água)

“Educação!!! Tem que educar as pessoas... A responsabilidade não é so do

governo não... Mas ela é de todos nós!”(Luís Guterres, 42 anos. Araçagi)

Como sugerido pelos próprios freqüentadores, as praias do Olho D’Água e do Araçagi,

necessitam de uma ampla estruturação tanto sanitária como urbanística, tendo em vista a conservação

destes ambientes, além de uma ampla conscientização dos próprios freqüentadores para melhorar a

qualidade destas praias a todos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso e ocupação nas praias em estudo caracterizam impactos ambientais tanto perceptíveis

aos freqüentadores como não perceptíveis aos mesmos. A poluição das águas do mar condicionadas

por um precário saneamento básico, a contaminação das areias alegadas pelos freqüentadores, pela

presença de animais ainda que domésticos, proporcionam um risco a saúde principalmente das

crianças. Além destes, a significativa presença de veículos trafegando na praia (estirâncio), sem

nenhuma organização coloca em risco a vida dos freqüentadores, uma vez que a qualquer momento

pode ocorrer um acidente. Tais fatos,demonstram cabalmente a necessidade do disciplinamento do

trafego de veículos como também a ampliação das áreas destinadas a estacionamentos.

Os resíduos sólidos é outro grande problema, pois ficou evidenciando a falta de lixeiras

e/ou locais destinados a disposição dos resíduos sólidos nas duas praias, assim como a falta de zelo dos

freqüentadores em relação ao ambiente de lazer, fazendo-se necessário de um programa contínuo de

educação ambiental nas praias durante os finais de semana e feriados.

A orla marítima não dispõe de infra-estrutura adequada para atender os visitantes, uma vez

que faltam banheiros ecológicos, estacionamentos públicos, uma melhor organização e higiene de

algumas barracas de praia, maior fiscalização da Vigilância Sanitária (aspectos sanitários) e do

Ministério Público Estadual (poluição sonora ocasionada por veículos e bares). A falta de solução para

os referidos problemas faz com que, principalmente a capital do estado, deixe uma péssima impressão,

tanto aos turistas, quanto aos próprios habitantes de São Luís e Paço do Lumiar, ocasionando assim,

um desprestigio total pelas praias em alusão. Diante do exposto, faz-se necessário o desenvolvimento

de programas e/ou atividades de educação ambiental visando à sensibilização não apenas dos

freqüentadores das praias estudadas, mais sim dos habitantes da ilha sem discriminar os quatro

municípios que esta contém, pois os lugares estudados estão situados na Microrregião do Aglomerado

Urbano de São Luis, não esquecendo também os turistas que anualmente vem em busca de um

ambiente sadio e agradável. Ainda nesta perspectiva é necessário que o poder público crie medidas de

intervenção em prol da revitalização ambiental, pois é importante salientar que, para além das dunas

interiores, já não existem formações vegetais de restinga. Na maior parte da área, observa-se a

presença de edificações ou conjuntos residenciais. Dessa maneira, mesmos sobre as dunas, a vegetação

de restinga encontra-se quase que totalmente descaracterizada em vários locais, em virtude da

construção inadequada de barracas, bares e edificações residências.

Em síntese, ao termino do trabalho propõe-se que o poder público e a sociedade organizada

unam-se em defesa da manutenção da qualidade sócio-ambiental das praias da ilha, pois se tomando

como base as franjas costeiras do Olho D’Água e Araçagi, percebe-se que, mesmo existindo diferenças

fisiográficas entre as mesmas, os problemas ambientais recorrentes são em sua maioria os mesmos,

demonstrando a sociedade que a degradação ambiental não é simplesmente proveniente da fragilidade

natural dos diferentes elementos que compõem a paisagem, mais também da má utilização do espaço

pelo homem.

REFERÊNCIAS

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