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PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA POPULAÇÃO DA VILA BEM QUERER ACERCA DO RIO VERRUGA, VITÓRIA DA CONQUISTA - BAHIA

Siléia Oliveira Guimarães¹, Alcides Pereira Santos Neto¹, Alessandro de Paula²¹Discente de Engenharia Florestal da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Estrada do Bem Querer, Km 4 - Caixa Postal 95, Vitória da Conquista, Bahia,

Brasil ([email protected])²Engenheiro florestal, Dr. em Ecologia e Recursos Naturais, docente da

Universidade Estadual do Sudoeste da BahiaData de recebimento: 02/05/2011 - Data de aprovação: 31/05/2011

RESUMOA percepção dos mais diversos segmentos da sociedade a respeito dos recursos naturais que os cercam é premissa básica para a conservação e recuperação de bacias hidrográficas. Através do contato direto com a comunidade é possível identificar os problemas ambientais que mais afetam a qualidade de vida na localidade. Nesse contexto, o objetivo desse trabalho foi analisar a percepção ambiental dos moradores da Vila Bem Querer, localizada no município de Vitória da Conquista – BA, frente a condição em que se encontra o Rio Verruga. A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação de questionário com perguntas direcionadas à caracterização dos aspectos socioambientais da localidade e ao conhecimento do entrevistado sobre o estado de degradação em que se encontra o rio. Foram entrevistados 100 residentes da vila, perfazendo aproximadamente 25% da população. A faixa etária com maior representatividade entre os moradores entrevistados foi de 26 e 31 anos, equivalendo a 22%. Ao serem questionados sobre o tempo que residem na vila, verificou-se uma variação entre quatro meses e 62 anos, com média de 14,6 anos. Observou-se que 40% dos entrevistados afirmam possuir vínculo com a UESB, sendo que 24% estudam e 16% trabalham. Segundo os moradores, o processo de deterioração do Rio Verruga intensificou-se há aproximadamente 10 anos. Ao serem questionados sobre quais eram as características do rio quando haviam chegado à Vila, aqueles que residem na localidade há mais de uma década, afirmam que o afluente era mais limpo. Assim sendo, fica evidente a necessidade de uma intervenção na comunidade estudada, começando com ações que visem na construção de uma consciência ambiental em todos os residentes. PALAVRAS-CHAVE: Visão Ambiental, qualidade socioambiental

PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA POPULAÇÃO DA VILA BEM QUERER ACERCA DO RIO VERRUGA, VITÓRIA DA CONQUISTA - BAHIA

ABSTRACTThe perception of different segments of society about the natural resources that surround them is a basic premise for the conservation and restoration of watersheds. Through direct contact with the community can identify environmental problems that most affect the quality of life in the locality. In this context, the objective of this study was to analyze the environmental perception of the residents of the Village Bem Querer, located in Vitória da Conquista - BA, compared the condition it is in the River

ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 1

Mole. Data collection was performed by applying a questionnaire with questions directed to the characterization of social and environmental aspects of the locality and the respondent's knowledge about the state of degradation into which the river is. We interviewed 100 village residents, making up approximately 25% of the population. It appears that the age group with the largest representation among the residents surveyed are between 26 and 31 years, equivalent to 22%. When asked about the time residing in the village, it was found varying from four months to 62 years, mean 14.6 years. Besides employing some residents of the Village, the UESB has colleges for basic education and various college courses. It was noted that among the respondents, 40% claim to have ties with the UESB, with 24% study and 16% work. According to respondents, the process of deterioration of the River Mole intensified about 10 years ago. When asked about what were the characteristics of the river when they had reached the village, those who reside in the locality for more than a decade say the tributary was cleaner. Thus, there is an evident need for a change in the community studied, beginning with actions aimed at building environmental awareness in all residents. KEYWORDS: Vision Environmental, Social and Environmental Quality.

INTRODUÇÃO

Percepção ambiental pode ser definida como sendo uma tomada de consciência do ambiente pelo homem, ou seja, o ato de perceber o ambiente que se está inserido, aprendendo a proteger e a cuidar do mesmo (FERNANDES et al., 2003).

Segundo GALO (2003) a percepção ambiental surge como um campo de pesquisa interdisciplinar em que são integrados elementos da Psicologia (sensorial, da percepção e social), da Geografia, da Biologia, da Arquitetura e áreas afins, cujo objetivo principal é a busca do entendimento dos fatores, dos mecanismos e dos processos atuantes sobre a percepção e o comportamento humano, focalizando sua relação com o meio ambiente.

As pesquisas realizadas que enfocam a percepção, constituem-se em importante subsídio para projetos que visam à conservação ou à revitalização de áreas significativas para a qualidade de vida dos habitantes das áreas urbanas, locais onde predominam sua aplicação.

Nesse contexto, as expectativas da população sobre o que deve ser feito com o local onde vive têm despertado maior atenção e consideração dos planejadores. Essas expectativas são fundamentais no processo de levantamento de questões relevantes para a elaboração de propostas de intervenção, pois derivam da maneira como a população percebe e se relaciona com determinada área.

Nos processos de planejamento, estudos de percepção ambiental são fundamentais porque permitem conhecer as particularidades de cada relação sociedade/indivíduo e do meio ambiente (SILVA et al., 2005). Cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente às ações sobre o ambiente em que vive. As respostas ou manifestações daí decorrentes são resultado das percepções (individuais e coletivas), dos processos cognitivos, julgamentos e expectativas de cada pessoa. De acordo com PREZOTTO & CAVALHEIRO (2004) toda participação direta, indireta obtida por meio das análises da percepção é valiosa, permitindo que


o pesquisador entenda os anseios e as carências das populações pesquisadas.Diante de vários distúrbios ambientais ocorridos na atualidade, o Rio Verruga

passa por graves processos de deterioração. SANTOS et al. (2008) relatam que o histórico de degradação deste rio é bastante extenso. Sabe-se que desde o ano de 1780 havia na região de suas nascentes aglomerados humanos. Estes se desenvolveram lentamente devido ao comércio do algodão e a passagem de boiadas originadas do interior em direção a capital, tendo o município de Vitória da Conquista como ponto de passagem. Assim, o crescimento urbano acompanhou o leito do rio Verruga, sendo possível, desta forma, avaliar os inúmeros problemas gerados ao meio ambiente.

Nesse contexto, estudos de percepção ambiental são vistos como auxiliares em projetos envolvendo educação ambiental ou revitalização de áreas degradadas, permitido a participação popular por meio dos resultados obtidos. Compreendendo os modos de vida das pessoas diretamente relacionadas ao ambiente, será possível conhecer as necessidades da comunidade e promover as intervenções julgadas indispensáveis.

Com base nessas considerações, o objetivo desta pesquisa foi identificar a percepção da população da Vila Bem Querer acerca do Rio Verruga, permitindo, assim, mensurar o conhecimento que essas pessoas têm do Rio, como perspectiva de contribuir com informações que possam subsidiar o planejamento e a gestão ambiental.

METODOLOGIAÁrea de estudo

A Vila Bem Querer (Figura 1) situa-se na periferia do município de Vitória da Conquista, nas proximidades da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Apesar de inserida no perímetro urbano, esta vila tem características de ambiente rural, com pequenas propriedades agrícolas, as quais possuem plantios de subsistência e até pequenos cultivos comerciais de hortaliças e frutas. Há na vila aproximadamente 400 habitantes.

FIGURA 1 – Imagem de satélite da Vila Bem Querer – Vitória da Conquista – 2010. Fonte: www.googleearth.com.br acesso em 12/08/2010.

A Vila Bem Querer localiza-se às margens do Rio Verruga, sendo que o próprio estabelecimento da comunidade deu-se devido a sua presença. Este rio representa


http://www.googleearth.com.br/

um importante afluente do Rio Pardo e o curso de suas águas tem como limites a região correspondente em maior parte ao município de Vitória da Conquista e o restante no município de Itambé, representando uma área total de 970,32 km² (SANTOS et. al., 2008).

Coleta de DadosPara coleta de dados utilizou-se a aplicação aleatória e direta de questionários (Fi-gura 2), compostos por 17 perguntas estruturadas de forma a caracterizar os aspec-tos socioambientais da localidade (questões 1 a 7) e a visão dos moradores acerca das problemáticas associadas ao Rio Verruga (questões 8 a 17). Foram entrevista-dos 100 residentes da vila, perfazendo aproximadamente 25% da população. Os en-trevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, permitindo a coleta de dados e o uso de suas informações.

FIGURA 2 - Questionário aplicado aos moradores da Vila Bem Querer


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização Socioambiental da LocalidadeDe acordo com os dados obtidos, percebe-se um equilíbrio quanto ao número

de homens e mulheres abordados, com 54% e 46%, respectivamente. Verifica-se que a faixa etária com maior representatividade entre os moradores entrevistados está entre 26 e 31 anos, equivalendo a 22% (Figura 3). Ao serem questionados sobre o tempo que residem na vila, constatou-se uma variação entre quatro meses e 62 anos, com média de 14,6 anos.

FIGURA 3 – Faixa etária dos moradores entrevistados da vila Bem Querer.

Quando analisada a quantidade de pessoas por residência, verificou-se que apenas 4% moram sozinhos, enquanto 12% possuem dois ou três moradores, 47% com quatro ou cinco, 29% seis ou sete e 8% acima de oito moradores.

Em relação a escolaridade (Figura 4), observa-se que 57% dos entrevistados possuem ensino fundamental incompleto.

FIGURA 4 – Escolaridade dos moradores da Vila Bem Querer.

A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), localizada há


aproximadamente dois quilômetros de distância da Vila Bem Querer, assume papel fundamental para o desenvolvimento da comunidade. Além de empregar alguns moradores da Vila, a UESB dispõe de colégios para o ensino básico e diversos cursos universitários. Notou-se que entre os entrevistados, 40% afirmam possuir vínculo com a UESB, sendo que 24% estudam e 16% trabalham.

De acordo com o funcionário responsável pela coleta de lixo, esta é realizada de segunda à sexta-fera. Apesar de 97% dos entrevistados afirmarem que há coleta de lixo na Vila, nota-se que a maioria (64%) desconhece a frequência com que esta ocorre. Mesmo existindo um espaço destinado ao armazenamento dos resíduos descartados, nota-se a presença de lixo doméstico espalhados em locais inadequa-dos. Segundo LIMA (2008), no que se refere ao comportamento de descarte do lixo produzido pelos consumidores, este é um dos importantes fatores que gera impactos evidentes no meio-ambiente. Descartar o lixo adequadamente pode ser um primeiro elo para o comportamento de reciclar (GELLER et al., 1973), além de evitar a polui-ção. Nesse contexto, percebe-se a necessidade de conscientizar os moradores acerca dos riscos que o lixo acumulado pode ocasionar.

Pela sua proximidade, a UESB além de empregar considerável número de mo-radores, pode assumir um papel fundamental no desenvolvimento de ações socio-ambientais direcionadas à vila. Através de suas diversas áreas de formação, pode vir a desenvolver projetos desde a área ambiental até mesmo a de saúde.

Visão dos moradores acerca do Rio VerrugaSegundo os entrevistados, o processo de deterioração do Rio Verruga

intensificou-se há aproximadamente 10 anos. Ao serem questionados sobre quais eram as características do rio quando haviam chegado à Vila, aqueles que residem na localidade há mais de uma década afirmam que o afluente era mais limpo. Suas águas eram utilizadas tanto para o abastecimento da população, pesca e até mesmo para a recreação. Havia ainda maiores fragmentos de mata nativa margeando o Rio, além de uma maior diversidade de peixes. De acordo com MAIA (2005), a presença de residências próximas aos mananciais, além de gerar elementos poluentes às águas do rio, como a construção de cisternas em locais impróprios, pode ocasionar uma interferência na dinâmica natural do curso d’água.

Com o passar dos anos, nota-se um crescente processo de degradação desta microbacia, inviabilizando o uso da água para a comunidade. Corrobora com este quadro o fato de 100% dos entrevistados afirmarem não fazerem uso direto das águas do rio. Ao serem questionados sobre os tipos de resíduos encontrados nos rios, citou-se uma enorme variedade de lixo, como sacolas plásticas, esgoto doméstico, pneus, animais mortos, móveis e inclusive, lixo hospitalar. É sabido que a qualidade ambiental está estreitamente atrelada à saúde das pessoas ali inseridas, assim sendo, promover a revitalização da microbacia contribuiria para uma maior qualidade de vida.

Quando questionados sobre os anseios acerca do futuro do rio, 70% dos habitantes desejam que o rio fosse restaurado, constatando a sua importância para eles. Enquanto o restante gostaria que o curso do afluente fosse desviado da vila, por conta do atual estágio de poluição das águas, que causa vários incômodos à população.

A porcentagem de pessoas que contribuem para melhorar o estado de poluição do rio corresponde a 73 %, enquanto 12% dizem não contribuir e 15% não


contribuem, mas gostariam de contribuir. Apesar desse dado revelar uma parcela significante de indivíduos atuantes na conservação do afluente, constatou-se que para 82% dos entrevistados a comunidade contribui para o processo de degradação do rio, revelando um cenário paradoxal. Segundo PREZOTTO & CAVALHEIRO (2004), o comportamento humano diante das questões que envolvem o ambiente natural, muitas vezes é caracterizado pela total falta de compreensão dos agentes causadores dos problemas em relação ao meio onde vivem, independente de suas condições sociais.

Apesar da presença do rio ter sido determinante para a formação da Vila Bem Querer, constata-se uma considerável falta de conhecimento acerca dos aspectos históricos e geográficos do Rio Verruga. Diante disso, a pesquisa revelou que 46% dos entrevistados desconhecem que o Rio Verruga nasce no Parque Municipal do Poço Escuro. Há uma inversão dos valores no que diz respeito ao local onde o rio deságua, sendo que 54% dizem não conhecer que o afluente deságua no rio Pardo.

Quando questionados sobre a existência de projetos envolvendo o Rio Verruga, 61% da população não conhecem, sendo que os 39% restantes estão cientes apenas que haverá a transferência da estação de tratamento de esgoto para as proximidades da vila, o que de algum modo para eles beneficiará o rio. Além disso, 61% em momento algum presenciaram a ação de órgãos ambientais fiscalizando a área. Estes dados evidenciam a necessidade de intervenções do poder público no sentido de revitalizar o afluente.

Ao realizar um diagnóstico ambiental desta microbacia, SANTOS et al. (2008) relatam não existir uma conscientização quanto a importância da presença do rio. Assim sendo, fica evidente a necessidade de uma mudança na comunidade estuda-da, começando com ações que visem a construção de uma consciência ambiental em todos os residentes. A educação ambiental tendo conhecimento dos valores e ações que os sujeitos possuem frente ao meio ambiente será capaz de elaborar pro-postas que venham a atingir grande parte da sociedade, visando provocar mudan-ças mais efetivas que contribuam para a sustentabilidade socioambiental.

CONCLUSÃOO presente estudo da percepção ambiental do Rio Verruga é de fundamental

importância para uma melhor compreensão das inter-relações entre o homem e o ambiente, suas expectativas, anseios, satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas. Desta forma, as informações a respeito do comportamento dos moradores da Vila Bem Querer evidenciam a necessidade de uma intervenção que seja capaz de ampliar a visão quanto à preservação dos recursos naturais e promover uma mudança na qualidade socioambiental.

Saber como os indivíduos percebem o ambiente em que vivem, suas fontes de satisfação e insatisfação é de fundamental importância, pois assim será possível a realização de um trabalho com bases locais, partindo da realidade do público alvo.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASFERNANDES, R. S. 2006. Avaliação do perfil de cidadania ambiental de estudantes do ensino médio técnico do CEFET–RJ. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, Rio Grande do Sul, v. 17, p. 195-213, jul/dez.

GALO JÚNIOR, H.; CAVALHEIRO, F. ; OLIVATO, D. A percepção ambiental como subsídio ao planejamento da paisagem. Estudo de caso: município de Campos do Jordão, SP. In: SANTOS, J. E. dos; CAVALHEIRO, F.; PIRES, J. S. R.; OLIVEIRA, C. H.; PIRES, A.M. Z. C. R. (orgs.) Faces da polissemia da paisagem: ecologia, pla-nejamento e percepção. v.2. São Carlos: RIMA, 2004. p. 781 - 803.

GELLER, E. S.; FARRIS, J. C.; POST, D. S.1973. Promoting a consumer behavior for pollution control. Journal of Applied Behavior Analysis, 6, 367-376.

MAIA, M. R. 2005. Zoneamento geoambiental do município de Vitória da Conquista - BA: um subsídio ao planejamento. 169f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal da Bahia, Salvador.

PREZOTTO, A.; CAVALHEIRO,F. Percepção ambiental da Serra do Japi (Jundiaí, SP). In: SANTOS, E. José.; CAVALHEIRO. F.; PIRES, J. S. R.; OLIVEIRA, C.H.; PIRES,A. M.Z.C. (orgs). Faces da Polissemia da paisagem: ecologia, planejamento e percepção. v.2. São Carlos: RIMA, 2004. p.823-840.

SANTOS, F. S. et al. Diagnóstico Ambiental e Plano de Manejo da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga. Instituto Construir e Conhecer. Enciclopédia Biosfera. Goiânia, n.05, p. 1-9, 2008.

SILVA, MEDEIROS.R.; GOMES, L. V.; GEDEON, A.D.; DUARTE, M. R.C. 2005. Percepção Ambiental do Rio Itapecuru, nas Cidades de Pirapemas, Cantanhêde, Itapecuru Mirim, Bacabeira, Santa Rita E Rosário. 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Anais.9 p.


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