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Nota do Comitê Central Para que o PCB disputa eleições? O PCB desenvolve uma linha política revolu- cionária, e acha que nas eleições deve ocorrer um debate profundo sobre a vida dos trabalha- dores nas cidades e no campo, que não está des- colada da situação do país e do mundo. Os candidatos do PCB não participam das elei- ções apenas para tentar ganhá-las, mas para fa- zer com que este debate exista, avançando a luta dos trabalhadores e a organização dos mo- vimentos sociais. O momento exige uma reflexão sobre a neces- sidade de uma mudança radical no “desenvol- vimento” das cidades. Este deve existir a partir das necessidades dos trabalhadores e das cama- das populares, maiores vítimas da exploração e do caos urbano gerado pelo capitalismo. Afinal de contas, sentimos na pele a queda da qualida- de de vida pelo aumento da violência e das do- enças, pela desigualdade de acesso à educação, ao conhecimento e à cultura, pela destruição do meio ambiente. O PCB se recusa a fazer parte do jogo sujo que transforma os partidos políticos em meros fan- toches de grandes grupos econômicos que não se importam com os trabalhadores. Não usamos as eleições para fazer falsas promessas e enga- nar o povo. Afinal de contas, o trabalhador vai sendo alijado dos fóruns de decisão e cada vez mais se tornando massa de manobra em favor dos interesses dos poderosos. Não achamos que “é feio” perder eleições. En- tendemos exatamente o contrário; feio é ganhar eleições através da compra de votos, de falsas promessas, de políticas inconsistentes que transformam tudo em jogo eleitoral e afastam a participação popular após o pleito, que trata o eleitor como “consumidor” de candidatos trans- formados em “mercadoria” pelo marketing e as conveniências do momento. PerCeBer Partido Comunista Brasileiro www.pcb.org.br N° 271 – 09.08.2012 Pode parecer difícil entender por que o Parti- do Comunista Brasileiro (PCB) disputa as eleições com poucos candidatos, em chapa própria ou em algumas coligações com pouca densidade eleitoral, reduzindo nossas chances de vitória. É porque o povo é levado a pensar que a “po- lítica” se reduz às disputas eleitorais e acon- tece apenas de quatro em quatro anos, ou de dois em dois, já que eleições nos municípios não coincidem com as estaduais ou federais. A mídia faz com que as eleições se transfor- mem num “show”, escondendo o debate sobre os problemas reais vividos pela população. Nós do PCB não somos um partido eleitorei- ro; não queremos crescer a partir de alianças e/ou acordos oportunistas, incompatíveis com nossas ideias e convicções. Por isso, a história das lutas dos trabalhadores brasileiros não pode ser contada sem que se fale no PCB. São 90 anos de vida ativa e coerente em defesa da classe trabalhadora.

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Nota do Comitê Central

Para que o PCB disputa eleições?

O PCB desenvolve uma linha política revolu-cionária, e acha que nas eleições deve ocorrer um debate profundo sobre a vida dos trabalha-dores nas cidades e no campo, que não está des-colada da situação do país e do mundo. Os candidatos do PCB não participam das elei-ções apenas para tentar ganhá-las, mas para fa-zer com que este debate exista, avançando a luta dos trabalhadores e a organização dos mo-vimentos sociais. O momento exige uma reflexão sobre a neces-sidade de uma mudança radical no “desenvol-vimento” das cidades. Este deve existir a partir das necessidades dos trabalhadores e das cama-das populares, maiores vítimas da exploração e do caos urbano gerado pelo capitalismo. Afinal de contas, sentimos na pele a queda da qualida-de de vida pelo aumento da violência e das do-enças, pela desigualdade de acesso à educação, ao conhecimento e à cultura, pela destruição do meio ambiente. O PCB se recusa a fazer parte do jogo sujo que transforma os partidos políticos em meros fan-toches de grandes grupos econômicos que não se importam com os trabalhadores. Não usamos as eleições para fazer falsas promessas e enga-nar o povo. Afinal de contas, o trabalhador vai sendo alijado dos fóruns de decisão e cada vez

mais se tornando massa de manobra em favor dos interesses dos poderosos. Não achamos que “é feio” perder eleições. En-tendemos exatamente o contrário; feio é ganhar eleições através da compra de votos, de falsas promessas, de políticas inconsistentes que transformam tudo em jogo eleitoral e afastam a participação popular após o pleito, que trata o eleitor como “consumidor” de candidatos trans-formados em “mercadoria” pelo marketing e as conveniências do momento.

PerCeBer Partido Comunista Brasileiro www.pcb.org.br N° 271 – 09.08.2012

Pode parecer difícil entender por que o Parti-

do Comunista Brasileiro (PCB) disputa as eleições com poucos candidatos, em chapa própria ou em algumas coligações com pouca densidade eleitoral, reduzindo nossas chances de vitória. É porque o povo é levado a pensar que a “po-lítica” se reduz às disputas eleitorais e acon-tece apenas de quatro em quatro anos, ou de dois em dois, já que eleições nos municípios não coincidem com as estaduais ou federais. A mídia faz com que as eleições se transfor-mem num “show”, escondendo o debate sobre os problemas reais vividos pela população. Nós do PCB não somos um partido eleitorei-ro; não queremos crescer a partir de alianças e/ou acordos oportunistas, incompatíveis com nossas ideias e convicções. Por isso, a história das lutas dos trabalhadores brasileiros não pode ser contada sem que se fale no PCB. São 90 anos de vida ativa e coerente em defesa da classe trabalhadora.

Nessas eleições, em todas as cidades em que tiver candidatos, o PCB falará uma só lingua-gem, pois tem um como princípio o compro-misso com os trabalhadores. Queremos sim ele-ger alguns dos nossos candidatos, para que os comunistas transformem seus mandatos em ins-trumento a serviço da denúncia política, da crí-tica ao capitalismo, da apresentação de propos-tas objetivas para os interesses da classe traba-lhadora e, principalmente, do apoio às lutas po-pulares e defesa de seus interesses.

Para o PCB, a política não se esgota no voto, não se limita à época das eleições. Os trabalha-dores devem fazer política o ano todo, organi-zando-se, lutando e debatendo tudo que lhes diz respeito como o orçamento público, a educação, a saúde, os transportes, a cultura, a assistência social, a reforma urbana e agrária, a preserva-ção ambiental. E principalmente uma nova so-ciedade, sem explorados nem exploradores. Para podermos construir o verdadeiro Poder Popular, só com muita luta e organização todos os dias, não apenas no calendário eleitoral. Convidamos você a fazer parte desse projeto, não apenas através de seu voto consciente no PCB mas principalmente de sua participação nos movimentos sociais e políticos populares organizados. Construa ao nosso lado a nova ordem socialista! Só a luta muda a vida! PCB – Partido Comunista Brasileiro

Desinformação é deliberadamente plantada por gestores incompetentes e suspeitos

Desde que foi instalado, o Disque Corrupção do Governo do Distrito Federal recebe uma denúncia de fraude a cada qua-tro dias envolvendo altos fun-cionários governamentais em relação a contratos públicos. É denúncia demais para não ser alvo de auditoria e é fumaça demais revelando que em al-gum lugar tem fogo. Em março de 2011, professo-res das universidades de Bos-ton e da Califórnia, nos EUA, publicaram o estudo “O espó-lio da vitória: Doações de campanha e contratos públicos no Brasil”, revelando que a doação para campanhas políti-cas era “um bom negócio”.

Para cada real doado a políti-cos do partido do governo (PT) em 2006, afirma esse estudo, as empreiteiras receberam 8,5 vezes o valor na forma de con-tratos de obras escolhidas por políticos do mesmo partido e incluídas nos orçamentos fede-ral e estadual, ao longo de 33 meses após as eleições. Semanalmente em Cascavel há notícias na imprensa sobre promessas não cumpridas, contratos estranhos, obras sus-peitas, cronogramas desrespei-tados e outros problemas de gestão. No entanto, sequer os vereadores recebem respostas para seus pedidos de informa-ção, a não ser evasivas e tergi-versações. A imprensa é trata-da como inimiga ao apenas informar fatos, sem editoriali-zar as denúncias com cobran-ças morais. Há uma teimosa insistência dos gestores públicos, quando acusados de tramar contratos prejudiciais à população, em tentar desqualificar os interlo-cutores: “Você está desinfor-mado”, diz o gestor, quando encontra dificuldades para dar uma resposta honesta e respei-tosa à população.

Essa desinformação realmente existe: ela é tramada às escon-didas, da mesma forma que os contratos mais suspeitos. Quanto mais nebuloso é um contrato e mais chama a aten-ção dos cidadãos, da imprensa e do Ministério Público, mais insistentes e ofensivas são as declarações dos prefeitos e ex-secretários municipais, especi-almente os que concorrem a mandatos eletivos: eles não explicam nem informam – a-penas afirmam que a reação negativa a esses contratos vem de gente “desinformada”. A desinformação sobre as tra-mas palacianas feitas às es-condidas, com efeito, é muito grande. Em Apucarana, os ve-readores se estarreceram ao saber que a Prefeitura paga aluguel para usar salas do Terminal Rodoviário, que é do próprio Município. A Prefeitu-ra gasta mais de R$ 76 mil por ano alugando salas em um prédio que já é dela! O vereador Júnior da Femac, do PDT, afirmou: “Existe mui-ta desinformação em torno dos contratos públicos firmados”.

Apucarana é administrada pelo PMDB, mas Cascavel tem ges-tão do PDT e a população é igualmente desinformada a respeito de como, por que e em que termos os contratos desse tipo são firmados e renovados. Há, portanto, desinformação generalizada entre os cidadãos e até entre as lideranças muni-cipais, não só em Cascavel mas em muitos municípios. Por haver escassez de infor-mações e nenhuma transparên-cia real, os piores e mais lesi-vos contratos são tramados na calada da noite, como quem rouba. A população só recebe informações diluídas pela pro-paganda palaciana ou nos sí-tios oficiais.

O extremo da arrogância de tais gestores ocorre quando, em defesa apaixonada de tais contratos, alegam que se um governo popular tentar denun-ciá-los e derrubar esses arran-jos lesivos ao interesse públi-co, isso não vai dar em nada. Dizem que a administração pública será acionada por que-bra de contrato e com isso os prejuízos para os cofres públi-cos serão enormes. Confessam que plantaram uma bomba pa-ra estourar sobre as cabeças da população. O PCB, porém, afirma que uma auditoria em regra poderá verificar até que ponto os con-tratos são legítimos ou lesivos. Se forem legítimos, serão cumpridos, mas também não renovados, porque o transporte público e outros megacontratos da administração pública são sempre e invariavelmente liga-dos a denúncias de fraudes e corrupção.

Se a auditoria apresentar indí-cios de prejuízos à população, o Ministério Público encami-nhar a denúncia e a Justiça derrubar tais contratos, o Mu-nicípio ainda assim será preju-dicado com multas por quebra de contrato? É essa a informa-ção que precisamos para nos considerar bem informados! É dever do Poder Popular ao assumir a Prefeitura de Casca-vel verificar um a um cada ato do atual governo municipal, para legitimar os atos corretos e denunciar por todos os mei-os, ao público e à Justiça, a-queles que não se enquadrem nos princípios de legalidade, moralidade e boa gestão. É o que faremos, seja após a posse, seja no curso de nossa vida como cidadãos cascave-lenses. ** Nada deve parecer impossível de mudar!

Lavagem de dinheiro muda ao som das novas barreiras

Estrella Gutiérrez* Caracas, Venezuela, 6/8/2012 – Pokemon, por sua capacidade de mutação, cavalo de moder-nos cavaleiros do Apocalipse (drogas, corrupção, crime orga-nizado, terrorismo) ou fenôme-no de desordem social. Estas são definições dos especialistas reunidos na capital venezuelana para a lavagem de dinheiro, um crime de infinitos disfarces. “O

Estado é burocrático, lento e pesado, e este crime é tecnoló-gico, moderno e inovador”, a-firmou à IPS o advogado vene-zuelano Alejandro Rebolledo, organizador da VII Conferência Internacional Contra a Lava-gem de Dinheiro, Riscos e Fraudes, realizada no começo deste mês em Caracas. “O grande desafio deste crime é ser eminentemente transnacio-nal”, afirmou o argentino Raúl Saccani, responsável pelos ser-viços contra esse crime e pela investigação de fraudes na A-mérica Latina na firma mundial de auditoria KPMG, outro es-pecialista ouvido pela IPS du-rante a reunião. “A cada ano são lavados US$ 1,6 trilhão, equivalentes a 2,7% do produto interno bruto mundial”, desta-cou Rebolledo, diretor do site antilavadodedinero.com. Associações financeiras elevam esse valor a 3,6% do PIB glo-

bal, enquanto os órgãos multila-terais preferem falar de um arco entre 1,5% e 5%, pela ocultação do crime de legitimação de ca-pital de origem ilícita. O Fundo Monetário Internacio-nal o equipara a 40% da eco-nomia total latino-americana. Mediante a lavagem de dinheiro são colocados nos sistemas fi-nanceiro e comercial fundos de origem criminosa para que si-mulem proceder de atividades legítimas e possam circular e serem usados sem que a justiça os detecte. As categorias do que se consi-dera lavagem de capitais evolu-em constantemente. Em feve-reiro, o intergovernamental Grupo de Ação Financeira In-ternacional sobre Lavagem de Ativos (Gafi) inclui neste item a evasão fiscal, o contrabando e o uso de armas de destruição em massa.

A mexicana Fanny Galindez pontuou que “a lavagem de ca-pitais é um fenômeno que dá transparência a uma grande quantidade de crimes, que po-deriam ser chamados de produ-to criminal bruto”, e criticou que as regulações ainda se con-centrem no setor financeiro, sem tratar com o mesmo rigor outras “atividades vulneráveis”. São áreas tão díspares como joalheria, blindagem e compra e venda de veículos, negócios de empréstimos, arte, imóveis, tecnologia, comunicação ou entretenimento, entre outras dezenas. “Não é equitativo e gera fugas para que as células de criminalidade lavem. Todos devem ser igualmente regula-dos”, afirmou Galindez, direto-ra da consultoria mexicana Transactions. Talvez a comple-xidade do fenômeno explique as múltiplas denominações do crime de dar aparência legal ao dinheiro e aos ativos de origem ilegal: lavagem, branqueamento ou legitimação de fundos são as mais usadas, e nas jurisdições penais são usados termos como “crime de uso de recursos de procedência ilícita”. Algo parecido acontece com as definições. O diplomata vene-zuelano Julio Cesar Pineda dis-se que a lavagem se chama Po-kemon, por ser como os bone-cos desse videogame japonês, que mudam constantemente para não serem apanhados. A-crescentou que funcionários da Organização das Nações Uni-das (ONU) e de outras entida-des multilaterais consideram a lavagem de dinheiro como o cavalo que transporta os quatro modernos cavaleiros do Apoca-

lipse criminal: drogas, crime organizado, terrorismo e cor-rupção. Galindez lançou outra luz, ao qualificar o crime como “um fenômeno de desordem social, sociocultural e socioeconômi-co”, atrás do qual há “socieda-des alquebradas, setores da po-pulação que são deixados sem opinião, sem educação e sem recursos”. Desde 1989, quando o então Grupo dos Sete países mais ricos, agora transformado em Grupo dos Oito mais pode-rosos, criou o Gafi, a comuni-dade internacional tem regras concertadas de regulação e ação para um crime sem fronteiras. O Gafi apresentou 40 recomen-dações de cumprimento obriga-tório, que são revisadas perio-dicamente. Seus membros dire-tos são 35, mas somam mais de uma centena com grupos regio-nais associados, como o Gafi-sud (dos países sul-americanos mais o México) ou o Grupo de Ação Internacional Contra a Lavagem do Oeste da África. Rebolledo afirmou que, no caso americano, “os governantes propuseram este ano a criação de um Tribunal Penal Regional destinado a combater o crime organizado”. Em particular, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, propôs criar uma base de dados regional “para acompanhar o fluxo de dinheiro de supostos investido-res”. Para Rebolledo, a maior barrei-ra para o combate ao crime é a corrupção, porque impede a investigação, a perseguição e as condenações. “Quando há insti-tuições fracas a criminalidade encontra facilmente as fendas vulneráveis para penetrar”, opi-nou. O especialista citou o es-critor italiano Francesco Forgi-one, autor de Mafia Export, que garante que “pode existir políti-ca sem máfia, mas não máfia sem política”. Saccani, que ajudou a justiça argentina a investigar crimes

econômicos antes de trabalhar para a KPMG, entende que houve “um notável esforço” das políticas internacionais e das legislações para combater os crimes geradores de dinheiro ilegal. No entanto, “o espectro de crimes precedentes cresceu exponencialmente”, e vão mu-dando. Outro problema funda-mental é seu caráter transnacio-nal. “A lavagem faz um shopping de jurisdições, para ver por on-de é mais conveniente passar o dinheiro ilegal, porque, por quantas mais passar, mais difí-cil será para a justiça seguir a rota e a cadeia de evidências para conectar os fundos com o crime de origem”, ressaltou Saccani. Além disso, segundo ele, as leis não bastam. “É pre-ciso fazer com que a justiça a-tue” contra um tipo de crime de “muitos atores e grande com-plexidade probatória”. Para isso é preciso que os juízes “se atua-lizem e se capacitem” para en-frentar “criminosos que têm todos os recursos e estão muito bem assessorados”, enfatizou. Bismark Rodríguez, represen-tante do Panamá, onde é sócio para serviços de risco da audi-toria Deloitte, citou a comple-xidade de combater “um crime alavancado com enormes recur-sos e grande sofisticação tecno-lógica”. E acrescentou que “não é um papel ou uma empresa: é uma estrutura, uma tipologia, um esquema eletrônico, e é muito difícil enquadrá-lo dentro dos crimes tipificados”. A seu ver, há grandes avanços quanto a normas e seu acatamento pelo setor financeiro, com unidades de cumprimento cada vez mais capacitadas, “mas é preciso me-lhorar muito quanto ao seu en-quadramento, processo e sen-tença de casos particularmente suspeitos”. _________________ *Estrella Gutiérrez – Jornalista da IPS

Fanny Galindez

Nós apoiamos o Projeto Livrai-Nos!

Por que, diante de tão alto grau de analfabetismo funcional e-xistente na sociedade, não se estimula a prática da leitura nem há incentivo à escrita e à difusão de textos? Por que a lei que institu-iu o Dia Municipal da Leitura, definido como 30 de setembro, não é cumprida?

Na falta de respostas a essas perguntas brotou a ideia de criar um movimento social unindo autores de livros em torno da di-vulgação de seus textos. Surgiu assim o Projeto Livrai-Nos!, com o objetivo de reforçar a programação das bibliotecas e as atividades desenvolvidas pela Academia Cascavelense de Letras, Clube dos Escritores de Cascavel, Confraria dos Poetas e outras iniciativas particulares e oficiais com ênfase na leitura. http://livrai-noscascavel.blogspot.com.br/p/projeto-livrai-nos.html

O Grupo de Teatro Arquétipos está desenvolvendo um grande projeto de teatro popular e precisa muito do apoio dos cas-cavelenses acreditam no poten-cial da arte contra a ignorân-cia, o analfabetismo e a pro-moção social. Prestigie os espetáculos: leve as crianças para assistir e partici-pe dessa iniciativa sem prece-dentes: gente do povo fazendo teatro para o povo. Apoiamos “A Encruzilhada!”

Cidade, emprego, ambiente, juventude: por um programa revolucionário Nenhum direito a menos, só direitos a mais Ajude um desempregado: reduza a jornada de trabalho para 40 horas

Lembre-se: em Cascavel, nós somos a Revolução!

Este espaço está sempre aberto para artigos e manifestações da comunidade Na Internet, acompanhe o blog do PCB de Cascavel: http://pcbcascavel.wordpress.com

Veja também o blog da Juventude Comunista de Cascavel: http://ujc-cascavel.blogspot.com.br [email protected]

Twitter: PCB do Paraná: http://twitter.com/pcbparana Juventude Comunista de Cascavel: http://twitter.com/#!/j_comunista

A seguir, uma página cole-cionável de O Capital em quadrinhos e o boletim Frente Anticapitalista

Lições de Comunismo número 63

A cada edição do PerCeBer você terá uma nova página colecionável de O Capital em quadrinhos

Nadia, uma lutadora Sem uma classe trabalhadora em movimento e organizada pela base, não há mudança social

Por Gabriel Brito e Valéria Nader, jornalistas do Correio da Cidadania Ao longo da conversa, fica no-tória a visão de Nadia a respei-to da falta de compromisso do governo com a classe que diz representar, o que se vê clara-mente através das medidas pró-capital tomadas por Dilma, tal como pelo seu antecessor. É o caso da desoneração pa-tronal na contribuição para a previdência com vistas a in-centivar a indústria, o que, na visão da sindicalista, garante apenas a rotatividade e preca-rização do trabalho, além de manter intactas as taxas de lu-cros. Além disso, desacredita a no-meação de Brizola Neto para o Ministério do Trabalho, lem-brando que seu partido, o PDT, é dominado pela Força Sindi-cal, fazendo o mero jogo da “governabilidade”. No entanto, Nadia também destaca a con-siderável quantidade de greves recentes e um novo perfil da atual classe trabalhadora, mais instruída e interessada em rei-vindicar - porém, sob a contra-dição de não se identificar com seu estrato e encarar certos empregos de forma temporá-ria, como mera passagem na vida. Por conta deste complexo qua-dro, Nadia cobra maior inde-

pendência e articulação com as bases, além de defender mu-danças no próprio mundo sin-dical. “De repente, depois de negar a abolição do imposto sindical por anos, as mesmas correntes só falam em seu fim? Não! É liberdade sindical e também estabilidade, número de direto-res de acordo com a proporção da base e ainda a organização com categorias diferentes. Es-tou apostando mais do que vendo, mas creio na possibili-dade de efetiva ação conjunta de campo e cidade neste ou no próximo ano”. Correio da Cidadania: Como analisa as mobilizações que, de modo geral, marcaram o último 1º de maio dos traba-lhadores brasileiros? Em es-cala internacional, houve, a seu ver, movimentos destacá-veis, talvez interligados com os movimentos ‘ocupas’ sur-gidos no ano passado? Nadia Gebara: Primeiramente, os movimentos internacionais não necessariamente são mar-cados exatamente pelo 1º de maio. Temos uma situação nos povos árabes de luta por de-mocracia associada a questões do mundo do trabalho. É assim

no Egito, Tunísia, Bahrein, em vários lugares onde não é cor-reto dissociar essas duas con-dições. Nos países europeus, a luta dos trabalhadores que es-tão perdendo direitos – de Por-tugal, Espanha, França, Itália, Grécia – tem uma situação conjuntural mais ampla. O 1º de maio é um marco, mostra que não é uma sociedade indis-tinta que se manifesta, e sim a classe trabalhadora, em suas diversas formas e segmentos, inclusive com a participação dos trabalhadores desempre-gados. Aqui no Brasil, temos movi-mentações bem focadas na construção civil, nas grandes obras. O ano passado foi mar-cado por muitas greves, não necessariamente de categorias, a não ser dos trabalhadores de segurança pública. Muitas pa-ralisações, não exatamente greves maiores, têm ocorrido de dois anos pra cá. Apesar de não ser economista ou soció-loga, analiso que, enquanto tivermos grau de empregabili-dade como temos hoje, a luta por salários e condições de trabalho melhores chega até as greves, sua arma mais forte.

FrenteAnticapitalista N° 19 – 07.08.2012

Entrevistada: Nadia Gebara, sindicalista e militante das causas populares e operárias, hoje assessora do Sindicato dos Químicos Unificados de Campinas, Osasco e Vinhedo, e da Intersindical – a central que, ao lado da Conlutas, se descolou da política lulo-petista dos últimos anos

Até porque há algo que não vou chamar de nova classe o-perária, mas sim uma classe com um novo perfil, jovem. Nas fábricas, existe uma mo-çada de 20, 25, 30 anos, com uma escolaridade maior. Ao mesmo tempo, eles têm uma receptividade maior à luta por direitos, mais facilidade de se movimentar na vida, menos medo de perder o emprego, até porque em geral têm menos compromissos, do tipo filhos ou necessidades de saúde. Têm ainda uma disposição um pou-co maior. Mas há uma contra-dição, porque essas pessoas olham a passagem pelo traba-lho fabril como transitória. Não é como um mecânico, um ferramenteiro, um auxiliar de produção de 30 anos atrás, que lutavam pra garantir inclusive uma promoção dentro da fir-ma, se qualificar em outra li-nha de produção, manter o emprego, melhorar as condi-ções. A ideia atual é mais de “estou apenas passando por aqui”. De toda forma, isso dá ânimo, porque há uma renovação, a-pesar de ao mesmo tempo ha-ver uma grande falta de expe-riência nesse estrato da classe trabalhadora mais jovem. Correio da Cidadania: Apesar do pequeno destaque dado às lutas do mundo do trabalho nos anos recentes, estudo re-cente do Dieese contabilizou que, nos últimos quatro anos, ocorreram cerca de 900 gre-ves no país. Esse número teria a nos dizer algo sobre esta

conjuntura que você acaba de destacar? Nadia Gebara: Eu acho que realmente tem a ver com o que falei anteriormente, pelo me-nos é o que me leva a pensar esse número do Dieese. Existe uma entrada de jovens que vão se assalariando e têm menos medo de perder o emprego, pois não têm família pra criar ou pais que dependam demais deles. Há também essa maior escolaridade. Em alguns casos, temos grandes greves. Mas, em geral, muitas greves não significam muitos grevistas. Pode haver muitas greves com o mesmo número de grevistas que em um momento de pou-cas greves. Grandes greves com muitos grevistas só quan-do envolvem categorias, gene-ralizadas. Número grande de greves pode ser “pipoquinha”, uma fábrica aqui, um funcionalismo muni-cipal ali... Nesses estudos, se-ria bom levantar as duas coi-sas: o número de greves e o número de grevistas, pois aju-da a perceber se temos um movimento de “sufoco” ou se é algo que tende a uma organi-zação maior. Greves que en-volvem categorias inteiras cos-tumam ser mais organizadas. Ou quando têm alguma reivin-dicação comum, como no caso de Suape, Belo Monte, nas grandes obras que vêm sendo feitas; a reivindicação não é sequer por condições melho-res, mas apenas por dignidade, com salários que permitam sobrevivência. Há um dado comum e muito explosivo, por mais que haja agrupamentos tentando frear. Fora esses casos, só me lembro de greve generalizada com os bancários, até porque, se for greve relativa a salário, precisa ter escala nacional, porque os bancos têm estrutura nacional. Portanto, os elementos que fa-vorecem um maior número de greves e grevistas são uma classe trabalhadora mais jovem

em vários segmentos e uma relativa oferta de emprego. Quando houver refluxo nessa oferta, o problema tende a au-mentar. Correio da Cidadania: Sinal de que o momento ainda é muito defensivo, pois as rei-vindicações atuais passam apenas pela conservação de velhos direitos, lutas imedia-tas pelas urgências da vida, longe de discutir de forma mais profunda outras ques-tões. Nadia Gebara: Mas luta sindi-cal, luta massiva, sempre é e foi por condições de vida. O que mobilizou os trabalhadores na Revolução Russa foi “pão, terra e liberdade”. Não foi so-cialismo. Depois se trata de formar, conscientizar. Tenho medo de usar o termo “defen-sivo” porque pode ser argu-mento para não ousar na luta. Desde as iniciativas neolibe-rais, temos de nos defender, somos forçados, porque o ata-que é aos direitos já firmados em leis. Enquanto tiver capita-lismo, sempre haverá reivindi-cação por salário. Por mais que consiga aumentar, vem infla-ção, que come o salário, aí tem que lutar de novo... A exploração no capitalismo se dá através da parte não paga do trabalho. O problema não existe por ser uma luta por sa-lário ou melhores condições, isso haverá sempre, enquanto houver exploração de classe. O que nos força a nos defender é o ataque aos direitos garanti-dos em lei, como previdência, saúde, educação. Esses direitos estão sendo atacados, e signifi-cam uma luta muito mais ge-neralizada do que por empresa ou categoria. Não consegui-mos barrar a reforma previ-denciária do FHC e tampouco a do Lula. Nem o funcionalis-mo público do Lula, nem os trabalhadores das empresas privadas no tempo de FHC conseguiram barrá-las.

Correio da Cidadania: Junto disso, vemos que o número de greves consideradas ilegais tem crescido como nunca. O que pensa sobre o combate judicial aos movimentos gre-vistas, tanto por parte dos go-vernos como das empresas? Nadia Gebara: Estamos num Estado capitalista, que serve exatamente para assegurar as benesses da classe dominante. Falo dos chamados três pode-res e outros setores, como pro-paganda, igrejas... Por isso, tem aumentado a chamada criminalização, ou seja, os ata-ques aos movimentos que, mesmo na democracia burgue-sa, capitalista, são considera-dos ilegais, mas vão se tornan-do legais, por brechas e altera-ções nas próprias leis. Um grande exemplo disso é o mecanismo do interdito proibi-tório. Ele é um dispositivo a ser acionado quando uma pro-priedade se encontra ameaça-da. Quando há uma greve e os trabalhadores estão fora da empresa, que propriedade está ameaçada? O que justifica sua concessão por alguns juízes e por outros, não? O lucro está ameaçado? De quatro anos pra cá, come-çaram a ser concedidos tais interditos proibitórios em gre-ves. Trata-se de uma crimina-lização, pois algo que, pela lei, não é considerado crime passa a ter um precedente jurídico para ser considerado crime. E existem outros exemplos de criação de mecanismos para aumentar a repressão, para im-

pedir a organização e a luta do povo – e dos trabalhadores, em particular. Há muitos indícios, em especi-al no estado de São Paulo, de que isso seja mais pesado ain-da pelas mãos dos demotuca-nos, numa política repressiva explícita, institucionalizando a repressão, tal como se viu na Cracolândia, no Pinheirinho, na USP... Correio da Cidadania: Qual a sua opinião, no geral, sobre as centrais e movimentos sin-dicais atuantes hoje em nosso país? Nadia Gebara: A CUT, que fundamos há tantos anos, era uma central que, embora já tivesse – no final dos anos 80, começo dos 90 – sindicatos e correntes de opinião e política com visões de parceria com o capital, ainda trazia o debate, dentro da nossa expectativa de fazer uma central de luta dos trabalhadores o mais unida e forte possível. Foi a primeira central fundada, com agrupa-mentos que afirmavam que, enquanto não acabar a explo-ração de classe, todo o resto é maquiagem, enganação sobre os trabalhadores. Quando aca-bou a possibilidade de disputar projetos dentro da CUT, sem condição alguma de discussão, inclusive com perseguição e calúnias, estava em ação uma corrente governista, sem inde-pendência total de classe e com a parceira do capital. A CUT está nesse caminho, apesar de ter ainda companhei-ros combativos em alguns sin-dicatos, com quem faremos algumas lutas. No enfrenta-mento por salários, ainda é possível fazer algumas lutas com setores da CUT. Nesse nível. À direita, nada. A Força Sindical cumpre seu papel de sempre: estar a favor dos pa-trões e do governo. As outras talvez nem cumpram papel, são marionetes. Não há muito que dizer delas.

Correio da Cidadania: Quan-to à Conlutas e a Intersindi-cal, as duas mais descoladas do governo lulo-petista, com uma atuação mais à esquerda, como avalia os combates que vêm travando atualmente? Nadia Gebara: A Conlutas te-ve, e ainda tem, um papel de agregar em torno de si uma parcela grande do funciona-lismo, em especial o federal, o que contribui pra dinamizar a luta. Há um projeto socialista, de ruptura com o capital, o que impediu uma unificação de setores que fundaram e depois saíram da Conlutas, tal como o Sindicato dos Químicos de São José dos Campos e alguns de previdenciários. Infelizmente, trata-se de uma central que é uma correia de transmissão do PSTU. Isso não ajuda na busca por uma sociedade diferente e na discussão de projetos, fun-damental numa sociedade so-cialista. Tampouco ajuda o crescimento da vanguarda da classe trabalhadora. Ou seja, em vez de se formar mais gen-te, apenas se substitui a base, o que não é bom, não ajuda a pensar em conselhos de traba-lhadores que verdadeiramente assumam a democracia dos trabalhadores em suas mãos, a formar uma classe trabalhado-ra disposta a derrubar a bur-guesia. Essa concepção de luta aparece no primeiro momento como problema de método, mas implica numa concepção de sociedade socialista. Na Intersindical, tentamos algo diferente. Está em construção, ainda se formando, não pode oficialmente ser chamada de central. Só o é para quem par-ticipa. Existem várias catego-rias diferentes, sindicatos de várias regiões do Brasil. O que tem de apaixonante é a possi-bilidade de fazer a classe cres-cer, atentar para algo que seri-am esses conselhos de traba-lhadores que discutimos hoje em dia.

Em suma, organismos de base que se organizem para promo-ver mudanças. Esperamos que os companheiros que não estão na Intersindical, e nem mesmo venham a estar, compreendam que, sem uma grande parte da classe trabalhadora em movi-mento e organizada pela base, não há mudança social. Correio da Cidadania: O que pensa das discussões em torno do fim do imposto sindical? Nadia Gebara: Sou parte de uma geração que lutou muito pelo fim do imposto sindical, porque ele significa algo que permite que o sindicato exista sem que a própria categoria decida se deve existir. Sou a favor de sua abolição, claro. E me surpreendeu quando vi a CUT encabeçando a discussão, achei ótimo, se eles defendem isso, maravilha. Mas precisa ser mais radical. Não basta a-cabar com o imposto sindical. Precisa também de um critério claro sobre concessões de carta sindical, sobre o que é o sindi-cato, de modo que a categoria decida com a base. Liberdade sindical tem como um dos elementos o fim do imposto sindical, mas não o único. Isso porque, se nos fi-xarmos somente no fim do im-posto sindical, esquecemos de nos focar na garantia de repre-sentação, que não pode ser li-mitada a 7 diretores, ou 14 que seja. Quem tem que decidir o tamanho da diretoria de um sindicato é a própria categoria, a base, e não o judiciário ou o governo. Caso contrário, não há efetiva liberdade e autono-mia sindical. E não adianta a

categoria decidir o número de membros da direção do sindi-cato se apenas 7 (ou 14, na melhor das hipóteses) deles têm estabilidade enquanto re-presentante sindical. Assim, discutir imposto sindi-cal significa afirmar, ao lado do fim do imposto, a efetiva liberdade sindical. Isso nos marcos do próprio capitalismo, nos marcos burgueses. Signifi-ca direito de representação, estabilidade dos dirigentes e estatutos elaborados pela pró-pria base. O imposto sindical deve ser abolido, mas, do mesmo modo, deve ser abolido o limite de apenas 7 diretores efetivos e 7 suplentes com estabilidade. É impossível cobrir uma catego-ria com mais de 1000 traba-lhadores com tal número de diretores. Fragmenta mais ain-da a classe. Além da estabili-dade, deve-se permitir que os sindicatos não se organizem somente por categorias. Por que o sindicato não pode se organizar com duas categorias, numa determinada cidade? Dessa forma, temos uma inge-rência efetiva do Estado atra-vés do Ministério do Trabalho e do Judiciário, que julgaria tais questões, também no sen-tido de seu financiamento. De repente, depois de se negar a abolição do imposto sindical por anos, as mesmas correntes só falam em seu fim? Não! Precisamos ter liberdade sindi-cal na prática, com todos os seus elementos. Outro ponto interessante: fo-ram suspensas todas as cartas sindicais, ilegalmente, há cerca de dois meses, por medida in-terna do Ministério do Traba-lho. Nenhuma nova carta está sendo concedida, nenhum sin-dicato novo está sendo reco-nhecido. Até a chegada da car-ta, passa-se por um processo enorme, de um a dois anos. E

sindicatos que já passaram por tal processo estão tendo a car-ta, ou seja, sua legalização, negada. Desde o final de feve-reiro temos este cenário. Uma medida inconstitucional, que não aparece como Decreto ou MP, e sim como norma interna do Ministério do Trabalho. Correio da Cidadania: Mas por que essa negação? O que há por trás disso? Nadia Gebara: Por coincidên-cia, e deve ser só isso, o fato ocorreu logo depois da saída do Carlos Lupi do ministério. Essa norma interna foi assina-da por alguém ligado ao PDT. Algo muito interessante... Quem seria eu pra dizer que há relação, mas acho muito inte-ressante. Agora, com o novo ministro do Trabalho, quem sabe... Correio da Cidadania: Sendo assim, o que você achou da nomeação de Brizola Neto para o Ministério do Traba-lho, após cerca de seis meses de vacância no cargo? O que se pode esperar do novo mi-nistro? Nadia Gebara: Mais uma ren-dição da Dilma ao PDT e à pior ala deste partido. Não co-nheço muito do Brizola Neto, mas duvido que se possa espe-rar algo de novo, infelizmente, apesar de todas as dificuldades vividas pelo avô dele, muitas histórias complicadas, porém, um cara de briga. Agora não é assim, o PDT está se dobran-do, e a Dilma, com isso, voltou a garantir a Força Sindical no Ministério do Trabalho. Correio da Cidadania: Mas ele não poderia ter, até pela carcaça histórica, um maior comprometimento com a clas-se trabalhadora? Nadia Gebara: O Lupi não ti-nha nenhum, portanto, qual-quer coisa que o Brizola Neto faça será lucro. O Lupi foi um desastre.

Ex-ministro Lupi Não me parece ser possível esperar coisa melhor, pois o novo ministro estará refém do partido dele, por sua vez do-minado pela Força Sindical. Não me parece que terá liber-dade de ação. Não está sendo colocado lá porque o governo federal avaliou que ele tem méritos e compromissos com o trabalho, conhece o mundo e as relações do trabalho etc. Não é por isso! O determinante é a “governabilidade”, porque ele é do partido aliado. Correio da Cidadania: Houve nas últimas semanas o anún-cio de algumas medidas pelo governo, que impactam dire-tamente na questão trabalhis-ta. Quanto à desoneração pa-tronal da folha de pagamento, com vistas a garantir incenti-vos à indústria nacional, teria algo a dizer? Nadia Gebara: Outra vez a mesma balela do governo, es-pecialmente a tal desoneração, exatamente em cima dos 20% de contribuição patronal, o que significa apenas tirar dinheiro da previdência. Não é isso que gera emprego, pelo contrário, só o precariza. Essa decisão tem mais a ver com a aceitação das chantagens patronais de grupos que volta e meia fazem essa pressão sobre o governo. É o que se vê em São Paulo claramente, com a defesa da desoneração total, de tudo. É a linha do Estadão, por exemplo. Acham pouco desonerar 20%, chegando a aventar outras pos-sibilidades de desoneração. O que falei antes era opinião, mas agora, a seguir, não: cortar pagamento de contribuição patronal à previdência signifi-

ca deixar mais dinheiro ao lu-cro, ao capital, e tirá-lo do tra-balho. E certamente significa piorar e desfalcar mais ainda a previdência. A previdência, por sinal, já passa por um enorme controle no sentido de se negar auxílio-doença e auxílio-acidente. Di-go no sentido de não se conce-dê-los! Isso pra pessoas que claramente estão com necessi-dade, por decorrência do traba-lho. Os médicos são estimula-dos, até premiados, a não con-ceder o auxílio. Não é à toa que os ataques aos médicos peritos são cada vez maiores, uma vez que são eles os res-ponsáveis por indicar a con-cessão dos auxílios. Esse tipo de corte está preconizado – não falo de pensões e aposen-tadoria, e sim de amparo a pes-soas jovens lesionadas no tra-balho, ou ainda pelas condi-ções gerais de vida. Outra vez a tal norma interna, adminis-trativa, preconizada por técni-cos, neste caso vinda dos iní-cios do governo Lula. Existem “técnicos” do INSS que, ao serem perguntados so-bre como conseguir mais di-nheiro para a previdência, res-pondem: “cortando do auxílio-doença, do auxílio-acidente”. Não se trata de fiscalizar me-lhor a real necessidade de con-ceder ou não, e sim de cortar os auxílios e ponto. Assim, aparece também toda a discussão da aposentadoria. Trata-se também de dificultá-la ao máximo. Esse é o impac-to da desoneração da folha de pagamento, especialmente no que se refere à previdência. O que mais querem, desonerar no FGTS? Significa que o empre-gador demite mais à vontade. Em vez de se garantir mais emprego, garante-se mais rota-tividade, da mesma forma que todas as medidas de precariza-ção do FHC, que em momento algum ajudaram a segurar em-prego.

O que ajudou o crescimento do emprego no país, nos últimos anos, foram os reflexos da e-conomia mundial, que agora vive outro momento. Como lidar com isso? Com certeza, não é desonerando a folha de pagamento e as contribuições patronais à previdência. Correio da Cidadania: Na mesma esteira, como analisa a criação do Funpresp, o no-vo Fundo de Previdência do Servidor Público, já sancio-nado pela presidente Dilma? Nadia Gebara: Pouco sei sobre isso até aqui. Mas todos os fundos de previdência me pa-recem uma forma de envolver o próprio funcionalismo, de forma sacana, na questão. Tal como se viu com bancários no Brasil, trata-se de criar no tra-balhador o interesse na própria capitalização de tal fundo. Dá a sensação de que o sujeito não é classe trabalhadora, e sim participante de um fundo de investimento, interessado em sua capitalização e obtenção de lucros. Ainda não tenho e-lementos suficientes pra anali-sar o Funpresp, mas isso é o que deduzo de fundos de pre-vidência privados. Quebra-se a identidade de trabalhador do funcionário público, criando-se identidade com o próprio capi-talismo em seu lugar. É um processo político-ideológico, portanto. João Bernardo, um sociólogo português, discute esse envol-vimento do trabalhador no fundo de previdência privada há uns 10 anos. O neolibera-lismo e suas privatizações e terceirizações vieram aí pra isso, pra massacrar a classe trabalhadora e sua identidade. Correio da Cidadania: Como você enxerga a relação do go-verno Dilma, e dela própria, em seu segundo ano de man-dato, com os trabalhadores e suas representações?

Moradora tenta argumentar com policial no despejo violento feito pela Polícia Paulista em Pinheirinho Nadia Gebara: Não sei dizer, porque me falta acompanhar sua relação com o funciona-lismo público. Em relação aos trabalhadores, não tenho nada a dizer sobre melhorias. Quan-do tivemos o episódio do Pi-nheirinho, no começo deste ano, uma não omissão teria sido fundamental. O governo estadual e a polícia agiram na noite de sábado pra domingo. Interesses da prefeitura de São José dos Campos são pouco pra esclarecer a questão. Interessava comercialmente às construtoras e interessava à burguesia e ao governo Alck-min destruir essa experiência de auto-organização, uma ex-periência de vida muito bonita. Diferentemente de outros as-sentamentos, esse completava 10 anos, com níveis de plane-jamento e articulação impor-tantes, com apoio da Conlutas e do PSTU. Havia lotes de ter-ra urbanizados, decisões cole-tivas, organização coletiva presente, com planejamento técnico e urbano. Eram lotes, não cortiços. Era pobre, mo-desto, mas muito organizado. Isso jamais poderia ser um e-xemplo, na opinião da direita. Portanto, juntaram-se três ob-jetivos fundamentais: em pri-meiro lugar, dar o exemplo capitalista, de que aquela expe-riência não daria certo, não poderia vencer; em segundo, pobre fica longe das decisões; terceiro, desde quando uma área daquela vai ficar com gente pobre? Era muita polícia, tropa de choque, cachorros, maltratando absolutamente

todos, mulheres e crianças. E no meio disso, é evidente que o governo federal poderia ter intervindo. Até porque havia senadores do partido envolvi-do, vários políticos e funcioná-rios de governo passaram lá na véspera. E porque não teve intervenção federal? Estamos falando dos trabalhadores. A-gir ali significava uma visão no mínimo humana, isto é, “não vamos deixar a polícia bater em trabalhador”. Só isso. E se tivesse bandido no meio também não, nem as-sim poderiam entrar batendo. Mas nem esse argumento exis-tia. O caso do Pinheirinho é uma mostra típica da falta de algo efetivo no combate a uma ação fascista. Em suma, o go-verno não tomou uma ação em favor da pobreza, diante de todos os interessados na ques-tão – construtoras, tucanos e burguesia da cidade em geral. Da mesma forma que no go-verno Lula, toda ação, ou o-missão, vem no sentido de ig-norar os direitos dessas pesso-as, assim como o Bolsa-Família, por exemplo. A Dil-ma não faz um movimento de transformar tais benesses em direito, isto é, apresentar proje-tos de leis que façam esses programas se converterem em direitos. E, por fim, ela, da mesma for-ma que Lula, continua cedendo aos capitalistas quando fala em desoneração previdenciária e outras contribuições patronais. Este tipo de medida só serve para precarizar ainda mais as condições de vida dos traba-lhadores. Correio da Cidadania: Qual o cenário que você vislumbra para a luta de classes no Bra-sil nos próximos tempos, e quais os maiores desafios do sindicalismo neste contexto? Nadia Gebara: Eu acho que durante o ano teremos o mes-mo ou maior número de gre-ves, o que significa que setores

da classe trabalhadora têm consciência de sua necessida-de, apesar da onda de indivi-dualismo que os anos 90 trou-xeram. Nessa movimentação, creio que depararemos com o recrudescimento de uma polí-tica mais à direita, que já acon-tece, que continuará e se apro-fundará. O PSDB parece que desistiu da imagem de um partido popular e vai se firmar como alternati-va à direita. E isso significa legalizar mecanismos repressi-vos, fortalecer o grande capital (não que eu seja favorável ao pequeno). Tenho impressão de que al-guns setores do PT vão pular do barco, mas não sei se irão atrás de ter um novo partido. Há uma ala que não tem mais o que fazer lá, está ausente de tudo, e acho, não tenho certe-za, que o mesmo ocorrerá na CUT. Espero que gente que ainda tem brio tome essa atitu-de, pois são pessoas que não dedicaram a vida para servi-rem de capachos do capital. Sobre a aliança entre o que se pode chamar de capital nacio-nal com o estrangeiro, vai se aprofundar. Algumas empre-sas, como, por exemplo, a Na-tura, a Hypermarcas, vão virar multinacionais de origem bra-sileira. Elas e outras, na verda-de. É um pouco diferente de simplesmente se integrar ao capital internacional, como já se sabe, tratando-se da existên-cia de um status diferente na presença das empresas brasi-leiras na economia mundial. Vão passar ao papel de imperi-alistas em alguns países, ex-plorando a classe trabalhadora em outros países além do Bra-sil. Creio na possibilidade de efe-tiva ação conjunta de campo e cidade. Não necessariamente assentamentos, e sim trabalha-dores rurais. Até onde vai, de-pende da economia. E também de certas direções.

Se nós da esquerda, e isso vale pra gente que saiu da CUT, representantes sindicais, lide-ranças, MST, Conlutas, Inter-sindical, MTST, Terra Livre, efetivamente conseguirmos lutas conjuntas, entendermos o significado de frentes de mas-

sa, temos a possibilidade de dar um salto de qualidade na força da classe trabalhadora no próximo tempo, de um ou dois anos. Mas depende desses dois fato-res. Objetivamente, a luta é para manter o nível de empre-

go, evitar o pulo no desempre-go até 2013. E no que toca às direções, trata-se de ter a capa-cidade de formar e organizar tal frente de massas e o enfren-tamento a ser feito.

Nas eleições municipais, a opção anticapitalista está na combinação destas siglas: