pensar em nao ver, de jacques derrida

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Artigo / Conferência de Jacques Derrida

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  • 7/17/2019 Pensar Em Nao Ver, de Jacques Derrida

    1/1

    Jacques Derrida - "Pensar em No Ver"

    "Porm, primeira dificuldade, primeira aporia, se os senhores quiserem: se issoque vem, em nossa direo, se isso deve constituir um acontecimento, no devemos

    v-lo vir. Um acontecimento o que vem; a vinda do outro como acontecimento s

    um acontecimento digno desse nome, isto , um acontecimento disruptivo,

    inaugural, singular, na medida em que precisamente no o vemos vir. Um

    acontecimento que antecipamos, que vemos vir, que pr-vemos, no um

    acontecimento: em todo caso, um acontecimento cuja acontecimentalidade

    neutralizada, precisamente, amortecida, detida pela antecipao. A experincia, e

    voltarei equivocidade desse conceito de experincia de que tanto se falou esta

    manh, a experincia do acontecimento uma experincia passiva, rumo qual, e

    eu diria contra a qual, acontece o que no se v vir, e que de sada totalmente

    imprevisvel, no pode ser predito; prprio do conceito de acontecimento que ele

    venha sobre ns de maneira absolutamente surpreendente, inesperadamente. Se os

    olhos so o que so para ns, tal como se dispesm em nossos rostos, digo nossos

    rostos, os rostos humanos (pois nem todos os olhos esto e veem frente, h

    animais cujos olhos lhes permitem ver de lado e atrs, mas nossos olhos veem

    frente e tm o que chamamos de horizonte), o acontecimento sempre corre o risco

    de ser em certa medida neutralizado; vemos vir as coisas desde o fundo dohorizonte. Assim que h ou na medida em que h um horizonte sobre cujo fundo

    vemos vir alguma coisa, nada vem, nada vem que merea o nome de

    acontecimento; o que vem na horizontal, isto , o que nos faz face e vem em nossa

    direo avanando ali onde o vemos vir, isso no acontece. Isso no acontece no

    sentido forte e estrito do advento do que vem, seja alguma coisa ou algum, o que

    ou quem, o que ou quem em "isto vem". No devemos v-lo vir, e, portanto, o

    acontecimento no tem horizonte;s h acontecimento ali onde h horizonte."