penna, pio. pesquisa no itamaraty

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    A GLOBALIZAODONARCOTRFICO 117

    A pesquisa histrica no Itamaraty

    PIO PENNA FILHO*

    ...restabelecer a Seo do Arquivo, dando-lhe odesenvolvimento necessrio, porque esse oarsenal em que o Ministro e os empregadosinteligentes e habilitados encontraro as armas de

    discusso e combate.1

    O Arquivo

    O Arquivo Histrico do Itamaraty apresenta vasto e rico acervo documentalque registra mltiplos aspectos da histria do Brasil, com nfase, naturalmente,nos assuntos que dizem respeito s relaes internacionais do pas. Dividido emduas unidades, parte do seu acervo est localizada no Rio de Janeiro e a outra, emBraslia.

    No Rio de Janeiro, encontram-se as colees documentais mais antigas,que vo dos papis colecionados do incio do sculo XIX at os anos 1950. Existem,porm, documentos ainda mais antigos que remontam poca do Brasil-colnia.Encontram-se, tambm naquela unidade, as colees de arquivos particularesadquiridos por compra ou doao, como o arquivo pessoal do Baro do Rio Branco.Localizado no Palcio Itamaraty, o acervo do Arquivo Histrico no Rio de Janeiroest totalmente liberado consulta dos pesquisadores, uma vez que todo ele estdisponvel ao pblico na forma da legislao em vigor. Constitui-se, com efeito, emum arquivo de fundo fechado, haja vista que a documentao que possaeventualmente remeter a assuntos em andamento da Chancelaria brasileira foitransferida para Braslia.

    A partir de 1972, com a transferncia definitiva do Ministrio das RelaesExteriores para a nova capital, parte desta documentao foi deslocada para anova capital em decorrncia das prprias necessidades do servio diplomtico.Desta forma, juntamente com o Ministrio, foi deslocada para Braslia adocumentao mais recente do Itamaraty. O acervo transferido teve como marcoinicial o ano de 1960; no entanto, possvel encontrar, em Braslia, documentos

    secretos e confidenciais que remontam a 1947 (eventualmente, pode-se achar nos

    Rev. Bras. Polt. Int. 42 (2): 117-144 [1999] Professor Assistente da Universidade Federal de Mato Grosso e Doutorando em Histria das RelaesInternacionais na Universidade de Braslia.

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    maos documentos anteriores a essa data). Com relao aos ostensivos ereservados, esto em Braslia os produzidos a partir de 1960 (ocasionalmente, opesquisador poder encontrar documentos relativos a 1959, mas como exceo

    regra).O acervo documental do Ministrio das Relaes Exteriores est dividido

    em cinco categorias no que diz respeito natureza e ao grau de sigilo do assuntoda documentao: a) secreto-exclusivo,2 b) secreto, c) confidencial, d) reservado,e e) ostensivo. Os documentos classificados comosecretos-exclusivos obedecema um perodo de restrio de 30 anos, ossecretosseguem a regra de restrio consulta de 20 anos, os confidenciais,de 10 anos, os reservados,de 5 anos e osostensivos esto virtualmente liberados. Apesar de constar na legislao com

    certa restrio, os documentos classificados como reservadospraticamente seguema regra dosostensivos e esto, pois, liberados, aparecendo nos volumes organizadosjuntamente com estes ltimos.3

    Meno especial deve ser feita aos documentos classificados comosecretos-exclusivos. Os papis assim classificados contm assuntos que requeremalto grau de sigilo e diferenciam-se dossecretospelo fato de seu contedo ser deconhecimento exclusivo do destinatrio. Via de regra, so expedidos diretamentepelo Secretrio Geral ou pelo Ministro de Estado para os Embaixadores em postosno exterior. Seu uso e consequentemente seu volume bastante reduzido.

    Alm da classificao supracitada, os documentos diplomticos tambmse distribuem de maneira diversa. Particularmente interessantes para a pesquisahistrica so: 1) os Ofcios recebidospela Chancelaria que so remetidos pelasEmbaixadas, Consulados e Representaes brasileiras no exterior; 2) osDespachos(ou ofcios expedidos) emitidos pela Chancelaria para as Misses diplomticas noexterior; 3) os Telegramase as Cartas-telegramasexpedidos e recebidos tantopela Chancelaria quanto pelas Embaixadas e Misses junto a OrganismosInternacionais (como a ONU, a OEA etc.); 4) as Notas trocadas entre a

    Chancelaria brasileira e as Misses estrangeiras credenciadas no Brasil e noexterior, entre as Misses diplomticas brasileiras e o Governo local; 5) asInstruespara os Chefes de Misso Diplomtica no exterior; 6)Instruespara as delegaesbrasileiras nos foros internacionais; 7) a srie de Memorandos, Pareceres eRequerimentos, que se constitui em uma rica e interessantssima documentaointerna, contemplando assuntos os mais variados, como questes polticas,econmicas, assuntos em andamento, pareceres jurdicos sobre temas diversos erequerimentos internos; e 8) osAvisos, correspondncia trocada entre Ministros

    de Estado e rgos subordinados Presidncia da Repblica.4

    Nos Memorandos, encontram-se as discusses internas, nas variadasinstncias do Ministrio das Relaes Exteriores, que levam s decises na polticaexterna brasileira apresentando as questes mais sensveis que foram tratadas no

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    mbito do MRE.5 Os memorandos constituem uma excelente demonstrao doprocesso decisrio interno do Itamaraty, contendo assuntos meramenteadministrativos ou pontos altamente sensveis, como a anlise poltica da conjuntura

    internacional, avaliaes sobre pases e assuntos correntes da agenda internacionalou planejamento para o relacionamento bilateral. Em alguns casos, possvelacompanhar toda a trajetria de um determinado assunto, desde a elaborao daquesto eventualmente tratada por um Secretrio e enviada ao seu superior, oparecer e a recomendao deste at o visto e a deciso final do Ministro de Estado.

    Alm da organizao dos documentos estabelecida atravs de sua tipologia,elencados pelo nome da capital do pas e pelo tipo de documento, se ofcio expedido,recebido, telegrama etc. (por exemplo: Buenos Aires, Ofcios Expedidos, Secreto),

    h ainda uma massa documental colecionada em pastas classificadas (pastas porordem de classificao) de acordo com o assunto a que se refere a documentao.A maior parte desse acervo obedece a um sistema decimal de classificao, segundoo qual os temas de interesse do Ministrio das Relaes Exteriores foram divididosem dez classes:

    Classe 0 Assistncia Judiciria Internacional;Classe 1 Congressos e Conferncias Internacionais;Classe 2 Limites;Classe 3 Ministrio das Relaes Exteriores;Classe 4 Miscelnea;Classe 5 Negcios Internos do Brasil;Classe 6 Negcios Internos dos Estados Estrangeiros;Classe 7 Proteo de Interesses e Reclamaes;Classe 8 Relaes Econmicas e Comerciais;Classe 9 Relaes Polticas dos Estados.Neste tipo de classificao, j substituda pelo Itamaraty, porm sem alterar

    a organizao do acervo previamente classificado, os assuntos esto dispostos

    em uma ordem sistemtica, indo do geral ao particular, de forma que as matriasafins esto agrupadas em uma seqncia que permite a associao dos temascorrelatos. Geralmente, as pastas se encontram organizadas por assuntose porpases, apresentando em sua parte superior o nmero da classificao decimal eo assunto, o que facilita a identificao do tema contemplado em uma determinadapasta.6

    Classificados comosecretosou confidenciais, os documentos dessas pastascontm assuntos diversos e esto agrupados seguindo uma unidade temtica, como

    por exemplo:Pases(frica do Sul, Bolvia, Argentina, Frana etc.),Fronteiras,Produtos de base, Assuntos militares, Guerras, Terras, guas, Imprensa,Possesses, Relaes Polticas e Diplomticas, Sigilo (guarda dacorrespondncia), Chefes de Misses Diplomticas, Poltica Internacional,

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    Criptografia Mecnica, Situao Poltica Interna, Agrment, MaterialBlico, Raa, Apartheid, guas Fluviais, Imprensa, Comunismo, entre outros.

    As pastas por ordem de classificao abrigam variada gama de documentos,

    principalmente cpias de telegramas e ofcios recebidos pela Chancelaria dasMisses diplomticas no exterior. Na verdade, trata-se de uma coleo de cpiasde documentos selecionados que foram organizados com o objetivo de facilitar apesquisa em assuntos de especial interesse do Itamaraty. Alm disso, pode-selocalizar, nessas pastas, ofcios expedidos pela Chancelaria, dependendo muito doassunto e do interesse despertado pelo tema poca de sua produo. possvelencontrar tambm documentos de especial interesse para os pesquisadores, taiscomo relatrios e ofcios recebidos de outros rgos governamentais, como

    Presidncia da Repblica, Ministrios Militares e Civis. Todavia, faz-se necessrioressaltar que a documentao supramencionada, muito embora esteja organizadaem pastas de fcil manuseio, encontra-se dispersa nas dependncias do Arquivoem Braslia, permanecendo praticamente fora do alcance dos pesquisadores.

    A partir de novembro de 1985, foi instituda, no mbito do Itamaraty, novaforma de classificao dos documentos, o Sistema Thesaurus. Diferentemente domodelo anterior que, como visto, organizava os documentos de forma decimal, eem que os temas de interesse estavam divididos em dez classes, o novo mtodo mais flexvel e visando modernizao da sistemtica de classificao dos

    documentos e informatizao administrativa consiste no emprego de umconjunto de quatro letras (que representa o assunto) e o cdigo do pas, pases ouorganismos, ao qual se refere o assunto. A primeira das quatro letras representa oassunto principal, e as outras trs, o assunto secundrio. No caso especfico doMRE, fez-se uma diviso do Ministrio em categorias de assuntos principais, sendocada uma representada pela primeira letra do Sistema. 7

    O Sistema Thesaurus tambm operou modificaes no que diz respeito classificao dos documentos, antes dispostos em dez classes generalizantes. Coma adoo do novo sistema, os assuntos foram divididos em quinze categorias oucdigos de assuntos. Neste sentido, cada categoria composta por quatro letras,em um sistema em que a primeira letra corresponde ao assunto geral e as trsseguintes so indicativas do tema especfico correspondente. Desta maneira, oscdigos possuem abrangncia satisfatria, o que torna mais fcil a memorizao efamiliarizao do objeto a ser pesquisado por parte dos usurios.8

    Assim, no Itamaraty a indexao pelo Sistema Thesaurus classifica osassuntos bsicos, adotando a seguinte estrutura:

    1) A Assuntos de Administrao do MRE;

    2) C Assuntos Consulares;3) D Assuntos de Cerimonial e Corpo Diplomtico;4) E Assuntos Econmicos;5) G Gestes, Reunies, Visitas Governamentais;

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    6) I Imprensa e outros meios de comunicao;7) J Assuntos Jurdicos;8) K Assuntos Culturais;

    9) M Assuntos do Mar, Antrtida e Espao Exterior;10) P Assuntos Polticos;11) Q Controle Interno;12) S Assuntos Sociais;13) W Meio Ambiente;14) X Comrcio Internacional;15) MBAS Mao Bsico de Pas ou de Assunto.Todavia, como exposto mais acima, o Sistema Thesaurus s foi adotado no

    final de 1985, o que significa que os pesquisadores s iro deparar-se comdocumentos liberados includos nesta classificao no perodo de 1986 a 1989 paraos confidenciais e na totalidade para os ostensivos. Isto demonstra, portanto, aimportncia de se conhecer a antiga classificao, que, na verdade, a que rege amaior parte dos documentos j liberados para consulta. Sobretudo se considerarmosque os documentos ostensivos geralmente so agrupados em maos ou pastasseguindo um arranjo por pas e por ano, ou seja, no entram neste tipo declassificao.

    Do ponto de vista administrativo e organizacional, a Seo de ArquivoHistrico (SAH) est subordinada Diviso de Comunicaes e Arquivo (DCA)que, por sua vez, faz parte do Departamento de Comunicaes e Documentao(DCD). Este, na estrutura administrativa do Itamaraty, subordina-se SubsecretariaGeral do Servio Exterior, vinculada Secretaria Geral.

    No caso do Arquivo Histrico, localizado no Rio de Janeiro, este subordina-se diretamente ao Escritrio Regional no Rio de Janeiro (ERERIO), sendo, portanto,desvinculado da estrutura referida para a Seo do Arquivo Histrico localizadoem Braslia. interessante notar que, muito embora ambos tenham funo similar

    a guarda de documentos histricos produzidos pela Chancelaria brasileira , sounidades administrativas independentes, sem vnculos diretos. Ainda com relaoao Rio de Janeiro, cite-se o caso de outras unidades afins ao Arquivo, quais sejam:a Mapoteca, a Biblioteca e o Museu Histrico e Diplomtico.

    Isto evidencia que h o entendimento, em certas instncias do Itamaraty,de que a parte estritamente considerada histrica para o Ministrio est localizadano Rio de Janeiro. Corroborando esta tese, temos a Comisso de Estudos de HistriaDiplomtica (CEHD), que a responsvel pela desclassificao9 de documentos

    e anlise de solicitaes de pesquisa, que funciona no Rio de Janeiro. Com efeito,trata-se de uma interpretao bastante natural e lgica, haja vista que o acervo doArquivo Histrico no Rio aquele que contm a documentao mais antiga e jtotalmente liberada para consulta.10

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    Legislao

    Nas ltimas dcadas, houve poucas mudanas, porm, substanciais, na

    poltica nacional de arquivos e na legislao de acesso aos documentos histricos.O marco renovador, como no poderia deixar de ser, foi o processo deredemocratizao do pas que culminou com a Constituio de 1988.

    Na verdade, o acesso ao Arquivo sempre foi um grande problema para ospesquisadores11 que, via de regra, recorriam a fontes no exterior para escrevercaptulos da histria nacional. Nos ltimos trinta anos, o que sofreu alterao comodesdobramento do Golpe de Estado de 1964 foi a classificao dos documentos daChancelaria brasileira que passou a ser feita de maneira mais rgida, inovando-se

    inclusive com uma classificao que no existia anteriormente: a dos documentossecretos-exclusivos. Em certa medida, a natureza do regime, o seu projeto detransformar o Brasil em potncia e suas conexes com o exterior propiciaram aproduo de uma srie de documentos que continham assuntos classificados comosigilosos e que diziam respeito direto segurana nacional mas, principalmente, segurana do prprio regime.

    Neste sentido, houve, nos anos de chumbo, uma intensa produo dedocumentos que foram imediatamente classificados como secretos, ou secretos-exclusivos, dos quais muitos s poderiam existir em um regime de exceo.A leitura da documentao produzida pelo Itamaraty no perodo posterior a 1964indica, por exemplo, forte retomada da preocupao com a ameaa comunistaao Brasil. A tentativa de livrar a sociedade brasileira do mal comunista, depurando-a com a eliminao fsica ou via expurgos, atingiu praticamente todas as instituies,inclusive, naturalmente, o Itamaraty. Existe, por exemplo, uma srie de inquritosinternos que objetivavam esclarecer posturas ideolgicas de vrios diplomatas efuncionrios, alguns notrios, como Antnio Houaiss e Joo Cabral de Melo Neto.Nessa linha de ao, vrios postos no exterior foram tambm colocados a

    acompanhar as atividades de brasileiros exilados e de estudantes e a permanecersempre alerta para as notcias consideradas injuriosas contra o regime. Naturalmente,essas funes eram desempenhadas com mais vigor nos pases socialistas, onde acrtica ao regime brasileiro se fazia mais destemperadamente e a ao dos brasileirosexilados ou dos estudantes era mais intensa. digno de nota o fato de que, nadocumentao enviada Chancelaria por alguns postos (veja-se, por exemplo,Praga antiga Checoslovquia), estes eram justamente os assuntos maisfreqentes. Assumindo, pois, a funo de monitoramento do comunismo

    internacional, o Itamaraty pde constituir um rico acervo sobre o tema,12

    que dizrespeito tanto ao plano interno quanto ao externo. Evidentemente, a documentaodo MRE sobre comunismo muito mais rica no plano externo, haja vista que afuno primordial do Itamaraty diz respeito ao relacionamento do Brasil com o

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    exterior. Enfim, o acervo do Arquivo Histrico do Itamaraty sobre o tema provavelmente o mais rico do Brasil e permanece praticamente inexplorado pelospesquisadores.

    Retroagindo aos ltimos trinta anos, foi sob a gide do regime militar quese instituiu o Decreto n 64.122, de 19-02-1969, que estabelecia as regras de acessoaos documentos do Arquivo, que vigorou at a Constituio de 1988. Segundo estedecreto, estabelecia-se a seguinte regra para acesso aos documentos: a) livre acessoaos documentos anteriores a 1900; b) acesso qualificado aos documentos do perodo1900-1940; c) acesso proibido aos documentos posteriores a 1940 (note-se quevalia a regra dos trinta anos).

    As regras supracitadas so lacunares e permitiam uma grande margem de

    subjetividade. Por exemplo, no item b, acesso qualificado quer dizer que o acesso documentao estava sujeito a autorizao administrativa, circunstncia quevariava de acordo com o funcionrio responsvel pelo setor e na qual, certamente,havia influncia promovida pelas credenciais do pesquisador. Outro aspecto queno fica claro sobre a possibilidade de acesso aos documentos classificadoscomo secretos e confidenciais no perodo de 1900 a 1940. De acordo com a prticado Arquivo, possivelmente s aos ostensivos haveria chance de consulta por parteda maioria dos pesquisadores externos aos quadros do Itamaraty. Porm, no seexclui a possibilidade de acesso restrito a documentos classificados comoconfidenciais ou secretos, dependendo, naturalmente, da qualificao do pesquisadore de seus contatos no Itamaraty.

    O debate propiciado pela redemocratizao do pas na segunda metadedos anos oitenta ir reacender a discusso em torno da problemtica do acesso documentao pblica de carter sigiloso. Na esteira das discusses sobre cidadania,direito informao e liberdade de expresso, veio tona a questo sobre osarquivos pblicos e o tipo de documentao guardada por eles. Em primeiro lugar,discutiu-se muito sobre os dossis pessoais elaborados pelos rgos da represso

    e de como desclassificar esta documentao, eliminando assim os resquciosautoritrios da poca da ditadura militar. Em segundo lugar, e como conseqnciadireta da discusso sobre o autoritarismo, buscou-se tratar a questo em um planomaior, discutindo uma nova poltica nacional de arquivos. Incluiu-se na discussoat mesmo a possibilidade de agrupar todos os documentos produzidos pelos rgospblicos federais no Arquivo Nacional, questo imediatamente rechaada peloItamaraty, que argumentava a caracterstica peculiar dos documentos daChancelaria ao mesmo tempo em que fazia comparaes com a prtica de manter-

    se arquivos diplomticos junto aos respectivos Ministrios adotada por outros pases.Alm disso, era preciso adequar as estruturas existentes aos preceitos daConstituio de 1988, que, dentre outros, assevera: assegurado a todos o acesso informao e resguardado o sigilo da fonte, quando necessrio ao exerccio

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    profissionale Todos tm direito a receber dos rgos pblicos informaes deseu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que sero prestadas noprazo da Lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja

    imprescindvel segurana da sociedade e do Estado.13No decorrer do ano de 1988, principalmente durante o segundo semestre,

    internamente o Itamaraty j estava discutindo a questo e buscando adequar nova Constituio as normas vigentes de acesso ao seu Arquivo Histrico. Oprimeiro passo veio com as Portarias n 593 e 594, de 12 de outubro de 1988,assinadas pelo Ministro Roberto de Abreu Sodr. A primeira estabelecia oRegulamento da Seo de Arquivo Histrico do Ministrio das Relaes Exteriores;a segunda criava a Comisso Permanente de Reviso do Arquivo Histrico. 14

    A Portaria n 593 regulamentou o acesso aos documentos do ArquivoHistrico. Definiu-se que, a partir da, o acesso documentao seria feito apsanlise e ulterior liberao das solicitaes por parte da Comisso Permanente deReviso do Arquivo Histrico que sequer havia ainda sido constituda e deveriater o endosso por parte do Secretrio Geral do Ministrio. Estabelecia tambm queseriam os seguintes os documentos liberados para consulta: a) os que contassemcom mais de 30 anos, a contar da data de sua produo e b) os que, emboraproduzidos h menos de 30 anos, estivessem liberados pela Comisso Permanentede Reviso do Arquivo Histrico. Havia, no entanto, ressalva com relao a duascategorias de documentos que no seriam liberados para consultas: a) os quecontivessem informaes suscetveis de pr em risco a segurana do pas e asrelaes do Brasil com terceiros pases ou organismos internacionais e b) os quepudessem afetar a vida privada das pessoas, antes de decorridos 100 anos a contarda data de seu nascimento.15 Por fim, a Portaria tambm disciplinava o uso doArquivo e concretizava regras para os consulentes, tais como a obrigao de seremeter para a Seo de Arquivo Histrico do Itamaraty uma cpia de eventualtrabalho publicado (que tivesse sido resultado das pesquisas feitas na documentao

    do Arquivo) e a possibilidade de fotocpias dos documentos, uma vez custeadaspelo interessado.

    O objetivo do Itamaraty com a criao da Comisso Permanente de Revisodo Arquivo Histrico era o de conduzir prvia reviso da documentao histricado Ministrio visando liberao dos documentos. Na verdade, a idia partia dapremissa de que interessava ao Itamaraty uma abertura gradual e sistemtica doseu acervo, como salientava o presidente da Comisso Permanente, EmbaixadorSrgio F. Guarischi Bath.16 A Comisso, que seria formada por 4 diplomatas e 2

    historiadores (ou profissionais ligados rea de relaes internacionais oudocumentao) teria por funo proceder reviso e reclassificao sistemticada documentao sob a guarda da Seo de Arquivo Histrico do Ministrio dasRelaes Exteriores. Dentre suas funes, a Comisso deveria recomendar a

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    eventual reclassificao de documentos, a liberao de consultas aos documentos,o descarte de documentos desprovidos de interesse histrico ou prtico e arestaurao de documentos de relevante valor histrico.17

    O ponto de vista do Itamaraty sobre a questo relacionava-se principalmentecom a natureza dos documentos de seu acervo. Segundo interpretaes de dentrodo Ministrio, h no Arquivo muitos documentos sensveis e que poderiam afetarou comprometer a ao do Estado no plano internacional. Estes temas,freqentemente abordados na documentao diplomtica, estariam ligados aassuntos tais como: defesa nacional, segurana e relaes internacionais, pareceresinternos, tomadas de deciso, informaes confidenciais prestadas por terceiros,informaes sobre atividades econmicas e comerciais que porventura pudessem

    estar em andamento e que, se divulgadas, poderiam prejudicar a posio negociadorado pas e temas que de alguma maneira pudessem estar relacionados com aaplicao da lei (preveno, deteco e julgamento de atividades ilegais), o quecertamente causaria, no mnimo, embaraos para o pas. Mas havia trs temas querealmente incomodavam o Itamaraty e que foram motivos de proposta de constaremem uma lista de excees: 1) aqueles que pudessem afetar a segurana e asrelaes internacionais do Brasil, 2) os relativos a questes de fronteiras, 3) osque, porventura, pudessem caracterizar a interferncia em assuntos internos deoutros pases ou de organismos internacionais.

    A deciso do Itamaraty de estabelecer reservas para acesso aosdocumentos e estipular como uma das tarefas da Comisso Permanente justamenteeste ponto causou certo mal-estar no meio acadmico interessado no assunto e emsetores da imprensa nacional, que se indignaram perante o fato de que, mesmocom a abertura vista, haveria ainda documentos proibidos ao pblico. Entre janeiroe fevereiro de 1989, artigos publicados em jornais nacionais estampavam ttulostais como: Itamaraty torna difcil acesso a seu arquivo(O Estado de So Paulo,19/01/1989), Informaes: direito que a Constituio garante e o Itamaraty nega

    (Jornal da Tarde, 23/01/1989), Itamarati18 facilitar o acesso a arquivo, masesconder documentos (Jornal do Brasil, 28/01/89), A Traio Inconstitucional(Tribuna da Imprensa, 01/02/1989),Professores so contra a proibio (Folhade So Paulo, 02/02/1989), Deciso do Itamaraty restringe o acesso depesquisadores a arquivo (Folha de So Paulo, 02/02/1989), A Lei de Taylor(Jornal do Brasil, 05/02/1989 artigo do cientista social Paulo Srgio Pinheirosobre a pesquisa no arquivo do Itamaraty e sobre a Comisso Permanente),Equvocos e Compreenso (Jornal do Brasil, 05/02/1989 artigo assinado pelo

    historiador Jos Murilo de Carvalho sobre as incompreenses com relao Comisso Permanente, da qual era membro), EUA: poucos impedimentos (Jornaldo Brasil, 05/02/1989), Tutela da Histria (Folha de So Paulo, 07/02/1989) eItamarati19 mantm seus arquivos fechados (Tribuna da Imprensa, 13/02/1989).

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    Nestes artigos, a crtica recaa principalmente sobre o fato de o Itamaratydesejar manter controle sobre o acervo do Arquivo Histrico, liberando algunsdocumentos e mantendo em sigilo outros. Criticou-se muito, tambm, a composio

    da Comisso Permanente a qual, por conter maior nmero de diplomatas, portantomembros da corporao, tenderia a ser mais discricionria e poderia manter emsigilo assuntos que, na opinio dos crticos, deveriam ser liberados. Porm, o pontomais polmico, talvez por falta de informaes mais precisas por parte da Comisso,relacionava-se com o desejo do Itamaraty de manter sob sigilo documentos quepudessem prejudicar a imagem de personalidades. Assim, at aquele momento,havia a deciso de que os documentos que pudessem afetar a imagem das pessoasficariam guardados por um perodo de cem anos, ou mais. As opinies contrrias,

    emanadas por parte dos pesquisadores e encampadas pela imprensa, variavampouco. Hlio Silva havia considerado a idia totalmente absurda.20 Para MariaLuiza Tucci Carneiro, que, anos antes, havia entrado em franca polmica com afamlia de Oswaldo Aranha em decorrncia de um trabalho publicado sobre o anti-semitismo no Brasil, tal deciso iria encobrir interesses de famlias e personalidadesdiplomticas reconhecidas internacionalmente e que no fazem questo de assumirdiante da histria responsabilidades que lhes seriam atribudas, na medida em queesses documentos viessem luz; j para Maria Victria Benevides, esta idia deimpedir o acesso a documentos que prejudiquem a imagem de pessoas nascidas hmenos de cem anos parte de uma viso autoritria e burocrtica, pois em pasalgum do mundo ocidental civilizado existe uma coisa desta. Acho que 25 ou 30anos j muito. Por sua vez, Emlia Viotti da Costa, indagada sobre a deciso doItamaraty, considerou-a um absurdo e que parte de uma concepo equivocadada relao entre o Estado e a Sociedade. Por fim, para Paulo Srgio Pinheiro, aproposta insustentvel e no deve prevalecer, e ao compar-la com os EstadosUnidos completava que l liberam seus documentos em 30 anos e (n)a Frana em50, s vezes menos.21

    A Comisso foi finalmente instituda e, em 9 de maro de 1989, iniciouseus trabalhos, sendo composta, como dito, por quatro diplomatas (Srgio F. G.Bath, Lauro Escorel de Moraes, Donatello Grieco e Heitor Pinto de Moura) e doisprofessores (Jos Murilo de Carvalho e Marcelo Paiva de Abreu). Os problemasencontrados pela Comisso certamente foram enormes. As presses e crticas,que comearam antes mesmo do incio dos seus trabalhos, tambm. Desta forma,comprometeu-se o desempenho da Comisso que, sabidamente, tinha um longo erduo caminho a percorrer, tal a magnitude das atribuies e tarefas a desempenhar

    (a leitura e desclassificao de quilmetros de documentos, provveis divergnciasinternas dada a natureza do trabalho escassez de pessoal qualificado e derecursos, pareceres sobre solicitaes de pesquisa, dentre outros). Enfim, tendoiniciado formalmente seus trabalhos em maro de 1989, a Comisso Permanente

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    teve vida curta, tendo sido extinta em 1992, deixando, portanto, o trabalho inconcluso.Voltava-se, assim, ao estgio anterior no que diz respeito forma de acesso documentao,22 que afinal de contas ainda no fora desclassificada de acordo

    com a legislao vigente.Como conseqncia da publicao da Lei n 8.159, o Ministro das Relaes

    Exteriores, Celso Lafer, fez publicar a Portaria de 27 de agosto de 1992 que revogouas disposies contidas nas Portarias 593 e 594, extinguiu a Comisso Permanentede Reviso do Arquivo Histrico transferindo suas funes para a Comisso deEstudos de Histria Diplomtica e aprovou o novo regulamento da Seo deArquivo Histrico, que basicamente no sofreu alteraes substanciais com relaoao regulamento anterior (contido na Portaria n 593).

    Aps a extino da Comisso Permanente, o Itamaraty criou a Comissode Estudos de Histria Diplomtica, que tem entre suas principais funes asseguintes: a) analisar as solicitaes de pesquisa luz da legislao em vigor, b)desclassificar documentos que considere no mais sigilosos, uma vez contempladospela legislao, c) propor publicao e divulgao de documentos de interessehistrico-diplomtico, estudos, catlogos ou bibliografia de histria diplomtica, d)promover a realizao de cursos e conferncias sobre temas de histria diplomticaou relevante interesse, e) propor a atualizao das normas de acesso documentaode histria diplomtica existentes no Arquivo Histrico do Rio de Janeiro e proceder reviso dos documentos que se encontram no Arquivo do Ministrio das RelaesExteriores, f) dar pareceres sobre pedidos de consulta formulados por pesquisadoresbrasileiros e estrangeiros, desde que solicitado pela Diviso de Comunicaes eArquivo, e g) recomendar a restaurao de documentos de relevante valorhistrico.23

    Sediada no Rio de Janeiro desde a data de sua criao 30 de setembrode 1992 -, a Comisso de Estudos de Histria Diplomtica (CEHD) compostapor 7 membros. De acordo com o artigo 4 da Portaria de criao da mesma (30/

    7/1992), a sua composio dever-se-ia fazer com quatro membros extrados dosquadros do Itamaraty e trs escolhidos entre brasileiros de notvel saber histrico,em consulta com entidades da comunidade acadmica.24 Muito embora sejalouvvel a iniciativa do Itamaraty de estabelecer esta Comisso, o que se constata que, dentre todas as atribuies que lhe foram outorgadas, a que mais vem sendodesempenhada a que diz respeito anlise das solicitaes de pesquisa, sobre asquais so emitidos pareceres a pedido da Diviso de Comunicao e Arquivo.

    Em 1991, o Congresso Nacional aprovou nova lei visando ao

    estabelecimento e normatizao de uma poltica nacional de arquivos.25

    A questodo acesso aos arquivos, incluindo o acesso aos documentos sigilosos, foi contempladana lei, o que obrigou a reviso dos procedimentos de pesquisa no arquivo doItamaraty. O captulo V (Do Acesso e do Sigilo dos Documentos Pblicos)

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    assegura o direito de acesso pleno aos documentos pblicos (artigo 22), mas ressalva,no artigo 23 2 e 3, que o acesso aos documentos sigilosos referentes segurana da sociedade e do Estado ser restrito por um prazo mximo de 30

    anos, a contar da data de sua produo, podendo esse prazo ser prorrogado, poruma nica vez, por igual perodo e que o acesso aos documentos sigilososreferentes honra e imagem das pessoas ser restrito por um prazo de 100 anos,a contar da data de sua produo. Com relao s categorias de sigilo que deveriamreger a classificao dos documentos, estas seriam estabelecidas posteriormente,atravs de Decreto.

    A novidade mais importante introduzida pela Lei N 8.159 e no que dizrespeito ao acervo documental do Itamaraty, regulamentada pela Portaria de 27 de

    agosto de 1992 foi a possibilidade de prorrogar por igual perodo (30 anos) arestrio consulta de documentos sigilosos referentes segurana do Estado eda sociedade. Desta maneira, nos termos da lei, haveria possibilidade de manter-se o impedimento consulta de certos documentos por um perodo de at 60 anos,sem contar, naturalmente, que os documentos referentes imagem das pessoasseriam mantidos em sigilo por at 100 anos, perodo este contado a partir da datade nascimento da pessoa. Noutro sentido, a possibilidade de liberao de documentosclassificados como sigilosos, que tivessem menos de 30 anos, poderia ocorrer,desde que aprovada sua liberao pela Comisso de Estudos de HistriaDiplomtica.26

    Finalmente, em janeiro de 1997, o Decreto n 2.134, de 24/01/1997,regulamentou o artigo 23 da lei n 8.159, de 08/01/1991. Completou-se, assim, alegislao vigente sobre classificao, reproduo e acesso aos documentos pblicossigilosos. Sobre o acesso documentao, o referido Decreto estipula que qualquerdocumento de natureza sigilosa que j tenha sido objeto de consulta pblica nopoder sofrer restrio de acesso e que sero liberados consulta pblica osdocumentos que contenham informaes pessoais desde que previamente autorizada

    pelo titular ou por seus herdeiros.27 Caso o rgo responsvel pela guarda dosdocumentos denegue pedido de acesso a algum pesquisador, faz-se necessriojustificar por escrito, explicando os motivos da negativa.28

    No tocante ao grau de sigilo atribudo aos documentos e aos prazos derestrio ao acesso, ficou estabelecido que estes se dividem em quatro nveis, asaber:

    1) Ultra-Secretos, mximo de trinta anos;2) Secretos, mximo de vinte anos;

    3) Confidenciais, mximo de dez anos;4) Reservados, mximo de cinco anos.29

    Contudo, o Decreto mantm a possibilidade de se prorrogar, por igual perodo,e uma nica vez, a restrio consulta de documentos sigilosos, desde que

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    considerado o interesse da segurana da sociedade e do Estado. Da mesmaforma, acabou prevalecendo a restrio de acesso aos documentos que, porventura,possam comprometer a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas

    (acrescentando-se documentos que integram processos judiciais tramitados emsegredo de justia), os quais s sero liberados em um prazo de cem anos contadosa partir da data de sua produo.30

    A pesquisa no arquivo do Itamaraty

    No mbito deste artigo, procedemos anlise das pesquisas solicitadasaos arquivos do Itamaraty, no Rio de Janeiro e em Braslia. Para tanto, foram

    considerados os formulrios de pesquisa disponibilizados para consulta para esteartigo junto Seo do Arquivo Histrico em Braslia, bem como os memorandosque tratam do assunto e a legislao pertinente.31

    Muito embora estejamos conscientes de que, possivelmente, nem todo ouniverso das pesquisas solicitadas pde ser contemplado neste trabalho,consideramos o nmero de formulrios abarcados satisfatrio para uma anlisebem prxima da realidade, refletindo tendncias no campo das pesquisas efetuadasno arquivo do Itamaraty.

    Foram analisados 184 pedidos de pesquisa, sendo que alguns deles feitospor grupos de pesquisadores. Nossa pesquisa contemplou tanto as solicitaesfeitas em Braslia, quanto aquelas feitas ao Arquivo Histrico no Rio de Janeiro, edas quais foram enviadas cpias para arquivamento em Braslia. No que diz respeitos pesquisas solicitadas Seo do Arquivo Histrico em Braslia, foi possvellocalizar nmero bem aproximado do total de pesquisas solicitadas, dado que aSeo arquivou os pedidos de pesquisa em pastas apropriadas. Com relao aoRio de Janeiro que restam dvidas acerca do nmero real de pesquisas solicitadase do nmero de cpias dos formulrios encontrados em Braslia. bem provvel

    que alguns formulrios no tenham sido enviados para arquivamento em Braslia.De qualquer maneira, o nmero de formulrios analisados suficiente para umaamostragem que indicativa do tipo de interesse despertado nos pesquisadorespelo arquivo do Itamaraty.

    Como metodologia de trabalho para a anlise desses formulrios, extramostodos os dados possveis encontrados no modelo de formulrio adotado peloItamaraty, resultando em quadros que visam sistematizao. Coligimos, destarte,a relao de todos os temas de pesquisas solicitadas utilizando, para tanto, o ttulo

    indicado pelo pesquisador para a sua pesquisa. Alm disso, foram elaborados trsquadros (ver anexos) contendo informaes especficas sobre: a) o perfil profissionaldos pesquisadores, b) a origem dos pesquisadores estrangeiros, e c) o estudo dasrelaes bilaterais.

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    A anlise desses dados mostrou-se extremamente interessante. Para efeitode sistematizao, dividimos as pesquisas solicitadas em cinco blocos temticosque, embora um tanto flexveis e admitindo subdivises, permitem dar certa unidade

    aos pedidos diversos. Em volume de pesquisas solicitadas, eles assim esto divididos:Temas de Poltica Externa (116), Histria do Brasil (33), Biografia/Memria (23),Temas Internacionais Contemporneos (6) e Temas Gerais (6).

    O grupo denominado de Temas de Poltica Externa subdivide-se em outrostrs, a saber: relaes bilaterais do Brasil (58), poltica externa brasileira (34) erelaes multilaterais/organizaes internacionais/Cone Sul (24). O tpico relativos relaes bilaterais aparece com folgada vantagem sobre os demais. Como oprprio tema sugere, so estudos voltados para a interpretao das relaes entre

    o Brasil e outros pases, em diferentes perodos histricos. As pesquisas solicitadascomumente tm carter generalizante, compreendendo mltiplos nveis, comoeconmico, social, poltico e cultural. No entanto, algumas pesquisas seconcentraram em temas especficos, tais como Cooperao Cientfica e Tecnolgicae Cooperao Nuclear do Brasil com um determinado pas. No geral, a nfaserecai, contudo, nos aspectos polticos e diplomticos propriamente ditos das relaesexteriores do Brasil. , tambm, interessante notar que, no cmputo geral daspesquisas sobre as relaes bilaterais, houve preferncia dirigida para os seguintes

    pases: Argentina (9), Estados Unidos (6), Alemanha (6), Frana (4), Inglaterra(4), Portugal (3) e Paraguai (3), sendo que, com os demais pases, se percebemaior pulverizao.32

    Quando se analisa a representao por continente no mbito das relaesbilaterais, conclui-se que a Europa aparece em primeiro lugar, com dez pasesrepresentados. Em seguida aparecem: Amrica do Sul (7), Amrica do Norte,Central e Caribe (4), frica (3), Oriente Prximo (1) e sia (1). Por um lado,estes resultados evidenciam o grande interesse despertado por Europa, Estados

    Unidos e Amrica do Sul (especificamente pelo Cone Sul, com nfase paraArgentina, Paraguai e Bolvia. Curiosamente, no aparecem nem o Chile nem oUruguai) nos pesquisadores que investigam a poltica externa brasileira, na verdade,constituindo-se em uma tendncia j histrica. Por outro, observam-se lacunasimportantes na pesquisa, sobretudo no que diz respeito ao continente asitico, queultimamente vem despertando a ateno da maioria dos analistas das relaesinternacionais pelo marcante processo de crescimento econmico dos pases daquelaregio verificado nas ltimas dcadas. J a frica, apesar de ter tido papel dedestaque para a diplomacia brasileira nos anos 70 e 80, aparece somente de formamarginal no interesse dos pesquisadores. O quadro das relaes bilaterais , portanto,bastante ilustrativo da ao da diplomacia brasileira, da importncia que determinadasreas possuem para o Brasil e do interesse dos pesquisadores pelos pases com

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    que o Brasil mantm suas relaes, apresentando preferncias ntidas com asreas economicamente mais privilegiadas.

    No segundo tpico do primeiro grupo, foram alocados os pedidos de

    pesquisa referentes a temas mais gerais da poltica externa brasileira. Nesteconjunto, incluem-se estudos tais como a poltica externa de determinado governobrasileiro (A Poltica Externa do Governo Dutra, A Poltica Externa do GovernoKubitschek etc.) e assuntos importantes da agenda externa do pas (Amaznia,Poltica Nuclear, Opinio Pblica, Estudo de Direito Internacional Pblico, a QuestoColonial Portuguesa, Participao do Brasil em Operaes de Paz, entre outros).Observao importante a fazer a lacuna verificada no que diz respeito a temasque utilizam documentao consular, a qual praticamente no despertou interesse

    entre os pesquisadores.33

    Ainda no mbito do primeiro grupo, h um terceiro tpico: o estudo dasrelaes multilaterais/organismos internacionais/Cone Sul. Neste segmento, odestaque fica por conta dos estudos sobre o Cone Sul, que, afinal, ganharam dimensoaps a consolidao do Mercosul e a evidncia ainda maior da importncia daregio para o Brasil. Assim, foram solicitadas pesquisas que objetivavam um estudoamplo sobre o Mercosul, das origens do processo de integrao regional at o maisatual estgio do bloco, com enfoques que almejavam uma viso em perspectivaampliada (por exemplo: Relaes entre o Mercosul e a Europa Ocidental,Mercosul e Estados Unidos, Relaes entre o Mercosul e os outros pases daAmrica Latina, Relaes do Mercosul com a Europa Oriental e sia eInsero Internacional do Cone Sul). No que diz respeito aos organismosinternacionais e s instituies multilaterais, evidencia-se o interesse em se estudardiversos desses organismos tais como: a Liga das Naes (o mais solicitado), oGatt, a Unctad, a Unesco, o Sistema Interamericano e alguns aspectos da ONU.Com relao a este ltimo, ressalte-se o carter pontual dos estudos solicitados.Embora muitos pesquisadores contemplem o estudo da atuao do Brasil na ONU

    como uma parte do seu trabalho, uma nica pesquisa foi solicitada para especficainvestigao do Brasil na ONU, e, mesmo assim, como ressaltado, em carterpontual (Aspectos das Relaes entre o Brasil e a ONU questo do interessebrasileiro em ser membro do Conselho de Segurana).

    O segundo grupo constitudo est dedicado ao tema da histria do Brasil.Com 33 solicitaes de pesquisas efetuadas, o estudo da histria do Brasil noarquivo do Itamaraty apresenta dois dados muito interessantes. Em primeiro lugar,h o fato de que as pesquisas de histria solicitadas so consideravelmente

    diversificadas e sugerem que boa parte dos pesquisadores que se dirigiram aoarquivo do Itamaraty o fizeram com a inteno de utilizar as fontes diplomticasbrasileiras mais como um complemento de suas pesquisas do que como as principaispara o entendimento do objeto de estudo. Em segundo lugar, possvel identificar,

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    na diversidade de temas abordados, um grupo coeso e representativo de pesquisaque o dedicado ao estudo da problemtica dos movimentos de imigrao. Comefeito, pases importantes que contriburam com fluxos de migrantes para o Brasil

    foram contemplados pelos pesquisadores, como Japo, Espanha, Portugal eAlemanha, alm de uma curiosa investigao sobre o caso de marroquinos queteriam vindo para o Brasil e do caso especfico de um estudo sobre a imigraojudaica. meritoso de nota a ausncia de estudo dirigido especificamente para ocaso da imigrao italiana (pelo menos durante o perodo demarcado neste artigo),um dos pases que mais contribuiu com imigrantes para o Brasil. Neste mesmosentido, existem lacunas ainda no preenchidas no estudo dos movimentosmigratrios mais recentes para o Brasil, tais como os de pases do Oriente Prximo,

    como a Sria e o Lbano, e do Oriente, como a Coria. E h, ainda, para citarmossomente mais dois vazios nas pesquisas sobre o tema, o caso da migrao delatino-americanos para o Brasil (muitos procedentes da Bolvia e do Paraguai, porexemplo) e de refugiados de Angola e outras partes da frica que se dirigirampara o Brasil em decorrncia da instabilidade poltica e dos conflitos blicos nocontinente africano.

    O terceiro assunto mais solicitado demonstra um aspecto importante doItamaraty como instituio e do seu arquivo para a histria do Brasil, haja vista apassagem pelo Ministrio de pessoas de destacada participao na vida poltica dopas. Trata-se da pesquisa que objetiva a elaborao de obras biogrficas e dememrias. Personalidades que participaram ativamente da histria do Brasil emdiversas reas de atuao escritores, poetas, presidentes, jornalistas, diplomatas,polticos aparecem com destaque neste tipo de trabalho, tais como: Euclides daCunha, Washington Lus, Villa Lobos, o Baro do Rio Branco, Oswaldo Aranha,Assis Chateaubriand, Graa Aranha, Domcio da Gama, Princesa Isabel, ClariceLispector, Tarsila do Amaral, Apolnio de Carvalho e Tancredo Neves.

    Como visto, havia excessiva preocupao do Itamaraty em preservar a

    imagem das pessoas, evidentemente amparado em preceito constitucional. Resultada a dificuldade que tiveram os pesquisadores que se dedicaram a estes temaspara conseguir a liberao dos documentos necessrios ao seu trabalho. Houvecasos, por exemplo, em que pessoas que intencionavam resgatar a memria defamiliares tiveram pedidos negados.

    Mas, no s a preocupao com a memria das pessoas corroboravapara o indeferimento de determinada solicitao de pesquisa. A prpria disposiodos documentos, colecionados em livros encadernados, dificulta o acesso a vrios

    tipos de pesquisa, sobretudo as que propem um perodo temporal mais amplo deinvestigao. O problema est em que estes livros contm documentos de vriostipos, misturando assuntos que podem ser considerados de sigilo maior com os quepodem eventualmente estar liberados para consulta. Como praticamente

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    impossvel impedir que um pesquisador leia outros documentos contidos no mesmovolume, chega-se ao impasse. E a soluo adotada costumava ser a de impedir aconsulta aos livros ou maos.

    Em quarto e quinto lugares, destacam-se os estudos de temas internacionaiscontemporneos e de temas gerais. No primeiro grupo, houve a solicitao de seispesquisas que enfocam assuntos relacionados histria contempornea, todos dosculo XX. So temas de interesse geral ou envolvendo diretamente assuntos quedizem respeito a outros pases, mas que se desvinculam de um envolvimentoespecfico com a agenda externa brasileira, pelo menos do ponto de vista oficial.So eles: A Guerra Civil Espanhola na Imprensa brasileira, A RevoluoCubana duas pesquisas Trabalho Integrao e Conflito entre Grupos tnicos

    no Nordeste Argentino, A Guerra do Vietn (especificamente a Ofensiva doTet, de fevereiro a agosto de 1968)e o Conflito rabe-Israelense. O reduzidonmero de pesquisas solicitadas com referncia a assuntos ligados histriacontempornea aponta para uma tendncia verificada tambm junto produohistoriogrfica como um todo no pas.34 Finalmente, com relao ao ltimo tpico,denominado temas gerais, trata-se de seis pesquisas de temas muito diversos epontuais e que no puderam ser classificados nos agrupamentos anteriores. Soeles: A Evoluo Gastrolgica das Festas Governamentais oferecidas apersonalidades estrangeiras pelo Itamaraty, A Fundao de Santo Domingode Soriano no terceiro quarto do sculo XVII (Uruguai), A Mulher Paraguaiana Segunda metade do sculo XIX, o Territrio de Fernando de Noronha, oMonumento aos iniciadores americanos da aviao e uma solicitao deInformaes sobre o desenhista e o ourives que idealizaram os colares degua-marinha e brilhantes doados pelo governo brasileiro Rainha ElizabethII, da Gr-Bretanha, por ocasio de sua coroao, formulado pelo ArquivoReal dos Pases Baixos.

    O perfil profissional dos pesquisadores que utilizaram o arquivo do Itamaraty

    demonstra-nos uma variada gama de origens profissionais. Constam desta lista asseguintes profisses, em ordem de solicitaes: Professores (98), Estudantes (31),Diplomatas (16), Jornalistas (10), Advogados (8), Economistas (5), Engenheiros(2), Militares (2), Oficial de Chancelaria (1), Tradutor (1), Clrigo (1), Mdico (1),Bibliotecrio (1), Arquivista (1), Estagirio (1) e Indeterminados (5). Estes dadosindicam que as Universidades (incluindo os cursos de ps-graduao, haja vistaque a maioria dos estudantes que solicitou pesquisas o fez tendo em mente aelaborao de dissertaes de mestrado e teses de doutorado) se constituem no

    pblico mais interessado na utilizao das fontes disponveis no Itamaraty. Muitoembora haja uma freqncia anual mdia que se mantm no perodo selecionadopara a pesquisa, no que diz respeito s solicitaes de pesquisa por parte dosprofissionais oriundos da academia, h uma tendncia para o crescimento deste

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    tipo de usurio, sobretudo porque o estudo da poltica externa brasileira e dasrelaes internacionais vem crescendo consideravelmente no pas nos ltimos anos,com o surgimento de vrios novos cursos de graduao em Relaes Internacionais

    e da consolidao da ps-graduao na rea (em Histria, Relaes Internacionaise reas afins), que o caso, por exemplo, da Universidade de Braslia. Em segundolugar, os dados demonstram o carter funcional do Arquivo para os diplomatas,que freqentemente recorrem aos documentos, seja para a elaborao de suasteses de promoo profissional, seja para a utilizao de documentos do Arquivocomo fontes para esclarecer questes recorrentes de poltica externa brasileira,que so usadas em seus relatrios, estudos e memorandos.

    Um dado importante revelado na pesquisa diz respeito aos pesquisadores

    estrangeiros que requereram autorizao para efetuar consultas no arquivo doItamaraty. Em primeiro lugar, chame ateno pelo fato de representarem cerca de30% dos pedidos solicitados. um nmero relativamente alto. Em segundo lugar,pelo fato de procederem de 25 diferentes pases, representando, pois, todos oscontinentes.

    Os argentinos e os norte-americanos foram os que mais solicitaram acessoao arquivo do Itamaraty. Foram nove solicitaes feitas por dois grupos depesquisadores argentinos; a primeira em 1994 e a segunda em 1995. J os norte-americanos aparecem igualmente com nove solicitaes, porm, de forma individual.

    No que tange aos argentinos, a permisso para a pesquisa com relao solicitao do primeiro grupo foi postergada pelo Itamaraty em decorrncia daabordagem generalizante e pela falta de adequao da solicitao legislaovigente, o que levou desistncia da pesquisa por parte dos pesquisadores. Osegundo grupo teve seu pedido atendido, mas, por tratar-se de um projeto conjuntocom professores brasileiros, a freqncia dos argentinos resultou muito restrita. E ponto para reflexo o fato de que justamente a segunda solicitao, comparticipao de notrios professores brasileiros, que tenha sido a atendida,

    sobretudo porque ambas propunham o estudo de temas afins: a primeira, o Mercosul;a segunda, a insero internacional do Cone Sul, em uma perspectiva cronolgicamuito mais ampla. Enfim, no caso dos pesquisadores argentinos, preciso relativizaros valores absolutos da pesquisa com os dados reais de acesso documentao.Neste caso especfico, foi possvel acompanhar toda a tramitao do pedido eobservar o resultado final, acima destacado.

    Juntamente com os argentinos, os norte-americanos aparecem no topo dalista com nove pedidos de pesquisa solicitados ao Itamaraty. Contudo, diferentemente

    dos primeiros, os pesquisadores provenientes dos Estados Unidos caracterizam-sepor uma diversidade maior com relao aos temas de pesquisa. Das novesolicitaes, trs visam ao estudo de histria das relaes internacionais: duassobre as relaes Brasil-Estados Unidos e uma sobre Brasil e frica (esta ltima

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    no foi efetivamente levada a efeito). Os outros temas, exceo de uma biografiade Oswaldo Aranha, buscam o estudo da Histria do Brasil, em vrios aspectos:Histria da imigrao no Brasil (1950-1959); histria do clero brasileiro e do clero

    estrangeiro no Brasil (1930-1980); Famlia, alimentao e trabalho nosempreendimentos de extrao de borracha da Ford no Brasil (1929-1945); Daescravido liberdade na Bahia (1791-1900); O culto da santidade no sculo XVIno Brasil.

    De outras nacionalidades, destaque para trs solicitaes de pesquisa porparte de pesquisadores dos seguintes pases: Alemanha, Frana, Portugal e Uruguai.Os demais pases, relacionados em anexo, tiveram um nico pesquisador solicitandoacesso ao Arquivo. Destes, a maioria solicitou pesquisas relacionadas ao tema das

    relaes bilaterais ou algum aspecto da poltica externa brasileira.Dos ausentes, destaque maior pode ser dado, na Amrica, aos bolivianos eparaguaios; e, na Europa, aos italianos e espanhis. Bolvia e Paraguai so paseslimtrofes e para os quais o Brasil representa muito em termos estratgicos eeconmicos e, quando se considera a importncia poltica que este tem para aqueles,influencia de certa maneira na vida poltica daquelas naes, evidenciando-se umaextensa lacuna para as cincias sociais e a histria das relaes internacionais deambos. Afinal, muitos mitos e interpretaes genuinamente nacionais poderiamser revistos. Itlia e Espanha, mais o primeiro que o segundo, tambm possuem umhistrico de relacionamento com o Brasil muito importante, realado pela presenade imigrantes, investimentos e por momentos histricos marcantes. A compreensomtua s teria a ganhar com a presena de pesquisadores destes pases no arquivodiplomtico brasileiro.

    Outra caracterstica encontrada nas solicitaes de pesquisa por parte dosestrangeiros diz respeito aos objetivos das pesquisas solicitadas. Com efeito, 40%dos objetivos declarados indicavam a preparao de teses de doutorado, 29% aconfeco de livros, 22% indeterminados, 7% dissertaes de mestrado e 2% a

    elaborao de artigo. possvel conjeturar sobre a qualificao do pesquisadoresestrangeiros, que aparentemente detm boa qualificao e experincia no campoda pesquisa (alguns, naturalmente, so cientistas sociais e historiadores bastanteconhecidos no Brasil, como Stanley Hilton, por exemplo).

    Ao se confrontar a sistemtica de anlise para permisso de acesso aosdocumentos contidos no arquivo do Itamaraty por parte dos pesquisadores nacionaiscom as solicitaes elaboradas por estrangeiros, percebe-se maior preocupao erigor com a anlise das propostas de pesquisa. Isto se explica pelo fato de o Arquivo

    conter documentao diplomtica afeta ao relacionamento do Brasil com outrospases, emanando da, inevitavelmente, uma srie de impresses e pontos de vistaoficiais do Brasil com relao a outros pases, o que poderia, dependendo dautilizao da informao, causar certos embaraos para a diplomacia brasileira.

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    Assim, houve casos de negao de pedidos por parte do Itamaraty, sejapela delicadeza das matrias propostas, como por exemplo, no caso das disputasentre Equador e Peru por uma regio fronteiria que levou recentemente a conflitos

    armados entre os dois pases, seja pela simples constatao de que, para o pedidoproposto, o acervo do Arquivo no conteria documentao adequada. H, ainda, ano realizao de pesquisas simplesmente porque o pesquisador solicitou o acessoao Arquivo, teve seu pedido atendido, porm nunca apareceu para realizar apesquisa. Ressalte-se, entretanto, que a poltica de restrio e/ou acesso documentao tambm prevalece para pesquisadores brasileiros, existindo vrioscasos de denegao de pedidos.

    Concluso

    O acesso ao Arquivo Histrico do Itamaraty sempre foi visto peloshistoriadores, e pelos interessados em estudar as relaes internacionais do Brasil,como muito problemtico. Sem dvida, esta no era uma percepo equivocada.As dificuldades que quase impediam totalmente a investigao no arquivodiplomtico brasileiro foram gradualmente sendo removidas. O interesse sobre apoltica internacional, cada vez mais manifestado pela sociedade, vem contribuindo

    de maneira decisiva para a abertura da documentao diplomtica brasileira eabrindo espaos para uma mudana qualitativa das discusses em torno do tema.

    Corroborando com esta assertiva, o meio acadmico brasileiro contaatualmente com dois cursos de ps-graduao voltados especificamente para oestudo da Histria das Relaes Internacionais: um na Universidade de Braslia(UnB), funcionando desde meados da dcada de 1970 e que possui dois nveis deps-graduao Mestrado e Doutorado , j tendo produzido substancialconhecimento nessa rea; e outro, mais recente, constitudo na Universidade

    Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) com o nvel de Mestrado. Some-se a isso ofato de existirem no pas outros cursos de ps-graduao na rea de RelaesInternacionais na Universidade de Braslia e na Pontifcia Universidade Catlicado Rio de Janeiro (PUC), ambos com o nvel de Mestrado.

    As mudanas introduzidas com a redemocratizao do pas e comConstituio de 1988 abriram novas perspectivas para a pesquisa histrica no arquivodo Itamaraty. Aps 1988 e at a regulamentao da legislao de acesso documentao em 1997, lentamente operou-se produtiva transformao namentalidade e na poltica de acesso a documentos pblicos no pas. Desta forma, opblico interessado na histria da poltica exterior do Brasil, e no estudo das relaesinternacionais, tem agora disposio um rico e valioso acervo documental queservir como subsdio para a compreenso e explicao da insero internacional

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    do pas, suas relaes com outras naes e a consolidao do conhecimento nacionalsobre um tema que vem ganhando destaque nos ltimos anos.

    Ainda no explorado de forma consistente pelos pesquisadores, talvez por

    falta de conhecimento das transformaes que operaram a liberao do seu acervo,o arquivo do Itamaraty, com a valiosa documentao disponvel, certamente seconstitui em fonte inesgotvel e praticamente virgem de fontes para a Histriado Brasil. A liberao do acervo vem, portanto, em momento profcuo em que aacademia se esfora para consolidar a rea dos estudos de poltica internacional,estreitando o intercmbio entre as universidades e o Ministrio das RelaesExteriores.

    Sem embargo, a possibilidade de acesso documentao, assegurada por

    legislao das mais liberais, alm de promover a produo de conhecimento histricode qualidade e embasado em fontes primrias, ir permitir uma reviso doconhecimento acerca da histria das relaes internacionais do Brasil e consolidarmaior participao da sociedade nos rumos da poltica externa brasileira. Portanto,contando com uma produo slida referente ao tema em apreo, e que dispe devaliosas contribuies que j se tornaram clssicas como os estudos dosprofessores Amado L. Cervo, Clodoaldo Bueno, Gerson Moura, Jos Flvio S.Saraiva, Jos Honrio Rodrigues e Moniz Bandeira35 (entre outros) , os

    pesquisadores preocupados em aprofundar e fazer avanar o conhecimento e areflexo sobre os assuntos voltados para a insero internacional do Brasilcertamente sero beneficiados pela possibilidade de acesso a fontes imprescindveispara a compreenso dessa vertente da Histria do Brasil, para a qual o acervo doArquivo Histrico do Itamaraty fundamental, e sem o qual prevaleceria tosomente o conhecimento produzido atravs de fontes estrangeiras, o que resultariaem uma viso parcial e em perspectiva que no corresponderia a uma visobrasileira sobre temas to relevantes para o pas.

    Outubro de 1999

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    Anexos

    Quadro 1Estudo das Relaes Bilaterais (1987-1998)

    ESTUDOS DE RELAES BILATERAIS

    RELAES BRASIL ANOS

    87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 Total

    frica do Sul - - - - - - - - - - 1 - 1

    Alemanha - - - - 1 1 - 2 - 1 1 - 6

    Argentina - - 2 - 2 1 - 1 1 - - 2 9

    Austro-Hngaro (Imprio) - - - - - - 1 - - - - - 1

    Bolvia 1 1 - - - - - - - - - - 2

    China - - - - - - - - 1 - - - 1

    Colmbia - - - - - - - - 1 - - - 1

    Costa Rica 1 - - - - - - - - - - - 1

    Cuba - - - - - - 1 - - - - - 1

    Equador - - - - - - - - 1 - - 1 2

    Espanha - - - - - - - 1 - - - - 1Estados Unidos 1 2 - - 1 1 - - - - 1 - 6

    Frana - - - - - - - - 2 2 - - 4

    Inglaterra - - - 1 - - - - - 1 - 2 4

    Irlanda - - - - - - - - - - 1 - 1

    Israel - - - - - - - - - - - 1 1

    Itlia - - - - - - 1 - - - - - 1

    Marrocos 1 - - - - - - - - - - - 1

    Mxico - - - - - - - - - - 1 - 1Paraguai 1 - - - - - - 2 - - - - 3

    Peru - - - - - - - - 1 - - - 1

    Portugal - - - - - 1 - 2 - - - - 3

    Rssia (Imprio) - 1 - - - - - - - - - - 1

    Senegal - - - - - 1 - - - - 1 - 2

    Vaticano (Santa S) - - - - - - 1 - - - - - 1

    Venezuela - - 1 - - - - - - - - - 1

    Subtotal/Total 5 4 3 1 4 5 4 8 7 4 7 6 58

    Fonte: Formulrios de solicitao de pesquisa arquivados na Seo de Arquivo Histrico do Itamaraty emBraslia.

    RELAES BRASIL

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    A PESQUISAHISTRICANOITAMARATY 139

    Quadro 2Perfil Profissional dos Pesquisadores que Solicitaram Pesquisas no

    Arquivo do Itamaraty (1987-1998)

    PERFIL PROFISSIONAL DOS PESQUISADORES

    PROFISSO ANOS

    87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 Total

    Professor/Pesquisador 14 9 9 - 7 10 3 13 14 3 7 9 98

    Estudante - 3 - 1 1 1 - 4 3 4 8 6 31

    Diplomata 2 1 - - 4 - 1 - 1 2 3 2 16

    Jornalista 2 2 - 1 - - 2 - - 2 1 - 10

    Advogado 2 1 - - - - 2 1 1 - 1 - 8

    Economista - 1 - - - - 1 1 2 - - - 5

    Engenheiro 1 1 - - - - - - - - - - 2

    Militar 1 - - - - - 1 - - - - - 2

    Oficial de Chancelaria - - - - - - - - - - - 1 1

    Tradutor - 1 - - - - - - - - - - 1Clrigo - - - - - - - - 1 - - - 1

    Mdico - - - 1 - - - - - - - - 1

    Bibliotecrio - - - 1 - - - - - - - - 1

    Arquivista 1 - - - - - - - - - - - 1

    Estagirio - - - - - - - - - - - - 1

    Indeterminado - 3 2 - - - - - - - 1 - 5

    Subtotal/Total 23 22 11 4 12 11 10 19 22 11 21 18 184

    Fonte: Formulrios de solicitao de pesquisa arquivados na Seo de Arquivo Histrico do Itamaraty emBraslia.

    PROFISSO

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    140 PIOPENNAFILHO

    Quadro 3Pesquisadores Estrangeiros que Solicitaram Pesquisa no Arquivo do

    Itamaraty (1987-1998)

    PESQUISADORES ESTRANGEIROS

    ANOS

    87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 Total

    Alemanha - - 1 - - - - - - - 1 1 3

    Argentina - - - - - - - 5 4 - - - 9

    Austrlia 1 - - - - - - - - - - - 1

    ustria - 1 - - - - - - - - - - 1

    Colmbia - - - - - - - - 1 - - - 1Costa do Marfim - - - - - - - - 1 - - - 1

    Costa Rica 1 - - - - - - - - - - - 1

    Cuba - - - - - - 1 - - - - - 1

    Equador - - - - - - - - - - - 1 1

    Estados Unidos 2 - 1 - 1 3 - - - 1 1 - 9

    Frana - - - - - - - - 1 - 2 - 3

    Hungria - - - - - - 1 - - - - - 1

    Inglaterra - 1 - - - - - - - - - - 1

    Japo - - - 1 - - - - - - - - 1

    Marrocos 1 - - - - - - - - - - - 1

    Pases Baixos 1 - - - - - - - - - - - 1

    Peru - - - - - - - - 1 - - - 1

    Polnia - - - - - - - - - - 1 - 1

    Porto Rico - - 1 - - - - - - - - - 1

    Portugal - 1 - - - - - 2 - - - - 3Senegal - - - - - - - - - - 1 - 1

    Sua - - - 1 - - - - - - - - 1

    Unio Sovitica - 1 - - - - - - - - - - 1

    Uruguai - - - - - - 1 1 - - 1 - 3

    Zimbbue - 1 - - - - - - - - - - 1

    Subtotal/Total 6 5 3 2 1 3 3 8 8 1 7 2 49

    Fonte: Formulrios de solicitao de pesquisa arquivados na Seo de Arquivo Histrico do Itamaraty emBraslia.

    PAS DE ORIGEM

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    A PESQUISAHISTRICANOITAMARATY 141

    Notas

    1 Carta do Baro do Rio Branco, datada de Berlim, em 7 de agosto de 1902. Manuscrito do

    Arquivo Histrico do Itamaraty (RJ).2 A legislao vigente no usa o termosecreto-exclusivo, mas sim ultra-secreto, portanto, o seuequivalente. A discusso sobre a legislao de acesso aos documentos sigilosos ser feita maisadiante.

    3 Regulamentado pelo Decreto N 2.134, de 24/01/1997. Publicado noDirio Oficial da Unioem 27 de janeiro de 1997.

    4 Existem ainda outras espcies de documentos produzidos pelo Ministrio ou afetos diretamentea ele e que podem ser divididos em seis categorias: Correspondncia de Uso Interno(Ofcio-Verbal, Despacho, Telegrama, Despacho telegrfico, Fax, Memorandum, Minimemo, InformaoInterna e o Guia de Mensagem e Documentao), Correspondncia Assinada (Carta deChancelaria, Carta de Gabinete, Exposio de Motivos, Informao ao Presidente da Repblica,Nota, Aviso, Ofcio e Carta), Correspondncia No-Assinada [Verbal] (Nota-Verbal), Circulares(Circular-Postal, Circular-Telegrfica, Nota-Circular),Expedientes do MRE (Boletim de Servio,Texto de Servio e Instruo de Servio) e Outros Tipos de Expediente que podem ser afetosao Ministrio(Mensagem, Portaria, Decreto eAide-Mmoire). Boa parte destes documentos,no entanto, diz mais respeito aos assuntos da burocracia interna do Ministrio, envolvendoassuntos meramente administrativos e que so geralmente descartados, no compondo o ArquivoHistrico.

    5 Doravante, as iniciais MRE sero usadas como abreviao para Ministrio das Relaes Exteriores.6 Sobre o sistema de classificao decimal que era empregado pelo Itamaraty ver: MINISTRIO

    DAS RELAES EXTERIORES. ndice Decimal para a Classificao da Correspondncia

    (v 1).Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1934.7 MINISTRIO DAS RELAES EXTERIORES. Manual de Classificao, Indexao,

    Distribuio e Arquivo. Braslia: MRE, 1994, p. 103.8 Ibid,p.10.9 Um documento pode ser desclassificado ou reclassificado pela Comisso. No primeiro caso,

    geralmente o documento liberado para consulta pblica. No segundo, pode-se reduzir o grau desigilo ou mesmo elev-lo, dependendo do entendimento da Comisso. O mais comum,naturalmente, a desclassificao de documentos.

    10 Denomina-se o arquivo do Rio de Janeiro como Arquivo Histrico do Itamaraty. O de Braslia designado como Arquivo do Ministrio das Relaes Exteriores. De acordo com o RISE/1987

    (Regimento Interno da Secretaria de Estado das Relaes Exteriores) o acervo de documentosdatados a partir de 1970 ser guardado no Setor de Arquivo Permanente em Braslia e o anteriorquela data, no Setor de Arquivo Histrico no Rio de Janeiro, sob a orientao e coordenao daSeo de Arquivo Histrico. Embora haja tal determinao, o acervo documental do Arquivodo Ministrio das Relaes Exteriores contm documentos de natureza sigilosa, os quais remontamaos anos 30, mas com nfase de 1949 em diante. Da mesma forma, a documentao ostensiva,a partir de 1959/1960, encontra-se em Braslia. Sobre o RISE, ver: BRASIL. Ministrio dasRelaes Exteriores.MRE Servio Exterior e Organizao Bsica. Braslia: SEMOR/MRE,1987.

    11 Jos Honrio Rodrigues, por exemplo, apontava as dificuldades do estudo de eventoscontemporneos assinalando, dentre outras, justamente a dificuldade de acesso documentaono Brasil. Citado em: A Traio Inconstitucional. Rio de Janeiro, Tribuna da Imprensa, 01/02/1989. Tambm o historiador Hlio Silva, referindo-se especificamente ao arquivo do Itamaraty,criticava o Ministrio por manter uma prtica muito restritiva de acesso documentao,citando inclusive o seu prprio testemunho diante das dificuldades por ele encontradas quando

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    escreveu sobre a Segunda Guerra Mundial. De acordo com oJornal do Brasil, apesar da amizadedo historiador com o Ministro Abreu Sodr o que lhe teria facilitado o acesso a algunsdocumentos, porm no a todos , aquele somente obteve as informaes que desejava sobre otorpedeamento de navios mercantes brasileiros atravs de um professor alemo, que lhe franqueouos relatrios dos comandantes dos submarinos alemes que atuaram nas costas do Brasil. interessante notar que, poucos anos aps a denegao do pedido do historiador Hlio Silva, opesquisador norte-americano Stanley Hilton obteve autorizao para ver toda a documentaoreferente participao do Brasil na Segunda Guerra Mundial, inclusive com respeito atuaoda espionagem alem no Brasil, que resultou no livro Sustica sobre o Brasil.Sobre o depoimentode Hlio Silva, ver: Itamaraty facilitar o acesso a arquivo, mas esconder documentos. Rio deJaneiro,Jornal do Brasil, 29/01/1989.

    12 No que diz respeito a esse assunto, existem no arquivo do Itamaraty documentos em abundncia,tais como: Relatrios sobre o movimento comunista em regies especficas do mundo (AmricaLatina, sia e frica, por exemplo), Relatrios sobre atividades comunistas em determinados

    pases que interessavam mais diretamente ao Brasil (Uruguai, Bolvia e Argentina, por exemplo),Informes sobre Instituies Internacionais que suposta ou oficialmente tinham ligaes com omovimento comunista internacional, Informes sobre a atuao de estrangeiros ligados a PartidosComunistas que viviam no Brasil, Informes sobre as atividades de brasileiros no exterior suspeitosde atividades esquerdistas (exilados, estudantes ou outros), Informes repassados ao Itamaratypor outras agncias nacionais ligadas segurana do Estado ou represso, como DOPS,Ministrios militares (sobretudo o do Exrcito) e trocas de informaes com Agncias ouEmbaixadas de outros pases interessadas no combate ao movimento comunista.

    13 BRASIL. Constituio (1988). Texto Constitucional de 5 de outubro de 1988 com as alteraesadotadas pelas Emendas Constitucionais n 1/92 a 4/93 e Emendas Constitucionais de Revison 1 a 6/94. Braslia: Senado Federal, Centro Grfico, 1994. Respectivamente Captulo I, Artigo5 XIV e XXXIII, p. 6 e 7.

    14 Publicado noDirio Oficial da Uniode 25 de outubro de 1988.15 Portaria N 593, de 12 de Outubro de 1988, publicada no Dirio Oficial da Uniode 25/10/

    1988.16 Carta dirigida Redao do jornalFolha de So Paulo, datada de Braslia, 03 de fevereiro de

    1989, assinada pelo Embaixador Srgio F. Guarischi Bath, presidente da Comisso Permanentede Reviso do Arquivo Histrico do Ministrio das Relaes Exteriores.

    17 Portaria N 594, de 12 de Outubro de 1988, publicada no Dirio Oficial da Uniode 25 deoutubro de 1988.

    18 Ipsis litteris.

    19 Idem.20 Itamaraty facilitar o acesso a arquivo, mas esconder documentos.Jornal do Brasil, 28/01/1989.

    21 Professores so contra a proibio.Folha de So Paulo, 02/02/1989. A resposta aos durostermos colocados pela professora Tucci Carneiro veio na carta que o Presidente da ComissoPermanente, Embaixador Srgio Bath, enviou para o jornalFolha de So Paulo. Nessa carta, oEmbaixador argumentava que o prazo maior exigido para a liberao de documentos relativos vida particular das pessoas no deveria servir para proteger documentos de relevncia pblica,mas s aqueles que incidam exclusivamente no terreno da intimidade, a vida privada, a honra ea imagem das pessoas, que a Constituio vigente declara inviolveis. Carta dirigida Redaodo jornal Folha de So Paulo, datada de Braslia, 03 de fevereiro de 1989 e assinada peloEmbaixador Srgio F. Guarischi Bath, Presidente da Comisso Permanente de Reviso doArquivo Histrico do Ministrio das Relaes Exteriores.

    22 Neste caso, o critrio para acesso passa pela anlise da solicitao do pesquisador por parte dofuncionrio do Itamaraty encarregado da chefia da DCA (Diviso de Comunicaes e Arquivo).

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    A PESQUISAHISTRICANOITAMARATY 143

    Eventualmente, em se tratando de tema polmico, o pedido encaminhado para instnciassuperiores, o que geralmente significa anlise por parte da chefia do DCD (Departamento deComunicaes e Documentao), ou at mesmo pela rea poltica do Ministrio.

    23 Portaria de 30 de setembro de 1992 do Gabinete do Ministro de Estado das Relaes Exteriores(Celso Lafer). Publicada noDirio Oficial da Uniode 01 de outubro de 1992.

    24 Idem, ibidem.Os primeiros membros nomeados para a Comisso foram: Embaixador JooHermes Pereira de Arajo (Presidente), Embaixador Srgio Bath, Embaixador Gelson FonsecaJnior, Embaixador Synesio Sampaio Goes Filho, Professor Celso Lafer, Professor MarceloPaiva de Abreu, Doutora Celina do Amaral Peixoto. Cf. Portaria de 7 de janeiro de 1993,Gabinete do Ministro de Estado das Relaes Exteriores, publicada noDirio Oficial da Uniode 8 de janeiro de 1993. Como a Portaria de criao da Comisso de Estudos de HistriaDiplomtica estabelecia um mandato de trs anos e permitia a reconduo dos membros pormais um perodo, em 04 de abril de 1996 foi emitida outra Portaria de nomeao, havendosomente duas substituies, as dos Embaixadores Gelson Fonseca Jnior, pelo Embaixador

    Joo Clemente Baena Soares, e Synesio Sampaio Goes Filho, pelo Embaixador Geraldo HolandaCavalcanti. Portaria de 4 de abril de 1996, Gabinete do Ministro de Estado das RelaesExteriores.

    25 Lei N 8.159, de 08 de janeiro de 1991. (Dispe sobre a poltica nacional de arquivos pblicose privados e d outras providncias.)

    26 Portaria de 27 de agosto de 1992, assinada pelo Ministro Celso Lafer.27 Observe-se o carter vago e impreciso estipulado pela lei com relao possibilidade de liberao

    de documentos por parte dos herdeiros do titular. No est designado quais herdeiros teriam opoder de autorizar a consulta, o que pode provocar, por exemplo, controvrsias no mbitofamiliar e dificultar a deciso de liberao documental por parte do responsvel pela guarda dosdocumentos.

    28 Decreto N 2.134, de 24/01/1997. Publicado noDirio Oficial da Unioem 27 de janeiro de1997. esta a legislao em vigor.

    29 Idem, ibidem, artigo 20. Note-se que os documentos classificados como ostensivos noapresentam carter sigiloso, portanto no constam desta relao.

    30 Idem, ibidem. Artigos 28 e 29.31 Esta documentao encontra-se na Seo do Arquivo Histrico do Ministrio das Relaes

    Exteriores, em Braslia.32 Ver Quadro 1 anexo com a relao completa dos pases estudados.33 A documentao consular muito interessante, sobretudo para quem deseja investigar temas

    que escapem s tradicionais anlises das relaes polticas e econmicas. Neste tipo de

    documentao, o pesquisador ir deparar-se, entre outros, com documentos que retratamproblemas comuns no cotidiano dos brasileiros no exterior, pedidos de vistos, informaessobre contrabando e, no caso dos consulados nas regies fronteirias, a realidade destas fronteiras. preciso considerar tambm que, em alguns pases, na ausncia de Embaixadas ou legaes, erao consulado que desempenhava a misso de manter a Chancelaria brasileira informada sobre aconjuntura do pas, assim como se responsabilizava pelos assuntos comerciais.

    34 Um balano da produo historiogrfica brasileira nos anos oitenta pode ser encontrado em:FICO, Carlos & POLITO, Ronald. A Histria no Brasil (1980-1989): elementos para umaavaliao historiogrfica. Ouro Preto: Ed. da UFOP, 1992.

    35 Dentre a produo dos autores relacionados, destaca-se: CERVO, Amado L.As relaes histricasentre o Brasil e a Itlia; o papel da diplomacia. Braslia: Editora da Universidade de Braslia,1992. CERVO, Amado L. & BUENO, Clodoaldo.Histria da poltica exterior do Brasil. SoPaulo: tica, 1992. BUENO, Clodoaldo.A Repblica e sua Poltica Exterior (1889 a 1902).Braslia: IPRI, 1996. MONIZ BANDEIRA, L. A.Brasil-Estados Unidos; a rivalidade emergente(1950-1988). Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1989. MONIZ BANDEIRA, L. A .Presena

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    dos Estados Unidos no Brasil; dois sculos de histria. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira,1973. MOURA, Gerson.Autonomia na Dependncia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.MOURA, Gerson. Sucessos e Iluses; relaes internacionais do Brasil durante e aps aSegunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Fundao Getlio Vargas, 1991. SARAIVA, JosFlvio Sombra. O lugar da frica; a dimenso Atlntica da diplomacia brasileira (de 1946 anossos dias). Braslia: Editora da Universidade de Braslia, 1996. RODRIGUES, Jos Honrio.

    Interesse Nacional e Poltica Externa. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1966.

    Resumo

    Este artigo versa sobre a pesquisa histrica no arquivo do Itamaraty.Analisando a estrutura do Arquivo, a evoluo das regras de acesso aos documentos

    diplomticos brasileiros e as pesquisas nele efetuadas entre 1987-1998, o autoraponta que a Constituio de 1988 operou significativas mudanas no que concerneao acesso documentao contida no Arquivo, facilitando e estimulando novaspesquisas no campo da histria das relaes internacionais do Brasil.

    Abstract

    This article deals about historical research at Itamaratys archive. Byanalyzing the structure of the archive, the evolution of the rules regarding theaccess to Brazilian diplomatic documents and the researches occurred in that archiveduring the period of 1987 to1998, the author argues that the Brazilian 1988Constitution not only changed the rules of access to the documentation kept in thearchive but also facilitated and stimulated researches about history of Brazilianinternational relations.

    Palavras-chave: Arquivo Histrico do Itamaraty. Pesquisa Histrica. Legislao.Key-words: Itamaratys Archive. Historical Researches. Legislation.