pelos caminhos misteriosos do estágio profissional ... · a ser professor de educação física....
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Pelos Caminhos “Misteriosos” do
Estágio Profissional: Aprender a Ser
Professor de Educação Física
Relatório de Estágio Profissional
Relatório de Estágio Profissional apresentado
à Faculdade de Desporto da Universidade do
Porto com vista à obtenção do 2º ciclo de
Estudos conducente ao grau de Mestre em
Ensino de Educação Física nos Ensinos
Básico e Secundário (Decreto-lei nº 74/2006
de 24 de março e o Decreto-lei nº 43/2007 de
22 de fevereiro).
Orientadora: Professora Patrícia Gomes
Renato Alípio Pires Elias
Porto, setembro de 2015
II
Ficha de Catalogação
Elias, R. (2015). Pelos Caminhos “Misteriosos” do Estágio Profissional: Aprender
a Ser Professor de Educação Física. Relatório de Estágio Profissional. Porto: R.
Elias. Relatório de Estágio Profissional para a obtenção do Grau de Mestre em
Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, apresentado à
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, EDUCAÇÃO FÍSICA,
MODELO DE EDUCAÇÃO DESPORTIVA, RETENÇÃO NA APRENDIZAGEM,
REFLEXÃO.
III
“Nunca devem perder de vista que, objetivamente, são apenas vocês os
proprietários do vosso EP. São vocês os principais protagonistas da vossa
evolução e transformação, com a particularidade de serem simultaneamente
agentes e sujeitos da história da vossa mudança. Repousa sobretudo em vós a
autorresponsabilidade pelo vosso crescimento e desenvolvimento, bem como a
busca da vossa identidade enquanto futuros docentes”.
(Rolim, 2013, p. 83)
V
AGRADECIMENTOS
À minha mãe, ao meu pai e à minha família, pelo apoio e esforço
incondicional, por sempre acreditarem e por me educarem de forma a tornar-me
o homem que hoje sou.
À Joana e à Ângela, porque para além de irmãs são amigas e, por muito
que a distância nos separe, estão sempre ao meu lado.
Ao Macedo, ao Osório, ao Viana e a toda a malta do Duplex, porque vocês
são a família que eu escolhi. Pela amizade fomentada e por todos os momentos
vividos ao longo destes cinco anos. Porque esta amizade não se resume a esta
etapa, mas perdurará para toda a vida.
Aos Flyers Desportus, por me fazerem voar tão alto na minha vida
académica. Porque de uma capa misteriosa surgiu uma pessoa mais forte e
capaz.
Aos meus putos! Porque apesar de a vida nos ter dado rumos diferentes,
a amizade continua sempre igual como se o tempo não passasse. Porque cada
pessoa nos dá um pouco de si e se hoje sou o que sou, também o devo a vocês.
À Ju, pelo apoio incondicional e dedicação ao longo desta etapa da minha
vida. Porque cada vez que parecia que tudo ia desabar, tu foste o pilar que me
fez erguer e prosseguir em frente!
Ao professor cooperante, Avelino Azevedo, pelo acompanhamento
prestado ao longo de todo ano, pela disponibilidade para me auxiliar nos
momentos mais difíceis, pela partilha de ideias e por acreditar nas minhas
capacidades.
VI
À professora orientadora, Patrícia Gomes, pelo acompanhamento e
orientação prestada ao longo de todo o ano. Por me aconselhar e me guiar para
ultrapassar os obstáculos encontrados na prática.
Ao Hugo e ao Fábio, por todos os momentos partilhados ao longo deste
ano. Pelo núcleo duro que nos tornamos e pela partilha de conhecimentos.
Aos meus alunos, porque vocês foram a razão de todas as minhas
angústias e constrangimentos, mas o sabor da vitória por vos ver aprender e
tornarem-se cada vez melhores valeu por cada segundo despendido na busca
das melhores soluções.
À FCDEF, por todo o conhecimento partilhado ao longo destes 5 anos e,
essencialmente, por me ter fomentado o gosto pela procura incessante de
conhecimento.
Um Sincero Obrigado!
Índice Geral
AGRADECIMENTOS ......................................................................................... V
Resumo ............................................................................................................. XI
Abstract ........................................................................................................... XIII
Abreviaturas .................................................................................................... XV
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1
2. DIMENSÃO PESSOAL................................................................................... 5
2.1 Reflexão Autobiográfica ............................................................................ 6
2.2 Expetativas ............................................................................................... 9
3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL .................................. 13
3.1 O Estágio Profissional na sua dimensão concetual, legal, institucional e
funcional ........................................................................................................ 13
3.2 A escola como instituição ........................................................................ 15
3.3 A Escola Cooperante e a Comunidade Escolar ...................................... 16
3.4 A Turma Residente (11º Ano) ................................................................. 18
3.5 A Turma Partilhada (5º Ano) ................................................................... 21
4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL ............................................. 25
4.1 Conceção do Processo de Ensino .......................................................... 25
4.2 Planeamento do Processo de Ensino ..................................................... 31
4.2.1 Planeamento anual ........................................................................... 32
4.2.2 Unidade Didática............................................................................... 35
4.2.3 Plano de aula .................................................................................... 38
4.3 Realização do processo de Ensino ......................................................... 41
4.3.1 Sistema Instrucional .......................................................................... 42
4.3.1.1 A Demonstração ........................................................................ 45
4.3.1.2 Palavras-Chave ......................................................................... 47
4.3.1.3 Questionamento ........................................................................ 48
4.3.1.4 Feedback ................................................................................... 50
4.3.1.5 Modelos Instrucionais ................................................................ 54
4.3.1.5.1 Modelo de Instrução Direta ................................................. 54
4.3.1.5.2 Modelo de Educação Desportiva ........................................ 56
VIII
4.3.1.6 Estudo de Investigação: O Efeito do Modelo de Educação
Desportiva na Aprendizagem dos Alunos no Futebol ............................ 59
Resumo .............................................................................................. 59
Introdução .......................................................................................... 59
Metodologia de Recolha .................................................................... 63
Apresentação dos resultados ............................................................. 68
Discussão de Resultados ................................................................... 69
Conclusões ........................................................................................ 71
Referências Bibliográficas .................................................................. 73
4.3.2 Sistema de Gestão de Tarefas ......................................................... 76
4.3.3 Sistema Social .................................................................................. 83
4.3.3.1 Diferenciação Pedagógica ......................................................... 87
4.4 Avaliação ................................................................................................ 88
5. PARTICIPAÇÃO NA ESCOLA E RELAÇÕES COM A COMUNIDADE ....... 97
5.1 Participação nas atividade da escola ................................................... 99
5.1.1 Corta-mato escolar ....................................................................... 99
5.1.2 Evento “Mexe-te” ........................................................................ 100
5.1.3 Sarau Desportivo ........................................................................ 103
5.1.4 Ateliê de Educação Física .......................................................... 104
5.2 Desporto Escolar ............................................................................... 106
5.2.1 Badminton .................................................................................. 107
5.2.2 Basquetebol 3x3 ......................................................................... 109
5.3 Direção de Turma .............................................................................. 111
6. DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL .................................................... 115
7. CONCLUSÃO E PERSPETIVAS PARA O FUTURO ................................. 121
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 123
IX
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1: Época Desportiva 64
Quadro 2: Tomada de decisão nos princípios ofensivos 66
Quadro 3: Tomada de decisão nos princípios defensivos 66
Quadro 4: Execução das habilidades técnicas 67
Quadro 5: Análise estatística de ITD, IEH e PGJ, nos três
momentos de avaliação. 68
Quadro 6: Valores de p entre os vários momentos de avaliação na
variável PGJ. 68
XI
Resumo
O Estágio Profissional apresenta-se como a etapa final da formação inicial do
professor, onde ocorre o confronto entre os conhecimentos adquiridos com a
prática real de ensino. Com efeito, sendo este o momento em que o Estudante
Estagiário vive pela primeira vez este confronto, com ele surge uma série de
dificuldades provenientes do contexto e da sua inexperiência prática. Por
conseguinte, emerge a necessidade de refletir, pesquisar e experimentar novos
saberes e estratégias, que permitam ao Estudante Estagiário superar esses
mesmos obstáculos. O presente Relatório de Estágio procura retratar e
interpretar toda a atuação do Estudante Estagiário ao longo do Estágio
Profissional, tendo por base a reflexão realizada durante todo o processo. Este
documento encontra-se dividido em sete grandes capítulos: Introdução;
Dimensão Pessoal; Enquadramento da Prática Profissional; Realização da
Prática Profissional; Desenvolvimento Profissional e Conclusões e Perspetivas
para o Futuro. O primeiro capítulo procura enquadrar o leitor no contexto,
propósito e conteúdo do Relatório de Estágio. No segundo, é realizada uma
reflexão autobiográfica onde as motivações, potencialidades, dificuldades e
expetativas do Estudante Estagiário são evidenciadas. Posteriormente, surge o
terceiro capítulo, onde se realiza uma caracterização, concetual, legal,
institucional e funcional do Estágio Profissional, bem como da realidade
contextual da escola cooperante. O quarto capítulo procura relatar todas as
dificuldades e estratégias adquiridas pelo Estudante Estagiário nos sistemas
instrucional, de gestão e social, sendo aqui inserido um Estudo de Investigação
intitulado de “O Efeito do Modelo de Educação Desportiva na Aprendizagem dos
Alunos no Futebol”. No quinto, é realizado um relato acerca das relações do
professor com comunidade, bem como o contributo das mesmas para o seu
desenvolvimento. O sexto capítulo engloba as atividades e vivências que
contribuíram para a construção da competência profissional. Por fim, no último
capítulo, está inserida uma conclusão em que consta uma retrospeção de todo
o processo de Estágio Profissional, perspetivando um futuro profissional.
PALAVRAS CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, EDUCAÇÃO FÍSICA,
MODELO DE EDUCAÇÃO DESPORTIVA, RETENÇÃO NA APRENDIZAGEM,
REFLEXÃO.
XIII
Abstract
The Professional Practicum presents itself as the final stage of the teachers’ initial
training, where the confrontation between the knowledge acquired and the actual
teaching practice occurs. As it is the time when the Pre-Service Teacher lives for
the first time this confrontation, with it, comes a number of difficulties related to
the context and its own practical inexperience. Therefore, emerges the need to
reflect, research and try new knowledge and strategies that enable the Pre-
Service Teacher to overcome these same obstacles. This Practice Report seeks
to portray and interpret all actions of the Student Trainee over the Professional
Practicum, based on the reflection performed throughout the process. This
document is divided into seven main chapters: Introduction; Personal Dimension;
Framework of the Professional Practice; Professional Practice’s Development;
Participation in School and Relationship with the Community and Conclusions
and Future Perspective’s. The first chapter seeks to frame the reader in the
context, purpose and content of the Practice Report. At the second is made an
autobiographical reflection where the motivations, strengths, challenges and
expectations of the Pre-Service Teacher are highlighted. Subsequently, appears
the third chapter, where takes place a conceptual, legal, institutional and
functional characterization of the Professional Practicum, as well as the
contextual reality of cooperative school. The fourth chapter aims to report any
difficulties and strategies acquired by the Pre-Service Teacher in instructional,
management and social systems, being also featured the Research Study titled
"The Effect of Sport Education Model in the Learning of the Students at Football".
In the fifth, it is accomplished a report about the teacher's relationship with the
community, as well as the contribution of the same to its development. The sixth
chapter covers the activities and the experiences that contribute to the
construction of professional competence. Finally, in the last chapter is inserted a
conclusion that contains a retrospective of all the Professional Practicum
process, taken in to account a professional future.
KEY-WORDS: PROFESSIONAL PRACTICUM, PHYSICAL EDUCATION,
SPORT EDUCATION, RETENCION ON LEARNING, REFLECTION.
XV
Abreviaturas
DT(s) – Diretor(es) de Turma
EE(s) – Estudante(s) Estagiário(s)
EEFEBS – 2º Ciclo em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e
Secundário
EF – Educação Física
EP – Estágio Profissional
FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
LSD – Least Significant Difference
MEC – Modelo de Estrutura do Conhecimento
MED – Modelo de Educação Desportiva
MID – Modelo de Instrução Direta
NE – Núcleo de Estágio
NEE – Necessidade Educativas Especiais
PEE – Projeto Educativo de Escola
PC – Professor Cooperante
PCE – Projeto Curricular de Escola
PCEF – Projeto Curricular de Educação Física
PFI – Projeto de Formação Individual
PO – Professora Orientadora
PES – Prática de Ensino Supervisionada
RE – Relatório de Estágio
RI – Regulamento Interno
UD(s) – Unidade(s) Didática(s)
1
1. INTRODUÇÃO
O presente documento diz respeito ao Relatório de Estágio (RE),
concebido no âmbito da unidade curricular do Estágio Profissional (EP), inserida
no plano de estudos do 2º Ciclo em Ensino da Educação Física nos Ensinos
Básico e Secundário (EEFEBS) da Faculdade de Desporto da Universidade do
Porto (FADEUP). A sua pertinência é conferida no intuito de retratar e refletir
sobre as atividades desenvolvidas pelo Estudante Estagiário (EE) ao longo do
EP, quando experiencia o confronto com a realidade prática de ensino.
O EP surge como a última etapa da formação inicial do professor,
caracterizando-se pelo culminar das aprendizagens fundamentais, assimiladas
através do vasto leque de unidades curriculares teóricas e teórico-práticas
frequentadas pelo mesmo até então. Para (Queirós, 2014, p. 78) “a prática de
ensino oferece aos futuros professores a oportunidade de imergirem na cultura
escolar nas suas mais diversas componentes, desde as suas normas e valores,
aos seus hábitos, costumes e práticas, que comprometem o sentir, o pensar e o
agir daquela comunidade específica”. Com efeito, o EP destaca-se por ser o
grande impulsionador do desenvolvimento profissional do EE, sendo esta
evolução resultante da sua experiência e análise sistemática da prática (Villegas-
Reimers, 2003). Como tal, segundo as normas orientadoras1,“o EP visa a
integração no exercício da vida profissional de forma progressiva e orientada,
em contexto real, desenvolvendo as competências profissionais que promovam
nos futuros docentes um desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder aos
desafios e exigências da profissão” (p.3).
Neste sentido, para que esta integração progressiva fosse assegurada,
este desenvolveu-se através de uma Prática de Ensino Supervisionada (PES),
com um Núcleo de Estágio (NE) composto por quatro EEs, três do sexo
masculino e uma do sexo feminino, sob o acompanhamento e orientação
contínua de um Professor Cooperante (PC) da escola e uma Professora
Orientadora (PO) da FADEUP.
1 Normas Orientadoras do Estágio Profissional do Ciclo de Estudos Conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário da FADEUP, 2014-2015. Porto: Faculdade de Desporto. Matos, Z.
2
O EP decorreu numa escola secundária localizada no concelho de Vila
Nova de Gaia, onde assumi a inteira responsabilidade pelo processo de ensino-
aprendizagem de uma turma de 11º ano do curso de Línguas e Humanidades,
ao longo de todo o ano letivo. Para além disso, foi também atribuída uma turma
de 5º ano partilhada pelo NE, de uma escola básica de 2º e 3º ciclos do mesmo
agrupamento de escolas. Para esta turma foi planeado um sistema rotacional
por todos os EEs, baseado na lecionação das diferentes Unidades Didáticas
(UDs). No entanto, todos os EEs estiveram presentes em todas as aulas da
turma, de forma a auxiliar o professor principal da UD em questão. Como a
função do professor vai muito para além da conceção, planeamento, realização
e avaliação do processo de ensino-aprendizagem, nesta experiência tive ainda
oportunidade de acompanhar uma direção de turma, o Desporto Escolar (DE) de
uma modalidade e todas as atividades que visassem a prosperação da relação
com a comunidade educativa. Estas experiências e o seu contributo para o meu
desenvolvimento são agora narradas no presente documento.
Com efeito, o presente RE procura relatar todos os processos que
contribuíram para o meu desenvolvimento profissional, desde as motivações que
me levaram até ao percurso atual, seguido do enquadramento e realização do
próprio EP, até às minhas próprias conclusões e ambições futuras. Assim, este
documento encontra-se dividido em sete grandes capítulos: Introdução;
Dimensão Pessoal; Enquadramento da Prática Profissional; Realização da
Prática Profissional; Desenvolvimento Profissional e Conclusões e Perspetivas
para o Futuro.
O primeiro capítulo, denominado de Introdução procura enquadrar o leitor
no contexto, propósito e conteúdo do RE. Na Dimensão Pessoal realizo uma
reflexão autobiográfica onde, baseando-me no meu passado, procuro apresentar
quais as motivações que me levaram a enveredar por este percurso e que me
levaram até este EP. Aqui, reflito sobre as minhas próprias potencialidades e
dificuldades e a sua influência na minha atividade, sem deixar passar em branco
as expetativas acerca do EP e o confronto com a realidade ao longo da
concretização do mesmo.
O terceiro capítulo, intitulado de Enquadramento da Prática Profissional,
permite um enquadramento com toda a realidade do contexto da prática. Aqui,
começo por definir o EP nas vertentes concetual, legal, institucional e funcional,
3
seguida da contextualização das escolas em que ocorre toda a ação prática e,
como não poderia faltar, os meus alunos, enquanto motivo de toda a minha
dedicação, das angústias e dos sucessos.
Na Realização da Prática Profissional, está inserida a primeira área de
desempenho definida nas normas orientadoras do EP2: “Organização e Gestão
do Ensino”. Esta baseia-se nos quatro pilares do processo de ensino-
aprendizagem, nomeadamente a conceção, a planificação, a realização e a
avaliação. É aqui que toda a minha ação prática relativa à idealização e
reprodução das tarefas de sala de aula é apresentada, expondo a reflexão que
surgiu perante as várias dificuldades encontradas e a consequente pesquisa
pela literatura de soluções que me permitissem definir as minhas estratégias
para ultrapassar os demais obstáculos.
A função do professor não pode limitar-se apenas à ação didática e
pedagógica no ambiente de sala de aula. O professor apresenta-se como um
membro ativo na comunidade escolar, desenvolvendo relações com a mesma e
participando nas atividades decorrentes. Desta forma, na Área 2, que dá nome
ao quinto capítulo; Participação na Escola e Relação com a Comunidade, faço
uma alusão a todo o trabalho que foi realizado fora do contexto da aula e as
reflexões e aprendizagens que deste surgiram.
No sexto capítulo surge a terceira área de desempenho denominada de
Desenvolvimento Profissional. Esta engloba as atividades e vivências que
contribuíram para a construção da minha competência profissional. Aqui,
exponho a importância da reflexão e da pesquisa na literatura para o
desenvolvimento do professor enquanto profissional, bem como um relato
reflexivo sobre as formações frequentadas ao longo do ano, que contribuíram
para esse desenvolvimento. Para além disso, neste capítulo é apresentado um
estudo centrado no processo de ensino-aprendizagem da turma de 5º ano,
especificamente, no efeito do Modelo de Educação Desportiva (MED)
(Siedentop, 1987) na aprendizagem dos alunos no futebol.
Por fim, surge o sétimo capítulo onde realizo uma reflexão final em tom de
Conclusão, procurando expor a influência que o EP teve em mim, enquanto
2 Normas Orientadoras do Estágio Profissional do Ciclo de Estudos Conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário da FADEUP, 2014-2015. Porto: Faculdade de Desporto. Matos, Z.
4
professor de EF, e refletindo acerca das aprendizagens adquiridas, das relações
conquistadas e das minhas perspetivas para o meu futuro profissional.
5
2. DIMENSÃO PESSOAL
“Ao longo dos últimos anos temos dito (e repetido) que o professor é a
pessoa, e que a pessoa é o professor”.
(Nóvoa, 2009, p.6)
A identidade pessoal é algo que permite distinguir o sujeito de todos os
outros, algo que o torna único e inigualável. É esta identidade que define a forma
como o ser humano atua perante as demais situações, sejam elas sociais,
relacionais ou profissionais.
Na abordagem a este conceito, é fundamental referir que esta identidade
é algo que se constrói e reconstrói ao longo da vida do Homem, dependendo
não só das orientações e ideais do sujeito, como também dos julgamentos
daqueles que o rodeiam (Dubar, 1997; Marcelo, 2009). Podemos, assim,
perceber que todas as situações que o sujeito vivencia poderão influenciar o seu
modo de estar e de atuar e, por conseguinte, a sua identidade.
A identidade, nomeadamente a identidade do professor de EF, está
diretamente associada com o processo de socialização que ocorre durante toda
a sua existência. Berger e Luckman (1966), caracterizam este processo de
socialização tendo em conta dois níveis distintos. Um primeiro denominado de
socialização primária, em que a identidade pessoal é influenciada pelo percurso
do indivíduo e pelas vivências anteriores à formação de professores, podendo
estas derivar das representações que o sujeito tem dos seus professores, bem
como das vivências desportivas não relacionadas com a escola.
Complementarmente, é identificado um segundo nível, intitulado de socialização
secundária, que se refere à aquisição dos saberes específicos relativos à sua
profissão (forma de estar e atuar) e que ocorre durante a passagem do jovem
adulto a profissional e durante toda a sua profissão (Berger & Luckman, 1966).
Como tal, é possível afirmar que todas as vivências e experiências sociais do
professor influenciam diretamente no constructo da sua identidade profissional e
no modo como irá exercer a sua profissão.
Alarcão e Roldão (2008) referem que a construção e desenvolvimento da
identidade profissional se define como um processo individual e único, com forte
6
influência contextual, sendo mobilizado por referentes do passado e expetativas
relativas ao futuro.
Com efeito, será relevante considerar o passado do professor estagiário,
bem como as suas motivações, que o conduziram à escolha pela profissão
docente, concretamente, pelo ensino de EF. A este respeito e tal como assumem
Resende et al. (2014), a escolha da profissão deve-se a motivações intrínsecas
e extrínsecas, sendo as intrínsecas as que se destacam com maior magnitude,
nomeadamente pela prática e gosto da atividade física. Estes autores referem
também que são as vivências escolares e desportivas que constituem a base da
iniciação e construção da identidade profissional.
Desta forma, na próxima secção pretendo realizar uma pequena
retrospeção acerca das minhas vivências, com intuito de entender quais as
motivações que me levaram a seguir o ramo do ensino da EF.
2.1 Reflexão Autobiográfica
"Quem és tu, de onde vens e para onde vais?”.
Desde muito pequeno que o desporto faz parte da minha vida. Tive como
grande influência o meu pai que foi durante muitos anos treinador de futebol e,
como tal, a minha presença nos jogos era frequente. Além disso, o meu pai
sempre me incentivou à prática do desporto. Assim, com apenas 6 anos iniciei a
atividade desportiva no futebol, na qual permaneci 8 anos, sendo atleta federado
durante 5 anos. Contudo, acabei por abandonar a modalidade por desmotivação
do contexto onde estava inserido e também para ir em busca de novas
experiências na área do desporto. Desde então, até à minha entrada na
faculdade, fui praticando várias modalidades, algumas em clubes, outras através
do DE e ainda de forma menos institucionalizada (com os amigos). São
exemplos dessas vivências: a natação, o voleibol, o badminton, o basquetebol,
o BMX, o Airsoft, e a ginástica. Neste momento, apenas contínuo a ser praticante
assíduo de BMX e de ginástica. No entanto, estou sempre disposto a praticar os
7
mais variados desportos durante os meus tempos livres, pois é algo intrínseco à
minha identidade.
Devo reconhecer que tenho uma afeição muito especial com a
modalidade de ginástica, que teve início no meu último ano como aluno do
ensino secundário através do DE. Atualmente mantenho a minha prática nesta
modalidade como membro integrante do grupo académico Flyers Desportus da
FADEUP, o qual me têm proporcionado uma vasto número de experiências nesta
área. No entanto, durante o meu percurso de licenciatura, escolhi como área de
especialização em gestão desportiva em vez da metodologia do treino de
ginástica, porque a primeira também era uma área de meu interesse e pretendia
alargar o meu conhecimento. Nesta fase, foi difícil tomar a minha escolha entre
ambas as opções, mas a minha decisão final deveu-se ao facto de considerar
que poderia facilmente desenvolver aptidões para o treino fora da faculdade, em
detrimento do que poderia aprender ao frequentar a metodologia de gestão
desportiva.
Recentemente, comecei a lecionar aulas de ginástica acrobática no
contexto de DE, num colégio da cidade do Porto, pois dada a minha devoção
pela modalidade, quis explorar uma nova experiência fora da visão de praticante.
Considero esta experiência um fator bastante importante para a minha evolução,
não só profissional como também pessoal, pelo facto de ser um contexto
diferente da aula de EF, fornecendo-me um maior número de vivências no
trabalho com crianças e jovens.
Quando me candidatei ao curso de ciências do desporto já ambicionava
seguir o mestrado de ensino, sendo um dos grandes motivos para a minha
escolha, o facto de ter experiência como monitor de colónias de férias e ter
adorado o trabalho desenvolvido com crianças e jovens. Nesse momento já
sentia imenso gosto em ensinar-lhes as diversas matérias desportivas. Este
gosto especial foi inclusive estimulado pela feliz oportunidade de no passado ser
ensinado por professores que sempre foram um exemplo para mim e que me
levaram a ambicionar tornar-me um dia professor de EF.
Penso que a vivência de todas estas experiências desportivas foram uma
grande vantagem para a minha função enquanto professor, pois trouxeram-me
um conhecimento alargado ao nível das diversas modalidades. Por esta razão,
sentia-me mais apto para o planeamento de cada modalidade em específico e
8
também para a observação e análise dos erros cometidos pelos alunos,
contando também com outras ferramentas para proceder à sua correção (e.g.
conhecimento de padrões de movimento e técnicas de comunicação).
Destaco ainda como potencialidades o facto de ser bastante ambicioso e
perfecionista, face aos objetivos a que me proponho, bem como possuir uma boa
capacidade de adaptação e de relacionamento em ambientes novos. Considero
que estas características me permitiram ter facilidade de adaptação e de
integração no primeiro contacto com os alunos, incentivando-me também a
melhorar a minha função de professor. Contudo, relativamente à minha
capacidade de relacionamento com os alunos, posso considerar que, por vezes,
também foi uma dificuldade verificada, devido à proximidade criada na relação
professor-aluno. Também o facto de ser perfecionista desencadeou algumas
dificuldades na gestão e organização do tempo e das tarefas da aula e do EP
em geral, pois esta característica fazia-me perder demasiado tempo a refletir e
a realizar cada tarefa, provocando, por vezes, o atraso na sua conclusão.
Inclusive, senti que, comparativamente aos meus colegas de NE, despendia
mais tempo a refletir sobre o planeamento das tarefas.
Na verdade, esta situação parece ser uma característica frequente de um
professor iniciante, pois tal como refere Souza (2009), o professor na sua fase
inicial precisa de muita mais energia, de muito mais tempo e de concentração
para resolver os seus problemas que o profissional experiente, que soluciona de
forma rotineira diferentes situações.
Importa referir ainda que, por ser perfecionista, não gosto de estar
constantemente a cometer os mesmos erros e quando tal sucede, ou quando me
deparo com dificuldades que não consigo facilmente ultrapassar, surge em mim
um sentimento de revolta comigo mesmo e, por vezes, alguma desmotivação.
Com ajuda dos meus colegas do NE e do PC foi possível ultrapassar estas
dificuldades.
Outra dificuldade sentida resultou do meu nervosismo. Este
constrangimento era verificado quando me encontrava perante grandes grupos
e não me sentia totalmente seguro do conteúdo que iria lecionar. Nestas
situações, sentia receio de dizer algo de errado e, por isso, corar, ficando assim
constrangido frente à turma. Este foi um aspeto que sempre tive a preocupação
de trabalhar e que devido às interações inevitáveis com grandes grupos, típicas
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ao longo deste EP, esta dificuldade está ultrapassada. O facto de ter
ultrapassado esta situação foi bastante benéfico, não só para o meu
desempenho enquanto professor, mas também para toda a minha vida
profissional e social. Hoje, perante grandes grupos de pessoas desconhecidas,
e nos demais contextos, não sinto quaisquer sintomas desta dificuldade sentida
anteriormente.
2.2 Expetativas
O período que se precede ao início do EP é caracterizado por um espaço
de criação de expetativas e receios por parte do professor estagiário, que apenas
no confronto com a realidade encontram resposta para todas as suas questões.
Considero que antes do início do meu EP e mesmo durante os primeiros
momentos, as minhas expetativas eram bastante elevadas relativamente ao que
iria vivenciar, comparativamente ao que na realidade foi experienciado.
No entanto, Queirós (2014) refere que este distanciamento entre o
idealizado e o realmente vivido ocorre muito frequentemente nos professores em
início de carreira e que conduz a um choque com a realidade. Este choque é
referenciado por Veenman (1984) como o sentimento que os professores
vivenciam quando iniciam a sua atividade, face às dificuldades da nova
profissão. Como destaca Silva (cit. por Lima et al., 2014), neste momento o
professor sente como se da noite para o dia deixasse subitamente de ser
estudante e sobre os seus ombros caísse uma responsabilidade profissional
cada vez mais acrescida, para qual percebe não estar preparado. Souza (2009)
refere que, se este choque não for bem gerido pelo professor, contando com o
apoio de outros profissionais de educação experientes, pode trazer vários danos
na construção do perfil do docente.
Relativamente aos meus receios, considero que a minha maior
preocupação foi o medo de não conseguir ter controlo sobre a minha turma
residente. De forma a tentar combater este receio, inicialmente preferia que a
turma fosse de um ano de escolaridade baixo, pois acreditava que quanto menor
fosse a diferença de idades entre mim e os alunos mais difícil seria o seu
10
controlo, havendo a possibilidade de estes não me verem como um professor.
No entanto, no momento de distribuição das turmas foi-me atribuída uma turma
do ensino secundário, concretamente do 11º ano. Após os primeiros contactos
com os alunos, percebi que não teria os problemas que imaginava a nível desta
função, visto que desde logo revelaram um grande respeito por mim. Hoje
percebo que, na verdade, não é a pequena diferença de idades ou a imagem
mais velha do professor que lhe concede a respetiva autoridade, controlo e
respeito por parte dos alunos, mas sim o domínio da matéria, a assertividade e
a capacidade de comunicar com os alunos.
No que concerne às minhas expetativas para o EP, esperava conseguir
transpor para a prática, de forma eficaz, todos os conhecimentos que fui
adquirindo, não só ao longo do ano precedente ao EP, mas também ao longo de
todo o meu percurso académico e experiências externas ao contexto escolar. A
minha ambição era passar por um processo de constante descoberta, onde
conseguisse encontrar as melhores estratégias e metodologias de ensino, que
me definiriam como bom profissional. Ansiava, principalmente, adquirir
conhecimentos e experiências que me preparassem para a minha vida
profissional, não só como professor, mas também como interveniente de outras
áreas do desporto, desenvolvendo a minha capacidade de adaptação às
adversidades e aos diferentes meios.
Considero que as expetativas, inicialmente idealizadas, se foram
concretizando, no entanto, não de uma forma tão simples como imaginava.
Embora todo este processo de busca pelo conhecimento fosse bastante
exaustivo, proporcionou-me simultaneamente uma grande “bagagem” para a
minha atuação. Além disso, reconheço que este processo não teve ainda um fim,
nem nunca terá, pois “ao longo da vida, o professor constrói-se e identifica-se
com a sua profissão” (Resende et al., 2014, p. 147) , sendo esta uma
aprendizagem e formação que ocorre ao longo de toda a carreira do professor.
No âmbito das expetativas pessoais, julgo ter conseguido também
desenvolver competências que considero essenciais para o desempenho do
papel de professor, como é o caso das competências relacionais, de
comunicação e de liderança. Ao nível das competências relacionais, existiram
alguns aspetos em que foi necessário ter um cuidado acrescido durante a minha
prática pedagógica. Indo ao encontro do referido anteriormente, por vezes,
11
houve momentos em que deixei que a minha relação com os alunos se tornasse
demasiado próxima, dificultando assim a minha tarefa de me destacar como
professor. No entanto, consegui adotar estratégias para contrariar estas
situações.
Adicionalmente, considero que um bom funcionamento do NE se revela
crucial para o desenvolvimento do EE, pois se funcionar verdadeiramente como
um grupo que coopera, os constrangimentos da prática podem ser solucionados
de forma facilitada. Neste sentido, as expetativas para com o NE estavam muito
acima da realidade. Esperava que houvesse uma grande entreajuda, partilha e
companheirismo, para que no surgimento de alguma dificuldade pudéssemos
contar com o apoio uns dos outros, o que nem sempre aconteceu. Na verdade,
sempre considerei que um bom relacionamento fosse crucial para o bom
funcionamento de um grupo. Contudo, embora existisse esse bom
relacionamento entre todos os elementos do NE, o trabalho em equipa e a
partilha de conhecimentos ficaram bastante aquém das minhas expetativas,
principalmente com dois colegas, que me desiludiram, pois sempre faltou
proatividade para que as tarefas comuns a todo o NE fossem realizadas. No
entanto, com o passar do tempo fui-me adaptando a estes constrangimentos, e
conseguindo superar algumas dificuldades que emergiam do NE.
Apesar do referido, muitos dos obstáculos vivenciados, tanto no
planeamento como na realização das aulas, foram superados graças ao auxílio
dos meus colegas de NE. Exemplos disso foram as dificuldades em controlar o
comportamento dos alunos, os conflitos que criavam entre si e a organização
das UDs e dos planos de aula. Sem a ajuda do NE a resolução destas e outras
situações não teria sido tão simples. Através das reuniões realizadas todas as
semanas com o NE e o PC, foi possível colocarmos todos os nossos
constrangimentos “em cima da mesa” e discuti-los em conjunto com o objetivo
de encontrar as melhores soluções.
Na parte inicial do ano, quando refleti acerca de como gostaria que fossem
os alunos da minha turma residente, as minhas expetativas foram de encontro à
realidade verificada. A turma mostrou-se sempre bastante empenhada,
colaborativa e interessada, sendo de facto o “sonho” de qualquer professor de
EF. Durante o ensino das modalidades, os alunos mostraram sempre querer
saber mais, colocando sempre muitas questões, para além dos conteúdos
12
lecionados. Por essa razão, considero que a maior dificuldade existente foi ao
nível do controlo da turma, mas apenas em algumas situações muito específicas
(e.g. relacionamento entre os alunos, momentos de instrução). Apesar dos
alunos serem muito interessados, também se distraiam bastante, obrigando-me
a ter inúmeras conversas com eles para os sensibilizar a adquirirem um bom
comportamento. Para isso, foi necessário incutir algumas regras e rotinas à
turma, pois num momento inicial, eram observáveis muitos comportamentos
desviantes e fora da tarefa. Inicialmente, alguns alunos estavam sempre a
interromper o decurso da aula, principalmente nos momentos de instrução. Mas
após a aplicação de algumas estratégias (apresentadas no ponto 4), consegui
que esta situação melhorasse significativamente.
A comunidade escolar da escola cooperante superou bastante as minhas
expetativas. Logo nas primeiras semanas do ano letivo, sentia como se estivesse
em casa, pois tanto os professores como os funcionários permitiram que
relações de entreajuda e afeto fossem facilmente criadas. Além disso, percebi
que “o diálogo entre os professores é fundamental para consolidar saberes
emergentes da prática profissional” (Nóvoa, 1992, p. 14) e, por isso, devo um
agradecimento a todos os professores da escola. De facto, estes agentes
contribuíram claramente para o meu desenvolvimento enquanto professor e
pessoa, através de todas as conversas partilhadas entre nós.
13
3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL
3.1 O Estágio Profissional na sua dimensão concetual,
legal, institucional e funcional
O EP está inserido no plano de estudos do EEFEBS e surge como a
unidade curricular de mais preponderância, assumindo inclusive uma grande
carga horária. Na minha opinião, esta é a disciplina para a qual o aluno dedica a
maior parte do trabalho durante este ano letivo. Em termos legais, este rege-se
pelos princípios presentes na legislação constante do Decreto-lei nº 74/2006 de
24 de Março e o Decreto-lei 43/2007 de 22 de Fevereiro, que tem como
premissas a obtenção de habilitação profissional para a docência e para o grau
de Mestre.
De acordo com as normas orientadoras do EP3, este contempla três áreas
distintas de desempenho: a Área 1 correspondente à “Organização e Gestão do
Ensino e da Aprendizagem”, a Área 2 centra-se na “Participação na Escola e
Relações com a Comunidade” e, por fim, a Área 3 refere-se ao “Desenvolvimento
Profissional” do professor estagiário.
Remetendo-me para a sua dimensão funcional, o EP desenvolve-se
através de uma PES assegurada pelo trabalho de um PO da FADEUP e um PC
da escola que, em conjunto, acompanham e auxiliam as atividades do EE no
sentido de prosperar a sua eficácia nas várias dimensões da função de professor
de EF, bem como na realização do RE. O EE, por sua vez, está inserido num NE
composto por vários EEs.
No caso do meu NE, cada EE possuía uma turma residente, concedida pelo
PC e uma turma partilhada por todo o NE, do 2º ciclo de ensino. Tal como já
referido anteriormente, a turma que me foi atribuída (residente) foi um 11º ano
do curso de Línguas e Humanidades. Já a turma partilhada era um 5º ano, o seu
processo de ensino-aprendizagem, funcionava num sistema rotacional por todos
3 Normas Orientadoras do Estágio Profissional do Ciclo de Estudos Conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário da FADEUP, 2014-2015. Porto: Faculdade de Desporto. Matos, Z.
14
os EEs, baseado na lecionação de cada UD. No entanto, todos os EEs estiveram
presentes em todas as aulas de forma a auxiliar o professor principal da UD.
Tal como consta nas normas orientadoras4, o EP “visa a integração no
exercício da vida profissional de forma progressiva e orientada, em contexto real,
desenvolvendo as competências profissionais que promovam nos futuros
docentes um desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder aos desafios e
exigências da profissão” (p.3). Segundo Fernandes (cit. por Braga, 2001), é
essencial que o EP funcione como um programa que tem como objetivo ajudar
os professores principiantes a desenvolver a sua identidade profissional, a
elaborar um reportório de ações apropriado e a estruturar o seu
autodesenvolvimento profissional. O autor refere ainda que este programa
informa e aconselha o professor para que este seja capaz de alcançar os
objetivos de desenvolvimento relacionados com a autonomia e inovação,
funcionando como base da sua formação pessoal e do conhecimento da cultura
da escola.
O EP é, desta forma, um momento de grande predominância, onde todas
as capacidades e competências assimiladas na formação inicial são colocadas
em prática e confrontadas com os problemas do contexto real da profissão.
Neste confronto com a realidade são testadas as capacidades de adaptação,
inovação e superação do EE, face ao contexto das dificuldades e dilemas que
nele possam surgir. É neste período que habitualmente surge o “choque com a
realidade” já referido anteriormente e, por isso, é fundamental que o EP garanta
o acompanhamento do EE, neste caso com a supervisão de alguém mais
experiente e capaz.
Na verdade, a necessidade do acompanhamento do EE surge devido às
diferenças que existem entre os professores principiantes e os professores
experientes, sendo que a principal, segundo Braga (2001), incide ao nível do
conhecimento prático. Este conhecimento prático enquadra-se na ideia exposta
por Shulman (cit. por Nóvoa, 2009) de que, para se ser um bom professor não
basta dominar um certo conhecimento, é preciso compreender todas as suas
dimensões. Nóvoa (2009) refere ainda que o professor deve ir em busca de um
4 Normas Orientadoras do Estágio Profissional do Ciclo de Estudos Conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário da FADEUP, 2014-2015. Porto: Faculdade de Desporto. Matos, Z.
15
conhecimento pertinente, que não seja uma mera aplicação prática de qualquer
teoria, mas sim o resultado de um esforço de reelaboração, ao qual ele o intitula
de “transformação deliberativa”, pois o trabalho de docente não se trata de uma
mera transposição. Desta forma, deve ocorrer uma transformação de saberes
através da deliberação de dilemas pessoais, sociais e culturais (Nóvoa, 2009).
Em suma, o EE deve-se basear nas competências e ideologias adquiridas
na teoria e aplicá-las ou reajustá-las no contexto em que está inserido, tendo
sempre em conta a sua personalidade e as suas conceções, bem como o
contexto, ao invés de apenas fazer uma simples replicação do conhecimento.
Como tal, para que o professor seja capaz de se adaptar à sua realidade
contextual, deve em primeiro lugar perceber como funciona a escola enquanto
instituição e, posteriormente, perceber o contexto da escola em que está
inserido.
3.2 A escola como instituição
Para que seja possível situar a escola como instituição, é importante
identificar uma perspetiva sobre o que é a escola e de que forma cada escola se
distingue das demais.
A escola surge como o principal meio de socialização e promoção do
desenvolvimento individual, evidenciando os valores que orientam a sociedade
e que precisam ser transmitidos (Carvalho, 2006). Assim, podemos afirmar que
cada escola possui a sua cultura escolar, isto é, um conjunto de aspetos
transversal, que caracterizam a escola como instituição (Carvalho, 2006).
Segundo Schein (1990), esta cultura escolar é definida como um padrão de
pressupostos básicos, inventados, descobertos ou desenvolvidos por um dado
grupo e que funcionaram bem o suficiente para que seja considerado válido.
Deste modo, podemos perceber através do conceito de Bilhim (cit. por Carvalho,
2006), que a cultura distingue cada organização das restantes e agrega os
membros da instituição em torno de uma identidade partilhada, dando assim a
cada instituição uma autenticidade única.
16
Com culturas que as caracterizam, todas as escolas se assumem como
um espaço de formação de valores, pelos quais a sociedade se guia e, por isso,
é também imprescindível que cada escola seja capaz de se adaptar e
reinterpretar as componentes de uma cultura macro (sociedade). Neste sentido,
Barroso (1995) refere que uma abordagem política e sociológica da escola não
pode ignorar a sua dimensão cultural, quer numa perspetiva global quer numa
dimensão mais específica, em função das próprias formas culturais que ela
produz e transmite.
Neste seguimento, podemos claramente perceber que a escola,
complementarmente à função da família, se caracteriza como um dos principais
meios de educação dos alunos, dando-lhes a preparação necessária para o seu
futuro enquanto ser, não só profissional, mas também social. Com efeito, é
imprescindível que o professor, enquanto parte integrante da comunidade
escolar, seja também capaz de se integrar no contexto e cultura da escola,
assumindo também a função de educador, ao transmitir corretamente os valores
e ideologias pretendidas. Para tal, o professor terá que conhecer o meio onde a
sua instituição escolar está inserida, realizando uma pesquisa devidamente
detalhada acerca das ideologias da escola, da comunidade escolar envolvente,
e do próprio espaço físico e condições materiais, visto que se estas forem
limitadas podem restringir o delineamento do processo de ensino-aprendizagem.
3.3 A Escola Cooperante e a Comunidade Escolar
A escola cooperante é a escola sede de um agrupamento de escolas da
zona de Vila Nova de Gaia. O agrupamento é composto por onze escolas: a
escola sede: duas escolas do ensino básico de 2º e 3º ciclos e oito escolas do
1º ciclo, que por sua vez, também funcionam como jardins-de-infância.
Relativamente à comunidade escolar, é uma escola bastante
heterogénea, onde existem alunos com um nível de desempenho bastante
elevado, mas também um grande número de alunos abaixo da norma de
desempenho. Ainda assim, nos últimos dois anos, a percentagem de entrada de
alunos no ensino superior foi de cerca de 80%, o que, segundo os rankings
17
publicados pelo jornal “Público”, se revelou superior ao esperado, tendo em
conta a comunidade envolvente.
A escola oferece à comunidade vários cursos de formação ao nível do
ensino secundário. Na área científico-humanística, os alunos têm à sua
disposição o curso de Ciências e Tecnologias, Artes Visuais, Línguas e
Humanidades e Ciências Socioeconómicas, enquanto que na área profissional-
técnica oferece os cursos de Restauração, Multimédia, Apoio Psicossocial e
Apoio à Gestão Desportiva, embora este último, não decorresse durante este
ano letivo. Também a nível do 3º ciclo, a escola oferece aos alunos o Curso
Vocacional que, além de privilegiar a aquisição de conhecimentos em disciplinas
estruturantes, procura dar o primeiro contacto com diferentes atividades
vocacionais.
O grupo disciplinar de EF é constituído por 5 professores do quadro de
escola do sexo masculino e quatro professores estagiários, três do sexo
masculino e um do sexo feminino. Considero que um ponto bastante forte deste
grupo é a prática de um espírito de entreajuda muito positivo, especialmente para
com os professores estagiários. O facto de sentir que tinha o apoio de todos os
professores durante as diversas decisões a tomar, foi algo que me permitiu
evoluir, pois mesmo quando as minhas escolhas estavam erradas, estes
ajudaram-me a encontrar as melhores soluções para que as pudesse corrigir.
Em relação ao espaço físico e equipamentos, a escola possui um edifício
onde se encontram os serviços administrativos e de alimentação e dois blocos
destinados à lecionação de todas as disciplinas, com exceção de EF. Para esta
disciplina, a escola dispõe de um pavilhão polidesportivo e um espaço exterior
onde existe um campo sintético de futebol de 7, um campo com pavimento de
alcatrão e três pistas com cerca de 50 metros que finalizam numa caixa de areia.
O pavilhão polidesportivo tem as dimensões de um campo de futsal e
normalmente encontra-se dividido em dois espaços (G1 e G2) ou três, quando
as condições climatéricas não são as ideais para o funcionamento de uma aula.
No espaço exterior, o campo sintético possuí duas balizas de futebol de 7 e
quatro balizas de futsal/andebol nas linhas laterais, tendo marcações a amarelo
de dois campos de futsal. O campo de alcatrão possui duas balizas de
futsal/andebol e quatro cestos de basquetebol nas linhas laterais, tendo as
marcações do campo de futsal e de dois campos de basquetebol.
18
Ao nível do material específico de cada uma das modalidades (e.g. bolas
e raquetes), parte dele encontra-se um pouco degradado, o que complica a
lecionação de algumas modalidades. Para as modalidades em que o número de
bolas é reduzido, existe a necessidade de ter sempre em atenção o planeamento
de exercícios com grupos de maior número de alunos, para que não sejam
necessárias tantas bolas.
3.4 A Turma Residente (11º Ano)
Para que o processo de ensino-aprendizagem tenha sentido e seja eficaz,
é necessário que o professor conheça a sua turma, pois só assim é possível
delinear objetivos e planear todo o processo de forma adequada aos alunos em
questão.
Como já referido anteriormente, a escolha da turma foi realizada em
reunião de NE com o PC, na primeira semana de aulas. O principal aspeto a ter
em consideração foi a disponibilidade horária de cada um dos professores
estagiários, conjugando as suas vidas além do EP com o horário de cada uma
das turmas. No entanto, durante o decorrer de todo o primeiro período o PC
pediu para que todos estivessem presentes nas aulas lecionadas pelo NE. A
turma que me ficou atribuída foi um 11º ano do curso de Línguas e Humanidades.
Na primeira aula do ano letivo, foi distribuído um inquérito aos alunos, com
o intuito de ter conhecimento das suas particularidades. Este inquérito objetivava
aprofundar questões acerca dos dados pessoais, escolares, de saúde e
desportivos. Assim, através dos dados recolhidos, foi possível perceber as
especificidades dos alunos da turma, os cuidados a ter com alguns deles devido
ao seu estado de saúde e as suas motivações para a prática desportiva. Com
este conhecimento, a atividade enquanto professor ficou facilitada, uma vez que
o planeamento e realização da aula iam de encontro às características da turma,
conseguido o maior empenho possível dos alunos.
A minha turma residente demonstrou-se um pouco heterogénea, pois o
número de raparigas e rapazes é um pouco díspar, (13 e 6, respetivamente). O
facto de existir um grande número de raparigas na turma sempre foi um aspeto
19
considerado no planeamento de todo o processo de ensino-aprendizagem,
principalmente porque era notável a enorme discrepância entre o nível de
desempenho de ambos os géneros. As idades dos alunos da turma variavam
entre os 15 e os 18 anos, encontrando-se 66% (doze alunos) dentro da faixa
etária recomendável para o ano de escolaridade em questão. Não obstante, os
restantes alunos ficaram retidos pelo menos uma vez, mas nunca no ano
transato.
Na turma existem ainda 4 alunos inscritos com Necessidades Educativas
Especiais (NEE). Contudo, estes alunos não foram inseridos na contagem de
elementos da turma, pois não frequentaram as aulas devido à gravidade dos
problemas que apresentam.
Através da análise dos dados, foi possível verificar que a média de
classificações da disciplina no ano anterior (10º ano de escolaridade) foi de 14
valores. Desta forma, foi possível concluir que a turma possuía um desempenho
motor razoável, havendo unicamente a preocupação de dois alunos que
obtiveram a classificação de dez valores. Não obstante, um desses alunos
careceu de uma atenção especial da minha parte, pois sofria de obesidade
mórbida. Tal condição criou dificuldades ao aluno na execução de algumas
habilidades motoras, requeridas nas diferentes modalidades abordadas. A
lecionação da modalidade de atletismo foi talvez aquela que mais dificuldades
me proporcionou, pois dada a especificidade de algumas matérias foi necessário
criar algumas adaptações imprescindíveis à prática.
Relativamente aos níveis de motivação apresentados pelos alunos, a
maior parte deles afirmaram ter muita motivação para a prática, o que se
demonstrou positivo para as aulas. Mesmo assim, considerei ser importante ter
conhecimento das modalidades que despertavam maior interesse nos alunos,
pois seria algo a ter em conta no planeamento das modalidades a lecionar no
ano letivo de forma a cativá-los para as aulas de EF. As modalidades preferidas
apontadas pelos alunos foram futebol e basquetebol. Com efeito, o processo de
ensino-aprendizagem, nestas modalidades, ocorreu de uma forma mais
harmoniosa e significativa, pois os alunos demonstraram sempre grande
motivação para a sua prática. Por outro lado, verificou-se que o atletismo era a
modalidade menos apreciada pelos alunos. Tal facto condicionou o bom
desenvolvimento das aulas desta UD, o que exigiu mais reflexão e procura de
20
exercícios e estratégias por parte do EE, no sentido de planear aulas mais
motivadoras para os alunos. O professor deve ter a capacidade de lidar com as
diferentes adversidades que surgem durante o processo de ensino-
aprendizagem e, como não existem receitas, cabe ao professor o papel central
no desenvolvimento do seu conhecimento profissional (Resende et al., 2014).
Relativamente ao estado de saúde dos alunos, as principais doenças
apresentadas foram a asma e uma aluna com uma lesão neuromuscular, que
estava impedida de realizar as aulas de EF. Durante o ano letivo passaram ainda
pela turma duas alunas que sofriam de problemas psicológicos, tendo já
antecedentes de tentativa de suicídio, ainda que ambas não tivessem
permanecido durante todo o ano letivo.
Dada a natureza física e relacional tão característica da disciplina de EF,
considero fulcral que o professor esteja atento a qualquer indício de
anormalidade e, para que este esteja sempre preparado a intervir, é necessário
ter conhecimento de todas estas informações dos alunos. A par destas
informações, criei uma lista de contactos de emergência onde estavam incluídos
também os problemas de cada um dos alunos.
De forma a controlar possíveis situações desencadeadoras de problemas
respiratórios, visto que tinha diversos alunos portadores de patologias desse
foro, uma das minhas preocupações durante as aulas foi controlar a intensidade
requerida nas diversas atividades. No entanto, dado o grande controlo destes
problemas por parte dos alunos, considero que nunca foi necessário haver uma
grande preocupação da minha parte, pois sempre que sentiam indícios de
dificuldade respiratória, avisavam-me imediatamente.
Já na tentativa de promover índices de atividade física à aluna que
possuía o problema neuromuscular, propus-me a procurar algumas aulas de
Yoga em formato digital para que esta as realizasse durante as minhas aulas.
Denoto que desta forma consegui fomentar-lhe algum gosto pela modalidade e
também diminuir o constrangimento de estar impossibilitada de realizar as aulas
de EF.
No que concerne às duas alunas com problemas psicológicos, que referi
anteriormente, a minha grande preocupação era evitar que ocorressem
momentos em que se sentissem menos capacitadas ou que os colegas de turma
demonstrassem atitudes menos corretas para com elas, de forma a diminuir a
21
sua autoestima. No entanto, todos os alunos estavam a par da situação e
detiveram sempre um comportamento responsável.
3.5 A Turma Partilhada (5º Ano)
A turma do 5º ano foi atribuída a todos os elementos do NE como turma
partilhada. A divisão desta turma pelos 4 EEs foi organizada pelas diferentes
UDs, no entanto, dada a especificidade da turma, a presença e atuação de todos
os elementos, assim como do PC, foi fulcral para a bom funcionamento das
aulas. Esta condição foi definida numa reunião do NE, em resposta às
dificuldades sentidas durantes as primeiras aulas, devido ao mau
comportamento por parte dos alunos. Assim, considerando esta situação, em
conjunto com dois colegas do NE, verificamos que seria pertinente a realização
de um estudo de investigação, no sentido de encontrarmos solução para esta
problemática. No capítulo 5 deste RE será apresentada apenas uma
componente desta investigação.
Na tentativa de conhecer melhor os alunos, à semelhança do processo
realizado com a turma residente, também nesta turma foi distribuído um
inquérito. Após uma análise destes dados foi possível observar uma
homogeneidade da turma, uma vez que existe um número similar de rapazes e
raparigas, respetivamente, onze (55%) e nove (45%). No entanto, considerando
as idades dos alunos, apenas 50% dos mesmos tinham 10 anos (idade relativa
à faixa etária recomendável para o quinto ano de escolaridade). Apesar de 50%
dos alunos da turma não ter a idade recomendada para o ano de escolaridade
em questão, unicamente 35% dos alunos já tiveram alguma retenção durante o
seu percurso académico. A diferença de idades deve-se a casos de alunos
provenientes de outros sistemas de ensino, que integraram o 5º ano sem nunca
ter repetido algum ano escolar. No entanto, é verificável um caso mais extremo
na turma de um aluno com 13 anos, que ficou retido por uma vez no 3º ano e
duas vezes no 5º ano de escolaridade.
Esta informação foi importante para adotarmos algumas estratégias
preventivas, tal como a organização dos grupos de trabalho na aula, pois
22
habitualmente “o aluno retido torna-se um fator de perturbador na sua turma pelo
desfasamento de idades e estádios de desenvolvimento e ainda pela
necessidade de afirmação perante uma situação que o estigmatize” (Conboy et
al., 2013, p. 5).
Nesta turma existiam dois alunos com NEE e seis alunos com problemas
de aprendizagem. Como tal, foi necessário haver uma constante adaptação por
parte do EE, essencialmente ao nível da simplificação dos exercícios da aula e
da sua instrução, caso se verificasse necessário.
No que concerne às modalidades preferidas pelos alunos, estes
demonstraram mais gosto pelo futebol e ginástica. Considero que, na lecionação
de ambas as UDs, a motivação demonstrada por parte dos alunos facilitou o
processo de ensino-aprendizagem, na medida em que se mostravam mais
predispostos para todas as atividades da aula.
De um modo geral, a maior parte dos alunos assumiam ter muita
motivação para a prática desportiva, mas apenas 30% da turma (6 alunos)
praticavam atividades desportivas extracurriculares. Por esta razão, durante o
ano letivo, houve uma enorme preocupação em incutir aos alunos a prática de
atividades desportivas fora do contexto escolar.
Importa ainda referir que apenas 50% dos alunos vivem com o pai e com
a mãe, remetendo para um número bastante elevado de alunos que moram
apenas com um dos seus progenitores. Esta informação é relevante para
perceber a falta de estabilidade emocional em alguns alunos. A forma como este
facto condiciona o bom funcionamento das aulas foi visível nas interrupções
constantes da parte de alguns destes alunos, bem como nas dificuldades
demonstradas nas interações com os restantes elementos da turma.
A aplicação do inquérito permitiu também verificar um défice elevado nos
hábitos alimentares de alguns alunos, por conseguinte, como professores
procuramos ajudar os alunos a incutir nas suas rotinas diárias e hábitos
alimentares saudáveis. A nossa atuação ocorreu maioritariamente durante uma
palestra que os alunos tiveram acerca de “Como ter uma boa alimentação”. Esta
foi fruto de uma comunicação da nossa parte com o Diretor de Turma (DT) sobre
a existência de dois casos extremos, os quais verificamos aquando a aplicação
da bateria de testes Fitnessgram, que um dos alunos sofria de baixo peso (22kg)
e outro de obesidade grave (80 kg). Para além disso, verificamos também que a
23
maioria dos alunos se situava um pouco abaixo do peso recomendado e que,
por outro lado, tinham uma alimentação desadequada.
Já no contacto com a turma, foi possível verificar que a maioria da turma
revelava uma tendência constante para atitudes disruptivas. Com efeito, foi
necessário incutir regras e rotinas logo nas primeiras aulas e estar sempre atento
aos comportamentos desviantes e fora da tarefa. Devido à postura muito
irrequieta por parte dos alunos e considerando as brincadeiras típicas desta
idade, durante o ensino de algumas modalidades, tal como a ginástica, delineei
algumas regras específicas para estas aulas, de forma a reduzir esses perigos.
Relativamente ao estado de saúde dos alunos, as principais doenças
apresentadas foram hiperatividade, asma e dois alunos portadores de doenças
a nível da tiroide. Tal como referi anteriormente, esta informação demonstra-se
de extrema importância, uma vez que a disciplina de EF se carateriza pela sua
natureza física. No caso dos alunos com asma, tinha como preocupação as
intensidades impostas a cada atividade. Quando nas aulas eram propostos
exercícios com um maior nível de exigência cardiorrespiratória, tinha atenção
redobrada a estes alunos para verificar as suas reações. Ainda assim, considero
que nunca foi necessário grande preocupação da minha parte, pois estes
apresentavam responsabilidade e auto disciplina no controlo da doença.
Independentemente dos problemas que os alunos possuíam, procurei estar
sempre atento a possíveis sintomas ou acontecimentos traumáticos durante as
aulas.
Após todo este processo de pesquisa referente à escola e a tudo aquilo
que lhe diz respeito, bem como às turmas que iria acompanhar e ao NE, cabe
agora proceder aos processos que marcaram toda a realização da minha prática
profissional, tendo em conta todas as informações que adquiri até ao momento.
25
4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL
Partindo do pressuposto de que “não é possível aprender tudo de uma só
vez, sob pena de se incorrer no risco de nada aprender” (Mesquita & Graça,
2011, p. 51), a organização e gestão do ensino e da aprendizagem torna-se
fulcral para que a atuação do professor tenha sentido e ofereça uma
aprendizagem de qualidade aos alunos. Se este incorrer na tentação de
selecionar demasiados conteúdos para lecionar aos seus alunos, poderá correr
o risco de não lhes proporcionar um ensino de qualidade.
Assim, neste capítulo irei abordar a Área 1 (Organização e Gestão do
Ensino e da Aprendizagem) que tem como propósito a criação de uma estratégia
de intervenção pedagógica que seja suficientemente capaz de ampliar as
aprendizagens e o desempenho dos alunos, sendo dividida em quatro
processos: a conceção, o planeamento, a realização e a avaliação do ensino.
Seguidamente irei elucidar como decorreram estes processos inerentes à
profissão de professor de EF, baseando-me nas reflexões e atividades que
decorreram ao longo de todo processo.
4.1 Conceção do Processo de Ensino
“O ensino da Educação Física tem como objetivo garantir um nível
elevado da formação básica – corporal e desportiva de todos os alunos. Como
disciplina escolar a Educação Física constitui a forma fundamental e mais
importante da formação corporal das crianças e jovens, na qual o respetivo
professor conduz um processo de educação e aprendizagem motora e
desportiva. (…) A Educação Física é um processo pedagógico complexo,
determinado na sua dinâmica por leis, leis pedagógicas, psicológicas, biológicas,
neurofisiológicas, biomecânicas, bioquímicas e leis do movimento” (Bento, 2003,
p. 41).
A conceção corresponde a uma das demais tarefas que os professores
devem realizar, com o intuito de desenvolver o entendimento necessário para a
26
sua atuação. Esta surge como o processo que permite sustentar as funções de
planeamento e transmissão da matéria de ensino de forma eficaz.
De acordo com as normas orientadoras do EP5, a conceção permite
“Projetar a atividade de ensino no quadro de uma conceção pedagógica
referenciada às condições gerais e locais da educação, às condições imediatas
da relação educativa, à especificidade da Educação Física no currículo do aluno
e às características dos alunos, através de: 1) Analisar os planos curriculares,
nomeadamente as competências gerais e transversais expressas. 2) Analisar os
programas de Educação Física articulando as diferentes componentes:
finalidades, objetivos, conteúdos e indicações metodológicas. 3) Utilizar os
saberes próprios da Educação Física e os saberes transversais em Educação,
necessários aos vários níveis de planeamento. 4) Ter em conta os dados da
investigação em educação e ensino e o contexto cultural e social da escola e dos
alunos, de forma a construir decisões que promovam o desenvolvimento e a
aprendizagem desejáveis” (p.3-4).
Nesta perspetiva, entende-se que a consecução de todo o planeamento
inicia-se na conceção e nos conteúdos dos programas ou normas programáticas
de ensino (Bento, 2003).
Bento (2003) acrescenta ainda que o programa de ensino de uma
determinada disciplina adota um “carácter de lei” e destaca-se entre o conjunto
de documentos necessários para o planeamento e preparação do ensino, no
entanto, este documento não é o único que se constitui como referência para a
realização do ensino, sendo completado e interpretado por um vasto leque de
documentos e materiais que auxiliam o professor a aplicar e adaptar as
exigências centrais às condições locais e situacionais, da escola e da turma onde
decorre o processo de ensino-aprendizagem. Esta tarefa demonstra-se
demasiado complexa e requer a consideração e ajuste coexistente entre dois
níveis de indicação, nomeadamente o nível das indicações gerais e centrais (e.g.
Programa de EF) e o nível das indicações locais (e.g. Projeto Educativo da
Escola, Regulamento Interno).
5 Normas Orientadoras do Estágio Profissional do Ciclo de Estudos Conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário da FADEUP, 2014-2015. Porto: Faculdade de Desporto. Matos, Z.
27
A articulação destes dois níveis deve ser potencializada, sendo que o
sucesso do processo de ensino-aprendizagem está dependente do modo como
as indicações, elaboração, realização e controlo do programa são entendidos e
utilizados uniformemente como um todo eficaz e da medida em que existem, nos
órgão de direção e professores, preocupações de planificação consistente,
responsável e criativa (Knappe, cit. por Bento 2003).
Com efeito, apesar de cada um dos níveis requerer determinadas
exigências, deve ser mantida uma estreita relação de concordância entre os
mesmos. Tanto a programação (nível central) como a planificação do ensino
(feita pelo professor) formam um processo unionista que deve recair na
realização de um ensino eficaz (Bento, 2003).
Neste seguimento, para um melhor entendimento das indicações locais
da escola onde realizei o meu EP, foi imprescindível realizar uma análise do
Projeto Curricular de Escola (PCE), do Projeto Educativo de Escola (PEE) e do
Regulamento Interno (RI). Assim foi possível compreender a escola enquanto
instituição, ao nível dos seus objetivos e estratégias de intervenção. Para realizar
a caracterização da escola, a maior dificuldade sentida foi o facto de não
conhecer o meio social em que estava inserida, dificuldade essa ultrapassada
após os primeiros contactos com a escola. Através desta análise, consegui
perceber que a escola se situa num meio onde a classe social é média-baixa e,
como tal, existem bastantes casos de alunos com comportamentos disruptivos,
algo que o professor deve ter em conta para a preparação do processo de
ensino-aprendizagem.
Para além disso, visto que a minha área de interesse seria a desportiva,
considerei essencial perceber um pouco da cultura desportiva geral dos alunos
da escola, ou seja, quais as modalidades que normalmente são mais admiradas
pelos mesmos e às quais a própria instituição dá mais ênfase. Como tal, para a
consecução desta análise foi também importante recorrer aos membros do grupo
de EF para que as minhas conclusões fossem mais verídicas. Com efeito,
denotei que, para além do futebol, que é a modalidade com mais apreciadores,
também o basquetebol tem uma grande ênfase na comunidade escolar.
Posteriormente, procedi para a análise dos conteúdos das modalidades a
lecionar, para cada um dos respetivos anos letivos. Como tal, para que pudesse
28
tornar o processo de ensino-aprendizagem o mais eficaz possível, realizei uma
análise ao nível central e local.
A análise do Programa Nacional de EF (nível central) demonstrou ser
bastante relevante para a contextualização de todo o processo. Neste caso, foi
necessário uma análise do programa referente ao ensino secundário (11º ano -
turma residente) e ao 2º ciclo (5º ano - turma partilhada). Este documento
orientou a determinação dos conteúdos e dos seus critérios, bem como os
objetivos a atingir por parte dos alunos. Ainda assim, denoto que esta análise
teve uma maior preponderância ao nível da turma de 11º ano, pois tal como irei
expor posteriormente, os documentos ao nível local tiveram uma grande
importância para as minhas tomadas de decisão, no entanto, não posso descurar
a importância do Programa Nacional de EF. Durante a realização desta análise
encontrei algumas lacunas com as quais não concordei.
No que concerne à turma residente (11º ano), relativamente à modalidade
de atletismo, penso que o programa foge um pouco à realidade da escola onde
realizei o EP, pois são muitas as matérias propostas às quais a mesma não têm
meios para dar resposta a nível da disponibilização dos materiais. Estes
encontram-se um pouco degradados e alguns são inexistentes, o que dificulta a
lecionação de certas modalidades. Penso também que o número de
modalidades propostas é demasiado elevado para as sessões disponíveis ao
longo de um ano, pois tal como tive a possibilidade de constatar, a lecionação
de um elevado número de disciplinas resulta numa diminuição do tempo
reservado para cada uma delas e, por consequente, uma diminuição da
obtenção de aprendizagens efetivas. Por outro lado, com o desenvolvimento da
minha experiência de EP ao longo do ano, considero também que desta forma o
programa se mostra bastante versátil, permitindo assim que cada escola possa
adequar os conteúdos aos materiais que tem ao seu dispor, não tendo que,
obrigatoriamente, lecionar as matérias mais convencionais da modalidade de
atletismo. Outra modalidade que destaco é o badminton, penso que em termos
de conteúdos, falta uma diferenciação entre o amortí e o encosto, pois são
batimentos que diferem ao nível do local onde deve é iniciado e como tal deveria
de ser referenciada no programa. Nas minhas aulas fiz questão de elucidar os
alunos acerca desta diferença. Já ao nível do basquetebol, outra modalidade que
me despertou a atenção, destaco o elevado número de habilidades táticas
29
previstas no programa. Penso que este foge um pouco à realidade da minha
turma, pois tal como verificado nas minhas aulas, a maior parte dos alunos não
têm as competências necessárias para realizar oportunamente a grande
variedade de habilidades definidas, por exemplo, os conteúdos relacionados
com os bloqueios (bloqueio direto e indireto, desfazer bloqueio, defesa do
bloqueio, bloqueio defensivo).
Por fim, relativamente às modalidades alternativas, que foram escolhidas
pelos alunos, neste caso o basebol e o hóquei em campo, senti dificuldade em
fazer uma análise crítica ao programa, pois não estava de todo familiarizado com
as modalidades. Como tal, foi um grande obstáculo conceber os conhecimentos
dos conteúdos para a prática, de forma a adequar o programa à realidade da
turma. Após a lecionação das aulas e de realizar uma nova análise ao programa,
considero que ao nível do hóquei em campo, este se demonstrou bastante
adequado aos meus alunos, sendo que no momento de avaliação sumativa
consegui verificar habilidades presentes do nível avançado, mesmo tratando-se
de alunos que nunca tinham vivenciado qualquer contacto com um jogo de bola
e stick. Na modalidade de basebol, considero que, tal como pude verificar, para
um professor com pouca experiência na modalidade, o programa encontra-se
bastante confuso e com muitos conteúdos. Para a consumação da conceção
referente a esta modalidade, senti necessidade de recorrer aos professores da
escola, que demonstram um conhecimento sólido acerca da modalidade. Ainda
assim, considero que relativamente à minha turma, a complexidade do jogo
referenciada no programa era bastante elevada. Porém, reconheço que os
conteúdos presentes devam constar no programa, pois presumivelmente
existem escolas com uma forte cultura ao nível da modalidade.
No desempenho desta tarefa também a análise local, nomeadamente do
Projeto Curricular de Educação Física (PCEF), se demonstrou bastante
preponderante para o planeamento do processo de ensino. No que diz respeito
à turma de 11º ano, visto que os conteúdos não constam do documento, a sua
análise cingiu-se na verificação das modalidades que os alunos poderiam
selecionar para o ano letivo. Por outro lado, este foi um documento crucial para
a turma do 5º ano, pois tanto as modalidades a ensinar, como os seus conteúdos
estavam rigorosamente definidos PCEF. Apesar disso, devido às características
da turma e da minha opinião pessoal que foi discutida com o PC, senti
30
necessidade de adaptar alguns conteúdos, nomeadamente na disciplina de
ginástica de solo. No PCEF estava prevista a lecionação da subida para apoio
facial invertido através do lançamento da perna livre, no entanto, estes
manifestavam demasiadas dificuldades para que tal fosse alcançável.
Importa ainda referir que para além da análise dos documentos referidos,
a aquisição ou reaquisição do conhecimento da modalidade a lecionar também
se distingue como imprescindível para o êxito e a aprendizagem dos alunos, pois
o conhecimento do professor está intimamente relacionado com a qualidade da
instrução e da emissão de feedbacks emitidos nas aulas. Neste sentido, a busca
por um conhecimento efetivo da modalidade é crucial para que todo o processo
de ensino-aprendizagem seja eficaz.
De forma a dar término a este processo de análise às indicações locais,
foi realizada uma análise da turma de uma forma geral, mas também de cada
aluno como um só. Na consecução desta tarefa foi realizada uma análise aos
inquéritos individuais entregues aos alunos no início do ano letivo, na disciplina
de EF. As reuniões iniciais de conselho de turma, onde foram apontadas as
características individuais de cada aluno, foram também pertinentes para
conhecer melhor os alunos das turmas. Além disso, a avaliação diagnóstica
concretizada no início de cada uma das modalidades foi também fulcral para que
conhecesse o nível de desempenho da turma em geral e de cada aluno em
particular. No entanto, ao longo de todo o processo de prática pedagógica foi
possível ir adicionando mais informações sobre cada um dos alunos através da
constante interação com estes.
Ainda para complementar todo o processo de conceção, foi imprescindível
realizar uma análise direcionada aos modelos de ensino para que este
conhecimento fosse articulado com as informações recolhidas anteriormente,
permitindo assim encontrar aqueles que mais se adequavam ao contexto. Assim,
destaco como os mais influentes na minha ação pedagógica, o Modelo de
Instrução Direta (MID) e o Modelo de Educação Desportiva (MED), tendo
aplicado princípios e características de ambos em todo o processo de ensino, na
maioria das modalidades lecionadas. Esta escolha deveu-se ao facto de terem
sido aqueles que, tendo em conta os meus alunos, se demonstraram mais
promissores de otimizar as aprendizagens. Posteriormente (subcapítulo 4.1.3)
31
irei desenvolver as características de cada um deles bem como os motivos que
me levaram a tomar esta decisão.
Para concluir, importa referir que toda esta análise documentada foi
facilitada pelo trabalho coletivo do NE, à exceção da análise do programa de EF,
pois muitas das modalidades que ensinei, foram distintas das dos meus colegas
de NE.
4.2 Planeamento do Processo de Ensino
No meu entendimento, a planificação é talvez a ferramenta com mais
importância para o professor no decorrer de todo o processo de ensino
aprendizagem, pois se é verdade que um bom plano não garante uma boa aula,
também é igualmente verdade que um mau plano o garante menos (Cunha,
2012).
Segundo Bento (2003, p. 15), planear a educação e a formação “significa
planear as componentes do processo ensino e aprendizagem nos diferentes
níveis da sua realização; significa apreender, o mais concretamente possível, as
estruturas e linhas básicas e essenciais das tarefas e processos pedagógicos”.
Por outras palavras, “na planificação são determinados e concretizados os
objetivos mais importantes da formação e educação dos alunos, são
apresentadas as estruturas coordenadoras de objetivos e matérias, são
prescritas as linhas estratégicas para a organização do processo pedagógico”
(Bento, 2003, p. 15).
O planeamento caracteriza-se assim como um documento que auxilia o
professor na realização do processo de ensino, que a qualquer momento é
sujeito a alterações, pois a prática está intimamente ligada a uma
imprevisibilidade de situações. Por esta razão, o planeamento não pode ser
encarado como uma receita, mas sim como um documento mutável e flexível.
Ao longo deste ano, as alterações efetuadas nos demais documentos foram
claramente visíveis, tendo estas ocorrido consoante as respostas em função
desse mesmo planeamento. A razão de todas estas alterações esteve no cerne
de diversos fatores, como por exemplo, dificuldades de aprendizagem dos
32
conteúdos por parte dos alunos, alteração dos conteúdos devido à aquisição de
novas perspetivas e conhecimentos (e.g. UD de hóquei em campo e basebol),
impossibilidade de prática de determinada modalidade ou exercício devido às
condições climatéricas que limitavam a utilização de determinado espaço.
O planeamento do processo de ensino-aprendizagem divide-se em três
níveis distintos (Vickers, 1990): o planeamento anual, a UD e o plano de aula.
Seguidamente irei explanar a importância de cada um destes níveis.
4.2.1 Planeamento anual
O plano anual distingue-se como a primeira tarefa a realizar em todo o
processo do planeamento, sendo o processo de ensino-aprendizagem
preparado a um nível macro. Ou seja, este é um plano de perspetiva global que
procura situar e concretizar o programa de ensino no local e nas pessoas
envolvida, constituindo-se como um plano sem pormenores de atuação ao longo
do ano, mas que requer trabalhos de análise e balanço e de reflexões a longo
prazo (Bento, 2003). O autor refere ainda que as medidas didático-
metodológicas ficam reservadas para as UDs e para os planos de aula, contudo,
enquadram-se numa sequência lógica que tem o seu início neste mesmo nível
de planeamento.
Para a concretização deste documento foram tidos em conta diversos
fatores como o roulement6, as atividades extracurriculares delineadas no PCEF
e as condições climatéricas típicas de cada um dos períodos letivos das aulas.
A tomada de decisão das modalidades a ensinar foi o primeiro passo a
realizar para a consecução do planeamento anual. Neste ano de escolaridade
em específico (11º ano), essa decisão é concretizada em grande parte pelos
alunos. Desta forma, os alunos têm a oportunidade de aprofundar as
modalidades que mais lhes agrada e, conseguinte, espera-se uma maior
motivação da parte deles para a prática das aulas. As únicas limitações
colocadas aos alunos nesta escolha é que têm de escolher obrigatoriamente
6 Documento realizado pelo grupo de EF que consiste num mapa de rotação dos espaços de aula pelos diferentes professores.
33
duas modalidades coletivas, uma individual, uma de raquetes e duas
alternativas. Por se tratar de uma decisão dos alunos, só foi possível iniciar a
realização deste planeamento depois da primeira aula lecionada.
Relativamente à distribuição do número de sessões por cada modalidade,
tentei torna-la o mais homogénea possível, ou seja, atribuir o mesmo número de
aulas para cada uma delas. Deste modo, evitei que os alunos ficassem saturados
de uma determinada modalidade. Esta seleção decorreu em todas as
modalidades, à exceção do basebol, que optei por atribuir um menor número de
sessões, pois era uma modalidade com a qual não tinha muito contacto
desportivo. Para além disso, esta decisão deveu-se ao facto de me ter
aconselhado junto de outros professores do grupo e estes me indicarem para
escolher um número máximo de 10 aulas para esta modalidade. As suas ideias
basearam-se nas suas experiências nos anos precedente, que ao lecionarem
um elevado número de aulas de basebol, para que os alunos conseguissem
executar o batimento da bola com eficácia, as dificuldades habituais originaram
alguns constrangimentos e, consequentemente, uma certa desmotivação.
O roulement destacou-se por ser um documento importante a considerar
para a distribuição das modalidades pelos períodos letivos, visto que existem
modalidades nas quais é imprescindível a ocupação do espaço interior do
pavilhão, bem como a situação contrária, onde a sua prática num espaço interior
se torna bastante limitada. Além disso, atendendo à distribuição dos espaços, é
importante não descurar as condições climatéricas verificadas tipicamente em
cada um dos períodos, pois este é um aspeto que interfere na possibilidade ou
não de se realizarem as aulas de EF.
A escolha das modalidades para o primeiro período foi bastante
ponderada, acabando por recair no badminton e no atletismo. A minha escolha
relativamente ao badminton deveu-se ao facto de considerar esta uma
modalidade em que o controlo dos alunos é facilitado, pois estes encontram-se
a realizar tarefas individuais ou a pares e estão sempre muito bem ordenados
pelo espaço. Penso que esta modalidade foi uma mais-valia para iniciar a minha
atuação enquanto professor, pois assim o habitual choque com a realidade,
referenciado por Veenman e Esteves (cit. por Souza, 2009), não se denotou tão
acentuado dada a maior facilidade de controlo da turma. Escolhi também para o
primeiro período o atletismo, tendo como objetivo primordial realizar uma
34
preparação para o corta-mato escolar que, segundo o PCEF, estava programado
para o último dia de aulas do primeiro período. A colocação desta modalidade
neste período teve também em vista a possibilidade de cobrir as aulas
delineadas pelo roulement para o espaço exterior, pois apesar das várias
dificuldades sentidas inerentes às condições climatéricas, esta era uma
modalidade cujos constrangimentos poderiam ser minimizados (por exemplo,
por não exigir manipulação do material que contactasse o piso). Ainda assim,
sempre que as condições não se verificavam propícias para a realização das
aulas no espaço exterior, estas decorriam dentro do pavilhão desportivo. Na
realidade, considerava ser de extrema importância atender, em todos os
momentos da aula, à segurança da integridade dos alunos.
Relativamente ao segundo período decidi lecionar o basquetebol e,
posteriormente, a modalidade de hóquei em campo. A escolha do basquetebol
deveu-se ao facto de existir um torneio na escola a meio deste período e, à
semelhança da escolha do atletismo, este momento serviria como preparação e
estímulo para a participação no torneio por parte dos alunos. A escolha do hóquei
em campo deveu-se, principalmente, por ser a modalidade alternativa que tem
mais sessões programadas, ficando assim no período onde existem mais
sessões disponíveis.
Por último, no terceiro período, as modalidades a lecionar foram o futebol
e o basebol. A escolha do futebol deveu-se ao facto desta ser uma modalidade
que a maioria dos alunos gostam, tal como verificado anteriormente na
caraterização da turma através na análise dos questionários. Por outro lado, esta
foi uma estratégia para que os alunos acabassem o ano letivo motivados para a
disciplina de EF, bem como para a prática desportiva. A escolha do basebol
deveu-se, principalmente, ao facto desta modalidade ter menos sessões
programadas e este ser o período com menos sessões disponíveis. Ainda assim,
era imprescindível que esta modalidade fosse lecionada num momento onde as
condições climatéricas não fossem adversas, pois a sua prática dentro do
pavilhão seria uma enorme limitação. Ao longo da lecionação desta modalidade
verifiquei que, apesar de ter sido necessário proceder a várias adaptações, a
realização das aulas desta modalidade dentro do pavilhão desportivo sucedeu
em algumas sessões da UD.
35
A realização deste documento verificou-se imprescindível no planeamento
de todo o processo de ensino-aprendizagem, pois permitiu-me organizar toda a
informação necessária pertinente para a lecionação das aulas referentes a cada
modalidade. Posteriormente, esse planeamento incidiu especificamente na
organização da informação respeitante a cada modalidade.
4.2.2 Unidade Didática
A UD distingue-se como o nível de planeamento que garante uma
sequência lógico-específica e metodológica da matéria, organizando as
atividades tanto dos alunos como dos professores, contribuindo assim para o
desenvolvimento dos alunos (Bento, 2003). O autor refere ainda que os objetivos
da UD só podem ser alcançados de forma gradual, o que requer uma
planificação inter-relacionada de todo o processo. Desta forma, é aqui que se
encontra o cerne do trabalho criativo do professor.
Este foi o nível de planeamento no qual senti mais dificuldades, já que é
aqui que são delineados os conteúdos a ensinar e os objetivos a privilegiar em
cada uma das aulas em específico. No entanto, se este se cingir à mera
distribuição da matéria de ensino pelas aulas a lecionar, serão reservados
espaços demasiado curtos para a apropriação sólida das habilidades
fundamentais, bem como ao desenvolvimento das capacidades imanentes
(Bento, 2003). Desta forma, o autor postula que “o planeamento da unidade
temática não deve dirigir-se preferencialmente para a matéria «em si mesma» -
a abordar nela – mas sim para o desenvolvimento da personalidade (habilidades,
capacidades, conhecimentos, atitudes) dos alunos, pelo que deve, sobretudo,
explicitar as funções principais assumidas naquele sentido por cada aula” (p.78).
Ao longo do meu percurso do EP, considero que foi notável a minha
evolução na concretização deste documento. De facto, as primeiras UDs
realizadas centravam-se muito na tomada de decisão da extensão dos
conteúdos ao nível das habilidades motoras, descurando de certa forma os
restantes conteúdos. No entanto, com a experiência e a ajuda do PC e da PO, o
planeamento da UD foi-se tornando mais pormenorizado principalmente ao nível
36
da decisão da extensão e sequência dos conteúdos, não só das habilidades
motoras, mas também da cultura desportiva e da fisiologia do treino e condição
física. Ao nível das habilidades motoras tornei-me capaz de atender melhor às
progressões pedagógicas necessárias e adequadas à turma, recorrendo para
isso à definição do tipo de tarefa propostas para a prática dos alunos
(informação, refinamento, extensão e aplicação).
A realização da UD de atletismo foi, sem dúvida, a que suscitou mais
dúvidas da minha parte. Apesar de ter bastantes aulas disponíveis para a
lecionação da mesma, acabei por escolher demasiadas disciplinas da
modalidade, nomeadamente corrida de estafetas, técnica de corrida, salto em
comprimento, triplo salto, lançamento do peso, salto em altura e transposição de
barreiras. Como no programa nacional de EF são propostas variadas disciplinas
para o referente ano letivo (11º ano), tentei planear todas as que eram passíveis
de aplicar perante as condições da escola. Também devido ao facto de no início
da lecionação da modalidade ter verificado que a motivação dos alunos para a
prática não era muita, especulei que se fosse lecionar mais disciplinas, talvez
estes ficassem mais motivados, principalmente por terem poucas aulas de cada
disciplina. Mais tarde percebi que os alunos não tiveram efetivamente tempo
suficiente de exercitação de cada uma das disciplinas, tendo por isso
condicionado a aquisição dos conteúdos. Aquando a avaliação sumativa dos
alunos foi fácil denotar que a opção tomada não foi a mais correta, pois verificou-
se um baixo nível de aprendizagem por parte dos alunos em algumas disciplinas.
A planificação da modalidade de hóquei em campo também se
demonstrou um grande desafio devido à falta de conhecimento acerca da
modalidade. Por esta razão, reconheço que esta UD foi aquela que sofreu mais
alterações ao longo do tempo. Estas foram verificadas não só na sequência dos
conteúdos, mas também ao nível dos conteúdos a ensinar, até porque as
respostas dos alunos, por vezes mostraram-se imprevisíveis, obrigando a alguns
reajustes. Nas primeiras aulas da UD tinha optado por um determinado conjunto
de conteúdos, contudo, após uma pequena formação com um ex-professor da
escola e ex-treinador da modalidade, consegui arrecadar bases sólidas para
criar uma planificação mais adequada ao contexto dos alunos, permitindo assim
uma melhor evolução da turma em geral.
37
A realização deste nível de planeamento foi preconizada de acordo com
as orientações do Modelo de Estrutura de Conhecimento (MEC), proposto por
Vickers (1990).
Este modelo constitui-se como sendo um modelo instrucional que se
baseia no conteúdo (o que ensinar) e no processo (como ensinar), centrando-se
fundamentalmente no primeiro. A sua primeira preocupação foca na questão “o
que quero ensinar?”. Deste modo, a base de planeamento do MEC é o
conhecimento. Este expõe a forma como a matéria de ensino é estruturada,
delineando toda a informação que serve posteriormente como um guião à
atuação do professor (Vickers, 1990).
O MEC demonstrou ser uma ferramenta essencial para a minha atuação
enquanto professor. A sua estruturação permitiu-me conhecer cada uma das
modalidades lecionadas, rever os conceitos já adquiridos e aprofundar os
conhecimentos. Com efeito, este permitiu-me também perceber as minhas
dificuldades, bem como as minhas potencialidades. A complexidade da sua
organização contribuiu para que conhecesse cada modalidade a um nível que
me possibilitava consistência e coerência na transmissão dos conteúdos em todo
o processo de ensino-aprendizagem.
Este modelo divide o planeamento e a atuação do professor em três fases
distintas: a fase de análise, que diz respeito aos três primeiros módulos (análise
da modalidade, análise do envolvimento da aprendizagem e análise dos alunos);
a fase de decisões, que diz respeito aos módulos 4, 5, 6 e 7 (extensão e
sequência de conteúdos, objetivos, configuração da avaliação e tarefas de
aprendizagem); por fim, a terceira fase, fase da aplicação respeitante ao módulo
8 onde se aplica toda a informação identificada anteriormente no processo de
ensino-aprendizagem.
Deste modo, entende-se que a concretização deste documento
pressupõe, numa primeira fase, a análise da modalidade em questão através de
estruturas do conhecimento, tendo como base as categorias transdisciplinares
(módulo 1). De seguida, importa atender à verificação das condições materiais
de que a escola dispõe para o ensino da modalidade (módulo 2) e à obtenção
do nível de desempenho dos alunos, para orientar o processo de ensino
aprendizagem, através do processo de avaliação diagnóstica (módulo 3).
Terminada esta fase de análise, iniciam-se os processos de decisão relativos à
38
definição da extensão e sequência dos conteúdos, com recurso a uma grelha
(módulo 4), posteriormente, atende-se à definição dos objetivos pretendidos
(módulo 5), configurando depois a avaliação de forma ajustada e de acordo com
os objetivos propostos (módulo 6). Importa referir ainda, a criação de situações
de aprendizagem que permitam aos alunos obter as competências estipuladas
(módulo 7). Por fim, inicia-se a fase de aplicação de todo a matéria estruturada
anteriormente (módulo 8).
Todos os módulos, desde o módulo 1 ao módulo 7, foram como peças de
um puzzle que após serem encaixadas (módulo 8) puderam ser replicadas para
diferentes aplicações, sendo uma delas o plano de aula (Vickers, 1990).
4.2.3 Plano de aula
O plano de aula surge assim como uma imagem completa do processo de
ensino-aprendizagem, que resulta da união das várias peças do puzzle já
produzidas anteriormente, sendo esta o último nível de planificação. Neste
sentido, aquando a sua realização, é fundamental considerar toda a informação
definida nos dois documentos anteriores para que este seja concretizado com
sentido.
A sua correta realização contribui para o bom funcionamento da aula e
este deve ser o mais sucinto e explícito possível. Este documento deve estar
presente durante as aulas, servindo de auxílio ao professor, caso seja
necessário. Desta forma, a sua apresentação deve ser simples e de rápida
compreensão, devendo, na minha opinião, o professor privilegiar a utilização de
um esquema em prol de uma explicação escrita extensa dos exercícios. Para
que estas premissas sejam cumpridas, é necessário que o professor reflita no
sentido de encontrar a melhor forma de condensar toda a informação crucial,
tornando-a de igual modo, fácil de se recorrer em qualquer momento da aula.
Numa primeira fase, a organização do meu plano de aula era bastante
rudimentar e o seu conteúdo demasiado extenso, o que tornava a sua consulta
uma tarefa difícil e morosa. Com o decorrer do EP fui sentindo a necessidade de
selecionar quais os conteúdos a colocar, bem como a reorganização dos
39
mesmos, tornando assim a sua visualização mais intuitiva. Para além disso,
comecei a adicionar diversas informações adicionais que se verificavam úteis
durante o decorrer das atividades. Essas informações centram-se na descrição
das equipas, caso estas existissem, a hora de início e término dos exercícios
(para além do tempo de duração de cada um deles) e qualquer informação
adicional que fosse necessária transmitir aos alunos, como por exemplo, a
existência de atividades que iriam decorrer na escola.
As maiores dificuldades sentidas na realização deste documento
verificaram-se na escolha dos exercícios mais adequados ao nível da turma, sem
descurar as modalidades lecionadas. Na parte inicial do ano letivo era observável
que esta tarefa era bastante morosa, o que prejudicou diretamente todo o
trabalho realizado durante o ano.
No concerne à elaboração do referente documento, a preocupação foi
crucial no que diz respeito à otimização do tempo potencial de aprendizagem
dos alunos durante as aulas. Para tal, existiu sempre o cuidado de aproveitar ao
máximo o espaço disponível para a realização da prática, o que implicou a
organização prévia dos alunos pela área disponível, conferindo maior tempo
potencial de aprendizagem, de modo a alcançar os objetivos propostos. Para
além disso, o grau de motivação incutido aos alunos sempre foi uma
preocupação e, como tal, este demonstrou ser um fator condicionador da escolha
dos exercícios.
Por outro lado, a escolha do tempo disponibilizado para a realização de
cada um das tarefas foi também uma dificuldade. Na realidade, foi observável
em algumas aulas a necessidade de encurtar o tempo de realização de alguns
exercícios presentes no plano de aula, ou até mesmo eliminá-los. Esta
problemática era resultante, por vezes, da definição errada do tempo necessário
para a execução de cada exercício ou também decorrente de dificuldades
apresentadas pelos alunos durante a sua realização. A primeira apresentada
ocorreu tanto na escolha de um tempo demasiado curto para cada exercício,
como, por vezes, na seleção desse tempo que era exagerado, pois os alunos
não demonstravam tantas dificuldades quanto as esperadas. Ainda assim,
admito que na maior parte das vezes, verificou-se a seleção de um tempo
demasiado curto para a realização de determinados exercícios. Para a eleição
deste tempo, sempre considerei diferentes fatores da aula, no entanto, por
40
vezes, estas apreciações não eram as mais acertadas, pois descuravam o tempo
de transição, organização e instrução das atividades.
Denoto que a modalidade onde esta dificuldade foi mais realçada foi o
basquetebol, onde as raparigas foram demonstrando bastantes dificuldades na
compreensão dos exercícios, levando-me a perder demasiado tempo na
instrução dos mesmos. Para além disso, numa tentativa de evitar que a aula se
tornasse desmotivante para os alunos que demonstravam maior facilidade na
compreensão e aplicação dos exercícios, senti a necessidade de os colocar
rapidamente a realizar a atividade e posteriormente, planear algumas variantes
dos mesmos. Desta forma, para além de conseguir que as tarefas realizadas por
este grupo fossem motivantes, foi possível potenciar as suas aprendizagens, até
porque o nível demonstrado por estes alunos era superior aos demais e, como
tal, estes necessitavam de um estimulo diferente:
“Tal como ocorreu nas aulas anteriores, no que concerne ao
funcionamento das atividades, ocorreram de novo problemas no iniciar de um
exercício, nomeadamente o de contra-ataque. As raparigas demonstraram
dificuldades em perceber a realização no exercício, levando-me a proceder a
uma nova instrução de forma mais pausada e pormenorizada. Para que os
rapazes não perdessem tempo de exercitação, indiquei-lhes que prosseguissem
o exercício” (Reflexão da Aula nº 74 do dia 10 de Fevereiro).
Tal como evidenciei no excerto anteriormente apresentado, nesta
situação específica, tive de dar resposta ao imprevisto que sucedeu durante a
aula, mais uma vez, decorrente das grandes dificuldades demonstradas pelas
alunas na compreensão dos exercícios. Com efeito, a partir deste momento, tive
a necessidade de considerar cuidadosamente todas estas variáveis da aula
aquando a realização do seu planeamento. A minha escolha recaiu no
delineamento de mais tempo para cada exercício, de forma a conseguir
concretizar todos os exercícios planeados para a aula e não ficar impedido de
cumprir o plano de aula na sua íntegra. Para além disso, a adaptação deste
planeamento à realidade vivenciada nas aulas foi fulcral para conseguir que
todos os alunos alcançassem o sucesso e, para esse fim, procedi a adaptações
ao nível dos exercícios, mas também em toda a estrutura da aula, ajustando às
potencialidades dos alunos.
41
Em suma, numa fase inicial da prática pedagógica do EE, a organização
destas informações é extremamente importante para que este potencie o seu
desempenho enquanto profissional. No que diz respeito ao meu percurso,
considero que as dificuldades inerentes ao momento inicial do EP foram
ultrapassadas de uma forma efetiva, pois admito que empreguei muito tempo à
realização destas tarefas, com o objetivo de conseguir que o desempenho desta
tarefa fosse o mais completa possível.
4.3 Realização do processo de Ensino
A realização do processo de ensino é o ponto de convergência das etapas
de conceção e planeamento. É aqui que todos os entendimentos desenvolvidos
e todas as planificações definidas são transpostos para a prática e vivenciados.
Com efeito, é neste momento que nos deparamos com as respostas dos
alunos em função das nossas conceções e planificações definidas para uma
determinada atuação. São estas respostas que nos levam a perceber quais os
fatores de sucesso e insucesso de todo um processo de análise e planificação,
que nos permitem realizar as devidas adaptações tanto antes como durante a
aula propriamente dita, ou mesmo proceder a alterações ao nível de todo o
processo de ensino-aprendizagem. No entanto, estas respostas são diferentes
para cada aluno ou grupo de alunos, sendo estas diversidades e individualidades
o cerne das dificuldades sentidas por parte do professor, uma vez que devemos
atender a estas divergências recorrendo à diferenciação pedagógica.
A ocorrência desta divergência de respostas deve-se ao facto de não
existir uma “melhor maneira” de ensinar (Metzler, 2000). Metzler (2000) refere
que cada vez que um professor instrui um conteúdo para diferentes grupos de
alunos, é necessário que haja alterações na forma de instruir, com o intuito de
promover uma aprendizagem mais efetiva e agradável. Podemos, portanto,
concluir que cada aluno ou cada grupo de alunos é distinto dos restantes e, como
tal, há que procurar encontrar a melhor forma de adaptar o processo de ensino-
aprendizagem ao contexto em questão, garantindo assim o alcance dos
objetivos delineados. É importante referir ainda que, para além da instrução,
42
existem outros fatores que influenciam a qualidade do ambiente de
aprendizagem e que comprometem o alcance dos objetivos delimitados pelo
professor, tais como a gestão, o clima e a disciplina (Siedentop, 1991).
Ainda assim, a compreensão dos ambientes de aprendizagem exige o
recurso a três sistemas de tarefas que estão intimamente inter-relacionados: o
sistema instrucional, o sistema de gestão e o sistema social (Siedentop &
Tannehill, 2000). Se o professor for capaz de garantir a eficácia destes três
sistemas, conseguirá certamente contribuir para a aprendizagem dos alunos.
4.3.1 Sistema Instrucional
“ No quadro abrangente dos propósitos que justificam e legitimam a
comunicação no processo de ensino-aprendizagem, a instrução ocupa um
lugar nobre, ao referenciar-se à informação directamente relacionada com os
objectivos e a matéria de ensino”.
(Rosado & Mesquita, 2011a, p. 69)
Segundo Rosado e Mesquita (2011a), é inquestionável o papel que a
comunicação exerce na orientação do processo de ensino-aprendizagem, pois
a transmissão de informação distingue-se como uma das competências
fundamentais dos professores. Os autores afirmam ainda que, quando em
contexto de ensino se pretende comunicar, recorre-se, frequentemente, ao termo
instrução. Este caracteriza-se pelos comportamentos de ensino que fazem parte
do repertório do professor para transmitir informação diretamente relacionada
com os objetivos e conteúdos do ensino (Siedentop, 1991).
Sabemos que no contexto de ensino, “when it comes to movement tasks,
communication is the name of the game” (Rink, 1993, p. 81), pois tanto é
importante saber transmitir como conseguir que os alunos percebam a
informação que lhes é transmitida, caso contrário, não existe comunicação. De
forma a corroborar a ideia da autora supracitada, Rosado e Mesquita (2011a)
referem que os processos de comunicação são, naturalmente, objeto de um
amplo conjunto de barreiras como por exemplo: a perceção seletiva (vemos e
43
escutamos consoante os nossos interesses), a sobrecarga de informação (a
capacidade de processar informação é limitada), a linguagem (as palavras têm
significados diferentes para cada pessoa) e o receio de comunicar (originado
pela ansiedade dos alunos, por exemplo). Por conseguinte, é imprescindível que
a instrução seja o mais elucidativa, curta e clara possível, para que os alunos se
mantenham interessados na informação e consigam realmente compreender o
que é transmitido. No entanto, Rosado e Mesquita (2011a) elucidam-nos
também para a ideia de que é importante reconhecermos que entre aquilo que o
professor pretende dizer e aquilo que efetivamente diz pode haver uma
diferença. E por vezes, aquilo que o praticante ouve não é necessariamente
aquilo que compreende, e aquilo que compreende poderá não ser retido ou,
muitas vezes, executado. A este fenómeno dá-se o nome de afunilamento
instrucional (Rosado & Mesquita, 2011a) o qual deve ter especial atenção da
parte do professor.
Partindo deste pressuposto, será possível afirmar que a instrução deve
ser fruto de um processo de planeamento que procura superar todas as barreiras
já referidas, de forma a proporcionar aos alunos uma aprendizagem de
qualidade.
No que refere ao meu EP, considero que o sucesso da instrução foi um
dos grandes desafios vividos ao longo do ano, uma vez que os alunos, por vezes,
evidenciavam dificuldades em entender a informação que transmitia, sendo esta
dificuldade observada principalmente no momento inicial das tarefas aquando da
transposição da informação para a prática. Rapidamente assumi a
responsabilidade desta falha e percebi que, numa primeira fase, me
culpabilizava pela escassez de demonstrações, aspeto este que falarei
posteriormente. Com o passar do tempo e com a demonstração já otimizada,
depreendi que, especialmente nas modalidades coletivas, os alunos ainda
demonstravam grandes dificuldades em compreender a informação transmitida.
Por esta razão, após refletir sobre o assunto, considerei que o problema poderia
estar no momento de transmissão de informação, ou melhor, na qualidade da
informação transmitida. Uma das primeiras conclusões a que cheguei foi que no
momento da instrução dos exercícios poderia estar a ser demasiado sucinto,
especificamente aquando a apresentação das tarefas a realizar:
44
“Através da avaliação destas dificuldades cheguei também à conclusão
que este problema pode estar relacionado com o momento de instrução. Penso
que pelo facto de tentar ser o mais breve possível na apresentação dos
exercícios, há alguma informação que pode acabar por ser dissipada ou mesmo
omitida por minha parte, resultando na dificuldade dos alunos em entender o
pretendido. Se esta ação não for bem realizada, a perceção dos alunos no que
concerne ao pretendido para o exercício fica comprometida” (Reflexão da Aula
nº 73, dia 5 de Fevereiro).
Posteriormente, procurei otimizar a qualidade da informação transmitida
na apresentação das tarefas, o que permitiu que houvesse uma melhoria
significativa na compreensão dos alunos. Apesar de compreender a forma como
deve ser estruturado um momento de transmissão de informação, as
dificuldades referidas anteriormente levaram-me a ir em busca de novos saberes
e consequentes capacidades, aprimorando o meu conhecimento acerca da
matéria. Neste sentido, a minha intervenção passou a focar-se em cumprir cinco
elementos necessários para uma boa exposição: (1) identificar o novo através
do conhecido; (2) incidir no problema, ou seja, focalizar o cerne da questão; (3)
especificar as condições de realização; (4) realçar a importância dos novos
princípios; (5) completar a explicação através do estabelecimento de ligações
entre os diferentes elementos que fazem parte da informação e recorrer a
demonstrações. (Leinhardt et al. cit. por Rosado & Mesquita, 2011a).
Além disso, procurei sempre que possível e adequado, utilizar os meios
gráficos (e.g. quadro do pavilhão desportiva ou a placa que me fazia
acompanhar) como recurso enriquecedor da exposição, que se podem revelar
fundamentais quando pautados por critérios de legibilidade e de atratividade
(Rosado & Mesquita, 2011a).
Deste modo, considero ter, de forma progressiva, conseguido otimizar
substancialmente a apresentação das tarefas. No entanto, nem sempre uma
exposição eficaz da tarefa era suficiente e, como referido anteriormente, por
vezes, foi necessário criar uma perceção visual da tarefa a realizar
(demonstração).
45
4.3.1.1 A Demonstração
“Retemos, por exemplo, melhor o que vemos do que aquilo que
ouvimos; recordamos ainda melhor o que vemos e ouvimos”.
(Rosado & Mesquita, 2011a, p. 73)
A demonstração, quando associada à exposição de informação,
apresenta-se como um meio efetivo de comunicação, sendo que possibilita a
visualização do modelo correto do movimento a realizar por parte do aluno
(Darden, 1997).
A necessidade de recorrer à demonstração surgiu logo nas primeiras
aulas lecionadas em que os alunos, por vezes, tinham dificuldade em
compreender as tarefas motoras desejadas. Após refletir sobre esta
problemática, rapidamente percebi que as minhas demonstrações tendiam a ser
frequentemente bastante pobres:
“Para a instrução deste exercício apenas realizei uma demonstração,
quando este era composto por diversas variações, o que estava a dificultar a
compreensão por parte dos alunos. Para que a compreensão do exercício fosse
mais fácil deveria ter realizado uma demonstração, por cada variação de
sequência (…)” (Reflexão da aula nº 22 e 23, dia 22 de Outubro).
Assim, com o passar do tempo, procurei melhorar a qualidade das minhas
demonstrações de forma a aprimorar o suporte visual das tarefas propostas.
Para tal, procurei por exemplo evidenciar as componentes críticas mais
relevantes através do exagero. Posteriormente, procurei também incluir os
alunos como agentes ativos nas demonstrações, dando-lhes oportunidade de
demonstrar as tarefas propostas aos seus colegas:
“Aproveitei o facto de um aluno ser ex-praticante de atletismo para ser ele
a realizar a demonstração da partida no bloco, dando-lhe também a oportunidade
de ser ele a explicar aos colegas as componentes críticas da mesma, no entanto,
procurei intervir sempre que achava adequado” (Reflexão da Aula nº 20, dia 16
de Outubro).
Segundo Rosado e Mesquita (2011a), é aconselhável que, sempre que
possível, a demonstração seja realizada pelos alunos, visto que produz um efeito
de gratificação no mesmo e propicia a criação de um clima relacional positivo de
46
imitação. No entanto, os autores alertam da necessidade de, por vezes, ser o
professor a realizar a demonstração, pois contribui para a criação de uma
imagem mais positiva de si e da atividade desportiva em causa. Para além disso,
procurei sempre evitar situações em que a performance do aluno o pudesse
colocar numa situação indesejada perante os seus colegas (Rink, 1993),
optando nestes casos por realizar eu a demonstração.
Devido ao facto das raparigas da turma demonstrarem mais dificuldades
do que os rapazes no entendimento das atividades propostas, nos momentos
em que estes trabalhavam separadamente, nomeadamente na modalidade de
basquetebol, decidi colocar o grupo dos rapazes a realizar o exercício proposto,
enquanto as raparigas observavam a sua realização, permitindo assim que estas
compreendessem a dinâmica da tarefa.
“Neste momento, uma solução que irei experimentar será colocar os
rapazes a realizar os exercícios como forma de demonstração, pois desta forma,
as raparigas terão oportunidade de observar várias repetições da execução do
exercício, levando-as mais facilmente ao entendimento do funcionamento e
objetivos dos mesmos” (Reflexão da Aula nº 74, dia 10 de Fevereiro).
Esta metodologia foi também posteriormente aplicada, pontualmente, na
UD de futebol, onde as raparigas também apresentavam uma diferença
significativa de capacidade de compreensão da tarefa desejada em relação aos
rapazes. Considero que estas tomadas de decisão se demonstraram bastante
positivas para a diminuição do tempo de instrução e consequente aumento do
tempo disponível para a prática.
Para além da demonstração da forma correta de realizar as tarefas, por
vezes, verifica-se adequado dar aos alunos a conhecer a forma incorreta de as
realizar, já que lhes proporcionar um contacto com os erros de execução
(Rosado & Mesquita, 2011a). A este modelo de demonstração dá-se o nome de
modelo de aprendizagem. A necessidade de recorrer a este modelo evidenciou-
se, numa primeira fase, quando após várias demonstrações corretas, os erros
dos alunos prevaleciam. Posteriormente, com a perceção do sucesso deste
modelo, procurei introduzir nas instruções iniciais, demonstrações dos erros
mais comuns na execução de determinada habilidade motora. Apesar de este
tipo de demonstração poder ser executado pelos alunos, sempre procurei ser eu
47
a realizá-lo, pois uma demonstração aplicada por alunos com mais dificuldades
poderá levar a um momento de humilhação (Rosado & Mesquita, 2011a).
Apesar da eficácia que a demonstração pode apresentar, esta não se
confina à pertinência da sua utilização per se, sendo que o suporte verbal que
as acompanha surge como um fator que interfere com os seus efeitos em relação
aos ganhos da aprendizagem (Rosado & Mesquita, 2011a).
4.3.1.2 Palavras-Chave
“A learning cue is a word or a phrase that identifies and communicates to
a performer the critical features of a movement skill or task”.
(Rink, 1993, p. 88)
Kwak (cit. por Rosado e Mesquita, 2011) apurou que atletas que
usufruíam de explicações verbais e demonstrações, acompanhadas de palavras-
chave, eram mais eficazes na execução de habilidades, demonstrando melhores
características técnicas, e tinham um maior nível de recordação da informação
transmitida.
Desta forma, o uso de palavras-chave, não só nas demonstrações, mas
também ao longo da realização das tarefas, foi algo que procurei ter sempre
presente, empregando assim um maior contributo à aprendizagem dos alunos.
Considero que apesar de estas já estarem presentes desde o início da minha
prática pedagógica, senti a falta de precisão na escolha das palavras-chave a
utilizar, ou seja, nos momentos de instrução acabava por utilizar aquelas que me
surgiam no pensamento sem que tivesse ocorrido uma seleção prévia das
mesmas. Como tal, isto resultava num emaranhado de palavras no meu
pensamento e, por vezes, as selecionadas não eram as mais adequadas. Com
efeito, para que o contributo desta estratégia fosse enaltecido, considerei a
necessidade de dedicar tempo para me focar na melhoria desta componente:
“Relativamente à minha intervenção pedagógica durante o exercício de
ativação geral, concentrei-me em melhorar um pouco a minha instrução, não só
na apresentação do exercício, como também durante a realização do mesmo. O
meu foco foi a nível da utilização das palavras-chave mais adequadas, para que
48
os alunos entendessem os objetivos do exercício” (Reflexão da Aula nº 86, dia 5
de Março).
Nos momentos de instrução, procurei evidenciar relações entre uma
determinada ação de uma habilidade motora com uma determinada palavra-
chave. Com efeito, aquando o decorrer dos exercícios, para evidenciar a
ausência de uma ação por parte de um aluno ou grupo de alunos, bastava
proferir a palavra-chave para que estes se recordassem da mesma. Para além
disso, esta estratégia contribuía para o fácil entendimento de determinada ação
motora. No triplo salto, por exemplo, para que os alunos percebessem a
necessidade do pé contactar o solo o mais à frente possível, utilizei a frase “Vai
buscar o solo!” à qual eles já sabiam que era o solo que estava o mais longe
possível deles.
Para que as palavras-chave previamente selecionadas não caíssem no
esquecimento no momento da minha atuação, estas constavam no plano de aula
num local de fácil acesso, pois se tal acontecesse, rapidamente poderia recorrer
ao documento para as verificar.
Apesar de estas estratégias serem aqui referenciadas de forma separada,
é fácil compreender que estas se complementam entre si, sendo que a aplicação
de uma estratégia incita a aplicação de outra, e assim sucessivamente. Neste
conjunto de estratégias, fui incluindo também o questionamento, visto que
segundo Rosado e Mesquita (2011a) esta permite verificar o grau de
compreensão perante a informação transmitida, bem como captar a sua atenção
nos momentos de instrução. Os autores referem ainda que, a utilização deste
parâmetro de intervenção pode servir diversos objetivos educativos, consoante
a intenção do professor.
4.3.1.3 Questionamento
Para aplicar o questionamento com o intuito de verificar a compreensão
da informação, existem duas tipologias de perguntas passíveis de ser utilizadas
pelo professor, nomeadamente perguntar aos alunos se têm dúvidas ou realizar
questões que incidam diretamente na informação transmitida. Durante o estágio,
estas duas formas foram utilizadas e como tal, tive a capacidade de alcançar o
49
sucesso, no entanto, considero que a primeira não era completamente eficaz
quando direcionada a alguns alunos.
No que concerne à estratégia em que perguntava aos alunos se estes
tinham dúvidas, considero que a sua utilização era bastante eficaz em
determinados alunos, no entanto, relativamente aos alunos com maior inibição
para a comunicação, esta não funcionava. Como tal, fui procurando aplicar as
distintas formas de questionamento consoante o aluno que queria abordar,
acabando, muitas vezes, por utilizar ambas no mesmo momento de instrução.
Por outro lado, a construção da frase que utilizava para questionar os alunos foi
alterada com o tempo. Nas primeiras aulas questionava os alunos sobre se estes
tinham alguma dúvida e, posteriormente, comecei a questioná-los se a minha
comunicação tinha sido clara. Isto surgiu com o intuito de evitar que algum aluno
não respondesse por receio de demonstrar que não tinha capacidade para
compreender a informação transmitida perante a restante turma. Com efeito,
quando passei a formular a questão colocando a minha intervenção no cerne da
mesma, senti que os alunos demonstraram mais à vontade em se manifestarem,
pois desta forma significava que o erro estava em mim e não no aluno. Para além
disso, esta questão permitia-me ainda avaliar melhor a minha capacidade
instrucional, pois o questionamento pode ser um instrumento de avaliação, não
só dos alunos, mas também dos professores (Rosado & Mesquita, 2011a).
A utilização de perguntas diretamente relacionadas com a informação
permitia-me, por sua vez, verificar se todos, ou determinado aspeto da
informação transmitida, tinha sido captado e compreendido pelos alunos. Esta
estratégia foi muito utilizada especialmente na parte inicial e final das sessões,
de forma a verificar o sucesso das mesmas, permitindo-me deste modo adaptar
o planeamento da sessão seguinte e, quando tal se verificava necessário,
também a UD:
“Como já é habitual na maioria das aulas, comecei por realizar a revisão
através do questionamento dos alunos, especialmente aos que demonstram ter
dificuldades acrescidas, permitindo-me assim verificar se a matéria lecionada na
sessão anterior tinha sido retida” (Reflexão da Aula nº 77, dia 12 de Fevereiro).
Para além da verificação da compreensão dos alunos, o questionamento
pode ser também utilizado para os auxiliar nas aprendizagens nos domínios
psicomotor, cognitivo e afetivo, dependendo do tipo de questão que é emitida
50
(Metzler, 2000). Esta estratégia foi também utilizada com muita frequência ao
longo das aulas, especificamente nos momentos de apresentação de novas
matérias. Sempre que possível, apresentava situações-problema aos alunos e
questionava-os com o intuito de eles encontrarem as soluções para as mesmas:
“Em primeiro lugar procurei guiar os alunos, através do questionamento,
de forma a perceberem quando surgia a necessidade de executar uma manchete
em contexto de jogo, através de situações demonstradas por mim e pelo X, às
quais estes apresentavam soluções” (Reflexão da Aula nº 94 e 95 da turma
partilhada, dia 28 de Maio).
Para além destes objetivos, procurei, por vezes, utilizar o questionamento
por meio do uso do feedback interrogativo (Sarmento et al., 1993). Este foi um
excelente recurso para motivar os alunos a tratarem a informação que recebiam
das suas execuções, desenvolvendo assim a capacidade de avaliação das
mesmas e, por sua vez, a estruturação dos planos motores subjacentes às suas
execuções (Rosado & Mesquita, 2011a).
4.3.1.4 Feedback
“ Após a realização de uma tarefa motora por parte de um aluno ou
atleta, este deve, para que o seu desempenho seja melhorado, receber um
conjunto de informações acerca da forma como realizou a ação”.
(Rosado & Mesquita, 2011a, p. 82)
Esta informação cedida pelo professor durante as suas aulas denomina-
se de feedback e é entendido como um comportamento de reação à resposta
motora do aluno, tendo como objetivo modificar essa ação no sentido de
aquisição ou realização de uma habilidade (Fishman & Tobey, 1978). Este
comportamento é subdividido em duas fases distintas, nomeadamente, a fase
de diagnóstico (identificação do erro, reflexão acerca da natureza e identificação
das causas) e a fase de prescrição (emissão do feedback).
A necessidade de reagir imediatamente à resposta do aluno torna-se um
fardo pesado na observação e análise de determinada habilidade por parte do
professor (Metzler, 2000). Desde o princípio da minha atuação como professor,
51
procurei emitir feedbacks o mais eficazes possível, no entanto, considerando as
dificuldades sentidas, inicialmente as que mais se destacavam derivavam do
diagnóstico do erro:
“Nas diferentes situações de aula, aquando a execução dos exercícios,
quando observava um aluno conseguia observar algum erro na sua execução,
no entanto, não conseguia identificar qual a componente de execução técnica
que estava incorreta” (Reflexão final de 1º Período).
Na verdade, uma das maiores lacunas na qualificação do feedback situa-
se na dificuldade de os agentes de ensino diagnosticarem a natureza do erro dos
alunos, sendo que esta competência exige o conhecimento dos modelos de
execução e do contexto em que se concretiza (Rosado & Mesquita, 2011a).Tal
como refere Rosado (cit. por Rosado & Mesquita, 2011a), a fase de diagnóstico
está intimamente dependente de fatores do âmbito cognitivo, como o
conhecimento dos elementos críticos da tarefa, dos seus erros mais comuns, do
conhecimento do nível dos alunos e dos objetivos de aprendizagem. Considero
que a minha capacidade de deteção do erro foi aumentando com a acumulação
do número de aulas lecionadas. Estas alterações resultaram, não só do aumento
da experiência enquanto professor, como da melhoria do meu conhecimento nas
diferentes modalidades. Este aumento de conhecimento deveu-se, em grande
parte, a todo o trabalho de pesquisa realizado fora das aulas para a planificação
das mesmas, que contribuiu diretamente para um acréscimo de conhecimentos.
Adicionalmente, a organização do feedback a emitir requere uma correta
gestão de algumas variáveis, nomeadamente: a quantidade e frequência de
emissão; o grau de especificidade; a forma; a distribuição; direção; e conteúdo
(Rosado cit. por Rosado & Mesquita, 2011a). No decorrer do EP a gestão de
algumas destas variáveis apresentou-se como um obstáculo a ultrapassar, das
quais destaco a forma, a direção e o conteúdo.
Neste campo, Sarmento et al. (1993) distinguem quatro tipos de feedback,
no que diz respeito ao seu objetivo: avaliativo (emite um simples juízo ou
apreciação da execução do aluno); prescritivo (informa o aluno da forma como
deverá realizar a execução seguinte, ou como deveria ter realizado); descritivo
(descreve ao aluno a forma como este realizou); e interrogativo (questiona o
aluno acerca da sua prestação motora).
52
Ao longo do ano letivo, procurei utilizar os diferentes tipos de feedback
consoante a situação e como achava mais pertinente. No entanto, nas primeiras
aulas lecionadas, deparei-me com um uso excessivo de feedbacks avaliativos
negativos, embora a minha intenção fosse recorrer imediatamente à correção.
Na realidade, num primeiro instante identificava o erro em determinado aluno,
incidindo na incorreta execução e sem nunca valorizar as ações corretas, e só
depois procurava corrigi-lo. Metzler (2000) refere que este tipo de situações se
devem à noção de que o trabalho do professor de EF é corrigir os erros. No
entanto, o autor refere que informações sobre o que está correto numa
determinada execução é tão valorativo para a melhoria do aluno, como a
informação acerca daquilo que está incorreto, visto que “fortalece não só a
execução dessas acções como também cria um clima positivo de aprendizagem”
(Rosado & Mesquita, 2011a, p. 90):
“Um aspeto que reparei e refleti no final da aula, foi o facto de que talvez
esteja a esquecer-me um pouco dos feedbacks positivos nos alunos mais fracos.
Tenho alguns alunos que se verifica estarem um pouco desmotivados por terem
dificuldades na modalidade e quando eu estou perto deles caio sempre na
tentação de estar constantemente a tentar corrigi-los havendo uma escassez de
feedback positivo(…)” (Reflexão da Aula nº 12, dia 2 de Outubro).
Com efeito, comecei a procurar emitir feedbacks de encorajamento e a
enaltecer as boas atuações dos alunos. Este tipo de estratégias permitem uma
melhoria do empenhamento e da disciplina dos alunos que, por sua vez, contribui
para um bom clima da turma (Rosado & Mesquita, 2011a), facto que foi verificado
ao longo das aulas, especialmente ao nível dos alunos com maiores dificuldades.
A prescrição de um feedback, no que concerne à direção, pode ser
realizada a toda a turma, a um grupo de alunos ou a um aluno. No início do ano,
a maioria dos meus feedbacks eram excessivamente de cariz individual, o que
por vezes não me permitia alcançar e corrigir todos os alunos numa dada tarefa.
Com o passar do tempo fui-me inteirando de que frequentemente vários alunos
podem usufruir do mesmo feedback (Rink, 1993). Desta forma, quando
identificava um erro que era comum a um determinado grupo de alunos,
direcionava o feedback para o grupo, ou se um erro fosse comum à maioria da
turma, acabava por parar a tarefa para que todos os alunos prestassem atenção
à correção. A partir do segundo período, o facto da turma estar frequentemente
53
dividida por grupos de trabalho (equipas) proporcionou mais a utilização de
feedbacks ao grupo.
Por outro lado, no que concerne ao conteúdo do feedback, outra
adversidade com a qual me deparei ao longo do ano, foi a dificuldade em
priorizar o erro a corrigir. Por norma, os erros de um aluno não se cingem a
apenas um motivo, no entanto, a correção de todos os erros em simultâneo
podem ser prejudiciais para o aluno, podendo resultar na ausência de melhoria.
Na verdade, no início da minha prática pedagógica tinha uma grande tendência
para debitar um grande número de feedbacks em simultâneo. Com a própria
experiência percebi que esta estratégia não era de todo eficaz e, como tal,
procurei sempre encontrar e corrigir os erros mais críticos para posteriormente
me focar nos erros mais específicos.
Para além do conteúdo do feedback, o professor deve também procurar
perceber qual o resultado que a sua emissão impregnou no aluno. Neste sentido,
uma utilização correta desta estratégia deve respeitar um conjunto de processos
denominado de ciclo de feedback. Este ciclo é composto por 5 etapas:
observação e identificação do erro na prestação; tomada de decisão (o professor
decide se deve reagir ou não e, caso reaja, se presta um encorajamento ou uma
informação); feedback pedagógico informativo; observação das mudanças no
comportamento motor do aluno; eventual observação de uma nova tentativa do
gesto e ocorrência de um novo feedback (Piéron e Delmelle cit. por Rosado &
Mesquita, 2011a). Devido à minha inexperiência, no início do EP tinha muita
dificuldade em cumprir o ciclo de feedback, pois acabava por me preocupar mais
em emitir feedbacks a toda a turma do que em verificar se estes tinham
resultados positivos nos alunos. Considero que a ajuda dos meus colegas de NE
foi fulcral para uma rápida melhoria desta dificuldade, sendo que o facto de no
início do ano estes estarem sempre presentes nas minhas aulas permitiu que,
de uma forma discreta, me relembrassem de completar o ciclo de feedback.
Fazendo um apanhado de todas as estratégias instrucionais referidas, é
fácil concluir que uma gestão ponderada da sua utilização contribuiu
inevitavelmente para uma otimização do processo de ensino-aprendizagem.
Ainda assim, apesar de todas estas contribuições evidentes, o modelo
instrucional que é colocado como pano de fundo de todo o processo tem também
uma importância substancial no processo.
54
4.3.1.5 Modelos Instrucionais
Um modelo instrucional fornece uma estrutura formal e coerente para o
ensino e treino do desporto (Metzler, 2000). Neste sentido, este clarifica “os
objectivos de aprendizagem em torno de grandes propósitos, que perspectivem
a natureza das tarefas de aprendizagem, os papéis de professores e alunos, os
recursos didácticos necessários, o envolvimento social e as formas de
organização da aula desejáveis para implementar e avaliar o programa de
instrução e os seus efeitos” (Mesquita & Graça, 2011, p. 45).
É certo que não existe um modelo instrucional que seja capaz de
responder a todos os envolvimentos de aprendizagem (Rink, 2001), pois os
pressupostos que resultam num determinado contexto não significa por si só que
resultam em todos os contextos e que sejam capazes de dar resposta a todas
as variáveis que interferem numa aula. Por conseguinte, um bom professor não
é necessariamente o que tem um grande número de modelos ao seu comando,
mas sim aquele que é capaz de selecionar o “melhor modelo para o trabalho”
(Metzler, 2011).
Tal como referido anteriormente, os modelos instrucionais que mais se
destacaram na minha atuação ao longo do EP foram o MID e o MED. Deste
modo, procurarei apresentar as características que os caracterizam como
modelos distintos, bem como os motivos que me levaram a adotá-los nas aulas
lecionadas.
4.3.1.5.1 Modelo de Instrução Direta
“Durante largos anos, o MID foi o prevalecente no ensino da Educação
Física”.
(Mesquita & Graça, 2011, p. 47)
Semelhantemente ao descrito acima e corroborando com a ideia de
Metzler (2011) de que atualmente a maioria dos professores de EF usam uma
versão similar ao MID, este foi também aquele que mais prevaleceu nas minhas
aulas. O MID distingue-se dos restantes modelos por centrar o professor na
55
tomada de praticamente todas as decisões relativas ao processo de ensino-
aprendizagem, sendo que este prescreve o padrão de envolvimento dos alunos
nas tarefas de aprendizagem (Mesquita & Graça, 2011).
Neste sentido, Metzler (2011) afirma que no MID fica reservado um
número bastante baixo de decisões a tomar por parte do aluno, sendo que a
maioria delas se cingem ao cumprimento das indicações do professor e à
resposta das questões que lhe são colocadas. O autor acrescenta ainda que o
propósito deste padrão é otimizar o tempo de aula no sentido de promover altos
índices de empenhamento motor na prática das habilidades motoras.
Segundo Rosenshine (1983), na aplicação do MID, os professores são
mais eficazes quando: estruturam o ensino pormenorizadamente; realizam uma
progressão das situações de aprendizagem em pequenos passos; dão
instruções bem detalhadas e ricas em exemplos; colocam bastantes questões
aos alunos, fornecem feedbacks e correções especialmente nas fases iniciais de
aprendizagem de um novo conteúdo; asseguram que os alunos têm uma taxa
de sucesso superior a 80% nas fases iniciais de aprendizagem.
O autor identifica ainda seis passos obrigatórios de uma aula organizada
segundo o MID aos quais intitula de “teaching functions”: a revisão da matéria
previamente aprendida; apresentação de novas habilidades ou um conteúdo em
geral e a prática inicial da habilidade (com a verificação do entendimento da
turma); emissão de feedbacks (e novo ensinamento se necessário); prática
autónoma dos alunos; e a revisão periódica (semanal ou mensal).
Importa também referir que este modelo não pretende caracterizar-se por
um padrão de intervenção rígido e imutável, pois os proponentes do MID não
pretendem prescrever comportamentos específicos de ensino, mas sim traçar
princípios genéricos de atuação para o professor, sem que este deprecie as
circunstâncias específicas em que trabalha (Mesquita & Graça, 2011). “De facto,
embora o termo “Instrução Directa” sugestione alguma passividade, a eficácia
deste modelo está associada à participação activa, empenhada e
responsabilizada dos alunos”(Mesquita & Graça, 2011, p. 51).
Apesar de existirem modelos mais atuais, notórios e até aliciantes, a
insegurança sentida na fase inicial do EP levou-me a aplicar este modelo de uma
forma bastante estrita no que concerne às 6 funções de ensino referidas. A
modalidade de badminton foi a primeira onde a aplicação deste modelo se
56
evidenciou, pois esta foi a primeira modalidade lecionada. A sua aplicação
permitia-me ter um maior controlo sobre toda a turma, bem como marcar a minha
posição enquanto professor.
Com o desenvolver do EP, fui procurando adotar, de forma progressiva,
ideologias de outros modelos de ensino, sendo que o mais evidente foi o MED.
4.3.1.5.2 Modelo de Educação Desportiva
O MED proposto por Siedentop (1987) vai ao encontro da necessidade de
conferir um cunho afetivo e social às aprendizagens (Mesquita & Graça, 2011).
Este é um modelo que se distingue por procurar “recriar um contexto desportivo
autêntico, substituindo as típicas unidades didáticas de curta duração pelo
conceito de época desportiva, que congrega a ideia de prática desportiva, com
a institucionalização de clubes; com filiação duradoura e competição
calendarizada; com a conservação de registos de resultados e estatísticas dos
desempenhos individuais e de grupo; com a atribuição de papéis e funções que
compõem o envolvimento desportivo, capitães, treinadores, árbitros, diretores,
jornalistas”(Graça & Mesquita, 2013, pp. 14-15).
Tendo em conta estas características, Siedentop et al. (2011) distingue
três objetivos basilares do modelo: competência desportiva, literacia desportiva
e entusiasmo pelo desporto. A competência desportiva diz respeito à capacidade
do aluno dominar as habilidades e conhecer, compreender e adotar
comportamentos táticos, de forma a participar na competição de um modo
satisfatório; a literacia desportiva está relacionada com o conhecimento e
valorização das tradições e dos rituais associados ao desporto, bem como a
distinção de uma boa e má prática desportiva; e, por fim, o entusiasmo pelo
desporto significa que o aluno se sente atraído peça prática do desporto,
distinguindo-se como um promotor da qualidade e um defensor da autenticidade
da prática desportiva (Mesquita & Graça, 2011).
A aplicação deste modelo foi realizada ao longo do ano letivo de uma
forma progressiva, ou seja, no planeamento das UDs eram progressivamente
introduzidos conceitos do MED. Na modalidade de atletismo (1º período)
introduzi a visão competitiva do modelo. Devido à desmotivação demonstrada
57
por parte dos alunos face à modalidade, procurei encontrar uma estratégia que
os envolvesse nas aulas da modalidade. Assim, decidi dividir os alunos por
equipas e introduzir um quadro competitivo, existindo em todas as aulas
exercícios de treino e competição. A utilização destas estratégias demonstrou-
se bastante eficaz, sendo que os alunos demonstravam empenho nos exercícios
propostos com o intuito de conseguir alcançar o sucesso nos momentos de
competição. Foi também possível observar que mesmo os alunos com maiores
dificuldades se demonstravam predispostos para melhorar em prol da sua
equipa.
No segundo período, na modalidade de basquetebol, as ideologias do
MED foram apenas aplicadas em algumas aulas. Tendo em conta que os
rapazes tinham capacidades bastante superiores às das raparigas, ao longo
desta modalidade existiram aulas em que estes trabalhavam separadamente das
raparigas e outras em que trabalhavam juntos. Neste sentido, nas aulas em que
as equipas eram mistas, procurava preparar exercícios que permitissem o ganho
de pontos, sendo que cada aula funcionava como um campeonato. Além disso,
nesta UD introduzi o treino em equipa que permitisse uma preparação para os
exercícios de competição. Isto ocorria principalmente aquando a lecionação de
conteúdos táticos (e.g. ocupação racional do espaço; passa e corta). Considero
que estas estratégias se demonstraram bastante eficazes, pois, para além do
empenho dos alunos que já tinha sido adquirido na UD de atletismo, foi
verificável o desenvolvimento do espírito de equipa, nomeadamente, no que
concerne ao sentido de cooperação e entreajuda. Os melhores alunos
procuravam auxiliar os seus pares que demonstravam maiores dificuldades, com
o intuito de contribuir para o alcance dos objetivos da equipa.
Por fim, no terceiro período, na modalidade de Futebol, foi aplicado o MED
quase na sua íntegra. Aqui, foi criada uma calendarização total da época
desportiva, tendo existido dias dedicados aos treinos e dias de competição. A
filiação foi também algo fomentado, através da atribuição de cores, nomes, gritos
de equipa e escolha de capitães/treinadores de equipa, existindo também os
registos estatísticos individuais e de equipa, bem como a atribuição de papéis e
a realização de um evento culminante no final da época desportiva. Era na
atribuição de papéis que esta aplicação das características do MED mais
carecia, pois, para além dos papéis de estatístico em alguns exercícios e de
58
árbitro nos jogos formais, as restantes funções apenas foram aplicadas no
evento culminante. Ainda assim, toda esta organização se mostrou bastante
cativante para os alunos. Agradava-lhes o facto de existirem várias funções a
realizar, de existir uma época desportiva organizada e de sentirem que poderiam
fazer parte do seu próprio ensino, pois tinham um capitão de equipa que servia
como porta-voz da mesma. Como apenas existiam três equipas, nos momentos
de jogo formal, a equipa que não estava em jogo realizava exercícios com o
intuito de aprimorar conteúdos. Caso os treinadores me apresentassem um
exercício a realizar com a devida justificação (qual a dificuldade da equipa que
os levava a querer realizar aquele exercício), eu permitia que este fosse aplicado,
realizando apenas algumas adaptações quando identificasse como necessário.
A liberalização de tomada de decisões atribuída aos treinadores foi
bastante positiva para a motivação de toda a turma, pois estas escolhas partiam,
normalmente, da opinião de toda a equipa e não apenas do treinador. Além do
mais, utilizei os treinadores para atender à opinião dos alunos no decorrer das
aulas. Em algumas aulas, colocava certas questões a cada um dos treinadores,
na qual tinham que trazer uma resposta escrita na aula seguinte. Estas questões
eram relativas ao funcionamento das aulas, ao relacionamento da própria
equipa, às dificuldades que cada equipa sentia e também acerca do que poderia
ser diferente nas aulas.
De uma forma geral, considero que a aplicação deste modelo foi um
sucesso. O empenho nas aulas esteve sempre presente por parte de todos os
alunos, sendo que estes viveram intensamente a época desportiva. No entanto,
denoto que esta envolvência na competição não trouxe simplesmente bons
contributos para o funcionamento da aula. Este tema será desenvolvido
posteriormente no subcapítulo acerca do sistema social.
Para além da aplicação deste modelo na minha turma residente, em
conjunto com o NE, o MED foi também aplicado na UD de futebol na turma
partilhada. Este foi o foco do estudo de investigação realizado no âmbito do EP,
que será apresentado seguidamente.
59
4.3.1.6 Estudo de Investigação: O Efeito do Modelo de Educação Desportiva
na Aprendizagem dos Alunos no Futebol
Resumo
O presente estudo teve como objetivo verificar os efeitos do MED na
retenção das habilidades motoras no ensino da modalidade de futebol. O grupo
de participantes foi constituído por 5 alunos (3 elementos do sexo masculino e 2
do sexo feminino), com idades compreendidas entre os 10 e os 11 anos, de uma
turma de 20 alunos de 5º ano, de uma escola da zona norte do país. Os alunos
foram observados e avaliados através das filmagens adquiridas em três
momentos distintos (Pré-teste, Pós-teste e Teste de Retenção) com recurso ao
instrumento Game Performance Acessment Instrument (Oslin et al., 1998). Os
dados foram analisados através de um teste de variância de medidas repetidas
(ANOVA) e um teste Least Significant Difference (LSD) para as múltiplas
comparações à posteriori. Os resultados apresentados apresentaram efeitos
positivos da utilização do MED na aprendizagem do futebol evidenciando
diferenças significativas ao nível da performance global no jogo, do Pré-teste
para o Pós-teste.
PALAVRAS-CHAVE: RETENÇÃO NA APRENDIZAGEM; MODELO DE
EDUCAÇÃO DESPORTIVA; PERFORMANCE.
Introdução
Para além do desenvolvimento pessoal, social e moral dos alunos,
(Mesquita & Graça, 2011), a aprendizagem das habilidades motoras surge como
um dos principais objetivos da EF (Graham, 1991). Neste processo, o professor
deve procurar encontrar as melhores metodologias, proporcionando um
ambiente de ensino-aprendizagem adequado às necessidades dos alunos.
Na tentativa de explicar a aprendizagem, Piaget (1970) recorre ao
mecanismo da equilibração, como sendo um processo dinâmico autorregulado,
que coloca em equilíbrio dois comportamentos intrínsecos: a assimilação7 e a
7 Assimilação: Organização das experiências do meio externo com as próprias estruturas internas, tendo em vista a reconstrução e alimentação de esquemas hereditários ou adquiridos (Piaget, 1970).
60
acomodação8. Já Vygotsky (1978) postula que a aprendizagem resulta da
interação com o(s) outro(s) e com o meio, sendo que a aquisição emerge dos
impulsos e influências que estas interações implicam (Illeris, 2015). Neste
sentido, para Vygotsky (1978) qualquer função interna (aprendizagem) surge
primeiro no plano social através das interações com outros e só depois no plano
interno.
Centrando-nos na aprendizagem motora, Rink (1993) refere que a
aprendizagem se caracteriza por uma alteração relativamente permanente no
comportamento, sendo esta resultado da experiência de treino e da interação
com processos biológicos. Neste sentido, Karni et al. (1998) esclarece que a
aprendizagem de habilidades motoras divide-se em duas fases distintas: a
“aprendizagem rápida”, que se caracteriza pelo estabelecimento de um plano ou
rotina ideal para realizar uma tarefa no momento; e posteriormente, a
“aprendizagem lenta”, que se manifesta como uma assimilação a longo prazo e
ocorre devido a modificações estruturais das bases motoras. Esta abordagem
remete-nos para a ideia de que uma aprendizagem apenas é verdadeiramente
retida quando passa por este processo de “aprendizagem lenta”. Ou seja, só
nesta fase é que ocorre uma retenção dos conhecimentos e/ou habilidades. A
EF deve proporcionar ao aluno o alcance desta segunda fase do processo de
aprendizagem, para que consiga interiorizar a matéria e influenciar a sua prática
em contextos semelhantes, em que é necessário aplicar as respetivas
habilidades.
Neste contexto, Doyon et al. (2003) sugerem que, uma habilidade quando
é efetivamente aprendida pode ser executada com uma performance razoável
mesmo após longos períodos sem prática. Devemos considerar, portanto, que a
aprendizagem de uma determinada habilidade ocorre quando existe a
manutenção da performance pré-adquirida entre períodos distintos. Ou seja,
quando ocorre retenção desse conhecimento ou comportamento. Por esta razão,
quando se pretende analisar o processo de retenção na aprendizagem, alguns
estudos apontam para um período de interrupção da prática próximo a 5
8 Acomodação: ajustamento dos esquemas e entendimentos do sujeito frente às diversidades do meio captadas pelo processo de assimilação, com o intuito de criar uma rede cada vez mais densa de esquemas e entendimentos que definem o sujeito (Piaget, 1970).
61
semanas, para que se possa fazer uma comparação da performance do sujeito
(Abe et al., 2011; Kalkhoran & Shariati, 2012; Rendell et al., 2011).
Com efeito, para que o processo de ensino-aprendizagem seja eficaz, no
sentido de promover a retenção dos conhecimentos e habilidades, é necessário
que aspetos como as condições de aprendizagem sejam considerados no
planeamento das UDs e na realização da prática pedagógica. Ou seja, cabe ao
professor encontrar os melhores métodos, meios e modelos para que, em
determinado contexto, sejam criadas as melhores condições, que favoreceram
a aprendizagem dos alunos. Neste processo, importa considerar o aluno como
elemento ativo no próprio processo de ensino-aprendizagem, para que
compreendam as matérias e as considerem significativas, caso contrário, a
aprendizagem poderá ficar comprometida (McCaughtry, Tischler & Flory cit. por
Rosado & Ferreira, 2011).
Assim, atendendo a estes pressupostos e aos vários modelos de ensino
disponíveis para o ensino na EF, podemos considerar o MED (Siedentop, 1987),
uma “alternativa comprovadamente válida às abordagens tradicionais” (Mesquita
& Graça, 2011, p. 39), visto que é um modelo inovador na área da EF que parece
proporcionar condições de aprendizagem aos alunos, capazes de beneficiar a
retenção na aprendizagem. Deste modo, será pertinente analisar os efeitos
deste modelo na performance motora dos alunos a longo prazo (retenção).
O MED “tem como principais metas formar desportistas competentes ao
nível motor (que entendem e aplicam estratégias e táticas durante a participação
com sucesso num jogo), literatos (que entendem os valores e tradições do
desporto, bem como os seus rituais e regras distinguindo entre boas e más
práticas desportivas) e entusiastas (aqueles que participam de forma a valorizar,
preservar e proteger a cultura desportiva)“ (Pereira et al., 2013, p. 31). E para
que a autenticidade das experiências desportivas dos alunos fossem
asseguradas, Siedentop (1987) definiu 6 características do desporto
institucionalizado no MED: a época desportiva, a filiação, a competição formal
os registos estatísticos, a festividade e os eventos culminantes. A época
desportiva surge como substituta da UD, procurando inclusive aumentar a sua
duração, pois segundo o autor, as UDs são habitualmente demasiado curtas
para a consolidação das aprendizagens. A filiação procura promover a
integração dos alunos em equipa e, por conseguinte, o sentimento de pertença
62
ao grupo (Mesquita & Graça, 2011). De forma a contribuir para este sentido de
filiação, o modelo sugere a integração de uma variedade de papéis assumida
pelos alunos na constituição de equipas (e.g. jogadores, árbitros, estatísticos,
jornalistas), bem como a definição de nomes, cores, capitão, grito e área de
treino para cada uma das equipas. Juntamente com a definição das equipas, é
implementado um quadro competitivo formal (época desportiva) que procura
estabelecer mecanismos promotores da igualdade de oportunidades,
nomeadamente, através da premiação, da cooperação, bem como o fair-play e
a competição, sendo realizado um registo de resultados e comportamentos
(estatísticas individuais ou de equipa) (Mesquita & Graça, 2011).
Pereira et al. (2013) referem que atendendo ao facto dos alunos
realizarem tarefas de organização e serem responsabilizados por algumas
funções, precisam apresentar conhecimentos sobre os regulamentos e
componentes críticas de cada habilidade, promovendo o envolvimento e
concentração na própria aprendizagem. Além disso, como todas as tarefas
realizadas durante as aulas contam para a competição e os alunos se mantêm
sempre nas mesmas equipas, estes levam a aula de uma forma mais séria
(Hastie et al., 2011). Por consequência, os alunos tendem a ficar mais atentos
aos feedbacks emitidos pelos professores e pelos seus capitães,
comparativamente a um modelo mais tradicional (Hastie et al., 2013).
Adicionalmente, sabe-se que “aprende mais quem dedica mais tempo a
uma boa exercitação” (Mesquita & Graça, 2011, p. 41) logo, o facto de o MED
proporcionar o aumento do tempo na tarefa, especialmente durante a prática de
exercícios em equipa (Siedentop et al., 2011), poderá beneficiar a
aprendizagem.
Apesar da escassez de pesquisas acerca do impacto deste modelo na
performance motora dos alunos, os poucos estudos encontrados (e.g. Hastie,
1998; Hastie et al., 2013) evidenciam resultados positivos em relação à melhoria
das habilidades motoras. Mas será que esses resultados positivos permanecem
ao longo do tempo? Serão essas melhorias de performance efetivamente
aprendizagens? Na tentativa de responder a estas questões, outros estudos
aplicados na modalidade de atletismo realizam um teste de retenção após um
período de interrupção da prática (Pereira et al., 2013; Pereira et al., 2015), ao
qual o resultado se mostrou positivo. Mas será que o mesmo resultado será
63
encontrado na modalidade de futebol? Assim, o presente estudo pretende
verificar os efeitos do MED na retenção das habilidades motoras no ensino da
modalidade de futebol.
Metodologia de Recolha
Participantes
A par do impacto que o MED pode apresentar na aprendizagem das
habilidades motoras, a opção pela aplicação deste modelo resultou da
necessidade do NE solucionar alguns problemas emergentes ao longo do
processo de ensino-aprendizagem da turma partilhada. Estes, resultantes,
principalmente, da fraca interação social dos alunos (elevado número de
conflitos) e dos seus comportamentos (indisciplina). Nesta turma, o processo de
aprendizagem dos alunos ficava claramente condicionado, não apenas pela falta
de atenção e disposição dos alunos, como pelas exigências colocadas ao
professor que, frequentemente dedicava bastante tempo à gestão de conflitos,
provocando pausas constantes no decorrer da aula. Por esta razão, o NE decidiu
investigar, analisar e solucionar os diferentes problemas encontrados, ao longo
do processo de ensino-aprendizagem da turma, através da aplicação do MED.
E posteriormente, verificar os efeitos deste modelo na retenção das habilidades
motoras, sendo este o foco do presente estudo.
O grupo de participantes é constituído por 5 alunos de uma turma de 20 alunos
de 5º ano, de uma escola da zona norte do país. O grupo inclui 3 elementos do
sexo masculino e 2 do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 10 e
os 11 anos. Relativamente à motivação dos participantes para a modalidade de
Futebol, os rapazes gostam da modalidade, sendo um deles atleta federado, e
as raparigas não a apontam como modalidade preferida. Atendendo à turma, a
escolha desta equipa baseou-se no facto de ser a única em que todos os alunos
estiveram presentes nos momentos de avaliação.
Época Desportiva
O presente estudo foi aplicado numa UD de futebol composta por 12 aulas -
4 blocos de 50 minutos (terça-feira) alternados com 4 blocos de 100 minutos
(quinta-feira). No que concerne aos recursos espaciais para a lecionação das
64
aulas, a escola disponha de um pavilhão desportivo e um campo de futsal
exterior. Este espaço era partilhado com outra turma, como tal, caso as
condições climatéricas não permitissem a prática no espaço exterior, a turma
apenas tinha à sua disposição metade de um campo de futsal. Para dirigir as
aulas, ao longo de toda a UD, havia um professor principal, embora os restantes
EEs estivessem sempre presentes a auxiliar nas várias tarefas. Para a aplicação
do MED, organizou-se a turma em 4 equipas de 5 elementos, tendo por base os
dados recolhidos num questionário sociométrico de Bastin (1980) adaptado por
Meneses et al. (2015). Este foi preenchido pelos alunos antes do início da UD e
analisado com recurso ao programa SociometryPro 2.3.
As equipas foram constituídas consoante os seguintes critérios: alunos de
quem gostam mais e menos de trabalhar; alunos de quem julgam ser escolhidos
e não escolhidos para trabalhar; alunos de quem gostam e não gostam de
conviver; e alunos de quem julgam serem escolhidos por gostarem e não
gostarem de conviver. O principal foco desta organização foi promover as
interações dos alunos intra e inter equipa. Também as capacidades motoras que
os alunos apresentavam nas várias modalidades, bem como a prática ou não da
modalidade de futebol fora do ambiente escolar foram consideradas para a
formação das equipas. A escolha dos capitães de equipa teve também em conta
as respostas dos alunos ao questionário, relativamente a quem consideravam
ser o líder da turma, o melhor aluno da turma e o aluno com maior predisposição
motora para a prática desportiva.
Apenas após a realização da avaliação diagnóstica foi elaborada a época
desportiva (Quadro 1):
65
Quadro 1 – Época Desportiva
Aulas Formato Tradicional9 Modelo de Educação Desportiva
0 Prática impossibilitada devido à falta de espaço apropriado.
Introdução à unidade: formação das equipas; definição das cores, nome e grito.
1 Pré-Teste (T1): Competição formal 5x5.
Competição de pré-época
2-4 Desenvolvimento dos conteúdos: passe, receção, condução, penetração e contenção.
Alunos-treinadores: aquecimento das equipas com supervisão do professor. Professor dirige as aulas.
5 Competição formal 4x4 (sem GR) em espaço reduzido.
Competição época desportiva: Alunos participam numa competição formal, aplicando as regras e as diferentes funções: árbitro e estatístico.
6-7 Desenvolvimento dos conteúdos: passe, receção, condução, penetração, contenção e cobertura ofensiva.
Alunos-treinadores: dirigem o aquecimento das equipas, bem como alguns exercícios, sempre com supervisão do professor. Professor dirige as aulas.
8 Competição formal 4x4 (sem GR) em espaço reduzido.
Competição época desportiva: Alunos participam numa competição formal, aplicando as regras e as diferentes funções: árbitro e estatístico.
9-10 Desenvolvimento dos conteúdos: passe, receção, condução, penetração, contenção, cobertura ofensiva e defensiva.
Alunos-treinadores: dirigem o aquecimento das equipas e os exercícios propostos. Professor: realiza a instrução da Cobertura defensiva.
11-12 Pós-Teste (T2): Competição formal 5x5.
Evento culminante: cerimónia de entrega de prémios (diplomas para todos os atletas; troféu por equipa por classificação; equipa mais empenhada; atleta mais empenhado).
Ao longo das aulas, tal como se pode verificar no quadro 1, as equipas,
tiveram oportunidade de autonomamente exercitarem vários exercícios. Para
que os alunos tivessem um ponto de orientação, era-lhes concedido um skill card
antes das tarefas. Ainda assim, visto que existiam quatro professores na aula,
cada um ficava responsável por supervisionar cada uma das equipas. Os alunos
dispunham também de um diário de equipa, no qual relatavam as suas
experiências ao longo das aulas, respondendo a perguntas centradas nas
interações sociais. Este diário tinha o intuito de servir como instrumento de
análise para o estudo realizado por outro colega do NE.
9 Os dados apresentados referem-se unicamente à dimensão motora, uma vez que são o foco principal do presente estudo
66
Instrumentos
A recolha de dados foi realizada em três momentos distintos: o pré-teste (T1),
que decorreu no início da UD; o pós-teste (T2), realizado na última aula da UD;
o teste de retenção (TR), concretizado 5 semanas após o término da UD. Todos
os alunos foram avaliados em situação de jogo 5x5 durante 5 minutos corridos.
Para assegurar a recolha de dados utilizou-se duas câmaras colocadas em
ângulos diferentes, para que fosse possível observar todas as ações realizadas
pelos alunos. A avaliação da performance dos alunos foi realizada
posteriormente com a visualização das imagens (vídeos), recorrendo ao Game
Performance Acessment Instrument (GPAI), desenvolvido por Oslin et al. (1998).
A escolha deste instrumento deveu-se à necessidade de realizar uma
avaliação individual que se centrasse no jogo, procurando analisar tanto a
componente técnica como a tática de forma harmonizada. Pois, de facto, importa
encontrar métodos de avaliação que vão além da simples observação da
qualidade técnica das demais habilidades motoras, incluindo assim, as
competências essenciais relacionadas com o jogo, que permitem atender à
relação entre as variáveis de processo e do produto.
O GPAI “(…) constitui um importante avanço, não apenas para o estudo
do ensino do jogo, mas também como regulação do próprio desenvolvimento do
processo de ensino e aprendizagem, dado que estes instrumentos concebem a
avaliação como um processo alinhado com a aprendizagem. Com estes
instrumentos a avaliação de ensino dos jogos deixou de estar dependente dos
testes de habilidades e passou a contar com indicadores relativos ao
desempenho efetivo no jogo, contemplando não apenas a execução
contextualizada das habilidades, mas também a tomada de decisão, o
posicionamento no campo, as ações sem bola no ataque e na defesa” (Graça &
Mesquita, 2013, p. 23)
Relativamente aos conteúdos e critérios a observar (Quadro 2, 3 e 4),
focaram-se, fundamentalmente, na tomada de decisão (ações ofensivas e
defensivas) e algumas habilidades motoras específicas. Na tomada de decisão
incluiu-se a penetração, a contenção, a cobertura ofensiva e a cobertura
defensiva. Já nas habilidades motoras específicas, verificou-se a execução do
passe e condução de bola.
67
Quadro 2 – Tomada de decisão nos princípios ofensivos
Tomada de decisão
Conteúdo Critérios Aluno 1 Aluno 2 Aluno 3 Aluno 4 Aluno 5
A I A I A I A I A I
Pri
ncíp
ios O
fen
siv
os
Pen
etr
aç
ão
Ataca diretamente o adversário ou a baliza.
Desequilibra a organização defensiva adversária.
Cria situações vantajosas para o ataque em termos numéricos e espaciais.
Co
bert
ura
Ofe
ns
iva
Dá apoio ao portador da bola, oferecendo-lhe opções para dar sequência ao jogo.
Diminui a pressão adversária ao portador da bola (abre linha de passe).
Cria superioridade numérica.
Induz desequilíbrio na organização defensiva adversária.
Legenda: A – Apropriada; I – Inapropriada
Quadro 3 – Tomada de decisão nos princípios defensivos
Tomada de decisão
Conteúdo Critérios Aluno 1 Aluno 2 Aluno 3 Aluno 4 Aluno 5
A I A I A I A I A I
Pri
ncíp
ios D
efe
nsiv
os
Co
nte
nç
ão
Pára ou atrasa o ataque adversário.
Diminui o espaço de ação do portador da bola.
Orienta a progressão do portador da bola.
Restringir opções de passe para um adversário
Co
bert
ura
de
fen
siv
a
Serve de novo obstáculo ao portador da bola, caso este ultrapasse o jogador que fazia contenção.
Transmite segurança e confiança ao jogador de contenção, para que se afoite na disputa da bola.
Legenda: A – Apropriada; I – Inapropriada
Quadro 4 – Execução das habilidades técnicas
Habilidades Técnicas
Conteúdo Critérios Aluno 1 Aluno 2 Aluno 3 Aluno 4 Aluno 5
E I E I E I E I E I
Pass
e
Coloca o pé de apoio ao lado da bola.
Passa com a parte interna do pé.
Direciona o passe para o alvo.
Co
nd
uç
ão
Mantem a bola junto ao pé, controlada.
Conduz a bola com a parte externa do pé.
Mantém a cabeça levantada.
Legenda: E – Eficiente; I – Ineficiente
68
Metodologia de Análise
Para a análise de dados, foram calculados o Índice de Tomada de Decisão10
(ITD), o Índice de Execução de Habilidades Técnicas11 (IEH) e, através destes,
aferiu-se a Performance Global no Jogo12 (PGJ). Posteriormente, procedeu-se a
uma análise estatística descritiva, recorrendo a medidas de tendência central
(média) e de dispersão (desvio padrão). Além disso, foi realizado um teste de
variância de medidas repetidas (ANOVA), onde são observados os
comportamentos de medidas repetidas no tempo e um teste Least Significant
Difference (LSD) para as múltiplas comparações à posteriori. Para o efeito, foi
utilizado o programa IBM SPSS Statistics, v. 21®. Através desta análise de
dados, foi calculada a probabilidade de significância (p) (considerando um valor
de significância ≤ 0,05) para perceber, em primeiro lugar, se ocorreu uma
melhoria significativa no desempenho motor dos alunos e, posteriormente, se
ocorreu retenção das habilidades motoras inerentes a esse desempenho motor.
Apresentação dos resultados
Inicialmente procurou-se analisar as diferenças estatísticas entre os três
momentos de avaliação (Quadro 5).
Quadro 5 – Análise estatística de ITD, IEH e PGJ, nos três momentos de
avaliação
Média e Desvio Padrão
F p T1 T2 TR
ITD 0,43 ± 0,18 0,61± 0,09 0,62 ±0,09 6,082 0,068
IEH 0,41 ± 0,19 0,56 ± 0,11 0,59 ± 0,11 3,874 0,067
PGJ 0,42 ± 0,12 0,59 ± 0,06 0,61 ± 0,07 14,313 0,002*
*Diferenças estatísticas significativas
Através da análise do quadro 5, atendendo ao nível da média dos vários
momentos de avaliação, podemos observar que, de T1 para T2, houve um
aumento do valor das médias em todas as variáveis (ITD – 0,18; IEH – 0,15; e
10 ITD=nº de tomadas de decisão apropriadas/nº de tomadas de decisão total (apropriadas + inapropriadas) 11 IEH= nº execuções de habilidades eficientes/nº execuções de habilidades total (ineficientes +
eficientes)
12 PGJ= (ITD + IEH) / 2
69
PGJ – 0,17), bem como de T2 para TR (ITD – 0,01; IEH – 0,03; e PGJ – 0,02).
Com efeito, podemos afirmar que se verificou um aumento do desempenho
motor dos alunos no final da UD e após o período de pausa. No entanto, se
recorrermos aos valores de p em cada uma das variáveis, verificamos que
apenas na PGJ se obteve valores estatisticamente significativos (p ≤ 0,05),
sendo imprescindível perceber entre que momentos ocorreu esta variação de
resultados com validade estatística.
Por conseguinte, no quadro 6, são apresentados os valores de p para
cada um dos intervalos de tempo entre os momentos de avaliação na variável
PGJ.
Quadro 6 – Valores de p entre os vários momentos de avaliação na variável PGJ
Momentos PGJ T1-T2 T2-TR
p 0,018 0,439
De T1 para T2 obteve-se um resultado de p=0,018, revelando diferenças
estatísticas significativas na variável PGJ que, como comprovam as médias, é
resultante da melhoria do desempenho motor dos alunos. Já na comparação
entre o T2 e TR, o resultado obtido foi de p=0,439, comprovando que não ocorreu
alterações significativas no desempenho dos alunos após o período de
interrupção. Este resultado permite-nos afirmar que ocorreu, efetivamente
aprendizagem, uma vez que houve retenção das habilidades motoras inerentes
ao desempenho motor dos alunos na modalidade de futebol.
Discussão de Resultados
O presente estudo pretendeu verificar o efeito do MED na modalidade de
futebol, especificamente, na retenção dos conhecimentos e habilidades da
modalidade de futebol. Os resultados demonstram que, de uma forma geral, o
MED pode proporcionar uma melhoria do desempenho motor dos alunos, ainda
que sem significado estatístico no ITD e IEH (quadro 5). No entanto, no que
concerne à PGJ, verificou-se uma melhoria do desempenho motor dos alunos
estatisticamente válida, decorrente da melhoria apresentada de T1 para T2 e da
manutenção do desempenho a longo prazo, como comprovam os valores de p
70
expostos no quadro 6. Estes resultados vão ao encontro dos resultados dos
estudos encontrados, elaborados no âmbito do atletismo (Hastie et al., 2013;
Pereira et al., 2015; Pereira et al., 2013). Importa ainda referir que, atendendo
aos valores de p, os ligeiros aumentos de T2 para TR podem ser explicados pela
existência de pequenos erros de medida do avaliador, no momento de
observação e registo do desempenho dos alunos.
Relativamente ao aumento dos valores médios do ITD e do IEH, de T1
para T2, embora no ITD sejam apenas ligeiramente superiores (0,18)
comparativamente ao IEH (0,15), importa destacar a influência no MED nestes
resultados. Pois, atendendo que este modelo privilegia o entendimento e
aplicação de estratégias e táticas durante a participação do aluno no jogo
(Pereira et al., 2013), ao longo da época desportiva houve uma grande
preocupação por parte do professor em incidir nos feedbacks de tomadas de
decisão. Assim, recorrendo ao questionamento, o professor estimulava,
frequentemente, os alunos à reflexão acerca do quê e porquê das suas ações
em jogo. Além disso, atendendo ao facto dos alunos realizarem tarefas de
organização e serem responsabilizados por algumas funções, sentiam-se no
dever de dominar os conteúdos (Pereira et al., 2013) para se ajudarem
mutuamente na conquista de pontuação para as suas equipas. Este fator
promovia o envolvimento e concentração na própria aprendizagem, bem como o
interesse em conhecer e compreender as ações táticas, a fim de tomarem as
melhores decisões em jogo e ajudar os colegas de equipa.
Curiosamente, atendendo ao quadro 5, também se verificou um aumento
das médias do ITD, IEH e PGJ de T2 para TR (ITD – 0,01; IEH – 0,03; e PGJ –
0,02). Este resultado sugere a ocorrência de uma melhoria do desempenho
motor dos alunos em todas variáveis observadas entre estes dois momentos,
sendo este um período de abstinência da prática da modalidade nas aulas de
EF. Na verdade, embora nas aulas de EF os alunos não continuassem a
exercitar os conteúdos da modalidade de futebol, devemos ter em conta que esta
prática poderia ser possível nos períodos de intervalo da escola. Pois, nesta
escola, além dos espaços de recreio, os alunos tinham à sua disposição dois
espaços que possibilitavam a prática do futebol durante os intervalos e nos seus
tempos livres, sendo este um hábito comum dos participantes. Além disso, o
grupo de alunos participantes integrava um elemento praticante da modalidade,
71
que neste período continuava com treinos no seu clube. Com efeito, o
desempenho motor dos alunos no TR pode revelar ligeiros efeitos dessa prática
intencional, embora em nada significativos.
Importa referir ainda que os ligeiros aumentos de T2 para TR, podem ser
explicados pelos possíveis erros de medida do avaliador, aquando da
observação e registo do desempenho motor dos alunos nas aulas de EF.
De facto, devido à subjetividade de certas dimensões do GPAI, torna-se
muito difícil perceber quando é que uma ação é apropriada ou inapropriada,
especialmente quando são observados comportamentos em que não há
contacto com a bola (Memmert & Harvey, 2008). Na verdade, essa dificuldade
foi sentida durante o momento de observação, sendo que muitas vezes surgiu a
dubiedade acerca da classificação de uma ação como apropriada ou
inapropriada. De forma a contrariar esta dificuldade, Van der Mars (1989) refere
a importância de uma definição precisa dos comportamentos a observar. Além
disso, o avaliador deve passar por uma fase de treino intensiva antes da
observação oficial, possibilitando-o de identificar uma ação apropriada e
inapropriada de forma eficiente (Memmert & Harvey, 2008). Para o presente
estudo, não foi realizado qualquer treino prévio por parte do avaliador, o que se
pode considerar esta condicionante uma limitação do mesmo.
Conclusões
No presente estudo, o teste de retenção (TR) foi fundamental para uma
avaliação mais precisa da aprendizagem efetiva dos alunos. Pois, verificou-se
estabilidade dos resultados de T2 para TR (p = 0,439), sugerindo que a
implementação do MED surtiu efeitos positivos no desempenho motor dos
alunos, não só a curto-prazo (após o término da unidade), como também a longo
prazo (após 5 semanas de interrupção da prática de futebol). No entanto, apesar
dos resultados positivos, é imperativo salientar que o número de participantes
era muito reduzido e, como tal, apenas é possível confirmar os efeitos da
aplicação do MED, neste contexto em particular, bem como no ensino desta
modalidade. No caso deste estudo, teria sido importante os dados de todos os
alunos da turma (20) e se possível repetir o estudo noutras modalidades. Neste
sentido, importa reconhecer a importância de alargar o número de participantes
72
e estender as investigações a outras modalidades, uma vez que a natureza das
diferentes modalidades também influencia o processo de ensino-aprendizagem.
Para além do resultado positivo na retenção das habilidades adquiridas
pelos alunos, foi também possível concluir que este modelo surtiu um maior
efeito no desenvolvimento da tomada de decisão, em detrimento das habilidades
técnicas, ainda que estas não tenham revelado validade estatística. Para que
seja possível aferir os resultados numa futura investigação, é também
necessário atender ao grau de subjetividade inerente à aplicação do instrumento
de observação, possibilitando aos avaliadores uma fase de treino. Para além
disso, recorrer a mais do que um avaliador pode ser também uma estratégia a
adotar. Como sugerem Memmert & Harvey (2008) a possibilidade de existir
vários observadores é uma estratégia melhor e mais justa.
73
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76
4.3.2 Sistema de Gestão de Tarefas
Um professor eficiente caracteriza-se por deter uma boa capacidade de
gestão, no entanto, ainda que esta seja imprescindível, não é suficiente para que
o professor seja eficiente (Rink, 1993). Rink (1993) refere que o sistema de
conteúdos (ou sistema instrucional) está intimamente dependente do sistema de
gestão, levando-nos assim para a ideia do processo de ensino-aprendizagem
como um processo ecológico que se caracteriza exatamente pela
interdependência de vários sistemas que funcionam em simultâneo. Com efeito,
o autor refere que podemos ter um exercício muito bem preparado, mas se não
existir cooperação por parte dos alunos para o realizar, a aprendizagem fica
comprometida.
Desta forma, o sistema de gestão de tarefas do professor corresponde a
um plano de ação que procura auxilia-lo na gestão do tempo, dos espaços, dos
materiais e dos alunos, de forma a garantir um índice de envolvimento elevado,
através da redução da indisciplina e do uso eficaz do tempo (Rosado & Ferreira,
2011).
Metzler (2000) agrupa estas tarefas em dois tipos de gestão distintos: a
gestão do tempo e a gestão de aula. A gestão do tempo refere-se à capacidade
que os professores têm de maximizar um dos recursos que têm disponível,
nomeadamente o tempo, que frequentemente se verifica escasso. Dada a
especificidade da disciplina de EF, é imprescindível a existência de momentos
de gestão, organização e transição e, como tal, o professor eficiente, será aquele
que utiliza menos tempo para estas tarefas, mantendo uma grande quantidade
de tempo direcionado para a aprendizagem (Metzler, 2000). Por outro lado, a
gestão de aula refere-se à capacidade que o professor possui para organizar
todas as tarefas realizadas na aula. Tal como Metzler (2000, p. 92) refere, “a
good classroom manager can be likened to an orchestra conductor who must
coordinate many musicians with the written music simultaneously in order to
achieve the desired harmony”.
Considero que a otimização do sistema de gestão de tarefas foi um dos
primeiros aspetos que procurei garantir para que existisse um bom ambiente de
77
aprendizagem. Como tal, nas primeiras aulas procurei incutir nos alunos
algumas regras e rotinas que permitiriam o bom funcionamento das aulas.
É imprescindível que as regras sejam uma fonte de enquadramento
regulador das interações entre os diversos intervenientes e que garantam a
segurança física e emocional, a promoção da atenção e participação e o uso
adequado dos espaços e equipamentos (Rosado & Ferreira, 2011). Por outro
lado, Rosado e Ferreira (2011) referem que as rotinas permitem aos praticantes
conhecer os procedimentos a adotar na diversidade de situações de ensino,
reduzindo significativamente os episódios e o tempo de gestão.
Para além das regras e rotinas gerais delineadas, para todas as turmas
na disciplina de EF tais como, a entrada no pavilhão, a utilização de balneários,
o uso de equipamentos adequados, a pontualidade, existem regras que vão
surgindo ao longo do tempo e que estão intimamente adaptadas ao contexto em
que as aulas decorrem, nomeadamente, à modalidade lecionada, ao local onde
decorre a aula, aos alunos e ao professor. Seguidamente apresento um breve
excerto de uma reflexão de aula elucidativo da necessidade da aplicação de
algumas regras requeridas por uma modalidade específica:
“No início da aula tive também a preocupação de transmitir aos alunos
algumas regras importantes de segurança, pois dada a especificidade da
modalidade (Hóquei) é necessário um cuidado redobrado no manuseamento do
stick em todos os momentos da aula. Com o decorrer da aula verifiquei que a
mensagem não tinha sido totalmente transmitida, pois verifiquei que alguns
alunos colocavam o stick nos ombros, sendo que houve uma situação de um
aluno que ao rodar sobre si acertou num colega. Como tal, a meio da aula reuni
com todos os alunos e impus a regra de que quando não estivessem a realizar
algum exercício, tinham que imperativamente ter o stick na mão e apoiado no
solo. Também de forma a que não houvesse tantas desconcentrações durante
as instruções, as bolas tinham estar na mão dos alunos” (Reflexão da Aula nº
58, dia 13 de Janeiro).
Relativamente às rotinas comuns à maioria das modalidades, uma das
implementadas logo nas primeiras aulas foi o local onde a turma se reuniria, tanto
no início como no final da aula, sendo este junto de um dos quadros disponíveis
no pavilhão da escola. Para além disso, esta estratégia foi também utilizada
quando existia a apresentação de algum conteúdo que requeresse a utilização
78
do quadro, nas várias interrupções ao longo da aula, em que a reunião não fosse
sinalizada noutro local. Do mesmo modo, os alunos teriam que estar sempre
dispostos num semicírculo e sentados no solo, o que permitia que eu mantivesse
o contacto visual com todos. Apesar da sua utilização, verifiquei que esta
estratégia não foi suficiente para organizar os momentos de instrução da aula e,
como tal, delineei que os alunos só poderiam falar quando eu lhes desse
consentimento para tal, pois interrompiam o meu discurso com bastante
regularidade. Esta problemática verificou-se reincidente durante algumas aulas,
pelo que para além de quebrar o seguimento de instrução, acabava por
despender demasiado tempo nestes momentos:
“Falando agora da aula em si, penso que continuo a perder demasiado
tempo na conversa inicial da aula devido às excessivas perguntas dos alunos,
algumas delas descontextualizadas, e também às conversas paralelas. Penso
que terei que estipular regras mais rígidas onde os alunos apenas têm o direito
de colocar questões após o término de toda a apresentação do professor. Para
que tenham o direito à palavra, os alunos têm que colocar o braço no ar e só
falarão se o professor achar que é conveniente” (Reflexão da Aula nº 58, dia 13
de Janeiro).
Após ter instaurado esta rotina, considero que pouco tempo depois os
alunos demonstraram uma atitude bastante mais ordeira nos momentos de
instrução.
Para além das estratégias referidas anteriormente, de forma a diminuir o
tempo dos momentos de transição, recorri a diferentes sinais sonoros, como o
uso do apito: um sinal sonoro significava o início das tarefas, dois sinais rápidos
a interrupção da tarefa sem que os alunos se movessem dos locais e um apito
rápido seguido de um longo, significava a interrupção da tarefa e a reunião de
toda a turma. Adicionalmente, quando era suposto os alunos se reunirem num
determinado local, realizava uma contagem decrescente que limitava o tempo
que tinham para reunirem e, caso não o cumprissem, teriam penalizações (e.g.
arrumação de material; pontuação da equipa; exercícios de condição física).
Esta metodologia também era utilizada para o início das demais tarefas, onde a
contagem limitava o tempo que os alunos tinham para estar nos devidos lugares.
Neste caso, quando as tarefas eram de competição ou jogo, os alunos que já
estivessem dentro do campo no final da contagem podiam iniciar imediatamente
79
o jogo e pontuar, mesmo que os restantes alunos não estivessem em campo.
Esta estratégia mostrou ser bastante eficaz para a redução de tempo de
transição entre os exercícios e as instruções, sendo que os alunos não queriam
ter penalizações nem perder pontos nos momentos de competição.
Outra estratégia aplicada para a redução dos tempos de transição esteve
relacionada com a gestão do espaço. No início da minha prática pedagógica,
devido a racionalizar incorretamente o espaço, tendia a perder bastante tempo
nas transições por necessidade de preparar o espaço para a tarefa seguinte. Na
modalidade de atletismo, por exemplo, tinha a tendência para montar o material
da tarefa no centro do campo exterior, sobrando bastante espaço envolvente que
não era utilizado. Com a necessidade de encurtar o tempo perdido na montagem
de material nas transições, percebi que se colocasse um exercício a decorrer
numa das metades do campo, no decorrer do exercício poderia realizar a
montagem da próxima tarefa a realizar, não perdendo assim tempo na transição
do exercício. Denoto que esta metodologia foi ainda mais crucial para as
modalidades coletivas, pois a troca da esquematização da tarefa era mais
frequente do que nas individuais, onde normalmente trabalhava sempre com
montagens muito semelhantes.
Para além disso, o facto de poder contar com a ajuda da aluna que estava
impossibilitada para realizar a prática, permitiu otimizar o tempo de montagem
dos materiais. No início do EP, as tarefas desta aluna cingiam-se apenas à
realização de fichas formativas que eu realizava para cada uma das aulas. No
entanto, comecei a perceber que, esta tarefa acabava por se tornar pouco eficaz
para a aprendizagem da aluna, pois quando a questionava acerca de questões
práticas, demonstrava bastantes dificuldades em responder. Por outro lado,
comecei a perceber também que estava a perder uma potencial estratégia de
otimização da gestão de tarefas.
Deste modo, fui responsabilizando esta aluna nas tarefas a realizar de
forma gradual. No início atribuía-lhe responsabilidades nas montagens mais
simples, como a simples marcação de um campo, e progressivamente, passei a
conceder-lhe responsabilidade na montagem da maioria das tarefas da aula,
disponibilizando-lhe uma cópia do plano de aula para que verificasse os
esquemas de montagem do material. Esta estratégia permitia-me não só reduzir
80
o tempo de montagem do material, mas principalmente ter maior liberdade para
me dedicar à observação e emissão de feedbacks.
Para além disso, a aluna passou a arbitrar a maioria dos jogos e a
acompanhar-me durante toda a aula nos momentos em que não tinha nenhuma
tarefa a realizar. Esta estratégia permitiu melhorar os seus conhecimentos e
envolvê-la nas aulas, pois sempre procurei manter discussões pertinentes
acerca das situações que ocorriam. O aumento do seu envolvimento e
conhecimento permitiu-me ainda dar-lhe a responsabilidade de gerir tarefas
quando a aula era organizada por estações ou grupos de trabalho. Ao comparar
o nível de conhecimento da aluna no início e no final do ano, posso afirmar que
a adoção destas estratégias foi inquestionavelmente valorativa para o
desenvolvimento da cultura desportiva da aluna.
Para a arrumação do material, decidi criar uma rotina de
responsabilização por ordem numérica, em que ficavam sempre dois alunos
responsáveis por arrumar o material no final da aula. A rotatividade era realizada
segundo a ordem numérica crescente dos alunos. Para me auxiliar nessa tarefa,
esta informação estava contida no plano de aula.
A implementação destas rotinas não foi uma tarefa muito árdua, pois a
minha turma caracterizava-se por ser bastante disciplinada e cumpridora de
todas as regras e rotinas impostas. Ainda assim, nas primeiras aulas houve
algumas dificuldades sentidas devido à falta de rotinas que não estavam
adquiridas de anos anteriores.
Para a otimização do tempo de exercitação dos alunos foi crucial atender
ao tipo de organização das tarefas. Do conjunto de estruturas utilizadas, as mais
frequentes eram a organização em vagas e a organização massiva. Na
organização em vagas os alunos encontravam-se dispostos em colunas onde
era realizado o mesmo exercício por todos ao sinal de saída (Quina, 2009). Estes
eram maioritariamente utilizados nos exercícios de aquecimento ou
desenvolvimento de habilidades técnicas. Já na organização massiva, os alunos
estavam organizados em pequenos grupos a exercitar simultaneamente os
mesmos exercícios (Quina, 2009). Esta organização era frequente no ensino das
modalidades coletivas. Nesta situação, os alunos encontravam-se dispostos por
equipas a realizar as tarefas de uma forma autónoma. Esta organização permitia-
me emitir feedbacks nos pequenos grupos, bem como alterar os exercícios em
81
cada grupo, à medida que assimilavam os conteúdos. Para além disso, também
a apresentação dos exercícios era facilitada, visto que o número de alunos a
receber informação era simultaneamente menor.
Na turma partilhada do 5º ano, a implementação de regras e rotinas foi
uma tarefa bastante difícil, tendo sido batalhada durante quase todo o ano. Tal
como já referido no capítulo 3, estes alunos sempre apresentaram
comportamentos de indisciplina e dificuldades nas interações sociais, como tal,
foi necessária a adoção de várias estratégias com o objetivo de proporcionar um
melhor ambiente de aprendizagem.
Uma das primeiras estratégias a ser trabalhada e que sofreu diversas
alterações foi relativa ao local de reunião dos alunos, tanto no início da sessão,
como nas interrupções para a instrução. Nas primeiras aulas, esse local era nos
bancos suecos que se encontravam dispostos no pavilhão e as instruções eram
realizadas em locais aleatórios que fossem adequados ao objetivo da instrução.
No entanto, verificou-se que esta estratégia não era passível de ser aplicada
devido aos comportamentos fora da tarefa que ocorriam nestes momentos.
Como tal, para o início das sessões os alunos tinham que se colocar por números
e em linha em cima da linha lateral do campo, enquanto que nas instruções se
colocavam pela mesma ordem mas na linha final do campo de voleibol que ficava
de frente para a baliza. Ainda assim, estas estratégias não se verificaram
eficazes e, para que os alunos ficassem mais próximos do professor que liderava
a aula/instrução, estes passaram a colocar-se em cima da linha que delineava a
área de 6 metros do campo de andebol. Esta estratégia mostrou-se bastante
eficaz devido à proximidade física dos alunos com o professor, o que os inibia
de praticar alguns comportamentos disruptivos. Adicionalmente, foram ainda
realizadas algumas alterações na disposição numérica, com o intuito de separar
determinados alunos, que permitiram otimizar os momentos de instrução e a
disciplina dos alunos.
Para além disso, uma tarefa que despoletou algumas dificuldades, foi a
decisão da organização dos exercícios, tendo esta sido mais evidente na
modalidade de ginástica de solo. Numa primeira fase decidi planear a estrutura
da aula em circuito, tendo dividido os alunos por números, para que esta escolha
fosse aleatória e os alunos disruptivos ficassem separados. No entanto, este
método acabou por se demonstrar desadequado, pois como não havia um
82
grande controlo dos alunos, os mais disruptivos acabavam por se dirigir para as
outras estações interagindo com os colegas, que tendencialmente alinhavam
nas suas brincadeiras. Por outro lado, esta organização permitia ainda que os
alunos que não gostassem da modalidade ou que tinham muitas dificuldades,
não realizassem as atividades propostas ou que tivessem um tempo de empenho
motor muito reduzido. Esta situação era também agravada devido à minha falta
de experiência, pois esta UD foi lecionada logo no início do EP.
Posteriormente, decidi realizar o trabalho por vagas, pois para além de uma
exercitação intensa, permite um maior controlo da turma por parte do professor
(Quina, 2009). Ainda assim, esta metodologia também demonstrou algumas
desvantagens. Em primeiro lugar, como os alunos saiam ao meu sinal sonoro,
acabavam por entender aquele exercício como uma competição, dando enfâse
à velocidade de execução em prol da técnica. Por outro lado, o facto de existirem
alunos com muitas dificuldades, acabava por provocar o atraso de todas as
vagas, o que posteriormente acabava por levar à acumulação de alunos na fila,
proporcionando também maior número de comportamentos disruptivos dos
alunos em tempo de espera. Além disso, o tempo de empenhamento motor dos
alunos ficava também comprometido, devido a esse tempo de espera. De forma
a contrariar esta situação, passei a adotar a estratégia de os alunos fazerem um
exercício diferente por vaga, em que cada aluno saia apenas ao sinal do
professor (apito). Isto permitia que os alunos não se encontrassem uns com os
outros, o que diminuiu significativamente os comportamentos desadequados
para a sala de aula.
Com o desenrolar do ano letivo a adoção destas estratégias nesta turma
foi demonstrando cada vez mais eficácia, tendo sido visível a melhoria do
comportamento e empenhamento dos alunos nas diferentes tarefas. Desta
forma, era visível uma harmonia durante as aulas, que claramente proporcionou
melhores condições de aprendizagem.
Adicionalmente, tal como afirmam Rosado e Ferreira (2011),
complementarmente à capacidade de gestão das demais tarefas nas aulas, para
que o sistema de aprendizagem seja otimizado é também imprescindível que o
professor consiga potenciar a sua relação com a turma, bem como dos colegas
entre si, podendo este ser promotor de um nível mais elevado de participação
por parte dos alunos.
83
4.3.3 Sistema Social
“O ambiente relacional é decisivo na satisfação pessoal dos professores
e dos alunos, na manutenção da disciplina, do empenhamento e participação
nas tarefas e no crescimento individual e de grupo no domínio sócio afetivo”.
(Rosado & Ferreira, 2011, p. 191)
Por vezes, ao longo deste ano, senti que as relações dos alunos entre si
eram inadequadas, sendo verificável a existência de alguns momentos de
conflito entre, principalmente, por parte dos rapazes. Esta situação foi vivida,
essencialmente, ao longo das aulas da UD de futebol devido à competitividade
inerente à aplicação do MED. O facto de os alunos almejarem em demasia a
vitória, repercutia-se em situações de falta de fair play entre si e, como tal,
ocorriam várias desavenças. Com o tempo, percebi também que esta
problemática tinha, por vezes, origem em ocorrências vivenciadas fora da sala
de aula, que acabavam por contribuir para as desavenças no decorrer da sessão:
“Semelhantemente ao que se tem verificado nas aulas anteriores, foram
observadas várias situações conflituosas entre os alunos. Com o passar do
tempo, cheguei à conclusão que estes conflitos que antes identificava como
sendo apenas originados pela competitividade, vão um pouco além disso,
observando que estes também têm proveniência em situações alheias à sala de
aula” (Reflexão da Aula nº 115, dia 12 de Maio).
Uma outra razão que também contribuía para a origem de conflitos, era o
facto de os alunos sentirem, por vezes, que estavam a ser injustiçados no que
concerne às regras estabelecidas para os diferentes exercícios da aula. Devido
a esta ansia pela vitória, qualquer regra que não fosse corretamente cumprida
pelos alunos ou ajuizada por mim da forma mais acertada, provocava situações
conflituosas.
“No jogo de ativação geral um dos alunos rematou contra um cone que
saiu projetado com um movimento de rotação no seu eixo horizontal, embatendo
várias vezes no solo, acabando por ficar de novo em pé. A minha decisão nesse
momento foi que esse cone não podia ser recolhido pelo aluno, pois a regra que
tinha imposto inicialmente foi que os alunos só podiam levar os cones que
84
fossem derrubados. Isto provocou imediatamente um sentimento de revolta
neste aluno, que acabou por reclamar de uma forma um pouco agressiva. Apesar
de no meu entender ter considerado que tinha tomado a decisão correta, na
opinião do aluno este também estava correto, pois o cone foi derrubado mesmo
que tivesse acabado por ficar em pé” (Reflexão da Aula nº 115, dia 12 de Maio).
Este tipo de ocorrências prejudicava diretamente o ambiente em que
decorria o processo de ensino-aprendizagem e, como tal, era imprescindível que
estas fossem controladas. Tal como se pode verificar no excerto acima, este
conflito originou-se devido a um esclarecimento pouco preciso da regra no
momento inicial da atividade, mesmo que esta situação fosse muito pouco
provável de ocorrer. Por conseguinte, considerei que a melhor estratégia para
evitar este tipo de situações era delinear regras completamente claras em todos
os exercícios propostos, para que não houvesse a possibilidade de gerar dúvidas
acerca da sua validade ou serem contornadas pelos alunos.
Complementarmente, tive a preocupação de as relembrar ao longo da
concretização das atividades, bem como verificar se todos os alunos as tinham
compreendido antes de iniciar o exercício.
Além disso, para que todas estas problemáticas fossem solucionadas,
procurei recorrer a várias estratégias instrucionais que permitissem a melhoria
das relações dos alunos, bem como a perceção do que era correto ou errado.
Sempre que verificava este tipo de comportamentos na aula, parava
imediatamente a realização das tarefas e utilizava uma estratégia referenciada
por Rink (1993), procurando resolver os conflitos através de uma discussão
liderada por mim com os alunos, acerca do problema existente. Por outro lado,
quando boas atitudes ocorriam, procurava sempre recorrer ao reforço positivo
dos alunos em questão, pois este distingue-se como a chave para a alteração
das atitudes (Rink, 1993). Como último recurso de correção destes
comportamentos, recorri ao impedimento da prática da aula dos alunos que sabia
que tinham interesse em realizar as atividades, sentando-os num determinado
lugar da aula. Pelo contrário, quando fosse um aluno que não demonstrasse
interesse em realizar aula, procurava encontrar uma tarefa para este realizar.
Considero que todas as estratégias utilizadas se verificaram eficazes ao
longo do ano, tendo o recurso à discussão (Rink, 1993) sido aquele que acabou
por despoletar um contributo mais benéfico no que concerne ao ambiente de
85
aprendizagem, pois raramente se verificavam problemas de relacionamento
entre os alunos quando esta estratégia foi aplicada.
Para além desta problemática, no início do ano deparei-me com alguns
índices de desmotivação por parte dos alunos. Esta situação decorreu ao longo
da UD de atletismo pela qual os alunos não detinham muito prazer em praticar,
facto que normalmente é comum na realidade das escolas, pois “falta ao
Atletismo o componente lúdico, em especial, passe o exemplo, a bola. Todos
nós sabemos da atração que esta exerce aos olhos do jovem” (Garcia & Rolim,
2007, p. 46). Face a esta situação, foi necessário encontrar soluções para dar
resposta a esta problemática. Segundo Siedentop (cit. por Rosado & Ferreira,
2011), uma atitude positiva e o entusiasmo que o professor deposita na sua
intervenção pedagógica torna o ensino mais eficiente assim como estabelece um
ambiente mais favorável ao mesmo, o que me levou a depreender que existia a
necessidade de demonstrar um maior entusiasmo ao longo da concretização das
tarefas que, por sua vez, se demonstrou eficaz:
“Fiquei também satisfeito com o facto de ter sentido que consegui motivar
a turma através da conversa inicial e pelo meu entusiasmo demonstrado durante
a instrução, o que também se demonstra bastante crucial para o aumento não
só da motivação dos alunos como da sua aprendizagem” (Reflexão da Aula nº
17, dia 14 de Outubro).
Outro aspeto que me foi gerando algumas dificuldades, ainda que
considere que tenha sido superado, foi a manutenção de um sentimento de
igualdade entre toda a turma. Tal como já referido anteriormente (capítulo 3),
uma das alunas pertencente à turma sofria de obesidade mórbida, condição que
claramente lhe dificultava a realização das várias habilidades motoras. Esta
situação acabava por contribuir para a exclusão da aluna nas diversas
atividades. No sentido de minimizar estas contrariedades, procurei sempre, por
exemplo, evitar que as escolhas de equipas ficassem ao encargo dos alunos,
pois este poderia ser um fator que iria contribuir para que ela se sentisse
excluída. Para além disso, o facto de aplicar alguns pressupostos do MED,
nomeadamente a competição entre equipas, também tinha repercussões neste
âmbito, pois os colegas não queriam que ele estivesse na sua equipa, visto que
não iriam conseguir ter uma prestação tão boa durante as aulas.
86
“(…) vou apenas referenciar-me a uma situação que ocorreu já após o
término da aula, onde um aluno veio falar comigo para demonstrar a sua
preocupação e desmotivação para as aulas de Atletismo, pois sentia que iria ser
prejudicado na sua nota final por estar na mesma equipa do aluno que sofre de
obesidade de grau elevado, o que tem dificultado o alcançar das vitórias por
parte desta equipa, durante as várias aulas” (Reflexão da Aula nº 18 e 19, dia 15
de Outubro).
Perante esta situação, procurei explicar ao aluno que os resultados finais
das competições não seriam de todo um critério de avaliação para a sua
classificação final. Ainda assim, como estratégia para colmatar a dificuldade da
equipa conseguir em obter sucesso no seu desempenho, incumbi-lhes o dever
de serem todos os colegas da equipa a ajudá-lo a evoluir, perspetivando o
alcance de melhores resultados ao longo da UD. Pois, “a inclusão dos alunos
menos dotados, com piores níveis de prestação motora, por exemplo, exige a
criação de condições que permitam prática acrescida, mais instrução, tarefas
mais bem estruturadas, mais encorajamento e atenção individualizada, quer pelo
professor, quer por tutores que podem ser outros colegas ou os próprios grupos
de trabalho” (Mesquita & Rosado, 2011, p.31).
Apesar disso, verifiquei que foi sempre imprescindível que eu procurasse
a adaptação de todas as tarefas planeadas para as aulas, para que estas fossem
passíveis de ser executadas pelo aluno, não originando em si um sentimento de
constrangimento.
Importa aqui referir que as pessoas têm direito a serem iguais quando a
diferença os inferioriza e a serem diferentes quando a igualdade os
descaracteriza (Santos cit. por Garganta, 2006). Isto remete-nos para a ideia de
que quando temos na nossa presença um aluno que tenha caraterísticas
diferentes dos demais, estas não o podem inferiorizar, para além de que devem
sempre ser tidas em conta e estar presentes na realidade da aula.
Na verdade, é indispensável que tenhamos sempre presente a ideia de
que cada aluno é diferente dos restantes e que necessita que o processo seja
adequado ao seu natural desenvolvimento. Com isto surge a necessidade de o
professor realizar um planeamento que seja adequado às necessidades e à
diversidade dos alunos, adotando mecanismos de diferenciação pedagógica
ajustados ao contexto.
87
4.3.3.1 Diferenciação Pedagógica
Como refere Estanqueiro (2010, p. 15), “um bom professor não transforma
o processo de aprendizagem numa corrida de obstáculos, em que os mais fracos
tropeçam e caem, como se a qualidade do ensino correspondesse à quantidade
de «chumbos»”. Pelo contrário, este deve organizar as atividades e as
interações, de modo a que cada aluno seja frequentemente confrontado com
situações didáticas enriquecedoras, tendo em conta as suas características e
necessidades pessoais (Cadima, 2010).
Ao longo do ano, sempre procurei atender à individualidade dos alunos no
sentido de lhes conceder oportunidades ajustadas para a aprendizagem. Era
notória uma diferença significativa na performance das raparigas em relação aos
rapazes, no entanto, devido ao pequeno número de rapazes na turma (6), nunca
achei pertinente realizar um ensino por níveis. Para além disso, sempre
considerei as capacidades dos rapazes como uma mais-valia para o
desenvolvimento das raparigas, pois estes demonstravam dedicação para ajudar
as suas colegas a evoluir.
Ainda assim, nas modalidades de basquetebol e futebol procurei, por
vezes, preparar exercícios um pouco distintos consoante a diferença de
capacidades constatada. Um dos exemplos foi na exercitação do passe na
modalidade de futebol. Na aula de consolidação do mesmo, separei os rapazes
das raparigas, sendo que, no grupo dos rapazes, apesar do exercício ser muito
semelhante, tinham que realizar todos os passes ao primeiro toque e a uma
velocidade de execução mais elevada comparativamente às raparigas.
Por outro lado, sempre que os alunos realizavam as mesmas tarefas, as
estratégias de diferenciação pedagógica centravam-se na exigência que
colocava a cada aluno, bem como na utilização de feedbacks mediante as suas
capacidades. Assim, aquando o momento de planificação das aulas, foi
imperativo que atendesse a todas estas diferenças para que os exercícios
estivessem previamente preparados de forma a prever as diferentes abordagens
que eu queria ter perante cada um dos alunos.
88
4.4 Avaliação
“Conjuntamente com a planificação e a realização do ensino, a análise e
a avaliação são apresentadas como tarefas centrais de cada professor”.
(Bento, 2003, p. 174)
Segundo o autor supracitado, a planificação, a realização e a avaliação
estabelecem uma estreita relação ente si, sendo que todas estas contribuem
para o sucesso das funções do professor. Bento (2003) menciona que é através
da análise que se determina o grau de realização dos objetivos, das intenções
educativas e metodológicas, e se catalogam os resultados mensuráveis da ação
de aprendizagem dos alunos.
Tyler (1949), considerado o pai da avaliação, encara-a como a
comparação constante entre os resultados dos alunos e os objetivos,
previamente definidos, remetendo-nos para a ideia de que este é o processo de
determinar a extensão com que os objetivos educacionais se concretizam. Como
tal, para que a avaliação tenha sentido e permita uma adequação do processo
de ensino-aprendizagem, esta não se pode simplesmente cingir aos momentos
de avaliação diagnóstica e sumativa, mas sim a uma análise e avaliação
sistemática das aulas. Só assim é possível “evitar que o confronto (inevitável)
com todo o tipo de situações incomodativas seja frequente para que a
experiência frustrante seja uma excepção” (Bento, 2003, p. 176).
Desta forma, “sem um trabalho de reflexão suficientemente aprofundado
não é possível a avaliação dos alunos (…) e sem controlo permanente da
qualidade do ensino nenhum professor consegue garantir a eficácia e a melhoria
da sua prática pessoal” (Bento, 2003, p. 175). Isto remete-nos para o
entendimento de que o processo de análise e avaliação não está apenas
direcionado para os alunos, mas também para os professores, permitindo
verificar a sua intervenção e a precisão dos seus planos (Bento, 2003). Este
processo de avaliação coloca o professor numa posição de analisado e
analisador, simultaneamente, que Bento (2003) define como sendo um
“incómodo” necessário no processo de ensino-aprendizagem.
89
Assim, no que respeita às funções e objetivos da avaliação, estes não se
limitam apenas à atribuição de uma classificação, mas permitem também
aprimorar o processo de aprendizagem e auxiliar o professor na avaliação do
currículo e da sua ação. De forma a auxiliar-nos para um melhor entendimento
da avaliação, Natriello (1987) distingue quatro funções distintas: a certificação
que procura garantir que o aluno atingiu um determinado nível; a seleção que
assegura a identificação do nível dos alunos para a entrada e o prosseguimento
de estudos; a orientação que auxilia no aconselhamento pessoal do aluno
consoante as dificuldades encontradas e a motivação que surge com a
informação acerca do sucesso do aluno. Apesar das funções que a avaliação
presenteia, esta pode ser realizada de múltiplos formatos, cabendo ao professor
eleger qual o melhor para determinado momento.
Vickers (1990) remete-nos para a existência de duas formas distintas de
avaliação, sendo elas a quantitativa e a qualitativa. Uma avaliação quantitativa
baseia-se no produto da execução da habilidade, ou seja, dá resposta a
questões como “quão alto”, “quão preciso” e “quão rápido”. Por outro lado, a
avaliação qualitativa procura verificar a qualidade da técnica ou tática do
executor. Vickers (1990) refere que esta última se distingue por ser uma
abordagem bastante subjetiva e difícil de ser concretizada, mas, ao mesmo
tempo, a mais utilizada e requerida pelos professores.
Acerca do processo de avaliação, é importante destacar ainda o
parâmetro da frequência e regularidade da mesma, onde se destacam a
avaliação contínua e a pontual. Ambas apresentam uma função crucial e
indispensável a todo o processo de ensino-aprendizagem. A avaliação pontual
corresponde a uma avaliação isolada, podendo esta coincidir ou não com a
avaliação final de uma UD. Por outro lado, a avaliação contínua procura
acompanhar todo o processo de ensino-aprendizagem e tem um papel
imprescindível, pois não podemos deixar de nos questionar permanentemente
acerca do valor daquilo que fazemos. Ainda assim, a realização de avaliações
pontuais frequentes, regularmente organizadas, podem traduzir-se numa
avaliação contínua13, como tal, esta não é, necessariamente, um processo
totalmente permanente. Ao longo do ano existiram momentos de avaliação
13 Documento de apoio à Unidade Curricular de Didática Geral do Desporto inserida no 2º Ciclo do Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário (2013/2014)
90
pontual, os quais irei reportar posteriormente, no entanto, ao longo de todo o
processo de ensino-aprendizagem, os alunos estiveram sujeitos a uma avaliação
contínua. Os conceitos psicossociais foram avaliados predominantemente de
uma forma contínua ao longo de todas as aulas.
Apesar da denominação relativa à frequência e regularidade que a
avaliação pode suster, esta também pode ser caracterizada através do seu nível
de explicitação, diferenciando-se em avaliação explícita e avaliação implícita14.
A avaliação explícita distingue-se pela existência de critérios de avaliação
explícitos, decorrendo, desta forma, numa situação formal por ser reconhecida
pelos sujeitos como tal. A avaliação implícita, por sua vez, tem um carácter mais
informal para os sujeitos avaliados, sendo que não existem critérios evidentes
nem uma discriminação dos sujeitos avaliados. Ou seja, os alunos não se
apercebem de que estão a ser alvo de avaliação (Gonçalves et al., 2010).
No que concerne à minha prática ao longo do ano, as avaliações pontuais
que executei foram, por vezes, realizadas de uma forma explícita e outras
implícita. No que concerne aos conceitos psicossociais, a avaliação foi sempre
realizada de uma forma informal, sendo que os alunos não se apercebiam que
estavam a ser alvo de avaliação, sendo esta uma avaliação implícita.
No que reporta à análise e avaliação dos alunos, uma das grandes
questões que se coloca na sua planificação é “o que avaliar” e “como avaliar”.
Sobre este assunto, Vickers (1990) define duas abordagens distintas: a
avaliação criterial e a avaliação normativa. A primeira é caracterizada pela
definição de standards baseados na natureza da habilidade, tendo em conta as
condições encontradas no ambiente de ensino (Vickers, 1990). O conhecimento
do aluno é avaliado em relação a critérios pré-estabelecidos constituídos pelos
objetivos de ensino sem que, necessariamente, seja efetuada uma comparação
entre alunos14. Os critérios definidos por ela podem ainda caracterizar-se por
critérios de performance ou de competência: os critérios de performance
referem-se a comportamentos observáveis e claramente mensuráveis; os
critérios de competência distinguem-se por se relacionarem com objetivos
gerais, de formas superiores de pensamento, atitudes e valores, não se
expressando assim, necessariamente, em comportamentos observáveis. Por
14 Documento de apoio à Unidade Curricular de Didática Geral do Desporto inserida no 2º Ciclo do Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário (2013/2014).
91
outro lado, a avaliação normativa procura realizar uma comparação do aluno em
relação a valores tabelados, um ranking nacional (Vickers, 1990), ou
relativamente a um aluno que se encontra no ponto mediano de capacidade,
sendo os restantes avaliados em comparação ao mesmo. Desta forma, esta
informa-nos da posição relativa do indivíduo em relação a um grupo ou norma.
Ao longo do ano letivo dei sempre prioridade a uma avaliação criterial em
detrimento da normativa. A avaliação normativa foi somente posta em prática na
corrida de velocidade, onde encontrei o ponto médio dos tempos alcançados por
todos os alunos e atribuí as notas consoante esses valores. Na avaliação das
disciplinas de salto em altura, salto em comprimento e triplo salto, utilizei um tipo
de avaliação mista (Gonçalves et al., 2010). Por um lado, a performance técnica
dos alunos foi avaliada através de componentes críticas bem definidas, que
constituíam a lista de critérios a observar. Por outro lado, a distância alcançada
por cada aluno foi alvo de uma avaliação normativa, onde ao longo das aulas
procurei definir três níveis distintos consoante as capacidades dos alunos, que
tiveram um papel diferenciador da qualificação da avaliação sumativa. Ainda
assim, por vezes, nas restantes avaliações onde foi aplicada uma avaliação
criterial, houve a necessidade de realizar algumas comparações entre os alunos,
com o intuito de facilitar a diferenciação das capacidades dos mesmos e de,
posteriormente, lhes atribuir uma nota adequada e justa.
No que concerne às modalidades da avaliação, é possível distinguir a
existência de três variantes, nomeadamente a avaliação diagnóstica, a avaliação
formativa e a avaliação sumativa (Gonçalves et al., 2010)
A avaliação diagnóstica tem o propósito de analisar a capacidade que os
alunos têm para uma dada modalidade permitindo que se delineie o processo de
aprendizagem. No início do ano letivo, em reunião de NE, surgiu a possibilidade
das avaliações diagnósticas serem realizadas nas primeiras semanas de aulas.
Contudo, esta metodologia poderia levar a resultados diferentes da realidade no
momento da iniciação das aulas da modalidade, pois poderia existir uma
transferência de aprendizagens entre as diferentes modalidades. Como tal, ficou
acordado que as avaliações seriam realizadas na primeira aula de cada UD, para
que os resultados obtidos fossem mais realistas. Ainda assim, uma avaliação
diagnóstica de todas as modalidades no início do ano também apresenta as suas
vantagens. Na verdade, a utilização deste processo iria permitir uma planificação
92
do plano anual que estaria congruente com as capacidades dos alunos,
permitindo-me assim reservar um maior número de aulas para as modalidades
em que os alunos demonstravam maiores dificuldades.
Para a realização da avaliação diagnóstica das modalidades coletivas dei
sempre prioridade ao uso do jogo formal, pois, para além da avaliação da
capacidade de execução das habilidades motoras dos alunos, é possível
perceber o seu envolvimento no jogo, bem como as suas ações táticas. Por outro
lado, nas modalidades de hóquei em campo e de basebol, as avaliações
diagnósticas foram feitas de uma forma distinta das restantes. Como estas eram
modalidades que os alunos nunca tinham praticado e que não são muito
populares na cultura desportiva portuguesa, decidi que não seria adequado
realizar uma avaliação diagnóstica em contexto de jogo, pois a maioria dos
alunos não tinham o conhecimento de como o realizar. Além disso, esta falta de
conhecimento do jogo por parte dos alunos poderia colocar em causa a
execução técnica. Desta forma, na modalidade de hóquei em campo planeei uma
série de exercícios analíticos onde explicava aos alunos como deveriam realizar
determinada habilidade motora e eles executavam-na de seguida. Esta
estratégia permitiu-me verificar a capacidade de manuseamento do stick por
parte dos alunos, guiando-me assim na planificação de todo o processo de
ensino. Para a modalidade de basebol, decidi realizar uma aula mais teórica de
forma a perceber o nível de familiarização dos alunos com a modalidade, no
entanto, no final da aula acabei por iniciar a realização de jogo, ainda que de
uma forma bastante adaptada.
Relativamente à avaliação formativa, esta procura informar o professor e
o aluno acerca da qualidade do processo educativo e de aprendizagem,
revelando também o cumprimento dos objetivos delineados. Perante as
dificuldades ou desajustamentos detetados, o professor pode e deve adotar
novas metodologias e medidas educativas para os anular. A sua planificação
deve permitir a existência de momentos formais desta modalidade de avaliação,
no entanto, os seus dados nunca devem ser utilizados para a classificação dos
alunos, pois, só assim, serão eliminados os níveis de stress e ansiedade
característicos destes momentos15. Se esta condição for cumprida, os alunos
15 Documento de apoio à Unidade Curricular de Didática Geral do Desporto, inserida no 2º Ciclo do Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário (2013/2014)
93
poderão mostrar as suas dificuldades e aceitarão o erro sem a adoção de
estratégias de ocultação das dificuldades. Ao longo do ano esta modalidade de
avaliação foi aplicada com um carácter explícito uma vez nas aulas de badminton
e uma nas aulas de basquetebol e, por outras vezes, de forma implícita.
Considero que esta se revelou bastante crucial para que eu percebesse quais
as alterações que eram necessárias a nível do planeamento da UD, pois
revelaram algumas lacunas na realização de determinadas habilidades motoras
por parte dos alunos, levando-me assim a modificar a extensão e sequência dos
conteúdos:
“Após a análise desta avaliação, verifiquei que existia a necessidade de
estancar um pouco o processo de ensino-aprendizagem, pois os alunos
demonstravam um estilo de jogo que se cingia muito pela realização de clears,
originando um jogo muito previsível. Como tal, alterei um pouco a tabela de
extensão e sequência dos conteúdos e reservei uma aula para a exercitação de
todos os conteúdos” (Unidade Didática de Badminton, 1º Período).
Por fim, surge a avaliação sumativa que, geralmente, se aplica no final de
uma determinada UD. Se a avaliação inicial apresentava as possibilidades de
aprendizagem com base num prognóstico, esta surge como o diagnóstico de
todas as atuações do aluno onde, por sua vez, se pode depreender se o
correspondente prognóstico foi alcançado (Carrasco, 1989). Esta tem lugar no
final de cada ano e de cada ciclo de ensino, podendo, também ter lugar no final
de uma ou várias unidades de ensino que interesse avaliar globalmente. A
avaliação sumativa foi sempre aplicada no término de cada UD, sucedendo
sempre nos momentos finais de cada período, visto que sempre lecionei duas
UDs em simultâneo.
Uma das grandes dificuldades com que me deparei ao longo do tempo foi
a capacidade de verificar um grande número de critérios definidos no pouco
tempo que tinha disponível para a avaliação. Sabe-se que “uma avaliação
qualitativa é subjetiva e requere a presença de um observador experiente”
(Vickers, 1990, p. 132), sendo que a capacidade de observação depende da
experiência do professor. Como tal, numa primeira fase, considero que esta era
uma das lacunas sentidas na realização da avaliação, no entanto, com a
evolução desta capacidade, percebi também que o número de conteúdos e
critérios definidos me dificultava a velocidade com que concretizava a avaliação:
94
“Considero que a maior dificuldade que senti ao longo desta aula, foi o
facto de ter um grande número de conteúdos a avaliar, bem como um grande
número de componentes críticas relativas a cada um deles. Este foi, na minha
opinião, o grande fator que acabou por me impossibilitar de terminar a avaliação.
Para além disso, considero que a falta de experiência se apresentou como um
obstáculo, pois necessitava de muito tempo e várias repetições da habilidade por
parte do aluno para avaliar o cumprimento das componentes críticas em
determinada tarefa” (Reflexão da Aula nº 38 e 39, dia 19 de Novembro).
Como tal, foi necessário procurar soluções para que a concretização da
avaliação fosse passível de se realizar numa aula. Uma das estratégias
encontradas ao nível dos Jogos Desportivos Coletivos (JDC), aplicada na
modalidade de futebol, foi o recurso a uma metodologia de observação que se
centrava maioritariamente na tática em detrimento da técnica. Este instrumento
permitia uma diminuição relativa do número de conteúdos a avaliar, sendo que
as habilidades motoras técnicas eram aglomeradas num conteúdo denominado
de “relação com a bola”, onde procurava verificar o domínio das várias
habilidades motoras de forma geral, dos apoios, da trajetória, bem como o
equilíbrio. Isto permitiu uma diminuição significativa dos conteúdos a avaliar, sem
que as habilidades técnicas fossem menosprezadas.
Para além disso, outra dificuldade com a qual me deparei durante este
processo, foi a forma como realizava a avaliação dos critérios definidos. Numa
primeira fase, a minha avaliação cingia-se a uma lista de verificação, ou seja, era
registado o cumprimento ou não cumprimento de um determinado critério (Pais
& Monteiro, 1996):
“De forma a contabilizar as suas execuções, defini 3 componentes críticas
a verificar para cada conteúdo, sendo o aluno avaliado de 1 a 3 consoante o
número de componentes críticas que cumpria e, posteriormente, calculei uma
relação de forma a atribuir uma nota de 1 a 20 para o resultado final” (Unidade
Didática de Basquetebol, 2º Período).
No entanto, esta estratégia acabava por originar bastantes momentos de
indecisão acerca da aceitação ou não do cumprimento de um determinado
critério de êxito, pois, muitas vezes os alunos não realizavam o critério na sua
totalidade e, tal como referem Pais e Monteiro (1996), este tipo de instrumento
não possibilita a recolha de informações acerca da qualidade dos
95
comportamentos. Como tal, houve a necessidade de procurar novos
instrumentos:
“O seu processo de registo será igual ao da avaliação diagnóstica para
que seja possível verificar a evolução dos alunos, no entanto, decidi que dos três
critérios que tinha definido para cada conteúdo, a sua valorização de 1 a 3 não
seria pelo número de critérios cumpridos, mas sim pela qualidade com que
cumpriam cada um dos critérios (1 – não executa; 2 – executa mais ou menos;
e 3 – executa corretamente)” (Unidade Didática de Basquetebol, 2º Período).
Deste modo, comecei a utilizar uma escala de classificação, que permite
avaliar o grau de apresentação de cada atributo (Pais & Monteiro, 1996).
Considero que esta estratégia permitiu a facilitação do processo de avaliação,
pois permitia uma melhor definição da nota atribuída aos alunos. Além do mais,
permitiu ainda que a avaliação tivesse um carácter mais justo para os alunos,
visto que a diferenciação da qualidade de execução de determinado critério de
êxito entre dois elementos da turma era mais passível de ser concretizada.
Para além das habilidades motoras, também os conteúdos das dimensões
psicossociais, cultura desportiva e fisiologia e condição física (Vickers, 1990) são
sujeitos a um processo avaliativo ao longo do ano. A avaliação diagnóstica da
cultura desportiva foi sempre realizada na primeira aula de cada UD. Esta
processava-se ao longo de toda a aula, ainda que no seu início houvesse um
momento de reflexão com os alunos onde realizava várias questões para
perceber qual o conhecimento da turma relativo à modalidade. Posteriormente,
os seus conteúdos eram introduzidos de forma planeada (módulo 4 do MEC) ao
longo das aulas seguintes concomitantemente com a realização de avaliações
formativas implícitas para que eu percebesse o desenvolvimento dos alunos. No
final de cada UD os alunos realizavam um teste escrito que servia de material
para a avaliação das suas competências na dimensão da cultura desportiva.
Relativamente aos conceitos psicossociais, estes eram alvo de uma avaliação
contínua através de uma escala de classificação (++; + e -) que era preenchida
por mim no final de cada aula através das ilações que eu retirava de cada aluno
ao longo da sessão. Por fim, na dimensão da fisiologia e condição física, apenas
era realizada uma avaliação sumativa baseada no desempenho dos alunos na
bateria de testes Fitnessgram. Esta avaliação era realizada a meio de cada
período letivo, numa data definida pelo grupo de EF.
96
Posteriormente, as avaliações realizadas para cada uma das dimensões
de ensino, necessitavam de ser reorganizadas em consonância com áreas de
avaliação definidas no PCEF para que a avaliação final pudesse ser lançada.
Assim, a dimensão das habilidades motoras e da fisiologia e condição física
agrupam-se na área psicomotora, a cultura desportiva no domínio cognitivo e,
por fim, os conceitos psicossociais no domínio socio-afetivo.
Com efeito, de acordo com o PCEF, para o 11º ano de escolaridade, os
valores percentuais atribuídos a cada área são os seguintes: Área Psicomotora
- 75% (65% para habilidades motoras e 10% para a aptidão física); Área
Cognitiva – 10%; e Área da Cidadania – 15%. Já para o 5º ano de escolaridade
os valores percentuais atribuídos eram: Área Psicomotora - 60% (50% para
habilidades motoras e 10% para a aptidão física); Área Cognitiva – 10%; e Área
da Cidadania – 30%.
97
5. PARTICIPAÇÃO NA ESCOLA E RELAÇÕES COM A
COMUNIDADE
“A ação do Professor não se esgota no processo de gestão e
organização do ensino, nem na lecionação das aulas e relação que estabelece
com os próprios alunos. Neste reportório de ações a conexão e integração que
o Professor desenvolve na comunidade escolar representam, igualmente, um
aspeto predominante para a sua atuação”.
(Sardinha, 2013, p. 95)
Sendo que a atividade do professor não se limita às relações que este
estabelece na sala de aula, ao longo do ano, sempre procurei manter uma
participação ativa na escola não só ao longo dos eventos decorrentes, mas
também no próprio dia-a-dia na relação com funcionários, professores e alunos.
Para o efeito, procurei permanecer durante bastante tempo na escola para que
a quantidade de interações com a comunidade fosse superior. Considero que o
facto de ter conseguido alcançar uma boa relação com toda a comunidade
contribuiu bastante para o bom decorrer do ano letivo e para o meu
desenvolvimento enquanto professor.
A estreita relação que detinha com a comunidade educativa, garantiu-me
o apoio para a resolução de qualquer dificuldade com que me depara-se. Além
disso, estes também me orientaram para perceber os processos requeridos a
realizar em determinadas situações (marcações de faltas, comunicação com a
direção ou com os pais dos alunos). Também os funcionários da escola me
albergaram desde o início do ano letivo, o que me levou a sentir que já fazia
parte da casa. Estes sempre se mostraram disponíveis para me explicar as
várias dúvidas que surgiam acerca do funcionamento da escola, bem como em
me auxiliar nas demais situações. A sua experiência também foi benéfica para o
meu desenvolvimento, pois as suas vivências ajudaram-me a perceber a forma
como poderia, ou mesmo deveria, agir em determinadas situações com os
alunos. Os elementos do grupo de EF presentearam-me com contributos mais
direcionados para o ensino das modalidades e das relações com os alunos na
sala de aula.
98
Na verdade, o ideal de um bom professor, não se cinge à capacidade de
concretizar com eficácia todas ações relacionadas com a realização da prática.
E, para que este se distinga verdadeiramente como um bom professor, é
necessário que, para além da função letiva, possua capacidades de cooperação,
relacionamento e gestão que contribuam para o bom funcionamento e
desenvolvimento do contexto escolar em que se insere. Desta forma, é também
necessário que o professor esteja ciente das características deste contexto,
sendo que só assim, poderá agir em função da cultura da escola e das
características da região onde esta se encontra.
A escola onde realizei o meu EP preocupa-se, desde sempre, em criar
uma relação próxima e saudável entre toda a comunidade da escola, sendo que
o desenvolvimento das várias atividades contribui para que esta relação seja
alcançada.
Ao longo do ano, foram realizadas atividades no âmbito desportivo nas
quais o NE esteve inserido na sua organização, nomeadamente, o corta-mato, o
evento “Mexe-te”, o torneio de basquetebol 3x3, os jogos professores-alunos e
o Sarau Desportivo de final de ano letivo. As atividades de corta-mato e o Sarau
Desportivo foram organizadas por todo o grupo de EF, enquanto que o “Mexe-
te” e os jogos professores - alunos foram da inteira responsabilidade do NE.
A preparação e realização das atividades permitiu um enaltecimento do
meu entendimento ao nível da gestão e organização de eventos, permitindo-me
perceber todos os procedimentos necessários para que estes sejam realizados
e reter um variado número de estratégias organizativas. Para além disso,
também fomentaram a melhoria do relacionamento entre todo o grupo de EF,
bem como a união do NE. Considero que atividade que mais contribuiu para o
desenvolvimento das capacidades e do relacionamento do NE foi o evento
“Mexe-te”, visto que para uma boa preparação e organização, estava implícita a
necessidade de todo o núcleo estar junto durante bastante tempo, em que o
espírito de entreajuda era fulcral para que tudo decorresse como planeado.
Todas estas atividades se consumaram como uma oportunidade de
integração e afirmação na comunidade escolar, uma vez que os vários alunos
com que me deparei ao longo das mesmas me passaram a identificar como
professor, procurando sempre cumprimentar-me e falar comigo quando
posteriormente os encontrava na escola. A manutenção de uma boa relação com
99
estes alunos foi também uma atitude que procurei sempre adotar ao longo de
todo o ano. Para além disso, todas as atividades potenciaram o desenvolvimento
das minhas capacidades enquanto profissional da educação. Neste sentido,
considero fundamental que estas experiências, e os contributos que daí retirei,
sejam relatados no presente relatório.
Ainda assim, para além da sala de aula, a função de professor nem
sempre se cinge simplesmente a toda esta panóplia de atividades e
relacionamentos. Por vezes, cabe-lhe também assumir a responsabilidade por
uma direção de turma e/ou por uma modalidade de DE. Neste sentido, na
organização da PES está também implícito o acompanhamento de uma
modalidade de DE e de uma direção de turma ao longo do EP. No que concerne
ao DE, acompanhei ao longo de todo o EP a modalidade de badminton e de
basquetebol, ainda que este último apenas se tenha limitado às competições de
DE. Já na direção de turma, visto que cada turma se distingue das restantes,
sempre procurei acompanhar diferentes contextos de direção de turma.
Por conseguinte, neste capitulo irei reportar-me à minha participação nas
atividades da escola e, posteriormente, no DE e direção de turma.
5.1 Participação nas atividade da escola
5.1.1 Corta-mato escolar
O corta-mato foi o primeiro evento desportivo a ocorrer na escola durante
o ano. Visto que a nossa experiência era muito parca, este evento teve um
impacto considerável na nossa conceção dos requisitos para uma boa
organização de um evento no contexto escolar.
Apesar de todo o grupo de EF ter tido a responsabilidade pelo evento,
esta ficou ao encargo de dois professores, sendo que as minhas
responsabilidades se cingiram à concretização do evento em si (no próprio dia).
De um modo geral, considero que alguns aspetos da organização do
evento não foram muito eficientes, pois a sua preparação ocorreu muito em cima
da hora. Em primeiro lugar, a divulgação começou a realizar-se tardiamente, bem
100
como as inscrições que só abriram uma semana antes, não tendo talvez dado
tempo suficiente para que os professores pudessem incentivar os alunos a
inscrever-se. Por consequência, contrariamente ao que se verificou nos anos
anteriores, a adesão ao evento foi um pouco reduzida. No que concerne à
montagem do material e preparação do percurso, penso que deveria ter sido
organizada no dia anterior, visto que no próprio dia não tivemos tempo útil para
o fazer. Por esta razão, foi necessário modificar o percurso enquanto o
montávamos, tornando-o mais curto. Assim, para que a distância que os alunos
deveriam percorrer se mantivesse, aumentamos o número de percursos a
realizar. Por outro lado, a organização das credenciações estava bem elaborada,
o que resultou numa ação bastante rápida e eficaz, sem causar muitas dúvidas
por parte dos participantes. Esta tarefa estava ao encargo dos alunos
voluntários, tendo cada um a responsabilidade de realizar uma só ação, como
por exemplo, procurar o nome do aluno na lista, entregar os dorsais
identificativos e indicar a hora de início da prova do escalão do atleta.
Assim, para além dos sucessos, também os insucessos nos permitem
aprender, sendo que a principal aprendizagem retida, foi reconhecer a
necessidade de atender a uma organização prévia de qualquer evento, para que
o risco de ocorrerem percalços seja minimizado.
5.1.2 Evento “Mexe-te”
Como referido anteriormente, o evento “Mexe-te” foi a atividade que mais
contribuiu para o meu desenvolvimento de conhecimentos e experiências, como
para o relacionamento com a comunidade, nomeadamente, com os alunos. O
evento teve a duração de quatro dias consecutivos, sendo que cada um deles
foi reservado para uma determinada atividade, nomeadamente, Parkour16,
Kizomba, Boot Camp17 e manobras com cordas.
16Parkour: atividade cujo princípio é mover-se de um ponto a outro o mais rápido e eficientemente possível, usando principalmente o corpo. São ultrapassados obstáculos como rampas, escadas, muros, corrimões, árvores, ou qualquer lugar onde se possa escalar. 17 Atividade de Fitness baseada no conceito de treino militar.
101
Este evento foi da total responsabilidade do NE, como tal, o espírito de
cooperação e entreajuda foi fundamental para que todas as atividades do evento
fossem realizadas com sucesso.
O Parkour foi a modalidade realizada no primeiro dia da modalidade. Para
este dia contamos com a presença de três atletas que proporcionaram ao público
um momento de demonstração no intervalo de aula que, normalmente, tem mais
afluência da comunidade no polidesportivo. Posteriormente, no tempo de aulas,
os alunos que tinham no seu horário EF, tiveram um Workshop realizado pelos
atletas, onde lhes foi dada a oportunidade de experimentar a modalidade e
apresentar uma sequência de manobras no intervalo seguinte ao bloco de aula.
Esta organização metodológica foi mantida em todas as atividades que
decorreram ao longo do evento.
Na atividade de Kizomba, foi necessária uma preparação mais meticulosa
por parte do NE, pois, visto que não existia nenhum convidado, foi necessário
que um dos EEs lecionasse a modalidade. Como um dos nossos colegas já tinha
experiência nesta temática, foi eleito como o professor principal para orientar as
várias sessões. No entanto, os restantes membros estavam responsáveis por
ceder feedbacks aos alunos, ajudar nas demonstrações, bem como no apoio
logístico. Considero que esta experiência foi bastante enriquecedora para mim,
pois tive a oportunidade de alargar os meus conhecimentos numa área em que
eram inexistentes, pois nunca tinha experienciado uma aula de Kizomba ou de
qualquer outro tipo de dança de salão. Além do mais, admito que este evento se
demonstrou bastante positivo para o desenvolvimento da coesão do NE.
A atividade de Boot Camp caracterizou-se como uma atividade bastante
marcante para o meu ano de estágio. Na sua realização procuramos
aproximarmo-nos ao máximo da realidade do conceito militar. Desta forma,
incluímos momentos de formatura e do “içar da bandeira”, onde os EEs
desempenhavam o papel de “capitães” de pelotão e os alunos de recrutas. Toda
a atividade se baseou em competições de corridas de obstáculos entre duas
equipas. Para além disso, foi realizada uma pequena atividade com todos os
alunos com maior preeminência de NEE que me marcou bastante. Tendo em
conta as particularidades de cada um deles, mas sem retirar o nosso papel de
“capitães”, tentamos criar um pequeno percurso de obstáculos e fazer uma
formatura adequada para que estes vivessem estas experiencias. A felicidade
102
evidenciada nos seus sorrisos ficou marcada como um dos grandes momentos
do EP.
Por último, a atividade de manobras com corda foi também uma atividade
com grande sucesso que me proporcionou um aprofundamento da temática em
questão. Apesar de já ter realizado todas as atividades que foram concretizadas,
nunca tinha participado na organização e montagem das mesmas, o que me deu
uma nova visão acerca de todos os requisitos para que este tipo de atividades
sejam processadas com o máximo de segurança possível.
Ao fazer uma retrospetiva de toda a atividade, considero que o momento
mais marcante durante esta semana foi, sem dúvida, a atividade realizada com
os alunos com NEE, tendo ficado marcado na minha memória os seus sorrisos
de felicidade enquanto participavam na mesma. Julgo que todo o processo de
preparação e realização nos permitiu grandes aprendizagens (organizativas, de
cultura desportiva das modalidades, montagem de material), que poderão ser
uteis para o nosso futuro profissional, não só na área do ensino. Para além disso,
a coesão do grupo foi também cimentada, considerando assim que foi nesta
atividade que realmente nos tornamos num verdadeiro núcleo duro. Pegando na
analogia de Rolim (2013), um NE é como uma célula jovem em pleno
crescimento e transformação, onde os EEs são os cromossomas em constante
auto-mutação positiva, que habitam, preferencialmente, no núcleo da célula mas
que têm a capacidade de derivar para o citoplasma (todo o envolvimento onde
se movimenta o núcleo de estágio no seu EP) e assumir diversas funções e
responsabilidades. Por sua vez, o PO e PC distinguem-se como os mediadores
químicos que garantem a mediação e coordenação de todo o funcionamento
celular, monitorizando com segurança as mutações e metamorfoses
cromossómicas dos estagiários (Rolim, 2013). Neste sentido, é fundamental que
exista uma comunhão assumidamente ecológica por todos os seus
protagonistas, sendo que, quanto mais profícua for a cooperação entre estas
estruturas, melhor será o desfecho final, resultando em melhores profissionais
(Rolim, 2013). Torna-se, portanto, imperativo que o NE seja o mais coeso
possível, de forma a garantir o sentido de cooperação, tendo em vista o alcance
da melhoria profissional.
103
5.1.3 Sarau Desportivo
O sarau desportivo destaca-se como a atividade de encerramento do ano
letivo à qual a comunidade da escola revela grande adesão. A atividade foi
organizada pelo grupo de EF e pelos cursos vocacionais de multimédia e
restauração que deram suporte a toda a atividade.
A realização desta atividade exigiu uma preparação a longo prazo,
realizada ao longo de todo o terceiro período. A primeira fase cingiu-se à
preparação de apresentações e à realização das devidas inscrições. De forma a
melhorar a minha integração com a comunidade escolar, o NE decidiu participar
na coreografia de abertura com os alunos com NEE em que outros professores
também participaram, bem como preparar uma apresentação com os membros
do grupo de EF que desejassem participar.
Para além das duas atuações referidas, fiz questão de que os “Flyers
Desportus” também atuassem no Sarau Desportivo. Considero que, para mim,
foi um momento de bastante orgulho da noite, pois os meus alunos apoiaram-
me bastante ao longo da atuação, algo que me deu uma maior motivação para
que fizesse uma das melhores atuações de sempre. Neste momento, foi também
possível verificar o carinho demonstrado pela maioria da comunidade escolar,
algo que na minha opinião reflete o bom relacionamento que consegui alcançar
ao longo do ano.
Os dias que antecederam a atividade em si requereram uma grande
disponibilidade de toda a comunidade escolar para que esta tivesse sucesso. Foi
necessário desmontar todo o material que se encontrava no pavilhão (e.g.
balizas, redes de voleibol, cortinas divisórias dos espaços, tabelas amovíveis de
basquetebol, material de ginástica de aparelhos), montar a decoração, os
retroprojetores para a emissão de imagens, as telas onde as imagens iriam ser
projetadas, transportar cadeiras das salas de aula para o pavilhão, entre outras
tarefas. Todos estes trabalhos foram realizados nos dois dias antecedentes ao
evento, algo que se demonstrou obstáculo devido à falta de tempo. Este curto
espaço de tempo foi estipulado com vista a não prejudicar as aulas de EF, pois
após o início da preparação do evento, a lecionação das aulas dentro do pavilhão
iria ser impossível, ficando apenas o espaço exterior disponível para as aulas.
104
No entanto, com o trabalho de equipa e distribuição de tarefas por parte do grupo
de EF foi possível preparar a atividade atempadamente. Além disso, pudemos
contar com o auxílio dos alunos que tinham EF ao longo destes dias, algo que
facilitou a realização das tarefas.
Considero que toda esta atividade permitiu que a união do grupo de
estágio fosse enaltecida, pois acabámos por passar a maior parte do tempo
juntos desde o início da manhã até à noite. Sinto que esta necessidade foi
bastante valorativa para a criação de um núcleo ainda mais “duro”, onde a
entreajuda e o sacrifício pelo outro esteve muito presente.
A realização de todas as atividades já mencionadas levaram-me a refletir
acerca da importância do papel do professor na manutenção e realização destes
eventos. Numa perspetiva de que estes já se caracterizam como uma tradição
na minha escola cooperante, denoto que a sua manutenção garante a identidade
e cultura da própria escola. Neste sentido, cabe aos professores garantir que a
realização destas atividades não caia no esquecimento sob pena da escola
perder a identidade construída ao longo dos anos. Para além disso, entendo que
a sua execução promove as relações entre os alunos, bem como as relações
dos mesmos para com o pessoal docente e não docente, sendo que a
comunicação entre todos se torna necessária nestes momentos.
5.1.4 Ateliê de Educação Física
O Ateliê de EF foi uma atividade desenvolvida exclusivamente pelo NE,
que decorria todas as quartas-feiras no pavilhão da escola entre as 14 e as 15h.
Esta visava oferecer a todos os alunos da escola uma oportunidade de
desenvolverem as suas capacidades condicionais e coordenativas, de forma a
obterem um melhor nível de aptidão física, através da aplicação da metodologia
de treino funcional. Por esta razão, procuramos incentivar a participação dos
alunos que se apresentavam fora da zona saudável, sendo essa informação
fornecida através dos dados recolhidos com a bateria de testes de Fitnessgram
(realizada em todas as turmas pelos respetivos professores). Esta atividade teve
o seu início no segundo período e desenvolveu-se até ao final do ano letivo. É
de denotar a tradição que esta atividade já encarga na escola, pois tem vindo a
105
ser desenvolvida pelos NE ao longo de três anos consecutivos. O entanto,
considero que este ano tivemos uma mais-valia para a realização desta
atividade, uma vez que a escola recebeu uma encomenda de novo material de
treino funcional, possibilitando a preparação de uma maior diversidade de
exercícios, tanto a nível condicional como coordenativo.
O material utilizado para a atividade foi o disponível na escola (TRX,
Kettlebell, plataforma de instabilidade, bolas medicinais, Fitball, Elásticos,
BOSU, escada de agilidade, cordas) e a aparelhagem que nos permitia realizar
circuitos balizados pelos tempos das músicas, sendo um dos métodos utilizados
o “Tabata” desenvolvido por Izumi Tabata.
A primeira tarefa a realizar foi a divulgação da atividade. Estas foi feita
através da afixação de cartazes pela escola e a distribuição de panfletos através
de todos os professores do grupo de EF da escola. Em relação aos alunos que
sofrem de obesidade o cuidado foi maior na sua sensibilização, visto que nestes
casos a necessidade de desenvolver a aptidão física era mais elevada. Essa
sensibilização centrava-se em elucidar os alunos acerca das vantagens tipo de
prática e do modo como pode contribuir para o bem-estar físico e mental dos
indivíduos, aproximando os alunos dos níveis ideais de aptidão física. Na altura
em que se realizou o contacto com estes alunos, reparamos que ficaram um
pouco apreensivos e até assustados. Notava-se que viam o exercício físico como
algo negativo, como tal, o nosso papel era conseguir motivá-los e quebrar esse
receio que tinham. Ainda que os nossos esforços fossem bastantes, não
conseguimos cativar nenhum desses alunos a participar na atividade. Os alunos
que se inscreveram eram na sua maioria alunos que já detinham gosto pelo
exercício físico em geral e o seu objetivo era ganhar de massa muscular.
Apesar de não ter sido possível realizar testes que nos dessem uma
resposta concreta acerca da evolução dos alunos, foi verificável um aumento das
capacidades físicas dos alunos, especificamente, no desenvolvimento da
mobilidade e coordenação.
Considero que o Ateliê de EF foi uma atividade com grande impacto no
meu crescimento, não só enquanto professor, mas também como profissional na
área do Fitness. Confesso que esta área é bastante do meu agrado e, como tal,
penso que consegui ganhar algumas bases que me permitirão desenvolver um
melhor trabalho na minha vida profissional fora da escola.
106
Em tom de conclusão, considero que há alguns aspetos em que o próximo
NE se poderá focar para que esta atividade seja otimizada. Em primeiro lugar,
era imprescindível que se realizasse uma verificação do horário de todas as
turmas, de forma a perceber qual o período letivo em que a maioria das turmas
tem disponibilidade, pois uma das razões da pouca adesão este ano foi o facto
de muitos alunos terem aulas no horário da atividade. Considero também que a
divulgação através de uma demonstração poderá ser eficaz, bem como o
aumento da carga horária semanal da atividade para dois dias distintos,
permitindo assim criar mais oportunidades para os alunos participarem. Por fim,
de forma a conquistar os alunos com níveis de obesidade elevados, penso que
uma boa solução seria realizar uma sensibilização dos riscos provenientes a
essa condição, através de uma apresentação (vídeo por exemplo) nas aulas de
EF. Também uma aula experimental para cada uma das turmas, no seu horário
de EF, poderia ser uma estratégia efetiva para demonstrar aos alunos que este
tipo de exercício não é tão “assustador” como alguns o encaram, podendo até
se tornar bastante motivante.
5.2 Desporto Escolar
Segundo as normas orientadoras do EP18, o EE deve compreender a
atividade de ensino e treino de DE, enquanto processo dominantemente
pedagógico. A Direção Geral da Educação, na sua formulação estratégica,
reivindica a visão a missão e os valores do DE19. O DE tem como visão a prática
regular de atividades físicas desportivas por todos os alunos do sistema
educativo. Quanto à sua missão, este pretende proporcionar o acesso à prática
desportiva regular e de qualidade, contribuindo para a promoção do sucesso
escolar dos alunos, dos estilos de vida saudáveis e de valores e princípios
associados a uma cidadania ativa. Por fim, o DE pretende desenvolver atividades
desportivas que ponham em jogo potencialidades físicas e psicológicas, que
18 Normas Orientadoras do Estágio Profissional do Ciclo de Estudos Conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário da FADEUP, 2014-2015. Porto: Faculdade de Desporto. Matos, Z. 19 Pograma do Desporto Escolar 2013-2017. Direção Geral da Educação
107
contribuam para o desenvolvimento global dos jovens, sendo um espaço
privilegiado para fomentar hábitos saudáveis, competências sociais e valores
morais. Assim, o DE rege-se por princípios que facilitem o alcance da sua visão:
a igualde de oportunidades, assegurando a deslocação dos alunos para as
competições; a equidade nas condições de participação, assegurando que cada
aluno seja presenteado com uma refeição ou reforço alimentar; a inclusão de
todos os alunos com e sem NEE; e a integração, ao banir qualquer forma de
descriminação entre pessoas.
Na escola cooperante, os alunos tinham à sua disposição três
modalidades distintas: badminton, boccia e basquetebol. Considero que, de uma
forma geral, a escola procura assegurar os valores e princípios delineados para
o DE. O boccia destaca-se como uma modalidade com bastante influência e que
visa a integração dos alunos com NEE no desporto, sendo que existe um grande
número de horas disponíveis para eles praticarem. Para além disso, no que
concerne ao badminton, os alunos têm à sua disposição 3 treinos ao longo da
semana, permitindo assim, que todos tenham pelo menos um dia em que
possam participar. O basquetebol, por sua vez, é uma modalidade que não
dispõe de treinos para a sua prática, limitando-se simplesmente à competições
de DE. Ao longo do meu EP, a minha participação nesta temática esteve
maioritariamente ligada ao badminton, no entanto, acompanhei também os
alunos da escola nas várias etapas de DE na modalidade de basquetebol.
5.2.1 Badminton
Os treinos desta modalidade decorriam duas vezes por semana, ainda
que só fosse possível ao NE estar presentes às terças-feiras devido à lecionação
da turma partilhada na outra escola do agrupamento. Reconheço que esta
experiência teria sido mais enriquecedora se houvesse a possibilidade de estar
presentes às quintas-feiras, pois neste dia estavam regularmente presentes pelo
menos 10 alunos, enquanto que no dia em que frequentava os treinos, apenas
contava com a normal presença de 2 a 4 alunos. Tal facto devia-se ao horário
dos alunos que os impossibilitava de estarem presentes neste período. Desta
108
forma, os treinos acabavam por se verificar um pouco monótonos devido à falta
de alunos.
Para além da nossa presença, era necessário que estivesse presente o
professor responsável pela atividade, pois caso esta condição não se verificasse,
a mesma não poderia decorrer. Este facto ocorreu com alguma frequência nos
treinos de terça-feira. Ainda assim, considero que a minha presença nestes
treinos foi bastante enriquecedora, principalmente, pela aquisição de
conhecimentos a nível da modalidade. Considero que sempre detive bastante
gosto por esta modalidade e, como tal, já tinha um conhecimento razoável acerca
da mesma, que me permitiram, ao longo de todos os treinos, contribuir na
melhoria da performance dos alunos presentes através da emissão de feedbacks
e demonstrações.
Na minha opinião, o facto de não ser realizado qualquer tipo de
planificação para estes treinos tornou a aprendizagem dos alunos um pouco
pobre, pois as habilidades eram abordadas ocasionalmente quando surgia
oportunidade para tal. Ainda assim, sempre procurei propor aos alunos vários
exercícios que, de certo modo, visassem uma progressão das habilidades
motoras, procurando assim, ir consolidando as habilidades motoras mais
basilares numa primeira fase e, posteriormente, progredir para as mais
complexas.
Visto que no DE o ambiente de ensino é um pouco diferente de uma aula
de EF, fui aproveitando para jogar com os alunos presentes. Isto permitia, não
só que os níveis motivacionais dos alunos aumentassem, mas também que eu
tivesse uma melhor perceção das dificuldades de cada um. Como tenho
capacidades para colocar os volantes no local onde desejo, consegui facilmente
criar condições de aprendizagem adequadas ao nível de cada.
Neste contexto escolar, um dos fatores que também possibilita uma maior
aprendizagem por parte dos alunos, é o facto de estes frequentarem os treinos
por livre arbítrio, o que significa que desejam evoluir e aprender, estando deste
modo, sempre atentos às instruções. Além disso, visto que existem competições
ao longo do ano, os alunos mantêm os seus níveis de empenhamento motor
sempre altos para que consigam ser cada vez melhores e consigam alcançar o
sucesso nas competições.
109
A presença nesta atividade permitiu-me também perceber um pouco mais
acerca de toda a logística que está por trás do DE, desde a legislação inerente
aos treinos, das inscrições para os campeonatos e do funcionamento dos
mesmos. Esta experiência possibilitou-me ainda aprender um pouco acerca das
responsabilidades que estão inerentes à coordenação de uma modalidade do
DE.
5.2.2 Basquetebol 3x3
A primeira fase desta atividade (torneio) decorreu na escola cooperante e
foi exclusiva aos alunos da mesma, sendo que as equipas vencedoras de cada
escalão seriam classificadas para a participação nas etapas de DE da
modalidade. Ao NE recaiu a tarefa de assegurar o controlo de todos os terrenos
de jogos, desde as arbitragens, as mesas, a coordenação de entradas e saídas
do recinto de jogos, a orientação dos alunos e a entrega dos resultados no
gabinete de EF para posterior contabilização dos pontos pelos restantes
professores da disciplina. É fácil concluir que era necessária uma grande
organização e rapidez de execução de tarefa para que fosse possível orientar
todos estes processos.
Considero que a maior dificuldade sentida centrou-se nas transições de
jogos, onde era necessário mobilizar os jogadores que terminavam o jogo, os
que iriam entrar, trocar os árbitros e, por vezes, os estatísticos de mesa. Além
disso, toda esta tarefa tinha que ser realizada em pouco mais de um minuto para
que não existissem atrasos e o evento não se prolongasse demasiado. O facto
de sermos informados acerca das nossas tarefas apenas momentos antes do
evento, dificultou claramente a nossa ação, pois o nosso modelo organizativo foi
sendo delineado com o decorrer do evento através dos erros detetados que
corrigíamos nas transições seguintes.
Desta forma, a capacidade de adaptação e improvisação foi fulcral para
que todo o evento decorresse da melhor forma sem se verificarem grandes
percalços. Considero assim, que este evento foi bastante enriquecedor para a
minha capacidade de adaptação aos obstáculos encontrados e de reflexão na
110
ação, capacidades estas que considero fulcrais para o bom desempenho da
função de professor, tanto dentro como fora da aula.
Posteriormente procedeu-se a fase distrital do DE, estando presentes e
responsáveis por acompanhar os alunos, o PC e todos os seus EE. O
acompanhamento deste evento não requereu grande trabalho da nossa parte,
uma vez que não tínhamos funções organizativas. Apenas foi necessário
acompanhar os alunos e orientá-los para os campos de jogos quando
necessário. Nesta função, a maior dificuldade encontrada foi na mobilização de
alunos pelos diferentes campos, pois não existia nenhum quadro competitivo
exposto.
Já nas competições propriamente ditas (jogos), a minha função cingiu-se
no auxílio das equipas da escola na organização posicional em campo e aos
princípios táticos de jogo. A maioria das equipas, especialmente as de alunos
iniciados, não tinham noções de organização tática, o que os prejudicava
bastante ao longo dos jogos, pois as restantes equipas adversárias tinham
treinos regularmente nas suas escolas. Desta forma, tentei de uma forma
bastante sucinta elucidar os alunos da organização tática “três abertos”, dando-
lhes também algumas opções de finalização. Despois desta intervenção, foi
verificável alguma evolução na organização dos alunos em campo, no entanto,
apenas uma equipa feminina se conseguiu apurar para a fase regional.
Posteriormente, na fase regional, apenas estivemos presentes eu e uma
das minhas colegas do NE, pois os restantes membros do NE e o PC não tiveram
possibilidade de estar presentes. Aqui, não foi requerido um grande trabalho da
nossa parte ao nível da organização do evento, sendo que a única tarefa a
realizar foi na mobilização dos alunos para o evento. Semelhantemente à fase
anterior, a nossa função destacou-se na tentativa de organizar racionalmente as
alunas em campo e de as aconselhar sobre o que deveriam fazer no decorrer do
jogo. No entanto, a única equipa presente era formada por jogadoras federadas,
não tendo sido necessário uma grande abordagem aos conceitos básicos, pois
estes já estavam interiorizados. Assim, a nossa abordagem com as alunas
centrou-se na definição de algumas jogadas combinadas a colocar em prática
no jogo.
Para mim esta participação foi muito importante, porque na atividade
regular do badminton a nível de DE, não tive oportunidade de acompanhar os
111
alunos em competições, enquanto que o basquetebol me permitiu viver essa
experiência do nível da competição. Para além disso, esta experiência, ainda
que tenha decorrido de uma forma muito superficial, permitiu-me fazer uma
transferência de conhecimentos para a competição no âmbito do treino
desportivo, à qual eu nunca tinha experienciado.
.
5.3 Direção de Turma
“O Diretor de Turma é assumido como sendo uma figura de gestão
intermédia da escola, depositário de responsabilidades particulares no que
concerne à coordenação dos professores da turma, à promoção do
desenvolvimento social e pessoal dos alunos e sua integração no ambiente
escolar, assim como ao relacionamento estabelecido entre a escola, os
encarregados de educação e a comunidade escolar”.
(Boavista & Sousa, 2013)
Durante o ano letivo, devido à incompatibilidade de horário da direção da
minha turma, acompanhei a Direção de Turma que o PC lecionava. Esta
oportunidade permitiu-me adquirir um melhor entendimento acerca das funções
desempenhadas pelo DT ao longo do ano letivo.
Através da interação e dos diálogos com a DT, concluí que existem
algumas incoerências daquilo que realmente é feito com o que está delineado.
Em primeiro lugar, segundo o artigo 36.º do Decreto-Lei nº 115-A/98, é da
responsabilidade do DT elaborar o documento em conjunto com o conselho de
turma, constituído pelos professores da turma, por um delegado dos alunos e
por um representante dos pais e encarregados de educação, embora nem
sempre existisse cuidado da parte dos DTs. Por outro lado, o tempo cedido para
desempenhar as funções de DT (dois blocos de 50 minutos na escola
cooperante) não é o suficiente para as funções que tem que desempenhar, o
que obriga a que disponibilize mais horas para concluir as tarefas semanais. Ao
longo da semana existem algumas tarefas que são sempre concretizadas pelos
DTs. Deste conjunto destaca-se a justificação e controlo de faltas e o
112
atendimento aos encarregados de educação que podem dirigir-se à escola na
hora delineada para tal, ou então, através de uma estratégia utilizada pela
professora para facilitar os contactos, numa hora marcada para o fazer através
de contacto telefónico. Além disso, sempre que necessário, o DT entra em
contacto com os encarregados de educação para informar de qualquer
acontecimento sucedido durante a semana. Assim, através do contacto com a
DT da turma do PC consegui perceber os procedimentos a realizar no que
concerne ao controlo de faltas e à comunicação entre os encarregados de
educação com a escola. Na verdade, o DT é reconhecido como o gestor
pedagógico que detêm uma tripla função (Boavista & Sousa, 2013), sendo o elo
de ligação entre os alunos, os encarregados de educação e os professores da
turma.
Para além deste acompanhamento, tentei sempre manter o contacto com
a DT da minha turma residente, de forma a conhecer melhor os meus alunos e
perceber quais os constrangimentos que podiam não só, interferir com o
funcionamento das minhas aulas, mas também que me permitiriam ter uma
intervenção ativa, no sentido de ajudar os alunos. Por outro lado, além destes
contactos informais, estive também sempre presente nas reuniões de concelho
de turma. Considero que estas reuniões são bastante importantes para que
possa perceber as personalidades dos alunos fora das minhas aulas, pois
surpreendentemente, nestas sessões, por vezes, conhecia alunos
completamente diferentes da minha disciplina para as restantes. Estas reuniões
ajudaram-me também a tomar conhecimento dos eventuais problemas que
determinados alunos vivenciaram, tanto dentro, como fora da escola, que
exigiam aos professores uma intervenção diferente e uma atenção especial
frente a determinadas atitudes. Nas minhas aulas considerava cada aluno como
um ser individual e, como tal, procurava encontrar a melhor forma de interagir
com cada um e de os ajudar não só nas suas aprendizagens como nas usas
superações pessoais.
Adicionalmente, por considerar que ainda tinha muito a aprender, decidi
acompanhar um pouco o trabalho da DT de uma colega de estágio. Considero
que esta experiência foi bastante enriquecedora, pois deparei-me com um
contexto totalmente diferente. Esta turma era um grupo com bastantes
comportamentos disruptivos e com particularidades bastante problemáticas de
113
um grande número de alunos, o que exigia uma atuação constante por parte da
DT. Aqui, era imprescindível o contacto com os encarregados de educação e
com os restantes professores para que ficassem inteirados do ponto de situação
de cada um dos alunos.
De um modo geral, todas estas tentativas de acompanhamento das várias
Direções de Turma permitiram-me adquirir diversas capacidades para atuar em
determinadas situações, também possíveis num momento futuro. Na
organização das tarefas do DT destaco a comunicação com os pais, a
organização das reuniões de conselho de turma, os procedimentos perante o
acumular de faltas dos alunos e a resolução de problemas de indisciplina. Para
além disso, através do acompanhamento da DT da turma da minha colega,
consegui também assimilar estratégias para a resolução de problemas de
indisciplina por parte dos alunos.
Perante a apresentação de todas estas vivências, resta-me acrescentar
que, no que respeita ao envolvimento e participação nas diversas atividades da
escola, procurei não perder nenhuma oportunidade de estar presente e contribuir
para o êxito das mesmas. Afinal, o papel do professor vai muito além da
lecionação de aulas, sendo que este deve procurar ser um agente ativo na
comunidade escolar, rumando em prol da prosperidade da mesma, bem como
na manutenção das suas raízes que a tornam única.
115
6. DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
O desenvolvimento profissional apresenta-se como um processo
fundamental na atividade do professor. Esta abrange atividades e vivências
importantes para a construção da competência profissional, sendo este
desenvolvimento resultante da reflexão acerca do exercício da atividade, das
experiências formativas, da investigação e da ação. A competência, numa
perspetiva global, define-se como o traço global inerente à ação do indivíduo ou
do grupo profissional, sobre o qual é possível emitir um juízo de valor (Esteves,
2009). Jonnaert (cit. por Esteves, 2009) define ainda que a competência de um
professor é representada pelas formas como os sujeitos gerem os seus recursos
cognitivos e sociais na ação, numa dada situação. Neste sentido, quanto mais
capaz for o professor de gerir estes recursos, melhor será a sua competência.
Segundo as normas orientadoras do EP , “Esta área engloba atividades e
vivências importantes na construção da competência profissional, numa
perspetiva do seu desenvolvimento ao longo da vida profissional, promovendo o
sentido de pertença e identidade profissionais, a colaboração e a abertura à
inovação” (p.7), sendo que tem como principal objetivo levar o EE a “Perceber a
necessidade do desenvolvimento profissional partindo da reflexão acerca das
condições e do exercício da atividade, da experiência, da investigação e de
outros recursos de desenvolvimento profissional. Investigar a sua atividade em
toda a sua abrangência (criar hábitos de investigação/reflexão/ação)” (p.7).
Neste sentido, ao longo de todo o meu percurso de EP procurei sempre ir em
busca de novos conhecimentos que me auxiliassem na resolução e prevenção
de obstáculos e no alcance de um melhor nível de aprendizagem dos alunos.
A primeira atividade realizada neste âmbito foi a realização do Projeto de
Formação Individual (PFI). O PFI surgiu como um projeto que incidiu na
organização e orientação de todo o meu percurso pelo EP, que me levou a
analisar as minhas dificuldades e potencialidades, que identificava como
imprescindíveis para a minha atuação enquanto professor. Com a realização
desta tarefa, rapidamente percebi quais as primeiras dificuldades que deveria
procurar superar para que a minha atuação enquanto professor pudesse ser
potencializada. Para além disso, este documento mostrou ser bastante útil para
116
o desenvolvimento de todo o EP, sendo que me permitiu alinhavar o meu
processo formativo e refletir acerca de quais poderiam ser as dificuldades com
que me poderia deparar nos vários processos da ação pedagógica. A realização
desta tarefa mostrou-se, posteriormente, facilitadora na elaboração do RE, visto
que as áreas trabalhadas (e.g. Escola como Instituição; Realização da Prática
Profissional) vão ao encontro das desenvolvidas no PFI. Com efeito, quando
iniciei a realização do relatório, já tinha um ponto de partida, tornando assim a
tarefa mais simples.
Em simultâneo com o desenrolar da prática, esteve sempre presente a
ação reflexiva, que na minha opinião se distinguiu por uma das ações de maior
importância para a melhoria da minha prática pedagógica. Segundo Bento (2003,
p. 190), “A reflexão posterior sobre a aula constitui a base para um reajustamento
na planificação das próximas aulas, uma vez que proporciona uma definição
mais exacta do nível de partida e procede a balanços que devem ser tomados
em conta na futura planificação e organização do ensino. Simultaneamente
afirma-se como condição decisiva para a qualificação da actividade do professor
e, assim, para uma maior eficácia do ensino”. Na verdade, os momentos de
reflexão que procediam, bem como os que antecediam a lecionação e
planificação das aulas foram fulcrais para o meu desenvolvimento enquanto
professor. A sua aplicação permitia-me perceber, por exemplo, quando uma
determinada estratégia utilizada ou exercício não eram adequados para a turma,
levando-me a encontrar alternativas para as mesmas.
Schön (1987) distingue três tipos de reflexão: a reflexão na ação; a
reflexão sobre a ação e a reflexão sobre a reflexão na ação. A reflexão na ação
ocorre no decurso da própria ação, com breves instantes de distanciamento,
onde reformulamos o que estamos a fazer enquanto o estamos a realizar
(Alarcão, 1996). A reflexão sobre a ação, por sua vez, ocorre num momento
posterior à ação e define-se como uma reconstrução mental onde o professor
analisar retrospetivamente a sua ação em determinado momento (Alarcão,
1996). Por último, surge num nível mais profundo a reflexão sobre a reflexão na
ação. Esta reflexão pressupõe uma análise, posterior à ocorrência, acerca da
reflexão reativa (reflexão na ação) que o professor realizou anteriormente.
Alarcão (1996) afirma que é este processo que ajuda o professor a determinar
as suas ações futuras, a compreender futuros problemas ou a descobrir novas
117
soluções. A autora acrescenta ainda que a reflexão sobre a reflexão na ação
permite ao profissional progredir no seu desenvolvimento e construir a sua forma
pessoal de conhecer.
No início do ano, a reflexão na ação foi um obstáculo que gerou alguns
constrangimentos na minha ação, pois, por vezes, tinha dificuldade em encontrar
as melhores soluções para me adaptar às dificuldades encontradas na ação. No
entanto, considero que com o acumular de experiência fui adquirindo
capacidades para corrigir as várias falhas de planeamento ou instrução, como
por exemplo, quando um exercício não estava pensado da melhor forma e o
momento exigia uma rápida alteração da sua dinâmica, ou quando uma dada
habilidade motora não tinha sido compreendida pelos alunos e surgia a
necessidade de repensar a instrução e talvez adotar outra estratégia
(demonstração por exemplo).
A reflexão sobre a ação era frequentemente realizada após o momento
de ação (aula) e com maior preponderância na redação das reflexões de aula do
portefólio digital. Aqui a reflexão era bastante ponderada, pois não existia
qualquer pressão para a sua conclusão, o que permitia compreender com maior
clareza os acontecimentos ocorridos. Também a reunião semanal de NE e as
reflexões após os momentos formais de observação de aula se distinguiam como
um momento importante de reflexão sobre a ação, onde as maiores dificuldades
sentidas pelos EEs eram evidenciadas e refletidas em grupo recorrendo a uma
discussão. Se por um lado, conseguia retirar ilações dos vários acontecimentos,
baseando-me nas minhas próprias conceções, por outro lado, os momentos de
reflexão em grupo destacavam-se por despoletar um momento de discussão e
troca de ideias entre o grupo, permitindo obter diferentes perspetivas com vista
ao alcance de soluções. Para além disso, este debate permitiu uma melhoria
gradual na minha capacidade reflexiva (Rosado & Mesquita, 2011b).
A reflexão sobre a reflexão na ação também foi realizada em todos estes
momentos. Se na reflexão individual me confrontava a mim próprio acerca do
motivo de agir de determinada maneira, nos momentos de reflexão em grupo
esta reflexão era mediada pelo PC que me questionava acerca dessa temática.
No entanto, com o decorrer do EP, eram os meus colegas de NE que me
colocavam essas mesmas questões, levando-me assim a refletir acerca das
118
mesmas. Considero que foi o recurso a este tipo de reflexão que permitiu que o
processo de reflexão na ação fosse gradualmente aprimorado.
Para além destes momentos mais “formais”, havia outros onde eram
realizadas reflexões, sendo exemplos disso as conversas com os colegas de NE
e as minhas reflexões individuais não escritas. Estas surgiam em locais ao
acaso, como por exemplo, nos intervalos, nas viagens de carro, durante uma
refeição ou mesmo, e muitas vezes de forma não intencional, no final de um dia
cansativo enquanto procurava adormecer.
Considero que a prática destas rotinas se demonstrou muito vantajosa
para que a cada aula conseguisse enriquecer a minha prática pedagógica e, por
consequência, potenciar a aprendizagem dos meus alunos.
Durante todos os momentos de reflexão, sempre senti a necessidade de
procurar soluções para os meus problemas. Para tal, a pesquisa na literatura
revelou-se também fundamental, pois permitia-me partir de pressupostos já
fundamentados e adaptá-los ao contexto da minha sala de aula. Para além disso,
também procurei fazer essa adaptação à minha personalidade, atribuído o meu
cunho pessoal ao processo de ensino-aprendizagem. Através desta prática, fui
construindo a minha identidade enquanto professor, pois cada conhecimento e
solução que fui adotando definiram o professor que sou hoje.
Durante este ano tive também a oportunidade de assistir a uma formação
de treino funcional que decorreu na minha escola. O objetivo desta formação foi
desmistificar algumas temáticas inerentes ao trabalho da condição física que são
aplicadas nas escolas, mostrando aos professores que nem sempre são tão
benéficos e eficazes como se costumam considerar. Um exemplo disso foi a
análise das vantagens da aplicação dos testes de Fitnessgram, tentando
elucidar-nos de que esta bateria de testes não revela verdadeiramente os níveis
de aptidão física dos alunos. O tema da utilização de alongamentos/exercícios
de flexibilidade também foi bastante falado e criticado pelo orador, tendo este
dado alguns exemplos de exercícios bastante usuais e que não têm uma
explicação anatómica da sua utilidade. Nesta sessão, foi ainda apresentado aos
participantes a bateria de testes Fit School, que tem o intuito de ser aplicada nas
escolas de forma a melhorar as capacidades condicionais e coordenativas dos
alunos (apresentada oficialmente durante este ano) considerando uma série de
exercícios funcionais passíveis de ser aplicados na escola. Além do mais, esta
119
bateria permitia verificar a evolução dos alunos através da realização de um
circuito, onde eram mensurados o número de repetições realizadas em cada
uma das estações. Penso que esta formação foi bastante valorativa para o meu
desenvolvimento enquanto professor, pois permitiu-me perceber aquilo que está
atualmente a ser feito no contexto escolar em relação à condição física e adquirir
uma nova perspetiva do que poderá ser mais eficiente e motivante.
Para além desta formação, foi também fundamental frequentar as
sessões de trabalho relativas ao EP e as aulas da Unidade Curricular de Tópicos
I e II. Considero que todas estas sessões foram bastante positivas para a minha
evolução enquanto EE pois, por um lado, permitiram que realizasse uma revisão
acerca de todas as matérias já lecionadas anteriormente e as especificidades de
cada modalidade desportiva, enquanto que, por outro, permitiram alargar os
conhecimentos e adquirir novas noções a nível da função didática do professor.
Como tal, sempre procurei estar o mais presente possível nas sessões
realizadas ao longo de todo o ano letivo.
Por último, resta referir o contacto realizado, tanto com a turma residente,
como com a turma partilhada e as turmas dos meus colegas de estágio. Todas
as tarefas referidas anteriormente foram realizadas em função das experiências
vividas com todas as turmas, nas quais tive oportunidade de lecionar ou
simplesmente observar. Foram estes momentos que despoletaram todas as
dúvidas e dificuldades que me levavam a refletir e, posteriormente, a procurar
soluções. Neste sentido, Alarcão (1996) refere que “os professores
desempenham um importante papel na produção e estruturação do
conhecimento pedagógico porque refletem, de uma forma situada, na e sobre a
interacção que se gera entre o conhecimento cientifico (…) e a sua aquisição
pelo aluno, refletem na e sobre a interacção entre a pessoa do professor e a
pessoa do aluno, entre a instituição escola e a sociedade em geral. Desta forma
têm um papel activo na educação e não um papel meramente técnico que se
reduza à execução de normas e receitas ou à aplicação de teorias exteriores à
sua própria comunidade profissional”. Assim, nomeadamente o contacto com a
minha turma residente e com a turma partilhada, permitiu que pudesse
compreender os erros cometidos nas decisões tomadas, incitado a uma
descoberta constante, de modo a agir adequadamente nas diferentes situações.
Em suma, Rosado e Mesquita (2011b, p. 214) postulam que “a aprendizagem
120
experiencial deverá ser aproveitada (…) enquanto meio prioritário de
aprendizagem, desde que se baseie na compreensão das decisões tomadas e
nos erros cometidos”.
121
7. CONCLUSÃO E PERSPETIVAS PARA O FUTURO
Num piscar de olhos vejo por terminada esta jornada que, sem sombra de
dúvida, não cairá no esquecimento, uma vez que deixa uma marca vitalícia na
pessoa que sou hoje. Com o final deste caminho surge uma panóplia de
sentimentos antagónicos. Por um lado, o sentimento de conquista por finalizar
uma etapa crucial da minha vida, que tanto influenciou a pessoa e o profissional
que sou hoje. Por outro lado, o sentimento de saudade dos cinco anos de
formação inicial, marcados por muitas vivências repletas de emoções, os quais
intitulo, sem hesitar, como os melhores anos da minha vida. Há cinco anos atrás,
parti rumo à cidade do Porto por um caminho solitário onde tudo me era
desconhecido. Neste percurso, criei novos relacionamentos e encontrei novas e
várias “famílias” que me acolheram. Aqui, aprendi a morar sozinho e a ganhar a
minha própria autonomia e aprendi a tornar-me verdadeiramente responsável e
trabalhador. Aqui, adquiri novos conhecimentos e reconheci a necessidade de
os renovar continuamente, revelando sempre uma sede incondicional pelo
conhecimento.
Já no EP, relembro o dia em que entrei pela primeira vez na escola onde
toda a aventura iria decorrer. Ainda me lembro daquele sentimento de
estranheza por saber que a partir daquele dia iria ver a escola de uma perspetiva
totalmente diferente. Agora não como aluno, mas sim como professor. Claro que
o sentimento de receio também estava presente, questionando-me
frequentemente acerca das minhas capacidades: “Será que vou ser um bom
professor? Será que sou capaz de controlar os meus alunos? Será que me vão
ver como professor?” Com o passar do tempo estes sentimentos desvaneceram,
principalmente, pela segurança que fui conquistando na função que
desempenhava. Ainda assim, importa referir que toda a minha atuação ao longo
do EP não foi uma tarefa leviana. O caminho era “misterioso”, não era uma
simples “reta” fácil de se atravessar, mas sim, um labirinto de obstáculos e
soluções, onde a escolha pelo caminho errado poderia encaminhar-me para o
sentido contrário ao desejado. Porém, foi a complexidade deste caminho que me
conduziu à busca das melhores estratégias, em que a presença da reflexão e da
pesquisa na literatura foram imperativas.
122
Hoje reconheço que se não existissem adversidades, não teria existido o
trabalho árduo, os constrangimentos e os sacrifícios, mas também as
superações, as vitórias, os envolvimentos e os relacionamentos não teriam o
mesmo sabor. Como aprendi este ano, um erro não significa um fracasso, do
mesmo modo que o motivo que nos derruba e nos faz, por vezes, ver um
caminho sem fim, é também aquele que nos dá força para nos erguermos ainda
mais alto. Foram, portanto, todos estes aspetos que determinaram a minha
transcendência enquanto profissional e pessoa. Hoje, sinto-me verdadeiramente
professor e uma pessoa dotada de capacidades e competências para
desempenhar esta função. Também a capacidade de reflexão, trabalho,
relacionamento e comunicação foram mais-valias adquiridas nesta experiência,
que me facilitarão o exercício de qualquer outra função do ramo profissional.
Após findar toda esta caminhada, resta-me agora refletir acerca do que
virá no dia de amanhã. É certo que aquilo que evoluí até hoje foi apenas mais
uma etapa alcançada e, uma vez que o conhecimento não tem limite, esta será
sempre uma busca incessante. Como afirma Aldous Huxley (1894-1963), “O
degrau da escada não foi inventado para repousar, mas apenas para sustentar
um pé o tempo necessário para que o homem coloque o outro pé um pouco mais
alto”.
A perspetiva de um dia voltar a assumir a função de professor
permanecerá sempre presente, mesmo que a “crise” atual a distancie de mim,
porque detenho o pensamento de que um dia a porta se abrirá para que continue
pelo caminho “misterioso” que é ser professor de EF.
123
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