pedro ivo garcia nunes -...

18
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA PEDRO IVO GARCIA NUNES CRIAÇÃO COLETIVA DE SENTIDO PARA SINAIS FRACOS: REVISÃO DE LITERATURA Documento confeccionado como exercício prático da disciplina FT061 Seminário de Tese. LIMEIRA 2015

Upload: donga

Post on 23-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA

PEDRO IVO GARCIA NUNES

CRIAÇÃO COLETIVA DE SENTIDO PARA SINAIS FRACOS:

REVISÃO DE LITERATURA

Documento confeccionado como exercício prático da disciplina FT061 – Seminário de Tese.

LIMEIRA

2015

ii

iii

Sumário

1. Introdução ................................................................................................................ 1

2. Revisão de literatura ............................................................................................... 1

2.1 Base Teórica ....................................................................................................... 2

2.2 Estado da Arte .................................................................................................... 3

3. Considerações Finais ............................................................................................... 9

Referências .................................................................................................................... 10

Apêndice A .................................................................................................................... 13

Apêndice B ..................................................................................................................... 14

iv

1

1. Introdução

O conceito de sinal fraco foi proposto por H. I. Ansoff1 para caracterizar o surgimento de

informações incipientes sobre um fenômeno emergente. A capacidade de identificar, capturar e

interpretar esses sinais é fundamental para o planejamento estratégico e para o estabelecimento de

vantagem em um ambiente competitivo. A possibilidade de se antecipar à ocorrência de um

evento — de modo a evitar surpresas — permite o melhor aproveitamento de oportunidades e a

resposta adequada a eventuais ameaças. Assim, até hoje esse tema desperta o interesse das

organizações sobre o desenvolvimento de sistemas de monitoração capazes de prospectar

mudanças, principalmente, quando do gerenciamento de riscos e inovação. Muito embora esses

sistemas possam contribuir para o estabelecimento de uma inteligência antecipativa, o desafio

nesse campo de estudo diz respeito à viabilidade do processo de formação de hipóteses a partir

dos sinais fracos.

Isso ocorre porque a subjetividade envolvida na análise desses sinais — tipicamente

ambíguos — implica a influência de heurísticas e vieses cognitivos que prejudicam uma

interpretação racional da informação. O propósito deste trabalho é desenvolver um sistema que

seja capaz de automatizar essa interpretação, de modo a eliminar a influência de aspectos

irracionais durante o processo de criação de sentido a partir dos sinais fracos. Para isso, serão

utilizados algoritmos baseados no alinhamento semântico de ontologias. Ontologias são artefatos

computacionais utilizados para representar as relações entre os conceitos de um determinado

domínio de conhecimento. O alinhamento dessas ontologias permitirá que o conhecimento

pertinente a diferentes áreas seja combinado e utilizado para formulação automática de hipóteses

a partir da informação associada a uma determinada amostra de sinais fracos.

2. Revisão de literatura

Esta seção tem como principal objetivo apresentar uma revisão de literatura acerca da

temática dos sinais fracos. Para tal, a Subseção 2.1 procura oferecer uma base teórica a partir dos

1 Harry Igor Ansoff (12 de dezembro de 1918 – 14 de julho de 2002) foi um matemático russo-americano

conhecido por trabalhos na área de Gestão de Negócios. Em 1965, publicou o livro “Corporate Strategy” que lhe

valeu o título de “pai” da Gestão Estratégica. Dentre suas contribuições, destaca-se, por exemplo, uma importante

ferramenta de planejamento estratégico para prospecção de produtos e mercados: a Matriz de Ansoff (ROSSEL,

2012).

2

principais conceitos envolvidos nessa área de investigação, enquanto a Subseção 2.2 se dedica a

discutir alguns temas pertinentes ao estado da arte nesse campo de pesquisa. Finalmente, a Seção

3 apresenta algumas considerações finais sobre os resultados desse levantamento bibliográfico,

especialmente naquilo se refere às lacunas de conhecimento que foram identificadas pela revisão

de literatura.

2.1 Base Teórica

O mundo cada vez mais dinâmico adiciona incerteza aos processos decisórios e impõe

sérias dificuldades ao gerenciamento de riscos, à gestão da inovação e ao planejamento

estratégico de longo prazo (MILLER; ROSSEL; JORGENSEN, 2012). Quaisquer atividades de

prospecção, aliás, são permeadas por fatores pertinentes a um ambiente turbulento que pode

proporcionar uma série de surpresas. A ocorrência de eventos inesperados, por sua vez, pode

representar graves ameaças, mas também pode caracterizar grandes oportunidades —

principalmente, se estas forem detectadas com alguma antecedência (DARKOW, 2014). Nesse

sentido, a capacidade de se antecipar às mudanças é crucial para a implantação de estratégias que

podem contribuir para o estabelecimento de vantagem competitiva (VECCHIATO, 2014).

Já na década de 1970, Ansoff percebeu a importância do desenvolvimento de uma

inteligência estratégica que fosse capaz de incrementar a habilidade de adaptação do

comportamento dos atores frente aos seus concorrentes (MARTINET, 2010). A identificação

antecipada dos eventos futuros permite uma rápida realocação de recursos, que acaba por conferir

celeridade à capacidade de reação das corporações. Para tal, essas organizações devem instituir

um processo de monitoração do ambiente, a fim de detectar os primeiros sintomas de fenômenos

emergentes. Esses sintomas são pequenos fragmentos de informação desestruturada — e, por

isso, vaga, ambígua e aparentemente incompleta — chamados de sinais fracos (SCHOEMAKER;

DAY; SNYDER, 2013). Os sinais fracos representam os avisos de profundas mudanças e,

quando isolados, são dificilmente perceptíveis no presente.

Por isso — baseado pela Teoria da Informação — Ansoff (1975) propõe a utilização de

filtros que devem realizar um tratamento aos sinais fracos. Esses filtros permitem que uma

organização esteja sensível ao aparecimento dos sinais, viabilizando o processo de antecipação e

reação diante de um acontecimento. Isso se faz necessário quando se considera que os sinais

3

fracos são sutis e que é, inclusive, por isso que são chamados de “fracos”. À medida que um

evento futuro se aproxima ele passa a emitir sinais cada vez mais claros e evidentes, que são

chamados de sinais fortes (HOLOPAINEN; TOIVONEN, 2012). Essa dicotomia relacionada à

dinâmica dos sinais é fundamental para a compreensão do seu potencial de aplicação. Mais do

que isso, é importante perceber que os sinais fracos são estranhos e, se comparados às tendências

mainstream, parecem não fazer sentido algum no presente . No entanto, conforme esses sinais são

agrupados e evoluem, podem indicar a emergência de um evento que, de fato, pode ocorrer no

futuro.

O grande desafio deste trabalho se refere à criação de sentido a partir desses sinais, já que

sua natureza ambígua implica diversas possibilidades de interpretação (HILTUNEN, 2008). Essa

subjetividade pode ser contornada por meio da instituição de um processo de criação coletiva de

sentido, que envolva uma diversidade de especialidades, experiências e conhecimentos (LESCA;

LESCA, 2011; ROSSEL, 2011). Ainda assim, essa análise multiespecialista pode receber a

influência de heurísticas e vieses cognitivos, o que, por sua vez, demanda uma tentativa de

automatização.

2.2 Estado da Arte

Para investigar o estado da arte a respeito dos sinais fracos, deve-se primeiramente

considerar que esse conceito é objeto do estudo de diferentes disciplinas. Por isso, apesar do

conhecimento a respeito desse tipo específico de informação estar em constante evolução, ele

ainda é muito fragmentado (POLI, 2014). Muito embora Ansoff estivesse preocupado com a

Inteligência Estratégica quando da proposição de sua teoria, o seu pensamento orientado ao

futuro abarca diversas áreas de investigação como a Inteligência Prospectiva e a Futurologia2

(ROSSEL, 2012). Dentre as aplicações mais comuns para o uso dos sinais fracos, destacam-se o

gerenciamento de riscos, a gestão da inovação e o planejamento estratégico de longo prazo.

Como ilustra a Figura 1, a fragmentação do conhecimento e suas diferentes possibilidades

de aplicação também acabam por criar uma nomenclatura diversificada para os principais

elementos da teoria dos sinais fracos. Alguns autores, por exemplo, chamam esses sinais de

“signos fracos”, enquanto outros preferem nomeá-los como “sinais do futuro”, “condutores de

2 Futurologia (ou Future Studies) é um campo de estudo interdisciplinar que se dedica à prospecção de

cenários possíveis do futuro a partir de uma abordagem científica.

4

mudança”, “sementes de mudança” e, finalmente, “wildcards” (KUOSA, 2011). Há também

quem prefira tratar dos sinais fracos como tendências emergentes ou disruptivas, bem como

existem aqueles que não consideram todos esses conceitos correlatos como sinônimos. Assim, a

diversidade de nomenclaturas está associada a algo muito mais profundo do que preferências

etimológicas. A maneira como determinado autor se refere indica também uma concepção

conceitual a respeito dos sinais fracos. Fundamentalmente, existem duas abordagens principais: a

que encara esses sinais de maneira objetiva e outra que os considera subjetivamente.

Figura 1 – Mapa mental com os principais conceitos associados aos sinais fracos

Fonte: Produção do próprio autor.

A concepção tradicional — herdada de Ansoff — tende a considerar que os sinais fracos

são avisos atrelados a um evento que pode acontecer no futuro. Essa visão compreende esses

sinais, objetivamente, como parte de um fenômeno real. Logo, qualquer interpretação sobre os

sinais fracos deve, necessariamente, apontar para o evento do qual é supostamente uma

5

informação incipiente. Todavia, essa não é a única forma de contemplar os sinais fracos, já que

alguns pensadores entendem que sua utilização pressupõe uma interpretação, que é,

essencialmente, subjetiva. A afinidade de autores diante dessas diferentes abordagens deu

origem às três principais escolas de pensamento sobre os sinais fracos. A escola americana reúne

os herdeiros da abordagem objetiva, enquanto que as escolas finlandesa3 e francesa tendem para

uma abordagem mais subjetiva.

Essas diferentes abordagens ao conceito de sinais fracos também acabam definindo as

estratégias de investigação para resolver os problemas pertinentes a esse campo de pesquisa. Os

trabalhos que utilizam metodologias baseadas no gerenciamento de padrões e algoritmos de

mineração de texto e de processamento de linguagem natural possuem a tendência de

compreender os sinais fracos de maneira objetiva. Enquanto isso, as propostas que se baseiam em

teorias de análise do discurso, semiótica e Web semântica possuem uma concepção subjetiva dos

sinais fracos. Para eles, esses sinais não compõem os fenômenos, mas podem ajudar a construir e

refinar a percepção e compreensão das organizações acerca do futuro.

Nesse sentido, a análise dos sinais fracos consiste de muitos outros processos que vão além

da identificação de informação sobre o futuro. A identificação desses sinais é apenas o processo

inicial que compreende as etapas de monitoramento do ambiente, detecção e captura de sinais

fracos — que, geralmente, são realizadas via Web. Em seguida, a interpretação é realizada em um

processo de criação de sentido mediante a formulação de hipóteses acerca do significado

potencial dos sinais fracos (SARPONG; MACLEAN; DAVIES, 2013). Essas hipóteses servem

como base para o processo final da análise dos sinais fracos: traçar estratégias de reação frente às

possíveis ameaças ou oportunidades.

É possível observar que, nos últimos trinta anos, houve um esforço considerável para

sistematizar esses processos, a fim de tornar a utilização de informação estratégica mais eficaz.

Nesse sentido, o desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação (TICs) vem

contribuindo sobremaneira para o aumento da capacidade de percepção e processamento dos

sinais (LESCA; CARON-FASAN; FALCY, 2012). Essa contribuição diz respeito,

3 A Escola Finlandesa está vinculada ao Finland Future Research Centre, um departamento multidisciplinar

da Universidade de Turku. Sua missão está associada ao desenvolvimento e evolução de métodos e ferramentas

científicas da Futurologia.

6

especialmente, às propostas de desenvolvimento de frameworks4 e sistemas de alerta estratético

(Strategic Early Warning Systems – SEWS). Contudo, o estado da arte nos mostra que muitas

dessas propostas buscam oferecer suporte apenas para as atividades de monitoração, detecção e

captura de sinais fracos.

Kuosa (2010), por exemplo, desenvolveu o Future Signals Sense-making Framework

(FSSF) que promete avaliar se uma informação é, de fato, um sinal fraco. Para isso, são utilizadas

seis perguntas, cujas respostas permitem categorizar uma determinada informação em três tipos

de sinais do futuro: tendências, condutores de mudanças ou sinais fracos. Essa proposta é de

grande valor, visto que procura eliminar a confusão conceitual oriunda da diversidade da

nomenclatura usada pelos pesquisadores para se referirem aos sinais fracos. Carbonell, Sánchez-

Esguevillas e Carro (2015) apresentam proposta semelhante, no entanto, vão além ao elaborar um

framework capaz de avaliar quais sinais se tornarão tendências relevantes no futuro. Essa

avaliação é viabilizada mediante o Filtro de Ansoff e por meio de uma metodologia baseada no

pós-estruturalismo de Michel Foucault: a Análise Causal em Camadas (Causal Layered Analysis

– CLA).

Esses autores não propuseram metodologias automáticas para identificação dos sinais

fracos. Porém, como já foi mencionado, existem exemplos da implementação de SEWS.

Brewster et al. (2014) propuseram um sistema de monitoração de sinais para detectar ameaças

associadas ao crime organizado. O ePOOLICE se baseia em algoritmos de mineração de textos

da internet que são analisados a partir de estratégias de Web Semântica. Semelhantemente,

Brynielsson et al. (2012) também utilizaram os sinais fracos em sistemas aplicados à área de

Segurança, nesse caso, para atender uma demanda da Agência de Defesa Sueca. A ferramenta

Impactorium se propõe a detectar terroristas por meio da utilização de algoritmos de

processamento de linguagem natural aplicados a rastros digitais encontrados na Web. A formação

de hipóteses, entretanto, depende da atuação de analistas especializados, que interpretam uma

lista de evidências a respeito dos indivíduos detectados.

Saritas e Nugroho (2012) também recorrem a técnicas de mineração de texto, dessa vez,

complementada pela Teoria de Redes complexas. Essa metodologia permite detectar os sinais

4 Framework é um arcabouço conceitual relacionado à abstração de uma proposta de resolução de um

problema pertinente a um domínio específico. Um framework pode conter algoritmos automáticos, semiautomáticos

ou não automáticos.

7

fracos e agrupar aqueles que são sintaticamente semelhantes. Yoon (2012) propõe uma

abordagem parecida a partir de uma análise estatística de palavras-chave extraídas da Web. A

sequência de trabalhos de Thorleuchter e Van Den Poel (2013, 2015) também se utiliza de

técnicas de mineração de texto, mas adicionam uma dimensão qualitativa diferente dos trabalhos

correlatos. O Filtro para Mineração de Ideias (Idea Mining Filter) utiliza um agrupamento

semântico dos sinais fracos que é analisado a partir da consideração de uma variável temporal.

Essa estratégia permite acompanhar a evolução dos sinais ao longo de um período específico de

tempo (THORLEUCHTER; SCHEJA; VAN DEN POEL, 2014).

O estado da arte também permite observar que o processo de criação de sentido para os

sinais fracos carece do suporte de ferramentas automáticas e, em certo sentido, é negligenciado.

A viabilidade da contribuição das TICs para interpretação de sinais fracos também é objeto de

debate, considerando que a produção de significado, para muitos, é uma prerrogativa

exclusivamente humana (LESCA; CARON-FASAN; FALCY, 2012). Nesse sentido, sobejam

alguns exemplos de frameworks, no máximo, semi-automáticos. Muito embora já faça dez anos

que Rouibah e Ould-Ali (2002) propuseram um framework para suporte gráfico da formulação de

hipóteses, seu trabalho ainda goza de grande prestígio. O Puzzle® é uma ferramenta de

mapeamento mental (mindmaping) construído especialmente para representar visualmente, por

meio de diagramas, o relacionamento causal entre diferentes sinais fracos (MENDONÇA;

CARDOSO; CARAÇA, 2012).Heinonen e Hiltunen (2012) propuseram o estabelecimento de

espaços físicos e virtuais dedicados a oferecer infraestrutura para criação de sentido a partir de

sinais fracos. Esses espaços devem utilizar telões para fomento visual da criatividade e

refinamento da capacidade de interpretação dos sinais fracos.

Os poucos exemplos de tentativas de automatização do processo de criação de sentido para

sinais fracos propõem estratégias semelhantes. Bondu et al. (2011) idealizaram um protótipo de

sentido baseada na utilização de cenários, ontologias e a plataforma WebLab. Glassey (2012)

propõe a utilização de folksonomias5 e anotações abertas típicas da Web 2.0 para processamento

e a inferência de significado coletivo dos sinais fracos.A Tabela 1 contém uma síntese a respeito

das propostas abordadas nesta seção para aplicações que envolvem qualquer um dos processos

identificação e criação de sentido a partir de sinais fracos.

5 Folksonomia é uma taxonomia informal construída por meio da etiquetação e anotação colaborativa de

conteúdo por meio de tags que são atribuídas livremente.

8

Tabela 1: Síntese das propostas de ferramentas associadas ao conceito de sinais fracos

Trabalhos Problema Método Automático? Contribuição

(BONDU et al., 2011) Criação de

sentido

Protótipo para criação de sentido baseada na utilização

de cenários, ontologias e a plataforma WebLab. Sim

Propõe a utilização de ontologias para interpretação automática de sinais

fracos.

(BREWSTER et al., 2014) Identificação SEW baseado em algoritmos de mineração textual e

tecnologias de Web Semântica. Sim

Introduz ferramentas de Web Semântica para análise automática dos

sinais fracos.

(BRYNIELSSON et al., 2012) Identificação

SEW semiautomático baseado em algoritmos de

processamento de linguagem natural aplicados a

rastros digitais encontrados na Web.

Parcialmente Permite a formulação semiautomática de hipóteses sobre indivíduos.

Essas hipóteses dependem da atuação de analistas especializados.

(CARBONELL; SÁNCHEZ-

ESGUEVILLAS; CARRO,

2015)

Identificação Framework baseado em uma metodologia calcada no

pós-estruturalismo de Michel Foucault (CLA). Não

Permite avaliar quais sinais fracos se tornarão tendências relevantes no

futuro a partir de uma abordagem, que apesar de não ser automática,

promete oferecer uma análise holística da informação.

(GLASSEY, 2012) Criação de

sentido

Utilização de taxonomias e anotações abertas típicas

da Web 2.0 para processamento de sinais fracos. Sim

Introduz a utilização de folksonomias para análise automática de sinais

fracos.

(HEINONEN; HILTUNEN,

2012)

Criação de

sentido

Utilização de telões para fomento visual da

criatividade e refinamento da capacidade de

interpretação dos sinais fracos.

Não Proposta para o estabelecimento de espaços físicos e virtuais dedicados a

oferecer infraestrutura para criação de sentido a partir de sinais fracos.

(KUOSA, 2010) Identificação Framework para classificação de informações como

os sinais fracos. Não Permite avaliar se determinada informação é, de fato, um sinal fraco.

(ROUIBAH; OULD-ALI, 2002) Criação de

sentido

Framework semiautomático baseado na construção de

diagramas que expressam as relações entre os sinais

fracos que foram detectados.

Não Permite o suporte gráfico para a formulação de hipóteses por meio do

relacionamento de sinais fracos.

(SARITAS; NUGROHO, 2012) Identificação Framework para análise de relacionamentos existentes

entre os sinais fracos (AEC). Sim

Introduz uma abordagem baseada em redes complexas para detecção e

agrupamento de sinais fracos semelhantes.

(THORLEUCHTER; SCHEJA;

VAN DEN POEL, 2014;

THORLEUCHTER; VAN DEN

POEL, 2013, 2015)

Identificação Metodologia baseada em algoritmos de gerenciamento

de padrões e mineração de textos da Web. Sim

Apesar de se tratar de uma metodologia quantitativa, procura adicionar

uma dimensão qualitativa mediante a tentativa de agrupamento

semântico dos sinais fracos.

(VON GRODDECK;

SCHWARZ, 2013)

Criação de

sentido

Abordagem discurso-teórica baseada na Teoria do

Discurso de Ernesto Laclau e Chantalle Mouffe Não

Propõe uma alternativa não-automática para criação de significado a

partir da identificação dos nós de um determinado texto.

(YOON, 2012) Identificação Abordagem automática baseada em mineração

estatística de textos e keywords extraídas da Web. Sim

Demonstra maior eficiência na detecção automática de sinais fracos,

especialmente, quando se trata do grande volume de informação da Web.

Fonte: Produção do próprio autor.

9

3. Considerações Finais

O conceito de sinais fracos foi proposto há aproximadamente trinta anos e, ainda assim, é

objeto do interesse atual por parte das organizações. Esse interesse se manifesta, especialmente,

devido à necessidade das corporações pelo estabelecimento de vantagem competitiva em

ambientes turbulentos e, cada vez mais, complexos. Nesse contexto, o desenvolvimento das

tecnologias da informação e comunicação (TICs) e o crescente aumento da capacidade

computacional têm prometido o suporte ao gerenciamento de riscos, à gestão da inovação e ao

planejamento estratégico de longo prazo.

Percebe-se, no entanto, que as ferramentas utilizadas nos processos de identificação

(monitoração, detecção e captura), criação de sentido (interpretação) e antecipação a partir de

sinais fracos ainda carecem de funcionalidades automáticas que contemplem todas essas etapas

de análise. Muitas das propostas de utilização dos sinais fracos se referem ao desenvolvimento de

SEWs que oferecem suporte automático apenas para as etapas de monitoração e identificação.

Esses sistemas são construídos a partir de técnicas de processamento de linguagem natural ou de

mineração de texto, cuja abordagem é estritamente quantitativa.

Ademais, são propostos alguns frameworks semiautomáticos que se utilizam de teorias

próprias da análise do discurso ou da semiótica para abordar, inclusive, o problema da criação de

sentido a partir de sinais fracos. Como já foi discutido anteriormente, o caráter ambíguo desse

tipo de informação implica a influência de uma série de heurísticas e vieses cognitivos que

comprometem a sua interpretação. Pois é justamente nessa etapa da análise dos sinais fracos em

que se identifica uma escassez de ferramentas que apoiam a produção de significado. O Puzzle®,

por exemplo, limita-se a oferecer uma interface gráfica para organização visual desses sinais. De

maneira alguma é possível afirmar que ferramentas desse tipo permitem formular hipóteses

automaticamente.

Há, contudo, dois trabalhos que se destacam a partir da utilização de ontologias e

folksonomias na tentativa de apoiar o processo de interpretação de sinais fracos. Em um deles,

tem-se um protótipo que não busca apoiar um processo de construção de significado coletivo —

e, por isso, a proposta tende a estar sujeita aos mesmos problemas cognitivos já citados. Já o

trabalho baseado em folksonomias pretende-se coletivo, mas limita-se à utilização de anotações e

taxonomias sem considerar uma ontologia formal de um grupo de pessoas.

10

No tocante às ontologias — e em virtude do caráter interdisciplinar desta proposta de

pesquisa — deve-se realizar uma revisão de literatura que seja capaz de avaliar a adequação da

utilização dessas estruturas de representação de conhecimento como pretendido, também, por esta

tese de doutoramento. Deve-se considerar que esta proposta de pesquisa busca conciliar dois

conceitos pertinentes a diferentes disciplinas: os sinais fracos e as ontologias. Por isso, é razoável

que a revisão de literatura conte com uma seção dedicada para cada um desses conceitos, de

modo a facilitar a compreensão dos objetivos deste trabalho.

Referências

ANSOFF, H. I. Managing strategic surprise by response to weak signals. California

Management Review, v. 18, n. 2, p. 21–33, 1975.

BONDU, E. et al. Scenario model for weak signal detectionProceedings - 7th International

Conference on Signal Image Technology and Internet-Based Systems, SITIS 2011. Anais...2011

BREWSTER, B. et al. Graph-Based Representation and Reasoning (N. Hernandez, C. Pradel,

O. Haemmerle, Eds.)ICCS 2014. Anais...2014

BRYNIELSSON, J. et al. Analysis of weak signals for detecting lone wolf

terroristsProceedings - 2012 European Intelligence and Security Informatics Conference, EISIC

2012. Anais...2012

CARBONELL, J.; SÁNCHEZ-ESGUEVILLAS, A.; CARRO, B. Assessing emerging issues.

The external and internal approach. Futures, v. 73, n. 1, p. 12–21, 2015.

DARKOW, I. L. The involvement of middle management in strategy development -Development

and implementation of a foresight-based approach. Technological Forecasting and Social

Change, 2014.

GLASSEY, O. Folksonomies: Spontaneous crowd sourcing with online early detection potential?

Futures, v. 44, n. 3, p. 257–264, 2012.

HEINONEN, S.; HILTUNEN, E. Creative Foresight Space and the Futures Window: Using

visual weak signals to enhance anticipation and innovation. Futures, v. 44, n. 3, p. 248–256, abr.

2012.

HILTUNEN, E. The future sign and its three dimensions. Futures, v. 40, n. 3, p. 247–260, 2008.

HOLOPAINEN, M.; TOIVONEN, M. Weak signals: Ansoff today. Futures, v. 44, n. 3, p. 198–

205, 2012.

11

KUOSA, T. Futures signals sense-making framework (FSSF): A start-up tool to analyse and

categorise weak signals, wild cards, drivers, trends and other types of information. Futures, v.

42, n. 1, p. 42–48, 2010.

KUOSA, T. Different approaches of pattern management and strategic intelligence.

Technological Forecasting and Social Change, v. 78, n. 3, p. 458–467, 2011.

LESCA, H.; LESCA, N. Weak Signals for Strategic Intelligence : Anticipation Tool for

Managers. [s.l.] John Wiley and Sons, 2011.

LESCA, N.; CARON-FASAN, M. L.; FALCY, S. How managers interpret scanning information.

Information and Management, v. 49, n. 2, p. 126–134, 2012.

MARTINET, A. C. Strategic planning, strategic management, strategic foresight: The seminal

work of H. Igor Ansoff. Technological Forecasting and Social Change, v. 77, n. 9, p. 1485–

1487, 2010.

MENDONÇA, S.; CARDOSO, G.; CARAÇA, J. The strategic strength of weak signal analysis.

Futures, v. 44, n. 3, p. 218–228, 2012.

MILLER, R.; ROSSEL, P.; JORGENSEN, U. Future studies and weak signals: A critical survey.

Futures, v. 44, n. 3, p. 195–197, 2012.

POLI, R. Anticipation: What about turning the human and social sciences upside down? Futures,

v. 64, p. 15–18, dez. 2014.

ROSSEL, P. Beyond the obvious: Examining ways of consolidating early detection schemes.

Technological Forecasting and Social Change, v. 78, n. 3, p. 375–385, 2011.

ROSSEL, P. Early detection, warnings, weak signals and seeds of change: A turbulent domain of

futures studies. Futures, v. 44, n. 3, p. 229–239, 2012.

ROUIBAH, K.; OULD-ALI, S. PUZZLE: A concept and prototype for linking business

intelligence to business strategy. Journal of Strategic Information Systems, v. 11, n. 2, p. 133–

152, 2002.

SARITAS, O.; NUGROHO, Y. Mapping issues and envisaging futures: An evolutionary scenario

approach. Technological Forecasting and Social Change, v. 79, n. 3, p. 509–529, 2012.

SARPONG, D.; MACLEAN, M.; DAVIES, C. A matter of foresight: How practices enable (or

impede) organizational foresightfulness. European Management Journal, v. 31, n. 6, p. 613–

625, dez. 2013.

SCHOEMAKER, P. J. H.; DAY, G. S.; SNYDER, S. A. Integrating organizational networks,

weak signals, strategic radars and scenario planning. Technological Forecasting and Social

Change, v. 80, n. 4, p. 815–824, 2013.

12

THORLEUCHTER, D.; SCHEJA, T.; VAN DEN POEL, D. Semantic weak signal tracing.

Expert Systems with Applications, v. 41, n. 11, p. 5009–5016, 2014.

THORLEUCHTER, D.; VAN DEN POEL, D. Weak signal identification with semantic web

mining. Expert Systems with Applications, v. 40, n. 12, p. 4978–4985, 2013.

THORLEUCHTER, D.; VAN DEN POEL, D. Idea mining for web-based weak signal detection.

Futures, v. 66, p. 25–34, 2015.

VECCHIATO, R. Creating value through foresight: First mover advantages and strategic agility.

Technological Forecasting and Social Change, 2014.

VON GRODDECK, V.; SCHWARZ, J. O. Perceiving megatrends as empty signifiers: A

discourse-theoretical interpretation of trend management. Futures, v. 47, p. 28–37, 2013.

YOON, J. Detecting weak signals for long-term business opportunities using text mining of Web

news. Expert Systems with Applications, v. 39, n. 16, p. 12543–12550, 2012.

13

Apêndice A

Estratégia de Busca

O levantamento bibliográfico do estado da arte seguiu princípios de revisão sistemática

estipulados pelo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA)

statement e utilizou a seguinte estratégia para a busca de artigos na base ScienceDirect:

("weak signal" OR "future sign" OR "early warning" OR "wild card" OR "wildcard") AND

("sensemaking" OR "sense making" OR "making sense") AND ("future studies" OR "forecast"

OR "foresight" OR "strategic" OR "anticipation") AND NOT ("climate" OR "patient" OR "earth"

OR "water" OR "cyclone" OR "disaster")

Para o Estado da Arte foram selecionados apenas os artigos publicados a partir de 2010.

14

Apêndice B

Diagrama PRISMA

Registros identificados pela busca

(n = 128)

Registros adicionais identificados em

outras fontes (n = 29)

Registros depois da remoção de

duplicatas (n= 157)

Registros rastreados

(n = 52)

Registros excluídos a partir

do título (n = 105)

Artigos elegíveis

(n = 52)

Artigos excluídos a partir do

abstract (n = 22)

Estudos incluídos na síntese

qualitativa (n = 30)

Estudos incluídos na meta-

análise

(n = 30)

Incl

usã

o

Ele

gib

ilid

ade

Iden

tifi

caçã

o

Ras

trea

men

to