pedagogia piagetiana - resenha prof. neide

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MEC – UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACED – CURSO DE PEDAGOGIA DISCIPLINA: PC 005A SEMINÁRIO I - PEDAGOGIA PIAGETIANA Prof.ª Neide Fernandes Monteiro Veras RESENHA Cícero Washington Bezerra de Aquino * PIAGET: EXPERIÊNCIAS BÁSICAS PARA UTILIZAÇÃO PELO PROFESSOR GOULART, Íris Barbosa. Piaget: experiências básicas para a utilização pelo professor. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. p 13-65. O livro Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor é de autoria de Íris Barbosa Goulart que é pedagoga e psicóloga, tendo Mestrado em Educação e Doutorado em Psicologia. Goulart é uma estudiosa da teoria piagetiana desde meados da década de 60, bem como teve a oportunidade de conviver com discípulos do mestre suíço, o que lhe possibilitou ministrar cursos e escrever vários textos sobre a temática do desenvolvimento segundo a perspectiva piagetiana. Foi docente da Faculdade de Educação da UFMG na disciplina de Psicologia da Educação durante vários anos e atualmente é professora do Departamento de Psicologia da referida Universidade. Inicialmente, Goulart faz uma rápida exposição dos fundamentos da teoria piagetiana, dando ênfase à noção de construtivismo, bem com suas possibilidades em termos educacionais. Ela situa Piaget como um estudioso do desenvolvimento humano pertencente ao grupo dos construtivistas, o qual explica o desenvolvimento cognitivo da criança como sendo resultando de sua atividade na interação com o ambiente, ou seja, o próprio indivíduo domina o processo de obtenção e organização do conhecimento, através de sua experiência com o mundo exterior. A autora explica a interação entre o indivíduo e o meio através dos conceitos de assimilação, acomodação e adaptação, os quais foram retirados por Piaget da biologia e são processos onde o indivíduo é o protagonista, * Graduando em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará - UFC 1

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Page 1: Pedagogia Piagetiana - Resenha Prof. Neide

MEC – UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁFACED – CURSO DE PEDAGOGIADISCIPLINA: PC 005A SEMINÁRIO I - PEDAGOGIA PIAGETIANAProf.ª Neide Fernandes Monteiro Veras

RESENHA

Cícero Washington Bezerra de Aquino *

PIAGET: EXPERIÊNCIAS BÁSICAS PARA UTILIZAÇÃO PELO PROFESSOR

GOULART, Íris Barbosa. Piaget: experiências básicas para a utilização pelo professor. 20.

ed. Petrópolis: Vozes, 2003. p 13-65.

O livro Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor é de autoria de Íris

Barbosa Goulart que é pedagoga e psicóloga, tendo Mestrado em Educação e Doutorado em

Psicologia. Goulart é uma estudiosa da teoria piagetiana desde meados da década de 60, bem como

teve a oportunidade de conviver com discípulos do mestre suíço, o que lhe possibilitou ministrar

cursos e escrever vários textos sobre a temática do desenvolvimento segundo a perspectiva

piagetiana. Foi docente da Faculdade de Educação da UFMG na disciplina de Psicologia da

Educação durante vários anos e atualmente é professora do Departamento de Psicologia da referida

Universidade.

Inicialmente, Goulart faz uma rápida exposição dos fundamentos da teoria piagetiana,

dando ênfase à noção de construtivismo, bem com suas possibilidades em termos educacionais. Ela

situa Piaget como um estudioso do desenvolvimento humano pertencente ao grupo dos

construtivistas, o qual explica o desenvolvimento cognitivo da criança como sendo resultando de sua

atividade na interação com o ambiente, ou seja, o próprio indivíduo domina o processo de obtenção e

organização do conhecimento, através de sua experiência com o mundo exterior.

A autora explica a interação entre o indivíduo e o meio através dos conceitos de

assimilação, acomodação e adaptação, os quais foram retirados por Piaget da biologia e são

processos onde o indivíduo é o protagonista, ou seja, ele é o agente do seu próprio desenvolvimento.

Esse desenvolvimento se dá de maneira gradual por meio dos processos assimilativos aumentando o

domínio da criança, sendo complementado pelas modificações do comportamento, resultantes da

acomodação, o que remete o indivíduo a uma organização mental e conseqüente adaptação ao meio

exterior.

Ainda na primeira parte do texto, a autora também destaca a utilização da teoria piagetiana

no campo educacional, inicialmente explanando sobre o método criado pelo epistemólogo suíço,

denominado de método clínico. Para que esse método funcione é necessário saber observar, ou seja,

deixar a criança falar sem dificultar e ao mesmo tempo saber procurar algo de preciso nas respostas.

Entretanto, essa prática é exatamente o contrário do que os professores normalmente fazem, pois

sempre se mostram interessados em ensinar os conteúdos não tendo paciência para esperar que as

crianças aprendam.

* Graduando em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará - UFC

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Page 2: Pedagogia Piagetiana - Resenha Prof. Neide

Na segunda parte do texto, Goulart dá ênfase no desenvolvimento psíquico dentro da

perspectiva piagetiana. Nesta parte são enfocadas as funções de conhecimento, as funções de

representação e as funções afetivas e é exatamente sobre as funções de conhecimento que Piaget

realizou a maior parte de suas pesquisas. Deve-se destacar que o desenvolvimento dessas funções é

marcado por períodos de tempo com características bem definidas, que o epistemólogo suíço

denominou de estádios, os quais se sucedem e ao mesmo tempo preparam o indivíduo para o

período seguinte.

O primeiro estádio é o sensório-motor, que vai do nascimento aos 2 anos. Neste período

constata-se a ocorrência de uma inteligência essencialmente prática, pautada na percepção e na

motricidade. Depois ocorre o estádio objetivo-simbólico, que vai dos 2 anos aos 7 anos, o qual é

marcado pelas atividades voltadas para o meio externo, ao contrário do que acontecia no estádio

anterior. Além disso, verifica-se a ocorrência de acontecimentos marcantes nesse período como um

comportamento egocêntrico, o aparecimento da linguagem e o uso das funções simbólicas, o que

acarreta o surgimento da representação.

Posteriormente é observado o estádio operacional concreto, que vai dos 7 anos aos 11

anos. É o período em que o indivíduo reforça as conservações de número, espaço, tempo. Agora ele

já é capaz de ordenar elementos pelo tamanho, incluindo conjuntos, organizando então o mundo de

uma forma lógica. Sua organização social é de grupo, podendo compreender regras e ser fiéis a elas.

Por fim, observa-se o estádio operacional formal, que vai dos 12 anos em diante, caracterizado pelo

apogeu da inteligência e corresponde ao nível de pensamento hipotético-dedutivo. É quando o

indivíduo é capaz de calcular uma probabilidade, livrando-se do concreto em prol de interesses

orientados para o futuro. Nesse momento a linguagem se dá nível de discussão para se chegar a

uma conclusão, podendo também estabelecer relações de cooperação e reciprocidade.

No final da segunda parte a autora aborda a questão do desenvolvimento afetivo e sua

relação com a elaboração do julgamento moral. A afetividade é centrada no seio familiar e evolui de

um estado de não diferenciação entre o eu e o mundo para um processo distinto, no qual são comuns

as trocas entre o sujeito e as diversas possibilidades do meio externo. Os sentimentos morais por sua

vez ligados a uma autoridade sagrada, evoluem na direção de um respeito recíproco, onde as trocas

sociais saem de sena para a entrada de uma estruturação gradual, que passa por um estado de não

coordenação ou de indiferenciação relativa entre o seu ponto de vista e dos outros.

Ao longo do texto Goulart faz referências a autores como o próprio Jean Piaget na

explanação do seu método clínico (PÁG. 17), bem como sobre a caracterização do estádio das

operações concretas (PÁG 37). Autores como Ana Freud (PÁG. 56), Freud (PÁG. 57) e J. M. Baldwin

(PÁG. 60) também são citados por auxiliarem a autora na explicação do desenvolvimento da

afetividade e do julgamento moral.

Trata-se de um texto de uma linguagem relativamente acessível, que pode ser utilizado por

educadores com o propósito de melhorar os resultados do processo educativo, permitindo aos

mesmos trabalhar novas práticas em sala de aula, as quais favoreçam desenvolvimento da criança e

possibilitem as mesmas condições de superar as adversidades do meio social.

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