pedagogia hospitalar

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Trabalho de Conclusão de Curso para Classe Hospitalar

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Page 2: Pedagogia Hospitalar

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DANIELA DA GRAÇA STIEH

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADOREALIZADO NO HOSPITAL DA CRIANÇA SANTO ANTÔNIO

PPAEH – Prática Pedagógica em Ambiente Educativo Hospitalar

Relatório de Estágio Curricular Supervisionado em EI apresentado à Disciplina de Estágio Curricular Supervisionado I do Curso de Licenciatura em Pedagogia do Centro Universitário Metodista do IPA.

Professora Supervisora: Nara Raquel Nehme Borges

PORTO ALEGRE2008

Page 3: Pedagogia Hospitalar

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Agradecimentos,

A minha supervisora de estágio Nara Borges, por todo o suporte e dedicação.As amigas Karen e Marilene, pelo apoio no desenvolvimento de meu estágio, e pelas idéias que tanto contribuíram para que o mesmo acontecesse.

Page 4: Pedagogia Hospitalar

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"A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão tesouros da ternura humana dos quais só os diferentes são capazes. Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois”. Artur da Távola

Page 5: Pedagogia Hospitalar

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SUMÁRIO

1. Introdução ......................................................................................................07

2. Cronograma – Quadro de atividades e horas de estágio...............................10

3. Justificativa.....................................................................................................11

4. Objetivo Geral.................................................................................................12

4.1 Objetivos Específicos.....................................................................................12

5. Histórico da Instituição – HCSA......................................................................13

6. Observação.....................................................................................................16

7. Referencial Teórico.........................................................................................19

7.1 Era uma vez: escutando as histórias que os sujeitos nos contam em silêncio,

em gestos e, ás vezes, também em palavras.......................................................25

8. Desenvolvimento do Estágio......................................................................... 28

8.1 Vivenciando práticas no ambiente hospitalar.................................................28

8.2 As agitadas Quartas Feiras............................................................................32

8.3 Um dia atípico no hospital: Segunda Feira.....................................................34

9. Conclusão.......................................................................................................36

10. Referências Bibliográficas...............................................................................37

Anexos....................................................................................................................38

Anexo I - Fotos........................................................................................................39

Anexo II...................................................................................................................40

Anexo III..................................................................................................................41

Anexo IV..................................................................................................................42

Anexo V...................................................................................................................43

Anexo VI..................................................................................................................44

Anexo VII.................................................................................................................45

Page 6: Pedagogia Hospitalar

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1.INTRODUÇÃO

O presente relatório é um documento que registra minhas vivências, reflexões, análises,

ações e interações no Estágio Curricular Supervisionado, com ênfase em Educação Infantil,

realizado no Hospital da criança Santo Antônio no período de agosto a novembro de 2008.

Os objetivos, a justificativa, as atividades, os conceitos e a fundamentação teórica

apresentados nesse Relatório, estão articulados de acordo com a proposta do Projeto do PPAEH –

Prática Pedagógica em ambiente educativo hospitalar. Durante as Práticas de Estágio desenvolvi,

em dupla e com o grupo de colegas e o projeto coletivo “Aprender brincando” , trata-se de

estimular a criança adoecida a envolver-se com o conhecimento produzindo. Durante este Projeto

utilizaremos diversos recursos como: expressão corporal, dramatização, representação, imagem

mental, memória, exploração de fantoches, e diferentes materiais assim como atividades baseadas

no livro “SACO DE BRINQUEDOS” de Carlos Urbim.

As práticas pedagógicas serão diárias e não seqüenciais devido à rotina do ambiente

hospitalar. O essencial recurso utilizado na prática será a caixa pedagógica, onde será disponível

a criança diversos materiais para o bom andamento das atividades propostas. A prática se dará

Page 7: Pedagogia Hospitalar

7

nos leitos, sala de recreação, saguão do S.U.S quando as atividades forem para todas as crianças

do hospital devido ao mês da criança, onde o hospital disponibiliza um calendário muito

dinâmico.

O trabalho no hospital teve início com a reunião com a supervisora do estágio a docente

Nara Raquel Borges com objetivo de apresentar algumas características do hospital e orientar o

grupo sobre regras de convivência, cuidados com a higiene e ética.

A equipe profissional que compõe o HCSA é composta de duas enfermeiras e uma

psicóloga, assistente social, terapeuta ocupacional, fisioterapeutas, voluntários etc...

O HCSA é um hospital destinado ao cuidado da criança, onde atende a várias

especialidades. Possui andares de internação SUS (Sistema único de Saúde) e andares de

internação de convênios. Essa Instituição conta com o apoio de dezenas de voluntários, nos quais

a sua função é de acarinhar, ofertando otimismo e alegria para as crianças acompanhadas ou não

de seus pais ou familiares.

É obrigatório o uso do álcool-gel, para evitar contaminações ao entrar e ao sair de um

leito e do hospital. Também é necessário o cuidado com os objetos utilizados nos atendimentos.

Por exemplo, utilizar brinquedos de material lavável, evitar brinquedos pequenos e peludos e etc.

Neste tipo de trabalho deve-se sempre buscar informação com a enfermeira referente aos

pacientes isolados. Porém, sempre há um aviso na porta dos quartos. Podem-se realizar atividades

com estas crianças, desde que sejam tomados alguns cuidados como: usar máscaras e luvas.

Neste período de estágio, foi possível conhecer algumas regras de controle de infecção tais

como: as visitas são restritas aos pais ou cuidadores, não devemos realizar a prática no hospital

em caso de estarmos resfriadas.

Deve-se ter compreensão dos aspectos envolvidos na hospitalização, bem como os

aspectos emocionais dos pacientes hospitalizados. Daí a importância dos estudos sobre pedagogia

hospitalar.

Page 8: Pedagogia Hospitalar

8

A hospitalização causa vários sentimentos no indivíduo. Quando alguém adoece tem-se o

sentimento de onipotência abalada. Desta forma percebe-se que temos limites e que um dia

morreremos, ou seja, as pessoas ficam muito dependentes.

A família precisa se reorganizar, e isso podem reforçar a regressão do paciente, mas é

preciso ser incentivado.

Uma pessoa doente mexe com toda a estrutura da família. E a maioria dos pais tem o

sentimento de que não foram capazes de gerar ou de cuidar de uma criança saudável, e o

sentimento das crianças é o de que fizeram alguma coisa para estar no hospital. Para resgatar a

identidade dos responsáveis pelas crianças, não devemos chamá-los de “pai” ou de “mãe” e sim

perguntar o seu nome.

Sobre a questão da morte, precisamos estar atentos, pois algumas crianças também

querem falar sobre isso e que algumas crianças morrem sim, já que o desenvolvimento emocional

da criança terminal é diferente do adulto. Mesmo assim elas têm medo de serem esquecidas,

colocam desenhos para todo mundo no quarto e não podemos impor valores, julgá-los. Nós não

precisamos dar conta de tudo. Durante alguns atendimentos no hospital recebi várias orientações

sobre a ética que se deve ter no atendimento de pacientes. Não se deve de maneira alguma falar

dos pacientes para outras pessoas, citar nomes etc. Por isso os nomes e na medida do possível os

rostos das crianças serão preservados neste trabalho.

Não é papel da pedagogia hospitalar fazer atendimento psicológico com as crianças e pais,

pois os mesmo sentem a necessidade de contar a sua história para ver se alguém lhe conta algo de

novo que alguém lhe de esperanças, devemos apenas saber trabalhar com a escuta pedagógica,

onde norteia aqui este relatório.

Está prática no Hospital da Criança Santo Antônio representará mais que uma

oportunidade de relacionar teoria e prática. Representará um acordar para o mundo. O mundo

cheio de coisas que ainda preciso vivenciar e conhecer, digamos um novo mundo. O trabalho

educativo com a Educação Infantil no ambiente hospitalar representará um atendimento

humanizado, visando atender os direitos da criança e do adolescente hospitalizado, bem como,

valorizando o pedagogo como parceiro para tal conquista.

Page 9: Pedagogia Hospitalar

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2. CRONOGRAMA – QUADRO DE ATIVIDADES E HORAS DO ESTÁGIO

CURSO DE PEDAGOGIAFicha de Freqüência de Estágio Curricular Supervisionado em Educação Infantil

Local de Estágio: Hospital da Criança Santo AntônioMatrícula: 2229113

Turma: PDS41DATA HORÁRIO

Inicio - TérminoHoras de Estágio

Atividades realizadas

23/08/08 14:00 às 18:00 4 hs Prática Pedagógica - Observação06/09/08 8:30 às 17:30 8 hs Prática Pedagógica - Observação - leitos13/09/08 8:30 às 17:30 8 hs Prática Pedagógica - Observação - leitos24/09/08 8:30 às 12:30 4 hs Prática Pedagógica27/09/08 13:30 às 17:30 4 hs Prática Pedagógica - Reunião evento dia 18/1001/10/08 8:30 às 12:00 4 hs Prática Pedagógica04/10/08 13:30 às 17:30 4 hs Prática Pedagógica08/10/08 8:30 às 12:00 4 hs Prática Pedagógica11/10/08 8:30 às 17:30 8 hs Prática Pedagógica - Compra de brinquedos e ensaio teatro13/10/08 8:30 às 17:30 8 hs Prática Pedagógica15/10/08 8:30 às 12:00 4 hs Prática Pedagógica - ensaio teatro18/10/08 7:00 às 12:00 5 hs Prática Pedagógica - Apresentação teatro e visita a U.T.I22/10/08 8:30 às 12:00 4 hs Prática Pedagógica - Atividades Dia da Criança25/10/08 8:30 às 17:30 8 hs Prática Pedagógica 29/10/08 8:30 às 12:00 4 hs Prática Pedagógica

Page 10: Pedagogia Hospitalar

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31/10/08 8:30 às 17:30 8 hs Prática Pedagógica01/11/08 8:30 às 17:30 8 hs Prática Pedagógica05/11/08 8:30 às 12:00 8 hs Prática Pedagógica22/10/08 10:00 às 13:00 3 hs Auto-Avaliação e Avaliação

Total de Horas

________________________ ______________________Coordenação do Curso de Pedagogia Supervisora de Estágio do Curso

________________________ Representante da Unidade Cedente

3. JUSTIFICATIVA

O Curso de Pedagogia tem como objeto a docência e a gestão como prática social da

educação em contextos sociais e institucionais e visa à formação de profissionais que possam agir

nos mais diversos setores da sociedade. Ao abordar as diversas áreas do conhecimento,

envolvendo ciências humanas, sociais e tecnológicas, habilita o acadêmico-a para o exercício

da docência em ambientes educativos escolares e não escolares na Educação Infantil, nos anos

iniciais do Ensino Fundamental, inclusive na etapa fundamental da Educação de Jovens e Adultos

e no Ensino Médio na modalidade Normal.

Nesse sentido, propõe a implantação do PROJETO DE ESTAGIO SUPERVISIONADO

NO HOSPITAL SANTO ANTONIO, tomando o ambiente hospitalar como campo de estágio

para o desenvolvimento de processos educativos, produção de conhecimentos e reflexão sobre a

prática pedagógica necessários à formação de educadores-as comprometidos-as com a inclusão

social e o cumprimento dos direitos humanos. A atuação dos-as estagiários-as visa o atendimento

coletivo na forma de classe hospitalar ou individualizado, no leito, de crianças e jovens,

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garantindo-lhes o acesso ao conhecimento necessário para a sua interação no mundo

contemporâneo.

O presente PROJETO orienta-se pelo Parecer CNE/CP nº 5, de 13 de dezembro de 2005,

sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia e pelo Projeto Pedagógico

do Curso, inspirado nas Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista consubstanciadas no

Plano para a Vida e a Missão da Igreja e ratificadas pela recente legislação. Além disso busca o

cumprimento dos Direitos da Criança e do Adolescente hospitalizados, no que se refere “ao

direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde,

acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar.” 1

4. OBJETIVO GERAL

Promover a prática pedagógica em ambiente educativo hospitalar, favorecendo a

construção de aprendizagens significativas nas diversas áreas do conhecimento com crianças,

adolescentes. Tendo em vista o comprometimento com a inclusão social e com o cumprimento

dos direitos humanos, entre eles o direito à educação e ao exercício da cidadania.

4.1 Objetivos Específicos

Compreender, cuidar e educar a criança e o (a) jovem adoecidos-as, contribuindo para o

desenvolvimento de habilidades e competências ao trabalhar com diferentes códigos e

linguagens , ajudando-os a olhar para a vida como valor maior.

Propor práticas educativas, considerando a importância da escuta pedagógica, do trabalho

lúdico, do jogo simbólico no processo de construção do conhecimento, agenciando

necessidades intelectuais, emoções e sentimentos e respeitando a faixa etária

1 Resolução n° 41 de outubro de 1995 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Page 12: Pedagogia Hospitalar

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Assegurar o direito à continuidade do processo ensino-aprendizagem e a sua reintegração

ao grupo escolarizado, estabelecendo e mantendo o vinculo com a instituição escolar,

tendo em vista a sua inclusão educacional, evitando a evasão e a repetência.

Proporcionar condições para o resgate da auto-estima das crianças e adolescentes,

minimizando suas perdas sociais, culturais, psicológicas e cognitivas pelo fortalecimento

de suas capacidades de aprender e interagir.

de um trabalho em equipe, conhecendo a evolução desses sujeitos adoecidos e

oferecendo-lhes uma atenção integral pelo olhar dos –das profissionais que os-as cercam.

5.HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO

Até início do século XIX Porto Alegre não dispunha de nenhum hospital, e os doentes

eram atendidos em seus domicílios ou em dois albergues-enfermarias precários, um administrado

por Ângela Reiuna e José Antônio da Silva, e outro construído por volta de 1795 na Praia do

Arsenal por José da Silva Flores e Luís Antônio da Silva.

Chegando à província o Irmão Joaquim Francisco do Livramento, dado à caridade e já

tendo fundado antes a Santa Casa de Misericórdia do Desterro, na Ilha de Santa Catarina,

associou-se aos dois últimos benfeitores a fim de criar-se em Porto Alegre instituição semelhante.

Como tais Casas de Misericórdia necessitavam de autorização Real para funcionarem, em 3 de

abril de 1802 o Senado da Câmara elaborou uma petição ao Príncipe Regente Dom João para que

se desse permissão para tal. Um Real Aviso de 14 de maio do mesmo ano foi então expedido pelo

Governador da Capitania, Paulo José da Silva Gama, autorizando o início da empreitada, e dando

poderes à Câmara Municipal para que elegesse a primeira Mesa Administrativa do Hospital de

Caridade de Porto Alegre, a qual foi eleita em 19 de outubro de 1803, escolhendo como

Tesoureiro o Capitão José Francisco da Silva Casado, como Escrivão Joaquim Francisco Álvares,

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e como Procurador Luís Antônio da Silva. No seguinte dia 23 foi eleito como primeiro Provedor

o próprio governador Paulo da Gama.

Em fins de 1803 começou a construção da sede, sob direção do Brigadeiro Francisco João

Rocio até 1806, ano de sua morte. Os Provedores seguintes, o Marquês de Alegrete e o Conde da

Figueira, planejaram alterar a designação do hospital para que atendesse aos doentes militares, o

que gerou conflitos internos que prejudicaram a arrecadação de esmolas. Mas em 29 de maio de

1822 o Príncipe Dom Pedro confirmou à Irmandade da Santa Casa as prerrogativas comuns às

outras Misericórdias, e assumiu a Provedoria o desembargador Luís Correia Teixeira de

Bragança, que participando antes da Junta da Fazenda já defendera os interesses legítimos da

Santa Casa contra os desmandos dos Provedores anteriores. Conseguiu concluir as primeiras

enfermarias, a cozinha e a capela, e passou a administração ao Visconde de São Leopoldo, que

encontrou a instituição em condições de entrar em funcionamento.

Os primeiros doentes foram admitidos em 1 de janeiro de 1826, e em 1837 a Santa Casa

passou a cuidar dos infantes expostos, passando a receber subvenção governamental e a posse de

todos os terrenos devolutos e aforados da cidade, com as respectivas rendas. Pela Provedoria da

Santa Casa passaram diversas figuras ilustres, como o então Barão de Caxias, o Marechal Luís

Manuel de Lima e Silva, o Barão de Guaíba, o Barão de Gravataí e o Dr. Ramiro Barcellos.

O Hospital São Francisco, para não-indigentes, foi erguido na administração do Dr.

Aurélio de Lima Py, entre 1926 e 1930. A Maternidade Mário Totta foi criada em 1940, e mais

tarde outras instituições floresceram do tronco principal da Santa Casa, como o Hospital da

Criança Santo Antônio, o Hospital do Câncer e todos os que hoje perfazem o grande complexo

hospitalar da Santa Casa de Misericórida de Porto Alegre.

A atuação dos voluntários Contadores de História é marcada pelo entusiasmo e pela

vontade de transformar a internação de pequenos pacientes num momento mais terno e agradável.

Para chegar até a formatura, ele  passa por um longo período de treinamento, que o capacita a

conviver harmoniosamente no ambiente hospitalar. Tudo isso porque a Associação Viva e Deixe

Viver busca formar voluntários conscientes, comprometidos e constantes em todas as ações.

Page 14: Pedagogia Hospitalar

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Por sua atuação exemplar, o Contador de Histórias é hoje considerado uma peça

importante na transformação da doença em saúde e sua contribuição na recuperação de pequenos

pacientes é cada vez mais reconhecida por médicos, equipe multidisciplinar e familiar.

A atuação dos voluntários Contadores de História é marcada pelo entusiasmo e pela

vontade de transformar a internação de pequenos pacientes num momento mais terno e agradável.

Para chegar até a formatura, ele  passa por um longo período de treinamento, que o capacita a

conviver harmoniosamente no ambiente hospitalar. Tudo isso porque a Associação Viva e Deixe

Viver busca formar voluntários conscientes, comprometidos e constantes em todas as ações.

Por sua atuação exemplar, o Contador de Histórias é hoje considerado uma peça

importante na transformação da doença em saúde e sua contribuição na recuperação de pequenos

pacientes é cada vez mais reconhecida por médicos, equipe multidisciplinar e familiar.

Para garantir a segurança alimentar e nutricional de familiares e acompanhantes de

pacientes do Hospital da Criança Santo Antônio, o prefeito José Fogaça assinou um termo de

parceria com a Santa Casa de Misericórdia, a Associação dos Amigos Voluntários da Casa da

Sopa e a Associação dos Parceiros da Ação Sustentável com Responsabilidade Social. Durante a

solenidade, no andar térreo da instituição, foram comemorados os seis anos do novo prédio do

hospital.

Conforme a parceria, 150 kits de alimentação serão distribuídos diariamente aos

acompanhantes de crianças internadas no Hospital da Criança e no Departamento de

Neonatalogia do Complexo Hospitalar Santa Casa.

Page 15: Pedagogia Hospitalar

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6. OBSERVAÇÃO

O período de observação referente ao estágio supervisionado em Educação Infantil, no

ambiente hospitalar possibilitou ao grupo de estagiárias o conhecimento do Hospital da criança

Santo Antônio, onde no primeiro momento observamos os espaços físicos, as rotinas das

crianças, profissionais que atendem, a decoração do ambiente infantil, as vivências e o cotidiano

das crianças hospitalizadas

Ao chegar pela primeira vez ao hospital, no saguão do SUS, observei que o espaço é

amplo e decorado com características infantis. Neste mesmo espaço me deparei até mesmo com

um cartaz feito pelas crianças do hospital com desenhos e figuras sobre as olimpíadas. Confesso

que fiquei muito surpresa, visto que na minha concepção o hospital é um lugar de dor, de coisas

ruins, de sofrimento, mas, percebi que um ambiente hospitalar infantil deve ser diferenciado

sempre enfocando o brincar e a ludicidade.

Logo após a exploração do ambiente dito externo, ocorreu uma reunião com a supervisora

do estágio a professora Nara, a respeito de horários e algumas rotinas de reuniões com alguns

Page 16: Pedagogia Hospitalar

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profissionais do hospital. Após a conversa referente ao hospital, tive meu primeiro contato com

as crianças enfermas. Este contato seria apenas um breve passeio de reconhecimento dos andares

e leitos. Neste mesmo passeio de reconhecimento do espaço, observei a sala de recreação que o

hospital possui, a mesma é ideal para a criança hospitalizada, pois ela irá integrar- se ao meio e

aos outros que se encontram na mesma situação de vulnerabilidade. Este espaço recreativo dispõe

de: computadores, televisores, brinquedos, jogos, mesinhas de escola, dvd, além de um espaço

decorado e muito convidativo, onde a criança pode criar, brincar, imaginar fazer de conta.

Segundo Vygotsky,(2000) a interação social e o instrumento lingüístico são decisivos para

o desenvolvimento. A aprendizagem está pautada na interação do indivíduo com o meio no qual

está inserido. Concordo com este teórico, pois somente com a interação e trocas com o meio

podemos adquirir vários conhecimentos. A criança hospitalizada pode interagir com outras

crianças nesta mesma situação, em seu leito ou no espaço recreativo.

Vygotsky, (2000a, p.133) também ressalta em suas obras que o brinquedo e o jogo são

essenciais na vida da criança. O posicionamento deste teórico é maravilhoso, pois vejo que o

mesmo faz com que a criança possa reproduzir uma variedade de ações de sua vida através de um

brinquedo. O brinquedo, contudo, não pode ser visto como uma forma de adaptar a criança às

condutas médicas e, ainda que o jogo busque ocupar o tempo ocioso do hospital, o objetivo de

uma prática pedagógica é transformar esses momentos também em tempo de aprendizagens.

Desta forma, entendo que a criança, porque aprende, também se desenvolve, e isso a ajuda a

enfrentar melhor o acontecimento da vida.

O jogo sem dúvida também é uma forma da criança expressar seus desafios,

conhecimentos e raciocínio lógico. É a partir dessas atividades lúdicas que surge uma

interpretação mais complexa da realidade.

O espaço físico da recreação é muito interessante, visto que a criança já está debilitada

pela doença, não está no seu meio como antes. Ela precisa se sentir em casa, com suas atividades

de origem, até mesmo para sua saúde ter uma evolução positiva durante este período de

internação. A saúde envolve a busca do equilíbrio físico e social, bem como a relação do

indivíduo com o seu ambiente. Saúde é movimento da ação. Por isso é importante também falar

Page 17: Pedagogia Hospitalar

17

sobre a saúde neste ambiente, pois implica promover ações de higiene, e prevenção de

contaminações hospitalares.

É impressionante como um hospital destinado somente ao cuidado infantil, traz em seu

interior um imenso universo infantil, com suas paredes e corredores decorados. Pois é um

momento em que a criança está fragilizada não pode perder o seu lado infantil em função de seu

problema. Ela continua tendo o direito de aprender, expor suas idéias, brincar, estar inserida no

mundo, como dizem nossos grandes teóricos Wallon e Vygotsky que contribuem com suas

concepções sócio interacionistas.

Visitei no segundo momento desta observação a UTI pediátrica, onde o caso é mais

crítico. Crianças com problemas graves e até mesmo recém operados. Percebi que mesmo nesta

situação delicada, a criança continua sendo criança. O que mais me chamou atenção neste espaço

de unidade de terapia intensa, é à vontade e a alegria estampados nos olhos das mesmas (o dito ar

infantil que não se perde).

Quando o grupo que estava nesta observação fazia algumas perguntas referentes a

histórias, parece que a criança esquece sua dor e nos relata seus gostos pela leitura e o que gostam

de assistir. Esta recepção foi maravilhosa e muito construtiva.

Visitei o quarto de uma menina que já estava há alguns meses naquele ambiente, e o

mesmo passa um ar ingênuo e infantil, pois dispõem de brinquedos, bichos, retratos de família.

Eu achei isto fantástico, visto que para se recuperar a criança necessita estar perto de seus

pertences de origem, para que possa evoluir se divertindo.

Sei que a Pedagogia é um campo de atuação da educação que lida com o processo de

construção do conhecimento, e que o profissional dessa área é o mais apto a mediar e nortear a

educação que por sua vez é guiada pela fixação de regras que só se colocam por conta da

existência de objetivos educacionais. Por outro lado sabemos que o ambiente hospitalar, é um

centro de referência e tratamento de saúde, que acaba por gerar um ambiente muitas vezes de dor,

sofrimento e morte, causando uma forma de ruptura dessas crianças e adolescentes com os laços

que mantém com seu cotidiano e produção da existência da construção de sua própria

aprendizagem. Mediante a problemática de saúde que requeriam hospitalização, independente do

Page 18: Pedagogia Hospitalar

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tempo de internação, através das políticas públicas e estudos acadêmicos, surge à necessidade da

implantação da Pedagogia Hospitalar.

7. REFERENCIAL TEÓRICO

Atualmente, a Pedagogia Hospitalar como processo pedagógico é uma realidade

no vasto leque de atuação do pedagogo na sociedade contemporânea. Em muitos casos funciona

em parceria entre hospital, Universidade através dos estagiários e a instituição escolar de onde o

paciente é oriundo, preservando a continuidade do desenvolvimento da aprendizagem, através de

metodologias diferenciadas, flexíveis e vigilantes que respeitem o quadro clínico.

Rezende (2001) defende a importância desses estágios para os acadêmicos no

hospital, colocando que:

“a criação de um estágio multiprofissional e interdisciplinarda área de saúde é benéfico a toda a comunidadeenvolvida. Os alunos terão uma visão das condições desaúde e a clientela do projeto, orientação para uma melhorqualidade de vida. As universidades terão campos deestágios, mostrando a realidade profissional, e a comunidadeserá beneficiada com o suporte científico”.

Page 19: Pedagogia Hospitalar

19

Inicio este referencial fazendo uma breve comparação entre o Hospital Antônio da

Criança, bem como nossa prática docente, com a Escola da Ponte em Portugal, vivenciada e

descrita por Rubem Alves em “A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse

existir”.

É óbvio que não estou me esquecendo que estou relatando uma prática em ambiente

hospitalar, por isso considero a comparação tão fascinante. “Vemos para fora e vemos para

dentro. Fora , vemos apenas o que de efêmero se vai oferecendo ao horizonte dos nossos olhos.

Dentro, tendemos a ver o que não existe, freqüentemente, o que desejamos que existisse”.

(Rubem Alves, 2003,p.8)

Nos dois ambientes existe fraternidade e serenidade nos gestos, nos olhares, nas palavras

entre adultos e crianças. Todos se apóiam, todos ajudam, todos são afetivamente, cúmplices de

todos, todos são, solidariamente, responsáveis por todos. Ou seja, todos procuram reconhecer e

respeitar a identidade de todos. Uma verdadeira comunidade. Tanto no hospital como na Escola

da Ponte, não existem turmas separadas por idades, conteúdos rígidos, as crianças podem

escolher o que querem fazer e tem a liberdade de se deslocarem pelas dependências.

Essas são algumas semelhanças interessantes e em ambos os casos percebesse um

extraordinário encantamento de quem os descrevem.

“No entanto, é preciso deixar claro que tanto a educação não é elemento exclusivo da escola quanto à saúde não é elemento exclusivo do hospital. O hospital é, inclusive, segundo definição do Ministério da Saúde, um centro de educação”. (Rejane Fontes)

Rubem Alves sonhava com uma escola, mas não imaginava que ela já existia. No caso do

estágio no Hospital é um mundo de sentimentos que se confundem entre si. Tendo em vista que,

logo na primeira visita aos leitos, percebi todas essas características que mencionei, mas nunca

imaginei que fosse encontrá-las em um hospital.

Pensei também em porque essa realidade é tão negada? Porque não ouvimos falar nessas

crianças? E na graduação somente agora estou tendo a oportunidade de conhecer e fazer parte

dela. Isso nos dificulta um pouco quanto ao embasamento teórico da nossa prática, apesar dos

imensos esforços da supervisora de estágio do PPAEH.

Page 20: Pedagogia Hospitalar

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De fato, as crianças que estão hospitalizadas, são os nossos alunos que por motivo de

doença não podem freqüentar a escola como deveriam. E apesar de estarem enfermas, tem o

direto á educação como afirma a proposta de Lei de Diretrizes e Bases de Educação Nacional

(MEC, 1996). É como o ECA nos traz também que é direito dos pais ou responsáveis ter ciência

do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.

Poderia articular praticamente quase toda teoria estudada ao longo da graduação, pois as

crianças que estão hospitalizadas são as mesmas, obviamente que cada uma com sua

individualidade. O que as diferencia é o momento pelo qual estão passando e isso deve ser

altamente relevante em todos os momentos. Já que esta se distancia de seu cotidiano familiar e

escolar, acarretando sentimentos de solidão, medo e angústia, por experenciar a hospitalização.

A existência de atendimento pedagógico em hospitais contribui, tanto na aprendizagem de

novos conhecimentos pelas crianças e jovens, para que não fiquem em situação de defasagem nos

conteúdos escolares, como na recuperação de sua saúde.

Esse desejo não é sentido somente pelas crianças. Ao conhecer um pouco do trabalho

pedagógico que é realizado em hospitais, também desejei aprender e conhecer mais sobre essas

nova perspectiva da educação. Percebo que estamos sempre em processo de aperfeiçoamento,

que nunca estarei pronta e sim em constante aprendizado.

O artigo “A escuta pedagógica e a criança hospitalizada” de Rejane Fontes, na realização

de uma breve síntese sobre o mesmo, pude fazer várias reflexões e relações com a prática no

HCSA, bem como articular com outros referencias teóricos existentes sobre pedagogia hospitalar

e educação infantil.

Este artigo da escuta pedagógica pretende responder a várias questões como:

É possível pensar o hospital como um espaço educacional para crianças internadas em

enfermarias?

Pode a educação contribuir para a saúde da criança hospitalizada?

Que formas de educar são possíveis num hospital?

Page 21: Pedagogia Hospitalar

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Quais os limites e as possibilidades de atuação do pedagogo neste novo lócus de atuação?

O trabalho pedagógico em hospitais apresenta diversas interfaces de atuação e está na

mira de diferentes olhares que o tentam compreender, explicar e construir um modelo que o possa

enquadrar. No entanto, é preciso deixar claro que tanto a educação não é elemento exclusivo da

escola quanto à saúde não é elemento exclusivo do hospital. Segundo o Ministério da Saúde: “o

hospital é inclusive um centro de educação”.

Refletir sobre a atuação de professores em hospitais tem sido uma questão bastante

delicada na recente, mas já polêmica, discussão da prática pedagógica em enfermarias

pediátricas.

A discussão começa entre duas correntes teóricas aparentemente opostas, mas que podem

ser vistas como complementares. A primeira delas, talvez a mais difundida hoje no Brasil e com

respaldo legal na política Nacional de Educação Especial (Brasil, 1994) e seus desdobramentos

(Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica – Brasil, 2001) defende a

prática pedagógica em classes hospitalares. São representantes dessa visão autores como Fonseca

(2001,2002), Ceccim (1997) e Ceccim e Fonseca (1999), que tem publicações nessa área de

conhecimento.

Segundo a política do Ministério da Educação (MEC): “classe hospitalar é um ambiente hospitalar que possibilita o atendimento educacional de crianças e jovens internados que necessitam de educação especial e que estejam em tratamento hospitalar”.(Brasil,1994,p.20)

Esta corrente defende a presença de professores em hospitais para a escolarização das

crianças e jovens internados segundo os moldes da escola regular, contribuindo para a diminuição

do fracasso escolar e dos elevados índices de evasão e repetência que acometem freqüentemente

essa clientela em nosso pais

A outra corrente de pensamento segue passos como os da professora Regina Taam, da

Universidade Estadual de Maringá, que sugere a construção de uma prática pedagógica com

características próprias do contexto, tempos e espaços hospitalares e não simplesmente

transplantada da escola para o hospital.

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22

Segundo, (Regina Taam, 1997), faz-se necessária à construção de uma “pedagogia clínica”, (termo utilizado em seu artigo publicado na Revista Ciência Hoje), com forte embasamento na teoria da emoção do médico francês Henri Wallon (1879-1962)

Regina Taam defende a idéia de que o conhecimento pode contribuir para o bem-estar

físico, psíquico e emocional da criança enferma, mas não necessariamente o conhecimento

curricular ensinado no espaço escolar.

Segundo Taam (2000): O conhecimento escolar é o “efeito colateral” de uma ação que visa, primordialmente, á recuperação da saúde. O trabalho do professor é ensinar, não há dúvida, mas isso será feito tendo-se em vista o objetivo maior (a recuperação da saúde), pela qual trabalham todos os profissionais de um hospital.

Dessa forma, a autora pensa que tais correntes de pensamento, embora com especialidades

próprias, tendem a se integrar na prática pedagógica hospitalar. A educação em hospitais oferece

um amplo leque de possibilidades e de um acontecer múltiplo e diversificado que não deve ficar

aprisionado a classificações ou enquadramentos.

Podemos entender pedagogia hospitalar como uma proposta diferenciada da pedagogia

tradicional, uma vez que se dá em âmbito hospitalar e que busca construir conhecimentos sobre

esse novo contexto de aprendizagem que possam contribuir para o bem-estar da criança enferma.

O ofício do professor no hospital apresenta diversas interfaces (política, pedagógica,

psicológica, social, ideológica), mas nenhuma delas é tão constante quanto à da disponibilidade

de estar com o outro e para o outro. Certamente, fica menos traumático enfrentar esse percurso

quando não se está sozinho, podendo compartilhar com o outro a dor, por meio do diálogo e da

escuta silenciosa.

Alguns autores como Ceccim (1997, p.31) falam da escuta pedagógica para agendar

conexões, necessidades intelectuais, emoções e pensamentos, ele afirma que:

“o termo escuta provém da psicanálise e diferencia-se da audição. Enquanto a audição se refere á apreensão/compreensão de vozes e sons audíveis, a escuta se refere á apreensão/compreensão de expectativas e sentidos, ouvindo através das palavras as lacunas do que é dito e os silêncios, ouvindo expressões e gestos, condutas e posturas. A escuta não se limita ao campo da fala ou do falado, mais do que isso busca perscrutar os mundos interpessoais que constituem nossa subjetividade para cartografar o movimento das forças de vida que engendram nossa singularidade”.

Page 23: Pedagogia Hospitalar

23

Relacionando este texto á minha prática no hospital, logo no primeiro atendimento já foi

possível perceber a necessidade que tinham as crianças e as famílias de falarem e serem ouvidos

(enfatizar a doença). Também pude perceber que buscavam respostas novas para suas perguntas.

Ás vezes somente queriam ser ouvidos, e em outros momentos almejavam que fosse dito algo

que ainda ninguém tinha dito, talvez uma palavra de esperança.

“Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele, mesmo que em certas condições, precise de falar a ele”. (Paulo Freire, 1996, p.113)

A escuta pedagógica se diferencia das demais escutas realizadas pelo serviço social ou

pela psicologia no hospital, ao trazer a marca da construção do conhecimento sobre aquele

espaço, aquela rotina, as informações médicas ou aquela doença, de forma lúdica e, ao mesmo

tempo, didática. Na realidade, não é uma escuta em eco. É uma escuta da qual brota o diálogo,

que é à base de toda a educação.

A constituição do sujeito por meio da linguagem e da afetividade: um diálogo entre as

teorias de Wallon e Vygotsky.

Wallon (1941) não há dúvida de que na teoria walloniana a emoção é à base da

inteligência, seu primeiro suporte e seu vínculo com o social. A atividade emocional é uma das

mais complexas características do ser humano, pois é simultaneamente biológica e social, e é por

intermédio dela que se realiza a transição do biológico ao cognitivo, por meio da interação

sociocultural.

A emoção possui aspecto contagiante, permeando todas as interações sociais do ser

humano. A importância de resgatar-se no presente estudo desses aspectos da emoção da teoria de

Wallon deve-se ao fato de que, na investigação junto a crianças hospitalizadas, o termômetro

emocional é mais intenso do que numa situação cotidiana, o que tende a interferir, a priori, em

sua construção do conhecimento, em sua compreensão da realidade. A acuidade de percepção do

real fica diminuída pelas próprias manifestações viscerais e musculares de uma tensão emocional.

Segundo Wallon 1941:

“devemos ter compreensão dos aspectos emocionais envolvidos na hospitalização, ampliando o nosso entendimento do paciente e da família,” escutando “não somente as dúvidas, mas também as angústias das pessoas que atendemos”.

Page 24: Pedagogia Hospitalar

24

A maior contribuição de Vygotsky para a educação nasce de seu esforço de tentar

compreender a relação entre o aprendizado e o desenvolvimento em crianças em idade escolar.

É no brinquedo e no faz-de-conta que a criança pode imitar uma variedade de ações que

estão muito além de seus limites de compreensão e de suas próprias capacidade. O brinquedo

surge na vida da criança juntamente com sua capacidade de imaginar, de transcender o real e

contribuir um mundo simbolicamente possível. Contudo o brincar no ambiente hospitalar ajuda a

elaborar o sofrimento e aceitar melhor a doença e o tratamento.

Vygotsky (2000) ressaltou a enorme influência que o brinquedo exerce no

desenvolvimento da criança. É com o brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera

cognitiva descolada da realidade imediata e passa a dominar os objetos independentemente

daquilo que vê, contextualizando-os e ressignificando-os. Este teórico desenvolveu também uma

das mais originais e brilhantes teorias acerca da linguagem como suporte e expressão do

pensamento humano, utilizando-se da analogia com o instrumento, enquanto ferramenta concreta

do pensamento humano. Segundo ele, o material básico do pensamento é a linguagem. Enquanto

o instrumento é visto como um meio externo, o signo é concebido como um meio interno do

desenvolvimento humano.

Para Wallon e Vygotsky, aprendizagem está pautada na interação do indivíduo com o

meio no qual está inserido. Vygotsky particularmente, enfatizou o papel da cultura na história

pessoal, e o da linguagem na construção do conhecimento, mas vendo-a em interação com

elementos de sua cultura. A linguagem é o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos.

A linguagem, que é simultaneamente individual e social, modifica e constrói conhecimentos e

sujeitos.

Podemos concluir que tanto Wallon (1971,1975) quanto Vygotsky (2000) a

individualização apresenta-se como um processo mediado pela socialização, seja, afetiva ou

lingüisticamente. A identidade de indivíduos socializados forma-se simultaneamente no meio do

entendimento lingüístico com outros e no meio entendimento intra-subjetuvo-vital consigo

mesmo.

Page 25: Pedagogia Hospitalar

25

Durante o tempo de hospitalização, o volume de informações a que as crianças e seus

acompanhantes estão submetidos precisa ser trabalhado de modo pedagógico num contexto de

atividades de socialização das crianças e de seus conhecimentos, sejam eles escolares, informais

ou hospitalares. A criança aprende a criar mecanismos para minimizar a sua dor, e esses

mecanismos podem ser socializados e até utilizados por outras crianças. Essa também é uma

prática educativa, mediada pelo indivíduo mais experiente da cultura.

O importante é perceber a criança e seus familiares como seres pensantes que, quando

chegam ao hospital, já trazem histórias de vida, conhecimentos prévios sobre o que é saúde,

doença, e sobre sua ação nessa dinâmica. A atuação do professor deve proporcionar uma

articulação significativa entre o saber do cotidiano do paciente e o saber científico do médico,

sempre respeitando as diferenças que existem entre ambos os saberes.

7.1 Era uma vez: escutando as histórias que os sujeitos nos contam em silêncio, em gestos e, às vezes, também em palavras.

O silêncio é algo tão comum na Enfermaria Pediátrica quanto o choro e o grito de bebês,

crianças e adolescentes hospitalizados. A opção de Cley, um dos sujeitos da pesquisa, foi o

silêncio. Mas sua expressão facial falava. Os estados afetivos encontram no tônus e na plástica

gestual seu canal mais transparente de expressão. A essa linguagem silenciosa do corpo, Wallon

(1975) chamou de motricidade expressiva. No trabalho pedagógico em hospital, o professor deve

considerar esse tipo de linguagem, devido à sua espontaneidade, como um de seus canais mais

importantes de comunicação.

Em algumas cenas podemos observar também o comportamento do pai de Daniel, que não

se contentava com as folhas que possuía para uso pessoal e pedia sempre mais. Essa passagem

demonstra a ociosidade dos pais, que também necessita de um trabalho que ocupe de maneira

proveitosa seu tempo no hospital.

Em quase todos os atendimentos, os pais participavam como se fossem crianças

descobrindo algo novo. Alguns pais participavam mais ativamente que as próprias crianças. Era

notório o prazer em realizar aquelas atividades com seus filhos.

Segundo Wallon (1941):

Page 26: Pedagogia Hospitalar

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“o desenho , que é uma forma de expressão, é revelador de pensamentos, porque também é uma forma de linguagem. Pelo desenho a criança demonstra o conhecimento conceitual que tem da realidade e quais os aspectos mais significativos de sua experiência. Juntamente com o brincar, o desenho é a forma de expressão privilegiada pela criança”.

Também tive a oportunidade de vivenciar e perceber estes momentos na minha prática

docente. Dentro da minha mochila tinham uma variedade enorme de materiais e sempre levava

um planejamento elaborado fazendo releituras a contos infantis. Depois de muita conversa,

propunha a atividade, mas na maioria das vezes as crianças queriam mesmo era desenhar. E na

sala de recreação também sempre chegava alguém pedindo para desenhar, com giz de cera,

caneta hidrocor, tinta e etc.

O trabalho pedagógico em hospital não possui uma única forma de acontecer. O professor

tem de se reconhecer como pesquisador do seu fazer, buscando novas respostas para eternas

novas perguntas. Sem pesquisa, será impraticável mover a educação nesse terreno pantanoso, de

informações mediáticas e modismos fugazes, em que há tanto tempo tentamos não submergir.

Como referência à escola, o professor pode tornar-se a ponte, através da realização de

atividades pedagógicas e recreativas, com um mundo saudável (a escola) que é levado, pelas

próprias crianças, para o interior do hospital como continuidade dos laços de aprendizagem e de

vida. Essa idéia de escola que as crianças levam para o universo hospitalar pode ser lida como a

representação de um lugar de constituição e referência da identidade de infância.

Segundo Wallon, (1941,p.11):

“enxergar e acreditar na criança enferma, assim como qualquer criança, é um primeiro passo para compreendê-la, respeitá-la e auxiliá-la em seu processo de desenvolvimento, porque a criança não sabe senão viver a infância. Conhecê-la pertence ao adulto”

Pensando no que já conhecemos sobre Educação Infantil, procuramos realizar atividades

que contemplassem todas as áreas do conhecimento utilizando o Referencial Curricular Nacional

para a Educação Infantil – publicado pelo Ministério da Educação em 1998. Dando ênfase ao

lúdico com jogos e literatura infantil.

O jogo, enquanto atividade espontânea da criança, foi analisado e pesquisado por vários

estudiosos para melhor compreender o comportamento humano. É um meio privilegiado tanto

Page 27: Pedagogia Hospitalar

27

para o estudo de crianças “normais”, quanto para aquelas que apresentam algum tipo de

necessidade especial, haja vista os inúmeros trabalhos sobre o assunto, como os de Freud,

Melanie Klein, Erikson e ainda, autores como Piaget, Claparéde, Callois e Ajuriaguerra que

escreveram obras sobre o jogo na criança. diversas são as análises e pesquisas feitas por

estudiosos que comprovaram que o jogo é, por excelência, integrador, há sempre um caráter de

novidade, o que é fundamental para despertar o interesse da criança, e na medida em que joga, ela

vai se conhecendo melhor, construindo interiormente seu mundo. Esta atividade é um dos meios

mais propícios à construção do conhecimento.

Para exercê-la a criança utiliza seu equipamento sensório-motor, pois o corpo é acionado

e o pensamento também, e enquanto é desafiada a desenvolver habilidade operatórias que

envolvam a identificação, observação, comparação, análise, síntese e generalizações, ela vai

conhecendo suas possibilidades e desenvolvendo cada vez mais sua autoconfiança. É

fundamental, no jogo, que a criança descubra por si mesma, e para tanto o professor deverá

oferecer situações desafiadoras que motivem diferentes respostas, estimulando a criatividade e a

redescoberta.

8. DESENVOLVIMENTO DO ESTÁGIO

8.1 Vivenciando práticas no ambiente Hospitalar.

Ao chegar no hospital, eu e minhas colegas fomos para a sala do voluntariado para

distribuir os leitos para começar a trabalhar, conforme o projeto integrado brincriar, cujo o tema

é brinquedos e que se encontra em anexo neste trabalho. Na parte da manhã fui para o 6º andar,

leito da P... de 8 anos, A... de 3 meses e D... de 8 anos. Eu e minha dupla de prática Karen

entramos no quarto e as crianças já começaram as nos olhar com muita curiosidade. Comecei a

atividade com uma apresentação e com uma entrevista, para investigar um pouco da vida e

histórico de cada um.

Em seguida iniciei as atividades onde P... foi muito receptiva. Contei o primeiro poema do

livro “O saco de brinquedos” a ela, e a mesma disse que já o conhecia. A partir daí trabalhei

sobre o poema e juntamente trabalhei a identidade.

Page 28: Pedagogia Hospitalar

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A criança P... logo após a atividade proposta, interessou-se muito pelo desenho. Neste

momento dei-lhe uma folha de ofício, canetinhas, lápis de cor e giz de cera. Ela ficou muito feliz,

seus olhos brilhavam de alegria. Ela prontamente começou a escrever o alfabeto e neste momento

começamos a trabalhar o nome. Após o alfabeto, propus o desenho de sua mão na folha, baseado

no poema do livro. Então neste momento ela começou a dar nome aos seus dedos e os escreveu

no desenho, onde estava muito bem ilustrado. Segundo o dicionário do professor, p.27:

“A identidade é, provavelmente, uma das noções mais intrigantes das ciências humanas. Talvez não haja uma definição precisa para esse termo, mas certamente, uma tentativa de apreendê-lo na sua complexidade. O estudo da identidade, antes restrito á psicologia, hoje é parte integrante das ciências sociais. É possível constatar, nesses estudos, a adoção de uma abordagem interdisciplinar, que pode privilegiar tanto a dimensão individual como a psicossocial ou coletiva da identidade. No campo da educação, pensar essa noção significa trazer para essa área conceitos complexos originários de outras disciplinas” .

O educando D...não gostou muito da proposta expressando o que gosta de fazer. Ele pediu

jogo da memória, então demos a ele um jogo da memória com a figura humana e nomes, pois

estava trabalhando com o nome e sua identidade. O mesmo solicitou uma massagem nas costas

para a colega Karen, pois estava com muita dor. A colega fez a massagem trabalhando a

expressão corporal.

No leito havia um bebê de 3 meses o A..., percebi um ato muito interessante, quando

cheguei perto dele fiz uma massagem em seus braços e mãos e o mesmo ficou bem relaxado. Ele

estava meio agitado, então sua mãe colocou uma música para ele ninar, observei que começou a

se acalmar e devido a este fato perguntei a ela desde quando ela fazia está dinâmica da música,

ela respondeu que desde a gestação ela coloca música para ele, e somente dorme escutando-a.

Davy Litman Bogomoletz, 1994 afirma que:

“Muitos seres humanos trazem memórias corporais do processo de nascimento, como um exemplo marcante de um adiamento para além da compreensão, já que para o bebê que reage à intrusão de um parto adiado não há precedentes nem unidades de medida possíveis pelas quais mensurar o adiamento ou prever as conseqüências. Não há meios de fazer o bebê saber, durante um parto demorado, que meia hora ou algo equivalente será suficiente para resolver o problema, e por esta razão o bebê é apanhado por uma espera indefinida ou ‘infinita’. Esse tipo de experiências dolorosas fornece uma base muito poderosa para coisas tais como a questão da forma na música, onde, sem a rigidez da moldura, a idéia do fim é mantida diante do ouvinte desde o início. A música sem forma aborrece. E a inexistência de formas é infinitamente enfadonha para aqueles que se sentem

Page 29: Pedagogia Hospitalar

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particularmente aflitos por esse tipo de ansiedade, por conta de adiamentos impossíveis de compreender ocorridos em sua primeira infância. A música dotada de estrutura formal clara é reasseguradora em si mesma, para além de seus outros valores musicais propriamente dito”.

Na parte da tarde fui para o 5º andar para a sala da recreação. O andar estava um pouco

tumultuado em função do horário de visita. Eu e Karen fomos aos leitos chamar as crianças para

esta sala. Um menino chamado L... estava pelos corredores e começou a nos acompanhar. O

andar tinha muito mais bebês a crianças maiores. Comecei a atividade somente com o L... de 8

anos, mas ele preferiu ficar no computador , então fui o auxiliando, lhe proporcionando alguns

jogos pedagógicos pela Internet, mas percebi durante este atendimento que este menino é meio

confuso em relação aos seus conhecimentos e de sua própria vida. Em seguida começou a chegar

mais crianças e um bebê de 4 meses o E... que ficou prestando atenção nos desenhos coloridos

que havia na sala. Os demais ficaram no computador e depois jogamos jogo da memória e

fizemos algumas atividades em folha de ofício.

Observei neste atendimento como existem pessoas do interior do estados e inclusive de

outros estados no hospital. É interessante, pois podemos também estar passando um pouco de

nossa cultura e aprendendo um pouco de outras culturas de diversas regiões.

Percebi que a criança necessita de um atendimento pedagógico intenso dentro deste

espaço, pois todas estão fora do mundo escolar. Contudo não é por causa da doença que irão ser

esquecidas, e logo neste primeiro atendimento que fiz, pude constatar o que tanto foi me passado

antes de efetivamente estar dentro do hospital. A criança precisa e deve continuar aprendendo e

brincando mesmo internada, pois acredito que isto, irá fazer com que sua recuperação tenha um

imenso avanço. Fico extremamente feliz de poder contribuir para o desenvolvimento das crianças

no HCSA.

Iniciamos mais um dia de prática á tarde a partir das 13:30, devido a Semana Acadêmica

do Curso de Pedagogia, onde eu e minhas colegas fomos liberadas para assistir as palestras. A

professora Nara e minhas colegas já estavam na sala do voluntariado no M2, fazendo a reunião.

Durante esta reunião, através da professora Nara, foi nos passado alguns autores que serão

importantes para o relatório final e até mesmo para o concurso do município. Após esta conversa

começamos a relatar como foi nosso atendimento na quarta-feira. Logo em seguida, conversamos

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30

com a professora referente nossos planos de aula, onde trabalharíamos o trânsito (devido à

semana do trânsito). Mas como a atividade proposta seria um circuito e teria pouco tempo para

realizá-la, fiz um plano introdutório ao assunto para que na próxima semana pudesse dar

continuidade ao plano de origem.

Dando continuidade a reunião, falamos a respeito do mês da criança no hospital que é

muito e intenso e dinâmica. A supervisora e professora Nara, nos informou que no dia 18 de

outubro serão de nossa responsabilidade as atividades. Então a mesma propôs que não entrasse

nos leitos nesta data, aproveitando o tempo para começar a preparar o evento do dia 18 de

outubro no hospital.

Eu e minhas colegas começamos a criar uma história com vários personagens para montar

uma peça de teatro. A história, cujo nome é “reinventado histórias” ficou fantástica e será

trabalhada a partir de nosso projeto inicial que é o brinquedo. A história terá vários personagens

das mais variadas histórias. Na peça serei o chapolin colorado, adorei meu personagem, visto

que, gosto de personagens que divirtam as crianças, pois tenho certeza que elas irão apreciar

muito este personagem vinculado a tantos outros.

O objetivo do grupo com esta peça de teatral, é divertir as crianças e fazer com que elas

percebam que a união faz a força, pois se trata da união de vários personagens em busca de um

único sonho o brincar. Segundo Vygotsky (2000), brincar no ambiente hospitalar ajuda a elaborar

o sofrimento e aceitar melhor a doença e o tratamento.

No dia 4 de outubro cheguei ao hospital às 13:30. Eu e minhas colegas juntamente com a

professora Nara, nos encontramos na sala de recreação do 5º andar para fazer nossa reunião.

Neste sábado trabalhamos com o circuito do trânsito. Fizemos a estrada em um papel pardo com

suas respectivas faixas e placas de trânsito que foram expostas no saguão do SUS. Perto das 16

horas eu e minhas colegas, fomos aos leitos chamar as crianças para realizar as atividades. Todas

as crianças gostaram da atividade proposta e começaram a descer para o saguão.

Eu e minha dupla de prática Karen, fomos buscar a V... que tem uma deficiência mental

leve e não caminha. Devido a este fato, procuramos por todos os andares uma cadeira de rodas

para que a mesma pudesse participar da atividade. A V... é uma criança muito participativa e com

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muita vontade de aprender e brincar. Pois é dever do educador incluir a criança com necessidade

especial no meio, por isso as escolas municipais onde agrega a educação infantil e séries iniciais

possuem o trabalho de inclusão, onde cada turma tem estagiárias de pedagogia para atendê-las.

Relato isto por ter experiência, pois fiz estágio na rede municipal onde o trabalho é muito

gratificante. Para mim é de uma enorme riqueza trazer esta experiência neste relatório. A

educação inclusiva é um processo em que se amplia a participação de todos os educandos nos

estabelecimentos de ensino regular. Trata-se de uma reestruturação da cultura, da prática e das

políticas vivenciadas nas escolas e outros ambientes, de modo que estas respondam à diversidade

de alunos. É uma abordagem humanística, democrática, que percebe o sujeito e suas

singularidades, tendo como objetivos o crescimento, a satisfação pessoal e a inserção social de

todos.

Todas as crianças que se encontravam internadas participaram das atividades com muito

entusiasmo. Quem não quis participar do circuito, por debilidade, ficou pintando o livro sobre o

trânsito nas mesas que estavam dispostas no espaço. Foi muito produtivo. É impressionante como

as crianças têm força, e mesmo debilitadas, não perdem sua vontade e sua infância. Um exemplo

disto que estou relatando é novamente a menina V... que tem uma vontade enorme de participar

de tudo. Ela é maravilhosa uma ótima criança. Nunca irei me esquecer dela, pois nos divertimos e

aprendemos muito com ela. Quando estava muito feliz usava uma expressão que cativou a todos

o “ai jesuzi”. Usava desta expressão quando estava muito feliz, e eu consegui perceber que

quando estávamos no hospital desenvolvendo a prática, ela ficava muito alegre, com os olhos

brilhando, pois chegou até a falar com muita dificuldade “o que será que a prof trouxe de legal

para a V...brincar”, ouvir e sentir isto não tem preço. Confesso que ao relatar isto me lembrei

muito daquele momento e até me emocionei.

O objetivo deste circuito é conscientizar as crianças dos perigos do trânsito e a educação

para ele, visto que, é de extrema importância tratar deste assunto com os mesmos, por fazer parte

de sua vida cotidiana.

8.2 As agitadas Quartas-Feiras

Page 32: Pedagogia Hospitalar

32

Como de costume, eu e minhas colegas de estágio fizemos nossa reunião na cafeteria para

discutir sobre o plano de atividades e fazermos trocas dos atendimentos já realizados, é um

momento muito interessante, pois assim temos algumas visões de um mesmo trabalho.

Em seguida eu e minhas colegas fomos buscar o crachá no complexo hospitalar Santa

Clara. Logo após organizamos os materiais e os grupos para começarmos o atendimento aos

leitos.

O hospital na quarta-feira tem um diferencial em relação ao sábado, pois é muito

movimentado. Os leitos com profissionais como: fisioterapeutas, médicos, enfermagem...

confesso que foi difícil encontrar um leito vazio para que pudesse começar as atividades. Estava

no 5º andar, e esperei o movimento nos quartos baixar (para não atrapalhar o trabalho dos

profissionais) para começar a prática pedagógica.

Entrei no leito onde havia três crianças uma de 1 ano e 8 meses a I..., um de 12 anos o

L... e outro de 13 anos o N.... este último tem deficiência mental e no primeiro momento estava

bem abatido e confesso que fiquei um pouco ansiosa de como trabalhar com aquela criança, visto

que ele é totalmente atrofiado. Estava neste quarto eu, Daniela Flores, Marilene Rosa e Karen.

Fomos muito bem recebidas pelos familiares e crianças que ali estavam. Comecei a atividade

com uma conversa sobre a nova estação que estava chegando a “primavera”. Logo propus a eles

um desenho com papéis coloridos e picados. A menina de 1 ano e 8 meses ficou com olhinhos

brilhando de tantas cores que ali estavam. O L... também fez com animo seu desenho sobre a

primavera, colocou em uma folha de papel ofício os papéis picados formando uma árvore e um

sol. O menino N... tem muitas dificuldades, mas como meu papel enquanto educadora é incluir o

indivíduo, então eu juntamente com minha colega Marilene ajudamos ele a montar seu desenho

com os papéis. Pegamos sua mão e começamos ajudá-lo a desenvolver o trabalho. Observei que o

mesmo gostou muito de trabalhar com a cola e os papéis e desta forma já foi incentivado e

trabalhado, a motricidade fina. Neste olhar, a educação assume uma concepção dialética em que

homem e o meio interagem, no sentido de construir a sobrevivência de ambos. No processo

educativo dialético o homem concebido como ser autônomo, construtor do conhecimento, assume

uma dimensão favorável à emancipação, visto que é dotado de capacidades intelectuais inatos

que auxiliam seu processo de inserção social. E de acordo com as considerações de BRANDÃO

(1988) o processo educativo na relação com o homem, pode ser entendido da seguinte maneira:

Page 33: Pedagogia Hospitalar

33

Não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única prática e o professor profissional não é o seu único praticante (p. 9)

Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja, no hospital ou na escola, de um

modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar,

para aprender e ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias

misturamos a vida com a educação. Onde entra explicitamente aqui nesta prática, onde há

situação de internação também há educação. Pois as crianças precisam continuar suas vidas e

interagindo com o aprender.

Dando continuidade ao trabalho distribui um copo de plástico, para trabalhar a decoração

do mesmo. Todos enfeitaram seus copos com tintas e glitter. O fundamento desta atividade é

fazer uma mistura com água e sabão para fazer bolhas de sabão, pois estava trabalhando a partir

do poema bolha de sabão do livro “saco de brinquedos”.

Em seguida comecei a brincar com as bolhas e a menina de 1 ano ficou muito alegre ao

olhar as bolhas, pois eram coloridas e ela as queria pegar no ar, lembrando sempre que está na

faixa etária onde o concreto é evidente. Os demais também fizeram bolhas e adoraram a

atividade. O menino N... estava um pouco debilitado e não foi muito participativo, embora senti

que sua expressão mudou muita da hora em que eu e minhas colegas iniciamos os trabalhos até o

final. Está debilidade desta criança é normal, pois embora queira muito participar e aprender está

em um momento vulnerável e nem sempre estará disposta a participar.

8.3 Um dia atípico no hospital Segunda-Feira

Como de costume, cheguei ao hospital às 8:30. toda a equipe de estágio se encontrou na

cafeteria, onde fizemos uma breve reunião sobre o plano de aula. Eu e minhas colegas Marilene,

Daniela Moizinho e Karen fomos para o 6º andar, pois a movimentação nos leitos do 5º andar

estava intensa.

Procuramos um leito onde havia crianças da faixa etária da educação infantil.

Encontramos um quarto onde havia duas crianças de 8 anos e uma de 13. eu e minhas colegas

iniciamos a prática com uma roda de conversa e apresentação da proposta. A atividade trabalhada

foi referente ao trânsito, devido à semana do trânsito. Comecei a prática indagando sobre seus

Page 34: Pedagogia Hospitalar

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conhecimentos prévios sobre o assunto e após contamos uma história sobre o livro “trânsito não é

brincadeira”. Na contação de história as crianças iam interagindo e encaixando a história do

mesmo a suas vivências, sempre trabalhando a realidade daquele educando. Ao término da

história, cada colega ficou com uma criança. Percebi que a V..., estava muito curiosa para saber o

que tinha em minha “caixa rosa”, que para ela parecia um mistério.

Com a evolução da proposta de montar um álbum sobre as placas de trânsito, comecei

então a mostrar a ela, o que teria naquela caixa. Ela com um ar muito curioso, começou a olhar

atentamente. Da tal “caixa rosa” (caixa pedagógica) começou a sair: massa de modelar, lápis de

cor, canetinha, papel colorido, tinta... e à medida que estes objetos foram saindo da caixa, ela

dava uma gargalhada de felicidade. Estava muito entusiasmada com a brincadeira. Comecei a

construir junto com as crianças o tal álbum, a V... gostou muito da proposta e trabalhou muito

bem com a tesoura e a cola, pois a mesma tinha alguns problemas nos movimentos dos membros

superiores e inferiores. A mesma também tem uma enorme dificuldade de falar, onde se esforça

bastante para se fazer entendida. O J... que ficou fazendo atividades com a colega Karen, quis ir

para a sala de recreação. O menino L... empenhou-se muito na atividade apresentada, fez o álbum

com todo o cuidado e todos os detalhes possíveis. Chamou-me muito a atenção à mãe do L... que

estava ali há dias com seu filho sem nenhum contato com o mundo externo. Ela pediu para a

colega Marilene o seguinte: “professora, a senhora por um acaso tem alguma coisa para eu fazer”.

Prontamente a colega deu a ela uma revista onde havia palavras cruzadas, jogo dos sete erros. Ela

começou a fazer e perguntava a todo instante para nós: “professora será que está certo o que eu

fiz, corrigi aqui para mim, me ajuda”. Este acontecimento foi emocionante, pois desde o início a

professora Nara nos alertou que os pais também necessitam de alguma atividade. Eles necessitam

de um trabalho que ocupe de maneira proveitosa seu tempo no hospital. Mas um exemplo de que

a teoria se vê na prática. Jorge Valadares (2000:87) afirma que “as pessoas ouvidas se

predispõem a ouvir. O respeito vem de uma capacidade de olhar de novo, e a responsabilidade

vem da capacidade de responder a chamados”.

O menino L..., após ter construído o álbum sobre os sinais de trânsito, no próprio álbum

ao lado das figuras ele começou a escrever com toda a calma e atenção, algumas frases referente

à figura. Ele é uma criança muito inteligente e tem muita vontade de estudar e aprender. Esta

prática foi muito produtiva, pois pude aprender bastante e colocar a teoria na prática.

Page 35: Pedagogia Hospitalar

35

Percebi que as crianças sempre querem mais, pois sempre dispõem de muita vontade de

estar aprendendo e brincando, mesmo no ambiente hospitalar. Visto que, são crianças e essa

vontade nunca morre.

Gostaria de agradecer nesta prática a delicadeza, paciência, coleguismo, amizade e

companheirismo das colegas Marilene e Karen, pois como sempre dizemos: “a união faz a força”,

e todas são muito dedicadas e incentivadoras.

9. CONCLUSÃO

A prática pedagógica no Hospital da Criança Santo Antônio, foi mais que uma

oportunidade de relacionar teoria e prática. Foi um despertar para o mundo. Pois percebi que o

mundo está cheio de coisas que ainda preciso conhecer, aprender e vivenciar. O trabalho no

HCSA propiciou um entendimento mais aprofundado de como a ação educativa se desenvolve

no ambiente hospitalar, ampliando a compreensão sobre os processos educativos que se efetivam

na dinâmica social. A relação entre Educação e Saúde foi evidenciada na integralização das ações

desenvolvidas no hospital, cujo qual se vivenciou que o trabalho multidisciplinar é extremamente

necessário.

Junto a essa equipe, a atuação do Pedagogo se concretiza como mais um saber, no sentido

de ver outras visões não perceptíveis por outros profissionais, apontando novos elementos para

que o tratamento seja visto de outra forma. Através desta investigação, observei que esta

experiência desenvolvida no hospital, contribui no sentido de desmistificar a imagem negativa e

dolorosa do ambiente para um espaço menos doloroso, isto porque possibilita às crianças uma

certa transformação na sua rotina com o objetivo de resgatar sua auto-estima e recuperar seu

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sentido de luta pela vida. Confesso que não foi nada fácil no início lidar com a doença infantil,

em função daquilo ser novo para mim. Nessa visão pedagógica, vislumbrei a ampliação da ação

educativa, visto que o Pedagogo pode contribuir no sentido de desenvolver seu trabalho, tendo

em vista a escuta pedagógica e o atendimento às crianças ou adolescentes hospitalizados.

Este estágio acrescentou para minha vida pessoal e acadêmica o desejo de aprender, que é

o que nos dá forças para enfrentar as dificuldades e viver a vida a cada momento. Isto posso dizer

também pelas crianças, que apesar de estarem ali debilitadas e com dificuldades, querem sempre

estar em constante aprendizagem. Dificuldades encontrei no início, e foram muitas, mas nenhuma

que me levasse a desistir de tudo. Visto que, o novo dá insegurança, medo, mas se não

enfrentarmos, como vamos saber se é possível. Almejei muito este estágio, e consegui mais uma

prova de que o pensamento positivo e força andam juntas.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRANDÃO, C. R. O que é educação. São Paulo. Brasiliense, 1995

CECCIM, Ricardo B., FONSECA, Eneida S., (1999). Classe hospitalar: buscando padrões referenciais de atendimento pedagógico-educacional a criança e ao adolescente hospitalizado. Revista Integração, MEC/SEESP, ano 9, nº 21, p.31-39

FONTES, Rejane de S., (1998). Classe hospitalar: a validade de uma alternativa educacional a curto prazo. Monografia de Graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense.

FONTES, Rejane de S., (2006). A escuta pedagógica à criança hospitalizada: discutindo o papel da educação no hospital. Artigo de Doutorado da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense.

REZENDE, Lucinea Aparecida de. (Org.). Tramando temas na educação.Londrina: Ed. UEL, 2001.

RODRIGUES, Marina S., (2005). Caminhos para inclusão humana: Teoria e Prática. Lisboa, Portugal: Ed. ASA.

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ALVES, Rubens. A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir.

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VYGOTSKY, LS. A formação social da mente. 4ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

Ministério da Educação Departamento da Educação Básica, Reoganização Curricular do Ensino

Básico- Novas Áreas Curriculares, Lisboa, 2002.

ERIKSON, Erik H. Identidade, Juventude e Crise, Tradução Álvaro Cabral, Rio de Janeiro,

Zahar, 1976 FREIRE.

ECA – Estatudo da Criança e do Adolescente: Lei Federal 8069, de 13.07.90 – Porto Alegre:

CMDCA .2007.

ANEXOS

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Anexo I

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Anexo II

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Anexo III

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Anexo IV

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Anexo V

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Anexo VI

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Anexo VII

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