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PECULIARIDADES NO DESENVOLVIMENTO DA EMPATIA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM SÍNDROME DE ASPERGER E O IMPACTO DE UM
PROGRAMA DE APRIMORAMENTO DESTA HABILIDADE: ALGUNS DADOS DE AMOSTRAS BRASILEIRAS.
Patricia Barros (Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Santa Casa de Misericórdia RJ);
Eliane Falcone (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
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'The nature of these children is revealed most clearly in their
behavior towards other people. Indeed their behavior in the social
group is the clearest sign of their disorder’ (Hans Asperger, 1944, 1991).
Transtorno de Asperger (DSM-IV-TR, APA, 2002)
+ A. Prejuízo qualitativo na interação social, manifestado por pelo menos dois dos seguintes quesitos:
( 1 ) p re j u í zo a c e n t u a d o n o u s o d e m ú l t i p l o s comportamentos não-verbais, tais como contato visual direto, expressão facial, posturas corporais e gestos para regular a interação social;
(2) fracasso para desenvolver relacionamentos apropriados ao nível de desenvolvimento com seus pares;
(3) ausência de tentativa espontânea de compartilhar prazer, interesses ou realizações com outras pessoas (por ex., deixar de mostrar, trazer ou apontar objetos de interesse a outras pessoas);
(4) falta de reciprocidade social ou emocional.
+B. Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades, manifestados por pelo menos um dos seguintes quesitos:
(1) insistente preocupação com um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesses, anormal em intensidade ou foco
(2) adesão aparentemente inflexível a rotinas e rituais específicos e não funcionais
(3) maneirismos motores estereotipados e repetitivos (por ex., dar pancadinhas ou torcer as mãos ou os dedos, ou movimentos complexos de todo o corpo)
(4) insistente preocupação com partes de objetos
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o
• Tomada de perspectiva
(Baron-Cohen, 1995; Shamay-Tsoory, 2004)
• Flexibilidade cognitiva
(Decety & Jackson, 1004)
• Auto-regulação emocional
(Goleman, 1995; Nichols, 1995)
Com
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ente
Afe
tivo
• Reações afetivas diante das
experiências alheias
(Davis, 1994)
• Contágio emocional
(Hatfield, Cacioppo, &
Rapson, 1994)
Com
pon
ente
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por
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enta
l
• Manifesta de forma apropriada
ao contexto
• Traduz em ações o entendimento da perspectiva
mental e emocional das outras pessoas
(Baron-Cohen, 2011; Falcone &
Ramos, 2005), 14
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Avaliação da empatia em crianças e adolescentes com Síndrome de Asperger
(Barros & Falcone, 2007)
+Participantes
n 15 crianças e adolescentes com Asperger + 45
crianças e adolescentes de desenvolvimento
típico (3:1)
n 8 e 16 anos
n 48 meninos e 12 meninas
n QI acima de 70 (WISC-III, versão reduzida)
n Pacientes Santa Casa de Misericórdia RJ e
estudantes de escola particular RJ
+Instrumentos
n 1ª ordem Teoria da Mente: Teste de falsa crença de Sally & Anne (Baron-Cohen, 1989), tradução de
Mousinho (2003)
n 2ª ordem de teoria da mente: teste de falsa crença ‘Caminhão de sorvetes (Perner & Wimmer, 1985;
Baron-Cohen, 1989), tradução de Mousinho (2003)
n Nível de empatia, estados mentais e presença de audiência: cenas de vídeo de curta duração ‘Menino Maluquininho, o filme’ (Ziraldo &
Ratton, 1994) , adaptado de Motta (2005)
Cena Justificativas do grupo com a
Síndrome de Asperger Justificativas do grupo controle
Alegria “Feliz, porque todo mundo
bateu palmas” “Feliz, porque estava com
saudades do avô”
Raiva “Raiva porque ele não queria
sopa”
“Raiva porque o outro garoto ficou tentando agradar, puxou o saco da mãe dele”
Tristeza “Triste porque a mãe e o pai
estavam brigando” “Triste, porque ele não queria que
os pais se separassem”
Medo “Medo porque os cachorros iam
pegar eles”
“Medo porque eles iam morder os meninos e o vizinho estava com raiva deles”
Embaraço “Vergonha porque ele não
entendeu nada do que as meninas estavam falando”
“Com vergonha porque a estratégia dele de mandar versinhos não funcionou, porque a menina ficou com raiva”
Inveja “Curiosas porque tinha uma
menina subindo no ônibus” “Inveja porque os meninos podiam
gostar mais dela”
Orgulho “Feliz porque ele ganhou a
receita”
“Feliz porque o vendedor da farmácia achou o menino maluquinho um menino legal”
Exemplos de justificativas
+Mais algumas considerações
n Teoria da mente x idade: somente no grupo com Asperger
n Utilizam estratégias mais rígidas e concretas para o
reconhecimento de emoções, fazendo menos uso da
identificação de estados mentais e da presença de
audiência
n Indivíduos com Asperger tendem a apresentar menores
níveis de Teoria da Mente e isso parece estar
correlacionado com seus níveis de adequação
comportamental às situações sociais
+Considerações finais
n Treinamento em habilidades sociais com enfoque em empatia, especialmente direcionado ao
componente cognitivo
n Diferentes níveis de reconhecimento de emoções, desde as emoções simples até as complexas
n Estratégias que desenvolvam a identificação de emoções baseadas em estados mentais e não
somente em situações concretas
n Estratégias que estimulem a percepção geral do contexto, levando em consideração a dinâmica
social e a presença de ‘audiência’ no reconhecimento das emoções
+Programa para o
desenvolvimento da empatia com crianças e adolescentes
com Síndrome de Asperger
(Barros & Falcone, 2012)
+ MÉTODO
n PARTICIPANTES:
§ 46 crianças e adolescentes, entre 8 e 17 anos, critérios
diagnósticos DSM-IV-TR, inteligência dentro curva normal
n INSTRUMENTOS:
§ Termo de consentimento livre e esclarecido;
§ Avaliação de itens de comportamentos empáticos por pais e professores;
§ Avaliação de comportamentos empáticos através da observação das filmagens em situações de atividades
livres (juízes treinados);
§ Avaliação da empatia através de cenas de filmes
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INTERVENÇÃO
n 8 sessões, duas vezes ao mês
n Grupos: crianças (8-12 anos); adolescentes (13-17 anos); grupo de orientação aos pais
n Múltiplas ferramentas, psicoeducação, atividades estruturadas, recursos visuais e audiovisuais, dramatizações, tempo para atividades livres com jogos, reforços, tarefas de
casa
n Sessões planejadas em etapas focando o desenvolvimento do componente cognitivo da empatia
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Algumas considerações sobre os resultados e discussão dos
resultados
+O desenvolvimento do componente cognitivo da empatia
através de programas estruturados como este gera efeitos sobre os aspectos afetivos e comportamentais desta
habilidade em indivíduos com Síndrome de Asperger.
n Resultados gerais na avaliação da empatia através de cenas de vídeos – avaliação direta desses componentes
n O entendimento das relações sociais gera efeitos comportamentais e afetivos (Winner, 2008).
n Via intelectual (Asperger, 1944,1991)
n Relação entre cognição, comportamento e afeto - Modelo Cognitivo Comportamental (Beck, 2011).
O desenvolvimento do componente cognitivo da empatia resultou no aprimoramento de comportamentos em
diferentes contextos sociais. Portanto, houve a generalização e consequente flexibilização de condutas
mais adaptadas a cada tipo de contexto.
n O entendimento das relações sociais e do contexto gera efeitos mais flexíveis em termos comportamentais mais
adaptados a cada setting (Winner, 2008)
n O uso de instruções estruturadas e reforços auxilia na generalização dos comportamentos via mediação de
agentes como pais, professores e pares (Clark, 2009; Grandin & Sullivan, 2008; McConnel, 2002)
n Uso de instrumentos direcionados a contextos específicos; importância de múltiplos observadores
As habilidades empáticas podem ser aprendidas a partir de etapas adaptadas de forma similar àquelas do
desenvolvimento sócio-cognitivo típico.
n Itens comportamentais que se desenvolveram inicialmente: manutenção do contato ocular, demonstrar atenção às
interações, perceber assuntos e interesses alheios.
n Primeiras fases do desenvolvimento a atenção compartilhada (Bosa, 2002)
n À medida que aprimoram habilidades de base, conseguem desenvolver estratégias mais complexas e flexíveis, como a
dinâmica e sincronia de uma conversa, por exemplo (Winner, 2008)
+Considerações finais
n Investigação inicial – contribuição para futuros protocolos de intervenção
n Frequência e duração estendida
n Grupo controle
n Avaliação mais criteriosa dos aspectos cognitivos
n Uso de instrumentos padronizados
n Comparação com demais abordagens