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PECUÁRIA NA AMAZÔNIA:TENDÊNCIAS E IMPLICAÇÕES

PARA A CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

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PECUÁRIA NA AMAZÔNIA:TENDÊNCIAS E IMPLICAÇÕES

PARA A CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

Eugênio ArimaPaulo BarretoMarky Brito

Belém, 2005.

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Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)do Departamento Nacional do Livro

Copyright© 2005 by Imazon

Revisão de Texto:Lize Barman e Gláucia Barreto

Capa:Renata Segtowick

FotosQueimadas: James GroganFrigorífico, pastos e gado: Ritaumaria PereiraFotos aéreas da vegetação e consumidora emsupermercado: Paulo Barreto

Editoração eletrônicaRL|2 Comunicação e Design

Ficha CatalográficaIêda Fernandes, bacharel em Biblioteconomia

Os dados e opiniões expressas neste trabalho são de responsabilidade dos autores e nãorefletem necessariamente a opinião dos financiadores deste estudo.

ImazonInstituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia

Rua Domingos Marreiros, 2020. Umarizal. Belém-PA Brasil CEP 66060-160Tel.: (91) 3182-4000Fax: (91) 3182-4027

[email protected]://www.imazon.org.br

A699p ARIMA, Eugênio.

Pecuária na Amazônia: tendências e implicações para aconservação ambiental./ Eugênio Arima; Paulo Barreto; Marky Brito.– Belém: Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, 2005.

xiii, 76 p.: il.; 21,5x28 cm.

ISBN 85-86212-14-8

1. PECUÁRIA–AMAZÔNIA. 2. Conservação–Amazônia. 3.Desenvolvimento sustentável. 4. Unidades de conservação. 5.Zoneamento ecológico-econômico. I. Barreto, Paulo. II. Brito, Marky.III. Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia. IV. Título.

CDD: 636.0809811

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho inclui resultados de pesquisas do Imazon,apoiadas pela Fundação Ford e Fundação William & FloraHewlett, e do projeto Global Overlay (Banco Mundial). Entre-

tanto, essas instituições não compartilham necessariamente com osargumentos e idéias discutidas neste trabalho.

Agradecemos as seguintes pessoas pelos comentários em versõespreliminares do trabalho: Marco Lentini, Ritaumaria Pereira e DenisValle (Imazon), Judson F. Valentin (Embrapa – Acre), Ken Chomitz eBob Schneider (Banco Mundial em Washington) e a Stephen Perz (Uni-versidade da Flórida nos Estados Unidos). Os comentários e suges-tões foram respondidos ou incorporados de acordo com o julgamentodos autores. Portanto, possíveis erros e omissões são de sua totalresponsabilidade.

Ritaumaria Pereira forneceu as informações para o epílogo. Agra-decemos a Rodney Salomão, técnico em geoprocessamento do Ima-zon, por conduzir as simulações do preço do gado. Finalmente, agra-decemos aos técnicos, pecuaristas e gerentes de frigoríficos que for-neceram informações valiosas ao trabalho.

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SOBRE O IMAZON

O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia é uma instituição de pesquisa, sem fins lucrativos, cuja missão é promover o desenvolvimento sustentável na Amazônia por

meio de estudos, apoio à formulação de políticas públicas, dissemina-ção de informações e formação profissional.

O Instituto foi fundado em 1990, e sua sede está localizada emBelém, Pará. Em 15 anos de existência, o Imazon já publicou 27 li-vros, 10 livretos e mais de 170 artigos científicos e técnicos, veicula-dos em revistas indexadas nacionais e internacionais. Para saber maissobre o imazon consulte www.imazon.org.br.

SOBRE OS AUTORES

• Eugênio Arima é Engenheiro Agrônomo pela Universidade deBrasília, Mestre em Economia Agrícola pela Pennsylvania State Uni-versity (EUA) e PHD em Geografia pela Michigan State University (EUA).

• Paulo Barreto é Engenheiro Florestal pela Faculdade de Ciênci-as Agrárias do Pará (atual Universidade Rural da Amazônia) e Mestreem Ciências Florestais pela Yale University (EUA).

• Marky Brito é Engenheiro Florestal pela Faculdade de CiênciasAgrárias do Pará (atual Universidade Rural da Amazônia).

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Sumário Executivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17A distribuição da pecuária na Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19As causas do crescimento da pecuária na Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

A produtividade da pecuária na Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23A pecuária mais produtiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23A pecuária de baixa produtividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

A vantagem do baixo preço da terra na Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26O retorno do investimento em pecuária na Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

Retorno sobre investimento na pecuária de baixa produtividade . . . . . . . . . . . . . . . 29Disponibilidade de capital para investimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Exploração de madeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29Crédito subsidiado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

O papel do mercado na pecuária bovina da Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32Comercialização de animais vivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33O impacto da febre aftosa no comércio de animais vivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34A comercialização de carne . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

Fatores que afetarão o futuro da pecuária na Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37Fatores da demanda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

A pressão para controlar a febre aftosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37Potencial para aumento do consumo interno e externo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38Efeitos da melhoria de infra-estrutura na Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

Fatores da oferta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39Fatores atuantes na escala macro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39Fatores atuantes na escala da propriedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

A campanha para controlar a febre aftosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45Regiões e potenciais estratégias para expansão da pecuária . . . . . . . . . . . . . . . 49

As regiões potenciais para expansão da pecuária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49Estratégias para expansão da produção pecuária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

Como conciliar conservação ambiental e pecuária na Amazônia? . . . . . . . . . . . . . . 53Cenário de predominância do livre mercado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53Cenário de intervenção governamental estratégica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

Criar Unidades de Conservação e combater a ocupação ilegal de terras devolutas . . 54Aperfeiçoar a gestão ambiental nas terras privadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

Anexo I- Métodos: Características da pecuária na Amazônia e motivospara seu crescimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61Anexo II- Métodos: Fatores que afetarão o futuro da pecuária . . . . . . . . . . . . . . . 65Anexo III- Categorias de investimentos do FNO Normal,Especial e Total entre 1989 e 2002. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

ÍNDICE

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Tabela 1 - Produtividade de criação de gado de corte em pastos plantados em

larga escala (5 mil animais) nas regiões mais produtivas da Amazônia e em outras

regiões do Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

Tabela 2 - Lucratividade e preços real e teórico de pastagens em regiões produtoras

da Amazônia e de São Paulo (Fonte: Barros et al., 2002). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

Tabela 3 - Lucratividade, produtividade e retorno sobre investimento na pecuária

no Centro-Sul e nas principais regiões produtoras da Amazônia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Tabela 4 - Distribuição dos investimentos do FNO rural entre 1989 e 2002.

Valores (em milhares de US$) de dezembro de 2002. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

Tabela 5 - População residente e rebanho bovino no Brasil, nas regiões e nos

Estados amazônicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

Tabela 6 - Mudança no consumo per capita de carne no Brasil em diferentes

classes de renda entre 1987 e 1996. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

Tabela 7 - Efeitos do asfaltamento de estradas e do aumento de preço de

carne para exportação na área potencialmente viável para pecuária. . . . . . . . . . . . . . . . . 51

LISTA DE TABELAS

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Evolução do rebanho bovino na Amazônia Legal e no restante do Brasil

entre 1990 e 2003. Fonte: IBGE, 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

Figura 2 - Evolução do rebanho bovino nos Estados da Amazônia Legal entre

1990 e 2003. Fonte: IBGE, 2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

Figura 3 - Taxa média de crescimento anual do rebanho bovino nos Estados da

Amazônia Legal e no restante do Brasil entre 1990 e 2003. Cálculo dos

autores sobre dados do IBGE, 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

Figura 4 - Localização de frigoríficos e laticínios registrados no SIF e o

desmatamento na Amazônia (2003). Fonte do desmatamento: Inpe, 2003. . . . . . . . . . . . 21

Figura 5 - Valores nominais do preço do boi gordo em São Paulo e nos

principais Estados produtores amazônicos entre janeiro de 1998 e

setembro de 2002 (Fonte: Anualpec, 2003). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

Figura 6 - Eixos rodoviários, Estados e municípios selecionados para o levantamento. . . . 32

Figura 7 - Cadeia de comercialização de bovinos vivos na Amazônia. . . . . . . . . . . . . . . . 33

Figura 8 - Destino da venda de animais vivos por região produtora na Amazônia. . . . . . . 33

Figura 9 - Cadeia de comercialização da carne dos frigoríficos estudados na Amazônia. . . 35

Figura 10 - Destino da venda da carne dos frigoríficos estudados na Amazônia. . . . . . . . 35

Figura 11 - Exportações brasileiras de carne bovina (em milhares de toneladas

equivalente carcaça) (Fonte: Anualpec, 2003). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

Figura 12 - Evolução do controle da febre aftosa no Brasil entre 1998 e 2005

(Fonte: Brasil, 2004 e Indea). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

Figura 13 - Projeções do preço potencial pago ao produtor (na porteira da fazenda) de

acordo com cenários: A – Base: preço de transporte coletado neste trabalho com

infra-estrutura atual e preço de comercialização (frigoríficos) em 2000; B: equivalente

ao cenário base mais o asfaltamento da Cuiabá-Santarém e do trecho paraense da

Transamazônica; e C: aumento de 10% no preço de comercialização nos principais

pontos potenciais de exportação da Amazônia (Belém, Santarém e Manaus) e o

asfaltamento da Cuiabá-Santarém e da Transamazônica entre sua interseção com a

Cuiabá-Santarém e Marabá. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

Figura 14 - Potenciais zonas de expansão da pecuária indicadas por focos de calor em

florestas no bioma Amazônia. Focos de calor são indícios de incêndios e queimadas

identificados por satélites. Fonte dos focos de calor: Inpe em www.inpe.gov.br. . . . . . . . . 52

Figura 15 - Modelo teórico de expansão da fronteira de acordo com o aumento no

preço do gado e as mudanças de custos de transporte. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

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Entre 1990 e 2003, o rebanho bovinoda Amazônia Legal cresceu 140% epassou de 26,6 milhões para 64 mi-

lhões de cabeças. Neste período, a taxa médiade crescimento anual do rebanho na região(6,9%) foi dez vezes maior que no restante doPaís (0,67%). Estimamos que a renda brutado abate de bovinos em 2003 na região foi decerca de R$ 3,5 bilhões – o que revela sua im-portância para a economia regional. Entretan-to, o crescimento da pecuária preocupa pelosseus impactos ambientais e ecológicos, princi-palmente os associados ao desmatamento. Defato, em uma pesquisa de opinião no Brasil,88% dos entrevistados responderam que a pro-teção das florestas deveria aumentar e 93%acreditavam que a proteção ambiental não pre-judicava o desenvolvimento do País. Os impac-tos ambientais do crescimento da pecuária tam-bém atraem a atenção internacional e podemser usados para criar barreiras contra a expor-tação de carne da região – especialmente paraos países mais desenvolvidos. Portanto, o cres-cimento da pecuária na região deverá conside-rar seus impactos ambientais e ecológicos.

Este livro – baseado em revisão da literaturae em análises inéditas de dados secundários ecoletados pelos seus autores – analisa os fato-res que levaram ao rápido crescimento da pecu-ária na Amazônia, avalia os cenários do futurodessa atividade na região e propõe políticas quetêm o potencial de conciliar o desenvolvimentoda pecuária com a conservação ambiental.

A Distribuição e Crescimento daPecuária na Amazônia

Segundo o IBGE, o rebanho amazônico em2003 era concentrado em quatro Estados (MatoGrosso, Pará, Tocantins e Rondônia) que possuí-

am 86% do rebanho regional. Mato Grosso e Paráeram os principais produtores somando 59% dorebanho. Entre 1990 e 2003, Rondônia passoude quinto para terceiro produtor da região. Ostrês principais Estados produtores em 2003 (MT,PA e RO) contribuíram com 81% do crescimentodo rebanho entre 1990 e 2003. As maiores taxasde crescimento neste período ocorreram em Ron-dônia (14% ao ano), Acre (12,6%/ano), MatoGrosso (8%/ano) e Pará (6%/ano). As taxas decrescimento nos menores produtores pecuáriosda região – Amapá (1,2%/ano), Roraima (1,6%/ano) e Amazonas (4,4%/ano) – foram baixasem relação aos principais produtores da região;ainda assim, suas taxas de crescimento forammaiores do que no restante do Brasil (0,7%/ano).

Causas do Crescimento da Pecuáriana Amazônia

O crescimento da pecuária foi determinadopor vários fatores e ocorre em diferentes tiposde sistema de produção. Os dados de campo e aliteratura indicam a coexistência de pelo menosduas situações quanto à produtividade do setor.Uma pecuária mais produtiva que, segundo oIBGE, utilizava uma lotação média de 1,38 ani-mal por hectare em 1995 e outra, cuja lotaçãomédia era de apenas 0,50 cabeça/ha. A seguirdescrevemos os principais fatores associados aocrescimento de ambos os padrões de pecuária.

Lucratividade, baixo preço da terra e pro-dutividade. A pecuária cresceu na região por-que tende a ser mais lucrativa que em outrasregiões. Isso é possível devido aos baixos preçosda terra na região e a maior produtividade daspastagens nos principais centros pecuaristas.

Estimamos que o retorno sobre o investi-mento na pecuária nas principais regiões pro-dutoras da Amazônia em criações em larga

SUMÁRIO EXECUTIVO

13

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• Pecuária na Amazônia: tendências e implicações para a conservação ambiental

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escala (5 mil animais) é significativamentemaior do que na região Centro-Sul do Brasil. Porexemplo, a taxa média de retorno do investi-mento no sistema de cria-recria-engorda emlarga escala nas principais regiões produtorasda Amazônia (lucro líquido sobre o patrimôniode 4,6%) foi 35% maior do que no Centro-Suldo Brasil (lucro líquido sobre patrimônio de3,4%). Outros sistemas de criação em larga es-cala também são significativamente mais lucra-tivos. Os sistemas de média escala, com apenas500 animais, também apresentaram o mesmopadrão de lucratividade e retorno do investimentodas criações de larga escala, mas não mostra-ram diferenças significativas entre Centro-Sul eAmazônia em nossa análise.

De fato, o retorno sobre o investimento naregião pode ser ainda mais atrativo na Ama-zônia considerando o potencial de valorizaçãoda terra. Por exemplo, foi estimado que a taxainterna de retorno do investimento em pecuá-ria, considerando a valorização da terra naAmazônia, chega a ser 34% maior que a taxade retorno sem incluir a valorização da terra(respectivamente 15,5% versus 11,5%). Por-tanto, a maior lucratividade da pecuária naregião estimula investimentos no setor.

Essa alta lucratividade na Amazônia resultade duas vantagens principais em relação a ou-tras importantes regiões pecuaristas no Brasil.A principal delas é o baixo preço da terra quepermite a produção com um investimento rela-tivamente pequeno. O preço das terras em pas-tagem na Amazônia foi, entre 1970 e 2000, decerca de cinco a dez vezes mais baixo que emSão Paulo e, em 2002, equivalia de 35% a 65%do preço praticado no Centro-Sul. No caso daAmazônia, o preço da terra é o principal custoda pecuária extensiva praticada pela maioria dosfazendeiros na região. Os preços de pastagensna região Centro-Sul aumentaram porque emparte destas terras é possível praticar agricultu-ra mecanizada (por exemplo, grãos ou cana-de-açúcar). Nos últimos anos, a agricultura nessasáreas se tornou mais lucrativa do que as pasta-gens devido ao aumento dos preços dos grãos eaos ganhos de produtividade da agricultura. Partedessas pastagens mais caras está sendo trans-

formada em plantios agrícolas. Por outro lado, opreço da terra em boa parte da Amazônia é re-lativamente baixo porque ainda não existem usosalternativos à pecuária. Portanto, o preço da terranessas áreas é determinado apenas pela expec-tativa de lucratividade da pecuária de corte que,em geral, é menor que a lucratividade da agri-cultura mecanizada.

A outra vantagem é a produtividade mais altadas pastagens nas principais regiões produtorasda Amazônia (sul do Pará, Mato Grosso, Rondô-nia) em relação às outras regiões do Brasil. Es-timamos que a produtividade média de váriossistemas de criação em larga escala na Amazô-nia foi cerca de 10% maior do que no restantedo Brasil. A pecuária mais produtiva dessa re-gião tende a se localizar onde há boa distribui-ção de chuvas – ou seja, acima de 1.600 mm/ano e abaixo de 2.200 mm/ano em uma regiãoque corresponde a cerca de 40% da Amazônia.Outra justificativa para essa alta produtividade,segundo pecuaristas, é a ausência de geadas.

A maior produtividade aliada ao menor preçodas pastagens é suficiente para compensar osmenores preços recebidos pelo gado na Ama-zônia; isto é, os produtores conseguem obtermaior retorno pelo investimento do que noCentro-Sul mesmo recebendo um preço pelogado de 10% a 19% mais baixo que o preçopago aos produtores no Centro-Sul.

Subsídios Naturais e Financeiros. Além domelhor retorno do investimento nas regiões maisprodutivas, a pecuária da Amazônia contou comvantagens adicionais para sua expansão expres-siva. Por exemplo, o acesso relativamente fácila terras públicas e a baixa aplicação da lei flo-restal permitem o acúmulo de capital por meioda exploração ilegal de madeira; parte dessecapital é investida na pecuária. Além disso, osfundos constitucionais destinados à AmazôniaLegal emprestam dinheiro a taxas de juros de6% a 10,75% ao ano (bem abaixo da praticadano mercado), permitem descontos de 15% a25% para produtores adimplentes e possibili-tam que associações contratem crédito em nomede pequenos produtores que não possuem títu-lo definitivo das terras. Entre 1989 e 2002, oBanco da Amazônia emprestou U$ 5,8 bilhões

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Eugênio Arima • Paulo Barreto • Marky Brito

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do FNO rural na Amazônia (excluindo Mato Gros-so e Maranhão). Cerca de 40% desses recursos– ou US$ 2,36 bilhões – foram destinados dire-tamente para a pecuária bovina.

O Papel do Mercado. Frigoríficos localizadosnas regiões pecuaristas mais produtivas da Ama-zônia abastecem mercados nacionais, principal-mente o Nordeste e o Sudeste. Em 2000, 87%da carne produzida pelos frigoríficos era destina-da ao mercado nacional, enquanto apenas 13%ficavam dentro da própria Amazônia. Portanto, aAmazônia é uma exportadora líquida de carnebovina para outros Estados brasileiros. Além dis-so, frigoríficos de Mato Grosso, Rondônia e To-cantins já exportam para outros países.

A Pecuária de Baixa Produtividade. A pe-cuária de baixa produtividade na Amazônia pro-vavelmente está associada aos seguintes fato-res: (i) ocupação especulativa de terras em no-vas fronteiras agropecuárias por meio de plan-tio de pasto sem limpeza apropriada do solo (ape-nas com desmatamento e queimada) e baixaadoção de tecnologia de criação animal; (ii) ocu-pação inadequada de terras de baixo potencialagropecuário, especialmente em regiões com altapluviosidade e solos pobres; e (iii) degradaçãodas pastagens resultante da compactação dosolo, do esgotamento de nutrientes e do uso degramínea pouco adaptada à região. A ocupaçãode terras de baixo potencial agrícola é especial-mente preocupante, pois gera impactos ambi-entais e não produz retornos econômicos e soci-ais expressivos. Em 1995, 6,8 milhões de hec-tares – ou o equivalente a 14% das áreas alte-radas dos estabelecimentos agrícolas eram “ter-ras produtivas não utilizadas” na Amazônia Le-gal, segundo o IBGE. Essa classificação do IBGEé um indicador aproximado da extensão das ter-ras degradadas na região.

Tendência de Aumento da Produção

Diversos fatores deverão contribuir para umcrescimento ainda maior da pecuária de cortena Amazônia em longo prazo. Um deles é ocontrole da febre aftosa, que está possibilitandoa exportação de carne de alguns Estados da

região. Mato Grosso, Tocantins, Rondônia eAcre, que possuem 68% do rebanho, já estãocredenciados a exportar. O sul do Pará tam-bém está avançando no seu controle.

Os focos de aftosa descobertos em MatoGrosso do Sul em outubro de 2005 provavel-mente não afetarão no longo prazo as expor-tações de carne para os atuais compradores.Entretanto, poderá adiar a possibilidade deabrir novos mercados importantes. Portanto,o crescimento adicional das exportações de-penderá grandemente da eficácia do controledesta doença nos próximos anos.

Se o controle da aftosa for mantido e ampli-ado, a região poderá atender uma demanda cres-cente de carne bovina. A demanda cresceriadevido: (i) o aumento de renda em países emdesenvolvimento que tende a elevar o consumode carne per capita - em particular nas camadasmais pobres da população; (ii) o aumento dapopulação nos países em desenvolvimento; (iii)à ocorrência de casos da doença da vaca louca(encefalopatia espongiforme bovina - BSE) naEuropa e América do Norte que poderão aumen-tar a demanda por carne de criações extensivasem pastagens, que é o caso da Amazônia e (iv)devido acordos para a diminuição ou completaremoção dos subsídios aos agricultores da UniãoEuropéia e dos Estados Unidos. Os custos deprodução na Amazônia são menores do que nes-tes países e, portanto, os produtores amazôni-cos poderão ganhar parte desses mercados.

A pecuária na Amazônia também seria es-timulada por causa da redução de pastos noCentro-Sul do Brasil. A substituição de pastospela agricultura intensiva continuaria porquea rentabilidade desta tende a ser maior do quea rentabilidade das pastagens e há projeçõesde aumento expressivo da produção de grãosno Brasil na próxima década.

Finalmente, investimentos em infra-estru-tura planejados para a Amazônia – como oasfaltamento da Rodovia BR-163 (Cuiabá-San-tarém), de um trecho da BR-364 no Acre e daBR-319 (Manaus - Porto Velho) – tornariam apecuária da região ainda mais competitiva.

Projetamos de que forma a abertura domercado para exportação de carne da Amazô-

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• Pecuária na Amazônia: tendências e implicações para a conservação ambiental

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nia – resultante da expansão do controle dafebre aftosa – e o asfaltamento de estradaspoderiam afetar a localização da pecuária naregião. Para isso, utilizamos o preço do gadopago ao produtor (preço na porteira da fazen-da) como um indicador substituto da viabili-dade e lucratividade da pecuária. O asfalta-mento do trecho paraense da Cuiabá-Santa-rém e de parte da Transamazônica (entre Ma-rabá e Altamira) aumentaria em 30,4 mil km2

a zona em que o preço seria atrativo para pro-dução de carne (acima de R$ 400,00 por to-nelada viva – condições do ano 2000) em re-lação à situação atual (sem asfaltamento).

Na situação de asfaltamento e de controle dafebre aftosa – que permitiria aos produtores ob-ter um preço 10% maior pela carne – a área compreços atraentes para a pecuária aumentaria em290 mil km2. Além disso, o principal impacto des-se cenário seria em uma área de 657 mil km2,que atualmente é apenas marginalmente atrati-va (preço por tonelada viva entre R$ 400,00 e R$600,00) e que passaria a ser bastante atrativaeconomicamente (com preço acima de R$ 600,00por tonelada viva), totalizando 3,4 milhões dekm2, dos quais apenas 526 mil km2 (15%) já eramdesmatados em 2001. A pecuária provavelmen-te não se estabeleceria em toda essa área adici-onal por causa de limitações agro-climáticas paraa criação de gado – especialmente o excesso dechuvas em algumas zonas do Pará e Amazonas ea existência de Unidades de Conservação.

Entretanto, as projeções econômicas revelamque uma ampla região pode ser beneficiada peloasfaltamento e controle da febre aftosa. Essasmudanças poderão resultar em aumento do des-matamento nas terras já ocupadas e em terraspúblicas devolutas e até mesmo em Unidadesde Conservação pouco protegidas.

Como conciliar o crescimento dapecuária com conservação ambiental?

Diante deste panorama, recomendamos es-tratégias que possam conciliar os anseios lo-cais e regionais para aumentar a produçãoagropecuária na Amazônia com a conservaçãobiológica e ambiental. Esse modelo é baseadoem três princípios.

Criar unidades de conservação. É precisoproteger as terras públicas ricas em biodiversi-dade e ambientalmente sensíveis. A criação denovas Unidades de Conservação em regiões debaixo potencial agrícola seria a estratégia eco-nomicamente eficiente e politicamente menoscustosa para atingir esse objetivo. No entanto,será importante também proteger áreas de altointeresse biológico localizadas em zonas compotencial pecuário. Nesse caso, os custos políti-cos e financeiros seriam maiores devido à pres-são local para a utilização dessas áreas.

Combater a ocupação ilegal e promovero manejo de florestas públicas. É necessá-rio combater a ocupação ilegal e o desmata-mento de terras públicas florestadas. Assim, aescassez de terras baratas para expandir a pe-cuária estimularia os produtores a aumentarema produtividade nas áreas já desmatadas. Asflorestas públicas deveriam ser destinadas paraprodução (madeira e outros produtos) por meiode manejo florestal, o que permitiria conciliarcrescimento econômico e conservação.

Aperfeiçoar a gestão ambiental em ter-ras privadas. Para isso, será necessário: (i)fortalecer a fiscalização ambiental; (ii) dimi-nuir a impunidade contra crimes ambientais;(iii) garantir que os créditos públicos só sejamdestinados a proprietários rurais que respei-tem a legislação ambiental; e (iv) regulamen-tar a recomposição de Reserva Legal de acor-do com o novo código florestal. Como prevê ocódigo, a regulamentação envolverá o uso dozoneamento ecológico-econômico para definiras regiões em que proprietários rurais devemrecompor a vegetação nativa em até 80% ou50% da área total do estabelecimento.

Essa estratégia conjunta poderia direcionaros investimentos da pecuária para as áreas commelhor potencial agropecuário, estimular inves-timentos no aumento de produtividade dos pas-tos já existentes e melhorar a gestão ambien-tal nas terras privadas, bem como garantir aconservação de extensas áreas ricas em biodi-versidade. A efetiva aplicação dessa estratégiaserá importante também para proteger a pecu-ária regional de eventuais barreiras ambientaiscontra a exportação de carne para países de-senvolvidos. A idéia de impor barreiras ambi-entais nesses países poderá prosperar após aredução de subsídios para produção agrícola.

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O agro-negócio é um dos setores que mais têm contribuído para o cres- cimento econômico do Brasil nos

últimos anos. A pecuária bovina em particular,tem tido um papel de destaque nesse cenário.O Brasil tornou-se em 2003 o maior exportadorde carne bovina do mundo. Porém, grande par-te do crescimento da pecuária tem ocorrido naAmazônia, o que contribuiu para o aumento nastaxas de desmatamento, usado para limpar no-vas áreas para o plantio de pastos. A reação daopinião pública contra o desmatamento é con-siderável. Em uma pesquisa de opinião no Bra-sil, 88% dos entrevistados responderam que aproteção das florestas deveria aumentar e 93%declararam acreditar que a proteção ambientalnão prejudicava o desenvolvimento do País (Isa,2000). Além da reação nacional, a reação daopinião publica internacional contra o desma-tamento pode ser usada para criar barreiras am-bientais contra a exportação de carne da re-gião. Portanto, a continuação do crescimentoda pecuária na região deverá considerar seusimpactos ambientais e ecológicos.

Segundo dados do IBGE (2005), o rebanhobovino da Amazônia Legal cresceu de 26,6 mi-lhões de cabeças para cerca de 64 milhões en-tre 1990 e 2003 – resultado de uma taxa mé-dia de crescimento anual de 7%. No restantedo Brasil, o rebanho passou de 120 milhões para131 milhões no mesmo período – representan-do uma taxa média de crescimento anual de0,67%; uma taxa 10 vezes menor que na Ama-zônia. Isso refletiu na participação da pecuáriada Amazônia no rebanho nacional, que passoude 18% em 1990 para 33% em 2003.

O crescimento do rebanho bovino na Amazô-nia intriga, sobretudo, porque os dados agrega-dos sugerem que a produtividade da pecuáriabovina varia muito regionalmente. Os dados doúltimo censo agropecuário de 1995 revelam queos pastos mais produtivos, cuja lotação média

INTRODUÇÃO

era de 1,38 animal por hectare, correspondiama 20% da área total em pastos. Ao mesmo tem-po, esses dados mostram que quase sete mi-lhões de hectares estavam abandonados e queos pastos com lotações abaixo de 0,4 animal/hacorrespondiam a 40% da área total em pasta-gem. A coexistência desses dois tipos de pecuá-ria tem gerado confusão sobre a viabilidade eco-nômica da pecuária na Amazônia. Diversos es-tudos sobre pecuária de baixa produtividade le-vantam a hipótese de que parte do crescimentodo rebanho seria estimulado por motivos espe-culativos (como o ganho pelo aumento do valorda terra ou como forma de conseguir a possedesta) e devido a subsídios governamentais (He-cht et al., 1988). A baixa produtividade tambémseria resultado da rápida perda de fertilidadenatural dos pastos (Hecht, 1985).

Outros estudos indicam que a produtividadeda pecuária em algumas regiões pode ser relati-vamente alta e resultar em taxas de retorno atra-tivas, seja logo após o desmatamento ou empastagens reformadas (Falesi, 1976; Mattos eUhl, 1994; Arima e Uhl, 1997; Barros et al.,2002; Margulis, 2003). E finalmente, Faminow(1997) argumenta que o crescimento da pecuá-ria na Amazônia estava mais relacionado à de-manda regional por carne e ao isolamento geo-gráfico da região do que a fatores relacionadosà produtividade. O crescimento populacional ur-bano na Amazônia e os altos custos de trans-porte de produtos pecuários do Sul e Sudestedo Brasil até a Amazônia teriam favorecido odesenvolvimento da pecuária regional, apesardos custos de produção mais elevados na re-gião. Portanto, ainda restam dúvidas sobre emquais áreas o crescimento da pecuária é justifi-cável pelo vigor econômico ou por distorções depolíticas públicas, de mercado e do uso abusivodo solo.

Os riscos e problemas ambientais associa-dos à pecuária são principalmente devidos aos

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desmatamentos. Os pastos plantados – quesubstituem florestas – ocupavam em 1995 77%da área em uso agrícola na Amazônia (IBGE,1996). O aumento do desmatamento em 2002e 2003 – que foi 39% maior que nos cinco anosanteriores1 – tem aumentado ainda mais as pre-ocupações ambientais. Os desmatamentosameaçam a biodiversidade e podem causarmudanças climáticas negativas em escalas re-gionais e globais (Laurance, 1997; Laurance etal., 1998; Goudie, 2001; Bierregaard Jr. et al.,2002). Entre elas, a alteração da circulação devapor de água reciclado na Amazônia que, porsua vez, pode reduzir as chuvas na região Cen-tro-Sul brasileira, onde se concentra a maiorparte da produção agrícola nacional.

As discussões sobre os efeitos globais dodesmatamento devem aumentar ainda mais apartir da efetivação do protocolo de Quioto, emfevereiro de 2005. O protocolo obriga os paísessignatários mais desenvolvidos2 a reduzir asemissões de gases que contribuem para asmudanças climáticas. Há debates nos quais sediscute a possibilidade de também obrigar paí-ses em desenvolvimento – inclusive o Brasil – alimitar suas emissões no futuro (ver exemploem Reuters, 2004). Se o Brasil for obrigado alimitá-las, haverá forte pressão para reduzir osdesmatamentos, pois estes foram responsáveispor cerca de 70% das emissões de gases doPaís em 1994 (Brasil, 2004a).

A expansão da pecuária também está associ-ada a problemas ambientais e sociais localmen-te – queimadas prejudicam a saúde humana. Ea ocupação de novas fronteiras tem sido associ-ada a conflitos agrários, à ocupação ilegal deflorestas públicas e ao trabalho escravo (CPT,2003; Radiobrás, 2005).

Apesar dessas controvérsias e preocupações,governos estaduais e o governo federal estão

investindo em políticas que podem permitir umcrescimento ainda maior da pecuária na região.Primeiro, o Governo Federal pretende asfaltarrodovias como a Cuiabá-Santarém (BR-163), umtrecho da Transamazônica entre Marabá e Alta-mira e a BR-319 (entre Porto Velho – RO e Ma-naus – AM). Segundo, governos e setor privadovêm realizando uma campanha contra a febreaftosa3. O controle dessa doença e a melhoriade infra-estrutura poderiam aumentar as expor-tações de animais vivos e carne para os merca-dos interno e externo. A provável erradicaçãoda febre aftosa e o crescimento da demanda le-vantam três questões importantes: (i) os pro-dutores regionais aumentariam a produção viadesmatamento de novas áreas ou investiriamno aumento da produtividade das áreas já des-matadas? (ii) eventuais novos desmatamentostenderiam a ocorrer nas regiões já ocupadas ouem novas fronteiras? e (iii) quais as opções paraconciliar o eventual crescimento da pecuária coma conservação ambiental e ecológica?

Este livro apresenta um panorama da pecu-ária na Amazônia Legal e suas tendências dedesenvolvimento. Ele está dividido em três gran-des blocos que representam os objetivos espe-cíficos do presente estudo: (i) oferecer umaexplicação para o crescimento da pecuária naAmazônia que considera tanto aspectos da ofer-ta como da demanda; (ii) projetar tendênciasda produção bovina na região, considerando omercado e as principais políticas públicas liga-das ao setor; e (iii) discutir políticas com po-tencial de conciliar os objetivos sociais de de-senvolvimento econômico com a conservaçãoambiental. O livro é dirigido aos diversos ato-res interessados no desenvolvimento susten-tável na Amazônia. As análises foram basea-das em diversos estudos da literatura e dadosinéditos coletados em campo (ver anexos paramaiores detalhes sobre os métodos utilizados).

1 O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou um desmatamento médio de 2,35 milhões de hectarespor ano em 2002 e 2003, contra uma média de 1,68 milhão de hectares entre 1997 e 2001. Dados disponíveis em:<http://www.inpe.gov.br>2 Entre os países desenvolvidos, os Estados Unidos e a Austrália não ratificaram o documento e, portanto, não secomprometeram a reduzir a emissão de gases causadores de mudanças climáticas.3 A febre aftosa é uma doença viral altamente contagiosa que infecta todos os animais de casco fendido como bovinose caprinos. Apesar de não afetar a saúde humana, o controle dos importadores de produtos pecuários é rigoroso porquea doença reduz o crescimento e a eficiência reprodutiva dos animais. A febre aftosa pode também levar à morte,principalmente os animais jovens (De Cicco, 2004; OIE, 2004). O vírus é transmitido por vários meios incluindo salivado animal infectado, equipamentos usados na fazenda e vento em um raio de até 60 km no meio terrestre. Além disso,ele resiste por vários meses em carcaças congeladas, principalmente na medula óssea.

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A Amazônia Legal foi a principal res- ponsável pelo crescimento do reba- nho bovino nacional entre 1990 e

2003 (Figura 1). O rebanho amazônico em2003 era concentrado em quatro Estados (MatoGrosso, Pará, Tocantins e Rondônia) que pos-suíam 86% do rebanho regional. Mato Grossoe Pará eram os principais produtores somando59% do rebanho (Figura 2). O crescimento en-tre 1990 e 2003 foi mais expressivo nos quatroprincipais Estados produtores e no Acre - comtaxas médias anuais variando entre 4,5%, noTocantins e 14%, em Rondônia (Figura 3). Ocrescimento mais acelerado em Rondônia per-

A DISTRIBUIÇÃO DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA

mitiu que esse Estado passasse de quinto paraterceiro maior rebanho da região, superando oMaranhão e o Tocantins. Os menores produto-res pecuários da região (Amazonas, Roraima eAmapá) tiveram taxas de crescimento relativa-mente pequenas (Figuras 2 e 3). Os frigoríficose laticínios registrados no Serviço de InspeçãoFederal (SIF) do Ministério da Agricultura em2003 também estavam concentrados nos prin-cipais Estados produtores (Figura 4), indicandoas principais zonas produtoras e consumidorasna região. Como seria de se esperar, essa in-fra-estrutura está associada à distribuição es-pacial do desmatamento na região.

Figura 1 - Evolução do rebanho bovino na Amazônia Legal e norestante do Brasil entre 1990 e 2003. Fonte: IBGE, 2005.

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Figura 3 - Taxa média de crescimento anual do rebanho bovino nos Estadosda Amazônia Legal e no restante do Brasil entre 1990 e 2003. Cálculo dosautores sobre dados do IBGE, 2005.

Figura 2 - Evolução do rebanho bovino nos Estados da Amazônia Legal entre1990 e 2003. Fonte: IBGE, 2005

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Figura 4 - Localização de frigoríficos e laticínios registrados no SIF4 e o desmatamento naAmazônia (2003). Fonte do desmatamento: Inpe, 20035.

4 Disponível em:<http://www.ruralbusiness.com.br/industria.asp?secao=3)> Acesso em: dez. 2004.5 Disponível em: www.inpe.gov.br. Acessso em: dez. 2004.

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Nesta seção mostramos que a pe-cuária bovina na Amazônia cres-ceu motivada principalmente por

taxas de retorno do investimento maiores queem outras regiões produtoras do Brasil. Osprincipais fatores para a maior rentabilidadenas principais regiões produtoras da Amazô-nia são: a melhor produtividade resultante deboas condições agro-climáticas e o relativobaixo preço da terra na Amazônia. Essas con-dições foram suficientes para compensar omenor preço do gado na região em relação aoCentro-Sul. Além disso, a região contou comcapital vantajoso disponível para investimen-tos, na forma de crédito público subsidiado eoriundo da venda de madeira.

A produtividade da pecuária naAmazônia

A produtividade das pastagens na Amazô-nia é bastante variável dependendo das con-dições de manejo do pasto, qualidade genéti-ca do gado e diferenças climáticas regionais.Há evidências de regiões agro-climáticas daAmazônia e modelos de criação que atingemprodutividades maiores que a de outras regi-ões do Brasil. O último censo agropecuário doIBGE, realizado em 1995, revela que os pas-tos mais produtivos da Amazônia, que corres-pondiam a 20% do total de pastagens, tinhamuma lotação média de 1,38 cabeça por hecta-re. A lotação média da área restante (80%)da Amazônia era de apenas 0,50 cabeça/ha(Arima e Veríssimo, 2002).

AS CAUSAS DO CRESCIMENTO DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA

A pecuária mais produtivaA pecuária mais produtiva da Amazônia ten-

de a localizar-se nas zonas onde chove maisdo que no Centro-Sul – isto é, acima de 1.600mm/ano e abaixo de 2.200 mm/ano em umaregião que corresponde a cerca de 40% daAmazônia (Schneider et al., 2002). Nessa re-gião, que inclui sul do Pará, Tocantins, MatoGrosso e Rondônia, a produtividade de todosos sistemas de produção extensivos e em lar-ga escala (criação acima de 5 mil cabeças degado) é, em média, cerca de 10% maior queem outras regiões no Brasil (Tabela 1)6. Se-gundo pecuaristas do sul do Pará, a produtivi-dade nessa região é maior do que no Centro-Sul do Brasil por causa da ausência de geadase pela relativa abundância e distribuição dechuvas – o que aumenta a disponibilidade decapim (Arima e Uhl, 1997). Além disso, Mar-gulis (2003) observa que a umidade relativado ar e a temperatura mais alta também favo-recem o crescimento mais vigoroso dos capinsnessa parte da Amazônia de clima adequadopara pecuária – por exemplo, nos municípiosde Paragominas (Pará), Alta Floresta e Ji-Pa-raná (Mato Grosso). De fato, as taxas internasde retorno sobre investimentos em cria-recria-engorda na Amazônia mais produtiva (de 9%a 15%) são de 40% a 134% maiores do queem Tupã (6,4% - Margulis, 2003), que é umaimportante região de pecuária em São Paulo.

Em várias regiões da Amazônia, a maior pro-dutividade resulta da reforma de pastagens de-gradadas. Os pastos degradados geralmente sãoinfestados por plantas invasoras e o solo é com-pactado. A reforma de pasto consiste em remo-

6 Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre as outras regiões, talvez devido ao pequenonúmero de observações.

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ver as plantas invasoras, gradear o solo e plantarcapins mais adaptados à região, principalmenteo Brachiaria brizantha7 e, em alguns casos, adu-bar o solo. Mattos e Uhl (1994) mostraram que alotação em pastagens reformadas em Paragomi-

nas era de uma cabeça por hectare. Os animaiscriados nos pastos reformados eram abatidos seismeses antes do que no sistema convencionalextensivo em pastagens com plantas invasoras(popularmente denominadas de juquira).

7 O capim Brachiaria brizantha foi usado principalmente para substituir o capim colonião (Panicum maximun), que foi aespécie mais comum nas primeiras pastagens. Porém, o colonião é pouco resistente à seca e, portanto, teve baixodesempenho devido a veranicos na Amazônia. Outras espécies do gênero Brachiaria e leguminosas também são utilizadasem reformas de pastos, mas com menor freqüência.8 Segundo Tourrand e Veiga (2003), as deficiências de investimento e tecnológicas incluem: baixa qualidade de sementes,falta de mineralização do gado ou uso de sais minerais inapropriados e baixa higiene de instalações.

A pecuária de baixa produtividadeA pecuária de baixa produtividade na Ama-

zônia pode ser explicada por, pelo menos, trêsmotivos principais. Primeiro, os ocupantes ini-ciais – que desmatam e queimam a floresta –geralmente não investem na limpeza apropri-ada do solo. Dessa forma, os pastos iniciaiscompetem com tocos e rebrotos da vegetaçãoprimária. Os pastos relativamente sujos resul-tam do baixo investimento, seja por falta decapital ou porque esses ocupantes apenas que-rem estabelecer a posse da área para vendê-la posteriormente. A produtividade nessas áre-as também é reduzida, devido à baixa adoçãode tecnologias de criação animal (Margulis,2003; Tourrand e Veiga, 20038). Entretanto,se as terras estiverem localizadas em regiãocom bom potencial pecuário e a infra-estrutu-ra melhorar, esses ocupantes obterão lucro

Tabela 1 - Produtividade de criação de gado de corte em pastos plantados em larga escala (5mil animais) nas regiões mais produtivas da Amazônia e em outras regiões do Brasil.

Obs.: Estimativas feitas pelos autores usando dados do Anualpec (2003). As nove principais regiões produtoras daAmazônia incluíram: Barra do Garças, Alta Floresta, Pontes e Lacerda no Mato Grosso; Redenção e Paragominas noPará; Ariquemes em Rondônia; Gurupi e Araguaína no Tocantins). Do Centro-Sul do Brasil consideramos 14 regiõesprodutoras. Valores em @/unidade animal/ano foram multiplicados pela capacidade de suporte (unidade animal/ha) para obter os valores de produtividade por hectare.

vendendo-as para outros produtores mais efi-cientes, que estabelecem fazendas maiores econsolidam regiões produtoras. Esses produ-tores finais – mais capitalizados e com maioracesso à informação – capturam as vantagensda produção em maior escala e mais intensivaem tecnologia e podem obter lucros maiores.Os ocupantes iniciais beneficiam-se principal-mente pela ocupação e eventual valorizaçãoda terra (Schneider, 1995; ver também dis-cussão em Margulis, 2003).

No caso dos pequenos produtores, a dura-ção da colonização inicial de uma propriedadevaria regionalmente e pode estar relacionadaao tempo necessário para converter a reservade floresta em pastagem. Seriam necessários,por exemplo, de 12 a 15 anos para uma famí-lia converter entre 100 hectares e 150 hecta-res de floresta em pastagens na Transamazô-

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nica (Tourrand e Veiga, 2003). Depois desseperíodo, muitos colonos vendem as terras emigram para novas fronteiras de ocupação embusca de novas áreas9.

A segunda causa da baixa produtividade dapecuária é a ocupação de terras de baixo po-tencial agropecuário – especialmente regiõescom alta pluviosidade e ocorrência de solos debaixa fertilidade ou mal drenados. Por exem-plo, Chomitz e Thomas (2001) estimaram quea lotação dos pastos diminui, em média, de0,38 para 0,27 cabeça por hectare quandoocorre um aumento de 1.600 mm para 2.300mm de chuva, excluindo o efeito de outros fa-tores como a distância até rodovias e merca-dos, o tipo de solo, o tamanho médio das pro-priedades e a quantidade de mão-de-obra uti-lizada.10 A alta pluviosidade pode afetar a pro-dutividade da pecuária de várias maneiras,incluindo: a alta incidência de plantas invaso-ras, os altos custos de manutenção de estra-das, a perda mais rápida dos nutrientes do solopor lixiviação, percolação e erosão e a alta in-cidência de pragas e doenças.

Análises adicionais revelam a importânciada alta pluviosidade no detrimento da produ-tividade. Quase um quarto das áreas desma-tadas da Amazônia até 2003 estava em zonascom pluviosidade acima de 2.200 mm. Em1995, de acordo com dados do IBGE, 21% dosestabelecimentos rurais nessa zona eram “ter-ras produtivas não utilizadas” (Schneider etal., 2002). Vale notar que essa zona inclui áreascom boa infra-estrutura e proximidade domercado consumidor (como a região metro-politana de Belém), enquanto nas regiões depecuária mais produtiva do Pará, como Reden-ção, Marabá e Paragominas, as “terras produ-tivas não utilizadas” equivaliam a apenas 2%

a 3% da área dos estabelecimentos rurais(IBGE, 1996). A área total de estabelecimen-tos rurais na classe “terras produtivas não uti-lizadas” na Amazônia Legal chegava a 6,8 mi-lhões de hectares em 1995 (IBGE, 1996) –oequivalente a 14% da área alterada nestas pro-priedades. Esse índice era 85% maior do queno restante do Brasil.

Finalmente, a baixa produtividade resultada degradação das pastagens devido à com-pactação do solo, à baixa resistência da espé-cie de capim plantada inicialmente e ao esgo-tamento dos solos em regiões de ocupaçãoantiga. Parte desses pastos pode se tornar maisprodutiva por meio da renovação de pastagens.O fato de que o crédito público subsidiado naAmazônia vem sendo largamente usado paraa pecuária pode indicar uma tendência de au-mento de reforma de pastagem em algumasdas principais regiões produtoras (ver seçãosobre disponibilidade de crédito). Entretanto,é importante notar que parte dos pastos de-gradados dificilmente será transformada empastos de alta produtividade. Isso porque oterreno em parte das fazendas é impróprio parao uso de máquinas agrícolas necessárias pararecuperar as pastagens. Um dos autores des-te livro observou, em janeiro de 2005, no les-te do Maranhão (ao longo da Rodovia BR-222)e no leste do Pará (ao longo da Rodovia Be-lém-Brasília), que os fazendeiros não recupe-ram os pastos nos trechos de alto declive, poisé inviável gradear o solo usando tratores. Umaparcela desses trechos estava intensamentedegradada, incluindo erosão; outros trechosestão se tornando florestas secundárias11.

Em suma, é plausível a coexistência de umapecuária com produtividade relativamente bai-xa e uma pecuária de produtividade média e

9 Entretanto, vale notar que em algumas regiões com bons solos, os pequenos produtores conseguem se manter noslotes pequenos e médios com a pecuária e outras culturas mais rentáveis – como o cacau, em trechos da Transamazônica(ver discussão em Tourrand e Veiga, 2003).10 No Acre, foi observada a partir de 1995 a morte de pastagens de Brachiaria brizantha devido ao encharcamentotemporário em algumas áreas. A B. brizantha foi substituída por outras variedades com bastante sucesso (J. Valentin,Pesquisador da Embrapa, comunicação pessoal). Segundo J. Valentin, existem gramíneas bem adaptadas ao climamais chuvoso, como Brachiaria mutica, B.humidicola, B. arrecta, entre outras e, por isso, não há dificuldades técnicaspara criar gado em regiões mais chuvosas. Entretanto, os dados agregados do IBGE sugerem que os custos médios deprodução são maiores em regiões mais chuvosas (acima de 2.200 mm). Portanto, sugerimos pesquisas empíricas decampo para verificar a viabilidade da expansão da pecuária nas áreas mais úmidas da região.11 A recuperação florestal pode ser lenta em algumas áreas, em decorrência da alta freqüência de incêndios.

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• Pecuária na Amazônia: tendências e implicações para a conservação ambiental

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alta bem-sucedidas. As principais regiões pro-dutoras da Amazônia são mais produtivas queno Centro-Sul do Brasil, o que contribui paraos menores custos médios de produção obser-vados, como veremos a seguir.

A vantagem do baixo preço daterra na Amazônia

Os custos de produção da pecuária de cortena Amazônia são mais baixos que no resto doPaís, principalmente devido ao menor preçoda terra naquela região. Os preços de pasta-gens plantadas no Pará corresponderam, emmédia (e mediana), a apenas 11% do preçodos pastos em São Paulo, entre 1977 e 2000(Fundação Getúlio Vargas, vários anos). Nomesmo período, os preços das pastagens emRondônia e Mato Grosso equivaleram, respec-tivamente, a 15% e 21% dos preços em SãoPaulo. Dados de 2002 revelam que os preçosde pastagens nas principais regiões pecuaris-tas da Amazônia (variando de R$ 1.200,00 aR$ 2.000,00 por hectare) correspondiam a36% e 61% do valor de pastagens em Tupã,uma importante região de pecuária em SãoPaulo (Tabela 2).

Essa diferença é muito importante, pois ocusto de capital investido na terra é o principalcomponente nos custos de produção em umafazenda de criação extensiva de gado. Outrosinsumos para produção pecuária como aramespara cerca, maquinário e medicamentos, sãomais caros na Amazônia. Porém, esses insu-mos correspondem a apenas 15% a 20% dos

custos totais decorrentes do uso de um mode-lo extensivo de criação (Arima e Uhl, 1997).

Os preços de pastagens no Centro-Sul doBrasil são mais altos que na Amazônia devidoa dois fatores principais. Primeiro, as melho-res condições para agricultura intensiva emalgumas regiões no Centro-Sul favoreceram asua valorização. Assim, o preço das pastagensem terras que têm aptidão agrícola nessa re-gião reflete em parte ou totalmente o uso al-ternativo agrícola12. O caso das pastagens emTupã (São Paulo) é ilustrativo. O preço teóri-co13 da pastagem nessa região seria de cercade R$ 1.300,00/ha, considerando a lucrativi-dade de R$ 65,00/ha e uma taxa de descontomínima de 5% em aplicações financeiras semrisco (Tabela 2). Entretanto, o preço médio daspastagens na região de Tupã é de cerca de R$3.300,00/ha, ou 2,5 vezes maior que o preçoteórico. Outro indicativo dessa discrepância:para que o preço do pasto em Tupã refletisse alucratividade de R$ 65,00/ha da pecuária, ataxa de desconto deveria ser de apenas 2%,uma taxa muito baixa até mesmo para regiõesconsolidadas, onde os riscos são pequenos.

Em médio prazo, o uso do solo em regiõescom pastos valorizados além do normal ten-derá a ser substituído por culturas mais rentá-veis14. De fato, isso já vem ocorrendo. Porexemplo, pecuaristas que ocupavam terras compotencial agrícola no Centro-Sul do Brasil es-tão se tornando agricultores ou vendendo asterras para investir em pecuária em outras re-giões. Arima e Uhl (1997) encontraram que44% dos pequenos e 28% dos médios fazen-deiros entrevistados no sul do Pará venderam

12 O potencial de uso agrícola pode influenciar o preço da pastagem tanto quando uma pastagem está prestes a sersubstituída por cultivos agrícolas mais rentáveis, como quando a terra pode ser usada com culturas intercalares – ouseja, um período como pasto e outro como cultivos agrícolas quando os preços de grãos estão altos.13 O preço teórico da terra reflete a expectativa de renda a ser obtida com seu uso atual e futuro, considerando umataxa de desconto aceitável pelos proprietários rurais.14 Em teoria – isto é, em um mercado de terras perfeitamente competitivo - as terras em pastagens com aptidão paracultivos agrícolas mais rentáveis que a pecuária seriam imediatamente transformadas em cultivos agrícolas. Entretanto,na realidade, a alocação eficiente de uso da terra não é instantânea. Os pecuaristas podem, por exemplo, resistir àmudança de uso do solo esperando mudanças no mercado, como o aumento do preço do gado ou a redução dos preçosdos grãos. E mesmo aqueles que estão decididos a mudar o uso do solo podem precisar de certo tempo de aprendizadosobre novas culturas agrícolas antes de substituir as pastagens.

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suas fazendas em outros Estados para investirem áreas bem maiores no Pará.

Outro fator que eleva o preço das pasta-gens no Centro-Sul é a proximidade do mer-cado consumidor, mesmo para aquelas semum uso alternativo à pecuária. O menor cus-to de transporte da carne até os principaismercados consumidores gera uma renda eco-nômica maior, que é transferida para o preçoda terra, considerando os outros fatores,como a produtividade, constantes. Essatransferência se dá através de preços do boigordo relativamente mais altos no Centro-Sul. Por exemplo, o preço do boi em São Paulofoi cerca de 10% a 20% maior que nos prin-cipais produtores da Amazônia entre janeirode 1998 e dezembro de 2002 (Figura 5). Omenor preço pago ao produtor na Amazôniareflete o desconto do custo de transporte dogado (ou da carne) da fazenda (ou do frigo-rífico) até o mercado consumidor do Centro-Sul. Barros et al., (2002) creditam o menorpreço do gado na Amazônia às restrições decomércio devido à febre aftosa. Entretanto,mesmo quando o transporte de animais vi-vos não era proibido, o preço do gado naAmazônia (exceto na região de Manaus) já

era inferior ao preço pago no Centro-Sul (Ari-ma e Uhl, 1997).

Nas principais regiões produtoras da Ama-zônia, os preços de pastagens correspondem,em geral, aos preços teóricos, de acordo comas lucratividades estimadas e taxas de des-conto em torno de 10% (Tabela 2). Isso revelaque, em geral, essas terras parecem estar sen-do usadas conforme o seu maior potencial degeração de renda e não há outros usos alter-nativos mais rentáveis. Entretanto, o preço depastagens em Redenção e Santana do Ara-guaia, no sul do Pará, estavam relativamentealtos (Tabela 2). Isso pode ser reflexo damaior proximidade dessas regiões com os mer-cados ou o potencial para cultura de grãos nosul do Pará que começa a se desenvolver.

Enfim, os baixos preços da terra na Amazô-nia em relação ao Centro-Sul brasileiro expli-cam, em parte, o crescimento do rebanho naAmazônia, apesar de ela estar longe dos prin-cipais mercados consumidores. Os preços daspastagens na Amazônia são menores que noSudeste por causa de sua maior distância atéo mercado consumidor e da ausência de usoalternativo agrícola mais rentável na maiorparte da região.

Figura 5 - Valores nominais do preço do boi gordo em São Paulo e nosprincipais Estados produtores amazônicos entre janeiro de 1998 e se-tembro de 2002 (Fonte: Anualpec, 2003).

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• Pecuária na Amazônia: tendências e implicações para a conservação ambiental

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O retorno do investimento empecuária na Amazônia

No início desta seção mostramos que a pe-cuária mais produtiva na Amazônia tem duasvantagens principais: menor preço da terra emaior produtividade. Entretanto, os preços doboi gordo na região são menores. Por isso, olucro por hectare da criação de gado em largaescala (5 mil animais) na região amazônica écerca de 10% menor que na região Centro-Sul18 (Tabela 3).

Portanto, para explicar a expansão da pe-cuária na região, o baixo preço da terra e amaior produtividade teriam de ser suficientespara compensar os menores preços do boi –ou seja, a taxa de retorno do investimentodeveria ser maior que em outras regiões. Defato, o retorno sobre o investimento, definido

como a porcentagem do lucro líquido sobrepatrimônio, é significativamente superior naAmazônia nas criações em larga escala (5 milanimais) por causa dos baixos preços da ter-ra (Tabela 3). A taxa de retorno da pecuárianas principais regiões produtoras da Amazô-nia (4,58%) é 35% superior ao restante doBrasil (3,38%) no sistema de cria-recria-en-gorda. Os mesmos resultados são observa-dos em outros sistemas com escala. Porém,os sistemas de média escala, com apenas 500animais, não mostram diferenças significati-vas entre Centro-Sul e Amazônia, embora opadrão de lucratividade e retorno do investi-mento sejam os mesmos das criações em lar-ga escala.

Outro fator que contribui para explicar aexpansão da pecuária na Amazônia é a valo-rização da terra, que amplia a taxa de retor-

Tabela 2 - Lucratividade e preços real e teórico de pastagens em regiões produtoras daAmazônia e de São Paulo (Fonte: Barros et al., 2002).

15 Preço da terra com infra-estrutura já instalada (Barros et al., 2002).16 Para testar a hipótese de “supervalorização das pastagens no Centro-Sul”, utilizamos os valores de lucratividade epreços da terra encontrados por Barros et al. (2002) e calculamos o preço da terra teórico sob diferentes taxas dedesconto. Calculamos também a taxa de desconto necessária para igualar a lucratividade ao preço da terra. O preço daterra (P), em teoria, é a soma do valor presente do fluxo perpétuo da lucratividade e pode ser calculado dividindo-se alucratividade por ano pela taxa de desconto:

, onde “L” é a lucratividade anual e “r”, a taxa de desconto.

17 Taxa de desconto necessária para igualar a soma do fluxo de receitas com o preço da terra.18 As lucratividades médias por hectare para a Amazônia descritas por Margulis (2003) – de R$ 105/ha com valoresmáximos de até R$ 139/ha em Alta Floresta/MT – são bem mais altas que o valor médio calculado na Tabela 5 para aAmazônia (cerca de R$ 75/ha) a partir dos dados do Anualpec 2003. Esses valores mais altos provavelmente representamos limites máximos de lucratividade de fazendas grandes na Amazônia. A área média das fazendas analisadas por Margulis(2003) era de 6 mil hectares. Assim, economias de escala poderiam explicar a lucratividade mais alta de suas estimativas.

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no do investimento. Margulis (2003) estimouque a taxa interna de retorno do investimentoem pecuária, considerando a valorização daterra na Amazônia, era 34% maior que a taxade retorno sem incluir a valorização da terra(respectivamente 15,5% versus 11,5%); en-quanto que na criação de gado em Tupã (SP)não haveria perspectiva de elevação do pre-ço da terra. De fato, o potencial de valoriza-ção das terras na Amazônia é apontado porconsultores como uma grande vantagem doinvestimento em pecuária na região – espe-cialmente nas regiões com aptidão para agri-cultura ou com potencial para redução de cus-tos de produção na pecuária, considerandoterras baratas, áreas com grandes glebas dis-poníveis (ganho de escala) e perspectiva demelhoria de infra-estrutura (Ferraz et al.,2002).

Retorno sobre investimento na pecuáriade baixa produtividade

O que explicaria o investimento na pecuáriamenos produtiva? Aparentemente, a expectati-va de ganhos robustos com a pecuária e o aces-so relativamente fácil às terras devolutas expli-cam a ocupação de novas áreas, mesmo comuma pecuária inicialmente de baixa produtivi-dade. A corrida para ocupar novas terras públi-cas sugere que o preço de venda das terras apósessa ocupação é, em geral, atrativo o suficientepara compensar os riscos e custos envolvidosna ocupação (ver discussão em Margulis, 2003).Entretanto, a alta proporção de “terras produti-vas não utilizadas” em algumas regiões da Ama-zônia indica que a ocupação agropecuária foiequivocada em algumas regiões. É pouco pro-vável que o retorno do investimento para a ocu-pação dessas áreas tenha sido atrativo.

Tabela 3 - Lucratividade, produtividade e retorno sobre investimento na pecuária no Centro-Sul e nas principais regiões produtoras da Amazônia19.

19 Estimativas dos autores com dados do Anualpec, 2003.20 Inclui 19 regiões pecuaristas do Sudeste, Sul e Centro-Oeste do Brasil, exceto Mato Grosso.21 Inclui regiões pecuaristas nos Estados de Mato Grosso, Tocantins, Rondônia e Pará.

Disponibilidade de capital parainvestimento

Além do melhor retorno do investimento, apecuária da Amazônia contou com vantagensadicionais para sua expansão expressiva, in-cluindo o fácil acesso ao capital natural da flo-resta e o crédito público subsidiado.

Exploração de madeiraJuntamente com a terra, a madeira tem sido

o capital natural mais acessível na região. Porcausa da perspectiva de bom retorno financei-ro da pecuária, proprietários rurais e ocupan-tes de terras públicas vendem madeira e in-vestem tanto na formação quanto na reformade pastagens. Por exemplo, o dinheiro obtido

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• Pecuária na Amazônia: tendências e implicações para a conservação ambiental

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com a venda do direito de exploração de cercade três hectares de floresta era usado parareformar, em média, um hectare de pastagemno leste do Pará no final da década de 1980(Veríssimo et al., 1992). Máquinas utilizadasna extração, como os tratores de esteira, sãoempregadas na reforma de pastagens pelospróprios madeireiros.

Não há estimativas do volume de recursosdo setor madeireiro que é investido na pecu-ária, mas pode ser significativo. Em um le-vantamento feito em 2004 na Amazônia, 20%dos madeireiros entrevistados declararam in-vestir em pecuária (Lentini et al, 2005). Areceita líquida do setor em 1998 pode ter fi-cado em torno de US$ 375 milhões, conside-rando uma taxa de lucro de 15% sobre asvendas brutas de cerca de US$ 2,5 bilhões,estimada por Lentini et al. (2003). Além dis-so, a exploração de madeira instala uma in-fra-estrutura de transporte (pontes e estra-das) que é usada para ocupar terras públicase para o desenvolvimento da pecuária. Valefrisar que o investimento dos madeireiros empecuária reforça o argumento de que a pecu-ária é percebida como um investimento lu-crativo ou, pelo menos, de baixo risco (Mar-gulis, 2003).

Crédito subsidiadoOs pecuaristas da Amazônia contam com fi-

nanciamento público subsidiado que torna osinvestimentos na região ainda mais vantajosos.Os principais fundos públicos usados na Ama-zônia Legal são o Fundo Constitucional de Fi-nanciamento do Norte (FNO), usado nos Esta-dos da região Norte, e o Fundo Constitucionalde Financiamento do Centro-Oeste (FCO), dis-ponível em Mato Grosso. Além disso, a porçãoamazônica do Maranhão conta com recursos doFNO e também do Fundo Constitucional de Fi-nanciamento do Nordeste (FNE)22. Esses fun-dos são financiados por 0,6% da arrecadação

do Imposto de Renda e Imposto sobre Produ-tos Industrializados de todo o Brasil.

As taxas de juros do crédito rural dessesfundos variam entre 6% e 10,75% ao ano,respectivamente, para miniprodutores (aque-les com renda bruta anual abaixo de R$ 80mil) e grandes produtores (renda acima deR$ 1 milhão/ano). Essas taxas são muito maisbaixas que as taxas de mercado23 e os pro-dutores que pagam as prestações em diaobtêm um desconto de 15% da taxa de ju-ros. No caso do FNO, para agricultores fami-liares (Pronaf/Grupo C) a taxa de juros é deapenas 4% ao ano e está sujeita a um des-conto de 25% para produtores adimplentes(Brasil, 2004b; Brasil, 2004c). Esses fundostambém incluem facilidades para o investi-mento por parte de pequenos proprietáriosque não teriam acesso a outros tipos de cré-dito. Esse é o caso dos pequenos produtoressem garantias e sem títulos definitivos deposse da terra, que podem solicitar emprés-timos por meio de associações.

Entre 1989 e 2002, o Banco da Amazôniaemprestou U$ 5,8 bilhões do FNO rural naAmazônia (excluindo Mato Grosso e Maranhão).Cerca de 40% desses recursos – ou US$ 2,36bilhões – foram destinados diretamente paraa pecuária bovina. Outros investimentos quepodem ter sido parcial ou totalmente associa-dos à pecuária corresponderam a uma porçãosignificativa do total. Um exemplo disso sãoos investimentos e custeio geral e melhora-mentos não específicos, que corresponderama 31% no período (Tabela 4).

Os principais Estados pecuaristas atendidospelo FNO receberam a maioria dos emprésti-mos gerais e para a pecuária. Pará, Rondôniae Tocantins receberam juntos 85% do total e87,4% dos recursos destinados à pecuária.Quase 72% dos recursos destinados à pecuá-ria foram emprestados aos produtores maio-res, que são atendidos pelo FNO Normal. Os

22 Para saber mais sobre os fundos, ver página eletrônica do Ministério da Integração Nacional, disponível em: <http://www.integracao.gov.br/fundos/fundos_constitucionais/index.asp>23 A taxa de juros do crédito agrícola em agosto de 2003 era de 8,75% para o Crédito Rural; 28% para a Cédula deProduto Rural (com aval) e 16% a 19% para a Poupança Verde (Raíces, 2003).

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produtores menores, atendidos pelo FNO Es-pecial, receberam apenas 28% do total desti-nado à pecuária (Tabela 4). O Anexo III apre-senta os valores, por Estado, destinados parao FNO Especial e Normal.

É difícil estimar o efeito geral do FNO na am-pliação recente do rebanho, mas ele pode ser sig-nificativo. O rebanho a ser adquirido nos finan-ciamentos equivaleu a cerca de 9% do incrementodireto do rebanho entre 1990 e 2001 (Pacheco,2002). Contudo, 86% do rebanho a ser adquiridocom financiamento do FNO entre 1989 e 2001eram de reprodutores e, portanto, deve ter tidoum efeito multiplicador importante nesse perío-do. Os maiores produtores (financiados pelo FNONormal) compraram 87% do total de reproduto-res, indicando um grande potencial de multipli-cação do gado, uma vez que estes detêm amaioria das pastagens. Além disso, metade doinvestimento na pecuária bovina foi destinada aoutros fatores que têm efeito multiplicador, comoa reforma de pastagem e compra de máquinas.

O papel do mercado na pecuáriabovina da Amazônia

A demanda por carne bovina também teveum papel importante na expansão da pecuáriabovina na Amazônia. Até recentemente, aAmazônia abastecia apenas o mercado regio-nal e nacional, e entre 2001 e 2003, algunsEstados passaram também a exportar carne.Os principais produtores da região – Pará, MatoGrosso, Rondônia, Tocantins e Acre – abaste-cem principalmente outros Estados da região(Amapá, Amazonas e Roraima) e parte domercado nacional. Entre 2001 e 2003, MatoGrosso, Tocantins e Rondônia passaram a po-der exportar carne para outros países. O efei-to do comércio internacional na região ainda érecente e pouco documentado25, mas poderáse tornar muito importante no futuro (ver se-ção sobre controle da febre aftosa). Nesta se-ção, apresentamos as características da comer-cialização de gado e carne nos principais “ei-

Figura 6 - Eixos rodoviários, Estados e municípios selecionados para o levantamento.

25 A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne apresentava, em janeiro de 2005, na sua página eletrônica(disponível em: <http://www.abiec.com.br>), apenas o destino das suas exportações, mas não os Estados de origem. Apágina eletrônica do Ministério da Agricultura não apresentava, até janeiro de 2005, estatísticas de origem das exportações.

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xos” pecuários e discutimos a influência dorecente controle da febre aftosa nesse comér-cio (Figura 6). As informações descritas a se-guir foram obtidas por meio de entrevistas com28 compradores de gado e 21 gerentes de fri-goríficos em 27 municípios da Amazônia Legalconduzidas no ano de 2001 (ver detalhes so-bre os métodos no Anexo I).

Comercialização de animais vivosO comércio de animais é realizado em quase

todos os municípios produtores. Entretanto, al-guns concentram a comercialização, como osmunicípios paraenses de Xinguara e Redenção,Barra do Garças, em Mato Grosso e Ariquemes,em Rondônia, que hospedam vários escritórios

de compra e venda de gado pertencentes aos“intermediários de animais”. Frigoríficos locaistambém compram animais em municípios vizi-nhos. A comercialização inicia-se com a vendade animais dos produtores para os escritóriosde intermediários, frigoríficos ou ainda paramatadouros clandestinos (Figura 7). Os inter-mediários comercializam animais adultos e jo-vens, que vendem para o mercado interno daAmazônia e para outros Estados. Entretanto,geralmente são especializados na compra evenda de somente um tipo de animal (namaioria das vezes, apenas animais adultos). Amaioria dos compradores de gado entrevista-dos comercializava os animais na própria re-gião amazônica (Figura 8). Porém, no leste do

Figura 7 - Cadeia de comercialização de bovinos vivos na Amazônia.

Figura 8 - Destino da venda de animais vivos de acordo com região produtora(ver regiões produtoras na Figura 6).

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Pará (ao longo da rodovia PA–150) e ao longoda rodovia Transamazônica (BR–230), os inter-mediários comercializavam intensamente parao Nordeste do País. Considerando as regiõesvisitadas como um todo, 69% dos animais eramvendidos nos mercados amazônicos, enquanto21% eram comercializados para fora da região.

Os Estados do Amazonas e Amapá são gran-des importadores de animais, pois não possu-em um rebanho que atenda a suas demandasinternas. Essa demanda é suprida principal-mente por animais de Rondônia, Acre, Rorai-ma e Pará. O transporte de animais entre es-ses Estados inclui o uso de balsas nos riosMadeira, Xingu, Amazonas, Negro e Branco.

O impacto da febre aftosa no comércio deanimais vivos

O comércio de animais vivos na Amazônia so-freu mudanças após o início de uma campanhanacional contra a febre aftosa. Animais de zonasinfectadas foram proibidos de transitar em zonastampão e zonas livres (ver detalhes na seção Acampanha para controlar a febre aftosa). MatoGrosso e Tocantins, que foram considerados zo-nas livres da doença em 2001, proibiram a com-pra de animais de Estados como Rondônia e Pará,que ainda eram zonas infectadas ou tampão. Aprodução de Rondônia foi destinada principalmen-te ao mercado interno. Isso significou um preju-ízo enorme, pois nos três anos antes da proibi-ção, cerca de metade dos animais vendidos emRondônia eram destinados ao Centro-Oeste eSudeste (Basa, 1999). O Pará foi menos prejudi-cado, pois parte da sua produção abastecia zo-nas também infectadas do Nordeste, Macapá, Ma-naus e seu próprio mercado interno.

Atualmente, as principais zonas pecuaristasda Amazônia (Rondônia, Mato Grosso, Tocan-tins, Acre e sul do Pará) são classificadas peloMinistério de Agricultura como zonas livres defebre aftosa com vacinação. Por isso, o trânsitoe comércio de animais vivos e de carne comosso entre essas regiões é permitido.

A comercialização de carneA campanha de controle da febre aftosa é

menos restritiva ao comércio de carne (principal-mente carne desossada) do que ao comércio de

animais vivos produzidos na Amazônia. Há vári-os canais de comercialização da carne. Os mata-douros vendem a carne ainda não resfriada paraaçougues e feiras livres do próprio município oude localidades vizinhas. Os frigoríficos vendem acarne resfriada para médios e grandes distribui-dores, cadeias de supermercados e para expor-tação. Os frigoríficos e os matadouros tambémvendem a carne para intermediários (conhecidoscomo “marchantes”), que a distribuem para açou-gues ou supermercados (Figura 9).

Os 21 frigoríficos visitados em 2001 tinhamuma capacidade total de abate de 13.070 ca-beças por dia; o que equivalia a uma média de620 animais/dia por frigorífico. No entanto, naépoca da entrevista, os frigoríficos pesquisa-dos estavam abatendo 8.800 animais/dia, ou67% da capacidade instalada.

Em média, 87% da carne produzida pelos fri-goríficos visitados eram destinados a Estados forada Amazônia, enquanto 13% eram comerciali-zados no mercado regional. O grande mercadopara a carne dos frigoríficos visitados é o Sudes-te do País (Figura 10). A maior parte da carneproduzida no Pará era, segundo os entrevista-dos, vendida para as regiões Nordeste e Sudes-te. Entretanto, os frigoríficos paraenses tambémvendiam carne para o mercado interno do Esta-do – principalmente para os supermercados deBelém (capital do Pará). Os frigoríficos de To-cantins vendiam para a região Nordeste, e os deMato Grosso vendiam principalmente para o Sule Sudeste brasileiro, enquanto os principaismercados para a carne de Rondônia eram oAmazonas e a região Sudeste. Tocantins e partede Mato Grosso passaram a poder exportar car-ne a partir de 2001, Rondônia, a partir de 2003,e Acre em 2005; mas não dispomos das estatís-ticas da eventual exportação desses Estados.

Foi impossível estimar o balanço do comér-cio de animais vivos ou de carne entre os Es-tados da Amazônia. Entretanto, todos comquem conversamos foram unânimes em dizerque o Pará, Rondônia, o Acre, o Tocantins eMato Grosso eram exportadores líquidos decarne, enquanto o Amazonas e o Amapá eramimportadores líquidos de carne bovina. O défi-cit dos Estados importadores era suprido pe-los Estados da própria região Amazônica.

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Uma forma indireta de aferir a auto-suficiên-cia regional na produção de carne foi estimar arazão entre o rebanho bovino e a população hu-mana local (Tabela 5). Esse índice para as regi-ões Nordeste e Sudeste, principais compradorasda carne da Amazônia, é de aproximadamente0,50. O índice para o Norte é de 1,63, 72% aci-ma da média para o Brasil (0,95). Os principaisEstados produtores da Amazônia Legal (MatoGrosso, Tocantins, Pará e Rondônia) têm índicesacima de um bovino por residente. Amazonas eAmapá possuem índices relativamente baixos,0,36 e 0,14, respectivamente – um indicador deque são importadores líquidos de carne bovina26.Roraima, apesar de não vender carne para ou-

tros Estados, é auto-suficiente e comercializaanimais vivos para o mercado de Manaus.

Em resumo, os dados de comercialização mos-tram que a Amazônia produz carne para o seumercado interno e para abastecer parte da de-manda de outros Estados. Os produtores ven-dem para outras regiões porque o preço é com-petitivo – ou seja, os custos médios de produçãosão baixos o suficiente para compensar o custode transporte da carne dos frigoríficos até outrasregiões. Essa conclusão contraria o argumentode Faminow (1997) de que a pecuária desenvol-veu-se na Amazônia devido ao seu isolamentogeográfico e aos altos custos de transporte entreo Sul produtor e o Norte consumidor.

Figura 9 - Cadeia de comercialização da carne dos frigoríficos estudados na Amazônia.

Figura 10 - Destino da venda da carne dosfrigoríficos visitados na Amazônia27.

A – Destinos de acordo com regiões produtoras.

26 A criação de búfalos, comum no Amapá, não chega a alterar substancialmente esses números.27 Representantes dos frigoríficos ao longo da rodovia Belém-Brasília (BR-010), um em Paragominas e outro em Castanhal,negaram o pedido de entrevista. Por isso, os dados dessa região não foram incluídos no gráfico. Entretanto, informantesexternos indicaram que ambos abastecem a região metropolitana de Belém e parte do Nordeste.

B – % do destino de acordo com regiões produtoras.

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Tabela 5 - População residente e rebanho bovino no Bra-sil, nas regiões e nos Estados amazônicos.

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Diversos fatores relacionados à pro-dução (oferta) e à demanda porprodutos pecuários estão mudando

e afetarão esse setor na Amazônia nos próxi-mos anos. Nesta seção, descrevemos os po-tenciais efeitos desses fatores na expansão ouretração da pecuária na Amazônia. Destaca-mos que as tendências discutidas nesta seçãosão de longo prazo pois, em curto prazo, exis-tem ciclos nos preços do gado que podem, tem-porariamente, aumentar ou diminuir a com-petitividade da atividade pecuária.

Fatores da demanda

A pressão para controlar a febre aftosaOs principais compradores internacionais só

importam carne de regiões livres da ocorrênciade febre aftosa que sejam reconhecidas pela

FATORES QUE AFETARÃO O FUTURO DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA

Organização Internacional de Saúde Animal. Ocontrole dessa doença no Sul e Sudeste do Brasilpossibilitou o aumento das exportações de car-ne, principalmente in natura. As exportaçõesbrasileiras aumentaram de 196 mil toneladasem 1999 para 806 mil toneladas em 2003, umaumento de quatro vezes em apenas quatroanos (Figura 11). É possível que o controle dafebre aftosa nas principais regiões produtorasda Amazônia tenha o mesmo efeito nas expor-tações dessa região. Após esse controle, ospecuaristas que produzem gado com qualidadepara exportação poderão obter um sobrepreçoem relação ao mercado interno de 8% a 10%(Nehmi Filho, 2003). Os animais fora do pa-drão para exportação poderão ser vendidos maisfacilmente no mercado interno, pois o trânsitoda carne com osso, desossada e de animais vi-vos será facilitado. O crescimento da demandapoderia ser tão expressivo que o aumento da

Figura 11 - Exportações brasileiras de carne bovina (em milhares de toneladasequivalente carcaça) (Fonte: Anualpec, 2003).

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produção nos primeiros anos não diminuiria ospreços do gado. Dessa forma, haveria espaçopara um aumento contínuo da produção porvários anos. Ver seção sobre a campanha bra-sileira para controle da febre aftosa, com deta-lhes da estratégia e a situação atual.

Potencial para aumento do consumo in-terno e externo

A demanda interna e externa por carne bovi-na provavelmente crescerá por vários motivos. Oaumento de renda em países em desenvolvimentotende a elevar o consumo de carne per capita -em particular nas camadas mais pobres da po-pulação. Entre 1987 e 1996, por exemplo, o pro-duto interno bruto per capita brasileiro, medidopela paridade de poder de compra, aumentou29%28. Nesse mesmo período, o consumo percapita de carne bovina aumentou 10%, em mé-dia. Entretanto, o aumento no consumo foi de15% a 27% na classe com renda entre dois eoito salários mínimos (Tabela 6). Mesmo com esseaumento, o consumo per capita no Brasil em 1996era a metade do argentino (57 kg) e um terçomenor que o americano (44 kg) (USDA, 1997).Do mesmo modo, países em desenvolvimento nosudeste asiático e a China poderão aumentar oconsumo de carne bovina. Na Malásia, por exem-plo, o aumento de 1% na renda aumentou o con-sumo de carne em quase 1% nos anos de 1980 e1994 (Ishida et al., 2003). Em 1996, o consumoper capita de carne na China era de apenas 4 kg,sete vezes menos que no Brasil.

A demanda por carne brasileira também podeaumentar nos países desenvolvidos, por doismotivos principais. O aparecimento de novoscasos da doença da vaca louca (encefalopatiaespongiforme bovina - BSE) na Europa e Amé-rica do Norte poderá aumentar a demanda porcarne vinda de criações extensivas em pasta-gens, que é o caso da Amazônia. Inclusive,percebendo a oportunidade de negócios, pecu-aristas brasileiros já argumentam que produ-zem “boi verde” ou “boi ecologicamente corre-to”, por alimentá-lo exclusivamente com capim.

O segundo fator seria a diminuição ou com-pleta remoção dos subsídios aos agricultores daUnião Européia e dos Estados Unidos. Com oingresso de novos países na União Européia, emespecial os do Leste Europeu em desenvolvimen-to, será difícil manter os mesmos níveis de sub-sídio para todos os produtores do bloco. Alémdisso, o Mercosul e a União Européia estão ne-gociando acordos bilaterais de comércio inter-nacional. Qualquer acordo irá, necessariamen-te, envolver a redução dos subsídios agrícolas.Acontecimentos recentes confirmam essa ten-dência. A Organização Mundial do Comércio(OMC) deu ganho de causa ao Brasil, que pleite-ava a redução dos subsídios agrícolas ao açúcar(Europa) e algodão (Estados Unidos) (FinanceO-ne, 2004). Além disso, em setembro de 2004 foiacordada a remoção dos subsídios na Europa.Embora o prazo não tenha sido definido, especi-alistas acreditam que ocorrerá nos próximos dezanos. Com a redução dos subsídios, o custo deprodução da carne européia crescerá e o preçoda carne no mercado internacional poderá au-mentar, pois boa parte dos animais é confinadae alimentada com ração à base de soja e milho.Conseqüentemente, a carne bovina da Amazô-nia, produzida em pastos plantados, se tornaráainda mais competitiva no mercado externo.

Segundo relatório do Departamento de Agri-cultura Norte-Americano (USDA, 2005), o aumentode demanda e as vantagens da pecuária brasileirapossibilitariam um aumento das exportações decarne de cerca de 60% entre 2003 e 2014. Essatendência é também projetada em relatórios dospaíses mais desenvolvidos (OECD-FAO, 2005). Aconfirmação dessa tendência dependeria da con-tinuidade do controle da febre aftosa (ver seçãosobre campanha para controlar essa doença).

Entretanto, a queda dos subsídios agrícolaspoderá levar os pecuaristas de países desenvolvi-dos a pressionar por barreiras não tarifárias – in-cluindo barreiras ambientais. O fato de parte daprodução na Amazônia estar associada a novosdesmatamentos e ao não cumprimento das leisflorestais, poderá levar a pressões por barreirasambientais contra a carne produzida na região.

28 O PIB per capita aumentou de US$ 5.250 para US$ 6.781. Para obter os dados per capita, dividimos os valores doproduto doméstico bruto (WRI, 2004) pela população recenseada de 1996 (IBGE, 2004a). A população de 1987 foiestimada interpolando-se os valores entre 1980 e 1991, utilizando a taxa de crescimento anual durante o período.

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Efeitos da melhoria de infra-estrutura naAmazônia

O governo federal e os estaduais estão inves-tindo ou planejando investir em infra-estruturana Amazônia, incluindo o asfaltamento das rodo-vias Cuiabá-Santarém entre Guarantã do Norte eSantarém (BR-163), da Transamazônica (BR-230,no trecho entre Marabá e Altamira) e a constru-ção de hidrovias nos rios Araguaia-Tocantins eMadeira. A redução dos custos de transporte po-derá reduzir custos de produção (por exemplo,custo de insumos, como medicamentos e sais mi-nerais, que vêm de outras regiões) e aumentar opreço pago ao produtor. Dessa forma, a pecuáriada região poderia se tornar ainda mais lucrativa ecompetitiva. Todas as principais regiões pecua-ristas, como o sul do Pará, o Tocantins, Mato Gros-so e Rondônia, seriam diretamente beneficiadas,pois os corredores de transporte incorporam es-sas regiões. Neste trabalho será apresentada umaprojeção espacial das áreas potenciais para ex-pansão da pecuária, considerando o asfaltamen-to de duas rodovias.

Fatores da oferta

O aumento da oferta de gado na Amazôniapoderá ocorrer por meio do desmatamento oudo aumento da produtividade nas áreas já des-matadas. A decisão de expandir a produçãovia desmatamento dependerá principalmenteda evolução do preço da terra florestal em re-lação ao preço de insumos, como fertilizantese maquinários. Quanto maior a disponibilida-de de terras florestais baratas para expansãoagropecuária, menor será o incentivo à inten-sificação da produção que use insumos maiscaros. Diversos fatores, discutidos a seguir,poderão influenciar os preços relativos da ter-ra. Esses fatores atuarão em duas escalas dis-tintas, mas relacionadas: escala macro (regi-onal e nacional) e escala da propriedade.

Fatores atuantes na escala macroSubstituição de pastos por culturas agríco-

las intensivas. A produção de grãos no Brasiltem se expandido devido à taxa de câmbio da

Tabela 6 - Mudança no consumo per capita de carne noBrasil em diferentes classes de renda entre 1987 e 1996.

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moeda brasileira e aos preços internacionaisfavoráveis29 às exportações e a programas decrédito facilitado para aquisição de máquinasagrícolas (ver análise em Brandão et al., 2005).Segundo dados do IBGE30, entre 1990 e 2003a área de colheita de grãos aumentou em 7,8milhões de hectares ou o equivalente a 22,5%.

Parte da expansão agrícola está ocorrendoem áreas de pastagens com potencial para usoagrícola – ou seja, pastagens em áreas pla-nas, em solos bem estruturados (mesmo quecom baixa fertilidade), com regime de chuvasadequado e infra-estrutura satisfatória. Nosúltimos anos, a região Centro-Oeste tornou-se a principal produtora de grãos do Brasil. OEstado de Mato Grosso já é o terceiro maiorprodutor de grãos do País, com 14% do totalda produção nacional (IBGE, 2004b).

A substituição de pastos por plantio degrãos ocorre porque a rentabilidade da agri-cultura intensiva tende a ser maior que a ren-tabilidade das pastagens. Por isso, vem ocor-rendo um aumento expressivo dos preços depastagens com potencial para uso agrícola31.Ou seja, o fenômeno observado no Sul e Su-deste décadas atrás está ocorrendo novamen-te no Centro-Oeste e na Amazônia. Especialis-tas prevêem que essa tendência continuará. Aagricultura intensiva cresceria no Brasil porcausa do aumento da demanda internacionale da vantagem competitiva do país. Por exem-plo, o Departamento de Agricultura dos EUAprojetou que as exportações brasileiras de fa-rinha e de óleo de soja cresceriam, respecti-vamente, 51% e 85% entre 2003 e 2014(USDA, 2005). O mesmo estudo indica que ademanda por grãos também aumentaria devi-do ao aumento expressivo das exportações bra-sileiras de carnes de porco e frango (respecti-vamente 46% e 75% entre 2003 e 2014).

Nehmi Filho e Pusch (2003) projetaram que17 milhões de hectares de pastagens no Brasil

seriam transformados em plantações de milhoe soja até 2012. O total de pastagem a serocupado por grãos seria equivalente a todo oaumento da área a ser plantada com soja, ou15% da área de pastagem plantada do Brasilem 2002 (cerca de 17 milhões dos 115 mi-lhões de hectares de pastos – Nehmi Filho ePusch, 2003). Além disso, a entrada em vigordo protocolo de Quioto em 2005 poderá esti-mular a expansão de plantios de cana-de-açú-car para produção de álcool combustível. Es-pecialistas projetam que o Brasil poderia am-pliar a área plantada de cana-de-açúcar emcerca de 2,5 milhões de hectares nos próxi-mos dez anos e que parte da expansão deveráocorrer principalmente em pastagens e outrasculturas no sul de Goiás, no norte de Brasília eem Mato Grosso (Valor Econômico, 2004).

A conseqüência dessa tendência é previsí-vel: os pecuaristas nessas regiões irão conti-nuar vendendo ou convertendo pastos em la-vouras. Os pecuaristas que venderem as ter-ras seriam candidatos a migrar para partes daAmazônia e outras regiões do Brasil propíciasà expansão da pecuária e impróprias para aagricultura intensiva.

Acesso quase aberto a terras públicas de-

volutas. Extensas áreas da Amazônia com po-tencial para expansão da pecuária são terraspúblicas devolutas. Madeireiros, fazendeiros epequenos produtores estão ocupando partedessas terras, incluindo a abertura de estra-das (Souza Jr. et al., 2005). A falta de controlesobre terras públicas devolutas permite queextensas áreas sejam ocupadas e transforma-das em posses de fato e em direito de uso. Emmuitos casos, o acesso a essas áreas é quaselivre. Posseiros e especuladores ocupam ter-ras públicas e tentam obter títulos definitivos.Uma parcela das ocupações tem sido regulari-zada pelo governo por meio do programa dereforma agrária e regularização fundiária.

29 Os preços internacionais favoráveis ocorreram principalmente a partir de 2001, segundo Brandão et al., 2005.30 Dados da Produção Agrícola Municipal entre 1990 e 2003 obtidos através do Sistema IBGE de Recuperação Automática.Disponível em: <http://www.ibge.gov.br> Acesso em: dezembro de 2004.31 Por exemplo, no norte de Mato Grosso (Colíder, Gurantã e Alta Floresta), os preços das terras em pasto aumentaramentre 45% e 195% em um período de quatorze meses (nov/2001 a jan/2003 – Anualpec, 2003). Em Paragominas, noleste do Pará, terras com pastos que foram transformados em plantios de arroz tiveram um aumento de 350% entredez/2001 e fev/2004 (Anualpec, 2004).

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Entre 1995 e 2002, os assentamentos regula-rizados na Amazônia passaram de pouco me-nos de dois milhões de hectares para cerca de16 milhões de hectares32. Parte dessas terraspode ser convertida em pastagem pelos pró-prios posseiros, ou por pecuaristas capitaliza-dos que compram as áreas para formar fazen-das maiores. Francisco Graziano estima queentre 50% e 60% das terras distribuídas emprojetos de reforma agrária no sul do Pará te-nham sido vendidas ilegalmente (Agência Es-tado, 2004).

Os investimentos em infra-estrutura acele-ram ainda mais as iniciativas de ocupação deterras públicas. A promessa de asfaltamentoda rodovia Cuiabá-Santarém desencadeou aocupação das terras no oeste do Pará. Freqüen-temente, a ocupação de áreas maiores incluifraudes de documentos envolvendo funcioná-rios públicos, cartórios, especuladores e pro-dutores rurais33.

Essas ocupações constituem um subsídiopúblico para os ocupantes, pois eles não re-muneram o Estado pela área nem pelos recur-sos extraídos, como a madeira34. Portanto, afragilidade das instituições governamentais quegerenciam a distribuição e proteção das áreaspúblicas pode ser um incentivo indireto à ex-pansão da pecuária. A continuação desse pro-cesso pode tornar as terras na região aindamais baratas; ou pelo menos, inibir o aumen-to significativo do preço e, dessa forma, redu-zir o interesse em investir para aumentar aprodutividade dos usos do solo.

Criação ou não de Unidades de Conserva-

ção. Os governos federal e estaduais preten-dem criar Unidades de Conservação (UCs) para

proteger a biodiversidade e apoiar o desenvol-vimento sustentável. O estabelecimento des-sas áreas poderia restringir o acesso a terraspúblicas para a criação de gado. O governofederal, por meio do projeto Áreas Protegidasda Amazônia (Arpa), prevê a criação, até 2009,de 27 milhões de hectares de Unidades deConservação de uso restrito35 – ou seja, par-ques e reservas biológicas onde não pode ocor-rer extração de recursos e desmatamento – ede 9 milhões de hectares de unidades de usosustentável como Reservas Extrativistas. Alémdisso, o governo federal propôs um Projeto deLei para gestão de florestas públicas que envol-veria destinar florestas devolutas para fins deprodução florestal. Esse projeto foi aprovado peloCongresso em junho de 2005, foi destinado aoSenado em regime de urgência constitucional edeverá ser votado ainda neste ano. Essas inicia-tivas poderão ser reforçadas com planos esta-duais paralelos ou complementares.36

Embora os governos estejam criando ou pla-nejando criar novas Unidades de Conservação,a lentidão ou insuficiência de aplicação dessaspolíticas poderia deixar enormes áreas públi-cas sujeitas à invasão e eventual conversãodestas em pastagens. Por exemplo, protestoscontra a demarcação da Terra Indígena Baú,no oeste do Pará, em 2004, levaram a um acor-do que reduziu a Terra Indígena em 310 milhectares (Carta Maior, 2004). Portanto, a dis-ponibilidade de terras dependerá do eficienteplanejamento e da rápida criação de Unidadesde Conservação, seguida de investimentos paraproteção duradoura dessas áreas.

Zoneamento Ecológico-Econômico. Um es-forço complementar à criação de Unidades de

32 De acordo com dados da Superintendência Nacional de Desenvolvimento Agrário do Incra, obtidos em apresentaçãodo Balanço da Reforma de setembro de 2002. Disponível em: <http://www.incra.gov.br> Acesso em 2004. Apresentaçãodisponível com os autores.33 Os esforços recentes do governo federal para combater essas fraudes incluíram a prisão de 21 suspeitos de falsificaçãoou emissão indevida de documentos fundiários na região oeste do Pará (Mendes, 2004).34 Embora os ocupantes ilegais não remunerem o governo, há custos envolvidos com fraudes e com a proteção dasáreas contra outros invasores.35 Seriam criados 9 milhões até 2006 e mais 18 milhões entre 2006 e 2009. Informação disponível em: <http://www.funbio.org.br/website/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1736&sid=36> Acesso em: 7 de out. de 2004.36 Por exemplo, a Assembléia Legislativa do Pará aprovou a proposta do Executivo Estadual de ampliar a área deUnidades de Conservação de 29% para 61,5% do Estado no seu plano de macrozoneamento ecológico-econômico. Ogoverno do Acre está criando um sistema de Unidades de Conservação, incluindo 1,5 milhão de hectares de FlorestasEstaduais. O governo do Amazonas criou nos últimos dois anos 4,2 milhões de hectares de UCs e está planejando acriação de novas áreas (Amazonas, 2004).

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• Pecuária na Amazônia: tendências e implicações para a conservação ambiental

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Conservação é o zoneamento ecológico-eco-nômico. O zoneamento pode influenciar asestratégias de produção dos pecuaristas namacro-escala ao definir os melhores usos dosolo para cada região – incluindo zonas dedi-cadas à conservação e zonas para expansãoagropecuária. Além disso, o zoneamento po-derá afetar a produção na escala da proprie-dade, pois a regulamentação do uso das Re-servas Legais depende dos resultados do zo-neamento (ver detalhes na seção sobre a apli-cação da legislação florestal). Estados comoPará, Amazonas e Acre estão concluindo seuszoneamentos e poderão influenciar a disponi-bilidade de terras no futuro próximo37. MatoGrosso já realizou seu zoneamento.

Fatores atuantes na escala da propriedadeOs fatores atuantes na escala da proprie-

dade incluem aspectos ligados às característi-cas do local de produção e às respostas dosprodutores aos fatores da escala macro.

Regulamentação e aplicação do novo códi-

go florestal. Mudanças no código florestal pormeio de Medidas Provisórias a partir da décadade 1990 tornaram sua aplicação incerta e polê-mica. O aumento do interesse em proteção, deum lado, e as pressões para ampliar o uso daspropriedades, de outro, estão forçando umadefinição das regras. O resultado desse debatepode influenciar o destino da pecuária.

Desde 1965, o código florestal estabelecedois tipos principais de restrições ao uso dosolo nas propriedades privadas. Primeiro, avegetação nativa não pode ser removida dasÁreas de Preservação Permanente, que são asmargens de rios e lagos e outros corpos d’água,topo de morros e terrenos íngremes. Segun-do, os proprietários devem manter vegetaçãonativa na forma de Reserva Legal em parte dapropriedade, como forma de assegurar o uso

sustentável dos recursos naturais e a prote-ção de fauna e flora nativas. A Reserva Legalpode ser manejada para produção de bens eserviços, como a extração de madeira, masnão pode ser desmatada.

Entretanto, o código florestal vem sendo fre-qüentemente desrespeitado. Em 1996, após oanúncio do desmatamento recorde de 29 mil km2

entre 1994 e 1995, o governo federal editou umaMedida Provisória (MP) que aumentava a exi-gência de Reserva Legal na Amazônia. Após vá-rias reedições da MP, a Câmara dos Deputadostransformou-a em lei em 2001. A Reserva Legalfoi ampliada de 50% para 80% da área dos es-tabelecimentos rurais em zonas de floresta tro-pical densa; de 20% para 35% no cerrado naAmazônia Legal, sendo no mínimo 20% na pro-priedade e 15% na forma de compensação emoutra área, desde que esteja localizada na mes-ma microbacia. Em Mato Grosso, uma lei esta-dual estabeleceu que a Reserva Legal deve serde 50% nas florestas de transição entre o cerra-do e a floresta densa no Estado. Porém, ela temsido questionada, pois é menos restritiva que oCódigo Florestal Federal.

As primeiras versões da MP contra o desma-tamento implicavam que todos os proprietáriosrurais que desmataram além de 20%, inclusiveaqueles que respeitavam o código antes de1996, deveriam recompor as florestas em suasReservas Legais – ou seja, de 50% para 80%no caso de floresta. Contudo, a versão da Me-dida Provisória convertida em lei determina queo poder executivo pode reduzir a Reserva Legalna Amazônia Legal nas áreas que devem serrecompostas - de 80% para até 50% da propri-edade,38 desde que seja indicado pelo Zonea-mento Ecológico-Econômico e pelo Zoneamen-to Agrícola, e após consulta ao Conselho Nacio-nal de Meio Ambiente (Conama), ao Ministériodo Meio Ambiente e ao Ministério da Agricultu-

37 O governo do Pará propôs e a Assembléia Legislativa aprovou um Macrozoneamento do Estado. O documento especificaáreas que serão destinadas para criação de Unidades de Conservação e outras que serão destinadas para usosagropecuários, mas ainda sujeitos a levantamentos detalhados.38 Segundo a Medida Provisória 2.166-67, para contabilidade da Reserva Legal devem ser excluídas “em qualquer caso,as Áreas de Preservação Permanente, os ecótonos, os sítios e ecossistemas especialmente protegidos, os locais deexpressiva biodiversidade e os corredores ecológicos”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/2166-67.htm#art1§1> Acesso em: 27 de dez. de 2004.

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ra e do Abastecimento. Porém, com base nozoneamento, o poder executivo poderá ampliaras áreas de Reserva Legal em até 50% dos ín-dices previstos no código em todo o territórionacional, em áreas especiais como corredoresbiológicos, entre outros. Portanto, o zoneamentoé extremamente importante para definir se osproprietários poderão ampliar ou deverão re-duzir a área disponível para a agropecuária emsuas propriedades.

A falta de zoneamento em alguns Estados,como o Pará, e, conseqüentemente, a falta deregras definitivas sobre a Reserva Legal, ge-rou incertezas entre os investidores dispostosa cumprir as leis. Ao mesmo tempo, à medidaque a pressão para o cumprimento do códigoflorestal aumenta, fazendeiros do Pará amea-çam questionar a constitucionalidade da Re-serva Legal de 80%.

Uma das conseqüências da aplicação docódigo atual – com Reserva Legal de 80% emregiões de floresta densa – seria um aumentonos custos médios de produção, pois os ga-nhos de escala na criação bovina seriam res-tritos aos produtores muito grandes. Por exem-plo, para ter 2 mil hectares de pastos, umapropriedade em zona de floresta densa naAmazônia deveria ter o total de 10 mil hecta-res. A redução de pastagem por meio da re-composição da Reserva Legal poderia estimu-lar o uso mais intensivo das áreas de pastosremanescentes. Entretanto, é necessário re-conhecer que, seja qual for o porcentual deReserva Legal, o efeito do código florestal naintensificação da produção dependerá de ou-tros fatores – principalmente da capacidadedo governo de restringir o acesso quase livreàs terras devolutas.

Fragilidade do controle ambiental. A baixaeficiência do controle ambiental contribuiriapara um aumento da área disponível nas pro-priedades para a pecuária, pois os fazendeirospoderiam ampliar as pastagens nas áreas que

deveriam ser Reserva Legal. Além disso, con-tribuiria para o aumento de capital disponívelpara investimento rural acumulado com a ex-ploração ilegal de madeira em terras privadase públicas. Há indícios de que o controle conti-nua frágil, apesar da nova legislação ambien-tal e de campanhas de fiscalização. Um exem-plo disso é o fato de o Ibama ter emitido cercade 6.700 multas por ano na Amazônia Legalentre 2001 e 200439, mas só ter arrecadado2,12% das multas ambientais acima de R$ 10mil aplicadas entre 1995 e 200340 – o que com-prova que a arrecadação tem sido pequena. Abaixa responsabilização dos crimes contra aflora parece predominar também na esfera ju-dicial. Brito e Barreto (2004) identificarambaixa eficiência e lentidão na responsabiliza-ção de crimes florestais na Justiça Federal emBelém – entre 2000 e 2003, apenas um (2%)de 55 processos avaliados foi concluído, en-quanto mais de 60% ainda aguardavam a lo-calização dos infratores.

Avanços tecnológicos na criação bovina. Osprodutores poderiam expandir a produção nasáreas já desmatadas aumentando o investi-mento em tecnologias e melhores práticas decriação bovina. Em nossa pesquisa nas princi-pais regiões de criação bovina da Amazônia,técnicos agrícolas, fazendeiros e comercian-tes afirmaram que os fazendeiros que adota-vam mais tecnologia aumentaram a produtivi-dade. A lotação média dos pastos, segundo osfazendeiros entrevistados, foi de 1,52 animal/ha (mediana de 1,5, n=79), ou seja, 10% su-perior à lotação média dos pastos mais produ-tivos em 1995 (IBGE, 1996). A idade médiade abate dos animais era de 32 meses (medi-ana de 36 meses) e o ganho de peso de 503gramas/dia, 20% maior que o descrito em Ari-ma e Uhl (1997). Na amostra de 85 casos, oaumento da produtividade foi conseguido pormeio do cruzamento industrial (praticado por21% dos produtores), da inseminação artifici-

39 Dados obtidos do Ibama em Brasília, em 2005, referentes a todos os crimes ambientais.40 O Ibama explica que a baixa arrecadação está associada ao grande número de recursos contra as multas, a erros naaplicação destas, à insuficiência de pessoal para acompanhar os processos e à possibilidade de suspensão da multa(Folha de São Paulo, 2004; O Globo, 2004).

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al (27% dos produtores) e da rotação de pas-tos (16%). Embora esses números não pos-sam ser extrapolados para todos os criadores,eles refletem a possibilidade “máxima” de pro-dução com a tecnologia atual. Os produtoresque adotam tecnologias mais avançadas sãocompetitivos no mercado e estarão aptos aganhar novos mercados internos e externosassim que a febre aftosa for controlada.

Contudo, os avanços tecnológicos nem sem-pre levam à intensificação da produção no ní-vel regional. Se esses avanços diminuírem oscustos médios de produção e forem facilmen-te adotados pelos fazendeiros, o efeito será ooposto, ou seja, a expansão da pecuária paranovas áreas.41

Finalmente, é necessário observar que areforma de pastagens não pode ser generali-zada para todas as áreas degradadas – a me-canização, por exemplo, é impossível em áre-as acidentadas e terrenos muito úmidos. Des-sa forma, os ganhos de produtividade deriva-dos da reforma de pastagem não são extrapo-láveis para todas as áreas desmatadas.

Disponibilidade de crédito subsidiado. Adisponibilidade de crédito subsidiado do FNO eFCO continuará exercendo pressão para o au-mento dos desmatamentos, apesar de nãosabermos a magnitude desse impacto. Todosubsídio a uma atividade econômica implicamenores custos de produção e, portanto,maiores lucros. Mesmo que esses créditos ouos de outros programas sejam destinados aaumentar a produtividade da pecuária nas áre-as já desmatadas, será difícil evitar que o lu-cro adicional obtido com subsídio não seja uti-lizado para ampliar a pecuária em outras áre-as. A eventual expansão da pecuária resultan-te do subsídio aumentaria os desmatamentos.Portanto, para que as políticas de intensifica-ção da pecuária tenham o efeito desejado, énecessário restringir, por meio de criação de

Unidades de Conservação, a área disponívelpara desmatamento.

Uma vez que esses fundos são constitucio-nais, os recursos provavelmente serão manti-dos no longo prazo. Em 2004, os recursos dosFundos Constitucionais previstos para a agrope-cuária nos Estados da Amazônia (excluindo oMaranhão) somavam R$ 896 milhões; dos quaisR$ 534 milhões do FCO-Rural somente para MatoGrosso e R$ 361 milhões do FNO para a agrope-cuária e do Pronaf (Programa Nacional de Forta-lecimento da Agricultura Familiar)42.

Os bancos que gerenciam os fundos consti-tucionais devem tentar evitar, pela imposiçãode salvaguardas ambientais, que tais recursossejam utilizados para financiar desmatamen-tos diretamente na propriedade. As salvaguar-das incluem a manutenção da Reserva Legal edas áreas de preservação permanente, alémdo licenciamento ambiental, de acordo comuma determinação do governo federal por meiodo Protocolo Verde43. Porém, o Grupo de Tra-balho Interministerial (GTI) contra o desma-tamento identificou, em 2003, a necessidadede mudanças na aplicação desse protocolo, afim de tornar o controle mais efetivo (Brasil,2004d). Em seu relatório, o GTI não especifi-cou as deficiências na aplicação do protocolo enão encontramos na literatura qualquer análi-se da sua aplicação. Entretanto, a preocupa-ção do GTI parece consistente, pois Wood etal. (2003) mostraram que pequenos produto-res que receberam crédito na região de Urua-rá, na Transamazônica, desmataram mais doque aqueles que não receberam. Embora oestudo não tenha investigado se os desmata-mentos adicionais foram legais ou não, ele in-dica que o crédito está associado ao aumentodo desmatamento.

Demanda por qualidade dos produtos para

exportação. Para atingir o mercado externo,além de controlar a febre aftosa, os produto-

41 Esse efeito adverso da tecnologia no desmatamento será ainda mais acentuado se a Amazônia atender à demandamundial por carne (demanda elástica). Simulações utilizando modelos de equilíbrio geral mostram que melhorias naprodutividade aumentam as taxas de desmatamento em longo prazo (Cattaneo, 2002).42 Dados obtidos em Brasil, 2004a e Brasil, 2004b.43 O Protocolo Verde é um acordo estabelecido entre o Ibama e os bancos públicos para que os investimentos sejamcondicionados ao respeito à legislação ambiental e a melhores práticas.

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res terão de atender ao padrão de qualidadeda carne exigido para exportação. SegundoNehmi Filho (2003), o padrão para exportaçãoé um animal macho com pelo menos 480 kgde peso vivo, com no máximo três anos, cas-trado e com boa cobertura de gordura. Alémdisso, a exportação exige rastreabilidade dorebanho – ou seja, um sistema que permiterastrear a origem e a cadeia de comércio dacarne exportada. Para atingir esse padrão se-ria necessário investir no melhoramento ge-nético e manejo de pastagens, típicos da pe-cuária mais produtiva.

A campanha para controlara febre aftosa

A campanha para controlar a febre aftosa in-clui aspectos de demanda e de oferta. A partirda década de 1990, o governo brasileiro e osprodutores têm intensificado investimentos paraerradicar a febre aftosa e ampliar as exporta-ções (ver detalhes da estratégia no Quadro 1).Entre 1992 e 2002, foi investido US$ 1,43 bi-lhão no sistema de defesa sanitária animal bra-sileiro, sendo 31% de recursos públicos estadu-ais e federal (Brasil, 2003). A vacinação contra afebre aftosa aumentou de 64% do rebanho na-cional em 1994 para 86% do rebanho em 2002(Brasil, 2003). O número de focos da doençacaiu expressivamente – de 2.093 em 1994 paraapenas cinco em 2004 (Brasil, 2004e). AlgunsEstados da Amazônia já estão livres da doença.A conclusão do controle permitiria um aumentoainda maior da produção na região.

Até o início desta década, o controle vinhasendo mais intensivo e efetivo nos Estados doSul44, Sudeste e Centro-Oeste do País (Figura12). Essas regiões são livres da febre aftosa,com reconhecimento da Organização Interna-cional de Saúde Animal, e, por isso, podemexportar carne para a União Européia e outrospaíses que exigem tal credenciamento.

Entretanto, o controle nas principais regi-ões produtoras na Amazônia está sendo am-

pliado. Mato Grosso tornou-se zona livre emetapas entre 2000 e 2001. Rondônia, Tocan-tins e Acre conseguiram o reconhecimento dezona livre com vacinação da Organização In-ternacional de Saúde Animal (OIE), respecti-vamente em 2001, 2003 e 2005, e já podemexportar. Esses quatro Estados possuíam 68%do rebanho da Amazônia em 2003, segundodados do IBGE (2005).

O sul do Pará é reconhecido como zona livrepelo Ministério de Agricultura, mas ainda aguar-da o reconhecimento da OIE (Figura 12) e, porisso, não pode exportar para outros países, maspode comercializar carne para outros Estadosdo Brasil. O governo brasileiro solicitou o reco-nhecimento da OIE para essa região em marçode 2004, mas a OIE pediu informações com-plementares. O governo enviou novo relatórioem janeiro de 2005 e aguarda a decisão. Seessa nova área for liberada, o Brasil ampliará orebanho livre de febre aftosa dos atuais 85%para 92% (Gazeta Mercantil, 2004). No sul doPará, há ainda um corredor sanitário (Figura12) que permite enviar bois vivos desta regiãodiretamente para o abate em frigoríficos emMatupá e Sinop no norte de Mato Grosso (Verdescrição de corredor sanitário no Quadro 1).

Apesar desses avanços, o controle da febreaftosa no Brasil ainda é desafiador e preocupaprodutores e autoridades. Em setembro de 2004,casos de febre aftosa no município de Monte Ale-gre, no Pará (área de risco desconhecido), leva-ram à suspensão temporária de exportações decarne brasileira. Outros casos em uma regiãonão exportadora - próximo a Manaus, no Ama-zonas - também em setembro de 2004, resulta-ram na suspensão das exportações do Brasil paraa Rússia até abril de 2005 (O Estado de SãoPaulo, 2004 e Newsletter dos Criadores, 2005).Entretanto, a Rússia manteve o embargo da im-portação de Estados da Amazônia, com exceçãode Mato Grosso (Newsletter dos Criadores,2005). Esses eventos indicam que áreas maisremotas da Amazônia – com baixa infra-estru-tura e baixa disponibilidade de serviços – pode-rão levar mais tempo para se tornarem aptas a

44 Vale notar que o Rio Grande do Sul começou o programa de vacinação em 1963, e Santa Catarina, em 1966(Wohlemberg, 2005).

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• Pecuária na Amazônia: tendências e implicações para a conservação ambiental

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exportar, além de, eventualmente, prejudicaremo comércio das áreas vizinhas livres da doença.Os casos de febre aftosa na Amazônia levaram ogoverno brasileiro a aumentar os esforços de con-trole em todo o território nacional.

Em outubro de 2005 foram descobertos 21focos de febre no sudoeste do Mato Grosso doSul – que possui o maior rebanho brasileiro eque era responsável por 20% das exportaçõesdo Brasil. Potenciais focos ainda não confirma-dos até sete de novembro foram identificadosno Paraná. O governo brasileiro começou a ado-tar medidas de controle, incluindo o isolamentodas regiões afetadas, o reforço de vacinação e oabate previsto de mais de 20.000 animais. Porcausa desses focos, países importadores embar-garam parcial ou totalmente compras do Brasil.Embora seja cedo para fazer prognósticos deta-lhados sobre os impactos econômicos dessesfocos, é possível projetar algumas tendênciaschave. O Brasil provavelmente continuará sen-do um importante exportador e poderá até mes-mo expandir o seu mercado. Entretanto, a pos-sibilidade de abrir alguns dos principais merca-dos que são mais restritivos provavelmente seráadiada. Portanto, o crescimento mais aceleradodas exportações da Amazônia e do resto do Bra-sil dependerá grandemente do aperfeiçoamentodo controle da febre aftosa nos próximos anos.Essas projeções são baseadas nas seguintes ob-servações.

• É improvável que os focos atuais se espa-lhem por todo o país, considerando que:(i)- o vírus identificado no Mato Grosso doSul já é conhecido e comum (Mapa, 2005);(ii)- a vacina já existente, cuja eficiência écomprovada, previne a infecção deste tipode vírus; e (iii)- que a cobertura de vaci-nação é elevada nos principais Estados pro-dutores do país (Brasil, 2004e). Portanto,os focos atuais seriam resultados de fa-lhas pontuais que podem incluir os seguin-tes fatores: (i)- a não vacinação do gadonas fazendas infectadas; (ii)- a conserva-ção inadequada da vacina que torna a va-

cinação inócua; e (iii)- o contrabando degado de regiões infectadas (supostamen-te, o Paraguai). Essas falhas podem ser cor-rigidas com medidas relativamente simples.

• O efeito nas vendas atuais será significa-tivo, mas provavelmente menor do queinicialmente projetado ou temido. Embo-ra 49 países tenham estabelecido algumtipo de restrição até o início de novem-bro, o Brasil vende para 152 países e oscompradores mais significativos restringi-ram apenas parcialmente as compras. Porexemplo, Rússia e Egito, que compraramrespectivamente 16% e 12% da carneexportada pelo Brasil em 2004 limitaramas compras apenas do MS, e a União Eu-ropéia (21% das importações em 2004)deixou de comprar de MS, PR e SP. Todosos países que deixaram de comprar do Bra-sil inteiro são compradores minoritários45.

• Consultores da MB Associados projetam quea redução das exportações de carne em2005 seria de cerca de US$ 240 milhões(Folha de São Paulo, 2005). Isso represen-taria menos de 10% do total exportado noano, já que até setembro deste ano as ex-portações foram de quase US$ 2,4 bilhões.As perdas de vendas no próximo ano de-penderão muito do desenrolar de novoseventos. As restrições atuais poderão sereliminadas entre seis meses e um ano seos controles adotados surtirem efeito e no-vos focos não surgirem. Consultores da MBAssociados argumentam que os principaiscompradores atuais restringem as comprasapenas das áreas infectadas por váriosmotivos. Primeiro, esses países aceitam ocontrole regionalizado da doença e podemimportar dos Estados que continuam livres.Segundo, a carne brasileira é relativamen-te barata e faltam substitutos, já que asexportações dos EUA estão limitadas pelaocorrência do “mal da vaca louca” e a Aus-trália e a Argentina têm pouco espaço paraampliar a produção. Desta forma, outros

45 O Ministério da Agricultura informou a lista de países que embargaram as importações e o nível de embargo noseguinte endereço: http://www.agricultura.gov.br/. Acesso em: 05 nov. 2005. Os dados sobre o volume de importaçõesdestes países em 2004 foram obtidos em Lima et al., 2005.

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Estados brasileiros livres da aftosa com va-cinação podem ocupar parte do mercadode Mato Grosso do Sul. De fato, as exporta-ções do Brasil continuaram a crescer entre2002 e 2004 apesar da ocorrência de focosno Rio Grande do Sul em 2000 e 2001.

• Um dos efeitos mais significativos dos fo-cos atuais seria a continuação das restri-ções de vendas de carne in natura parapaíses que já não compram do Brasil. Estegrupo de países - que inclui EUA, Japão,

México, Coréia do Sul, Canadá, China eJordânia – importa cerca de US$ 7,5 bi-lhões em carne in natura por ano (Lima etal., 2005). Porém, exigem que os produ-tores sejam livres de aftosa sem vacina-ção ou que, pelo menos, regiões não ex-portadoras do país tenham controle comvacinação. Assim, as perspectivas de umcrescimento ainda maior derivado da aber-tura desses mercados seriam, no mínimo,adiadas.

Quadro 1 - A estratégia de controle da febre aftosa no Brasil

A estratégia brasileira foi controlar a doença por etapas e isolar as zonas livres das zonasinfectadas. Dessa forma, foi possível iniciar as exportações das áreas livres e seguir o controlenas zonas infectadas. O controle é feito através de vacinação, que deve ser repetida a cada seismeses. Para isolar as áreas infectadas foram criadas barreiras sanitárias e zonas tampão. Cadavez que uma área é considerada livre da doença, essa região passa a ter uma condição maisfavorável ao comércio de animais e produtos derivados. As classes de controle são as seguintes.

Áreas de risco desconhecido. Onde inexiste qualquer controle da doença. Não há infor-mações suficientes sobre o número de animais vacinados e locais de focos da doença.

Zonas tampão. Visam isolar as zonas livres das zonas de risco desconhecido. O comércioda zona tampão para a zona livre só pode ser feito se atender aos seguintes requisitos: (i) osanimais só podem entrar na área livre após 30 dias de quarentena e dois exames da doença;e (ii) a carne in natura deve estar desossada e resfriada. A permissão para transporte deanimais vivos entre essas zonas foi criada para atender criadores de animais de alto padrão,que são apresentados em exposições agropecuárias. A quarentena é impraticável para ani-mais para abate, pois fica muito caro manter o peso desses animais durante 30 dias.

Corredor Sanitário. É um corredor especial para o transporte de animais vivos de umazona ainda não livre (por exemplo, médio risco) que serão imediatamente abatidos em umazona livre. No caso de um corredor sanitário no sul do Pará (zona médio risco), autorizadopelo Ministério da Agricultura em 2003, as seguintes medidas são previstas para evitar acontaminação da zona livre no Mato Grosso: (i) o órgão de defesa animal do Pará devesolicitar a permissão de transporte do órgão de defesa animal do Mato Grosso antes doembarque de cada carga; (ii) os animais devem passar embarcados no posto de fiscalizaçãodo Indea (Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso) próximo da fronteiraentre estes Estados, acompanhados de uma Guia de Trânsito Animal; (iii) no posto os ani-mais devem ser inspecionados e os veículos devem ser desinfectados e lacrados até o destinofinal que são dois frigoríficos autorizados a receber os animais; e (iv) as carcaças dos animaissó podem ser comercializadas no mercado nacional.

Zona livre com vacinação. Após sair da condição de risco desconhecido, as áreas sãogradualmente inseridas em zonas de alto, médio e baixo risco. A passagem de uma zonapara outra representa a finalização de etapas estabelecidas no combate à doença. Após sairda zona de baixo risco, a área é considerada zona livre, mas ainda deve obedecer aocalendário de vacinação.

Zona livre. Zonas livres da doença, sem necessidade de vacinação. Para ser livre, a áreaprecisa demonstrar um efetivo controle da doença e não apresentar nenhum foco destadurante um período de cinco anos.

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Figura 12 - Evolução do controle da febre aftosa no Brasil entre 1998 e 2005 (Fonte:Brasil, 2004 e Indea46).

46 O Indea - Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso. Relatório de ações em 2003. Disponível em:http://www.indea.mt.gov.br/html/internas.php?tabela=paginas&codigoPagina=8. Acesso em: 6 out. 2005.

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Regiões e potenciais estratégiaspara expansão da pecuária

Nesta seção analisamos as prováveis regi-ões de expansão da pecuária e as estratégiasdos produtores para aumentar a produção nes-sas áreas. Para isso, apresentamos primeirouma projeção dos potenciais preços pagos aoprodutor (preço na fazenda) como uma variá-vel substituta da renda da pecuária. Os mapasindicam onde os preços seriam mais atrativospara a criação de gado. Ou seja, a pecuáriatenderá a se expandir onde o preço do gadopago ao produtor for suficiente para gerar lu-cro. Esta simulação considerou o asfaltamen-to de rodovias federais e o controle da febreaftosa, que permitiria a exportação nos princi-pais portos da região. Depois, avaliamos asprováveis estratégias dos produtores para ex-pandir a produção, isto é, onde provavelmen-te ocorreria a expansão do desmatamento eonde ocorreria investimento para aumento daprodutividade.

As regiões potenciais para expansãoda pecuária

O cenário base da simulação (A) – que con-siderou as condições predominantes no ano de2000, quando o preço da arroba do boi gordoestava entre R$ 29,00 e R$ 35,00 – revela queocorre desmatamento e, conseqüentemente,pecuária em localidades onde o nosso mapaindica preços do gado na porteira de pelo me-nos R$ 400,00 por tonelada viva. Se conside-rarmos este como o valor mínimo atrativo paraa pecuária, o mapa indica que 82% da Amazô-nia Legal ou 4,27 milhões de km2 poderiampotencialmente ser viáveis para a pecuária, dosquais 573 mil km2 já se encontravam desma-tados em 2001 (Figura 13A e Tabela 7).

O cenário B – considerando o asfaltamentoda Cuiabá-Santarém e de um trecho da Transa-mazônica entre sua interseção com a Cuiabá-San-tarém e Marabá – revelou um aumento de 30,4mil km2 na zona com preços acima de R$ 400,00(Tabela 7). O acréscimo dessas áreas ocorreriano oeste e centro-norte do Pará, ao longo dasrodovias a serem asfaltadas (Figura 13B).

No terceiro cenário (C) – assumindo o au-mento de 10% nos preços pagos nos princi-pais mercados exportadores da Amazônia (Be-lém, Santarém e Manaus) e o asfaltamento daCuiabá-Santarém e de parte da Transamazô-nica – a zona de “preço atrativo” para pecuá-ria aumentaria em 289 mil km2. As novas regi-ões atrativas para a pecuária estariam no oestee centro norte do Pará, no centro-oeste e emparte do sul do Amazonas. O principal impactodo asfaltamento e da possibilidade de exporta-ção de carne seria nas regiões onde a pecuáriaé apenas marginalmente atrativa no cenáriobase (preço abaixo de R$ 600,00). Com asfal-tamento e exportação, 657 mil km2 deixariamde ser marginalmente atrativos para se torna-rem bastante atrativos (preço maior do que R$600,00) – um aumento de 26% em relação aocenário base. Nas regiões em torno dos portosprováveis para exportação de carne (Manaus/Itacoatiara, Santarém e Belém), o preço do gadona porteira poderia ser maior queR$ 800,00/tonelada (Figura 13C).

Em todos os cenários, cerca de 70% dasáreas onde o preço seria potencialmente atra-tivo para a pecuária estavam fora de Unida-des de Conservação em 2005. Cerca de me-tade desta área ainda era florestada, cercade 30% eram de vegetação nativa não-flo-restal e o restante já era desmatado em 2004.Portanto, haveria uma grande área floresta-da sujeita à expansão da pecuária em qual-quer cenário.

Contudo, devemos frisar que a projeção dopreço pago ao produtor não é suficiente paraindicar aonde a produção irá de fato se ex-pandir. A expansão dependerá, além do pre-ço, de fatores políticos e sociais (veja seçãoseguinte), de fatores agro-climáticos que afe-tam a produtividade (esta tende a diminuirnas regiões mais úmidas, acima de 2.300 mm/ano) e, conseqüentemente, do custo de pro-dução e da lucratividade. A pluviosidade é altaem algumas das zonas que poderão ter pre-ços atraentes, como em torno de Belém e emgrande parte do Amazonas, inclusive Manaus.Uma evidência da importância da pluviosida-de é o fato de estes dois municípios importa-rem carne de outros municípios, apesar de

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possuírem a melhor infra-estrutura da regiãoe as terras não serem ocupadas por outrosusos altamente rentáveis (como os grãos).47

Na próxima seção discutiremos onde as dife-rentes estratégias de expansão poderão pre-dominar.

47 Além disso, o preço de pastagem formada em Manaus e Belém – apesar de estarem próximas de dois grandesmercados – era bem menor que o preço das principais regiões produtoras do Pará no início de 2004 (correspondia aapenas 36% a 74% do preço de pastagens em Redenção, no sudeste, e Paragominas, no leste do Pará). Comparaçãobaseada nos preços de pastagem de baixo suporte disponíveis no Anualpec (2004).

Figura 13 - Projeções do preço potencial pago ao produtor (na porteira da fazenda) de acordocom cenários: A – Base: preço de transporte coletado neste trabalho com infra-estrutura atuale preço de comercialização (frigoríficos) em 2000; B: equivalente ao cenário base mais o asfal-tamento da Cuiabá-Santarém e do trecho paraense da Transamazônica; e C: aumento de 10%no preço de comercialização nos principais pontos potenciais de exportação da Amazônia (Be-lém, Santarém e Manaus) e o asfaltamento da Cuiabá-Santarém e da Transamazônica entre suainterseção com a Cuiabá-Santarém e Marabá.

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Estratégias para expansão daprodução pecuária

A conjugação dos fatores discutidos acimaenvolve incertezas e, por isso, é difícil preverexatamente quais estratégias de produção pe-cuária predominarão: se a intensificação daprodução nas áreas já desmatadas ou se o des-matamento de novas áreas. Entretanto, é pos-sível discutir cenários qualitativos prováveisconsiderando a força de algumas tendências ede situações já estabelecidas. Os pecuaristasprovavelmente intensificarão a pecuária naszonas já ocupadas que não têm potencial paraagricultura intensiva em parte do Centro-Oestebrasileiro e em áreas mais antigas de ocupaçãona Amazônia (leste do Pará, Maranhão, Rondô-nia, Mato Grosso e Tocantins). Essas regiõescontam com razoável infra-estrutura e áreas jádesmatadas (cujo custo de renovação de pas-tagem é mais baixo que o de desmatamento).Além disso, os produtores tenderão a desma-tar áreas adicionais nessas zonas antigas deocupação. Um dos autores observou, em janei-ro de 2005, que pelo menos dois tipos de ex-pansão estão ocorrendo no oeste do Maranhão(incluindo os municípios de Açailândia, Itingado Maranhão, Buriticupu e Santa Luzia). Noprimeiro caso, fazendeiros vendem a madeirados remanescentes de floresta para produçãode carvão e os produtores de carvão deixam aárea pronta para o plantio de capim. No segun-

do caso, os pecuaristas investem em poços ar-tesianos profundos (que chegam até 200 me-tros), que viabilizam a pecuária em áreas semfontes naturais de água (chamados regional-mente de trechos secos).

Ao mesmo tempo, pecuaristas tenderão amigrar para zonas interiores da Amazônia combaixa infra-estrutura e para zonas onde a pro-dução de grãos é pouco competitiva (regiõesmais acidentadas e com períodos de chuva maislongos). A migração tenderá a ocorrer especial-mente para zonas com potencial de melhoriasde infra-estrutura, como é o caso dos trechossituados ao longo das rodovias Cuiabá-Santa-rém e da Transamazônica, entre Marabá e Alta-mira, as quais seriam asfaltadas, segundo osplanos governamentais atuais. Consultores eminvestimento agropecuário (ver Anualpec, 2003)indicam que a migração também deverá ser in-fluenciada pela disponibilidade de grandes gle-bas nas novas fronteiras. Grandes áreas permi-tem o aumento da escala de produção, o que,por sua vez, eleva a lucratividade.

De fato, já é possível identificar sinais deocupação humana em novas fronteiras na Ama-zônia Legal. Uma evidência dessa ocupação sãoos focos de calor em florestas identificados porsatélite (Figura 14). Fica evidente que a pecu-ária poderá expandir-se especialmente no nortede Mato Grosso, em Rondônia, no leste do Acree no Pará.

Tabela 7 - Efeitos do asfaltamento de estradas e do aumento de preço de carne para exportaçãona área potencialmente viável para pecuária.

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• Pecuária na Amazônia: tendências e implicações para a conservação ambiental

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Figura 14 - Potenciais zonas de expansão da pecuária indicadas por focos de calorem florestas no bioma Amazônia. Focos de calor são indícios de incêndios e queima-das identificados por satélites. Fonte dos focos de calor: Inpe em www.inpe.gov.br.

Entretanto, a intensidade da expansão dapecuária para novas fronteiras e o nível dedesmatamento nessas zonas dependerão muito

da eficácia das políticas de controle do desma-tamento e da criação de Unidades de Conser-vação. Esses temas serão discutidos a seguir.

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Neste trabalho mostramos que o “su-cesso” da pecuária na Amazôniadeve-se principalmente aos preços

mais baixos da terra nas regiões com pluviosi-dade adequada. Além disso, mostramos que aAmazônia atende à demanda regional e nacio-nal. A análise dos fatores de oferta e demandaindica que a pecuária poderá se expandir ain-da mais na Amazônia e que, provavelmente,irá atender a parte da demanda mundial. Paraalguns, esse cenário é animador, pois significamaiores oportunidades de desenvolvimentoeconômico. Para outros, o cenário é preocu-pante, considerando o risco de aumento dodesmatamento da floresta amazônica.

Diante desse conflito de visões, é pertinen-te perguntar se seria possível conciliar os ob-jetivos de crescimento da pecuária e de con-servação na Amazônia. Argumentamos a se-guir, que a predominância do livre mercado(sem qualquer restrição legal) levaria à expan-são da pecuária, principalmente daquela ba-seada no desmatamento indiscriminado e que,por isso, seria necessária uma intervençãogovernamental estratégica para conciliar ocrescimento da pecuária com a conservação.

Cenário de predominância dolivre mercado

Embora o crescimento econômico e a pro-teção ambiental sejam objetivos legítimos, o

COMO CONCILIAR CONSERVAÇÃO AMBIENTALE PECUÁRIA NA AMAZÔNIA?

contexto freqüentemente favorece o cresci-mento econômico, pois os ganhos privados sãomaiores em curto prazo (um exemplo disso éo acúmulo de ganhos dos pecuaristas). Poroutro lado, as perdas ambientais e ecológicastendem a ser difusas e costumam se manifes-tar em longo prazo. Por exemplo, os riscos deperda de biodiversidade crescem devido à somado desmatamento de diversas propriedades aolongo de vários anos.

Entretanto, as opções de usos sustentáveisdas florestas são limitadas, avançam lentamen-te ou não são competitivas em relação à agro-pecuária. Por exemplo, a grande maioria dosconsumidores de madeira (que é o principalproduto extraído das florestas da região) nãoexige uma origem sustentável do produto. Issopode ser demonstrado pela demanda potenci-al por madeira certificada em São Paulo, a qualrepresentaria apenas cerca de 20% do consu-mo total do Estado (Sobral et al., 2002). Alémdisso, o manejo sustentável para produção demadeira nas condições recentes de mercado émenos rentável que a pecuária (ver detalhesem Barreto et al., 1998).

Embora a importância das florestas nativaspara o clima seja cada vez mais reconhecida,não existe um sistema que remunere a maio-ria dos proprietários por esse serviço48. Omaior esquema de compensação ambiental –o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)do Protocolo de Quioto – que entrou em vigorem fevereiro de 2005, desconsidera o desma-

48 Existe uma iniciativa piloto – chamada Proambiente – para criar uma política pública de compensação por serviçosambientais. A política envolveria pagamentos para pequenos proprietários, comunidades indígenas e pescadores quedesenvolvessem atividades de conservação. Essa política vem sendo apoiada por uma coalizão de entidades sociais,incluindo a Federação dos Trabalhadores da Agricultura na Amazônia Legal, a Confederação Nacional dos Trabalhadoresna Agricultura, o Movimento Nacional de Pescadores e a Coordenação das Nações Indígenas da Amazônia Brasileira. Nafase piloto em 2003, seriam apoiadas 500 famílias em 12 pólos regionais. (Informações coletadas em apresentação deCássio Pereira, disponível em <http://www.worldbank.org/rfpp/docs/pereira.ppt> Acesso em: 8 de fevereiro de 2005).Embora louvável, o programa é restrito aos pequenos proprietários, que são uma pequena parcela dos agentes dodesmatamento – segundo o IBGE, as propriedades menores que 500 hectares, por exemplo, correspondiam a 29% dototal da área das propriedades em 1995 (IBGE, 1996) – e o financiamento além da fase piloto é incerto.

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• Pecuária na Amazônia: tendências e implicações para a conservação ambiental

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tamento evitado como uma possibilidade paracompensação de emissões de gases do efei-to estufa. De fato, é pouco provável que al-gum sistema abrangente seja criado em cur-to prazo49.

Enfim, o contraste entre ganhos econômi-cos dos agentes específicos em curto prazo(fazendeiros, madeireiros e parte da popula-ção local) e de ganhos ambientais difusos emlongo prazo (conservação ambiental para apopulação em geral) dificulta a execução deprogramas de proteção ambiental e favoreceas pressões pelo crescimento rápido. Portan-to, sem uma forte intervenção governamentale sem mudanças no mercado atual, o merca-do favorecerá uma expansão da pecuária pormeio do desmatamento nas áreas de ReservaLegal das propriedades privadas e em terraspúblicas devolutas.

Cenário de intervençãogovernamental estratégica

A atuação dos governos federal e estaduaispara conciliar o crescimento da produção pe-cuária com a conservação ambiental deve serconcentrada em aspectos-chave. Primeiro, énecessário ampliar e garantir a proteção am-biental em terras públicas por meio da criaçãode Unidades de Conservação e do combate àocupação desordenada de terras devolutas.Essas medidas seriam importantes para pro-teger áreas ecologicamente sensíveis e paraevitar que o custo da terra seja demasiada-mente baixo – o que desestimula os investi-mentos em aumento da produtividade nas áre-as já ocupadas. Segundo, é necessário facili-tar a consolidação da pecuária nas áreas combom potencial agropecuário e garantir uma boagestão ambiental nessas regiões.

Criar Unidades de Conservação e comba-ter a ocupação ilegal de terras devolutas

Inicialmente, é necessário evitar o desma-tamento de terras públicas sem aptidão agríco-la (por exemplo, áreas com chuvas excessivase declive acentuado) e ricas em biodiversida-de. Em termos políticos e econômicos, a ma-neira mais eficaz para alcançar esses objetivosseria a criação de Unidades de Conservação emregiões de baixo potencial agrícola. Como odesmatamento dessas áreas tenderia a produ-zir baixos retornos econômicos e sociais, asresistências locais à criação de Unidades deConservação tenderiam a ser menores. Por ou-tro lado, para atender as demandas por desen-volvimento econômico local, parte dessas áre-as deveria ser destinada à produção de bens eserviços florestais. Isso poderá ser feito em flo-restas públicas por meio de concessões de usopara produção sustentável de madeira comoprevê um projeto de lei do governo federal emapreciação no Senado.

As Unidades de Conservação teriam outrasvantagens adicionais. A manutenção das terrassob domínio público significaria que o custo deoportunidade de não desmatá-las seria com-partilhado por toda a sociedade; ao contráriodas terras privadas, nas quais o custo de man-ter as florestas recai sobre os proprietários que,freqüentemente, resistem ao controle. Seriamais fácil monitorar a situação das Unidadesde Conservação usando imagens de satélites,fotos aéreas e sistemas de informação geográ-fica do que as áreas privadas, pois os blocos deterra são contínuos e com limites fundiários bemdefinidos. De fato, alguns estudos têm mostra-do a efetividade de alguns tipos de Unidadesde Conservação na contenção do desmatamen-to, mesmo considerando os pequenos esforçosde fiscalização em relação à área total das Uni-dades de Conservação (ver Mahar e Ducrot,

49 O MDL permite que países mais desenvolvidos que devem reduzir as emissões possam compensar suas metas deemissões financiando projetos de redução em países em desenvolvimento. Esse mecanismo foi criado considerandoque para o clima global não importa onde as emissões ocorram, mas sim que elas sejam reduzidas. A decisão de nãoincluir o desmatamento evitado como projetos de MDL poderá ser revista no futuro, mas demandará negociaçãointernacional antes do fim do primeiro período do compromisso que vai até 2012.

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1999 e Thomas, 2003). Finalmente, a criaçãode Unidades de Conservação tornaria o recursoterra mais escasso (e mais caro), o que poderiaestimular investimentos para aumentar a pro-dutividade das áreas já desmatadas e a recu-peração de áreas degradadas (White et al.,2001). Contudo, a criação de Unidades de Con-servação requer um esforço mínimo de vigilân-cia para evitar a invasão das áreas.

O governo federal e alguns governos esta-duais têm criado Unidades de Conservação emáreas identificadas como prioritárias para con-servação da biodiversidade e planejam criaroutras (ver mapa de áreas prioritárias em Ca-pobianco, 2001). A execução desses planosdeve ser acelerada para evitar que a crescen-te demanda por produtos agropecuários e osinvestimentos em infra-estrutura planejadosresultem na ocupação e nos desmatamentosde áreas de interesse para conservação.

Para acelerar a criação das Unidades deConservação é essencial que o governo fede-ral aproveite o interesse de governos estadu-ais no zoneamento ecológico-econômico (ZEE).O ZEE é uma pré-condição para investimentospúblicos internacionais (por exemplo, do Ban-co Mundial) e pode reduzir as incertezas sobreos investimentos privados nos seus Estados –principalmente porque permite regulamentara recuperação da Reserva Legal nas proprie-dades privadas de acordo com o atual CódigoFlorestal. A proposta de macro ZEE do Estadodo Pará (Sectam, 2004) tem permitido umaconvergência de interesses e negociações en-tre os governos federal e estadual, que pode-rá resultar na criação de várias Unidades deConservação nesse Estado em 2005.

Entretanto, é preciso reconhecer que espe-culadores, políticos locais e produtores ruraispoderão se opor à criação de mais Unidades deConservação. Essa resistência poderá ocorrerinclusive em áreas com baixo potencial agríco-la. Isso porque os ocupantes de novas frontei-ras podem ter expectativas equivocadas quan-to ao potencial agrícola dessas áreas. Ou seja,

produtores rurais podem ocupar áreas com bai-xo potencial agrícola com a expectativa de ob-ter ganhos similares a outras áreas com me-lhor potencial já ocupadas. Os 6,8 milhões dehectares de terras produtivas não utilizadas nosestabelecimentos rurais da Amazônia Legal em1995 indicam que o risco de ocupação equivo-cada não é desprezível. Portanto, o zoneamen-to de potencial agrícola é chave para que osgovernos justifiquem a proteção de áreas bio-logicamente importantes e evitem investimen-tos com baixo potencial de retorno.

É importante observar que a proteção deáreas biologicamente ricas em regiões compotencial agrícola tenderá a enfrentar maioresresistências, pois poderá resultar em maioresperdas econômicas locais. Um exemplo dessapressão foi a proposta do governo do MatoGrosso em 2003 de reduzir cerca de 30% doParque Estadual do Xingu. O governo estadualargumentou sobre a necessidade de excluiráreas produtivas para expansão agrícola e con-tou com o apoio da população do municípiopara tal medida (Diário de Cuiabá, 2003). Dequalquer forma, é importante garantir o míni-mo de proteção dessas áreas. Paralelamente,os governos devem proteger as Unidades deConservação e reservas indígenas já criadas,que somados equivalem a aproximadamente34%50 da Amazônia.

Aperfeiçoar a gestão ambiental nas ter-ras privadas

A expansão da pecuária demandará o aper-feiçoamento da gestão ambiental em terrasprivadas que, segundo o IBGE (1996), ocupa-vam 24% da Amazônia Legal em 1995. É pre-ciso estabelecer uma base legal sólida e fisca-lizar o cumprimento da Reserva Legal (RL). Temsido polêmico exigir que os proprietários querespeitaram a RL de 50% até 1996 reflores-tem 30% das fazendas para atingir 80%, con-forme o novo Código Florestal; especialmentesem a existência de um Zoneamento Ecológi-co-econômico que regulamente sua aplicação

50 Estimativa de Maria Beatriz Ribeiro (pesquisadora do Imazon) em junho de 2005.

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• Pecuária na Amazônia: tendências e implicações para a conservação ambiental

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em alguns Estados. De fato, seria financeira-mente ineficiente exigir a recomposição flo-restal de pastos produtivos em fazendas querespeitavam o código florestal antigo e aomesmo tempo permitir novos desmatamentosem novas fronteiras. Portanto, é crucial con-cluir os ZEEs e regulamentar a Reserva Legal– incluindo a possibilidade de mantê-la em50%, para efeito do cálculo das áreas que de-vem ser recompostas nas áreas com bom po-tencial agrícola e não prioritárias para conser-vação. Além disso, será necessário fiscalizar amanutenção das Áreas de Preservação Perma-nente e de medidas para evitar incêndios flo-restais (como a manutenção de aceiros emtorno das florestas).

A recente aprovação do macro zoneamentono Pará provavelmente resultará em pressõespara diminuir o porcentual de Reserva Legalabaixo dos 50% originais em regiões já ocu-padas (considerando o Código Florestal até1996). Apesar de ser financeiramente e, emalguns casos, socialmente justificável ampliaro uso agropecuário onde já há infra-estrutu-ra51, esse tipo de proposta certamente vai ge-rar polêmica. É necessário alertar que a even-tual redução da Reserva Legal nessas áreasdeveria ser baseada no zoneamento agro-eco-lógico detalhado ou em um licenciamento am-biental, propriedade por propriedade, criterio-so e não no macro zoneamento. Sem o zonea-mento detalhado, haveria o risco de permitir odesmatamento de áreas inapropriadas – ouseja, áreas de baixo potencial agrícola quepoderiam ser degradadas após poucos anos deuso e não seriam mais atrativas para recupe-ração, principalmente onde ocorrem terrenos

51 O desmatamento adicional em áreas com potencial agrícola e boa infra-estrutura seria economicamente mais eficienteque o desmatamento adicional em zonas com baixa infra-estrutura.

acidentados ou muito úmidos; ou áreas queseriam prioritárias para conservação na esca-la local (por exemplo, devido à existência deespécies únicas locais).

Contudo, mesmo que regras estáveis e sen-satas sejam estabelecidas sobre a ReservaLegal, a resistência contra qualquer forma decontrole provavelmente continuará. Portanto,será essencial investir no sistema de controledo uso das terras privadas. Os processos ad-ministrativos e judiciais contra os infratoresdevem ser aperfeiçoados para reduzir a impu-nidade. A certeza da punição dos infratoresidentificados aumentaria a eficácia dos esfor-ços de fiscalização.

Os agentes financeiros e ambientais devemgarantir que o uso do crédito público para aagropecuária obedeça estritamente a aplicaçãodas ressalvas ambientais. Em 2004, o governofederal prometeu rever as normas de aplicaçãodo Protocolo Verde para torná-lo mais efetivo.Além disso, comprometeu-se a elaborar umaproposta de cadastro dos inadimplentes ambi-entais (Cadin Verde) para evitar que estabele-cimentos com pendências ambientais recebamcrédito público (Brasil, 2004d). Essas promes-sas indicam a preocupação com o potencialimpacto ambiental negativo do crédito públicoe o seu cumprimento deve ser monitorado.

Finalmente, é importante frisar que a recu-peração de áreas degradadas não garante aredução de novos desmatamentos. De fato, po-líticas de subsídio à produção na Amazônia te-rão o resultado adverso de aumentar os des-matamentos se não forem acompanhadas deuma restrição ao acesso a novas áreas flores-tadas.

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No início de 2005, uma equipe do Imazon – liderada porRitaumaria Pereira - fez um novo levantamento sobre ocomércio de boi vivo e de carne junto aos frigoríficos e

comerciantes na Amazônia Legal. A seguir resumimos as principaismudanças observadas em relação a 2001. O mercado para animaisrastreados prontos para serem exportados é crescente. O preço des-ses animais é cerca de 2% a 5% maior do que o boi comum. Além doMato Grosso, Rondônia e Tocantins, frigoríficos do sul e sudeste doPará também aparecem como exportadores de carne para os paísescom menores restrições sanitárias (a chamada lista geral)52. Atual-mente (de acordo com dados coletados em campo em 2005 e aindanão publicados) existem quatro frigoríficos no Estado do Pará habili-tados a exportar. Os preços do boi gordo tiveram uma queda em ter-mos reais em relação a 2001, o que temporariamente tem diminuídoa euforia em relação à pecuária. Porém, os pecuaristas de Mato Gros-so e do Pará já reagiram para recuperar suas margens de lucro. Elespressionaram e os governos desses Estados reduziram o Imposto so-bre Circulação de Mercadoria sobre a venda do gado: no Pará caiu de7% para 1,8% em agosto, e no Mato Grosso passou de 12% para 3%em julho. Essa ação demonstra a organização e o poder político dosetor pecuarista. Apesar das flutuações de preços, os cenários de lon-go prazo descritos no texto ainda continuam válidos.

EPÍLOGO

52 EUA, Japão e UE estão fora desta lista.

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ANEXO I

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Motivos para o crescimento dapecuária na Amazônia

Partimos da hipótese de que a pecuária naAmazônia cresceu principalmente motivadapelo maior retorno do investimento na região,se comparada a outras regiões. Esse retornoatrativo seria derivado especialmente do bai-xo preço da terra e da melhor produtividadenessas áreas. Para verificar essa hipótese com-paramos: (i) os preços de pastagens na Ama-zônia e em São Paulo entre 1977 e 2000 (Fun-dação Getúlio Vargas, vários anos); (ii) a pro-dutividade das principais regiões produtorasda Amazônia com o restante do Brasil, usandodados do Anuário da Pecuária Brasileira (Anu-alpec, 2003); e (iii) a lucratividade e taxa deretorno do investimento nas principais regiõesprodutoras da Amazônia e no restante do Bra-sil, usando dados do Anualpec 2003.

Entretanto, consideramos que a pecuárianão é homogênea na região amazônica. Paradiscriminar as regiões de maior crescimentodessa atividade analisamos os dados do IBGEreferentes ao período entre 1990 e 2003 (IBGE,2005) sobre o rebanho na Amazônia Legal. Fi-nalmente, para compreender a existência dapecuária de baixa produtividade na região re-visamos análises de vários autores. Detalhessobre as fontes de dados e análises desta se-ção são apresentados juntamente com as ta-belas e figuras dos resultados.

Assumimos também que o mercado teve for-te papel na evolução da pecuária regional. Porisso, levantamos informações sobre a comerci-alização de bois vivos e carne da região (verdescrição do levantamento no item seguinte).

Consideramos que, além do bom retornofinanceiro, a disponibilidade de capital de fácilacesso ou em condições favoráveis tambémfacilitou o crescimento da pecuária na Amazô-

MÉTODOS: CARACTERÍSTICAS DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA EMOTIVOS PARA SEU CRESCIMENTO

nia Legal. Por isso, coletamos informações so-bre as condições de crédito dos Fundos Cons-titucionais de Financiamento utilizado pelo se-tor rural da região. Esses fundos foram cria-dos em 1988 para apoiar com vantagens fi-nanceiras o desenvolvimento de regiões me-nos desenvolvidas do País, incluindo o Centro-Oeste, Nordeste e Norte brasileiros. Avaliamoso destino dos fundos aplicados pelo FNO rural(o fundo constitucional usado na AmazôniaLegal) entre 1989 e 2002, de acordo com da-dos do Banco da Amazônia. Além disso, revi-samos o volume de recurso gerado pelo setormadeireiro que tem sido usado, em parte, parafinanciar a pecuária.

O papel do mercado na pecuária bovinada Amazônia

Para compreender o papel do mercado napecuária bovina da Amazônia, levantamos da-dos sobre a comercialização de gado vivo ecarne nos principais pólos pecuários da Ama-zônia no primeiro semestre de 2000. Para isso,entrevistamos gerentes de frigoríficos, fazen-deiros e comerciantes de gado, por meio dequestionários semi-estruturados.

A carne é comercializada por matadouros efrigoríficos. Os frigoríficos são maiores que osmatadouros e têm a capacidade de resfriar eprocessar a carne, produzindo vários tipos decorte. Em contrapartida, os matadouros sãofreqüentes em pequenas cidades, mas não fo-ram incluídos no estudo, pois comercializamum volume pequeno de carne, se comparadosaos frigoríficos.

Para planejar o levantamento de campo,delimitamos nosso universo amostral consul-tando a lista de frigoríficos fornecida pelas se-cretarias de agricultura (estaduais e munici-pais) e delegacias do Ministério da Agricultu-ra. Solicitamos também, de alguns sindicatos

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• Pecuária na Amazônia: tendências e implicações para a conservação ambiental

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de produtores rurais, informações sobre a lo-calização ou existência de empresas que, poralgum motivo, poderiam não constar nas lis-tas obtidas anteriormente.

Entrevistamos 21 gerentes de frigoríficos,ou o equivalente a 35% dos 59 existentes naépoca do levantamento de campo. Os respon-sáveis pelos frigoríficos entrevistados foramescolhidos segundo critérios oportunistas: en-trevistamos aqueles presentes no momento emque visitávamos o município e que estavamdispostos a fornecer informações. Questiona-mos os gerentes sobre o ano de instalação dasempresas, a capacidade de abate, os custosde transporte e os mercados de compra e ven-da de animais vivos e processados. Os repre-sentantes dos frigoríficos ao longo da Belém-Brasília (BR-010), um em Paragominas e ou-tro em Castanhal, negaram o pedido de entre-vista. Entretanto, obtivemos com informantesexternos dados sobre os mercados abasteci-

dos por esses frigoríficos, mas não quantifica-mos sua produção e outras informações.

Entrevistamos também 28 compradores degado em 27 municípios com rebanho expres-sivo para obter informações sobre mercados ecustos de transporte. Esses municípios foramselecionados por possuírem os maiores reba-nhos, segundo o Censo Agropecuário de 1996.Os municípios visitados possuíam, em 2001,cerca de 10% do total de animais bovinos daAmazônia. Embora não sejam regiões pecua-ristas importantes, Manaus e Boa Vista foramincluídas nesta pesquisa por importarem gadode outras regiões.

Para facilitar a exposição dos dados, osmunicípios foram reunidos em oito grupos dis-tintos chamados de eixos, pois se aglomeramao longo das principais rodovias federais e es-taduais (Figura 6) – a região da BR-364, porexemplo, contém os municípios de Rondôniae Acre.

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ANEXO II

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Avaliamos os principais fatores que afetarãoa produção bovina na região revisando os prin-cipais aspectos da demanda e oferta relaciona-dos ao mercado e às políticas públicas. Paracompreender o potencial papel do controle dafebre aftosa na produção e no comércio de gadoda região, revisamos a literatura sobre a estra-tégia e os resultados do controle, incluindo da-dos da exportação de carne bovina do Brasil.Essa revisão foi baseada em literatura acadê-mica, relatórios governamentais, artigos daimprensa sobre eventos recentes relevantes eobservações de campo dos autores.

Onde a pecuária poderá seexpandir na Amazônia?

Fortes mudanças estão ocorrendo nos fato-res de oferta e demanda por produtos pecuári-os, as quais afetarão a localização da atividadena Amazônia. Projetamos de que maneira a ex-portação de carne da Amazônia e o asfaltamentode algumas estradas poderiam afetar a locali-zação da pecuária. Para isso, estimamos o pre-ço do gado pago ao produtor (valor na porteirada fazenda) como uma variável substituta darenda da pecuária – a pecuária tenderá a seexpandir onde o preço do gado pago ao produ-tor for suficiente para gerar lucro.

O valor pago ao produtor foi a diferençaentre o preço pago nos locais de comercializa-ção (frigoríficos ou portos, no caso de expor-tação) e o custo de transporte até os pontosde produção, considerando as estradas exis-tentes ou que serão asfaltadas. Usamos dadoscoletados nesta pesquisa e da literatura paraestimar o preço pago ao produtor. A interaçãodos dados foi feita em um sistema de informa-ção geográfica, conforme detalhes na seçãoseguinte.

MÉTODOS: FATORES QUE AFETARÃO O FUTURO DA PECUÁRIA

Estimamos o preço pago ao produtor emtrês cenários:

1. Cenário base – considerou preços detransporte coletados neste trabalho cominfra-estrutura atual e o preço de comer-cialização (frigoríficos) corrente.

2. Cenário asfaltamento de rodovias - As-faltamento da Cuiabá-Santarém e do tre-cho da Transamazônica entre a sua in-terseção com a Cuiabá-Santarém e Ma-rabá. O efeito do asfaltamento seria aredução do custo do transporte.

3. Cenário asfaltamento e exportação. Con-sideramos um aumento de 10% no pre-ço de comercialização nos principais pon-tos potenciais de exportação da Amazô-nia: portos de Belém, Santarém e Ma-naus e o asfaltamento descrito acima.Dez por cento do valor é um aumentoplausível para a carne tipo exportação,segundo Nehmi Filho (2003).

A projeção do preço do gado pago ao pro-dutor na Amazônia

Considerações teóricas. As mudanças naoferta e demanda por carne bovina influencia-rão a distribuição espacial da pecuária na Ama-zônia. O modelo de Von Thünen ajuda a en-tender o impacto dessas mudanças na frontei-ra de produção. A fronteira irá se expandir atéo ponto em que a renda econômica da ativida-de for zero, como dado pela fórmula:

R = E(p-a) - Efkonde R é a renda econômica por hectare,

p é o preço do gado (por arroba) no centrode comercialização, E é a produção por hec-tare (portanto, Ep é a renda bruta), a é ocusto médio de produção, f, o custo de trans-porte por arroba por quilômetro e k, a dis-tância do local de produção até o de comer-cialização.

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• Pecuária na Amazônia: tendências e implicações para a conservação ambiental

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Considere a situação atual ilustrada na Figu-ra 15: a fronteira pecuária está em d1, onde arenda econômica é zero. Caso o preço do gadoaumente por causa da exportação ou do aumentona demanda interna, a fronteira viável para pro-dução será expandida – assim, toda a reta sedeslocará paralelamente para a esquerda e in-terceptará o eixo horizontal em d2. A renda eco-nômica crescerá em todos os locais, indepen-dentemente da distância até o centro de comer-

cialização. Por outro lado, a melhoria da infra-estrutura irá diminuir o custo unitário de trans-porte, fazendo com que a inclinação da reta di-minua e o ponto de interseção no eixo horizon-tal se desloque para a esquerda, até d3. A rendaeconômica aumentará em todos os locais ondeos custos de transporte forem significativos. Por-tanto, caso os fatores de oferta e demanda seconcretizem, espera-se que a fronteira agrícolase expanda da fronteira d1 para d3.

Figura 15 - Modelo te-órico de expansão dafronteira de acordocom o aumento no pre-ço do gado e as mu-danças de custos detransporte.

O modelo de estimativa dos preços. Esti-mamos o preço do gado na porteira em toda aAmazônia como uma variável substituta darenda da pecuária. O preço do gado na portei-ra (PP) em um dado ponto i da Amazônia (umacélula de 5 km x 5 km no modelo) é o preço(P) pago no mercado (frigoríficos, portos, etc.)localizado em j, menos os custos de transpor-te (CT) de i até j, utilizando a infra-estruturaexistente. Para cada célula i, o preço na por-teira é, portanto, definido como:

PPi=Max(Pj-CTij: j=1,…,k).O subscrito j denomina um frigorífico ou cen-

tro de comercialização de gado. Os preços nes-sas localidades e os custos de transporte foramlevantados mediante entrevistas de campo. Oscustos de transporte de i até j foram calculadosutilizando o programa ArcView e são uma funçãoda distância, da qualidade da infra-estrutura e domodal de transporte. Um valor de fricção, ou ocusto de se mover através da célula, foi assinala-

do para cada célula em nossa área de estudo. Otransporte de gado em estrada não asfaltada, porexemplo, era de R$ 0,390 ton-1 km-1 em 2000,enquanto o custo em estrada asfaltada era de R$0,133 ton-1 km-1. A função costdistance – basea-da no algoritmo de Dijkstra (1959) – calcula oscustos de transporte de i até j de tal forma queesse valor seja o mínimo possível. Um outro al-goritmo, programado em linguagem Avenue,garante que o preço pago pelo gado, subtraídodos custos de transporte na célula i, seja o maiorpossível entre todas as opções (j’s). Os custos detransporte foram obtidos de Thomas (2003). Parasimular o asfaltamento de estradas, baixamos osvalores de fricção das células não asfaltadas queseriam asfaltadas e recalculamos o custo de trans-porte de i até j. No caso da simulação com au-mento de preços, aumentamos os preços pagosem Pj e subtraímos os custos de transporte de iaté j para obter novos valores de preços na por-teira PPi.

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ANEXO III

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70

Continuaçã

o

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