projeto costura e arte- solidariedade e … 27 - matéria publicada na revista costura perfeita ......
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UNIVERSIDADE FUMEC
Faculdade de Engenharia e Arquitetura
MARIA DE FÁTIMA SINGULANO
PROJETO COSTURA E ARTE
SOLIDARIEDADE E SUSTENTABILIDADE
Estudo de caso: experiência de inclusão produtiva
com gestão sustentável
Belo Horizonte
2010
MARIA DE FÁTIMA SINGULANO
PROJETO COSTURA E ARTE
SOLIDARIEDADE E SUSTENTABILDADE
Estudo de caso: experiência de inclusão produtiva com gestão sustentável
Monografia apresentada à UNIVERSIDADE
FUMEC como requisito parcial para a obtenção do
certificado de Especialização em Pós-Graduação
Lato Sensu em Design de Modas.
Orientadora: Profª Gabriela Maria Ladeira Ferreira
Torres
Belo Horizonte
2010
.
Dedico este trabalho a Artur, meu esposo, que sempre faz de tudo para
que meu trabalho dê certo, e ao meu filho Thiago, com quem tenho aprendido todos os dias
uma nova maneira de ver o mundo.
À minha avó Maria Rigueto, com quem iniciei meus primeiros
alinhavos ainda criança, e à minha mãe Maria, com quem aprendi a costurar.
AGRADECIMENTOS
A Deus, que formatou este projeto para Neves e permitiu que eu o executasse, indicando os
caminhos a seguir em todas as etapas, mesmo äs vezes em que não conseguia, de imediato,
compreender o que ele esperava de mim.
À minha família, que em todos os momentos me apoiou, me compreendeu e me estimulou.
À minha ajudante, Suely, moradora de Ribeirão das Neves, que cuida de tudo em casa para
que eu possa estar tranquila no trabalho.
A cada pessoa do município de Ribeirão das Neves com quem partilhei um de meus sonhos,
pelo carinho com que fui recebida, pelas amizades e trocas que me permitiram conhecer um
pouco do município, de forma muito especial a cada aluno .
Aos meus amigos, que são, também, eternos consultores, tamanha a profundidade das trocas
que realizamos em cada encontro, telefonema, e-mail, etc.
À EMATER-MG, pelas oportunidades que tive nos 19 anos de trabalho especialmente ao
gerente da Clóvis, que sempre incentivou o projeto, facilitando todas as ações de divulgação e
comercialização, bem como indicou rumos para o planejamento, hoje concretizados.
À Universidade FUMEC, primeira parceira do Projeto, de maneira especial à Profª Gabriela,
pelo carinho em todos os contatos que tivemos destacando as contribuições para o projeto,
resultado de nossas conversas.
RESUMO
O projeto Costura e Arte-Solidariedade e Sustentabilidade é desenvolvido pela Empresa de
Assistência Técnica do Estado de Minas Gerais (EMATER-MG), no município de Ribeirão
das Neves que teve início no final de 2006. Com base na releitura do cenário atual da área de
vestuário e de demandas do município, o projeto foi formatado com os objetivos de capacitar
grupos de mulheres em costura doméstica e industrial, reformar peças do vestuário, além de
produzir peças utilitárias e artesanato em tecido. A capacitação é voltada para o processo,
visando à formação de um profissional que compreenda o processo de produção desde a
matéria-prima, passando pela tecnologia de fabricação e chegando à comercialização com
cuidado especial pelo registro das informações, gestão coletiva, associativismo, etc. Com a
proposta de ser sustentável, foram negociadas parcerias com empresas dos setores público e
privado, que, além de outras ações, doaram retalhos de tecidos e outros materiais
normalmente destinados ao lixo. Esses materiais são transformados em peças utilitárias e
artesanato, que são comercializados em feiras locais, regionais e nacional, cumprindo a
proposta do projeto de redução do lixo e geração de renda. A parceria também permitiu
viabilizar espaços para a capacitação e a estruturação dos projetos com máquinas de costura
industriais. Os resultados foram positivos e, assim, foram formados grupos de produção e de
monitoras, que ajudam nas capacitações. Esse trabalho rendeu-lhes em torno de R$ 14.000 no
ano de 2009, sem nenhum investimento de custeio, com 80% desse rendimento sendo
apropriado pelos participantes.
Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável. Solidariedade. Geração de renda. Costura.
Capacitação.
PAROLE CHIAVI
Il progetto Cucito e L´Arte- Solidarietá e Sussistenza viene svolto
dall´azienda di Beneficenza Tecnica dello Stato di Minas Gerais (EMATER-MG), comune di
Ribeirão das Neves da cui inizio viene dalla fine 2006. Basato sulla prelettura dello scenario
attuale nella zona dell` indumento e di richiesta del comune, il progetto é stato formulato con
di obiettivi di capacitare gruppi di donne capace nell´arte del cucito domestico ed
industriale, rinnovare pezze dell´abbigliamento vestiário, oltre produrre pezze eficace e
l´artesanato sul tessuto. L´abilitazione é rivolta verso il processo, con l´obiettivo la
formazione di professionista sapiente del processso di produzione sin dalla matéria-prima,
seguendo da tecnologia dell´industria e raggiungendo al commercio ammodo particolare
dal registro d´informazioni, controllo collettivo, l ´associazionismo, ecc. Con la proposta di
essere stelo, é stato stabilito tra le aziende delle competenze pubbliche e private un
accordo in cui, oltre altre azioni, si fa Il donativo, ritaglio di tessuti ed altri materiali
assegnati a rifiuti. Questi materiali vengono tramutati in pezze utili ed artesanati e
negoziati in esposizioni locale, regionale e nazionale, rispettando la proposta del progetto di
riduzione rifiuti e concepire reddito. L´accordo ha anche permesso la viabilitá di spazio alla
capacitá ed strutturazione dei progetti con macchine da cucire industriali. I risultati sono
stati positivi, e cosi , gruppi di produzione e consigliere sono stati costituiti aiutando
nell´abilitazioni. Questo lavoro ha reso loro intorno R$ 14.000,00 nel 2009, senza nessun
investimento di patrocínio, con 80% di questo rendimento essendo impadronito dai
membri soci.
Parole-chiave: Sviluppo Sostenibile, Solidarietá, Concepimento di reddito, Cucito,
L´Abilitazione.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Filhos e netos com peças confeccionadas pelas alunas do curso, que ocorreu em
parceria com Associação do bairro Nova Pampulha e CRAS daquele bairro, em
2007...........................................................................................................................
18
Figura 2 – Vice-Prefeita Bárbara Leite na entrega de certificados.............................................. 19
Figura 3 - Filhas das alunas na formatura do curso realizado na Associação do bairro Veneza
– Abril 2007..............................................................................................................
19
Figura 4 - Desfile formatura do curso ocorrido em parceria com CRAS San Genaro –
Setembro 2007............................................................................................................
20
Figura 5 -- Bolsa confeccionada pela artesã Efigênia. Botão feito de tampa de detergente......... 26
Figura 6 - Bolsas trabalhadas por Fátima,confeccionadas pelas artesã Efigênia 26
Figura 7 - Bolsas bordadas pelas artesãs Sheila e Luciene e confeccionadas pelas artesãs
Anisia e Efigênia .............................................................................................. ...........
27
Figura 8 - Criação das artesãs Dona Maria, Efigênia e Luciene .................................................. 28
Figura 9 Turma do curso do bairro Florença com entrevistadora do mapeamento do
MTE............................................................................................................................
29
Figura 10 - Fotos do ateliê na casa de uma das alunas, Dona Margarida....................................... 30
Figura 11 - Primeiras peças produzidas e comercializadas – grupo Florença .............................. 31
Figura 12 - Produtos do grupo do Florença................................................................................... 32
Figura 13 - Turma do curso realizado no bairro Veneza ............................................................... 33
Figura 14 - Produtos do grupo do Veneza ..................................................................................... 33
Figura 15 - Desfile que aconteceu em junho de 2008, na formatura do grupo do San Genaro..... 34
Figura 16 - Miniaturas produzidas por Dona Altina e Rose.......................................................... 35
Figura 17 - Produtos do grupo de mães da APAE ........................................................................ 36
Figura 18 - Formatura presídio feminino ....................................................................................... 37
Figura 19 - Colcha de retalhos produzida no presídio feminino. 38
Figura 20 - Irmã Ana Maria e Irmã Bruna na comunidade atendida ............................................. 39
Figura 21 - Curso durante Semana Integração Tecnológica – Embrapa Sete Lagoas
2008..............................................................................................................................
40
Figura 22 - Aluna costurando durante feira na Agriminas – julho 2008........................................ 40
Figura 23 - Curso de Mecânico de “Máquinas de Costura Domésticas e Industrias “realizado
em Ribeirão das Neves..................................................................................... ...........
41
Figura 24 - Cartaz exibido no Colégio Magnum - Cidade Nova – Projeto : Sua Atitude faz a
diferença.......................................................................................................................
43
Figura 25 - Matéria sobre o projeto Costura e Arte........................................................................ 44
Figura 26 - Matéria sobre a participação do projeto Costura e Artena Feira Nacional de
Artesanato.....................................................................................................................
44
Figura 27 - Matéria publicada na revista Costura Perfeita............................................................. 45
Figura 28 - Artesãs Cida e Adélia, responsáveis pela Loja de Reformas....................................... 46
Figura 29 - Agenda da loja de reforma (esta agenda foi doada ao grupo por uma
cliente)...................................................................................................................... ....
48
Figura 30 - Colcha produzida com retalhos doados pelo Instituto Dudalina................................. 49
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Cálculo de custo da peça ................................................................................................... 24
Tabela 2 – Relatório da feira em Belo Horizonte – Gremater............................................................. 24
Tabela 3 – Resultados alcançadas com a loja em um ano de trabalho................................................. 51
Tabela 4 –
Demonstrativo de utilização das receitas...........................................................................
52
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Evolução dos rendimentos da loja de reformas em 2009....................................... 51
Gráfico 2 – Demonstrativo de utilização das receitas................................................................ 52
Gráfico 3 Comparativo de receitas 2009/2010....................................................................... 53
SUMÁRIO
INTRODUÇÀO................................................................................................. 11
CAPÍTULO 1 ..................................................................................................... 13
1.1 A IDEIA DO PROJETO.................................................................................... 13
1.2
1.2.1
1.2.2
REVISÃO DE LITERATURA SOBRE SUSTENTABILIDADE E
SOLIDARIEDADE............................................................................................
Sustentabilidade.................................................................................................
Solidariedade......................................................................................................
14
14
16
1.3
1.3.1
1.3.2
MATERIAL E MÉTODO.................................................................................
A escolha do método...........................................................................................
Metodologia.........................................................................................................
17
17
17
1.4
1.4.1
1.4.2
1.4.3
1.4.4
COMO TRABALHAR O PROCESSO DE PRODUÇÃO.............................
Registro das informações...................................................................................
Trabalhar o processo de forma integral nas capacitações..............................
Estímulo à criatividade......................................................................................
Princípios básicos para produção das peças....................................................
21
21
21
22
22
1.5 A CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE COMERCIALIZAÇÃO............... 23
1.6 DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS............... 25
1.7
1.7.1
1.7.2
1.7.3
1.7.4
1.7.5
1.7.6
UM POUCO DE CADA GRUPO.....................................................................
Grupo Florença..................................................................................................
Grupo do Veneza................................................................................................
Grupo do San Genaro........................................................................................
Grupo de Mães da Apae: “Vencer e Vencer...”...............................................
Grupo do Presídio Feminino José Gonçalves Abranches...............................
Grupo Obra Social Padre José Baldo...............................................................
29
29
33
34
35
37
49
2.1
2.2
2.3
2.4
2.5
CAPÍTULO 2 FORMAÇÃO DE MONITORAS.....................................................................
CRIAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO........................................................................
CURSO DE MECÂNICO DE MÁQUINAS DE COSTURA .......................
PARCERIAS .....................................................................................................
DIVULGAÇÃO DO PROJETO EM OUTROS ESPAÇOS ........................
40
40
41
41
42
43
CAPITULO 3
RESULTADO DESTAQUE: GRUPO SANTA MARTA E A
LOJA DE REFORMAS...................................................................
46
46
CONCLUSÃO.................................................................................. 53
BIBLIOGRAFIA.............................................................................. 55
ANEXOS........................................................................................... 57
11
INTRODUÇÃO
O projeto Costura e Arte – Solidariedade e Sustentabilidade, desenvolvido pela
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural DO Estado de Minas Gerais (EMATER-
MG) no município de Ribeirão das Neves, surgiu no final de 2006, decorrente de demandas
de associações de bairros, igrejas e de grupos informais de mulheres que queriam aprender o
corte e costura, além de gerar renda e reduzir o lixo.
Os objetivos eram capacitar mulheres em corte e costura, reformar peças do
vestuário e produzir peças utilitárias e artesanato, como colares, chaveiros, bolsas, capa de
óculos, colchas de retalhos, capa para agenda, dentre outros,.
A hipótese era de que era possível fazer inclusão produtiva com preservação
ambiental. Outra hipótese era de que uma rede de parceiros doando o seu material de descarte
poderia alavancar o projeto, fornecendo a maior parte da matéria-prima, reduzindo o lixo e
preservando o meio ambiente.
Nas oficinas, além do aprendizado das tecnologias de produção de peças, discutiu-
se a importância das anotações diárias (de vendas, compra de material), o associativismo e o
cooperativismo, a comercialização, a qualidade dos produtos, além das questões ambientais e
o papel de cada uma no processo de preservação do meio ambiente.
Do processo de capacitação resultaram seis monitoras, que realizam oficinas em
feiras regionais, e as que participam de grupos apóiam aquelas que estão iniciando as
atividades.
A maior parte das peças foi produzida com retalhos de tecidos e de outros
materiais que seriam destinados ao lixo. Na fabricação dessas peças, foram estimulamos a
criatividade e as habilidades das participantes, agregando valores ao produto final, que é
comercializado em feiras no município e na região, como Feira de Artesanato de Tiradentes,
Feira de Artesanato de São João Del Rei e Feira Nacional de Artesanato.
Em 2008 e 2009 com o apoio de empresas dos setores público e privado – Prima
Linea, Pontos e Potes, Governo do Estado (de emenda parlamentar), Criata, Contabilidade
Avelar e outros –, elaboramos, junto com as associações, projetos para compra de máquinas
de costura industriais, o que permitiu estruturar os grupos e apoiar aquelas que desejavam
trabalhar junto.
12
Em 2010, ampliamos o atendimento a grupos especiais, como o grupo de
mulheres do presídio feminino, mães da Apae e a obra Social Padre José Baldo, um trabalho
gratificante e que merece atenção especial. Também em 2010 atendemos a outros grupos já
formados, que trabalham com facção, motivando-os na criação de novos produtos com o
objetivo de diversificação da produção e aumento de renda.
No capítulo 1, apresentamos o processo da construção do nome do projeto, do
processo de formação dos grupos, com destaque especial para o estudo de caso da loja de
reformas, com relatórios detalhados de como fazem as anotações e entrevista com as duas
participantes, reproduzida na íntegra (os capítulos 2 e 3 explica brevemente o que foi feito).
Os anexos incorporados ao trabalho contêm dados quantitativos citados no texto.
Todos os trabalhos foram ilustrados com fotos, que foram incorporadas aos textos com notas
explicativas. Todos os créditos fotográficos são da autora.
13
CAPÍTULO 1
1.1 A IDEIA DO PROJETO
O projeto surgiu no final de 2006, decorrente de demandas das associações de
bairro. Organizamos a primeira turma de corte e costura, e logo em seguida surgiu a segunda,
a terceira. Acabamos fechando todos os dias da semana, atendendo a cinco turmas, e a
demanda ia crescendo à medida que o trabalho apresentava resultados.
Outra motivação para pensar no projeto foi o sonho de resgatar um trabalho
desenvolvido pela Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR)/EMATER-MG, com
início em 1952, por intermédio de Dona Zélia Rodrigues Steiner, que modificou a vida de
muitas famílias rurais utilizando o método Rosecort, de sua autoria. Continuando esse
trabalho, a extensionista Maria da Piedade Ferreira, na década de 1980, ampliou-o,
introduzindo um método industrial e o Corte Centesimal-Moldecópia.
Na avaliação do perfil dos grupos que demandavam as capacitações, deparamos
com uma realidade um pouco diferente daquelas com as quais até então havíamos trabalhado.
Das participantes, 95% não eram nascidas em Neves, e a referência de muitas ainda era a
cidade onde nasceram e os parentes que continuavam morando nas cidades de origem. O estar
em Neves, em muitos casos, ocorreu pela dificuldade de morar em BH, a busca pela casa
própria, considerando o preço de lotes em Neves, além de outros relatos.
Diante desse quadro e considerando todas as teorias a respeito de cultura local,
origem das pessoas envolvidas, pensamos que um projeto que fosse capaz de associar a
capacitação em corte e costura com outras habilidades herdadas e aprendidas tinha mais
chance de dar certo e poderia resgatar habilidades oriundas das famílias de origem. Para que
esse processo fosse construído, evitamos o uso de revistas de bordados, crochês, sempre
motivando a criatividade, trabalhando na proposta de peças exclusivas com foco no
acabamento bem feito. Nessa tentativa, no nome do projeto de Costura foi incorporada a
palavra arte e tornou-se Costura e Arte.
14
Pensando nas questões ambientais, diante da necessidade de matérias-primas
alternativas e em razão de o projeto não ter recursos, o trabalho iniciou-se com a utilização de
retalhos de tecidos e de outros materiais destinados ao lixo,na elaboração de peças utilitárias
como porta moedas e flores. Com a comercialização desses produtos, os grupos se
organizaram e compraram, em conjunto, materiais para fabricação de seus produtos. Para a
comercialização e a aquisição de máquinas de costura, surgiu a necessidade de parcerias e o
nome deveria expressar a proposta, daí o nome: Costura e arte-solidariedade e
sustentabilidade.
1.2 REVISÃO DE LITERATURA SOBRE SUSTENTABILIDADE E
SOLIDARIEDADE
1.2.1 Sustentabilidade
As propostas de desenvolvimento sustentável surgem da necessidade de buscar
uma forma de crescimento econômico sem deixar de considerar a preservação ambiental.
Muitos autores têm tratado do assunto e os órgãos responsáveis tentam legislar sobre o tema
no mundo inteiro.
O conceito de sustentabilidade surgiu em 1987, na Comissão Mundial de Meio
Ambiente (CMMD), da Organização das Nações Unidas ONU, que definiu desenvolvimento
sustentável como “aquele que atende às necessidades presentes, sem comprometer a
possibilidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades”(EMATER-MG,
2004). Esse não é somente um conceito econômico, mas implica um processo de igualdade de
distribuição de recursos, direitos e deveres. É preciso que estejam integrados os aspectos
econômicos, políticos, sociais e culturais e ambientais.
Essa definição de sustentabilidade serviu de base para formulação da Agenda 21,
com a qual 170 países se comprometeram durante a Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente, que ocorreu no Rio de Janeiro em 1992 – Eco 92.
15
Em 2002, na reunião da Cúpula Mundial (Joanesburgo), declarou-se que o
desenvolvimento sustentável é constituído sobre três pilares interdependentes e mutuamente
sustentáveis: desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental.
A preocupação com uma legislação que protegesse o meio ambiente surgiu ainda
no Brasil Colônia, quando as leis promulgadas para o Império português entraram em vigor
no Brasil. Em 1988, foi promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil, que no
seu art. 225, cita os direitos e responsabilidades de cada cidadão em relação ao meio
ambiente. A água passou a ser um bem público, mesmo quando estiver em propriedade rural
particular. Recentemente outra ação como outorga de água são tratadas em leis.
Diante de todas as considerações de como o mundo está organizado, o consumo é
quase inevitável. O importante é refletir sobre a medida do consumo. Um estudo conduzido
pela Fundação Instituto de Administração (FIA), ligada a Universidade de São Paulo, apurou
que 40% das compras em supermercados são motivadas por impulso e estima que o consumo
global do planeta está justamente 40% acima da capacidade da terra em água, energia e
matérias-primas .
Genebaldo Freire aborda situações simples do dia a dia que, normalmente, passam
despercebidas e que podem ser direcionadas para a preservação ambiental, como: “Reduza o
seu consumo e sua produção de resíduos” (FREIRE, 2005). É a melhor estratégia para
proteção do meio ambiente. Para promover a dimensão sustentável, o que o autor recomenda
nas tarefas do dia a dia é o uso dos 5R: reduzir, reutilizar, reciclar preciclar, reeducar,
replanejar.
O consumismo é tratado hoje por muitos autores como um problema emocional e
que em muitos casos necessita da ajuda de um profissional, considerando as consequências
oriundas do problema para o indivíduo e para sua família. Martins (2007) trata do ciclo do
consumo que já ocorre numa sequência: ver, desejar, pedir empréstimo, comprar e descartar.
Diante de tantas ofertas no que se refere a produtos novos e suas associações a valores e
pessoas, sedução na forma de pagamento, etc., é necessário que o consumidor esteja atento e
avalie a real necessidade da compra e a disponibilidade de recursos para pagamento .
O desenvolvimento de um município de forma sustentável depende de
cooperação, de parcerias e da organização de projetos e mercados locais, regionais e
nacionais. Essa organização pode acontecer por meio de feiras e eventos, que têm papel muito
importante para a divulgação do município e incentivo a grupos de produção e geração de
16
renda. Em alguns casos, destaca-se o desenvolvimento de pequenos grupos, que passam a ser
referência para os demais. O planejamento do município pode ser organizado em etapas:
avaliação da demanda, definição de objetivos e planejamento, execução e gestão do plano,
acompanhamento, avaliação e socialização dos resultados com o grupo.
Estudo diagnóstico realizado pela EMATER-MG (2009) mostra que 58% do total
de artesãos entrevistados indicaram as feiras e os eventos como o principal meio de promoção
de seus produtos.
1.2.2 Solidariedade
Criando conexões, abrimos à nossa frente um enorme horizonte de possibilidades.
Podem ser parcerias, trocas, amizades, afetos novos valores e formas de
convivência, criação de conhecimentos, aprendizados, apoios, diálogos,
participação, mobilização. Força política conquista e muito mais. (HAMÚ; COSTA,
2003)
Montenegro (2009), diz que “uma das grandes crises da nossa sociedade é que ela
tentou construir a solidariedade apenas em função da nossa sobrevivência”. Num mundo em
que cada um de nós desempenha uma função diferente e precisamos uns dos outros, a
solidariedade é uma necessidade de sobrevivência.
A consciência de fazermos parte de um todo nos dá a percepção de que é
necessário trabalharmos em redes solidárias. Não é necessário estarmos juntos com quem
pensa como nós. É estar junto com alguém que dá o mesmo sentido da vida que temos,
mesmo se pensamos de formas diferentes.
17
1.3 MATERIAL E METODO
1.3.1 A escolha do método
Para as aulas de corte e costura, são utilizados o corte Centesimal-Moldecópia e
moldes preparados pela extensionista da ACAR/ EMATER-MG, Maria da Piedade Ferreira. A
escolha desse material/método para as aulas ocorreu em razão das dificuldades de mulheres
que não lêem e nem escrevem e/ou outras com dificuldade de compreensão de processos mais
complexos. Os resultados foram muito positivos e conseguimos nivelar as turmas pela
praticidade do material.
Cada aluna, durante o curso, planeja com base no tecido disponível, corta e
costura sua roupa para receber o certificado. Em alguns casos, a roupa é produzida para um
filho ou neto. Os tecidos utilizados para a confecção das peças para a formatura foram doados,
em todas as turmas que concluíram o curso, por amigos do projeto.
1.3.2 Metodologia
Os cursos acontecem em aulas semanais, que duram em torno de duas a três horas,
e são realizadas oficinas para demonstração de técnicas. As alunas são orientadas a reproduzir
o que foi aprendido durante a semana, para reforçar o aprendizado. Àquelas que não têm
máquina, sugerimos fazer à mão, oportunidade para praticar a costura manual, que tem sido
um ponto forte do projeto. Essa foi a realidade da maioria das alunas no início do projeto.
Outra metodologia empregada durante as capacitações é a gestão coletiva, que é
trabalhada em todas as atividades do grupo como proposta de motivar o trabalho conjunto.
Iniciamos motivando o trabalho em duplas, por afinidades, observando o trabalho de uma
complementando o da outra – por exemplo, uma borda e a outra costura a peça. Essas
18
funções, sempre que possível, são ampliadas ou permutadas entre elas, oportunidade para
perceber a dificuldade do outro.
Como motivação para os alunos concluírem os cursos, assim que iniciamos as
primeiras aulas, planejamos a data da formatura com a programação de um evento que
acontece com um desfile das alunas ou de seus filhos e netos com peças preparadas por elas.
Em 2007 e em 2009 os eventos de formatura foram cobertos pela televisão, programa Minas
Rural, reproduzido Rede Minas de Televisão. Essa estratégia gerou bom resultados. Em 2007,
iniciamos um trabalho em parceria com Centro de Referência em Assistência Social (CRAS)
San Genaro e, mesmo com apenas uma máquina de costura para demonstração, fizemos duas
turmas de 27 alunas, com 22 alunas terminando um curso de 60 horas, durante três meses.
FIGURA 1 – Filhos e netos com peças confeccionadas pelas alunas do curso, que ocorreu em
parceria com Associação do bairro Nova Pampulha e CRAS daquele bairro,
em 2007.
Fonte: Arquivo Pessoal
19
FIGURA 2 – Vice-Prefeita entregando certificado a uma
aluna primeiras turmas – Março 2007
Fonte: Arquivo Pessoal
FIGURA 3 – Filhas das alunas na formatura do curso realizado na Associação do bairro Veneza –
Abril 2007
Fonte: Arquivo Pessoal
20
FIGURA 4 – Desfile formatura do curso ocorrido em parceria com CRAS San Genaro – Setembro 2007
Fonte: Arquivo Pessoal
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1.4 COMO TRABALHAR O PROCESSO DE PRODUÇÃO
1.4.1 Registro das informações
Um dos aspectos que sempre mereceu uma atenção especial nas capacitações e
nas orientações repassadas ao grupo é o registro das informações. Este trabalho foi
desenvolvido em todos os encontros e as informações foram anotadas e partilhadas com todos
os membros. No início, as anotações são realizadas junto com os participantes e depois, em
razão de habilidade para a atividade, um dos membros fica responsável pela registros de
venda, compra do material, repasse ao grupo. Esse procedimento permite avaliar o
desenvolvimento do grupo, emitir relatórios, avaliar o desenvolvimento do trabalho e fazer o
planejamento com base em dados concretos. É um trabalho muito difícil de ser incorporado ao
grupo, em razão de não ser uma prática do dia a dia. O processo é internalizado mediante os
primeiros resultados de uma feira onde cada artesã vê com clareza o que vendeu, quanto vai
receber e o que ficará no caixa que permitirá a reposição do material..
1.4.2 Trabalhar o processo de forma integral nas capacitações
Uma das preocupações nas capacitações sempre foi trabalhar com as alunas para
que pudessem aprender o processo: seleção, preparação e infestação do tecido, modelagem,
corte, costura e acabamento, mesmo com dificuldades. Essa preocupação surgiu diante da
mudança do perfil das costureiras nos últimos anos. Com o aumento crescente das médias e
grandes confecções, o processo foi dividido em várias etapas, e cada profissional faz apenas
uma etapa, o que reduz o tempo gasto na atividade. Em consequência, esse profissional tem
uma produção maior, mas não consegue desenvolver as outras etapas e, portanto, ficará
sempre dependente de um grupo para trabalhar. Quando o projeto trabalha o processo inteiro,
cria a independência de cada participante, que poderá reproduzi-lo em sua casa criando suas
22
peças e atendendo a demanda de vizinhos e da comunidade, uma realidade de muitas alunas
que concluíram o curso.
1.4.3 Estímulo à criatividade
Sempre motivamos a criação de novos produtos em detrimento de cópias de
revistas, por acreditarmos que esse caminho levaria ao diferencial e à realização das artesãs,
enquanto capazes de criar a partir do domínio de técnicas de costura e bordado,
principalmente que se refere aos acabamentos.
Quanto maior é o domínio que temos da tecnologia, maior é a capacidade de criar com
qualidade.
1.4.4 Princípios básicos para produção das peças
Com base na proposta do projeto de ser sustentável em todos os aspectos,
elencamos alguns requisitos para a produção das peças, na busca de uma peça de qualidade.
Toda peça produzida busca cumprir cinco requisitos básicos:
Ser interessante/criativa: adequar cor da linha de bordar e de costurar em
função do tecido utilizado. Adequar o tecido do forro ao da bolsa, considerando durabilidade,
cor, etc.
O acabamento deve bem feito: todas as peças devem ter a proposta de ser
usadas dos dois lados, confeccionadas com o mesmo padrão de acabamento externo e interno.
Ser utilitária: as peças devem ser produzidas para o dia a dia.
O preço deve ser justo: preço justo considerando a vida útil da peça e seu
acabamento e matéria-prima utilizada. Todas as partes das peças antes de serem costuradas
são overlocadas, para aumentar a resistência ao lavar.
23
Devem contribuir para a preservação do meio ambiente:
– redução do lixo: a maior parte da matéria-prima ser de reutilização de materiais
destinados a lixo (uso de retalhos de tecidos e de outros materiais destinados ao lixo);
– utilização de matérias-primas produzidas de forma sustentável: utilizar,
sempre que possível, materiais produzidos ecologicamente corretos (americano cru utilizado
para forro das bolsas, embalagens de sacos de papel Kraft.
1.5 A CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE COMERCIALIZAÇÃO
A comercialização é um grande desafio para os projetos denominados geração de
renda. As alternativas de produtos em todas as áreas cresceram muito, principalmente o
artesanato em tecido. Mesmo quando se faz uma pesquisa de mercado, o desafio é criar
produtos novos, que sejam utilitários e encontrar uma forma de comercializá-los. A cultura da
cópia é a mais praticada, e os artesãos têm de buscar o diferencial para permanecerem no
mercado, além de uma peça com um acabamento bem feito com preço justo. Construímos
esse processo seguindo alguns passos simples, mas que se mostraram eficazes, mesmo
sabendo da limitação se pensar em volume:
1º passo: a artesã tem de se orgulhar de sair com uma peça que fez.
2º passo: a artesã deve ficar tão orgulhosa de seu trabalho que vai querer fazer
uma peça para uma pessoa de quem gosta: a mãe, a amiga, a irmã, etc.
3º passo: alguém que viu seu trabalho encomenda uma peça. Nesse momento.
começa o processo de comercialização.
Para ter resultados positivos na comercialização é necessário:
controle da matéria-prima;
domínio da tecnologia de fabricação por parte das artesãs e controle do padrão
de qualidade de cada peça;
produtos diferenciados (estímulo a criatividade) – peças exclusivas podem ter
preço diferenciado;
24
permuta de estande por oficinas em feiras. Esse recurso foi utilizado em razão
do custo elevado do estande ou negociação desses espaços com os promotores dos eventos.
Outro dado importante na construção da comercialização é a construção das
planilhas de custo com base no registro de informações de custo de material, tempo gasto para
produção, para que formação do preço e plano de corte, a fim de se chegar à quantidade de
material gasto.
TABELA 1
Cálculo do custo da peça
Item Especificação Unid. Qtde. Custo unit. Custo total
2 Chenille M 0,15 58,00 8,70
3 Cetim M 0,15 4,90 0,74
4 Zíper M 0,20 0,20 0,04
5 Cursor grande Ud 1,00 0,05 0,05
6 Mão de obra (corte /costura/arte ) Hora 3,50 2,00 7,00
8 Custo total de material 16,53
9 Lucro ( de 20 a 60%) 25% 4,13
Preço final da peça 20,66 Fonte: Arquivo Pessoal
TABELA 2
Relatório da feira em Belo Horizonte – Gremater
Grupo de trabalho
PRODUTO FLORENÇA VENEZA SANTA MARTA URCA
Qtde. Valor Qtde. Valor Qtde. Valor Qtde. Valor
Bolsa 16 284,00 2 28,00
Capa celular 5 13,00
Porquinho 18 36,00
Colar de flor 10 28,00 10 16,50
Chaveiro 7 24,50 3 9,00
Caixinha 1 1,00
Faixa 3 9,00
Sacola de sapato 10,00 25,00
Coração 1 0,50
Pano de prato 6,00 40,00
TOTAL DE VENDAS 360,00 89,50 40,00 25,00 514,50
Associação 8% 28,80 7,16 3,20 2,00 41,16
TOTAL RECEBER 331,20 82,34 36,80 23,00 Fonte: Arquivo Pessoal
25
1.6 DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS
O maior desafio do projeto era buscar alternativas que fossem capazes de
substituir os botões de metal, TNT e o EVA, utilizados na estruturação do fundo das bolsas e
muitos outros materiais, tornando-os atrativos do ponto de vista da estética.
Iniciamos o desafio com um dos grupos com sete integrantes, chamado “Mulheres
do Florença”, e que já havia sido mapeado como grupo de economia solidária. Esse grupo
tinha como características a união, a capacidade de mudança e, principalmente, a valorização
da técnica. Nos primeiros encontros, faltava linha, agulha e não havia máquina de costura.
Costuramos à mão três meses, até que ganharam a primeira máquina de costura usada e, em
seguida, compraram uma Singer zigue-zague, que ampliou a ação do grupo. Foi uma
experiência muita rica e contribuiu, ainda mais, para a união do grupo.
A seguir, alguns trabalhos desenvolvidos:
• Estruturação do fundo da bolsa
Após seis meses de testes com vários materiais, conseguimos um bom resultado
com filmes de RX duplo, para dar maior firmeza, que foram encapados com tecido e
intercalados entre a bolsa e o forro. As peças podem ser lavadas até na máquina que não
deformam, segundo a cliente G.
• Substituições de botão de pressão no fechamento da bolsa
Mediante tentativas e erros, chegamos a um resultado simples e funcional com
esse trabalho, em que os botões de tampa de detergente, de creme dental e tubos de silicone
foram cobertos por retalhos de tecido, sendo trabalhados como arte na bolsa, compondo um
todo.
26
FIGURA 5 – Bolsa confeccionada pela artesã Efigênia.
Botão feito de tampa de detergente
Fonte: Arquivo Pessoal
• Substituições da linha por fios do próprio tecido
O desafio de utilizar a linha dos retalhos do próprio tecido nos surpreendeu e teve
ótima aceitação. É uma bolsa que chama a atenção onde quer que seja usada.
FIGURA 6 – Bolsas trabalhadas por Fátima,confeccionadas pelas artesã Efigênia
Fonte: Arquivo Pessoal
27
FIGURA 7 – Bolsas bordadas pelas artesãs Luciene e Sheila e confeccionadas pelas artesãs Anísia
e Efigênia
Fonte: Arquivo Pessoal
28
• Algumas criações que merecem destaque
FIGURA 8 – Criação das artesãs Dona Maria, Efigênia e Luciene
Fonte: Arquivo Pessoal
29
1.7 UM POUCO DE CADA GRUPO
1.7.1 Grupo Florença
O primeiro grupo a se formar e que mereceu atenção foi o grupo do Florença.
Começamos a observar como as relações se davam no grupo. Cada participante tinha uma
característica que se somava à dos demais. O grupo contava com nove mulheres no início e
permaneceu por mais dois anos com sete delas. Dona Maria cuidava do café. Foi quando tudo
começou.
.
FIGURA 9– Turma do curso do bairro Florença com entrevistadora do mapeamento MTE
Fonte: Arquivo Pessoal
O grupo tinha muitas dificuldades. Faltavam linha, agulha, tecido, mas havia
muito respeito uma pela outra. A dificuldade com espaço para funcionamento obrigou-o a
mudar quatro vezes até ter seu primeiro ateliê na casa de Dona Margarida (foto). No princípio,
Dona Margarida andava 1 quilômetro carregando sua máquina de costura em um carrinho de
30
mão até o salão da igreja, para que o curso acontecesse. Dona Maria levava a garrafa de café
em todos os encontros e já na casa de Dona Margarida (espaço 2x5m) recebia todos com um
café e com um sorriso especial.
FIGURA 10 – Fotos do ateliê na casa de uma das alunas, Dona Margarida
Fonte: Arquivo pessoal
Esse grupo, em 2007, foi reconhecido como empreendimento solidário
“Guerreiras do Florença”, mapeamento do MTE e foi com ele, principalmente com as
31
monitoras Anísia e Efigênia, que testamos e definimos a tecnologia de produção de bolsas
sustentáveis, ou seja, o uso do RX na estruturação do fundo e técnicas de acabamento que
deram melhor aparência às bolsas.
Com restante do grupo trabalhamos o corte e a produção de acessórios que
compunham as bolsas ou eram comercializados, como flores, chaveiros, etc. Essa alternativa
foi necessária em razão de não haver máquina de costura disponível para todas, tampouco
espaço para trabalhar. As primeiras peças produzidas e comercializadas, responsáveis pelo
andamento do grupo, foram os porta-moedas de retalhos de jeans.
FIGURA 11– Primeiras peças produzidas e comercializadas grupo
Florença
Fonte: Arquivo Pessoal
Sem um centavo para investimento, o grupo produziu o primeiro porta-moedas,
que foi vendido a R$ 1,00. Com o dinheiro, foi comprado material para cinco, os quais, depois
de fabricados, foram vendidos por R$ 5,00 até chegar em 70 unidades e permitir a compra de
zíper e linha para iniciar a produção de bolsas.
Outro fato importante na estruturação do trabalho foi a doação de tecido feito pela
Sra. Celina, uma amiga que enviou uma grande quantidade de tecidos maravilhosos que
resultou em bolsas sofisticadas. Essas peças tiveram muita aceitação e permitiram que o grupo
comprasse a primeira máquina de costura, tesoura, ferro elétrico e material para a produção
de outras peças. Em 2009, esse grupo, mesmo com cinco pessoas e já estruturado com
máquinas industriais, vendeu cerca de 6.000,00 entre produtos e serviços.
32
• Alguns produtos deste grupo
FIGURA 12 – Produtos do grupo do Florença
Fonte: Arquivo Pessoal
33
1.7.2 Grupo do Veneza
FIGURA 13 – Turma do curso realizado no bairro Veneza – 2007
Fonte: Arquivo Pessoal
Esse grupo, após a formatura, juntou-se com outro grupo do bairro Florença e se
mantém até hoje em um espaço cedido pela prefeitura. Desse grupo saiu a presidente da
associação e muitas artesãs habilidosas. Em menor número, continuam produzindo bolsas
muito bem acabadas e que têm boa aceitação em razão de custo-benefício e por serem peças
exclusivas.
• Alguns produtos deste grupo
FIGURA 14 – Produtos do grupo do Veneza
Fonte: Arquivo Pessoal
34
1.7.3 Grupo do San Genaro
Iniciamos o corte e costura com 27 mulheres, pois a demanda era muito grande e,
na impossibilidade de selecionar, foi necessário abrir duas turmas. O trabalho foi em parceria
com o CRAS do bairro San Genaro.
O trabalho foi difícil, pois só tínhamos uma máquina, emprestada, para fazer a
demonstração. Aquelas que tinham máquina faziam as atividades em casa, conforme
orientação. Mesmo com toda essa dificuldade, 22 terminaram o curso de 60 horas com
encontros semanais durante três meses.
Fotos do desfile dos filhos e netos das costureiras.
FIGURA 15 – Desfile que aconteceu em junho de 2008, na formatura do grupo do San Genaro
Fonte: Arquivo Pessoal
• Situação atual das costureiras
Algumas que desejavam apenas melhorar seu conhecimento na área de costura e
tinham máquina de costura estão desenvolvendo as atividades em casa e também aquelas que
conseguiram comprar máquina de costura. Uma das alunas merece destaque: Eliana,
moradora do bairro Metropolitano, que não conhecia nada de costura, e assim que terminou o
curso abriu uma loja, onde atende seus clientes.
Um pequeno grupo continuou a trabalhar junto, mesmo com toda a dificuldade, e
hoje, após três anos de luta, está instalado em um ateliê em um porão da casa de D. Altina. O
35
grupo já possui cinco máquinas, sendo três industriais e duas domésticas, com uma das
máquinas ainda tocada a pedal, mas na qual D. Altina faz nela belíssimos trabalhos.
As máquinas industriais foram adquiridas mediante parcerias entre a associação
Ecosturarte e o governo do Estado, por meio de emenda parlamentar, com o apoio da
EMATER-MG.
A líder do grupo e também monitora do projeto Costura e Arte é D. Altina, que
sempre trabalha novas idéias e, mesmo andando 30 minutos por caminhos difíceis, toda
semana estava lá para uma etapa, durante quase três anos.
• Alguns produtos desse grupo
FIGURA 16 – Miniaturas produzidas por Dona Altina e Rose
Fonte: Arquivo Pessoal
1.7.4 Grupo de Mães da Apae: “Vencer e Vencer...”
Esse grupo é um dos mais novos e já registra resultados concretos. É formado por
mães que, enquanto aguardam seus filhos no atendimento na Apae, estão aprendendo uma
profissão e gerando renda. Conhecer uma máquina de costura foi um sonho para Lúcia, que
36
nunca havia costurado, mas a maior conquista para todas foi conhecer e manusear uma
máquina de costura industrial, principalmente uma overloque. Esse desafio, que parece
complicado, é simples diante do desafio do dia a dia com seus filhos e que motivou a escolha
do nome do grupo: “Vencer e Vencer...”
Em razão da disponibilidade de um espaço reduzido, estamos preparando quatro
monitoras, que estarão, no futuro, repassando os conhecimentos adquiridos para outras. As
cinco máquinas vieram de convênio entre a Apae e a EMATER-MG .
Peças produzidas nas duas primeiras semanas de trabalho foram para uma feira na
a Assembléia e 80% do montante foi vendido.
FIGURA 17 – Produtos do grupo de mães da APAE
Fonte: Arquivo Pessoal
37
1.7.5 Grupo do Presídio Feminino José Gonçalves Abranches
FIGURA 18 – Formatura do presídio feminino
Fonte : Arquivo Unidade Prisional
O grupo do presídio feminino José Abranches Gonçalves é um grupo com
características especiais. Como a rotatividade é muito grande, em decorrência de não ser a
penitenciária a continuidade do trabalho fica comprometida, mas pelo menos fizemos a
primeira etapa básica e a motivação para continuação, independentemente de onde estiverem
Nove detentas receberam o certificado de conclusão do curso profissionalizante
de corte e costura. A primeira e principal atração do evento, realizado na quadra do presídio,
foi o desfile das formandas com as roupas que elas mesmas fizeram. As peças foram fruto do
esforço e da vontade das alunas, que não receberiam o certificado se não produzissem a
própria roupa. Apesar das dificuldades, como falta de tecidos, de tempo e de conhecimentos
prévios, o resultado foi muito positivo. “Esse grupo tem muito potencial para quando sair
daqui caminhar com outro trabalho. Mas tem que praticar muito, pois são muitos detalhes”.
Lidiane, uma das formandas, reforça que, além da capacitação para uma futura
profissão, o curso serviu como distração: “Foi muito importante, primeiro, porque vamos sair
daqui com um conhecimento novo, com a possibilidade de uma profissão diferente, e, depois,
porque nos ocupou a mente em nosso tempo ocioso”. Lidiane confeccionou uma calça capri,
num brim sarja, e uma blusa de liganete. Outra aluna, Crislene, diz que o aprendizado pode
38
representar uma oportunidade “Quando sair daqui quero trabalhar para cuidar dos meus
filhos”, conclui Cris, que produziu uma bermuda e uma blusa “soltinha”.
O apoio da diretora, sensível à proposta do projeto, permitiu a criação de um
controle de vendas especial para o projeto destinando 20% das vendas para caixinha do grupo,
possibilitando, assim, a compra de materiais como linhas, agulhas, etc., para que o trabalho
pudesse continuar. Alguns trabalhos confeccionados merecem destaque, como as colchas de
retalhos produzidas em duplas.
.
FIGURA 19 – Colcha de retalhos produzida no presídio feminino
Fonte: Arquivo Pessoal
39
1.7.6 Grupo Obra Social Padre José Baldo
FIGURA 20 – Irmã Ana Maria e Irmã Bruna na comunidade atendida
Fonte: Arquivo Pessoal
O trabalho na Obra Social iniciou com o curso de Corte e Costura priorizando as
peças básicas, como short e calça, mas a demanda do grupo era a confecção de peças de
artesanato e peças utilitárias de fácil comercialização, um dos meios utilizados para ajudar na
manutenção dos projetos da obra e no lanche servido para os participantes dos cursos.
O convênio firmado com a EMATER-MG possibilitou que a instituição cedesse
quatro máquinas de costura industriais, o que foi complementado com uma máquina
overloque recebida da parceria com a Universidade FUMEC. As máquinas estão permitindo a
capacitação em costura industrial, ampliando o mercado de trabalho. Peças de costura
associadas ao artesanato já estão sendo produzidas e comercializadas. Fez-se um
planejamento com o grupo para que ele possa organizar a produção e a compra de matéria-
prima com o próprio recurso. Das peças produzidas 20% ficam para compra de material, 30%
para a Obra Social e 50% para quem produziu a peça. Dessa forma, a Obra Social não terá
mais de arcar com a compra de matéria-prima para esse grupo, e o resultado das vendas
ajudará a manter outros projetos em andamento.
40
CAPITULO 2
2.1 FORMAÇÃO DE MONITORAS
Uma das estratégias para sustentabilidade do projeto foi a formação de monitoras
que pudessem repassar as técnicas desenvolvidas para os outros membros do grupo, para
outros grupos e, junto com a EMATER e outras monitoras, para outras pessoas em oficinas
realizadas durante a Agriminas, Feira de Artesanato de Tiradentes, Semana de Integração
Tecnologia na Embrapa Sete Lagoas.
FIGURA 21– Curso durante Semana Integração
Tecnológica – Embrapa Sete Lagoas 2008
Fonte: Arquivo Pessoal
FIGURA 22 – Aluna costurando durante feira na Agriminas – julho 2008
Fonte: Arquivo Pessoal
41
3.2 CRIAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO
Criação da “Associação dos Artesãos do Tecido de Ribeirão das Neves -
Ecosturarte’ –maio/08. Objetivos: Art.2o – A Associação dos Artesãos do Tecido de Ribeirão
das Neves- ECOSTURARTE, tem por finalidade(s) apoiar as costureiras e artesãos de
Ribeirão das Neves que trabalham com tecido associados a outros materiais que seriam
destinados ao lixo, buscando sempre alternativas de preservar o meio ambiente.
Esta associação foi criada com o objetivo de apoiar as costureiras que não estavam
ligadas a uma associação de bairro.
2.3 CURSO DE MECÂNICO DE MÁQUINAS DE COSTURA
Grupo de fotos 23 – Curso de Mecânico de “Máquinas de Costura Domésticas e
Industrias “realizado em Ribeirão das Neves.
Fonte: Arquivo Pessoal
42
2.4 PARCERIAS
O grande sucesso do projeto em grande parte se deve as parcerias conquistadas ao
longo do tempo destes 4 anos. Hoje temos um parceiro para cada necessidade do projeto e
sempre somos recebidos com respeito.
Nossos parceiros:
• Prima Línea, Instituto Dudalina, Costureiras diversas e amigos: doação de
retalhos.
• Contabilidade & Cia (Elton): orientação contábil.
• Igrejas, Associações de Bairros, CRAS (Prefeitura), Particulares e ONGs:
viabilização de espaços físicos.
• Universidade Fumec, Emater e apoio de parlamentares por meio de projetos
de emenda parlamentar, desenvolvidos junto com as associações: máquinas de costura.
• Clientes: a cada cliente falamos do projeto para que possamos criar um laço de
fidelidade e ser um parceiro enquanto consumidor de nossos produtos.
• Criata – Empresa de estamparia digital: doação de papel.
43
2.5 DIVULGAÇÃO DO PROJETO EM OUTROS ESPAÇOS
Também em 2008 o colégio Magnum, estava divulgando trabalhos de pais de
alunos que contribuíam para melhoria da sociedade e a supervisora da série de meu filho
pediu que fizesse uma matéria para ser analisada e foi selecionada e durante um tempo foi
afixada em murais do Colégio com o título. Fiquei muito orgulhosa.
FIGURA 24 – Cartaz exibido na escola Magnum da Cidade Nova – Projeto : Sua atitude faz a diferença
Fonte: Colégio Magnum- Cidade Nova
44
FIGURA 25- Matéria sobre o Projeto Costura e Arte
Fonte: Jornal HOJE EM DIA, Belo Horizonte, p.20, 25mar. 2009
FIGURA 26- Matéria sobre a participação Projeto Costura e Arte na Feira Nacional de Artesanato
Fonte: Jornal ÉH NOTÍCIA, Ribeirão das Neves, p. 8, 4-10, dez. 2008
45
FIGURA 27- Matéria publicada na Revista Costura Perfeita
Fonte: CAVEMAC, 2010, p. 72.
46
CAPÍTULO 3
RESULTADO DESTAQUE: GRUPO SANTA MARTA E A LOJA DE
REFORMAS
FIGURA 28 – Artesãs Cida e Adélia, responsáveis pela Loja de Reformas
Fonte: Arquivo Pessoal
Enfeitar-se é um ritual tão grave.
A fazenda não é mero tecido, é matéria de coisa.
É a esse estofo que com meu corpo eu dou corpo.
Ah, como pode um simples pano ganhar tanta vida?
Lispector (1999)
Uma peça de roupa carrega uma história em suas costuras, pregas, franzidos e
muitas vezes se confunde com momentos da história da pessoa que usa e até da família a que
a peça pertence.
Quando pensamos na Loja de Reforma, avaliamos que seria adequado para um
grupo pequeno, dada a complexidade do trabalho e a necessidade de pessoas com
sensibilidade e o respeito pela história da cada peça, para garantir a reconstrução, sem perder
as características. O encontro com o cliente que chega para reconstruir uma peça exige do
artesão sensibilidade para avaliar o que é possível fazer, mas, principalmente, o que é
recomendável em razão da peça, do tipo de tecido, do acabamento, do material utilizado, etc.
47
Em muitos casos, há um descontentamento com o resultado executado anteriormente e
habilidade nesse trato faz toda a diferença.
Pensando na proposta do projeto de ser sustentável, contribuindo para a redução
do consumo e, consequentemente, do lixo, nada mais oportuno que recuperar uma peça
guardando seu valor afetivo e evitando a compra de outra.
O grupo responsável pela Loja de Reformas, que faz parte da Associação dos
Artesãos de Tecido de Ribeirão das Neves – Ecosturarte – foi inicialmente constituído por três
pessoas e posteriormente duas continuaram o trabalho. Ao concluírem o curso de corte e
costura, as componentes desse grupo decidiram abrir uma loja no espaço comercial, embaixo
da casa de uma delas.
Iniciaram as atividades de reforma em 2008, juntamente com a produção de panos
de pratos. Durante o período de preparação, foram feitas oficinas abordando os aspectos da
reforma como:
manter a integridade da peça;
usar linha adequada, a cada tecido, na cor da linha da costura original;
registrar as informações de cada peça, como: data, serviço solicitado e data
prevista para entrega (utilização de agenda de compromissos);
Fazer o orçamento para que o cliente tenha clareza do valor a ser pago;
manter atualizadas todas as informações de entradas e saídas do caixa;
registrar, em relatório mensal, todas as informações dos trabalhos realizados, o
que permite o planejamento de compra de aviamento apresentação de relatórios por meio de
gráficos.
O registro das informações sempre foi um dos pontos mais trabalhados no projeto
Costura e Arte – Solidariedade e Sustentabilidade em todos os grupos, por considerá-lo o
único instrumento que permite avaliar e replanejar, além de fornecer informações para a
emissão de relatórios precisos do trabalho.
48
FIGURA 29 – Agenda da loja de reforma (esta agenda foi doada ao grupo por uma cliente)
Fonte: Arquivo Pessoal
Outro aspecto que permitiu aos clientes terem liberdade para executar ou não o
trabalho deles foi a construção, pelo grupo, de uma tabela de preços básicos ao qual o cliente
tem acesso assim que chega à loja quando é feito um orçamento sem compromisso, ao mesmo
tempo que é valida a condição da peça e o serviço solicitado. Também um cartão de visita foi
construído para a divulgação do trabalho.
Hoje, com dois anos de trabalho, podemos observar a evolução do grupo por meio
de gráficos comparativos. Outro aspecto observado no desenvolvimento das duas artesãs
responsáveis pelas é o reflexo no trabalho de produção de peças. Hoje já estão produzindo,
para elas e para as vizinhas, roupas de festa em tecidos sofisticados. Elas sentem orgulho do
trabalho e já contam com uma cartela de clientes que já são tratados pelo nome e retornam à
loja indicando outra pessoa.
Destacamos, também, um trabalho que estão desenvolvendo e que sempre foi um
desafio, dentro da proposta de reutilização de materiais que seriam destinados ao lixo. São
colchas de retalhos que estão sendo construídas com pernas de calças jeans destinadas ao
descarte e de retalhos de malhas recebidos da empresa parceira Dudalina, de seu projeto de
49
responsabilidade social. Os retalhos são selecionados em função do planejamento dos blocos,
que, depois de costurados, são unidos formando quadros maiores e finalizando a colcha, como
podemos observar nas fotos a seguir:
FIGURA 30 – Colcha produzida com retalhos doados pelo Instituto Dudalina Fonte: Arquivo Pessoal
Para melhor ilustrar esse trabalho, que consideramos de muita importância,
fizemos algumas perguntas, aqui reproduzidas na íntegra, às artesãs Adélia e Cida:
1. Como foi o início do trabalho abrindo uma loja?
– Parecia uma gestação; na arte de reciclar, aos poucos um cliente divulgando
para o outro. Enquanto esperávamos os clientes, desfiávamos os panos para amarrar as
linhas e formar os desenhos.
2. Qual a importância da agenda de compromissos
– Organizar, até porque o cliente se sente seguro quanto ao nosso compromisso
de que seu pedido será atendido.
3. Hoje vocês tem anotado todas as peças reformadas, receitas, despesas.
Vocês acham que estas informações precisam ser anotadas ou não é importante?
– Sim. Desde o começo nós anotamos tudo que entra e sai. Temos o controle dos
gastos e de quanto temos em caixa.
4. A loja de reforma é uma atividade lucrativa do ponto de vista de vocês? Há
outro ganho?
50
– Com certeza. É um negócio que não falta serviço e nem dinheiro. Todo nosso
serviço e entregue com pagamento à vista. Desde o início trabalhamos assim. Tem sempre
alguém querendo fazer algum ajuste ou modificar suas roupas.
Outro ganho: nós contribuímos para a preservação do meio ambiente, uma vez
que reciclamos roupas e tecidos encalhados que deixam de ir para o lixo, e para a
sociabilidade, quando conhecemos pessoas do nosso meio e fora dele. Temos clientes de Belo
Horizonte.
5. Qual a sensação quando vocês veem as informações representadas em um
gráfico?
– A cada gráfico que analisamos nos surpreendemos com o nosso crescimento e
percebemos como o nosso trabalho é importante.
6. Vocês indicariam esta atividade para outras pessoas ou outros grupos? Por
quê?
– Com certeza. É um trabalho em que a cada dia aprendemos uma coisa nova.
Aumenta nossa autoestima, porque nos sentimos úteis, além de ser uma terapia. As dicas que
nós damos é não fazer autoinvestimento. Ir fazendo as coisas com calma e com o pé no chão,
para não complicar. Tratar cada cliente como se ele fosse único.
RELATÓRIO ANUAL DA LOJA DE COSTURA E REFORMAS – 2009
Responsáveis: Cida e Adélia
Endereço: Rua João Gonçalves Neto, 91, bairro Santa Marta
Funcionamento: das 13 às 17 horas (de segunda a sexta-feira)
Serviços oferecidos: confecção e reformas de peças do vestuário em geral.
Capacitação da EMATER-MG
• 2008: o grupo foi capacitado em corte e costura e reformas e feito o
planejamento para, em 2009, montar a loja de costura e reforma em uma loja que estava
fechada embaixo da casa de uma das participantes.
51
• 2010: a EMATER-MG continuou a assistência ao grupo na questão da gerência,
controles diários, custo de produção, além da modelagem e preparação das alunas para serem
monitoras do projeto. Estímulo a confecção de colchas de retalhos e outras peças.
TABELA 3
Resultados alcançadas com a loja em um ano de trabalho em 2009
Especificação Total peças Valor total
Reformas de calças, blusas, saias,
jaquetas, vestidos, etc.
522
2.025,00
Confecção de peças como vestido,
saias, calças, blusas, camisas, etc.
89
739,45
TOTAL 611 2.764,81 Fonte: Arquivo Pessoal
GRÁFICO 1 – Evolução dos rendimentos da loja de reformas em 2009
Fonte: Arquivo Pessoal
TABELA 4
Demonstrativo de utilização das receitas - 2009
Fonte: Arquivo Pessoal
DESTINO DAS RECEITAS
Especificação Valor %
Materias (linhas, zíper) 330,00 11,95
Taxas loja: IPTU, energia, manutenção 218,00 7,89
Apropriação para grupo 2.215,43 80,16
TOTAL 2.215,43 100
52
241,35
6% 308,60
8%
3335,00
86%
Materias (l inhas, zíper)
Taxas loja: IPTU, Energia,Manutenção)
Apropriação para grupo
GRÁFICO 2 – Demonstrativo de utilização das receitas-2010
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
2009
2010
GRÁFICO 3 – Comparativo de receitas 2009/2010
Observando a queda nos resultados, decidimos criar novos produtos, dentre os
quais as colchas de retalhos, que têm dado um bom resultado. Essas peças são produzidas na
baixa demanda de reformas.
53
CONCLUSÃO
A hipótese formulada de que era possível gerar renda fazendo a inclusão
produtiva associada à preservação ambiental foi confirmada por meio de parceria com
empresas dos setores de materiais têxteis, que doam retalhos de tecidos e de outros materiais
destinados ao lixo. Com essa matéria-prima, associada à criatividade, domínio de tecnologia
de fabricação da peça e um acabamento bem feito, é possível gerar renda com a
comercialização dessas peças produzidas, principalmente se forem peças exclusivas.
Ao final de quatro anos, registramos resultados positivos na aceitação dos
produtos, principalmente aqueles que foram agregados valores por meio do bordado e do
crochê e citamos, aqui, as bolsas, chaveiros e peças utilitárias. Os resultados positivos foram
observados mesmo nos grupos com características diferentes, mas nos quais o processo de
produção – criação, seleção do retalho, aviamento, corte, tecnologia de produção e
comercialização – foram feitos de forma integrada com controle de qualidade de processo em
todas as etapas.
O resultado que considero mais importante e imensurável é participação das
artesãs em feiras e eventos, processo até então desconhecidos por elas a exemplo feiras de
artesanato de Tiradentes, de São João Del Rei, etc. e a Feira Nacional de Artesanato. A
participação nesses eventos como empreendedoras e oficineiras de costura, modifica muito
sua atuação e postura, no projeto que está engajada. Como resultados melhoram a auto-
estima e produzem mais e melhor, além de ampliar a visão de mercado. Elas compreendem
melhor o nível de exigência estabelecido na produção das peças e fazem contatos com outros
artesãos que trabalham com a mesma matéria-prima que elas.
Consideramos que ações conjuntas de secretarias municipais podem otimizar
projetos dessa natureza e garantir a continuidade dos trabalhos, pois, além de produzir, é
necessário estar próximo do mercado consumidor para facilitar as vendas.
Para melhor visualizar esse processo, incorporamos ao trabalho os Anexos 1 e 2
(Relatório de gestão modelo EMATER-MG), elaborados junto com a Associação Ecosturarte
em 2009 e modelo de controle anual utilizado pelo grupo da loja de reformas
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Projetos 2010/2012
Para 2011, estamos planejando ampliar as ações do projeto apoiando outros
grupos e iniciar cursos de modelagem para atender às lojas de confecção, mercado que tem
crescido muito em Neves.
Outra ação prevista é buscar uma alternativa de apoio à comercialização com as
secretarias envolvidas no município, com o objetivo de organizar os grupos de produção e
melhorar a qualidade dos produtos.
Encaminhamos uma proposta de um Curso técnico de Gestão de Negócio de
Moda: ênfase sustentabilidade ao diretor do Instituto Educação Tecnológica de Ribeirão das
Neves.
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BIBLIOGRAFIA
BRANDÃO, Isabel Maria de Morais, CAMPOS, Regina, CERQUEIRA, Regina Coeli.
Organização de pequenos produtores: diretrizes de trabalho da Emater-MG. Documento
n. 3: Projeto comunitário. Belo Horizonte: Emater-MG, 1996. 48 p.
BRANDÃO, Isabel Maria de Morais; CAMPOS, Regina; CERQUEIRA, Regina Coeli.
Organização de pequenos produtores: diretrizes de trabalho da Emater-MG. Documento
n° 1: Ação do extensionista junto às organizações de pequenos produtores. Belo Horizonte:
Emater-MG, 1996. 48 p.
CAPACITUR. Curso de capacitação para atendimento ao turista/usuário do Aeroporto
Internacional Tancredo Neves. Apostila Comunidade Aeroportuária. Belo Horizonte,
2009.27p.
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CAVEMAC. Costura Perfeita, Ano XII n. 58, p. 72, nov./dez. 2010.
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Belo Horizonte: Emater, 2004. v. 1. 67 p.
EMATER-MG. Projeto Inovar: Sistema de Planejamento Participativo e Gestão Social.
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PROGRAMA SEMEANDO. Ética, cidadania e meio ambiente. Revista Educação Rural,
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PRONAF. Tecendo a rede: políticas públicas e participação social. Caderno de
Capacitação n. 3. Brasília. 2002. 35 .
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Singer, 1958.
TEIXEIRA, Dora de Melo Silva. Corte Centesimal – Molde-cópia. Belo Horizonte. 2003.
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ANEXOS
ANEXO A
RELATÓRIO ANUAL RECEITAS /DESPESAS – SANTA MARTA 2010
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ANEXO B
RELATÓRIO DE GESTÃO