pdf aula 02

Direito Processual Penal

O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula

ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementao do estudo em livros

doutrinrios e na jurisprudncia dos Tribunais.

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1. Inqurito Policial (cont.) ......................................................................................... 2

1.1 Incio do Inqurito (cont.) ................................................................................. 2

1.1.1 Ao Penal Pblica Incondicionada (cont.) ................................................. 2

1.1.1.1 De ofcio ............................................................................................... 2

1.1.1.2 Requisio judicial (?) .......................................................................... 2

1.1.1.3 Requisio do membro do MP ............................................................. 3

1.1.1.4 Requerimento do ofendido ou seu representante legal ..................... 3

1.1.1.5 Requerimento de qualquer do povo ................................................... 4

1.1.2 Ao Penal Pblica condicionada ................................................................ 6

1.1.3 Ao Penal privada ...................................................................................... 9

1.1.4 Auto de Priso em Flagrante ....................................................................... 9

1.2 Desenvolvimento do Inqurito ......................................................................... 9

1.3 Concluso do Inqurito Policial ...................................................................... 10

1.3.1 Prazos ......................................................................................................... 10

1.3.2 Remessa dos autos .................................................................................... 11

1.4 Arquivamento do Inqurito Policial ................................................................ 12

1.4.1 O artigo 28 do CPP ..................................................................................... 13

1.4.2 Ao Penal privada subsidiria da pblica ................................................ 15

1.4.3 Arquivamento implcito ou tcito .............................................................. 17

1.4.4 Arquivamento indireto .............................................................................. 18

1.5 Desarquivamento do Inqurito....................................................................... 22

1.6 Quadro esquemtico sobre formas de instaurao do IP .............................. 24

2. Ao Penal ............................................................................................................ 25

2.1 Ao Penal pblica incondicionada ................................................................ 25

2.1.1 Princpios ................................................................................................... 25

2.1.1.1 Obrigatoriedade ................................................................................. 25





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1. Inqurito Policial (cont.)

1.1 Incio do Inqurito (cont.)

1.1.1 Ao Penal Pblica Incondicionada (cont.)

1.1.1.1 De ofcio

CPP, Art. 5 Nos crimes de ao pblica o inqurito policial ser iniciado:

I - de ofcio;

A instaurao ex officio ocorrer, apenas, nas aes penais incondicionadas.

1.1.1.2 Requisio judicial (?)


II - mediante requisio da autoridade judiciria ou do Ministrio Pblico, ou a

requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para represent-lo.

Conforme orientao dominante na doutrina e na jurisprudncia, a requisio

judicial, por violar o Sistema Acusatrio, no foi recepcionada pela Carta Poltica vigente,

tendo em vista ser conferida ao Ministrio Pblico, pela Constituio da Repblica, a

atribuio para promover privativamente a ao penal pblica. No mais, ao proceder

requisio, o juiz no est agindo como qualquer um do povo, eis que, nos autos, est

atuando.

Importante destacar que, o inqurito instaurado com base numa requisio judicial

que, posteriormente, transforme-se num processo criminal, em princpio, no contamina o

feito judicial. Isso porque, em regra, os vcios do inqurito policial no contaminam, a

princpio, a ao penal subsequente. Salvo, quando a inicial acusatria foi lastreada

exclusivamente nesse inqurito policial contaminado.

Como o inqurito no a nica pea possvel a subsidiar uma denncia, em havendo

outros elementos que deem ensejo a inicial acusatria, mesmo que haja algum vcio de

origem, a ao penal no ser totalmente contaminada por esse vcio.

Ao tomar cincia de uma infrao penal, o magistrado, com arrimo legal no artigo 40

do CPP, comunicar o fato ao MP. Trata-se de uma notitia criminis judicial, compatvel com a

ordem constitucional vigente. Veja que diversa de requisio de instaurao de inqurito.

CPP, Art. 40. Quando, em autos ou papis de que conhecerem, os juzes ou tribunais

verificarem a existncia de crime de ao pblica [incondicionada], remetero ao

Ministrio Pblico [titular da ao penal pblica] as cpias e os documentos necessrios

ao oferecimento da denncia.





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Exemplo: crime de falso testemunho. Percebendo a falsidade, sem prejuzo da priso

em flagrante, o magistrado remeter cpias do depoimento, e de outras igualmente

importantes, ao MP, para adoo das medidas cabveis. Esse o caminho correto, previsto

no art. 40, CPP.

1.1.1.3 Requisio do membro do MP




A requisio do Ministrio Pblico uma ordem; no, um pedido. Assim, em

princpio, no pode ser desatendida, vinculando o Delegado. O que no implica dizer que o

Delegado seja subordinado ao MP.

Com efeito, a requisio deve ser acolhida pelo Delegado de Polcia, exceto se

manifestamente ilegal. Nesse bojo, segundo jurisprudncia antiga do STF, eis que no h

hierarquia entre o membro do Parquet e o Delegado de Polcia, caso este se recuse em

cumprir requisio emanada daquele, no incorrer em crime de desobedincia; ser uma

falta disciplinar (mero ilcito administrativo), conforme o caso1.

Observao: em virtude de tratar-se de jurisprudncia antiga, alerta o professor que

deve ela ser vista com ressalvas. Isso porque, hodiernamente, entende-se que um

funcionrio pblico pode desobedecer ou desacatar outro, independentemente do grau

hierrquico. Tal raciocnio poderia ser aplicado entre MP e Delegado de Polcia, embora,

repita-se, no haja qualquer posicionamento recente para esse caso especfico.

1.1.1.4 Requerimento do ofendido ou seu representante legal




Prima facie, esclarea-se que, ainda, est a tratar-se de ao penal pblica

incondicionada. Na hiptese, a partir das informaes carreadas pelo ofendido ou seu

representante legal, a autoridade policial, conforme seu juzo de discricionariedade,

instaurar o inqurito policial.

1 Tema j cobrado em provas do CESPE.





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1.1.1.5 Requerimento de qualquer do povo

A notitia criminis trazida por um terceiro (qualquer pessoa do povo), no vinculado

ao fato (isto , que no a vtima ou seu representante legal), chamar-se- delatio criminis.

Antes de instaurar o inqurito, o Delegado, por cautela, proceder verificao da

procedncia de informaes (popularmente, conhecida como VPI).

Art. 5, 3 Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existncia de infrao

penal em que caiba ao pblica poder, verbalmente ou por escrito, comunic-la

autoridade policial, e esta, verificada a procedncia das informaes, mandar instaurar

inqurito.

A autoridade policial no poder instaurar o IP de plano quando a notitia criminis

trazida por qualquer do povo. Com efeito, o inqurito instaurado com base em delatio sem a

verificao da procedncia das informaes pode ser trancado pela via do habeas corpus.

Todavia, se, no curso das investigaes, o que foi trazido na delatio criminis exclusivamente

se confirmar, no haver que se falar em vcio, motivo por que incabvel o trancamento por

meio de habeas corpus.

Notitia criminis inqualificada/annima/apcrifa

Trata-se da popular denncia annima. A orientao da Suprema Corte pela

vedao da instaurao de investigao com base, exclusivamente, em denncia

annima/apcrifa/inqualificada. Isso porque a denncia annima deve ser tratada como

delatio criminis.

ANONIMATO - NOTCIA DE PRTICA CRIMINOSA - PERSECUO CRIMINAL -

IMPROPRIEDADE. No serve persecuo criminal notcia de prtica criminosa sem

identificao da autoria, consideradas a vedao constitucional do anonimato e a

necessidade de haver parmetros prprios responsabilidade, nos campos cvel e penal,

de quem a implemente.

(HC 84827, Relator(a): Min. MARCO AURLIO, Primeira Turma, julgado em 07/08/2007,

DJe-147 DIVULG 22-11-2007 PUBLIC 23-11-2007 DJ 23-11-2007 PP-00079 EMENT VOL-

02300-03 PP-00435)

Inclusive, aquele que der causa a procedimento investigatrio por meio da imputao

de crime a pessoa que se sabe ser inocente comete crime de denunciao caluniosa, nos

termos do artigo 339 do CP, sobre o qual incide um aumento de pena no caso do anonimato.

CP, Art. 339. Dar causa instaurao de investigao policial, de processo judicial,

instaurao de investigao administrativa, inqurito civil ou ao de improbidade

administrativa contra algum, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: (Redao

dada pela Lei n 10.028, de 2000)

Pena - recluso, de dois a oito anos, e multa.





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1 - A pena aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de

nome suposto.

Nada obstante, os precedentes jurisprudenciais posicionam-se no sentido de que a

denncia annima no impede a instaurao do inqurito. In casu, a autoridade policial

dever realizar a verificao da procedncia de informaes. Nesse contexto, desenvolvida

essa verificao e constatado que a notcia annima no possui qualquer respaldo, a

autoridade policial deixa de proceder instaurao do inqurito.

Ementa: Penal e Processo Penal. Agravo Regimental em Habeas Corpus. Trfico e

associao para o trfico de entorpecentes arts. 33 e 35 da Lei n. 11.343/2006.

Denncia annima. Aptido para deflagrar a investigao. Escutas telefnicas e

prorrogaes. Medidas autorizadas aps o surgimento de indcios de envolvimento do

paciente nos fatos investigados. Legalidade. Decises fundamentadas. Inexistncia de

afronta ao art. 93, IX, da CF. Temas de fundo no examinados pelo Tribunal a quo.

Supresso de instncia. Inviabilidade do habeas corpus para analisar requisitos de

admissibilidade de recursos. 1. A denncia annima apta deflagrao da

persecuo penal quando seguida de diligncias para averiguar os fatos nela

noticiados antes da instaurao de inqurito policial. Precedentes: HC 108.147,

Segunda Turma, Relatora a Ministra Crmen Lcia, DJe de 1.02.13; HC 105.484,

Segunda Turma, Relatora a Ministra Crmen Lcia, DJe de 16.04.13; HC 99.490, Segunda

Turma, Relator o Ministro Joaquim Barbosa, DJe de 1.02.11; HC 98.345, Primeira

Turma, Redator para o acrdo o Ministro Dias Toffoli, DJe de 17.09.10; HC 95.244,

Primeira Turma, Relator o Ministro Dias Toffoli, DJe de 30.04.10. 2. In casu, a Polcia, a

partir de denncia annima, deu incio s investigaes para apurar a eventual prtica

dos crimes de trfico e de associao para o trfico de entorpecentes, tipificados nos

arts. 33 e 35 da Lei n. 11.343/2006. 3. Deveras, a denncia annima constituiu apenas

o ponto de partida para o incio das investigaes antes da instaurao do inqurito

policial e a interceptao telefnica e prorrogaes foram deferidas somente aps o

surgimento de indcios apontando o envolvimento do paciente nos fatos investigados,

a justificar a determinao judicial devidamente fundamentada, como exige o art. 93,

IX, da Constituio Federal. 4. O prazo originalmente estabelecido para a interceptao

telefnica pode ser prorrogado, sendo certo que as decises posteriores que autorizarem

a prorrogao, sem acrescentar novos motivos, evidenciam que essa prorrogao foi

autorizada com base na mesma fundamentao exposta na primeira deciso que deferiu

o monitoramento. Precedente: HC 100.172, Plenrio, Relator o Ministro Dias Toffoli, DJe

de 25.09.13. 5. O dito condenatrio no est baseado somente nas escutas telefnicas,

mas, tambm, em consistente acervo probatrio produzido no curso da instruo

criminal. 6. As questes suscitadas nas razes da impetrao no foram examinadas

pelo Tribunal a quo, que se limitou a negar seguimento ao recurso especial, sob o

fundamento de inobservncia de requisitos formais (ausncia de prequestionamento,

vedao ao exame de prova e inexistncia de demonstrao de divergncia

jurisprudencial). 7. O objeto da tutela em habeas corpus a liberdade de locomoo





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quando ameaada por ilegalidade ou abuso de poder (CF, art. 5, LXVIII), no cabendo

sua utilizao para reexaminar pressupostos de admissibilidade de recursos (HC 112.756,

Primeira Turma, Relatora a Ministra Rosa Weber, DJe de 13.03.13; HC 113.660, Segunda

Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJ de 13.02.13; HC 112.130, Segunda

Turma, Relator o Ministro Ayres Britto, DJe de 08/06/2012). 8. Agravo regimental em

habeas corpus desprovido.

(HC 120234 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 11/03/2014,

PROCESSO ELETRNICO DJe-059 DIVULG 25-03-2014 PUBLIC 26-03-2014)

1.1.2 Ao Penal Pblica condicionada

CPP, Art. 5 [...]

4 O inqurito, nos crimes em que a ao pblica depender de representao, no

poder sem ela ser iniciado.

c/c

CPP, Art. 24. Nos crimes de ao pblica, esta ser promovida por denncia do

Ministrio Pblico, mas depender, quando a lei o exigir, de requisio do Ministro da

Justia, ou de representao do ofendido ou de quem tiver qualidade para represent-lo.

O que representao?

Representao mera manifestao de vontade de autorizao do incio da

persecuo criminal.

Exemplo1: o crime de ameaa, descrito no artigo 147 do CP, condicionado

representao.

CP, Art. 147 - Ameaar algum, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio

simblico, de causar-lhe mal injusto e grave:

Pena - deteno, de um a seis meses, ou multa.

Pargrafo nico - Somente se procede mediante representao.

Exemplo2: estupro, tambm, de ao penal condicionada representao. Salvo, se

se tratar de vtima vulnervel ou menor de 18 anos. Nesse bojo, discute-se, inclusive, sobre

se o enunciado 6082 da smula do STF estaria prejudicado por conta das alteraes

promovidas pela Lei 12.015/2009.

CP, Art. 225. Nos crimes definidos nos Captulos I e II deste Ttulo, procede-se mediante

ao penal pblica condicionada representao.

Pargrafo nico. Procede-se, entretanto, mediante ao penal pblica incondicionada se

a vtima menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnervel.

2 NO CRIME DE ESTUPRO, PRATICADO MEDIANTE VIOLNCIA REAL, A AO PENAL PBLICA

INCONDICIONADA.





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Quem pode representar?

Alm da vtima e de seu representante legal, podero exercer o direito de

representao, em caso de falecimento, cnjuge ou companheiro (esse ltimo, conforme

entendimento doutrinrio), ascendente, descendente ou irmo (C2ADI).

CPP, Art. 24, 1 No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por

deciso judicial, o direito de representao passar ao cnjuge, ascendente, descendente

ou irmo.

De que forma representar?

Em regra, feita pessoalmente. Excepcionalmente, ser externada por procurador

com poderes especiais.

CPP, Art. 39. O direito de representao poder ser exercido, pessoalmente ou por

procurador com poderes especiais, mediante declarao, escrita ou oral, feita ao juiz, ao

rgo do Ministrio Pblico, ou autoridade policial.

1o A representao feita oralmente ou por escrito, sem assinatura devidamente

autenticada do ofendido, de seu representante legal ou procurador, ser reduzida a

termo, perante o juiz [feita uma representao perante o magistrado, este proceder

conforme a sistemtica delineada no artigo 40 do CPP] ou autoridade policial, presente

o rgo do Ministrio Pblico, quando a este houver sido dirigida.

2o A representao conter todas as informaes que possam servir apurao do

fato e da autoria.

3o Oferecida ou reduzida a termo a representao, a autoridade policial proceder a

inqurito, ou, no sendo competente, remetelo autoridade que o for. 4o A representao, quando feita ao juiz ou perante este reduzida a termo, ser

remetida autoridade policial para que esta proceda a inqurito.

5o O rgo do Ministrio Pblico dispensar o inqurito, se com a representao forem

oferecidos elementos que o habilitem a promover a ao penal, e, neste caso, oferecer

a denncia no prazo de quinze dias.

Qual o prazo para representar?

O prazo para a representao de 6 meses, contados do instante no qual o ofendido

toma cincia da autoria do delito.

CPP, Art. 38. Salvo disposio em contrrio, o ofendido, ou seu representante legal,

decair no direito de queixa ou de representao, se no o exercer dentro do prazo de

seis meses, contado do dia em que vier a saber quem o autor do crime, ou, no caso do

artigo 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denncia.

Por se tratar de prazo referente ao jus puniendi, ou seja, prazo de natureza penal,

conta-se nos termos do artigo 10 do Cdigo Penal, incluindo-se o dia do incio, excluindo-se





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o dia do final, no se interrompendo, suspendendo, ou prorrogando-se at o dia til

seguinte, no caso de findar em dia no til.

H alguma peculiaridade da representao em sede de JECRIM?

No mbito do Juizado Especial Criminal, em que pese no existir instaurao de

inqurito policial, faz-se necessria a manifestao da representao pela confeco do

termo circunstanciado. Para alm disso, imperiosa a ratificao dessa representao na

audincia preliminar, pela vtima ou seu representante legal, caso no seja obtida a

conciliao. No ponto, vide o artigo 75 da Lei 9.099/95:

Lei 9.099/95, Art. 75. No obtida a composio dos danos civis, ser dada

imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de representao verbal,

que ser reduzida a termo.

Pargrafo nico. O no oferecimento da representao na audincia preliminar no

implica decadncia do direito, que poder ser exercido no prazo previsto em lei.

Quais os casos de requisio do Ministro da Justia?

A requisio do Ministro da Justia ocorre em:

(i) crime praticado fora do Brasil, por estrangeiro, contra brasileiro (artigo 7, 3,

b, CP extraterritorialidade condicionada - Princpio da Personalidade passiva).

CP, art, 7, 3 - A lei brasileira aplica-se tambm ao crime cometido por estrangeiro

contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condies previstas no pargrafo

anterior:

b) houve requisio do Ministro da Justia.

Depender dessa requisio do Ministro da Justia por ser uma deciso poltica;

(ii) crime contra a honra do Presidente da Repblica ou chefe de governo estrangeiro

(art. 145, par. nico do CP).

CP, Art. 141. As penas cominadas neste Captulo aumentamse de um tero, se qualquer dos crimes cometido:

I contra o Presidente da Repblica, ou contra chefe de governo estrangeiro;

c/c

CP, Art. 145 [...]

Pargrafo nico. Procedese mediante requisio do Ministro da Justia, no caso do inciso I do caput do art. 141 deste Cdigo, e mediante representao do ofendido, no

caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do 3o do art. 140 deste Cdigo.

Segundo alguns autores, a requisio uma representao oficial. verdadeiro ato

de convenincia poltica, emanado do Ministro da Justia.





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1.1.3 Ao Penal privada

O art. 5, em seu 5, estabelece que a autoridade policial s pode proceder a

inqurito a pedido de quem tenha legitimidade para intentar a ao penal privada

(manifestao essa que deve ser feita dentro do prazo decadencial de 06 meses).

No se instaura o inqurito de ofcio e nem por meio de delatio criminis.

CPP, Art. 5, 5 Nos crimes de ao privada, a autoridade policial somente poder

proceder a inqurito a requerimento de quem tenha qualidade para intentala.

CPP, Art. 30. Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para represent-lo caber intentar

a ao privada.

CPP, Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por deciso

judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ao passar ao cnjuge,

ascendente, descendente ou irmo.

1.1.4 Auto de Priso em Flagrante

CPP, Art. 8 Havendo priso em flagrante, ser observado o disposto no Captulo II do

Ttulo IX deste Livro.

Alm da cognio comum feita a partir da notitia criminis, existe a cognio

coercitiva, que feita a partir da lavratura do auto de priso em flagrante, o qual faz as

vezes da portaria. O art. 8, CPP remete a leitura aos artigos 301 e seguintes, que tratam da

comunicao do flagrante.

No flagrante (art. 301 a 310, CPP), o preso ser conduzido presena da autoridade

policial, para a lavratura do respectivo auto, o qual dar ensejo instaurao do IPL.

Nos crimes de ao penal pblica condicionada a representao e nos crimes de ao

penal privada ser sempre possvel a captura, como expresso do poder de polcia do

Estado, mas a lavratura do auto de priso em flagrante vai depender da concordncia do

ofendido ou do seu representante legal3.

1.2 Desenvolvimento do Inqurito

Por se tratar de um procedimento administrativo, o inqurito policial no segue um

rito. H, verdadeiramente, uma sequncia de atos a ser seguida, sequncia esta que,

exemplificativamente, encontra-se consignada nos artigos 6 e 7, CPP. Por lgico, a adoo

3 Trecho integralmente extrado do material fornecido pelo professor.





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desses atos investigatrios, salvo no caso de exame de corpo de delito, d-se nos ditames de

um juzo de convenincia e oportunidade do delegado de polcia.

CPP, Art. 6 Logo que tiver conhecimento da prtica da infrao penal, a autoridade

policial dever:

I - dirigir-se ao local, providenciando para que no se alterem o estado e conservao

das coisas, at a chegada dos peritos criminais; (Redao dada pela Lei n 8.862, de

28.3.1994) (Vide Lei n 5.970, de 1973)

II - apreender os objetos que tiverem relao com o fato, aps liberados pelos peritos

criminais; (Redao dada pela Lei n 8.862, de 28.3.1994)

III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas

circunstncias;

IV - ouvir o ofendido;

V - ouvir o indiciado, com observncia, no que for aplicvel, do disposto no Captulo III do

Ttulo Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas

que lhe tenham ouvido a leitura;

VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareaes;

VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer

outras percias;

VIII - ordenar a identificao do indiciado pelo processo datiloscpico, se possvel, e fazer

juntar aos autos sua folha de antecedentes;

IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e

social, sua condio econmica, sua atitude e estado de nimo antes e depois do crime e

durante ele, e quaisquer outros elementos que contriburem para a apreciao do seu

temperamento e carter.

Art. 7 Para verificar a possibilidade de haver a infrao sido praticada de determinado

modo, a autoridade policial poder proceder reproduo simulada dos fatos, desde

que esta no contrarie a moralidade ou a ordem pblica.

Observao: a Lei 12.830/2013 estabeleceu que a atividade da autoridade policial

no meramente administrativa. Tampouco judicial. Em verdade, jurdica.

Lei 12.830/2013, Art. 2 As funes de polcia judiciria e a apurao de infraes penais

exercidas pelo delegado de polcia so de natureza jurdica, essenciais e exclusivas de

Estado.

1.3 Concluso do Inqurito Policial

1.3.1 Prazos

CPP, Art. 10. O inqurito dever terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido

preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hiptese,





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a partir do dia em que se executar a ordem de priso, ou no prazo de 30 dias, quando

estiver solto, mediante fiana ou sem ela.

INDICIADO PRESO INDICIADO SOLTO

JUSTIA COMUM/ESTADUAL

(REGRA GERAL, ART. 10 CPP)

10 dias, sem prorrogao 30 dias, prorrogveis ao critrio do

juiz

JUSTIA FEDERAL (ART. 66, LEI

5.010/66)

15 dias, prorrogveis por igual

perodo

30 dias, prorrogveis a critrio do

juiz

LEI DE DROGAS (ART. 51) 30 dias, prorrogveis por igual

perodo

90 dias, prorrogveis por igual

perodo

CRIMES CONTRA A ECONOMIA

POPULAR4 (ART. 10, 1, LEI

1.521/51)

10 dias 10 dias

Nota1: o prazo para a Justia Federal diferenciado, porquanto, em 1966, quando a

Lei 5.010 foi editada, a Justia Federal era notadamente embrionria. No possua a

proporo da qual goza hoje.

Nota2: o exemplo acerca dos crimes contra a economia popular foi extrado de outra

aula ministrada pelo professor Marcelo, aqui, no Curso nfase.

1.3.2 Remessa dos autos

CPP, Art. 10. [...]

2 A autoridade far minucioso relatrio do que tiver sido apurado e enviar autos ao

juiz competente.

2 No relatrio poder a autoridade indicar testemunhas que no tiverem sido

inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas.

De acordo com a letra da lei, encaminham-se os autos ao juiz competente (art. 10,

1, CPP). Na viso do professor, no h qualquer problemtica em remeter os autos ao juiz

competente, tendo em vista ser ele o controlador do prazo de concluso do inqurito

policial. Inclusive, j houve questes de provas cobrando a literalidade do CPP e que no

foram anuladas.

4 Crimes contra a economia popular, por entendimento sumulado (498 do STF), so de competncia da

Justia Estadual.





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Contudo, invocando o sistema acusatrio, sob o vis doutrinrio, os autos deveriam

ser remetidos ao Ministrio Pblico, titular da ao penal pblica. E isso propiciaria at

mesmo uma maior dinmica no requerimento de diligncias, na promoo de arquivamento,

etc. Aponta a doutrina que no deveria o magistrado ter contato com os autos do IP nesse

momento pr-processual, em respeito ao sistema acusatrio.

CPP, Art. 10. [...]

3 Quando o fato for de difcil elucidao, e o indiciado estiver solto, a autoridade

poder requerer ao juiz a devoluo dos autos, para ulteriores diligncias, que sero

realizadas no prazo marcado pelo juiz.

A aplicao do 3 tem como pressuposto o indivduo estar em liberdade. Assim, a

requerimento da autoridade policial, o juiz deferir o elastecimento do prazo para realizao

de novas diligncias.

Complementando o dispositivo em comento, o artigo 16 positiva que o membro do

Ministrio Pblico somente poder devolver os autos do inqurito autoridade policial se

existirem diligncias imprescindveis ao oferecimento da denncia pendentes de realizao.

CPP, Art. 16. O Ministrio Pblico no poder requerer a devoluo do inqurito

autoridade policial, seno para novas diligncias, imprescindveis ao oferecimento da

denncia.

Inqurito instaurado para a apurao de crime cuja ao penal seja privada no

arquivado. encaminhado para o juzo competente e, decorrido o prazo decadencial,

declara-se extinta a punibilidade, o que impede a re-discusso do fato. No existe

arquivamento ou desarquivamento de inqurito em crime de ao penal privada.

CPP, Art. 19. Nos crimes em que no couber ao pblica, os autos do inqurito sero

remetidos ao juzo competente, onde aguardaro a iniciativa do ofendido ou de seu

representante legal, ou sero entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado

[=cpias].

1.4 Arquivamento do Inqurito Policial

O arquivamento consiste na paralisao das investigaes, por falta de elementos

suficientes para a deflagrao da ao penal. Requerido pelo Ministrio Pblico, e ordenado

pelo juiz, o despacho/deciso de arquivamento do inqurito no faz coisa julgada,

porquanto deciso (precria) tomada rebus sic standibus (enquanto as coisas

permanecerem nesse estado).

Cuida-se do controle judicial acerca do princpio da obrigatoriedade. Ressalte-se que

o inqurito pode ser arquivado em relao a um fato e prosseguir em relao a outros.

CPP, Art. 17. A autoridade policial no poder mandar arquivar autos de inqurito.





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Na circunscrio de suas funes, a autoridade policial regida pelo princpio da

obrigatoriedade e indisponibilidade, motivo pelo qual no se lhe permite a determinao do

inqurito policial. Chegando ao fim da investigao, seu dever elaborar relatrio final e

remeter os autos para o juiz (orientao legal) ou para o MP (orientao doutrinria).

Visto isso, infere-se serem possveis trs fins ao Inqurito Policial:

(i) Retorno dos autos Delegacia Policial para a realizao de novas diligncias

Artigo 10, 3 c/c art. 16, CPP;

(ii) Pedido de arquivamento;

(iii) Oferecimento da denncia.

Observao: rememoremo-nos que todas as manifestaes do MP so

fundamentadas (art. 129, CRFB). Ou seja, qualquer que seja sua ao (oferecimento de

denncia, promoo de arquivamento ou pedido de realizao de diligncias), dever ela

estar fundamentada. E isso possui repercusses diretas no tocante ao denominado

arquivamento implcito ou indireto.

1.4.1 O artigo 28 do CPP

Sistemtica

a consagrao do sistema acusatrio. Caso o membro do MP requeira o

arquivamento, e o juiz discorde das razes invocadas, os autos do inqurito sero remetidos

ao chefe da instituio, o qual ter trs opes: (i) concordar com o argumento do juiz e

oferecer a denncia; (ii) concordar, mas designar outro membro do rgo para faz-lo; e (iii)

insistir no arquivamento, posicionamento a que se vincular o decisum do magistrado, haja

vista o regramento constitucional segundo o qual ao Ministrio Pblico conferida a

titularidade da Ao Penal pblica (art. 129, I, CRFB).5

O juiz exerce esse controle da obrigatoriedade podendo ir contra as razes do MP,

mas face ao princpio acusatrio, em discordando, dever aos autos ao Procurador Geral.

Recusa pelo membro designado pelo PGR

Dvida que persiste na hiptese de o membro do MP designado discordar da

opinio do Procurador-Geral. H quem entenda que a designao institucional deve ser

acolhida e o membro do MP deve oferecer a denncia, porquanto estaria a atuar como

longa manus do Procurador-Geral.

5 A ideia a de que o poder de arquivar pertence a quem possui o poder de acusar.





14


Segunda orientao assenta que possvel, em tese, em nome do princpio da

independncia funcional, que o membro designado se recuse a oferecer a denncia, pedindo

o arquivamento.

Se o membro designado pelo PGR, tambm, entender que caso de arquivamento, e

se o juiz discordar, novamente, adota-se o procedimento do artigo 28 do CPP. Salvo,

naturalmente, se, nesse nterim, ocorrer nova causa fundamentadora do arquivamento,

como, por exemplo, extino da punibilidade.

Por isso, para evitar constrangimentos, e um ciclo infinito de remessas para o

Procurador-Geral, comum que essa designao seja feita por membros inseridos no

gabinete do chefe da instituio.

O artigo 28 do CPP e o verbete n 696 da Smula do STF

O artigo 28 do CPP, tamanha sua importncia, aparece em diversas fases do

processo. o caso do sursis processual ou suspenso condicional do processo, sobre o qual

pairam divergncias acerca de sua natureza jurdica: prerrogativa do membro do MP ou

direito subjetivo do ru?

Parte da doutrina posiciona-se pela natureza de direito subjetivo do ru. Uma vez

cumpridos os requisitos legais (art. 89, Lei 9.099/95), a proposta seria obrigatria por parte

do membro do MP. Nesse sentido, deciso do final do ano de 2012, proferida pela Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justia e constante do informativo n 513:

DIREITO PROCESSUAL PENAL. SUSPENSO CONDICIONAL DO PROCESSO. OFERECIMENTO

DO BENEFCIO AO ACUSADO POR PARTE DO JUZO COMPETENTE EM AO PENAL

PBLICA.

O juzo competente dever, no mbito de ao penal pblica, oferecer o benefcio da

suspenso condicional do processo ao acusado caso constate, mediante provocao da

parte interessada, no s a insubsistncia dos fundamentos utilizados pelo Ministrio

Pblico para negar o benefcio, mas o preenchimento dos requisitos especiais previstos

no art. 89 da Lei n. 9.099/1995. A suspenso condicional do processo representa um

direito subjetivo do acusado na hiptese em que atendidos os requisitos previstos no

art. 89 da Lei dos Juizados Especiais Cveis e Criminais. Por essa razo, os indispensveis

fundamentos da recusa da proposta pelo Ministrio Pblico podem e devem ser

submetidos ao juzo de legalidade por parte do Poder Judicirio. Alm disso, diante de

uma negativa de proposta infundada por parte do rgo ministerial, o Poder Judicirio

estaria sendo compelido a prosseguir com uma persecuo penal desnecessria, na

medida em que a suspenso condicional do processo representa uma alternativa

persecuo penal. Por efeito, tendo em vista o interesse pblico do instituto, a proposta

de suspenso condicional do processo no pode ficar ao alvedrio do MP. Ademais,

conforme se depreende da redao do art. 89 da Lei n. 9.099/1995, alm dos requisitos

objetivos ali previstos para a suspenso condicional do processo, exige-se, tambm, a





15


observncia dos requisitos subjetivos elencados no art. 77, II, do CP. Assim, pode-se

imaginar, por exemplo, situao em que o Ministrio Pblico negue a benesse ao

acusado por considerao a elemento subjetivo elencado no art. 77, II, do CP, mas, ao

final da instruo criminal, o magistrado sentenciante no encontre fundamentos

idneos para valorar negativamente os requisitos subjetivos previstos no art. 59 do CP

(alguns comuns aos elencados no art. 77, II, do CP), fixando, assim, a pena-base no

mnimo legal. Da a importncia de que os fundamentos utilizados pelo rgo ministerial

para negar o benefcio sejam submetidos, mediante provocao da parte interessada, ao

juzo de legalidade do Poder Judicirio. HC 131.108-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em

18/12/2012.

Em sentido o Pretrio Excelso sustenta que a proposta de suspenso prerrogativa

do Ministrio Pblico, no havendo que se falar em direito subjetivo do ru.

Aqui, entra em cena a smula 696 do STF, segundo a qual, presentes os requisitos

autorizadores do oferecimento da proposta, e recusando-se o membro do MP em prop-la

(de maneira fundamentada, logicamente), o juiz, em discordando, remeter os autos ao

Procurador-Geral, numa analogia ao artigo 28 do CPP.

Enunciado n 696 Smula do STF

REUNIDOS OS PRESSUPOSTOS LEGAIS PERMISSIVOS DA SUSPENSO CONDICIONAL DO

PROCESSO, MAS SE RECUSANDO O PROMOTOR DE JUSTIA A PROP-LA, O JUIZ,

DISSENTINDO, REMETER A QUESTO AO PROCURADOR-GERAL, APLICANDO-SE POR

ANALOGIA O ART. 28 DO CDIGO DE PROCESSO PENAL.

O artigo 28 do CPP e o artigo 384, 1, do CPP (mutatio libelli)

CPP, Art. 384, 1 No procedendo o rgo do Ministrio Pblico ao aditamento, aplica-

se o art. 28 deste Cdigo. (Includo pela Lei n 11.719, de 2008).

Prev o referido artigo o instituto da mutatio libelli. No procedendo o membro do

MP ao aditamento, o magistrado socorrer-se- ao artigo 28 do CPP, por fora do sistema

acusatrio e do princpio da obrigatoriedade. Havendo elementos novos que determinem o

aditamento da denncia, obrigado o membro do MP a aditar. Caso no o faa, os autos

sero remetidos ao PGR, o qual ir: (i) concordar com o argumento do juiz e oferecer o

aditamento denncia; (ii) concordar, mas designar outro membro do rgo para faz-lo; e

(iii) insistir na denncia j oferecida, posicionamento a que se vincular o decisum do

magistrado, haja vista o regramento constitucional segundo o qual ao Ministrio Pblico

conferida a titularidade da Ao Penal pblica (art. 129, I, CRFB).

1.4.2 Ao Penal privada subsidiria da pblica

CPP, Art. 29. Ser admitida ao privada nos crimes de ao pblica, se esta no for

intentada no prazo legal, cabendo ao Ministrio Pblico aditar a queixa, repudi-la e





16


oferecer denncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer

elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligncia do

querelante, retomar a ao como parte principal.

Existem dois mecanismos de controle do princpio da obrigatoriedade da ao penal

pblica.

Primeiramente, o artigo 28 do CPP, no qual o pleito de arquivamento, feito pelo

membro do MP, sobre que haja discordncia do magistrado, far com que os autos do

inqurito policial sejam remetidos ao chefe da instituio.

De outra via, o artigo 29 do CPP, que cuida da ao penal subsidiria da pblica

intentada pelo particular, diante da inrcia do Parquet. A partir do momento em que se

verificar o decurso do prazo para o oferecimento da denncia (5 dias, ru preso; 15 dias, ru

solto), inicia-se o prazo decadencial de 6 meses para o ofendido oferecer a queixa

subsidiria.

Observao1: registre-se ser incabvel a ao penal privada subsidiria da pblica, se

o inqurito policial houver sido regularmente arquivado.

Observao2: se a deciso de arquivamento for manifestamente ilegal, o ofendido

poder impetrar mandado de segurana, contanto, naturalmente, que exista prova pr-

constituda, uma vez que invivel a dilao probatria em sede de MS.

Exemplo: arquivamento com base na prescrio pela pena ideal. Como inexiste

recurso contra a deciso de arquivamento, poder, nessa hiptese, o ofendido impetrar

mandado de segurana.

Explicao: dado setor doutrinrio, arrimado na economia processual e na perda

superveniente do interesse de agir, assinala positivamente quanto ocorrncia da

prescrio pela pena ideal. Ressalte-se que tal instituto possua maiores razo de ser

defendido quando era possvel reconhecer-se a prescrio entre a data do fato e o

recebimento da denncia, o que, atualmente, por conta das alteraes processadas pela Lei

12.234/2010, encontra-se sepultado. Sem embargo dessa posio doutrinria, o Superior

Tribunal de Justia, por meio de entendimento sumulado, com o qual o STF concorda, no

admite a prescrio pela pena hipottica/ideal/em perspectiva. A uma, porque no h

previso legal. A duas, pela ocorrncia de um juzo antecipado de culpa, violando, assim, o

princpio da presuno de inocncia.

Enunciado n 438 Smula do STJ

inadmissvel a extino da punibilidade pela prescrio da pretenso punitiva com

fundamento em pena hipottica, independentemente da existncia ou sorte do processo

penal.





17


1.4.3 Arquivamento implcito ou tcito

Tese doutrinria minoritria defendente de que, se o inqurito apurou diversos fatos

e pessoas, e no momento de oferecer a denncia o Ministrio Pblico o faz somente em

relao a determinada pessoa ou fato, omitindo-se os demais, implicitamente, estaria a

requerer o arquivamento em relao a tais pessoas ou fatos. Por conseguinte, o magistrado,

ao receber a denncia nesses termos, em nome do princpio da indivisibilidade, estaria a

homologar o arquivamento concernente s outras pessoas e aos outros fatos, eis que no

remeteu os autos ao Procurador-Geral na forma do artigo 28 do CPP.

Como consequncia disso, h a impossibilidade de aditamento da denncia ou

mesmo o oferecimento de outra denncia, sem a existncia de novas provas.

Tal tese no acolhida pelos tribunais superiores. A uma, porque o pedido do

arquivamento sempre expresso (art. 28, CPP). A duas, na viso do Supremo Tribunal

Federal e do STJ, a ao penal pblica divisvel, no sendo regida pelo princpio da

indivisibilidade, significando que fica ao alvedrio do Parquet aguardar o melhor momento, o

qual se d quando h indcios de autoria e materialidade suficientes, para oferecer a

denncia em relao determinada pessoa.

No ponto, avive-se que, ante a complexidade do caso, o MP pode oferecer a

denncia contra indivduos diferentes em momentos distintos. De dizer-se, ainda, que o

processo no qual existe muitos rus, na prtica, implica enormes dificuldades na realizao

da instruo. Com efeito, teria o MP a prerrogativa de desmembrar a denncia, sem que isso

resulte em arquivamento implcito, uma vez que a ao penal pblica regida pela

divisibilidade.

PRISO PREVENTIVA - CONCESSO DA ORDEM EM HABEAS CORPUS - EXTENSO. Tendo

ocorrido a extenso de ordem formalizada em habeas corpus, d-se o prejuzo da

impetrao em que paciente o beneficirio do julgamento anterior. CRIME TRIBUTRIO

- INICIAL - BALIZAS. Atende ao figurino legal denncia imputando crime tributrio

presente a assertiva de no haver sido informada a existncia de certo numerrio

Receita Federal. INQURITO - ARQUIVAMENTO IMPLCITO. O ordenamento jurdico no

contempla o arquivamento implcito do inqurito mormente quando articulado a

partir do fato de o Ministrio Pblico ter desmembrado a iniciativa de propor a ao

considerados vrios rus e imputaes diversificadas.

(HC 92445, Relator(a): Min. MARCO AURLIO, Primeira Turma, julgado em 03/03/2009,

DJe-064 DIVULG 02-04-2009 PUBLIC 03-04-2009 EMENT VOL-02355-02 PP-00298)

EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. ALEGAO DE ARQUIVAMENTO

IMPLCITO. INEXISTNCIA DE PREVISO LEGAL. PACIENTE DENUNCIADO PELO CRIME DE

TORTURA APENAS NA SEGUNDA DENNCIA. POSSIBILIDADE. INCIDNCIA DO PRINCPIO

DA INDISPONIBILIDADE DA AO PENAL PBLICA. NO APLICAO DO PRINCPIO DA





18


INDIVISIBILIDADE NESSA HIPTESE. ORDEM DENEGADA. PRECEDENTES DA CORTE. I

Alegao de ocorrncia de arquivamento implcito do inqurito policial, pois o Ministrio

Pblico estadual, apesar de j possuir elementos suficientes para a acusao, deixou de

incluir o paciente na primeira denncia, oferecida contra outros sete policiais civis. II

Independentemente de a identificao do paciente ter ocorrido antes ou depois da

primeira denncia, o fato que no existe, em nosso ordenamento jurdico processual,

qualquer dispositivo legal que preveja a figura do arquivamento implcito, devendo ser

o pedido formulado expressamente, a teor do disposto no art. 28 do Cdigo Processual

Penal. III Incidncia do postulado da indisponibilidade da ao penal pblica que

decorre do elevado valor dos bens jurdicos que ela tutela. IV No aplicao do

princpio da indivisibilidade ao penal pblica. Precedentes. V Habeas corpus

denegado.

(HC 104356, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em

19/10/2010, DJe-233 DIVULG 01-12-2010 PUBLIC 02-12-2010 EMENT VOL-02443-01 PP-

00201 RT v. 100, n. 906, 2011, p. 480-488)

Em verdade, a ao penal privada que deve ser indivisvel, o que se consubstancia

numa forma de controle de atividade do particular. Aclare-se: deixar ao alvedrio do

particular a ciso da queixa-crime para oferec-la contra qualquer um dos autores do fato, e

no contra todos, seria entregar-lhe um instrumento de vingana. E a vingana, como

cedio, de h muito, foi sepultada pelo Estado.

Por esse motivo, conforme salientado nas decises acima, diz-se que o princpio da

indivisibilidade no se aplica ao penal pblica.

1.4.4 Arquivamento indireto

Ocorre quando o juiz se entende competente, mas o membro do MP discorda da

competncia do juzo, e por conta desse embate, no oferece a denncia. O magistrado no

pode obrigar o MP a denunciar. Por esse motivo, interpreta a recusa do membro do MP

como um arquivamento indireto e encaminha os autos ao Procurador-Geral, no formato

preconizado pelo artigo 28 do CPP.

Na hiptese, essa divergncia, quanto competncia do juzo, ainda no conflito de

atribuies. Se o magistrado se der por incompetente e declinar, abre-se margem para o MP

oferecer recurso em sentido estrito (artigo 581, II, CPP). Caso se declare competente e o MP

discorde, seria possvel ofertar a exceo de incompetncia. Todavia, como oferecer exceo

de incompetncia antes de iniciar a fase processual?

CONFLITO DE ATRIBUIES. JUIZ E MP FEDERAL. PEDIDO DE ARQUIVAMENTO INDIRETO

(ART-28 DO CPP). A RECUSA DE OFERECER DENUNCIA POR CONSIDERAR INCOMPETENTE

O JUIZ, QUE NO ENTANTO SE JULGA COMPETENTE, NO SUSCITA UM CONFLITO DE





19


ATRIBUIES, MAS UM PEDIDO DE ARQUIVAMENTO INDIRETO QUE DEVE SER TRATADO

A LUZ DO ART-28 DO CPP. CONFLITO DE ATRIBUIES NO CONHECIDO.

(CA 12, Relator(a): Min. RAFAEL MAYER, Tribunal Pleno, julgado em 01/04/1982, DJ 09-

12-1983 PP-19415 EMENT VOL-01320-01 PP-00001 RTJ VOL-00108-02 PP-00455)

Remetidos os autos ao Procurador-Geral, se este concordar com o membro e

entender que o magistrado incompetente, ter o juiz, pois que materializada sua

vinculao a esse posicionamento, que declinar de sua competncia. Realizada a declinao

da competncia, caso o juzo para o qual os autos foram remetidos tambm se julgue

incompetente, patente restar um conflito negativo de atribuies, a ser apreciado pelo

Superior Tribunal de Justia (juzes de tribunais diferentes).

Exemplo: mquina de caa-nqueis na Justia Federal. H quem entenda tratar-se de

crime de contrabando, porquanto os componentes dessa mquina, de origem estrangeira,

so importados ilegalmente. Sobre o tema, tem decidido o Superior Tribunal de Justia que,

no comprovado o dolo, no haveria que se falar em contrabando, mas, sim, em crime

contra a economia popular e/ou contraveno penal (explorao de jogo de azar), os quais

so de competncia da Justia Estadual. Assim o porquanto entre possuir a mquina caa-

nquel no estabelecimento empresarial e ser conhecedor da origem estrangeira e da

importao ilegal de seus componentes eletrnicos h um abismo probatrio, que, muitas

vezes, termina por enfraquecer a acusao ministerial de contrabando.

Observao: tamanha a divergncia sobre o tema que o TRF da 2 Regio encontra-

se dividido. Alguns dizem que delito de contrabando (competncia da Justia Federal).

Para outros, crime contra a economia popular e/ou contraveno penal (competncia da

Justia Estadual). Assunto, portanto, altamente relevante e passvel de ser cobrado em

provas.

Verbete n 38 Smula do STJ

COMPETE A JUSTIA ESTADUAL COMUM, NA VIGENCIA DA CONSTITUIO DE 1988, O

PROCESSO POR CONTRAVENO PENAL, AINDA QUE PRATICADA EM DETRIMENTO DE

BENS, SERVIOS OU INTERESSE DA UNIO OU DE SUAS ENTIDADES

Verbete n 498 Smula do STF

COMPETE JUSTIA DOS ESTADOS, EM AMBAS AS INSTNCIAS, O PROCESSO E O

JULGAMENTO DOS CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR

Imagine-se que o MP oferea a denncia, e o magistrado, reputando-se por

incompetente, declina de sua competncia. Na declinatria de competncia, cabe o recurso

em sentido estrito (artigo 581, II, CPP). O magistrado, ento, denega o recurso, pois entende

que a questo no de competncia do TRF. Argumenta o douto magistrado que , sim,





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caso de conflito de atribuio6 que antecipa um conflito virtual de competncia, cuja soluo

fornecida pelo Superior Tribunal de Justia. Por qu? A uma, porque o magistrado federal

declina para o estadual. A duas, porque, se o TRF apreciar a questo, estaria a subtrair a

competncia do STJ (competente para resolver o conflito virtual negativo de jurisdio).

Contra a denegao do recurso em sentido estrito, cabvel a carta testemunhvel.

CPP, Art. 639. Dar-se- carta testemunhvel:

I - da deciso que denegar o recurso;

Como dito, o TRF da 2 Regio apresenta divergncias quanto questo das

mquinas caa-nqueis.

EMENTA PROCESSUAL PENAL. CARTA TESTEMUNHVEL EM FACE DE DECISO QUE

NEGA SEGUIMENTO AO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CONTRABANDO.

COMPONENTES DE MQUINA CAA-NQUEIS. DECISO QUE DECLINA DA COMPETENCIA.

ART. 581, II, CPP. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CABIMENTO. AUSNCIA DE

CONTRARRAZES. CARTA TESTEMUNHVEL PROVIDA PARA PROSSEGUIR O

PROCESSAMENTO DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. I- Proferida deciso declinando

da competncia cabvel a interposio de recurso em sentido estrito, conforme

expressa enunciao legal (art. 581, II, CPP). II- No h que se falar que a anlise do

recurso implicaria em usurpao de competncia do STJ. Ao contrrio, no cabe ao

juzo a quo vedar a prerrogativa deste TRF de reexaminar suas decises, nem de

impedir s partes o seu direito de submet-las ao duplo grau de jurisdio. III- Ausncia

de contrarrazes ao Recurso em Sentido Estrito. IV- Carta testemunhal conhecida e

provida, determinando o processamento do recurso em sentido estrito.

Origem: TRF-2

Classe: ACR - APELAO CRIMINAL - 8135

Processo: 200851018169104 UF: RJ Orgo Julgador: PRIMEIRA TURMA

ESPECIALIZADA

Data Deciso: 12/01/2011 Documento: TRF-200252949

Fonte E-DJF2R - Data:: 10/03/2011 - Pgina:: 3/4

Ementa

PENAL. PROCESSO PENAL. APELAO. CRIME ASSEMELHADO A CONTRABANDO.

APREENSO DE MQUINAS CAA-NQUEIS EM ESTABELECIMENTO COMERCIAL.

PROCEDNCIA ESTRANGEIRA. INSUFICINCIA DE PROVA DE AUTORIA DOLOSA. RECURSO

DA DEFESA PROVIDO. I - O teor da informao da ABINEE Associao Brasileira da

Indstria Eltrica e Eletrnica, no sentido de que no constaria em seu cadastro

fabricante nacional de processadores para placa-me, no pode ser considerada como

prova indireta inequvoca da procedncia estrangeira das mquinas de azar

6 Conflito de atribuio entre rgo judicial e administrativo deve ser resolvido pelo Supremo Tribunal

Federal.





21


apreendidas, uma vez que o art. 5o, XX, CRFB/1988 aduz que ningum poder ser

compelido a associar-se ou a permanecer associado. II - No constando nos autos

mnimos elementos de convico da autoria dolosa (conscincia) do Recorrente no

crime de contrabando de 06 (seis) mquinas caa-nqueis - muito embora possa haver

de crime contra a economia popular ou contraveno penal, ambos de competncia da

Justia Estadual -, impe-se absolv-lo do crime do art. 334, 1o, 'c', do CP, com fulcro

no art. 386, VII, do CPP. III - Recurso de Apelao da defesa provido.

Origem: TRF-2

Classe: ACR - APELAO CRIMINAL - 11426

Processo: 201051018101024 UF: RJ Orgo Julgador: SEGUNDA TURMA

ESPECIALIZADA

Data Deciso: 03/06/2014 Documento: TRF-200291086

Fonte E-DJF2R - Data:: 24/07/2014

Ementa

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. APELAO CRIMINAL. CONTRABANDO.

MQUINAS ELETRNICAS PROGRAMVEIS. COMPETNCIA DA JUSTIA FEDERAL.

INPCIA DA DENNCIA NO CONFIGURADA. MATERIALIDADE E AUTORIA

COMPROVADAS. ORIGEM ESTRANGEIRA DOS COMPONENTES DAS MQUINAS

DEMONSTRADA. COAO MORAL. AUSNCIA DE COMPROVAO. PRINCPIO DA

INSIGNIFICNCIA. INAPLICABILIDADE. I - A conduta de manter em estabelecimento

comercial mquinas do tipo caa nqueis, desde que comprovado que possui

componentes de procedncia estrangeira desacompanhada de documentao legal,

como no caso dos autos, se amolda perfeitamente ao tipo penal descrito no artigo 334,

1, "d", do Cdigo Penal, cuja competncia para processamento e julgamento da

Justia Federal. II - Verificado que a exordial acusatria, tal como redigida, atende aos

requisitos dispostos no artigo 41 do Cdigo de Processo Penal, tendo descrito, de forma

satisfatria, a conduta tpica atribuda ao ru, o que lhe permitiu compreender

perfeitamente o teor da imputao e, consequentemente, exercer, com plenitude, o seu

direito de defesa, no deve ser acolhida a alegao defensiva de inpcia da denncia. III -

Alm disso, assente na jurisprudncia que a inpcia da denncia deve ser suscitada at

a prolao da sentena condenatria, sob pena de precluso. IV - Constatado que o

laudo de exame merceolgico, realizado por amostragem, atestou a procedncia

estrangeira apenas dos componentes de uma das mquinas apreendidas, sem que

houvesse qualquer indicativo nos autos que tratava-se de modelo semelhante s demais,

permanece a dvida quanto materialidade delitiva em relao quelas cujos

componentes no foram objeto de anlise, devendo ser mantida a condenao do ru

to somente em relao ao exemplar cuja origem estrangeira foi comprovada. V - A

realizao de exame pericial direto sobre mquinas caa-nquel apreendidas no

indispensvel demonstrao da materialidade delitiva, desde que a procedncia

estrangeira das mercadorias contrabandeadas seja provada por outros meios de prova.

VI - O dolo eventual constitui elemento subjetivo apto configurao do tipo penal





22


descrito no artigo 334 do Cdigo Penal. VII - Incumbe ao acusado provar as alegaes

feitas, sendo esta a inteligncia do artigo 156, do Cdigo de Processo Penal, de modo

que no se afigura suficiente a mera presuno genrica de que teria agido sem dolo.

VIII - No comprovada a alegao defensiva de que as mquinas caa nqueis

permaneceram no estabelecimento comercial do acusado em razo de ameaas

sofridas, no h que falar na aplicao da causa excludente da culpabilidade relativa a

coao moral irresistvel. IX - Em se tratando de componentes de mquinas caa-nqueis

de importao proibida, a leso causada vai alm da questo econmica, envolve a

ordem pblica, de modo que no pode ser afastada pelo princpio da insignificncia. X -

Constatado que o acusado praticou o delito primeiramente em julho de 2009, ocorrendo

a reiterao da prtica em outubro de 2010, ou seja, num intervalo de tempo de 1 (um)

ano e 3 (trs) meses, infere-se que o fato subsequente no um simples desdobramento

ou ampliao da conduta inicial do agente, evidenciando a habitualidade delitiva. XI-

Recurso desprovido. "

Relator Desembargador Federal ANDR FONTES

1.5 Desarquivamento do Inqurito

CPP. Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inqurito pela autoridade

judiciria, por falta de base para a denncia, a autoridade policial poder proceder a

novas pesquisas, se de outras provas tiver notcia.

O juiz no tem o poder de desarquivar, sob pena de se conspurcar o sistema

acusatrio. Nesse cenrio, conquanto no possa arquivar o inqurito, a autoridade policial,

ex officio, pode desarquiv-lo, ds que baseada em notcia de provas novas, tendo em vista

que o arquivamento ocorreu, justamente, pela ausncia de indcios mnimos para o

oferecimento da denncia.

Observao1: de regra, a deciso de arquivamento rebus sic stantibus. Todavia, faz

coisa julgada o arquivamento com base na atipicidade do fato ou extino da punibilidade.

uma exceo no feitura de coisa julgada pelo inqurito policial.

Observao2: a smula vinculante n 24 uma hiptese de atipicidade pendente.

Com o lanamento superveniente ao arquivamento, pode-se oferecer a denncia ou

proceder ao desarquivamento. a exceo da exceo. Em resumo, a atipicidade faz coisa

julgada. Salvo, no caso da smula vinculante n 24 do STF.

Enunciado n 24 Smula Vinculante do STF

NO SE TIPIFICA CRIME MATERIAL CONTRA A ORDEM TRIBUTRIA, PREVISTO NO ART.

1, INCISOS I A IV, DA LEI N 8.137/90, ANTES DO LANAMENTO DEFINITIVO DO

TRIBUTO.





23


Observao3: indivduo que tenha cometido crime tributrio e realize o pagamento

antes de deflagrada a ao penal, extingue-se a punibilidade. Logo, imperioso o

arquivamento do feito, o qual, ante a extino da punibilidade, opera coisa julgada.

Entretanto, posteriormente, descobre-se que a guia de recolhimento do pagamento do

tributo era falsa. Indaga-se: subsiste a extino da punibilidade? A primeira orientao,

sustentada por parte da doutrina, assenta no existir reviso em prol da sociedade. Dessa

feita, permanece a deciso de arquivamento. A descoberta superveniente da falsidade no

autorizaria o desarquivamento, porquanto a reviso somente seria em favor do ru; no, da

sociedade. Por sua vez, a posio tranquila da jurisprudncia aventa que o pressuposto do

arquivamento no existiu. Logo, a deciso ou despacho no faz coisa julgada, sendo possvel

o desarquivamento, contanto que, nesse perodo, no haja ocorrido a prescrio. Tal

despacho/deciso ser revogado, em razo de seu fundamento ser inexistente.

Vide o verbete n 524 da Smula do STJ:

Verbete n 524 Smula do STF

ARQUIVADO O INQURITO POLICIAL, POR DESPACHO DO JUIZ, A REQUERIMENTO DO

PROMOTOR DE JUSTIA, NO PODE A AO PENAL SER INICIADA, SEM NOVAS PROVAS.

Trata-se de adaptao do artigo 18 do CPP, que direcionado ao Delegado de Polcia,

para o Ministrio Pblico. A mera discordncia entre os membros do Ministrio Pblico no

motivo bastante para se oferecer denncia com base em inqurito policial arquivado, sem

que haja provas novas. No h que se invocar, in casu, a independncia funcional, sob pena

de se fragmentar a segurana jurdica, eis que o arquivamento j foi apreciado pelo

Judicirio.

Tais provas sero aquelas substancialmente novas, e no as formalmente novas.

Exemplo: Joo, testemunha de um crime de roubo e que estava junto com a vtima,

no fora ouvido no curso das investigaes do inqurito policial. Maria, a vtima, foi ouvida.

Finalizadas as diligncias, o Ministrio Pblico requereu e o inqurito foi arquivado pelo Juiz.

Nessa hiptese, embora as declaraes de Joo possam constituir-se numa prova nova,

apenas o sob o aspecto formal. Na tica da substancialidade, no o , haja vista Joo ter

visualizado os fatos da mesma forma que a vtima e, tal como ela, no ter enxergado o rosto

do assaltante, que estava de mscara. Assim, com base na ausncia da oitiva de Joo, o

membro do MP no poder requerer o desarquivamento do inqurito.

PROCESSUAL PENAL. ARQUIVAMENTO DO INQUERITO POLICIAL. NOVAS PROVAS,

CAPAZES DE AUTORIZAR INICIO DA AO PENAL, SEGUNDO A SMULA 524. SERO

SOMENTE AQUELAS QUE PRODUZEM ALTERAO NO PANORAMA PROBATRIO

DENTRO DO QUAL FORA CONCEBIDO E ACOLHIDO O PEDIDO DE ARQUIVAMENTO. A

NOVA PROVA H DE SER SUBSTANCIALMENTE INOVADORA E NO APENAS

FORMALMENTE NOVA. NO CASO DOS AUTOS, CONSTITUIDO SUBSTANCIALMENTE POR





24


UM DEPOIMENTO EM QUE REPRODUZEM INFORMAES PELA TESTEMUNHA OUVIDAS

DA PROPRIA VTIMA, A PROVA EDITADA NO PODIA SER CONSIDERADA PROVA NOVA,

PARA O EFEITO DE AUTORIZAR A INSTAURAO DA AO PENAL. (RHC 57191,

Relator(a): Min. DCIO MIRANDA, Segunda Turma, julgado em 28/08/1979, DJ 05-10-

1979 PP-07442 EMENT VOL-01147-01 PP-00185 RTJ VOL-00091-03 PP-00831)

RECURSO EXTRAORDINRIO PELA ALINEA D, POR DIVERGENCIA COM A SMULA 524 DO

STF. ADVOGADO QUE USAVA GRATUITAMENTE ESTACIONAMENTO CONTINUO AO

FORUM, FALSAMENTE AFIRMANDO-SE AMIGO DE CERTO DESEMBARGADOR A QUEM O

PROPRIETARIO FRANQUEAVA A VAGA. HIPTESE TRATADA COMO SE ESTELIONATO

FOSSE. AO PENAL INSTAURADA COM BASE EM INQUERITO FUNDAMENTADAMENTE

ARQUIVADO, CONSIDERANDO-SE NOVA PROVA UMA CARTA QUE NOTICIAVA

CONHECIMENTO DOS FATOS POR INTERMEDIO DE TESTEMUNHA QUE JA DEPUSERA NO

INQUERITO ARQUIVADO. PROVA NO SUBSTANCIALMENTE NOVA NEM CAPAZ DE

ALTERAR O PANORAMA DIANTE DO QUAL FORA DECRETADO O ARQUIVAMENTO,

TANTO POR INSUFICINCIA DE PROVA QUANTO POR IRRELEVNCIA PENAL DO FATO. RE

CONHECIDO E PROVIDO.

(RE 116196, Relator(a): Min. CELIO BORJA, Segunda Turma, julgado em 16/09/1988, DJ

14-10-1988 PP-26386 EMENT VOL-01519-03 PP-00502)

1.6 Quadro esquemtico sobre formas de instaurao do IP

AO PENAL PBLICA INCONDICIONADA

AO PENAL PBLICA CONDICIONADA

AO PENAL PRIVADA

FORMAS DE INSTAURAO DO INQURITO POLICIAL

(i) Ex officio pela Autoridade Policial (art.

5, I);

(i) O IP no pode ser instaurado de ofcio.

(i) O IP no pode ser instaurado de ofcio.

(ii) Requisio do MP (art. 5, II, 2 parte)

(ii) Requisio do Ministro da Justia (art.

24, 2 parte)

(ii) Requerimento de quem tenha qualidade para intent-la (art. 4,

5)

(iii) Requerimento do ofendido ou de quem tenha qualidade para represent-lo (art. 5,

II, parte final)

(iii) Representao feita pelo ofendido (art. 5, 4) ou por procurador com poderes especiais

(art. 39)

(iv) Qualquer do povo

(art. 5, 3)





25


2. Ao Penal

2.1 Ao Penal pblica incondicionada

Tem como titular o Ministrio Pblico, no condicionando seu exerccio a qualquer

manifestao, seja do particular, seja do Ministro da Justia.

Submete-se aos seguintes princpios:

2.1.1 Princpios

2.1.1.1 Obrigatoriedade

Assevera que o membro do Ministrio Pblico, em possuindo os elementos

probatrios mnimos, estar obrigado a deflagrar a ao penal, mediante o oferecimento da

denncia.

Nesse diapaso, vejamos o artigo 385 do CPP, que consubstancia uma manifestao

do princpio da obrigatoriedade:

CPP, Art. 385. Nos crimes de ao pblica, o juiz poder proferir sentena condenatria,

ainda que o Ministrio Pblico tenha opinado pela absolvio, bem como reconhecer

agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.

O instituto da transao penal apresenta-se como uma mitigao da obrigatoriedade

da ao penal, a partir do momento em que, antes do oferecimento da denncia, o

Ministrio Pblico prope um acordo no qual no haver a imposio da penal corporal.

Lei 9.099/95, Art. 76. Havendo representao ou tratandose de crime de ao penal pblica incondicionada, no sendo caso de arquivamento [significa a existncia de justa

causa], o Ministrio Pblico poder propor a aplicao imediata de pena restritiva de

direitos ou multas [transao penal], a ser especificada na proposta.

Observao: existe posio doutrinria a no reconhecer, aqui, uma exceo ao

princpio da obrigatoriedade, pois o exerccio do jus puniendi no estaria sendo abdicado

pelo Parquet. Antes, o rgo ministerial estaria, ao oferecer a proposta de transao penal,

promover a ao penal por meio do acordo de transao. Tal tese reforada pelo fato de

que a homologao de transao penal, na perspectiva dos tribunais superiores, no faz

coisa julgada, de maneira que seu descumprimento autoriza o Ministrio Pblico a oferecer

denncia.

Tambm a colaborao premiada, plasmada no artigo 4, 4, da Lei 12.850/2013,

consiste numa exceo ao princpio da obrigatoriedade. Ressalte-se que o no oferecimento

da denncia, conquanto se trate de atribuio do MP, deve ser homologado pelo

magistrado.





26


Lei 12.850/2013, Art. 4 O juiz poder, a requerimento das partes, conceder o perdo

judicial, reduzir em at 2/3 (dois teros) a pena privativa de liberdade ou substitu-la por

restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a

investigao e com o processo criminal, desde que dessa colaborao advenha um ou

mais dos seguintes resultados:

I - a identificao dos demais coautores e partcipes da organizao criminosa e das

infraes penais por eles praticadas;

II - a revelao da estrutura hierrquica e da diviso de tarefas da organizao

criminosa;

III - a preveno de infraes penais decorrentes das atividades da organizao

criminosa;

IV - a recuperao total ou parcial do produto ou do proveito das infraes penais

praticadas pela organizao criminosa;

V - a localizao de eventual vtima com a sua integridade fsica preservada.

Lei 12.850/2013, Art. 4, 4 Nas mesmas hipteses do caput, o Ministrio Pblico

poder deixar de oferecer denncia se o colaborador:

I - no for o lder da organizao criminosa;

II - for o primeiro a prestar efetiva colaborao nos termos deste artigo.

Lei 12.850/2013, Art. 4, 7 Realizado o acordo na forma do 6o, o respectivo termo,

acompanhado das declaraes do colaborador e de cpia da investigao, ser remetido

ao juiz para homologao, o qual dever verificar sua regularidade, legalidade e

voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presena

de seu defensor.

pdf aula 02

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