pb estoicismo e epicurismo
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ESTOICISMO E EPICURISMO
ESTOICISMO - Introdução
O estoicismo é uma escola de pensamento filosófico grego fundado por Zenão de
Cítio. O estoicismo desenvolveu-se como um sistema integrado pela lógica, pela física
e pela ética, articulados por princípios comuns.
Foi, porém, a ética estoica que mais influência exerceu no desenvolvimento da
tradição filosófica, chegando até a influenciar o pensamento ético cristão nos
primórdios do cristianismo.
Para o estoicismo, os princípios éticos da harmonia e do equilíbrio, fundam-se nos
princípios que ordenam o próprio cosmos. O homem, enquanto parte desse cosmos,
deve orientar a sua vida prática por tais princípios.
A ataraxia, a imperturbabilidade, constituem o sinal da sabedoria e da felicidade, pois
representam o estado no qual o homem, impassível, não é afetado pelos males da
vida. Atualmente, a filosofia da linguagem tem revalorizado a contribuição dada pelos
estoicos para a lógica e para a teoria da linguagem.
EPICURISMO – Introdução
O epicurismo é a doutrina do filósofo grego Epicuro segundo o qual o bem é o prazer.
O prazer consiste na eliminação de toda a dor; o estado estável do prazer é a
ausência de dor, a ataraxia. É o prazer estável que garante a felicidade. O Sábio
despreza a morte.
Aprender a viver é aprender a gerir melhor os prazeres, afastando aqueles que não
são nem naturais nem necessários e fomentando aqueles que se encontram nos
limites da natureza.
O estádio supremo dessa moral é a beatitude da ataraxia: a total imperturbabilidade
diante da dor.
ESTOICISMO E EPICURISMO - DESENVOLVENDO CONCEITOS
O epicurismo e o estoicismo têm como característica comum garantir ao homem o
bem supremo, a serenidade, a paz, a apatia.
Relativamente ao epicurismo, filosofia moral de Epicuro (341-270 a.C.), podemos
afirmar que o mesmo defendia o prazer como caminho da felicidade. Para que a
satisfação dos desejos seja estável é necessário um estado de ataraxia, isto é, de
tranquilidade e sem qualquer perturbação. O poeta romano Horácio seguiu de perto
este pensamento de defesa do prazer do momento, ao considerar o "Carpe Diem"
("aproveita o dia", "colhe o momento") como necessário à felicidade. No epicurismo
não se trata do prazer imediato, como é desejado pelo homem vulgar; trata-se do
prazer imediato, refletido, avaliado pela razão, escolhido prudentemente. É preciso
dominar os prazeres, e não se deixar por eles dominar. O prazer espiritual diferenciar-
se-ia do prazer sensível, porquanto o primeiro se estenderia também ao passado e ao
futuro e transcende o segundo, que é unicamente presente. O seu objetivo acima de
tudo era libertar as pessoas do medo da morte, pois não podemos fugir do nosso
destino, devendo tirar o melhor partido da única vida que temos, devendo, para tal,
desfrutar dos nossos prazeres com moderação.
Relativamente ao estoicismo, considera-se ser possível encontrar a felicidade desde
que se viva em conformidade com as leis do destino que regem o mundo,
permanecendo indiferente aos males e paixões, que são perturbações da razão. O
ideal ético é a apatia, que se define como a ausência de paixão permitindo a liberdade,
mesmo sendo escravo. Dado que a natureza é governada por princípios racionais, há
razões para que tudo seja como é. Não podemos desejar mudar isso, pois a nossa
atitude perante a nossa mortalidade, ou o que nos parece ser uma tragédia pessoal
deveria ser de serena aceitação. A vida ideal que aspira à liberdade e à paz como
bens supremos consistiria na renúncia a todos os desejos possíveis, aos prazeres
positivos, físicos e espirituais; e, por conseguinte, em vigiar-se, no precaver-se contra
as surpresas irracionais do sentimento, da emoção, da paixão. Não ser perturbado no
espírito, renunciando a todos os desejos possíveis, visto ser o desejo inimigo do
sossego: eis as condições fundamentais da felicidade que é precisamente liberdade e
paz.
Assim sendo, para enfrentar o medo da morte, é preciso viver cada instante que
passa, sem pensar no futuro, numa perspetiva epicurista do "Carpe Diem". No entanto,
essa vivência do prazer de cada momento tem que ser feita de forma disciplinada,
digna, encarando com grandeza e resignação esse Destino de precariedade, numa
perspetiva que tem raízes no estoicismo.
O único bem é o prazer, como o único mal é a dor; nenhum prazer deve ser recusado,
a não ser por causa de consequências dolorosas, e nenhum sofrimento deve ser
aceite, a não ser em vista de um prazer, ou de nenhum sofrimento menor.
A serenidade do sábio não é perturbada pelo medo da morte, pois todo mal e todo
bem se acham na sensação, e a morte é a ausência de sensibilidade, portanto, de
sofrimento. Nunca nos encontraremos com a morte, porque quando nós somos, ela
não é, quando ela é nós não somos mais.
EPICURISMO E A ÉTICA EPICUREIA
O epicurismo foi uma das respostas dadas pelas escolas filosóficas, ao momento
histórico em que vivia a Grécia da época helenística. A primeira, em ordem
cronológica, surgiu em Atenas por volta do fim do século IV a.C. O seu fundador,
Epicuro, nasceu em Samos em 341 a.C. Tendo ensinado em Cólofon, Mitilene e
Lampsaco transferiu a sua escola para Atenas. Os sucessores de Platão na Academia
e de Aristóteles no Liceu estavam deturpando os ensinamentos de seus mestres, o
que não passou despercebido por Epicuro, que sabia ter algo novo para dizer. Embora
o passado de importância das escolas de Platão e Aristóteles estavam próximas no
tempo, estavam distantes do espírito dos novos eventos. Uma possibilidade de
revolução espiritual para Epicuro.
A novidade revolucionária, que acompanhava o pensamento de Epicuro, começava
pelo espaço dedicado à escola: um prédio com um jardim nos subúrbios de Atenas.
Longe do barulho da cidade, o silêncio do campo se adequava melhor à mensagem do
filósofo.
A ética epicureia
Para Epicuro, se não há intermediários entre os corpos e o vazio, o bem deve ser,
necessariamente, material. O prazer está entre as duas extremidades de uma escala
de excessos: entre a dor e a euforia; na quietude. As dores psíquicas são superiores
às físicas pois, mais duráveis nas ressonâncias interiores. Entre a (aponia) dor no
corpo e a (ataraxia) perturbação da alma, está o verdadeiro bem, que deve ser
buscado pelo homem. A natureza é o bem imediato a ele e, é nela que ele deve
encontrar o seu bem, que é o seu prazer. Esta é uma opção refletida pela razão
humana que se apoia numa ética racional e exige a liberdade da ação
verdadeiramente moral. As antecedências do prazer epicureu, no caminho de busca
do bem, são uma vida exercida sob os princípios do comedimento. O prazer não está
nas festas orgiásticas e nos excessos de todo tipo mas, na sobriedade que perscruta
as consequências de cada ação e decide pela melhor escolha. A melhor escolha é a
que expulsa as falsas opiniões que levam ao sofrimento da alma; não elege o gozo em
detrimento da sabedoria que evita a dor. Portanto mais que na liberdade, está na
responsabilidade de guiar a vontade para atingir o bem.
ESTOICISMO E A ÉTICA ESTÓICA
Zenão, nascido em Cítio, na ilha de Chipre por volta de 333 a.C. É o fundador da mais
famosa escola da época helenística no fim do século IV a.C. em Atenas. Conhecida
como Estoá ou “Jardim”, por ocupar um pórtico pois, Zenão não era cidadão ateniense
e não podia portanto, ter propriedades em Atenas. Seus seguidores foram chamados
de “os da Estoá”, “os do Pórtico” ou de “Estoicos”.
Conhecia os antigos físicos e absorveu conceitos de Heráclito. Para Zenão a filosofia
era a “arte de viver”, como em Epicuro. Fundamentava-se num universal materialismo
e dispensava qualquer transcendência. Mas embora compartilhasse alguns conceitos
com Epicuro, não aceitava algumas soluções epicureias. Tornando-se um ferrenho
opositor dos dogmas da escola, não aceitava, por exemplo, a redução do mundo
material, incluindo nele o homem, a um modelo acásico de concentração de matéria,
nem a ideia da redução do bem ao prazer. Foi, juntamente com sua escola, quem
derrubou muitas teses epicuristas. Apesar das diferenças, as duas escolas se moviam
no mesmo plano de negação da transcendência e não em planos filosóficos diferentes.
Admitia a discussão crítica dos dogmas dos fundadores e isso promoveu considerável
evolução nas escolas; ao contrário do ocorrido na escola epicureia.
A ética estoica
A mais significativa produção filosófica dos estoicos está no campo da ética. Por mais
de quinhentos anos o mundo soube ouvir a mensagem eficaz do estoicismo. Para a
escola, como para o epicurismo, a felicidade está em viver segundo os princípios da
natureza. A observação dos seres vivos nos mostra que todos tendem a
autoconservação; evitando o que é contrário à sua sobrevivência e assimilando o
favorável à sua conservação. Acão inconsciente nos vegetais e plantas, impulsivo e
instintivo nos animais, e consciente no homem, no qual interfere a racionalidade.
Desse princípio, deve ser deduzida a ética. O viver uma vida ética para o homem é um
viver conciliado com a natureza, a qual porta o logos divino, imanente à toda matéria.
Portanto o viver humano é um viver conciliado com a razão plena.
Posto que toda a vida persegue o melhor para si mesma, considerando sua
autoconservação, e isto é originalmente primário no ser vivo, “bem é aquilo que
conserva e incrementa nosso ser e, ao contrário, “mal” aquilo que o danifica e o
diminui”. Como o homem se diferencia dos outros animais por manifestar-se nele o
logos, há nele duas conservações a serem realizadas: uma promove e incrementa a
vida animal e outra conserva e promove a vida racional. Para o homem só a virtude é
o bem moral por que incrementa o logos e o mal aquilo que lhe causa danos. As
coisas relativas ao corpo são consideradas indiferentes.
O Homem é impulsionado pela natureza a conservar o próprio ser e amar a si mesmo.
Este impulso é direcionando para além de si mesmo e atinge sua família e a
sociedade toda. A natureza impulsiona o indivíduo a se relacionar e ser útil aos outros.
Saindo de sua exclusiva interioridade na lei epicureia o homem no estoicismo encontra
a comunidade e nela, a possibilidade de realização da vida ética e a felicidade.
Colocaram, os estoicos, com base nos conceitos de physis e logos, em crise os
antigos mitos da nobreza de sangue e da superioridade da raça, e a instituição da
escravidão. Os novos conceitos de liberdade e escravidão ligam-se à sabedoria e a
ignorância. Livre é o sábio, e escravo o tolo.
Cuidando de viver uma vida na retidão ética, o sábio evitará toda paixão. A felicidade é
apatia e impassibilidade. A apatia é extrema nos estoicos e piedade, compaixão e
misericórdia são coisas a evitar pois, são paixões. O estoico não tem diante da vida
uma posição propriamente entusiasta como os epicuristas.
ESTOICISMO E EPICURISMO EM FERNANDO PESSOA
O estoicismo e o epicurismo são as duas principais características do heterónimo
Ricardo Reis, de Fernando Pessoa e são características que não se anulam,
podendo ser complementares:
Epicurismo: busca do prazer (como objetivo maior de vida), através da
moderação.
Estoicismo: encara o sofrimento como inseparável da condição humana, e
procura ignorar o sofrimento alheio (justamente por esse ser inevitável).
Em relação a Ricardo Reis e estas temáticas, procura o prazer nos limites do ser
humano face ao destino e à brevidade da vida. Faz a apologia da indiferença solene
diante do poder dos deuses e do destino inelutável. Considera que a verdadeira
sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena, "sem desassossegos
grandes",
"Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes."
BIBLIOGRAFIA
REALE, Giovanni & ANTISERI, Dario. História da Filosofia – Vol. 1,
Antiguidade e Idade Média, Paulus, São Paulo, 1990.
ANTUNES A., ESTANQUEIRO A., VIDIGAL M., Dicionário Breve de Filosofia,
5ª Edição, Editorial Presença, Lisboa, 2005
Alguns sites na Internet, tais como a Wikipédia