pb estoicismo e epicurismo

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ESTOICISMO E EPICURISMO ESTOICISMO - Introdução O estoicismo é uma escola de pensamento filosófico grego fundado por Zenão de Cítio. O estoicismo desenvolveu-se como um sistema integrado pela lógica, pela física e pela ética, articulados por princípios comuns. Foi, porém, a ética estoica que mais influência exerceu no desenvolvimento da tradição filosófica, chegando até a influenciar o pensamento ético cristão nos primórdios do cristianismo. Para o estoicismo, os princípios éticos da harmonia e do equilíbrio, fundam-se nos princípios que ordenam o próprio cosmos. O homem, enquanto parte desse cosmos, deve orientar a sua vida prática por tais princípios. A ataraxia, a imperturbabilidade, constituem o sinal da sabedoria e da felicidade, pois representam o estado no qual o homem, impassível, não é afetado pelos males da vida. Atualmente, a filosofia da linguagem tem revalorizado a contribuição dada pelos estoicos para a lógica e para a teoria da linguagem. EPICURISMO Introdução O epicurismo é a doutrina do filósofo grego Epicuro segundo o qual o bem é o prazer. O prazer consiste na eliminação de toda a dor; o estado estável do prazer é a ausência de dor, a ataraxia. É o prazer estável que garante a felicidade. O Sábio despreza a morte. Aprender a viver é aprender a gerir melhor os prazeres, afastando aqueles que não são nem naturais nem necessários e fomentando aqueles que se encontram nos limites da natureza. O estádio supremo dessa moral é a beatitude da ataraxia: a total imperturbabilidade diante da dor.

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ESTOICISMO E EPICURISMO

ESTOICISMO - Introdução

O estoicismo é uma escola de pensamento filosófico grego fundado por Zenão de

Cítio. O estoicismo desenvolveu-se como um sistema integrado pela lógica, pela física

e pela ética, articulados por princípios comuns.

Foi, porém, a ética estoica que mais influência exerceu no desenvolvimento da

tradição filosófica, chegando até a influenciar o pensamento ético cristão nos

primórdios do cristianismo.

Para o estoicismo, os princípios éticos da harmonia e do equilíbrio, fundam-se nos

princípios que ordenam o próprio cosmos. O homem, enquanto parte desse cosmos,

deve orientar a sua vida prática por tais princípios.

A ataraxia, a imperturbabilidade, constituem o sinal da sabedoria e da felicidade, pois

representam o estado no qual o homem, impassível, não é afetado pelos males da

vida. Atualmente, a filosofia da linguagem tem revalorizado a contribuição dada pelos

estoicos para a lógica e para a teoria da linguagem.

EPICURISMO – Introdução

O epicurismo é a doutrina do filósofo grego Epicuro segundo o qual o bem é o prazer.

O prazer consiste na eliminação de toda a dor; o estado estável do prazer é a

ausência de dor, a ataraxia. É o prazer estável que garante a felicidade. O Sábio

despreza a morte.

Aprender a viver é aprender a gerir melhor os prazeres, afastando aqueles que não

são nem naturais nem necessários e fomentando aqueles que se encontram nos

limites da natureza.

O estádio supremo dessa moral é a beatitude da ataraxia: a total imperturbabilidade

diante da dor.

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ESTOICISMO E EPICURISMO - DESENVOLVENDO CONCEITOS

O epicurismo e o estoicismo têm como característica comum garantir ao homem o

bem supremo, a serenidade, a paz, a apatia.

Relativamente ao epicurismo, filosofia moral de Epicuro (341-270 a.C.), podemos

afirmar que o mesmo defendia o prazer como caminho da felicidade. Para que a

satisfação dos desejos seja estável é necessário um estado de ataraxia, isto é, de

tranquilidade e sem qualquer perturbação. O poeta romano Horácio seguiu de perto

este pensamento de defesa do prazer do momento, ao considerar o "Carpe Diem"

("aproveita o dia", "colhe o momento") como necessário à felicidade. No epicurismo

não se trata do prazer imediato, como é desejado pelo homem vulgar; trata-se do

prazer imediato, refletido, avaliado pela razão, escolhido prudentemente. É preciso

dominar os prazeres, e não se deixar por eles dominar. O prazer espiritual diferenciar-

se-ia do prazer sensível, porquanto o primeiro se estenderia também ao passado e ao

futuro e transcende o segundo, que é unicamente presente. O seu objetivo acima de

tudo era libertar as pessoas do medo da morte, pois não podemos fugir do nosso

destino, devendo tirar o melhor partido da única vida que temos, devendo, para tal,

desfrutar dos nossos prazeres com moderação.

Relativamente ao estoicismo, considera-se ser possível encontrar a felicidade desde

que se viva em conformidade com as leis do destino que regem o mundo,

permanecendo indiferente aos males e paixões, que são perturbações da razão. O

ideal ético é a apatia, que se define como a ausência de paixão permitindo a liberdade,

mesmo sendo escravo. Dado que a natureza é governada por princípios racionais, há

razões para que tudo seja como é. Não podemos desejar mudar isso, pois a nossa

atitude perante a nossa mortalidade, ou o que nos parece ser uma tragédia pessoal

deveria ser de serena aceitação. A vida ideal que aspira à liberdade e à paz como

bens supremos consistiria na renúncia a todos os desejos possíveis, aos prazeres

positivos, físicos e espirituais; e, por conseguinte, em vigiar-se, no precaver-se contra

as surpresas irracionais do sentimento, da emoção, da paixão. Não ser perturbado no

espírito, renunciando a todos os desejos possíveis, visto ser o desejo inimigo do

sossego: eis as condições fundamentais da felicidade que é precisamente liberdade e

paz.

Assim sendo, para enfrentar o medo da morte, é preciso viver cada instante que

passa, sem pensar no futuro, numa perspetiva epicurista do "Carpe Diem". No entanto,

essa vivência do prazer de cada momento tem que ser feita de forma disciplinada,

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digna, encarando com grandeza e resignação esse Destino de precariedade, numa

perspetiva que tem raízes no estoicismo.

O único bem é o prazer, como o único mal é a dor; nenhum prazer deve ser recusado,

a não ser por causa de consequências dolorosas, e nenhum sofrimento deve ser

aceite, a não ser em vista de um prazer, ou de nenhum sofrimento menor.

A serenidade do sábio não é perturbada pelo medo da morte, pois todo mal e todo

bem se acham na sensação, e a morte é a ausência de sensibilidade, portanto, de

sofrimento. Nunca nos encontraremos com a morte, porque quando nós somos, ela

não é, quando ela é nós não somos mais.

EPICURISMO E A ÉTICA EPICUREIA

O epicurismo foi uma das respostas dadas pelas escolas filosóficas, ao momento

histórico em que vivia a Grécia da época helenística. A primeira, em ordem

cronológica, surgiu em Atenas por volta do fim do século IV a.C. O seu fundador,

Epicuro, nasceu em Samos em 341 a.C. Tendo ensinado em Cólofon, Mitilene e

Lampsaco transferiu a sua escola para Atenas. Os sucessores de Platão na Academia

e de Aristóteles no Liceu estavam deturpando os ensinamentos de seus mestres, o

que não passou despercebido por Epicuro, que sabia ter algo novo para dizer. Embora

o passado de importância das escolas de Platão e Aristóteles estavam próximas no

tempo, estavam distantes do espírito dos novos eventos. Uma possibilidade de

revolução espiritual para Epicuro.

A novidade revolucionária, que acompanhava o pensamento de Epicuro, começava

pelo espaço dedicado à escola: um prédio com um jardim nos subúrbios de Atenas.

Longe do barulho da cidade, o silêncio do campo se adequava melhor à mensagem do

filósofo.

A ética epicureia

Para Epicuro, se não há intermediários entre os corpos e o vazio, o bem deve ser,

necessariamente, material. O prazer está entre as duas extremidades de uma escala

de excessos: entre a dor e a euforia; na quietude. As dores psíquicas são superiores

às físicas pois, mais duráveis nas ressonâncias interiores. Entre a (aponia) dor no

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corpo e a (ataraxia) perturbação da alma, está o verdadeiro bem, que deve ser

buscado pelo homem. A natureza é o bem imediato a ele e, é nela que ele deve

encontrar o seu bem, que é o seu prazer. Esta é uma opção refletida pela razão

humana que se apoia numa ética racional e exige a liberdade da ação

verdadeiramente moral. As antecedências do prazer epicureu, no caminho de busca

do bem, são uma vida exercida sob os princípios do comedimento. O prazer não está

nas festas orgiásticas e nos excessos de todo tipo mas, na sobriedade que perscruta

as consequências de cada ação e decide pela melhor escolha. A melhor escolha é a

que expulsa as falsas opiniões que levam ao sofrimento da alma; não elege o gozo em

detrimento da sabedoria que evita a dor. Portanto mais que na liberdade, está na

responsabilidade de guiar a vontade para atingir o bem.

ESTOICISMO E A ÉTICA ESTÓICA

Zenão, nascido em Cítio, na ilha de Chipre por volta de 333 a.C. É o fundador da mais

famosa escola da época helenística no fim do século IV a.C. em Atenas. Conhecida

como Estoá ou “Jardim”, por ocupar um pórtico pois, Zenão não era cidadão ateniense

e não podia portanto, ter propriedades em Atenas. Seus seguidores foram chamados

de “os da Estoá”, “os do Pórtico” ou de “Estoicos”.

Conhecia os antigos físicos e absorveu conceitos de Heráclito. Para Zenão a filosofia

era a “arte de viver”, como em Epicuro. Fundamentava-se num universal materialismo

e dispensava qualquer transcendência. Mas embora compartilhasse alguns conceitos

com Epicuro, não aceitava algumas soluções epicureias. Tornando-se um ferrenho

opositor dos dogmas da escola, não aceitava, por exemplo, a redução do mundo

material, incluindo nele o homem, a um modelo acásico de concentração de matéria,

nem a ideia da redução do bem ao prazer. Foi, juntamente com sua escola, quem

derrubou muitas teses epicuristas. Apesar das diferenças, as duas escolas se moviam

no mesmo plano de negação da transcendência e não em planos filosóficos diferentes.

Admitia a discussão crítica dos dogmas dos fundadores e isso promoveu considerável

evolução nas escolas; ao contrário do ocorrido na escola epicureia.

A ética estoica

A mais significativa produção filosófica dos estoicos está no campo da ética. Por mais

de quinhentos anos o mundo soube ouvir a mensagem eficaz do estoicismo. Para a

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escola, como para o epicurismo, a felicidade está em viver segundo os princípios da

natureza. A observação dos seres vivos nos mostra que todos tendem a

autoconservação; evitando o que é contrário à sua sobrevivência e assimilando o

favorável à sua conservação. Acão inconsciente nos vegetais e plantas, impulsivo e

instintivo nos animais, e consciente no homem, no qual interfere a racionalidade.

Desse princípio, deve ser deduzida a ética. O viver uma vida ética para o homem é um

viver conciliado com a natureza, a qual porta o logos divino, imanente à toda matéria.

Portanto o viver humano é um viver conciliado com a razão plena.

Posto que toda a vida persegue o melhor para si mesma, considerando sua

autoconservação, e isto é originalmente primário no ser vivo, “bem é aquilo que

conserva e incrementa nosso ser e, ao contrário, “mal” aquilo que o danifica e o

diminui”. Como o homem se diferencia dos outros animais por manifestar-se nele o

logos, há nele duas conservações a serem realizadas: uma promove e incrementa a

vida animal e outra conserva e promove a vida racional. Para o homem só a virtude é

o bem moral por que incrementa o logos e o mal aquilo que lhe causa danos. As

coisas relativas ao corpo são consideradas indiferentes.

O Homem é impulsionado pela natureza a conservar o próprio ser e amar a si mesmo.

Este impulso é direcionando para além de si mesmo e atinge sua família e a

sociedade toda. A natureza impulsiona o indivíduo a se relacionar e ser útil aos outros.

Saindo de sua exclusiva interioridade na lei epicureia o homem no estoicismo encontra

a comunidade e nela, a possibilidade de realização da vida ética e a felicidade.

Colocaram, os estoicos, com base nos conceitos de physis e logos, em crise os

antigos mitos da nobreza de sangue e da superioridade da raça, e a instituição da

escravidão. Os novos conceitos de liberdade e escravidão ligam-se à sabedoria e a

ignorância. Livre é o sábio, e escravo o tolo.

Cuidando de viver uma vida na retidão ética, o sábio evitará toda paixão. A felicidade é

apatia e impassibilidade. A apatia é extrema nos estoicos e piedade, compaixão e

misericórdia são coisas a evitar pois, são paixões. O estoico não tem diante da vida

uma posição propriamente entusiasta como os epicuristas.

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ESTOICISMO E EPICURISMO EM FERNANDO PESSOA

O estoicismo e o epicurismo são as duas principais características do heterónimo

Ricardo Reis, de Fernando Pessoa e são características que não se anulam,

podendo ser complementares:

Epicurismo: busca do prazer (como objetivo maior de vida), através da

moderação.

Estoicismo: encara o sofrimento como inseparável da condição humana, e

procura ignorar o sofrimento alheio (justamente por esse ser inevitável).

Em relação a Ricardo Reis e estas temáticas, procura o prazer nos limites do ser

humano face ao destino e à brevidade da vida. Faz a apologia da indiferença solene

diante do poder dos deuses e do destino inelutável. Considera que a verdadeira

sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena, "sem desassossegos

grandes",

"Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.

Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.

Mais vale saber passar silenciosamente

E sem desassossegos grandes."

BIBLIOGRAFIA

REALE, Giovanni & ANTISERI, Dario. História da Filosofia – Vol. 1,

Antiguidade e Idade Média, Paulus, São Paulo, 1990.

ANTUNES A., ESTANQUEIRO A., VIDIGAL M., Dicionário Breve de Filosofia,

5ª Edição, Editorial Presença, Lisboa, 2005

Alguns sites na Internet, tais como a Wikipédia